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Efeito das suturas barbadas na nefrectomia parcial: uma meta-análise

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Efeito das suturas barbadas na nefrectomia

parcial laparoscópica: uma meta-análise

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Efeito das suturas barbadas na nefrectomia parcial laparoscópica: uma

meta-análise

Estudante:

Duarte Filipe Santos Sousa duartesousa7@gmail.com

Mestrado Integrado em Medicina

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto

Orientador:

Dr. Miguel António Costa de Araújo da Silva Ramos

Professor Associado Convidado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Serviço de Urologia do Centro Hospitalar do Porto – Hospital de Santo António

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Assinatura do estudante

Assinatura do tutor

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DEDICATÓRIA

À minha família, por todo o apoio incondicional e pelo esforço que fizeram para me poder permitir realizar este meu percurso académico.

Aos meus amigos, companheiros destes seis anos, que partilharam comigo as dificuldades e felicidades e por me terem marcado para a vida.

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i AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Miguel Ramos, meu orientador, pelo auxílio na pesquisa de bibliografia, por todo o tempo gasto na análise e correção do meu trabalho, pela atitude crítica, pela gentileza e pelo enorme conhecimento na área.

Ao Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e ao Centro Hospitalar Universitário do Porto, por terem feito parte da minha formação académica.

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ii Resumo

Introdução: A nefrectomia parcial laparoscópica tem-se assumido como cirurgia difundida para tratamento de tumores e massas renais <4cm. É, contudo, uma técnica que impossibilita o arrefecimento adequado do rim, é tecnicamente difícil e está associada a tempos de isquemia mais elevados e maiores taxas de hemorragia.

Objetivos: determinar a existência ou não de vantagens no uso de suturas barbadas para a rafia do parênquima renal na nefrectomia parcial laparoscópica, em comparação com as suturas convencionais.

Metodologia: Foram pesquisadas as bases de dados do PubMed, Scopus e Cochrane Central Register of Controlled Trials desde a sua conceção até maio de 2018. Foi extraída informação de uma forma padronizada.

Resultados: Um total de 7 estudos e 399 doentes foram incluídos nesta análise. Todos os estudos eram retrospetivos observacionais exceto um que era um ensaio clínico randomizado. Não houve diferenças significativas quanto à perda de sangue estimada (p=0,13), complicações perioperatórias (p=0,25), complicações Clavien-Dindo I-II (p=0,41), complicações Clavien-Clavien-Dindo III-V (p= 0,35). O uso de suturas barbadas foi significativamente melhor quanto à duração da sutura, -4.67 minutos (p=0,002), quanto à duração da cirurgia, -7,24 minutos (p=0,002) e principalmente, quanto ao tempo de isquemia quente, - 6,81 minutos (p<0,00001).

Conclusões: O uso de suturas barbadas permite uma renorrafia mais rápida, diminuir a duração da cirurgia e diminuir o tempo de isquemia. O seu uso é seguro, pelo que são dignas de ser usada na clínica.

Palavras-chave: nefrectomia parcial laparoscópica; suturas barbadas; tempo de isquemia quente

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iii Abstract

Introduction: Laparoscopic partial nephrectomy is being used in the treatment of small renal masses and neoplasms <4cm. However, it’s considered to be a difficult technique that is not suitable for a proper renal cooling, therefore, it is associated with longer ischemia time and more frequent haemorrhaging.

Objectives: to determine whether or not there are advantages to the use of barbed sutures for for the renorrhaphy of the parenchyma in laparoscopic partial nephrectomy, compared to conventional sutures.

Methodology: A search was conducted at PubMed databases, as well as Scopus and Cochrane Central Register of Controlled trials since its conception until May 2018. I extracted information in a standardized way.

Results: A total of 7 studies and 399 patients were included in this analysis. All studies were retrospective observational but one that was a randomized clinical trial. There were no significant differences in estimated blood loss (P = 0, 13), perioperative complications (P = 0.25), postoperative Clavien-Dindo I-II complications (p = 0,41), postoperative Clavien-Dindo III-V complications (P = 0.35). The use of barbed sutures was significantly better reducing suture time, -4.67 minutes (P = 0,002), duration of the surgery, -7.24 minutes (P = 0,002) and, most importantly, warm ischemia time, -6.81 minutes (P < 0,00001).

