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Academic year: 2021

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(1)1. UMESP – UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE HUMANIDADE E DIREITO – FAHUD MESTRADO EM EDUCAÇÃO. A EDUCAÇÃO SUPERIOR E O PROLETARIADO: O ACESSO ÀS UNIVERSIDADES PELA CLASSE OPERÁRIA NO ABC PAULISTA. EDSON JOSÉ BARBOSA. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2012.

(2) 2. EDSON JOSÉ BARBOSA. A EDUCAÇÃO SUPERIOR E O PROLETARIADO: O ACESSO ÀS UNIVERSIDADES PELA CLASSE OPERÁRIA NO ABC PAULISTA. Dissertação apresentada ao curso de PósGraduação “Stricto Sensu” na Universidade Metodista de São Paulo como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: Educação Orientação: Prof. Dr. Décio Azevedo Marques de Saes. SÃO BERNARDO DO CAMPO 2012.

(3) 3. A dissertação de mestrado sob o título “A EDUCAÇÃO SUPERIOR E O PROLETARIADO: O ACESSO ÀS UNIVERSIDADES PELA CLASSE OPERÁRIA NO ABC PAULISTA”, elaborada por Edson Jose Barbosa, foi apresentada e aprovada em 27 de março de 2012, perante banca examinadora composta pelo Prof. Drº Décio de Azevedo Marques de Saes (Presidente/UMESP), Prof. Drº Roger Marchesini de Quadros Souza (Titular/UMESP) e o Prof. Drº Daniel Pansarelli (Titular/UFABC).. __________________________________________ Prof. Dr. Décio Azevedo Marques de Saes Orientador e Presidente da Banca Examinadora. __________________________________________ Profa. Drª. Roseli Fischmann Coordenadora do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação Área de Concentração: Educação Linha de Pesquisa: Políticas e Gestão Educacionais.

(4) 4. DEDICATÓRIA. A minha esposa, Lucianere de Jesus Rocha Barbosa, que me apoiou incondicionalmente; a minha mãe, Aparecida C. Barbosa, que sempre confiou e muito me ajudou; e a meus dois filhos, Natan e Ruben, para os quais deixo este trabalho como incentivo para sua futura jornada acadêmica.. A todos operários e operárias, que, com muito custo, conseguem ascender à Educação Superior, conquistando o direito de crescer e sonhar uma sociedade melhor..

(5) 5. AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, por mover todas as circunstâncias para que eu pudesse trilhar a carreira acadêmica. Ao Prof. Dr. Décio Azevedo Marques de Saes, pela atenção e paciência nas orientações a um metalúrgico, que um dia, lá atrás, sonhou em poder fazer uma faculdade. Aos professores do programa de Mestrado, que se dedicaram e ajudaram na construção do conhecimento dos futuros Mestres. Ao Prof. Dr. Danilo Di Manno (In Memoriam), o primeiro provocador que me instigou a entrar no Mestrado. Aos companheiros de fábrica, que corajosamente me ajudaram na pesquisa, participando, direta e indiretamente, nas coletas de dados. Aos meus colegas de classe do Mestrado, que me deram a honra de partilhar seus variados e preciosos conhecimentos. Ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, por apoiar e autorizar a pesquisa junto aos operários da região do ABC..

(6) 6. “A tendência democrática de escola não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante.” Antonio Gramsci.

(7) 7. RESUMO A facilidade crescente de acesso à Educação Superior e a necessidade de uma formação profissional mais ampla levaram operários com ensino médio e técnico a frequentar o espaço acadêmico, lugar que fora sempre o direito de uma pequena elite formadora da liderança dominante. O intuito deste trabalho é analisar como a relação do operário comum com o mundo acadêmico das universidades realmente influencia as relações de trabalho da Classe Operária na fábrica. Uma pesquisa em forma de enquete operária foi realizada junto aos metalúrgicos do ABC para o levantamento de dados, levando em consideração o ano de 1996 como marco inicial, tendo como referência o ano da promulgação da LDB 9394/96, ajudando-nos a delinear o novo perfil da Classe Operária do ABC paulista e verificando as possíveis contribuições dadas pelos operários que concluíram ou estão cursando o Ensino Superior.. Palavras-chave: Operário. Fábrica. Classe Operária. Universidade. Ensino Superior..

(8) 8. ABSTRACT The increasing ease of access to higher education and the need for a broader training led workers with high school and attend the technical academic space that had always held that the right of a small ruling elite leadership trainer. The purpose of this paper is to analyze how the relation of the common laborer with the academic world of universities really influences the working relationships of the Working Class in the factory. A survey in the form of Poll Workers was conducted with the ABC metalworkers to the survey data, taking into account the year to March 1996 with reference to the initial years of the promulgation of LDB 9394/96, in helping to draft the new profile Class of Workers of the ABC region and checking the possible contributions made by the Workers who have completed or are enrolled in college. Key-words: Worker. Factory. Working Class. University. College..

(9) 9. LISTA DE ILUSTRAÇÕES GRÁFICO 1 -. A escolaridade do Operário........................................................65. QUADRO 1 -. Cursos de Graduação por Operário/a........................................68. QUADRO 2 -. Cursos de Pós-graduação por Operário/a..................................69. QUADRO 3 -. Cursos do SENAI por Operário/a...............................................70.

(10) 10. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12 1.1 Além da fábrica ....................................................................................................12 1.2 Os trajetos do trabalho.........................................................................................15. 2 EDUCAÇÃO, LUTA E FORMAÇÃO OPERÁRIA ................................................ 19 2.1 A formação da Classe Operária no Brasil .......................................................... 19 2.2 Primeiras correntes políticas no movimento operário ........................................ 25 2.3 A educação socialista ......................................................................................... 29 2.4 A educação libertária .......................................................................................... 32 2.5 A educação comunista ....................................................................................... 34 2.6 O SENAI – (Con) Formação do Operariado Brasileiro.........................................35. 3 A PEDAGOGIA DA FÁBRICA: UMA BREVE HITÓRIA DA DESQUALIFICAÇÃO DO TRABALHO ....................................................................................................... 41 3.1 A educação corporativa ..................................................................................... 41 3.2 A “educação” do operário no Sistema Toyota .................................................... 46 3.3 A pedagogia da fábrica no Brasil ....................................................................... 50 3.4 O intelectual orgânico e o operário .................................................................... 54. 4 PESQUISA ............................................................................................................ 61 4.1 Pressupostos ...................................................................................................... 61 4.2 A fábrica ............................................................................................................. 62 4.3 O processo de escolha da metodologia ............................................................. 62 4.4 Características quantitativas .............................................................................. 64 4.5 Análise qualitativa ............................................................................................... 70. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 76.

(11) 11. REFERÊNCIAS................................................................................................... 78. ANEXOS ........................................................................................................... 82.

