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A CONSTITUIÇÃO DE 1946

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A CONSTITUIÇÃO DE 1946

explicação popular

Po r Or l a n d o M . Ca r v a l h o

Definição e natureza da Constituição. — C om o os

dem ais paises civiliza d o s, o B ra sil tem u m a C onstitui-ção, isto é, u m a lei fu n d a m en tal que re g u la as ativida-des m ais im p o rta n tes do E sta d o , o rg a n iz a os seus po-d eres p rin cip ais, lim ita a a çã o po-dos g o v e rn a n tes e aos

cid ad ão s a sseg u ra \o e xe rc íc io de d ireito s e im põe a o b rig a çã o de cu m p rir certo s d everes para com a co-le tiv id a d e .

A C o n stitu içã o tem , por isso, g ran d e significação p a ra o p ovo b ra sile iro . E la d e te rm in a o m odo porque h ão de tra b a lh a r os a g e n tes do g o v e rn o e os obriga a a tu a r d en tro de lim ites p re ciso s. P o r o u tro lado, os cidadão s que con hecerem bem a C o n stitu içã o poderão a g ir com m ais se g u ra n ça e e x ig ir que as autoridades os re sp eitem . A C o n stitu içã o se tran sfo rm a , assim , no g u ia do ibom cidadão, quer e ste ja e xercen d o funções públicas, qu er seja apenas: m em bro in te g ra n te das mas-sas tra b a lh a d o ra s do p a ís.

A C o n stitu içã o é um a lei n ecessaria, p orqu e o povo b rasileiro p recisa de p az e de so sse go p ara tra b a lh ar, p ro d u zir e tra n sfo rm a r o p aís em g ra n d e celeiro de m a téria s p rim as e m a n u fatu ra d a s p a ra abastecer o m undo in te iro . M as, p ara tra b a lh a r e p ro d u zir, é indis-p en sável h a v e r se g u ra n ça e tra n q ü ilid a d e . N ã o indis-pode* rem os fa ze r bem as cou sas de nossaS p ro fissõ es se não tiverm o s a certe za de que n ossas fam ília s e starã o bem resgu a rd ad as, nossos filh o s te rã o escolas, n osso

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arma-zem terá g e n ero s p a ra nos fo rn e ce r e os d o en tes de nossas casas te rã o m edico e fa rm a c ia p ro n to s a so co r-rê-los. Q u er d izer, p a ra que u m a so cied ad e p ro g rid a e cresça, é p reciso que h a ja no esp irito de to d o s os seus membros a co n vicçã o de que n ão se p ro d u zirá de re -pente nen h um a m u d an ça g r a v e da ordem so cial, de que não h a verá re v o lu çã o to d o dia, nem p ertu rb ação da ordem na ho ra de v o lta r do tra b a lh o , ou de acabar a escola, ou dé ir à fe ir a . N ã o nos é p o ssível desp en der energia com essas p reocu p ações, p orqu e seria a tra za r a produção de cad a se rv iç o . O E s ta d o deve a sseg u ra r- nos a tran q ü ilid ad e de que p od erem os nos' e n tre g a r de corpo e alm a ao tra b a lh o e ao estu d o , p orqu e o resto será g a ra n tid o p o r a lgu e m , que nem sem p re v em o s, mas que está e n ca rre g a d o de m an ter a ordem , a se g u -rança e a le i.

A n ecessidade de se g u ra n ça e de estab ilid ad e dá origem ao que ch a m am o s de C o n stitu içã o que é afin al a declaração fe ita p elo p ovo, por m eio de seus re p re -sentantes eleitos, de que as in stitu içõ e s fu n d a m e n tais terão um a o rg a n iz a ç ã o que n ão p od erá ser facilm e n te m odificada. E s sa g a ra n tia é e x p ressa através' de um docum ento escrito , a ssin a d o p or to d o s os re p re sen ta n tes do povo e leito s esp ecia lm en te p ara re d ig ilo e c h a -ma-se C o n stitu içã o , ou C a r ta M a g n a , p orqu e e stá a c i-ma das o u tras leis e o b rig a a to d o s, g o v e rn a n te s e governados. N in g u é m pode desobed ecê-la, nem m esm o o C on gresso N a cio n a l, p orqu e u m a ordem do C o n g r e s -so poderá ser d eclarad a n u la p elos ju iz e s do país, se não estiver p e rfeitam e n te de a co rd o com a C o n s ti-tuição.