Conclusions: The use of barbed sutures allows for faster renorrhaphy, reduces surgery’s duration and reduces warm ischemia time. They are safe, feasible, and their use in clinical practice is more than creditable.

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iv Lista de abreviaturas

CI: intervalo de confiança DP: Desvio padrão

M-H = Mantel-Haenszel

NPL: Nefrectomia parcial laparoscópica SC: Sutura convencional

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v

INTRODUÇÃO:

1

MÉTODOS

2

Estratégia de pesquisa 2 Considerações estatísticas 3

RESULTADOS

3

Duração da cirurgia 4 Duração da sutura 4

Tempo de isquemia quente 5

Complicações perioperatórias 5

Perda de sangue estimada 6

Necessidade de transfusão 6 Complicações pós-operatórias 6

DISCUSSÃO

7

CONCLUSÃO

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BIBLIOGRAFIA

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ANEXOS

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1

Introdução:

A nefrectomia parcial é o tratamento gold-standard de pequenas massas e neoplasias renais (<4cm). É, atualmente, o esteio do tratamento para o carcinoma de células renais quer localizado, quer metastizado e tem vindo a ser usada em tumores cada vez maiores e mais complexos, 1-4. Aliás, no que diz respeito ao carcinoma de células renais, a cirurgia assume-se como o único tratamento curativo com evidência de elevada qualidade. Os resultados oncológicos e de qualidade de vida mostram que tumores localizados T1a-b são melhor tratados com nefrectomia parcial do que com nefrectomia radical, se tecnicamente possível, independentemente da abordagem cirúrgica5. Estas orientações são baseadas em dados retrospetivos que mostram que ajustado à idade e ao tamanho de tumor, os doentes submetidos a nefrectomia parcial têm maior sobrevida global que os doentes submetidos a nefrectomia radical. A explicação para este facto está na preservação do parênquima renal durante a cirurgia, que está associada a menor incidência de eventos cardiovasculares, assim como a uma menor necessidade de recorrer a diálise ou transplante e daí melhores taxas de sobrevida.6-10

A cirurgia renal laparoscópica trouxe imensas vantagens relativamente à via aberta: menos dor pós-operatória, menos complicações da parede, melhores resultados estéticos, menos tempo de internamento, mais rápida recuperação funcional e retoma da atividade laboral11. No entanto, a nefrectomia parcial laparoscópica impossibilita um adequado arrefecimento do rim, é tecnicamente exigente, estando, portanto, associada a maior risco de hemorragia e a tempos de isquemia quente mais prolongados11,12. A rafia do parênquima renal é um processo crítico que deve ser executado no menor tempo possível, de modo a diminuir o único preditor de função renal modificável, o tempo de isquemia quente sendo dependente do cirurgião e da técnica cirúrgica.13

Como resposta a estas necessidades surgiram várias modificações nas técnicas de sutura de modo a facilitar a renorrafia. Uma das inovações é o uso de fios de sutura barbados, que consistem num fio recoberto de “microespinhos”. À medida que a sutura é tracionada através dos tecidos, os espinhos dispersos pelo fio de sutura penetram-nos e ancoram-se a eles, criando um sistema de manutenção de tensão ao longo da linha de sutura que elimina a necessidade de segurar fisicamente a sutura ou dar nós. Estes fios são particularmente úteis na sutura de tecidos friáveis como o parênquima renal.

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2 Apesar das suturas barbadas terem sido descritas nos anos 60, só muito recentemente começaram a ser usadas na renorrafia. Embora existam várias publicações sugerindo as suas vantagens, são habitualmente séries institucionais e com um número limitado de doentes. Para além disso estas suturas não são universalmente usadas na renorrafia laparoscópica.

Assim, o objetivo deste trabalho é clarificar se há vantagens e quais são, no uso de suturas barbadas na nefrectomia parcial laparoscópica, realizando a primeira meta-análise sobre o tema.

