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Vestígios de permanência e mudança dos classificados do Jornal Tribuna do Norte (1951-2010)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES ÁREA DO CONHECIMENTO: LINGUÍSTICA HISTÓRICA LINHA DE PESQUISA: LINGUAGEM E PRÁTICAS SOCIAIS ORIENTADOR: LUCRÉCIO ARAÚJO DE SÁ JÚNIOR. VESTÍGIOS DE PERMANÊNCIA E MUDANÇA DOS CLASSIFICADOS DO JORNAL TRIBUNA DO NORTE ( 1951-2010). AUCINEIDE MARQUES DE OLIVEIRA. NATAL/RN 2013.

(2) AUCINEIDE MARQUES DE OLIVEIRA. VESTÍGIOS DE PERMANÊNCIA E MUDANÇA DOS CLASSIFICADOS DO JORNAL TRIBUNA DO NORTE ( 1951-2010). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Linguística Histórica. Orientador: Dr. Lucrécio Araújo de Sá Júnior. NATAL/RN 2013 AUCINEIDE MARQUES DE OLIVEIRA AUCINEIDE MARQUES DE OLIVEIRA.

(3) AUCINEIDE MARQUES DE OLIVEIRA. VESTÍGIOS DE PERMANÊNCIA E MUDANÇA DOS CLASSIFICADOS DO JORNAL TRIBUNA DO NORTE ( 1951-2010). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Linguística Histórica.. Aprovada em 7 de Novembro de 2013.. BANCA EXAMINADORA: Prof. Dr. Lucrécio de Araújo Sá Júnior (UFRN) Orientador _____________________________________________________ Profª. Dra. Sulemi Fabiano Campos (UFRN) Membro interno _____________________________________________________ Profª. Dra. Valéria Severina Gomes (UFRPE) Membro externo _____________________________________________________.

(4) Dedico este trabalho ao meu orientador, Lucrécio, e ao meu esposo, Luiz Carlos, pelo apoio e incentivo..

(5) AGRADECIMENTOS À Deus, a minha gratidão pelo fôlego da vida, por ser meu refúgio e fortaleza, socorro bem presente na hora da angústia, por me guiar em águas tranquilas e por refrigerar a minha alma, para que no fim dessa jornada possa dizer: - Até aqui me ajudou o Senhor. Ao meu orientador, Lucrécio Araújo de Sá Júnior, pelo incentivo e principalmente pela humildade de ensinar, apoiar e caminhar ao lado. Seu exemplo como professor e como pessoa me encorajou quando muitas vezes pensei em desistir. Ao meu esposo, melhor amigo e companheiro de todas as horas, pela paciência, pela ajuda e pelo apoio incondicional em todos os momentos. A minha mãe, meus irmãos e minha avó pelas orações e pelo amor. À. professora. Valéria. Gomes,. por. suas. inúmeras. contribuições. para. o. desenvolvimento do meu trabalho. À professora Sulemi Fabiano Campos pelas considerações, que muito contribuíram para a finalização deste trabalho e por algo muito significativo: me apresentar o professor Lucrécio. À Elisângela Tavares, pelos conselhos e pela ajuda nos meus momentos de receio e dúvidas. Aos jovens do Círculo de oração da mocidade da Assembleia de Deus, pelas orações e pelo carinho..