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s-m A CONSTITUIÇÃO DE 1 H 6

titu ição dos E sta d o s U n id o s do B ra sil d a ta de 18 de setem bro de 1946, dia em que foi a ssin ad a pelos rep resen tan tes do p ovo e p osta em v ig o r . E la se com-põe de um d o cu m en to só, tem 218 a rtig o s , cerca de

14.000 p a lav ra s e d eterm in a p recisam en te o m odo de o rg a n iz a ç ã o e de trab alh o das p rin cip ais a tivid ad es do E sta d o , assim com o en u m era os direitos e d everes dos

b ra sile iro s. F o i e lab o rad a p ela A sse m b lé ia N acional C o n stitu in te , que trab alh o u d u ra n te m u ito s meses, discu tin d o an im ad am en te o seu con teú d o, até chegar a um aco rd o sobre o m odo de re d ig i-lo . Representa, por isso, a exp ressã o da v o n ta d e do p ovo brasileiro, liv re m e n te o b tid a p or m eio de debates e d eve ser obe-decida p or to d o s h a b itan tes do p a ís. E la está em vigor p a ra to d o s os b rasileiros igu alm en te e to d o s os

brasi-leiro s são ig u a is p eran te e la .

P o rq u e é a ex p ressã o d o esfo rço do p ovo p ara en-c o n tra r o m eio m ais ad eq u ad o p ara o rg a n iz a r o país e g a ra n tir a p az e a ordem da socied ad e b rasileira, nela ap arecem as n ossas a sp irações m ais p ro fu n d as, poden-do d izer-se que a C o n stitu içã o é o re tra to poden-do Brasil- O p o v o b rasileiro, desde os tem p o s m ais recuados de n ossa h istó ria , foi re lig io so e to le ra n te , d esejan d o que a ben ção d iv in a p ro te g e sse o seu trab alh o e que todos os b rasile iro s p u dessem d e sen vo lv er as su as aptidões liv rem en te, p or m eio de ed u cação adequada, discussão sin cera dos p ro blem as n acion ais e so b retu d o liberdade na escolh a do m odo de v iv e r . El, e x a ta m e n te porque assim é, a C o n stitu içã o se in icia in vo ca n d o a proteção

de D eu s e d eclara que p reten d e in stau ra r e n tre nós um regim e d e m o crá tico .

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sido usado p ara c a ra c te riz a r ta n ta s co n stitu içõ es d ife -rentes e para d e fin ir cou sas tão d iversas, que m esm o ditaduras h o je e x iste n te s se cham am de d em o crática s. A necessidade de d isfa rç a r o regim e a u to ritá rio p ara conquistar a boa fé do p ovo tem o b rig ad o os d itad o res ;i usar a lin g u a g e m p a cifica da d em o cracia, com o o lobo da fábu la u sa va as ro u p as e im ita v a a v o z da a vó , que já havia d evorad o , p ara a tra ir e d e v o ra r tam bém a sua n etin h a.

P ara d istin gu ir, então, o que co n stitu i o re gim e dem ocrático, no m eio de ta n ta s co n fu sõ es, direm os que certos p rin cípios n ão podem d e ix a r de ser p raticad os, para que o regim e e x ista na re a lid a d e . P o d e o m odo de praticá-los v aria r à v o n ta d e , nias d evem e x is tir . A ssim , as leis devem ser fe ita s por aqueles m esm os que irão obedecer a elas, isto é, o p ovo fica rá su je ito às leis que ele m esm o qu iser a p ro v ar, por m eio de seus rep resen -tantes no C o n g re sso N a c io n a l. A lé m diss'o, d eve haver possibilidade am p la de o u v ir a op in ião do p ovo sobre qualquer lei e, ap u ra d o que está sen do p re ju d icia l ao bem estar da co le tiv id a d e , deve ser fa c ilita d a a su a a lte -ração. O u tro p rin cíp io in d isp en sável p ara que e x is ta o regime d em o crático é o de su b stitu ir period icam en te os governantes, o b rig a n d o -o s a p restarem co n ta s de sua respectiva g e s tã o .