Métodos

Estratégia de pesquisa

Foi realizada uma pesquisa sistemática, eletrónica nas bases de dados do PubMed, Scopus e Cochrane Central Register of Controlled Trials. Em todas as bases dados a estratégia foi a utilização das seguintes palavras-chave: (suturing OR suture OR closure) AND (barbed OR knotless). A pesquisa nas bases de dados do PubMed, Scopus e Cochrane resultou, respetivamente, em 737, 474 e 114 artigos. Destes, 7 foram selecionados para incluir no estudo, dos quais 1 era ensaio clínico randomizado e 6 estudos observacionais retrospetivos. A figura 1 resume o processo de seleção de estudos. Apenas estudos que comparavam o uso de suturas barbadas em contexto de nefrectomia parcial laparoscópica foram incluídos nesta revisão. Os critérios de exclusão foram (1) estudos que não se focaram em doentes submetidos a cirurgia com suturas barbadas, (2) estudos que incluíam nefrectomia radical, ou nefrectomia parcial não laparoscópica, (3) estudos não primários (ex.: artigos de revisão, cartas, comentários editoriais, conteúdo de conferências científicas), (4) não clínicos (ex.: estudos animais ou laboratoriais), (5) literatura cinzenta (ex.: estudos com apenas abstract disponível, teses), (6) estudos noutra língua que não inglês, (7) relatos de caso, ou pequena série de casos, sem controlos.

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3

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção de estudos

Considerações estatísticas

As estimativas combinadas tiveram por base o uso de um modelo de efeito aleatório. Especificamente, foi estimada a diferença das médias combinadas para avaliar dados contínuos, enquanto a razão das probabilidades foi calculada para a avaliação de dados dicotómicos. A existência de heterogeneidade estatística entre os estudos incluídos foi avaliada com o teste X2 e o teste I2. Todas as análises estatísticas foram realizadas usando o software Review Manager (RevMan) versão 5.3 (The Nordice Cochrane Center, The Cochrane Collaboration, Copenhague, Dinamarca, 2014). P <0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

Resultados

As características principais dos estudos incluídos nesta revisão (tipo de publicação, número de doentes incluídos, idade dos doentes, duração da cirurgia, duração da sutura, tempo de isquemia quente, perda de sangue estimada, complicações peri-operatórias, necessidade de transfusão, complicações pós-operatórias segundo a classificação de Clavien-Dindo e duração do follow up. estão resumidas na Tabela I.

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4

Duração da cirurgia

Sete estudos foram incluídos na análise no que diz respeito ao tempo necessário para a conclusão da cirurgia14-20. Os dados revelam que a sutura barbada permite uma cirurgia de duração significativamente inferior em comparação com a sutura convencional 7,24 minutos por cirurgia (p=0,002; intervalo de confiança a 95% [-11,74; -2,74]) Heterogeneidade: Tau² = 0.00; Chi² = 3,20, graus de liberdade = 6 (P = 0,78); I² = 0%. Ver figura 2.

Figura 2. Duraçãoda cirurgia; CI = Intervalo de Confiança; IV = Variância Inversa; SD = Desvio Padrão; SB=Sutura Barbada; SC=Sutura convencional;

Duração da sutura

Quatro estudos foram incluídos na análise relativamente ao tempo necessário para proceder à sutura da lesão15,17-19. A análise revelou que o uso de fios de sutura barbados conseguiu uma diminuição significativa de 4,67 minutos no tempo de sutura (p=0,002; Intervalo de confiança a 95% [-7,60; -1,74]). Esta análise revelou alto grau de heterogeneidade: Tau² = 7,45; Chi² = 18,27, graus de liberdade = 3 (P = 0,0004); I² = 84%. Ver figura 3.

Figura 3. Duração da sutura; CI = Intervalo de Confiança; IV = Variância Inversa; SD = Desvio Padrão; SB=Sutura Barbada;

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5

Tempo de isquemia quente

Sete estudos avaliaram o impacto do tipo de sutura Tempo de isquemia Quente14-20 e e a análise destes estudos revelou uma diminuição média do Tempo de Isquemia Quente de -6,81minutos (p<0,00001; Intervalo de confiança a 95% [-8,41; -5.21]).

Heterogeneidade: Tau² = 1.13; Chi² = 8.03, graus de liberdade = 6 (P = 0,24); I² = 25%. Ver figura 4

Figura 4. Tempo de isquemia quente. CI = Intervalo de Confiança; IV = Variância Inversa; SD = Desvio Padrão; SB=Sutura

Barbada; SC=Sutura convencional

Complicações perioperatórias

Seis estudos avaliaram o impacto do tipo de sutura na taxa de complicações perioperatórias14-17,19,20 e a sua análise conclui que a razão de probabilidades foi de 0,70 (p=0,25; Intervalo de confiança a 95% [0,38; 1,29]) favorecendo a sutura barbada em comparação com a sutura convencional.