(12) 12. 1 INTRODUÇÃO 1.1 Além da fábrica Um dia, meu pai ficou sabendo, por intermédio de seus conhecidos, que havia uma escola chamada Senai abrindo vagas e recrutando adolescentes de quatorze anos para aprender um ofício relacionado ao trabalho em fábricas. Parecia ser muito bom, pensava meu pai, porque trabalhar em empresas, principalmente em montadoras, era um futuro garantido. Passei por um vestibular bem concorrido em 1982, cujas vagas eram em primeiro lugar oferecidas aos concorrentes que tinham uma empresa mantenedora, para as quais, depois de formados, eles trabalhariam. As vagas restantes ficariam para os que melhor se colocassem no teste. Quando conheci a escola pela qual eu passaria quase três anos da minha vida, percebi que era um lugar diferente das escolas em que antes eu estudara. Além de salas de aula, quadras poliesportivas, carteiras, professores, havia também um lugar chamado oficina. Com o tempo, eu comecei a entender um pouco melhor o funcionamento de uma fábrica, porque o contato com colegas que eram mantidos por diversas firmas da região, cujas experiências no período de férias eram adquiridas dentro delas, dava-me a perceber que havia uma maneira peculiar de pensar as relações sociais de um grupo com características e aspirações parecidas. Quero dizer que a minha formação como operário ocorreu além da formação profissional fornecida pelo Senai. Tenho para mim que o ponto fundamental foram as relações estabelecidas com os companheiros aprendizes no interior da oficina e na troca das primeiras experiências que nos preparavam para a formação da futura Classe Operária. Fiz, primeiro, um curso de ajustagem mecânica, que durou dezoito meses. Neste período, meus pais arcaram com todas as despesas de transporte, material e alimentação, porque eu não tinha uma empresa que me mantivesse no curso, entretanto a maioria dos alunos recebia salário de suas respectivas empresas. Foi uma boa experiência este primeiro curso, porque na sequência consegui uma colocação em outro curso mais especializado, o de ferramentaria. Ganhei meu primeiro salário, pois agora eu era mantido por uma empresa, e pude também ter o contato direto com o ambiente fabril nos meses de férias. Logo.

(13) 13. que terminei a especialização em ferramentaria, fui conhecer a realidade da Classe Operária na prática. Comecei meus primeiros passos em um torno mecânico – função exercida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início de sua vida profissional em São Bernardo do Campo –, em que conheci um velho operário que trabalhava à minha frente, que me deu as primeiras informações a respeito do “funcionamento” da empresa. Depois dessa empresa, trabalhei em mais onze, contando a em que estou hoje. Passei por várias greves, enfrentei a polícia, fiz paralisações dentro e fora da fábrica, enfim, minha formação como operário foi completa. Nesta caminhada, conheci muitas pessoas e enfrentei também dias difíceis. Briguei por aumento, por melhor comida no refeitório, por intervalos de descanso durante os turnos, por equipamentos de segurança e tudo aquilo que podia ser melhorado no local de trabalho. Neste tempo em que saí do Senai, logo terminei o ensino médio profissionalizante, como técnico em eletrônica, e por um longo tempo não estudei mais. Nos setores onde trabalhei, meus “colegas de capa” tinham geralmente o mesmo nível de instrução formal, o ensino médio completo. Sempre percebi que os setores com a maior escolaridade da fábrica eram a ferramentaria e a manutenção. Às vezes, eu encontrava algum companheiro fazendo faculdade, porém era raríssimo conhecer alguém com este perfil antes de 1996. Quero deixar claro que, quando falo dos setores com operários mais escolarizados, me refiro ao chão de fábrica, ficando de fora os setores ligados à engenharia. No ano de 1992, preparei-me fazendo um cursinho pré-vestibular na intenção de prestar para o curso de Direito em uma faculdade privada. Porém, na realidade, os meus rendimentos não eram compatíveis com o valor das mensalidades do curso na época. Mesmo se eu passasse, não teria como arcar com as despesas do curso. Então, percebi que o querer fazer não bastava. As condições concretas daquele momento – refiro-me à econômica – não me permitiam entrar na universidade particular. Ressalto, ainda, que minhas condições financeiras, na referida época, eram melhores que a dos meus companheiros que trabalhavam na produção. Eu ganhava pelo menos o dobro. Em 2001, entrei em uma empresa na região de Diadema e, pela primeira vez, encontrei vários colegas cursando o Ensino Superior. Em um setor de aproximadamente trinta operários, havia pelo menos cinco companheiros cursando e.

(14) 14. dois com uma faculdade completa. Com certeza, este contato me fez repensar sobre a possibilidade de fazer algum curso na universidade. Nesse período, a partir de 2004, comecei a pesquisar os preços e cursos oferecidos na região do ABC e já era bem notória a quantidade de instituições privadas que estavam em concorrência e o número de vagas oferecidas por elas. Em relação ao valor, não dá nem para comparar com o do início dos anos 1990: as condições econômicas eram compatíveis com a realidade dos operários daquela empresa onde eu trabalhava então. Em 2005, comecei uma nova fase me matriculando em um curso de Letras. Logo após iniciar minha primeira faculdade, mudei-me para uma empresa de autopeças de grande porte, onde começaram a surgir as indagações que geraram meu problema de pesquisa. Nesta empresa, onde trabalho atualmente, tive a oportunidade de conhecer algumas particularidades nos movimentos políticos relacionados aos operários e a fábrica. Conheci e aprendi o que é Comissão Sindical de Empresa (CSE) ou Comissão de Fábrica. Pude observar algumas relações de força e a unidade de consciência da Classe Operária nesta empresa. Terminei minha especialização em Filosofia em 2010 e comecei meu Mestrado em Educação no mesmo ano. Ao propor meu projeto, que foi elaborado na PósGraduação, a meu então orientador Prof. Dr. Décio Saes, afinamos a base teórica, porém a “alma” da proposta continuou vinculada à minha realidade na fábrica. Foi por meio das observações da minha própria experiência como operário e as dos companheiros que tiveram a oportunidade de ingressar na Educação Superior, que me dispus a investigar, além da fábrica, a própria relação da constituição do operário e suas mudanças por meio da educação.. 1.2 Os trajetos do trabalho Existe um pensamento corrente nas classes menos privilegiadas: “meu filho vai estudar para ser alguém na vida”. Frases como esta ignoram que a educação, durante muitos anos, foi privilégio para poucos, principalmente tratando-se do direito ao ingresso no Ensino Superior. No decorrer dos anos, mais precisamente no final dos anos 1960, e sendo retomado com grande impulso nos anos 90, mediante os avanços tecnológicos, a utilização da informática em praticamente todas as áreas da indústria e a necessidade crescente da formação de profissionais em nível superior, houve um aumento da oferta de vagas nas faculdades privadas, gerando, desta.

(15) 15. forma, uma forte concorrência entre elas, reduzindo significativamente o custo de boa parte dos cursos de graduação. Conforme Benda:. A extraordinária expansão do ensino superior, mediante a multiplicação desenfreada de escolas, de cursos e de alunos é, provavelmente, a mais impressionante característica que a Educação apresentou em nosso país nas duas últimas décadas, sobretudo a partir de 1968, ano em que se inicia o grande crescimento econômico, que perdurou até meados dos anos 70. (1984, p57). Segundo a análise de Sécca e Leal:1 Desde o início dos anos 1990 até os primeiros anos do século XXI, entre as importantes mudanças que marcaram a evolução do setor, destaca-se o crescimento acentuado do número de alunos matriculados, de 1,76 milhão, em 1995, para 4,88 milhões, em 2007, o que significa um incremento de 177%. Esse aumento se deu especialmente na rede privada, cuja participação no total de matrículas saltou de 60,2% para 74,6%. Um marco importante, comentado mais adiante, foi a publicação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), em dezembro de 1996 (2009, p107).. A possibilidade de operários ingressarem no Ensino Superior, nos mais diversos cursos, permitiria o levantamento de uma nova questão: seria esta a via para uma consciência de classe proletária e para a formação de uma nova classe de intelectuais orgânicos2 que colocariam conhecimentos sistematizados de nível superior a serviço do mundo do trabalho? Nos últimos 15 anos, operários do chão de fábrica começaram a ingressar nos cursos superiores, quebrando a barreira do ensino médio. A facilidade crescente de acesso ao Ensino Superior e a necessidade de uma formação profissional mais ampla levaram operários com ensino médio e técnico a frequentar o espaço acadêmico, lugar que fora sempre o direito de uma pequena elite formadora da liderança dominante. Surge, então, uma indagação: pode a ascensão de operários ao Ensino Superior levar a Classe Operária a uma maior consciência, gerando, desta forma, uma combatividade maior nas lutas contra o capital dentro da estrutura fabril? Será necessária, para a emancipação e engajamento do operário, uma leitura do mundo que ultrapasse o senso comum, para, desta maneira, tornar mais eficiente 1. Rodrigo Ximenes Sécca é engenheiro e Rodrigo Mendes Leal é economista. Ambos são do Departamento de Operações Sociais da Área de Inclusão Social do BNDES. 2 Termo utilizado por Antonio Gramsci. Em “Os Intelectuais e a Organização da Cultura”, 1968..