Se tais p rin cíp ios forem ap licad o s em d eterm in ad o país, a sua C o n stitu içã o p od erá ser cla ssifica d a en tre as dem ocráticas. E ’ o que a co n tece com a n ossa, pois, no Brasil, é o p ovo que fa z as leis a que v ai fica r su jeito , podendo a lte rá -las sem pre que forem in co n v en ien tes, e, de cinco em cin co an os, escolh e n o vo s g o v e rn a n te s e toma contas aos que h o u verem te rm in ad o o seu p eriod o

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130 A CONSTITUIÇÃO DE 1946

de e x e rc íc io d o p o d e r. C o m o se vê, ha em n osso pais re a lm e n te um re g im e d e m o crá tico , in stitu íd o p ela Cons-titu iç ã o , co m o o p o v o d e s e ja v a e com o in d ica v a a longa tra d içã o n acio n a l de lib e rd a d e .

M as, a d e m o cra c ia n ão é com o o sol, que fornece lu z e ca lo r, qu er o q u e iram o s, qu er n ã o . A s co isas da n a tu re za , co m o o sol, o a r e a a g u a , n ão dep end em de n ós p a ra a g ir . Já as co isas h u m a n as são a lte ra d a s pelos ho m en s, a tra v é s do u so, d o h á b ito e da v id a em comum.

A d e m o cra c ia é u m a n o rm a de c o n d u ta social, c 11111 m odo de v iv e r, que o rie n ta os h o m en s se gu n d o os p rin cíp io s da to le ra n c ia e do re sp eito p elos seus seme-lh a n te s. P o r isso m esm o, está su je ita a a lte ra ç õ e s e mo-d ific a ç õ e s mo-d e c o rre n te s mo-dos u so s e co stu m es mo-da sociemo-damo-de em que se v iv e . A lé m d isso, p or n a tu ra l in clin a çã o , os h o m en s ten d em a se c o n d u zir de a co rd o com a lei do m en o r e sfo rço e pod em , a o s p ou cos, d e ix a r de cumprir c e rto s p re c e ito s de co n d u ta de d ifíc il e x e c u ç ã o . E ’ mui-to com u m , p or e xe m p lo , o p o v o d e ix a r de p ed ir contas aos g o v e rn a n te s só p orq u e d e te rm in a d o adm inistrador

lhe p a receu bo m , a u ste ro e c o r r e to . B a s ta que um a vez se d esca n se n a p ra tic a da d e m o cra cia p a ra que h a ja risco de ab u so e de c o rr u p ç ã o . A d e m o cra cia , co m o os bons h á b ito s so cia is, e x ig e p e rm a n en te e sfo rço e vigilan cia; p or isso, é d ifíc il ser d e m o cra ta , p orqu e é p re ciso estar sem p re a le r ta . '-K

O c o n te ú d o d a c a rta c o n s titu c io n a l. — F ix a d o s o> p ro p o sito s com que se e la b o ro u a C o n s titu iç ã o , pode-m os a g o r a e stu d a r-lh e o c o n te ú d o p o sitiv o , p a ra verifi-ca r a té on d e c o n se g u iu re a liz a r os seus o b je tiv o s. 0 te x to da C o n s titu iç ã o n ão é m u ito co m p rid o , nem muito c u rto . C o m o a b ra n g e m a té ria e x te n sa , n ão poderia

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expô-la em p o u cas p a la v r a s . H á c o n stitu iç õ e s e m o u tro s países que sã o bem m a is re d u zid a s do que a n o ssa , p o r-que não co n te em a d e s criçã o p o rm e n o riza d a d o m o d o de o rg a n iza ç ã o e de fu n cio sa m e n to de c e r ta s re p a rtiç õ e s im portantes e n ão in clu em a e n u m e ra çã o dos d ire ito s e deveres dos c id a d ã o s . A n o ssa d e v ia ser m ais a m p la e especificar com p re c isã o a lg u n s p o n to s1, p orq u e a fo rm a de E sta d o que a d o ta m o s — E s ta d o F e d e ra l — é c o m -plicada e n e c e ssita de p e rfe ita d e lim ita ç ã o da e sfera de ação entre os o r g ã o s c e n tra is e os o r g ã o s e sta d u a is, para ev ita r que as re p a rtiç õ e s fe d e ra is in v a d a m o c a m -po de ação d as re p a rtiç õ e s e sta d u a is e v ic e -v e r s a . D a í decorre a d iv isã o d a C o n s titu iç ã o em titu lo s e c a p ítu lo s de tam anh o v a ria d o , co m p ree n d e n d o a o r g á n iz a ç ã o da União, com sed e no D is tr ito F e d e ra l e ju r is d iç ã o sobre lodo o te rrito rio n a c io n a l; a o r g a n iz a ç ã o da ju s tiç a n os E stad o s; a e n u m e ra çã o dos d ireito s e d e v e re s dos c id a -dãos; a fix a ç ã o dos p rin c íp io s o r ie n ta d o re s da v id a eco- nornica e so cial da c o le tiv id a d e ; a o r g a n iz a ç ã o da fa m í-lia e da e d u ca çã o ; a e x is te n c ia das fo rç a s a rm a d a s e do fun cion alism o p ú b lic o . T u d o isso e stá c o n tid o na C o n s -tituição e e x p lic a p o rq u e é e x te n s a e, ao m esm o tem p o , concisa, p ois a b o rd a m uitos' a ssu n to s de u m a só v e z .