Heterogeneidade: Tau² = 0,00; Chi² = 2,04, graus de liberdade = 5 (P = 0,84); I² = 0%. Ver figura 5.

Figura 5. Complicações perioperatórias. CI = Intervalo de Confiança; M-H = Mantel-Haenszel; SD = Desvio Padrão;

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6

Perda de sangue estimada

Sete estudos avaliaram o impacto do tipo de sutura na perda de sangue estimada14-20 e a sua análise conclui que diferença das médias foi de -22,39 mL (p=0,13; Intervalo de confiança a 95% [-51,32; 6,55]) favorecendo a sutura barbada em comparação com a sutura convencional.

Heterogeneidade: Tau² = 614,87; Chi² = 21,01 graus de liberdade = 6 (P = 0,002); I² = 71%. Ver figura 6.

Figura 6. Perda de sangue estimada; CI = Intervalo de Confiança; IV = Variância Inversa; SD = Desvio Padrão; SB=Sutura

Barbada; SC=Sutura convencional

Necessidade de transfusão

Sete estudos avaliaram o impacto do tipo de sutura na necessidade de transfusão14-20 e a sua análise conclui que a razão de probabilidades foi de 0,52 (p=0,14; Intervalo de confiança a 95% [0,21; 1,25]) favorecendo a sutura barbada em comparação com a sutura convencional.

Heterogeneidade: Tau² = 0,00; Chi² = 4,60, graus de liberdade = 5 (P = 0,47); I² = 0%. Ver figura 7.

Figura 7. Necessidade de transfusão; CI = Intervalo de Confiança; M-H = Mantel-Haenszel; SD = Desvio Padrão;

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7

Complicações pós-operatórias

Três estudos avaliaram a segurança da utilização das suturas barbadas em comparação com as convencionais utilizando a classificação de Clavien-Dindo17,19,20. A análise destes resultados resultou numa razão de probabilidades para as complicações leves, isto é, de grau I e II, de 0,56 (p=0,41; Intervalo de confiança a 95% [0,14; 2,20]) favorecendo a sutura barbada.

Heterogeneidade: Tau² = 0,46; Chi² = 2,88, graus de liberdade = 2 (P = 0,24); I² = 31%. Quanto às complicações mais graves, III-V a análise revelou uma razão de probabilidades de 2,99 (p=0,35; Intervalo de confiança a 95% [0,29; 30,40]) favorecendo a sutura convencional. Heterogeneidade: Tau² = 0,58; Chi² = 1,26, graus de liberdade = 1 (P = 0,26); I² = 21%. Ver figuras 8 e 9.

Figura 8. Clavien-Dindo I-II; CI = Intervalo de Confiança; M-H = Mantel-Haenszel; SD = Desvio Padrão; SB=Sutura

Barbada; SC=Sutura convencional

Figura 9. Clavien-Dindo III-V; CI = Intervalo de Confiança; M-H = Mantel-Haenszel; SD = Desvio Padrão; SB=Sutura

Barbada; SC=Sutura convencional

Discussão

A nefrectomia parcial laparoscópica é uma técnica exigente e associada a maior taxa de complicações que a nefrectomia radical. Um dos passos críticos da técnica é a renorrafia, que tem que ser rápida para diminuir o tempo de isquemia e eficaz na redução da hemorragia. Mesmo para um cirurgião laparoscópico experiente manipular a agulha e proceder à reconstrução com uma mão ao mesmo tempo que mantém a tensão na sutura com a mão não dominante durante o

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8 procedimento, pode ser um desafio técnico e consome tempo 19. Embora a nefrectomia parcial assistida por robô, possa ultrapassar algumas dificuldades desta cirurgia, é uma técnica cara, disponível em poucos centros e sempre dependente da prática laparoscópica do ajudante21.

Nos últimos anos, foram introduzidas alterações às técnicas de renorrafia como o uso de clips como travão de maneira a dispensar o uso de nós intracorporais11. As pequenas farpas espaçadas homogeneamente numa disposição helicoidal na sutura, criam um mecanismo de auto-ancoragem22. Estes materiais possuem uma vantagem importante que se prende com a sua utilização de fácil aprendizagem e a ausência de nós facilitando o seu uso na renorrafia. Shikanov et al.23 foram os primeiros a usar as suturas barbadas na nefrectomia parcial laparoscópica em modelos suínos e consideraram-nas eficazes e eficientes mas não reportam ganhos no tempo de isquemia quente.