(16) 16. o enfretamento dos problemas e contradições cada vez mais latentes nas relações entre trabalhadores e empresas. Com o ingresso do trabalhador do chão de fábrica ao Ensino Superior, facilitado pela oferta de vagas e pelo valor das mensalidades acessíveis, abrem-se as oportunidades para a formação de um novo tipo de operário, que se reconhece como classe e se utiliza do conhecimento acadêmico para o enfrentamento dos problemas com maior criticidade dentro de sua própria Classe. Para procurar uma resposta a esta nova atitude da Classe Operária, trabalhamos, no primeiro capítulo, com uma bibliografia que nos ajudasse a entender como o operário brasileiro se constitui e foi se moldando nas lutas após a proclamação da república. Foi de grande importância a leitura do livro Educação e Movimento Operário, de Paulo Ghiraldelli, para entender a relação dos movimentos operários e as possibilidades de uma educação autêntica para o desenvolvimento de uma Classe Operária forte e combativa. No último tópico, nos pareceu relevante fazermos uma pequena abordagem sobre a educação profissionalizante do Senai sendo esta, a principal instituição de formação operária surgida no governo Vargas. Outros autores foram de grande relevância para este início de pesquisa bibliográfica, tais como Silvio Gallo, Pinheiro e Hall, Leonard e Hardman, entre outros. Depois de conhecer um pouco melhor a gênese da formação da Classe Operária brasileira, pareceu-nos interessante, no segundo capítulo, fazer um contraponto de como a “Educação” foi utilizada pelas empresas para moldar os operários em seus respectivos sistemas durante as transformações dos processos produtivos. Procuramos fazer os apontamentos das mudanças da relação do homemtrabalho, partindo dos economistas clássicos, começando por Adam Smith, em sua obra A Riqueza das Nações, e comparando, em seguida, com as teorias de Taylor sobre a administração científica do trabalho. As transformações na cadeia produtiva aparecem de acordo com a necessidade de adequação da acumulação do capital. Seguimos nossos estudos dando uma ênfase no Processo Toyota de Produção e nas novas exigências que este sistema impôs ao operário. Para este tópico, a bibliografia escolhida foi de duas naturezas: a primeira, uma literatura que coloca o ponto de vista da administração, a qual ressalta os pontos positivos e a eficiência do Toyotismo; utilizamos a própria literatura de Ohno e de alguns autores que tinham suas bases nele; na segunda, pesquisamos a literatura da crítica ao sistema japonês, com autores de grande expressão no meio acadêmico – Ricardo Antunes e Acácia Kuenzer, entre outros..

(17) 17. Vamos observar, no processo de cruzamento destas duas vertentes, as contradições do sistema Toyota. O “Toyotismo” no Brasil assume a estrutura principal na implantação do seu bojo teórico, porém, existem algumas particularidades na sua efetivação em fábricas nacionais. Tomamos como base a pesquisa da Profa. Acácia Kuenzer, a qual estuda as implicações da educação desenvolvida para a adaptação dos operários para o sistema de produção em uma empresa automotiva situada no Paraná. Também analisamos os aspectos do sistema Toyota nas fábricas de calçados na cidade de Franca. A autora desta pesquisa, Vera Lúcia Navarro (ANTUNES e SILVA, 2010), relatou com detalhes algumas das principais características do sistema Toyota: a flexibilização e o condensamento de funções, além de apontar para a generalização da terceirização dos serviços que são levados da fábrica para casa. Para fazer o fechamento desta parte, estudamos o sistema Toyotista na própria empresa da Toyota situada em Indaiatuba, interior de São Paulo, cuja autora Eunice Oliveira (2004) retrata com bastante precisão as contradições da filosofia Toyota e sua aplicação efetiva, a qual condiciona os operários por meio de uma “Educação” para a geração de ideias que levam a um aumento da produção e o enxugamento de parte da força de trabalho. Finalizando o segundo capítulo, ao falarmos do “Intelectual Orgânico”, destacamos a importância do surgimento de operários que organizam o movimento de lutas para reivindicar mudanças de ordem econômica e política nas relações entre empresa e operário. Vamos apontar que as modificações na consciência dos operários estão ligadas às possibilidades de uma escolarização, a qual serve como instrumento para constituição de operários com maior senso crítico. Vamos destacar, através dos textos de Antunes e Humplrey, que os operários qualificados detêm uma maior escolarização e acabam servindo de base para os movimentos grevistas. No último capítulo, foi feito um levantamento empírico, em uma fábrica na região do ABC paulista, onde estão instaladas as principais montadoras de veículos e grande parte das multinacionais. Uma pesquisa de campo, por meio de uma Enquete Operária, foi aplicada aos funcionários de uma empresa no ramo de autopeças na cidade de Diadema. O levantamento de dados visa permitir o delineamento do novo perfil da Classe Operária do ABC paulista e apurar quais contribuições têm sido dadas pelos operários que concluíram ou estão cursando o Ensino Superior..

(18) 18. A relevância desta pesquisa, que desde logo aponta para uma real tendência da camada operária em avançar seus estudos em direção à Educação Superior, proporciona algumas indicações de mudanças na ideologia do operário fabril, sugerindo uma nova possibilidade da formação de um “intelectual orgânico”, com nível acadêmico e com potencialidade para um engajamento mais eficaz nas lutas e negociações, visando, assim, proporcionar novas conquistas para a sua própria classe. O objetivo deste trabalho é analisar como esta nova relação entre o operário e o mundo acadêmico realmente influencia as relações sociais na fábrica e se este aumento da escolaridade realmente reflete em uma consciência crítica mais politizada e engajada nas lutas da Classe Operária dentro da fábrica. A metodologia utilizada para a análise dos dados coletados foi primeiro quantitativa, para que pudéssemos demarcar uma precisão nas respostas objetivas. Em seguida, fizemos uma análise qualitativa para sondarmos as nuances das respostas com características mais subjetivas dadas pelos operários. Este trabalho justifica-se pelo atual momento, em que a proliferação de institutos superiores de educação e o barateamento de seus cursos de graduação abrem a brecha para a Classe Operária se apossar do instrumento burguês de perpetuação de dominação – o conhecimento acadêmico. O ponto de partida do nosso problema propõe duas hipóteses possíveis e interligadas: o operário está cada vez mais tendo acesso à Educação Superior, cuja finalidade é uma ascensão social/profissional; e a Educação Superior pode proporcionar a formação de uma consciência crítica “política” no operário; portanto, pode-se gerar uma mudança no perfil da Classe Operária..