E s ta d o F e d e ra l — N o B ra s il, a a u to rid a d e p ara govern ar está d iv id id a e n tre a U n iã o , os E s ta d o s , os Territórios e o D is tr ito F e d e r a l. A C o n s titu iç ã o está acima de to d o s eles e d e c la ra p re c isa m e n te qu ais o s p o deres que to ca m a cad a u m . A U n iã o cu id a dos in te re s -ses e das in stitu iç õ e s que d e v em se rv ir ao c o n ju n to dos brasileiros. A s s im , c o m p e te -lh e e sta b e le ce r re la çõ es coni as d em ais N a ç õ e s, d e c la ra r a g u e rra e fa z e r a p az, 0rgan izar as fo rç a s a rm a d a s, cu n h a r m o ed as, fa z e r as

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g ra n d e s e stra d a s n a cio n a is, m a n te r o se rv iç o p ostal e ou tras ta re fa s que co rresp o n d e m a n ece ssid a d e s com um dos b ra s ile iro s .

O s E s ta d o s p o d e rão d e se n v o lv e r as a tiv id a d e s que a C o n s titu iç ã o n ão a trib u ir à U n iã o , aos T e r r itó r io s ou aos M u n icíp io s, o que lh es dá v a s to a m b ito de ação, p o rq u a n to as o u tra s e n tid a d e s só p odem fa z e r aquilo que e stiv e r c la ra m e n te a trib u íd o a elas p ela C on sti-tu ição.

Q u a n d o o p aís tem e sta fo rm a de o rg a n iz a ç ã o , cha-m a-se E s ta d o F e d e r a l. O E s ta d o F e d e ra l é u til ao B ra-sil p orqu e so m o s um p aís m u ito e x te n s o e v a ria d o . A U n iã o cu id a das co isas g e r a is ; os E s ta d o s, das coisas re g io n a is . A U n iã o só pod e re a liza r as ta re fa s que lhe são p e rm itid a s pela C o n s titu iç ã o ; os E s ta d o s p odem ter a in ic ia tiv a de tu d o o que não lh es fo r v ed ad o pela mes-m a C o n s titu iç ã o . P o r isso, n ão h a v erá risco de ficar a lg u m a coisa p or fa ze r, p orqu e cab erá a o s E stados su p rir a a çã o dos' d em ais p o d eres n o que fo r necessário.

C o m o as re g iõ e s do B ra s il sã o d ife re n tes, havendo zo n a s a tra v e ss a d a s pelo E q u a d o r, ao n o rte, e p elo T ró -p ico de C a -p ricó rn io , ao sul, a d iv e rsid a d e de v id a e de in te re sses n ão p o d eria ser a te n d id a con ven ien tem en te p or um g o v e rn o só . M as, com a fo rm a de E s ta d o ado-ta d a p ela C o n s titu iç ã o , cad a re g iã o p od e ser adm inis-tra d a a seu m o d o p or um ou v á rio s E s ta d o s, cad a qual com c o n stitu iç ã o e o r g a n iz a ç ã o p ró p ria s, co m o se fosse um E s ta d o in d e p en d en te . E , p a ra que n ão h a ja disso-lu çã o da u n id ad e n acio n a l, a q u ilo que é de to d o s os bra-sileiros, que é in te re sse g e ra l da P á tr ia com u m , fica su je ito ao g o v e rn o c en tra l, co m p o sto da u n iã o dos E

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tados, T e r r itó r io s e D is tr ito F e d e ra l, c o n stitu in d o os Estados U n id o s do B r a s il.