Esta meta-análise mostra que os uso de suturas barbadas pode reduzir o tempo de isquemia quente em media 6,81 min comparando com as suturas convencionais. Esta diferença para além da significância estatística é clinicamente importante, vários grupos apontam para os 20 minutos como o tempo aceitável de isquemia quente, mas cada minuto conta13,24-26. Um estudo que inclui apenas nefrectomias parciais realizadas em doentes com um só rim, mostrou que cada minuto de isquemia quente está associado a um aumento de 6% no risco de lesão renal aguda, 7% de doença renal terminal de início agudo e 4% de doença renal terminal de início rápido 24. Esta diferença pode estar subestimada uma vez que, dada a natureza não randomizada e retrospetiva da maioria dos estudos presentes nesta revisão, há uma curva de aprendizagem que não está a ser contabilizada e pode influenciar o tempo de renorrafia e consequentemente o tempo de isquemia quente.

Como seria de esperar, estes resultados, devem-se ao menor tempo de renorrafia. Embora nem todos os estudos incluídos nesta meta-análise tenham avaliado esta variável, os 4 que o fizeram permitem-nos afirmar que houve um ganho médio de 4,67 min no tempo de sutura com uso de suturas barbadas versus suturas convencionais (p=0,002). Este ganho de tempo não avaliado diretamente em todos estudos, pode ser uma razão para o ganho em tempo de isquemia quente. No entanto, este resultado é acompanhado por um grau de heterogeneidade de I2=84%, que é considerável. A pequena amostragem de estudos e a pequena amostragem dentro de cada estudo, assim como definições divergentes, técnicas cirúrgicas diferentes podem explicar esse grau de

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9 heterogeneidade, embora seja possível ver uma clara tendência para se perder menos tempo com as suturas barbadas. Os ganhos de tempo na renorrafia e isquemia quente com este tipo de sutura poderão capacitar os urologistas de excisar tumores maiores e de mais difícil abordagem no contexto de NPL e desta forma aumentar as aplicações deste tipo de cirurgia.

A análise conclui também que o uso deste novo material de sutura permitiu diminuir a duração da cirurgia em 7,24 minutos p=0,02, portanto um resultado estatisticamente significativo. Esta diminuição do tempo cirúrgico pode estar relacionada com o menor tempo necessário com a sutura, mas também com a segurança da sutura, ou seja, menor hemorragia após renorrafia. Apesar dos cirurgiões terem naturalmente seguido técnicas diferentes entre os estudos, este achado é curioso, porque o uso de suturas barbadas revelou ser útil mesmo com técnicas diferentes.

Quanto à segurança das suturas barbadas, todos os estudos incluídos nesta meta-análise reportaram a existência de doentes com necessidade de transfusão e compararam a perda de sangue estimada nos dois grupos14-20, seis reportaram o número de complicações peri-operatórias14-17,19,20, e três17,19,20 analisaram as complicações segundo a escala de Clavien-Dindo27,28. Em nenhuma desta análise se alcançou a significância estatística o que nos leva a acreditar que a opção pelas suturas barbadas é, pelo menos, tão seguro como usar suturas convencionais. Aliás, à exceção das complicações classificadas como grau III-V na escala de Clavien-Dindo27,28, em que houve uma tendência para maior risco neste grupo, embora a significância estatística estivesse longe de ser encontrada (p=0,35), na necessidade de transfusão, na taxa de complicações perioperatórias e nos graus I-II de Clavien-Dindo27,28 os resultados favoreceram sempre o uso de suturas barbadas, ainda que não estatisticamente significativos. Esta significância estatística poderá vir a ser provada, com ensaios clínicos maiores e mais bem estruturados, com metodologia robusta, multicêntricos e mais representativos da realidade.

Erdem15, Chien17, e Wang19 avaliaram as alterações na taxa de filtração glomerular, alegando que os custos são elevados com o uso de cintigrafia, usaram estimativas com base na creatinina. Liu20, por outro lado, alicerçando-se na evidência de que a creatinina sérica é inapropriada para estimar as alterações na função renal no rim afetado, uma vez que o rim normal contralateral compensa a função29, usou 99m-Tecnécio-dietilenotriaminopentacetato para avaliar a função renal. Estas medições permitiram que este grupo de trabalho afirmasse que a

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10 redução da taxa de filtração glomerular fosse significativamente menor nos doentes submetidos a NPL com uso de suturas barbadas em comparação com os doentes em que a sutura convencional foi usada20.