(19) 19. 2 EDUCAÇÃO, LUTA E FORMAÇÃO OPERÁRIA. 2.1 A formação da Classe Operária no Brasil. No Brasil pós-colonial, os primeiros governos republicanos (1889-1894) foram ocupados por presidentes militares que manifestaram um grande interesse na mudança do sistema educacional, o qual foi marcado sob a égide da democracia. Todavia, quando seus sucessores no comando da nação, os oligarcas cafeeiros, arrefeceram os ânimos no tocante à alfabetização das massas, fazendo com que os primeiros ideais da educação tomassem outro rumo, colocou-se, então, em segundo plano, qualquer reforma relativo ao sistema educacional vigente. O discurso se moldara à necessidade de manter o jogo político do poder e perpetuar a supremacia da classe dominante no direcionamento dos negócios agro-exportadores baseados no café. Para manter este sistema, cujo alicerce era a exportação agrária baseada na monocultura e o latifúndio, a alfabetização das camadas inferiores já não era tão importante, e as práticas mais comuns para manter a ordem e a primazia da classe dirigente eram o coronelismo e o voto de cabresto, os quais garantiam, desta maneira, a hegemonia do poder através da coerção das massas. Deste modo, a oligarquia cafeeira pretendia, a todo custo, frear o avanço da história, evitando, assim, perder a predominância do sistema agrário cafeeiro para a industrialização, que vinha a passos largos e em ritmo acelerado. A expansão das forças produtivas começou a modificar a relação social que estruturava o Brasil, a qual se baseava, quase exclusivamente, na exportação de matéria-prima e das riquezas extraídas do solo, que fora marcado na Primeira República pela monocultura do café (GHIRALDELLI, 1987). É importante salientar que a figura do trabalhador assalariado, que traz consigo a marca destas mudanças sociais, cresce significativamente a partir de 1880, como comenta Singer: O desenvolvimento econômico tomou, a partir dos anos 80 do século passado, a forma de desenvolvimento do capitalismo, ou seja, de reprodução se concentrou nas mãos de uma classe de capitalistas industriais e a execução do mesmo processo passou a ser encargo de uma classe de trabalhadores assalariados “puros”, quer dizer, cuja sobrevivência dependia exclusivamente de seus ganhos salariais (1985, p. 56)..

(20) 20. No período em que se inicia a Primeira República, 1889, o Brasil tinha mais de 85% de sua população analfabeta, entretanto um “fervor ideológico” a favor da educação (entusiasmo pela educação) permeava a face da nova república. A democracia e os ideários da ideologia liberal necessitavam de um novo perfil de cidadão com uma escolaridade adequada ao novo operário urbano que surgia para ocupar novos postos de trabalho na cadeia produtiva. “No fundo o que se colocava na época eram as teses do liberalismo, que faziam crer a educação, a alfabetização, as medidas capazes de resolver os problemas sociais do país” (GHIRALDELLI, 1987, p. 16). Paranhos faz uma citação do próprio Marx, ressaltando a importância de uma educação mais abrangente dos jovens, e também não os deixando entrar no mercado de trabalho precocemente. Estes futuros operários seriam necessários para a constituição de uma nova Classe Operária combativa dentro da sociedade capitalista: O setor mais culto da classe operária compreende que o futuro de sua classe e, portanto, da humanidade, depende da formação da classe operária que há de vir. [...] A sociedade não pode permitir que pais e patrões empreguem, no trabalho, crianças e adolescentes, a menos que se combine este trabalho produtivo com a educação. Por educação entendemos três coisas: 1) Educação intelectual. 2) Educação corporal [...]. 3) Educação tecnológica [...]. Esta combinação de trabalho produtivo pago com a educação intelectual, os exercícios corporais e a formação politécnica, elevará a classe operária acima dos níveis da classe burguesa e aristocrática (PARANHOS apud MARX, 2005, p. 274).. As indústrias cresciam rapidamente e se alastravam devido à prosperidade material, fato que acelerou o movimento da industrialização nacional, tendo uma parcela dos produtores de café interesse na diversificação dos capitais, investindo, assim, na abertura de novas fábricas e no melhoramento da infraestrutura. Porém, a dependência do capital estrangeiro ainda era crescente: [...] a nova classe de fazendeiros ligados ao café conseguiu impedir a separação rigorosa das fases produtiva e comercial da economia cafeeira. Apesar da forte presença britânica, a burguesia paulista nascente investia em estradas de ferro, na comercialização feita nos portos, nas primeiras fábricas, em algumas companhias de seguro, na organização bancária. Muitas vezes eram investimentos associados ao capital estrangeiro (HARDMAN & LEONARDI, 1982, p. 49)..

(21) 21. Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), começou uma nova onda de “otimismo pedagógico”, partindo da prosperidade financeira e da proliferação das indústrias, devido às necessidades de produção criadas dentro do Brasil. Nesse período, as grandes potências ficaram momentaneamente fracas por causa da guerra, gerando um novo fôlego para o crescimento da indústria nacional. Em razão dessas mudanças, houve uma necessidade de pessoas que pudessem votar num regime democrático e progressista, pessoas alfabetizadas e com alguma consciência política. “Os anos posteriores à guerra Mundial serviram de palco para uma maior participação política da população urbana, para uma maior presença das camadas médias e do proletariado na vida sociopolítica” (GHIRALDELLI, 1987, p. 24). Outro fato importante para a modificação da conduta do poder no final da Primeira República foi o Tenentismo. Este movimento tinha um caráter reacionário vindo das classes médias (SAES, 1975), que, insatisfeitas com a linha política empregada pelos dirigentes do café, tentavam abrir espaço cooptando as massas e o movimento operário. As classes médias queriam uma revolução, entretanto queriam também refrear os ímpetos populares que, a qualquer momento, poderiam extravasar os limites do liberalismo (GHIRALDELLI, 1987, p.29). As classes populares viam neste movimento uma oportunidade de enfrentamento dos grupos oligárquicos através dos militares, que utilizavam a popularidade das massas e as armas. Nesse período de contestação e movimentos armados no começo dos anos 30, o sistema econômico brasileiro passa por transformações que mudaram a configuração política do país. A mudança do imperialismo inglês para o imperialismo americano, no final da Primeira República, também foi uma marca da alternância de poder afetando diretamente a oligarquia cafeeira. Agora, a exploração não ficaria somente de fora para dentro, mas também ocorreria de dentro e de fora pela abertura das multinacionais de diversos ramos e das grandes automobilísticas, como a Ford, GM, e outras grandes companhias vindas da Europa também, principalmente a partir dos anos 1950. No bojo desta nova “parceria”, a importação cultural seria outro traço marcante e, na ponta desta americanização dos costumes nacionais, a educação e a filosofia da educação vieram com o pragmatismo de John Dewey (GHIRALDELLI, 1987)..