C om o se vê, o E s ta d o F e d e ra l é u m a fo rm a c o m -plicada dc o r g a n iz a ç ã o de u n id ad es te rr ito ria is , que só trabalha bem q u an d o ha u m a c o n stitu iç ã o su p e rio r a todas, que d istrib u i o que co m p ete a c a d a um a faze r. E ,

se dá ta re fa s, d eve ta m b em d ar re c u rs o s . P o r isso, a C on stitu ição d iz q u ais sã o os im p o sto s e ta x a s cjue cad a entidade p od e a rre c a d a r, de a co rd o com a im p o rta n cia da m issão que lh e fo r c o m e tid a . A U n iã o é qu em tem a parte m aior, v in d o d ep o is os E ístados e T e r r itó r io s , e. em ú ltim o lu g a r , os M u n ic íp io s . E s ta d iscrim in a ç ã o de fon tes de ren d a é im p o rta n te , p orqu e é p re ciso que os recu rsos e co n o m ic o s das e n tid a d e s te rr ito ria is — U nião, E s ta d o s, T e r r itó r io s e M u n ic íp io s — seja m su -ficien tes.

O u tra v a n ta g e m d e c o rre n te d a e x is te n c ia do E s ta -do F e d e ra l no B ra s il é que d iv id e o p o d er de g o v e rn a r entre v a ria s a u to rid a d e s , re s trin g in d o a fo rç a do g o -verno c e n tr a l. E ’ v a n ta g e m d e m o cra tica , que tr a z com o con seqüên cia u m a c e r ta in efic ien c ia de a çã o , m as n ão

se en con trou n en h u m a fo rm u la ideal c a p a z de re s o lv e r na p ra tica os p ro b le m a s da a d m in is tra çã o de g ra n d e s territórios, com o o B r a s il. P red o m in o u , e n tre ta n to , o principio de que q u a n to m ais v a s to fo r o te rr itó rio , ta n -to m enos a m p lo d e v erá ser o p od er d o g o v e r n o .

C om o os E s ta d o s in te rv e e m in tim a m e n te na vid a da U n ião , p o r m eio do S en ad o , on d e ha tre s se n ad o res por E s ta d o , sem d is tin g u ir a e stes pelo ta m a n h o ou p o -pulação, pod e d izer-se que o E s ta d o F e d e ra l é ta m b em uma d e m o cracia de E s ta d o s , p ois p a rtic ip a m os seu s

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com ponentes da n atureza de p rovín cia e da natureza de cidadãos, um a vez que, através do Senado, concorrem para a form ação das leis da U n iã o .

A lém disso, a F ed eração é a form a de organização territo rial que m ais se adap ta a vida m oderna, porque consegue in stitu ir a autorid ad e regio n al independente para re g u lar os in teresses region ais, sem desm anchar a unidade nacional1. A s divergen cias region ais são aten-didas e a unidade nacional é fo rtalecid a. P o d erá esta form a de E sta d o servir no fu tu ro para o proprio mun-do, deixan do cada país independente na adm inistração de suas peculiaridades e in stituin d o um go vern o geral único para os interesses com uns da hu m an idade.

A República é mantida. — D epois da Independên-cia, em 1822, o B rasil foi go vern a d o com o Im pério até

1889, ano em que se proclam ou a R ep ú b lica. O Império se c ara cteriza va com o go vern o vitalício de um só ho-m eho-m , o Iho-m perador, que rep resen tava a N ação, ho-m as nãn era eleito pelo p o v o . O Im p erad or assum ia o carg o de chefe do E sta d o por direito de fam ilia, por ser o filho m ais velh o do Im p erad or anterior, e g o ve rn a va o país durante a v id a inteira, com o au x ílio da Assem bléia g eral, que era con stituíd a pelos deputados e senadore* eleitos pelo povo.

E m 1889, foi proclam ada a R epública, form a de go vern o em que o chefe do E sta d o deve ser eleito e deve ser m udado de tem pos em tem p o s. E ste personagem ., que substitui o Im perador, é o P resid en te da República. E x e rc e o ca rg o com o represen tan te da coletividade bra-sileira, que se m an ifesta através das eleições, escolhendo um dos can didatos registrad o s nas eleições presidenciais.

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Como a m assa do p ovo que pode v o ta r com p reen de a maior parte dos cidadãos cap azes do pais, pode dizer-se que o P resid en te da R ep úb lica é escolh ido d em o cra-ticam ente.