Esta meta-análise tem algumas limitações. Em primeiro, a qualidade da evidência não é elevada uma vez que apenas um ensaio clínico randomizado foi incluído, sendo a maioria dos estudos de caráter retrospetivo. Segundo, houve grande heterogeneidade, particularmente na análise das variáveis Duração da sutura e Perda de sangue estimada. Por esta razão, as conclusões tiradas da análise destas variáveis devem ser feitas com cuidado na prática clínica. Terceiro, muitos estudos incluídos nesta revisão reportaram períodos de follow-up curtos, inconsistentes, ou não reportavam de todo, pelo que não foi possível avaliar resultados a longo prazo sobre o uso deste tipo de suturas. Quarto, as curvas de aprendizagem, embora pensadas por alguns autores, que levaram a alterações na estratégia do seu estudo, não foram consideradas por todos, pelo que não podemos concluir se afetaram os resultados, uma vez que nenhum estudo comparou resultados iniciais versus subsequentes com uso destas novas suturas. Agora que este tipo de sutura está mais difundido, está na altura de realizar ensaios clínicos randomizados de maior qualidade metodológica, com maior amostragem, e maior período de follow up, que possam comparar resultados de segurança e de eficácia, vantagens na sutura, resultados pós-operatórios, e função renal a longo prazo.

Conclusão

Esta é a primeira meta-análise sobre o uso de suturas barbadas na nefrectomia parcial laparoscópica e mostra que o seu uso está associado a uma simplificação do procedimento cirúrgico com redução da duração da cirurgia, duração da sutura e consequente redução do tempo de isquemia quente. As suturas barbadas são pelo menos tão seguras quanto as suturas convencionais em termos de complicação no peri-operatório e no pós-operatório imediato.

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Anexos

Tabela I. Características e resultados dos estudos relacionados co1m o uso de suturas barbadas na nefrectomia parcial

1º Autor,

Ano, País publicação Tipo de doentes Nº de

Idade média dos doentes em anos Duração da cirugia (minutos) Duração da sutura (minutos) Tempo de isquemia quente (minutos) Olweny, 2011, EUA ERC SB vs. SC: 29 vs. 49 SB vs. SC média (DP): 55,1 (13,0) vs. 55,1 (12,9) p=0,99 SB vs. SC média (DP): 174 (35) vs. 178 (41) p=0,7 Não especificado SB vs. SC média (DP): 26,4 (8,3) vs. 32,8(7,9) p<0,001 Erdem, 2013, Turquia ERC SB vs. SC: 17 vs. 17 SB vs. SC média (DP): 56,7 (12,82) VS. 59,4 (12,61) P=0,480 SB vs. SC média (DP): 123 (31,26) vs. 130 (28,2) p=0,368 SB vs. SC média (DP): 5,83 (2,0) vs. 8,42 (4,3) p=0,368 SB vs. SC média (DP): 21,59 (8,64) vs. 29,47 (13,23) p=0,037 Jeon, 2013, Coreia do Sul ERC SB vs. SC: 13 vs. 24 SB vs. SC média (DP): 60,1 (13,8) vs.55,3 (11,7) p=0,27 SB vs. SC média (DP): 248,5 (37,2) vs. 256,7 (39,2) p=0,54 Não especificado SB vs. SC média (DP): 24,5 (5,3) vs. 31,9 (8,9) p=0,037 Wang, Ke, 2014, China ERC SB vs. SC: 36 vs. 40 SB vs. SC média (DP): 51,3 (10,1) vs. 50,8 (11,2) p>0,05 SB vs. SC média (DP): 78,5 (15,4) vs. 90,3 (18,1) p<0,05 SB vs. SC média (DP): 10,4 (3,2) vs. 19,4 (6,7) p< 0,01 SB vs. SC média (DP): 15,2 (4,2) vs. 24,1 (5,6) p< 0,01 Liu, 2015, China ERC SB vs. SC: 41 vs. 41 SB vs. SC média (DP): 61,8 (15,7) vs. 58,4 (7,0) p>0,05 SB vs. SC média (DP): 118 (18,8) vs. 120 (21,3) p>0,05 Não especificado SB vs. SC média (DP): 20,7 (5,3) vs. 27,5 (4,8) p<0,05 Chien, 2015, Taiwan ERC SB vs. SC: 17 vs. 21 SB vs. SC média (DP): 55 vs. 63 SB vs. SC média (DP): 205 (57) vs. 202 (70,9) SB vs. SC média (DP): 9,83 (3,02) vs. 13,5 (4,75) p=0,015 SB vs. SC média (DP): 24,6 (8,50) vs. 25,4 (13,7) p=0,934 Wang, Mingshuai, 2018, China ECR SB vs. SC: 30 vs. 30 SB vs. SC média (DP):50,9 (10,6) vs. 50,5 (14,8) SB vs. SC média (DP): 65,3 (16,9) vs. 73,0 (22,4) p= 0,14 SB vs. SC média (DP): 10.4 (3.7) vs. 13.8 (5.6) p= 0,01 SB vs. SC média (DP): 18,8 (8,2) vs. 22,9 (7,3) p=0,04