(22) 22. As ideias reformistas da educação foram abraçadas pelos escolanovistas, a educação avançou e se modificou, porém o caráter revolucionário esperado pela nova Classe Operária foi substituído pelo “entusiasmo pela educação” e pelo “otimismo pedagógico”, que deram uma resposta em parte para o desejo da nova Classe Operária que se formava. De modo geral, é possível dizer que as ideias educacionais e pedagógicas empunhadas pela intelectualidade ligadas às elites dominantes da primeira república evoluíram, cada vez mais, no sentido de oferecer respostas diretas não só aos conflitos sociais, mas, talvez até prioritariamente, oferecer respostas diretas as camadas populares que se organizavam e se inquietavam. Assim, tanto o ‘entusiasmo’ pela educação como o ‘otimismo pedagógico’ fizeram parte de uma plataforma de atuação não simplesmente educacional, pedagógica, mas sim uma plataforma de atuação política, que respondia aos trabalhadores ora com repressão, ora com cooptação (p. 34-35).. De maneira geral, os primeiros passos da democratização da educação, mesmo com suas contradições trazida pelas novas forças produtivas, que estavam se constituindo durante a Primeira República, tiveram um progresso relativamente substancial, comparando-se com o final do período monárquico. O que fica evidente foi que as classes médias apoiavam, até certo ponto, as modificações estruturais do ensino vigente, entretanto a burguesia cafeeira queria o movimento operário, que estava ganhando força, sob sua tutela, controlando, desta forma, o tipo de educação que seria proporcionado a esta nova classe operária. A indústria crescia conforme as riquezas do café garantiam uma prosperidade econômica. O número de indústrias aumentava gradativamente, havendo a necessidade de uma nova mão de obra. Assim, surgem um novo proletariado nacional e uma nova burguesia industrial. Neste novo perfil de classes sociais, o imigrante teve papel fundamental para formação de ambas as classes. Entre os imigrantes, foram os italianos os pioneiros, seguidos pelos espanhóis e os portugueses, demarcando-se uma supremacia europeia na formação do proletariado brasileiro. Foi de fundamental importância a presença dos imigrantes europeus para a formação de uma consciência de classe dentro das fábricas, organizando, desta forma, os operários para exigirem melhores condições de trabalho, melhores salários e outros benefícios, como destacado por Leonardi e Hardman:.

(23) 23. Porém, a nosso ver, dialeticamente, a imigração jogou um papel positivo no processo de formação do proletariado como classe. A presença de núcleos de militantes vinculados à experiência internacional da classe contribuía – por mais tênues que fossem esses vínculos – para que se estabelecesse uma ponte mediadora entre a consciência do operariado em formação, no Brasil, e o proletariado internacional (1982, p. 171).. Os imigrantes vieram para o Brasil primeiramente como mão de obra para trabalhar nas lavouras de café substituindo o trabalho escravo dos negros. Porém, os colonos europeus não se sujeitavam à escravidão nos moldes dos africanos. Eles eram mais politizados e, quando não aceitavam o regime escravocrata das lavouras cafeeiras, podiam, em alguns casos, apelar para suas respectivas embaixadas. Devido às dívidas contraídas na viagem para o Brasil e das demais feitas no comércio do senhor da fazenda, um grande contingente de imigrantes descontentes foi paras as cidades e começou a se alocar nas fábricas. Singer destaca que a quantidade de imigrantes vindas para o Brasil fora três vezes mais do que necessitava a zona rural. Este dado justifica a alta rotatividade dos colonos nas fazendas e a fixação de uma parte significativa dos imigrantes nas cidades (SINGER, 1985). O perfil do novo proletariado vai se fundindo com a identidade do operário europeu que se desloca do campo em direção à cidade, entretanto as dificuldades e a vida difícil ainda persistiriam no chão de fábrica. Do mesmo jeito que o começo da industrialização oprimiu a nova Classe Operária na Inglaterra3, no Brasil não foi diferente. A inexistência de leis trabalhistas colocava os operários à mercê das normas rígidas das empresas, que tiravam o máximo de mais-valia e pagavam o mínimo com condições degradantes, utilizando-se, além dos homens como operários, a mão de obra de mulheres e crianças. A este respeito, documentos foram levantados para uma pesquisa por Pinheiro e Hall, comparando as condições de vida dos trabalhadores no Brasil e na Europa (1910): “Em quase todos os países da Europa trabalha-se oito ou nove horas por dia. Aqui, onze, doze ou treze horas” (1981, p. 53).. 3. “O destino dos tecelões estava, portanto, selado pelo desenvolvimento do tear a vapor. O fato de se submeterem a salários cada vez mais miseráveis só serviu para prolongar sua agonia. E eles se submetiam provavelmente porque sua qualificação profissional estava perdida e o nível salarial do operariado não qualificado, constituído principalmente por mulheres e crianças, também era miserável. Em suma, a proletarização de massa acarretou uma queda catastrófica do padrão de vida operário”. In: SINGER, op. cit., p. 32..

(24) 24. Gradativamente, o movimento operário se organizava gerando conflitos dentro do novo sistema capitalista industrial. Os operários começaram a se organizar em sindicatos, pleiteando melhores condições de trabalho e melhores salários. Os imigrantes, principalmente os italianos, foram fundamentais para a formação de uma nova consciência proletária. Esta nova organização em sindicatos foi muito importante para as articulações dos operários frente ao capitalismo industrial, que acelerava a partir dos anos 1930 não só nos grandes centros urbanos, como São Paulo, mas também como, por exemplo, no litoral paulista na cidade Santos. Em seu trabalho, Araújo também comenta que: O contingente operário até as duas primeiras décadas do século XX terá um forte peso de trabalhadores imigrantes, principalmente espanhóis, italianos e portugueses, chegando atingir 50% do conjunto do operariado. Tal presença é relevante para se entenderem certas características do próprio movimento sindical nos seus primeiros passos de organização dos trabalhadores (1985, p. 22).. Para desarticular o movimento crescente da Classe Operária nascente que estava se aglutinando em sindicatos, as classes dominantes procuraram organizar um modelo sindical subordinado ao Estado – os Sindicatos Pelegos4 – no molde utilizado por Getúlio na Segunda República. Os imigrantes que lideravam os movimentos operários foram duramente retalhados através da extradição, ficando proibida a atuação político-sindical a estrangeiros. Alguns documentos que datam do ano de 1917, reunidos por Pinheiro e Hall (1981, p. 268-279), evidenciam que a prática de deportação de estrangeiros ligados a movimentos de lutas sociais dentro das fábricas e que insuflavam os trabalhadores brasileiros “disciplinados” a se mobilizarem eram frequentes, e o Estado tratava com rigor a ordem de expulsão.. 2.2 Primeiras correntes políticas no movimento operário. Entre as principais tendências e correntes do movimento operário na Primeira República, destacamos três: a socialista, a libertária e a comunista.. 4. O termo “sindicato pelego” significa que o sindicato está atrelado ao Ministério do Trabalho, ou seja, sob o controle do Estado, que nomeia os líderes sindicais, os quais são comprometidos ao poder constituído da classe dominante..