(6) RESUMO O texto, ao se realizar em diferentes esferas linguísticas, em muitos aspectos absorve os processos mutáveis pelos quais a língua passa em decorrência das mudanças sócio-históricas. Nesse sentido, esta pesquisa propõe um estudo sobre o gênero classificados, motivada pelo desejo de compreender como o texto incorpora os vestígios de mudança e como mantém os seus elementos constitutivos ao longo do tempo, a fim de apontar quais são os seus traços característicos. Nossa análise está centrada nos classificados do Jornal Tribuna do Norte, do estado do Rio Grande do Norte, entre os séculos XX e XXI. A partir do levantamento dos dados foi realizada uma análise descritiva e analítica com um corpus constituído de 250 anúncios, divididos entre os anos de 1951 a 2010. Baseando-nos em uma análise diacrônica, também buscamos investigar os aspectos macroestruturais do gênero e os elementos microestruturais composicionais da seção Oportunidades que originou o Caderno dos Classificados. Para isso, esta abordagem centrou-se especialmente na Filologia Românica alemã, principalmente nos trabalhos de Coseriu (1980) e Kabatek (2006). A análise revelou que desde o seu surgimento no Brasil, os classificados apresentam elementos constitutivos fixos, como o uso do “vende-se” e “aluga-se” no título ou na introdução, mas também apresenta vestígios de mudança no fechamento do texto, e, especialmente com relação à divisão dos classificados por área de interesse, que no jornal Tribuna do Norte iniciou na seção Oportunidades. PALAVRAS- CHAVE: Filologia Românica alemã; jornal; classificados..

(7) ABSTRACT The text, to be held in different linguistic spheres, in many aspects absorbs the changing processes through which language passes as a result of socio-historical changes. In this sense, this research proposes a study on gender sorted, motivated by the desire of understanding how the text incorporates traces of change and how to keep its constituents over time, in order to point out what are its characteristic traits. Our analysis is centered on the newspaper’s section called “classificados” of Tribuna do Norte, state of Rio Grande do Norte, between the XX and XXI centuries. From the survey data a descriptive and analytical analysis was performed with a corpus of 250 listings, divided between the years 1951-2010. Based on a diachronic analysis, we also seek to investigate the macro-structural aspects of gender and microstructural compositional elements from the “opportunities section” that originated the “Caderno de Classificados”. For this reason, this approach has focused on particular Roman German Philology, especially in the works of Coseriu (1980) and Kabatek (2006). The analysis revealed that since its inception in Brazil, the “classificados” have fixed constituent elements, such as the use of "sell" and "rent" in the title or introduction, but also shows traces of change in the closure of the text, and especially with regard to the division of “classificados” by area of interest, that in the newspaper called “Tribuna do Norte” started in the “Opportunities” section. KEYWORDS: German Romance Philology. Newspaper. Classified ..

(8) ÍNDICE DE QUADROS CAPÍTULO 1 Quadro 1: A relação da linguística histórica com a filologia................................. 19 Quadro 2: O funcionamento dos níveis da linguagem......................................... 23 Quadro 3: Concepções dos níveis da linguagem ................................................ 28.

(9) ÍNDICE DE FIGURAS. CAPÍTULO 1 Figura 1: Os dois eixos da tradição discursiva .................................................... 24 Figura 2: A evocação da tradição na situação comunicativa .............................. 25 Figura 3: A dupla ação do ato comunicativo ........................................................ 28 CAPÍTULO 2 Figura 1: Primeiro anúncio pago e veiculado na história da imprensa brasileira. 41 Figura 2: Edições do Diário Oficial ...................................................................... 45 Figura 3: O jornal Diário de Natal ........................................................................ 47 CAPÍTULO 3 Figura 1: A seção Oportunidades do Jornal Tribuna do Norte ............................ 52 Figura 2: A seção Oportunidades na zona primária ............................................ 53 Figura 3: Produtos oferecidos na seção Oportunidades ..................................... 53 Figura 4: Produtos oferecidos na seção Oportunidades: veículo a venda .......... 54 Figura 5: Venda e aluguel de imóveis na seção Oportunidades ......................... 54 Figura 6: O surgimento do caderno Classificados .............................................. 55 Figura 7: As quatro zonas visuais ....................................................................... 56 Figura 8: Os classificados na seção Oportunidades ........................................... 57 Figura 9: Os classificados nas páginas do jornal Tribuna do Norte .................... 58 Figura 10: O caderno Oportunidades .................................................................. 59 Figura 11: A posição da seção Oportunidades nas zonas visuais ...................... 60 Figura 12: A nova organização da seção Oportunidades ................................... 61 Figura 13: O novo caderno do jornal Tribuna do Norte ...................................... 62 Figura 14: O caderno Classificados ..................................................................... 63 CAPÍTULO 4 Figura 1: Título dos classificados: nome do produto ........................................... 66 Figura 2: A predominância do substantivo nos classificados .............................. 66 Figura 3: O adjetivo no título dos classificados ................................................... 67 Figura 4: A caracterização do produto anunciado através do adjetivo ............... 67 Figura 5: A palavra “atenção” no título dos classificados .................................... 68 Figura 6: O uso expressivo da palavra “atenção”................................................. 68 Figura 7: O título verbal nos classificados ........................................................... 69 Figura 8: O verbo vender no título dos classificados ........................................... 69 Figura 9: Título com a expressão “Preço de ocasião” ......................................... 70 Figura 10: Título com a expressão “Negócio de ocasião” ................................... 70 Figura 11: O título “Oportunidades” (I) ................................................................. 71 Figura 12: O título “Oportunidades” (II) ................................................................ 71 Figura 13: A organização dos classificados por áreas de interesse .................... 73 Figura 14: A distribuição dos produtos por áreas de interesse nos classificados. 74 Figura 15: Título e subtítulo nos classificados de imóveis ................................... 75 Figura 16: Classificado do jornal A República ...................................................... 78 Figura 17: A recorrência da voz passiva sintética ................................................ 79 Figura 18: A voz passiva sintética na introdução dos classificados ..................... 79 Figura 19: Abertura e fechamento dos classificados ............................................ 80.