D e m an eira que o B rasil se tran sform o u de Im p é-rio em R epública, com a deliberad a in tenção de, com a República, ob ter a e xten são da eleição p opular à escolh a do Chefe do E sta d o , o que no Im p ério n ão era p ossível, porque o Im p erad or n ão p recisava de eleição para assu -mir o cargo, em caso de v a g a . Q u an d o se p roclam ou a República, h a v ia en tão a ideia de au m en tar a d em o cra-cia e dar ao povo op ortun idade de p articip ar na escolha do go ve rn a n te. H a paises m odern os ondé o rei c o n ti-nua a e xistir e ha dem ocracia, sem haver, p ortan to, repú-blica; m as, no B rasil, o p ovo con sid erou que só poderia extender a d em o cracia se tivesse a R ep ú b lica e a razão desse pensam en to foi que, nos paises onde ha rei e de-mocracia, o rei não tem direta in terv en ção nos n ego- cios do E stad o , enq uan to no B rasil a a tu ação do Im p e -rador era m u ito gran d e, pois era ele, segu n do a C o n s ti-tuição daquela época, a ch ave da o rg a n iza çã o p olíticr do Im p ério. P o r isso, o m o vim en to dem o crático e stavr intim am ente lig a d o à p ro p agan d a republicana. A s duas correntes de opin ião se uniram na p rá tica e hoje pensa-mos regim e d em o crático com o diretam en te associad o a República. E is a ra zã o porque a atu al C o n stitu içã o declara exp ressam en te que, sob régim e dem ocrático, de-seja m anter a R ep úb lica.

P a ra nós, a existên cia da R ep úb lica tem im p o rta n te sign ificação , porque associam os a essa form a de g o -verno, a v itó ria da dem ocracia. M as, na realidade,

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hoje, a c o n tra p o sição en tre M on arq u ia e R ep ú b lica per-deu o seu v alo r, é m ais fo rm al do que q u estão de prin-cípios. A lé m disso, p or m ais que se con heçam teoricam en-te as con d ições n ecessárias à e xistê n cia de cad a uma dessas fo rm a s de g o vê rn o , não se pode de an tem ão de-cid ir com o um p ovo d eva o rg a n izar-se , se em M onar-quia ou em R ep ú b lica. T a n to a M o n a rq u ia com o a R ep ú b lica têm v a n ta g e n s e d e sva n ta g en s e ao tempe-ra m en to do p ovo é que cab e fix a r sob que g o vê rn o viv erá m elhor. O p ovivo b rasileiro, por seus represen tan -tes, con tin u o u a decidir-se em fa v o r da R ep ú b lica e poz nisso ta n to em p enh o que proibiu o C o n g re sso N acio-n al de d iscu tir qu alq uer p ro jeto de lei que teacio-n ha por o b jetiv o a b o lir a F e d e ra çã o e a R ep ública.

S iste m a p resid en cial. — E sco lh id a a República, te v e o p ovo b rasileiro de a d o ta r um a das m an eiras de g o v e rn á -la e orien tou -se pela fó rm u la p o sta em prática pelos E s ta d o s U n id o s . A lí, o ch efe do E sta d o é o Pre-sidente, cu jos pod eres são tã o a m p los que pode ser con-siderad o o c a rg o m ais im p o rta n te do m undo contem po-rân eo. Q u an d o o povo a m erican o pensou em crear êste p erson ag em , tin h a em v ista a fig u ra do rei da In g later-ra e, de fa to , o sistem a p resid en cial e vo ca de certo m odo a p osição do rei. O P resid e n te pode ser com pa-rado a um rei que g o v e rn a d u ran te p eríod o certo e está su jeito a eleição e o sistem a p residen cial seria bem de-fin id o com o o sistem a de g o v ê rn o de um hom em só, es-colh id o pelo povo. D essa situ a çã o d ecorre a preenii- n ên cia do P resid e n te , que, em v irtu d e da eleição, é con-siderad o com o em issário do p o v o . A sua intervenção d ireta na so lu ção de m u ito s p ro blem as do E sta d o e os

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poderes exjtensos que lhe a trib u e a C o n stitu içã o p er-mitem v erifica r que dispõe de elem en tos p ara im p rim ir grande im pu lso à a tivid ad e estata l e a sua o rie n tação geral revela c a rá te r p op u lar e rep resen ta tiv o , u m a v ez que a sua in ve stid u ra no c a rg o é con sequ en cia de e le i-ção. O sistem a p resid en cial tem por base, pois, a in- dependençia dos p od eres p rin cip ais do E sta d o , a ssu n to sôbre o qu al op o rtu n am en te h averem os de nos p ro -nunciar.

Referências

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