(25) 25. Ainda no Império, a tendência socialista já apontava como pioneira na formação da Classe Operária no começo da industrialização. A Comuna de Paris também foi um fato que atraiu militantes dentro desta ideologia para a disseminação do socialismo, principalmente das ideias de Fourier, Saint-Simon e dos socialistas utópicos5. Estes militantes recém-chegados da França eram chamados de communards6. Ghiraldelli destaca que, ainda no Brasil Império, os tipógrafos foram os mais politizados da Classe Operária, que esboçavam o germe do socialismo, atuando como protagonistas nas primeiras greves no território nacional (1987). Os grupos socialistas dessa época não conseguiam demonstrar um projeto político que não fosse reformista. Todavia, esta corrente política sofreu fortes influências da II Internacional e dos movimentos anarquistas. O socialismo no Brasil teve como nome importante o de Luís França e Silva, que tentara organizar a Classe Operária dos tipógrafos que despontava: Já lá vão muitos anos, à iniciativa de um benemérito companheiro, França e Silva, foi realizado um congresso socialista, que foi como primeiro grito de guerra à ordem burguesa deste país. Esse congresso teve o mérito de colocar a questão social aqui, onde muitos acreditavam ser intempestiva e provocou entusiasmos que, por reduzidos que fossem, foram sempre úteis. Mas nada de positivo resultou dessa reunião composta de homens bem intencionados, mas privados de cultura socialista e de experiência (PINHEIRO e HALL, 1979, p. 61-62).. Mesmo com muita vontade política e tendo algum sucesso momentâneo na mobilização de classe, França e Silva teve uma formulação socialista com pouca base científica para efetivar seu uso como modificador social no enfrentamento contra a burguesia, porém para a sua época foi um passo importante dentro da categoria dos tipógrafos. O manifesto comunista de Marx também foi uma obra importante para a base do socialismo no território nacional. Mesmo tento uma boa base teórica querendo promover a organização do proletariado em partido de classe para pressionar. 5. “De modo geral, são socialistas quando negam o individualismo liberal e reclamam formas cooperativas de organização social; utópicos porque se limitam a oferecer programas idealistas, sem nenhuma base nas condições reais do mundo em que viveram. [...] Os socialistas utópicos iniciam suas críticas à sociedade capitalista denunciando a miséria do povo e os abusos da propriedade privada”. (CANDIDO FILHO, 1982, p.28) 6 Remanescentes da comuna de Paris refugiados no Brasil, os quais traziam os ideais socialistas que ajudaram a formar o movimento socialista operário..

(26) 26. através do trabalho o capital, o PSB não se firmou, e somente o jornal “avanti” continuou a disseminar os ideais socialistas, os quais perduraram até meados da década de 10. A relação entre intelectuais e o socialismo no Brasil era muito pequena comparada com a Europa. Este era um fator que justificaria a falta de penetração do movimento socialista. Havia uma necessidade de pessoas cultas da burguesia que ingressassem junto ao movimento operário, como revela um documento transcrito por Pinheiro e Hall: Referimo-nos aos escritos de Coelho porque se revelam um fenômeno interessantíssimo e muito auspicioso para o futuro do socialismo neste país. Esses escritos de um homem pertencente à burguesia brasileira, juntados a outros escritos e declarações de alguns homens conhecidos no mundo político e intelectual do Brasil, servem para indicar que não está talvez distante o dia em que a ideia socialista poderá contar neste país com um forte núcleo de homens cultos dedicados à sua defesa e difusão (1979, v. 1, p. 59).. Continuando a análise do documento anteriormente citado, o movimento socialista tinha problemas de penetração no Brasil, devido à sua grande extensão, diversidade cultural e política no território nacional. No Norte do Brasil, era praticamente insustentável a criação de um núcleo socialista com exceções a pequenos grupos isolados. Entretanto, nos estados do Sul, já havia uma inclinação mais significativa para o florescimento do movimento socialista devido à presença mais intensa do imigrante europeu. O PSB foi formado como partido em maio de 1925 pelo líder Evaristo de Morais. Praticamente ao mesmo tempo em que os socialistas tentavam organizar o movimento operário, outra tendência despontava nos bastidores das fábricas, cujos adeptos eram chamados de libertários. Este movimento contava, principalmente, com os princípios anarquistas trazidos pelos imigrantes italianos, que “pregavam” com muita força os conceitos do anarquismo, que penetraram fortemente nos primeiros sindicatos e nas ligas operárias na primeira década. Este movimento foi muito importante para o primeiro Congresso Operário Brasileiro, o COB, que publicou, por sua vez, o jornal A voz do trabalhador. O movimento anarco-sindicalista sofreu grande pressão das camadas dominantes, que, através de reformulações e manobras políticas, tentavam minar o sindicato gerido pelos trabalhadores, substituindo-os por “sindicatos pelegos”. Em.

(27) 27. 1917, inspirado pela Revolução Russa, os movimentos libertários iniciaram várias greves, que se repetiram em 1918 e 1919. Estes movimentos foram severamente reprimidos pelo governo, que deportou seus principais líderes. No Brasil, o anarco-sindicalismo foi muito importante na organização de greves que se tornavam cada vez mais intensas. Entretanto, os grupos ligados ao sindicalismo revolucionário – como também eram denominados – geralmente eram alvos de duras críticas, feitas por libertários anarquistas, principalmente depois do 2º Congresso Operário, realizado em 1913, os quais diziam que o fato de o movimento estar ligado a sindicatos já por si só era a negação do anarquismo. Eles também eram acusados de reformistas porque não aspiravam à luta revolucionaria, mas simplesmente visavam melhorar as condições dos operários dentro do sistema vigente sem mudá-lo. Segundo documento levantado por Pinheiro e Hall: O sindicalismo é o ideal da gente prática. O anarquismo é o ideal dos utopistas, que não crêem na grande utilidade de se conquistar dois vinténs às custas do sacrifício dos pobres coitados que na praça pública combatem policiais que não valem dois vinténs, bem vestidos que estão de reis os republicanos imundos. Mais estúpida parece ainda aos utopistas anárquicos esta batalha da prática gente sindicalista, uma vez que o operário que arrisca a vida por dois vinténs vai terminar percebendo que depois da vitória os dois vinténs conquistados são embolsados pelo vendeiro que é um ladrão suave e um bom burguês. Eu vejo o ideal do sindicalismo em todo o seu esplendor como uma vasta armadilha para prender os proletários. O partidão sindicalista é uma vasta armadilha onde foram colocados os princípios fundamentais do socialismo e da anarquia para enjaulá-lo elemento proletário e lançá-lo em seguida à gloriosa conquista do sagrado aumento de dois vinténs para o dia de trabalho (PINHEIRO e HALL, 1979, p. 130).. Segundo este documento, escrito em 1913 pelo jornal paulista La barricada, fica bem evidente que, apesar de ambos serem considerados grupos libertários, o pensamento ligado ao sindicalismo como luta dos operários era considerado pelos anarquistas uma mera ilusão pragmática, que negava o caráter e o sentido de revolução. Com o enfraquecimento dos movimentos libertários, e com a Revolução Russa de 1917, o comunismo começou a despontar como tendência aglutinadora dos movimentos operários no Brasil. Em 1922, a dissidência dos antigos libertários, mais precisamente alguns integrantes do anarco-sindicalismo, formou o PCB, que ficou como partido legal por apenas poucos meses, o que não impediu seu crescimento..