(23)

14 Tabela I (continuação) 1º Autor, Ano, País Perda de sangue estimada (mL) Complicações perioperatórias (%) Necessidade de transfusão

Clavien-Dindo I-II Dindo III-V Clavien- Meses de follow-up

Olweny, 2011, EUA SB vs. SC média (DP): 188 (205) vs. 255 (337) p=0,34 SB vs. SC: 10,3 vs. 24,4 p=0,13 SB vs. SC: 1/29 vs. 5/49 Não

Especificado Especificado Não Especificado Não

Erdem, 2013, Turquia SB vs. SC média (DP): 140 (117,35) vs. 115,59 (55,84) p=0,986 SB vs. SC: 17,6 vs. 17,6 SB vs. SC: 2/17 vs. 2/17 Não

Especificado Especificado Não Especificado Não

Jeon, 2013, Coreia do Sul SB vs. SC média (DP): 319,2 (311,3) vs. 331,3 (221,6) p=0,89 SB vs. SC: 23,1 vs. 25 p=0,90 SB vs. SC: 2/17 vs. 2/24 Não

Especificado Especificado Não Especificado Não

Wang, Ke, 2014, China SB vs. SC média (DP): 60,5 (21,2) vs. 110,4 (21,1) Não Especificado SB vs. SC: 0/36 vs. 3/40 Não

Especificado Especificado Não Especificado Não

Liu, 2015, China SB vs. SC média (DP): 180 (150) vs. 188 (160) p<0,05 SB vs. SC: 7,3 vs. 12,2 p > 0,05 SB vs. SC: 2/41 vs. 3/41 SB vs. SC: 2/41 vs. 4/41 SB vs. SC: 3/17 vs. 0/21 1-11 Chien, 2015, Taiwan SB vs. SC média (DP): 250 vs. 300 p=0,504 SB vs. SC: 23,5 vs. 33,3 p=0,622 SB vs. SC: 1/17 vs. 7/21 SB vs. SC: 0/17 vs. 5/21 SB vs. SC: 1/41 vs. 1/41 1-20 Wang, Mingshuai, 2018, China SB vs. SC média (DP): 58 (32) vs. 22,9 (7,3) p=0,04 SB vs. SC: 16,7 vs. 13,3 p=0,95 SB vs. SC: 0/30 vs. 0/30 SB vs. SC: 4/30 vs. 3/30 SB vs. SC: 0/30 vs. 0/30 SB vs. SC: 9,4 (3,8) vs. 8,8 (3,4)

Abreviaturas: DP=desvio padrão; ECR=ensaio clínico randomizado; ERC=estudo retrospetivo comparativo; SB=sutura barbada; SC=sutura convencional;

Imagem

Figura 1. Fluxograma do processo de seleção de estudos
Figura 2. Duração da cirurgia; CI = Intervalo de Confiança; IV = Variância Inversa; SD = Desvio Padrão; SB=Sutura  Barbada; SC=Sutura convencional;
Figura 5. Complicações perioperatórias. CI = Intervalo de Confiança; M-H = Mantel-Haenszel; SD = Desvio Padrão;
Figura 7. Necessidade de transfusão; CI = Intervalo de Confiança; M-H = Mantel-Haenszel; SD = Desvio Padrão;
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