(28) 28. Os principais meios de comunicação e propagação do ideário comunista eram o jornal A classe operária e a revista Movimento comunista, e o principal teórico do partido foi Otavio Brandão7, que criticava as teorias libertárias de estarem desconectadas da realidade nacional (GHIRALDELLI, 1987). O PCB conseguiu vitórias importantes através da eleição de alguns membros do partido na esfera política e, no final dos anos 1930, ficou claro o envolvimento do partido com o Tenentismo, cujo principal nome era o de Carlos Prestes, defensor da luta contra o imperialismo estrangeiro. O grupo oligárquico tinha o interesse de manter as coisas do jeito que estavam, mas não tinham como conter as mudanças ocasionadas pela própria geração de riquezas que o café trazia e, ao mesmo tempo, as crises cíclicas forçavam o capital para a abertura das portas do Brasil para uma industrialização em grande escala. Esta industrialização mudaria, significativamente, o perfil do proletariado e a imigração iria trazer uma mão de obra mais qualificada, demarcando o pensamento europeu bem mais politizado. Não havia como manter as forças produtivas dentro de um. jugo. escravista. principalmente. pelos. e. a. formação. imigrantes,. dos. movimentos. ao. movimento. deu. operários, operário. liderados. brasileiro. a. oportunidade de gerar líderes nativos que se beneficiavam das experiências políticas trazidas pelos imigrantes. Podemos auferir que, embora os movimentos operários fossem sufocados, grandes avanços foram conquistados, e o operariado queria o engajamento político, o qual lhe propiciaria uma maior eficiência nas lutas de classe, e o acesso à Educação fora dos moldes formais de matiz liberal seria uma poderosa arma contra o poder dominante constituído.. 2.3 A educação socialista Os socialistas – em sua maioria formados por brasileiros natos e não imigrantes – foram os pioneiros na Primeira República a pensar na educação como meio de elevar a consciência proletária e tinham como meta combater o. 7. Escritor do importante livro publicado em 1926, intitulado Agrarismo e industrialismo, e representante eleito pelo PCB no conselho municipal do Distrito Federal..

(29) 29. analfabetismo para que a nova Classe Operária pudesse então pensar em justiça, igualdade, distribuição de renda etc. Os socialistas tinham convicção de que o ponto de partida era a instrução básica iniciando-se pelo saber ler e escrever: “Como vender jornais socialistas, divulgar panfletos, organizar os operários em sindicatos sem respaldo mínimo de grupo alfabetizados?” (GHIRALDELLI, 1987, p. 88). A educação popular se tornaria prioridade no movimento socialista que não se desassociava da política e tinha como base o ensino gratuito, laico e voltado ao técnico profissional. Entretanto, as classes dirigentes deixaram a questão da educação em um plano de esquecimento. Ficou, então, ao encargo dos próprios grupos socialistas a abertura de escolas operárias, que cumpririam os requisitos da visão pedagógica educacional para o ensino de classe, e a abertura de bibliotecas populares, que também complementavam a educação dos trabalhadores oriundos da fábrica e seus filhos. Os socialistas refutavam qualquer ligação com a igreja e qualquer vestígio dogmático clerical, norteando-se necessariamente pelo conhecimento sistematizado da ciência. Porém, diferentemente dos libertários, os socialistas procuravam quaisquer brechas nas verbas públicas que pudessem apoiar projetos educacionais para a Classe Operária. A instituição de ensino usada na educação da Classe Operária poderia ser, segundo os princípios socialistas, tanto formal como não formal. O que importava, de fato, era o contato do povo com a instrução oferecida pela escola. Todavia, o tipo de educação preferencial para a formação popular deveria ser, além do conteúdo enciclopédico, voltada para uma formação política da massa, portanto, uma escola nos moldes não formal. Embora os socialistas, ao nível do discurso, enfatizassem mais a educação informal, politizante, na prática atuaram como ardorosos fundadores de “escolas operárias” empenhados na educação formal de crianças e adultos e preocupados com a democratização do saber científico universal (GHIRALDELLI, 1987, p. 92).. Os grupos socialistas, no período de governo oligarca cafeeiro, durante a Primeira República, não tiveram apoio vindo dos partidos ligados a esta classe dominante. A educação democrática só havia de fato para uma pequena elite privilegiada. A questão da educação que abrangia as massas só podia ser pensada.

(30) 30. pedagogicamente como processo de emancipação das camadas populares, tratando, no mínimo, dos conhecimentos básicos. Alguns agrupamentos socialistas defenderam a educação formal, dadas nas instituições escolares, que ministravam os conteúdos científicos tradicionais. Opostamente, outros preferiam a educação informal, realizada nos sindicatos, de cunho politizante. Os socialistas debateram publicamente essas opções (GHIRALDELLI, 1987, p. 92).. Entre os grupos socialistas que primeiro esboçaram algum movimento mais sólido na formação operária ligada ao ensino, foram o do Rio Grande do Sul, em 1908, seguido pelos grupos socialistas paulistas e cariocas. Depois de conseguirem penetração nas principais capitais, as “escolas operárias”, como chamavam os socialistas, eram encontradas em quase todo Estado brasileiro. Porém, à medida que cresciam as escolas operárias, havia a necessidade de captação de recursos financeiros que também vinham dos cofres públicos. Os socialistas, diferentemente da conduta dos grupos libertários, pleiteavam todo recurso possível que poderia vir do Estado. Entretanto, sendo tarefa difícil competir com a influência da Igreja Católica, que canalizava, quase sempre, as verbas da educação para o ensino religioso. As “escolas operárias” eram totalmente laicas, tendo um direcionamento nos conteúdos científicos. O conhecimento deveria estar totalmente desligado das questões relativas à fé. Esta “pedagogia socialista” tinha normas rígidas e uma real preocupação com a boa formação do aluno. Alguns professores eram operários que ministravam aulas depois do trabalho na fábrica. Havia certo interesse na consolidação de cursos técnico-profissional pelos socialistas, porém, pouco se avançou neste campo. Algumas escolas, além das aulas formais, ofereciam também aulas de corte e costura. De maneira geral, foi um ganho substancial para o movimento operário a “escola operária”, sendo uma opção de formação educacional diferente oferecida pelo poder público na Primeira República. De acordo com um artigo publicado pela Profa. Dra. Maria Ciavatta8:. 8. Doutora em Ciências Humanas (Educação), Professora Titular em Trabalho e Educação, Associada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Professora Visitante da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: mciavatta@terra.com.br.

(31) 31. Nas escolas operárias, dominavam as normas de disciplina, as obrigações para com o trabalho e o aprendizado das primeiras letras. Nas escolas do trabalho ou profissionais, predominavam as atividades manuais e eletromecânicas e elementos de cultura geral. As políticas educacionais acompanham a industrialização, criando novas escolas e novos cursos, sem abrir mão do dualismo educacional que acompanha a estrutura da sociedade de classes e a desigualdade social no país (CIAVATTA, 2012).. As “escolas operárias” voltaram a ser pensadas no final dos anos 80 no Rio de Janeiro. Segundo um relatório9 escrito em 1989, havia uma preocupação em realizar um seminário com objetivo de pensar uma educação operária que fosse inovadora, partindo da experiência de outros seminários realizados em Recife, São Paulo e Minas Gerais, entre os anos de 1975 a 1985. Segundo o Projeto de Educação Operária abordado neste seminário, tinha-se como objetivos:. Reunir escolas operárias num esforço comum para a construção de uma alternativa de educação da classe trabalhadora buscando: 1) Desenvolver o pensar crítico e criativo como base de uma prática operária comprometida com os interesses da classe, buscando a formação de sujeitos transformadores da sociedade; 2) Promover a re-apropriação e recriação do saber expropriado historicamente dos trabalhadores; 3) Implementar uma política abrangente que não fraciona o operário enquanto homem, enquanto trabalhador ou enquanto cidadão, incentivando a criação de relações de solidariedade, união, igualdade e democracia; 4) Desenvolver a autonomia e praticar o exercício coletivo do poder contribuindo para a gestão de homens e mulheres novas/os; 5) Reforçar o movimento dos trabalhadores em seu processo de lutas e em suas formas de organização10.. Por fim, outra conquista não menos importante e ligada à educação efetiva, foi a implantação de bibliotecas populares, que utilizaram os recursos públicos para sua construção e eram cuidadas pelos operários do movimento socialista. Nos dias atuais, as bibliotecas estão sendo implantadas em fábricas na região do ABC Paulista. Em Diadema, o sindicato, juntamente com a prefeitura, está disponibilizando um variado acervo de livros para serem doados para empresas da região. Com esta iniciativa, os operários estão podendo ter contatos com diversos tipos de textos, que vão da literatura filosófica a histórias em quadrinhos. Porém cabe ressaltar que o objetivo das bibliotecas socialistas do começo do Século XX. 9. Relatório do seminário sobre “Educação Operária”, jun./jul. 1989. Disponível em: <www.oficinapedagogica.com.br/.../Seminario_sobre_Educacao_Operaria>. Acesso em: 03/01/2012 10 Idem, p. 6-7..

(32) 32. era politicamente diferente das bibliotecas em funcionamento hoje em dia nas fábricas. 2.4 A educação libertária11. Outro grupo importante que atuou junto ao movimento operário comprometido com a questão educacional a partir de 1906 foi o dos libertários, composto por imigrantes europeus, principalmente italianos e espanhóis, cuja mentalidade era direcionada para uma formação de um proletariado internacional. Esta orientação libertária rejeitava, radicalmente, qualquer ligação com o Estado liberal, além de refutar veementemente o ensino religioso, apoiando a total laicidade da educação, tanto formal como informal. Eram também chamados de anarquistas, cujo princípio era norteado por uma escola que fosse livre da ideologia dominante e do ensino burguês: Numa época em que o estado e a burguesia eram negligentes em relação à questão do ensino e da educação de um país iletrado como o Brasil, o movimento anarquista acreditava ser possível, no interior da sociedade capitalista, a criação de núcleos imunes à ideologia dominante. A luta por “escolas livres” que desenvolvessem nas crianças operárias um “espírito revolucionário” vinha da longa tradição da luta de classes da França (HARDMAN & LEONARDI, 1982, p. 258-259).. A orientação dos libertários em relação à educação era bem distinta daquela que as elites, tomadas pelo “entusiasmo pela educação”, alardeavam: Para os libertários, a luta pela instrução não se enquadrava numa estratégia paliativa, forjada no sentido de criar ilusões aos trabalhadores, que passariam a sonhar com a possibilidade de um mundo melhor a partir do desenvolvimento individual através do estudo. Pelo contrário, a luta por educação popular se inseria no contexto das demais batalhas que se desenrolavam no sentido de recuperar instrumentos de atuação social historicamente monopolizados pelas classes dirigentes (GHIRALDELLI, 1987, p. 102).. 11. Definido por duas correntes: os anarquistas, que propunham a transformação do capitalismo para uma sociedade anarquista, por meio de uma ação direta da massa excluída, derrubando o Estado e construindo uma nova sociedade, constituída por produtores independentes ou por cooperativas; e o anarcosindicalismo, que tinha no sindicato uma arma de luta para a construção da sociedade libertária..

(33) 33. Quanto à ação política, os anarquistas negavam o modelo burguês, porém não descartavam a necessidade de outra organização política que fosse ao encontro dos interesses do modelo libertário de sociedade: Tomada em sua interioridade, a proposta anarquista é essencialmente política, pois discute a instituição de uma nova ação política baseada na igualdade e na solidariedade e não na injustiça e na exploração. Procurando coerência com seus princípios filosóficos é que os anarquistas abdicam de qualquer forma de ação política liberal – ou burguesa –, como eles afirmam, pois seria impossível destruir uma estrutura de organização social com suas próprias armas, alem de ser muito difícil construir uma nova estrutura social através dos mesmos mecanismos que regulavam a antiga (GALLO, 1995, p. 100).. Os libertários desprezavam os partidos e combatiam as igrejas. Tinham como concepção educacional a pedagogia racionalista12, difundida através dos textos do educador espanhol Francisco Ferrer e de Paul Robin13, cujos autores utilizavam o ensino baseado no racionalismo como fundamento da educação popular. Os libertários fundaram algumas universidades populares, centro de estudos sociais e escolas modernas. Cultivar e crer na utopia eram fundamentos básicos para o pensamento anarquista que os libertários professavam. As universidades não tiveram muito êxito devido à baixa escolaridade do proletariado e à alta erudição de seus mestres. Todavia, os centros de estudos sociais tiveram grande sucesso, principalmente para a formação de quadros dentro do movimento sindicalista. As escolas modernas conciliavam as aulas cotidianas em sala, e aulas fora de classe como excursões educativas, porém as escolas modernas prevaleceram até o final dos anos 10, devido à repressão ao anarcosindicalismo pela classe dirigente que fechou as escolas modernas e perseguiu seus professores.. 12. Os princípios da educação racionalista, conforme as propostas de Ferrer, encontram-se reunidos no livro La escuela moderna. Conforme os apontamentos de Gallo e Moraes, o intelectual catalão criou um método pedagógico que denominou de pedagogia racional, com forte inspiração positivista. Tratava-se de um ensino ativo, no qual os educandos eram instigados a fazerem suas próprias descobertas científicas (2005, p. 90). O envolvimento dos libertários com as propostas educacionais de Ferrer foi incentivado, fundamentalmente, pela mais conhecida obra do educador espanhol, a Escola Moderna de Barcelona, fundada em 1901. 13 Robin acreditava que o ser humano deveria ser educado em sua integralidade para o seu desenvolvimento em plenitude e negava as noções apriorísticas, procurando atingir, dessa forma, o ensino tradicional, principalmente o ensino religioso..

(34) 34. Cabe ressaltar que, para os libertários, a educação seria obrigatoriamente livre, desimpedida da mão do Estado e do dogma clerical. Entretanto, não havia a intenção de levantar a bandeira do caráter público e gratuito da educação. Dentro da corrente dos libertários, o derradeiro grupo a sustentar esta posição ideológica foi o dos anarcossindicalistas14, que tinha como característica marcante a ligação com os sindicatos, reforçando, assim, a criação do movimento operário engajado nas lutas contra as contradições no sistema político vigente.. 2.5 A educação comunista. A escola de orientação comunista também deu suas contribuições à educação dos trabalhadores neste período. Os primeiros fatos a serem elencados referenciando esta corrente são a Revolução Bolchevique e o III Congresso Operário Brasileiro, em 1920. O partido comunista se definia por apoiar a Revolução Russa, aderindo, portanto, elementos para uma educação nos moldes comunista. Tinha como a principal revista brasileira divulgadora do modelo de educação comunista a Movimento Comunista. Quanto ao arcabouço pedagógico, o PCB tinha uma enorme eficiência teórica, que dificultava a intervenção da cultura liberal em seu meio educacional, ampliando suas reivindicações políticas com um plano nacional de educação: O PCB passou a discernir, no Movimento Operário, o que era do âmbito da política educacional e o que era do âmbito do pedagógico-didático. Os planos de política educacional eram apresentados nas publicações teóricas do partido. As ideias e concepções referentes ao pedagógico-didático diziam respeito ao modelo de escola desenvolvido na Rússia pela revolução e eram apresentados nas publicações teóricas do partido (GHIRALDELLI, 1987, p. 149).. As ideias que o partido comunista tinha sobre as prioridades do sistema de educação eram: ensino público obrigatório, o ensino profissional com uma educação politécnica e a valorização do professorado. Estas prioridades davam o contorno da política educacional, voltado também para a formação de trabalhadores que poderiam. 14. se. tornar. militantes. revolucionários,. melhorando. as. Eles partiam das teorias de Bakunin, que se desenvolveram no final do século XIX.. táticas. de.

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