(10) Figura 20: Uso da expressão “a tratar com” ........................................................ 81 Figura 21: A tradição do verbo vender na abertura dos classificados ................. 82 Figura 22: O fechamento dos classificados no caderno Classificados ................ 83.

(11) ÍNDICE DE TABELAS CAPÍTULO 4 Tabela 1: A frequência dos títulos dos classificados da seção Oportunidades..... 72 Tabela 2: A frequência dos títulos dos classificados no caderno Classificados .... 75 Tabela 3: Abertura e fechamento dos classificados na seção Oportunidades...... 82.

(12) SUMÁRIO. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13 Capítulo 1: COMPREENDENDO A TRADIÇÃO DISCURSIVA (TD) ................ 17 1.1 A Linguística Histórica .................................................................................. 17 1.2 O surgimento da Tradição Discursiva e as ideias de Eugênio Coseriu ........ 19 1.3 Os níveis da linguagem e sua relação com a construção do texto .............. 22 1.4 Definições da TD .......................................................................................... 25 1.5 A funcionalidade dos gêneros nas práticas sociais discursivas ................... 29 1.5.1 O gênero classificados e sua relação com a TD ........................................ 34 Capítulo 2: OS CLASSIFICADOS NO BRASIL: DO SURGIMENTO AO DESENVOLVIMENTO ........................................................................................ 37 2.1 Texto e historicidade ....................................................................................... 37 2.2 História social dos anúncios no Brasil ............................................................. 38 2.3 A história da imprensa no Rio Grande do Norte ............................................. 44 Capítulo 3: VESTÍGIOS DE MUDANÇA E DE PERMANÊNCIA DOS CLASSIFICADOS................................................................................................ 50 3.1 Da seção “Oportunidades” para o caderno “Classificados”............................. 51 3.2 O lugar do classificado na diagramação do jornal........................................... 56 3.3 A configuração atual dos classificados do Jornal Tribuna do Norte ................ 62 Capítulo 4: TRADIÇÕES DO GÊNERO CLASSIFICADO................................... 64 4.1 O título no classificado ................................................................................. 65 4.2 A tradição da voz passiva sintética no classificado ..................................... 77 4.3 A tradição abertura e do fechamento do classificado ................................... 80. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 86. REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 88.

(13) 13. INTRODUÇÃO. Os textos, assim como a língua também sofrem mudanças em decorrência do tempo e do meio sociocultural, dessa forma, cada mudança marca um processo histórico e por sua vez, implicam nas mudanças que podem ocorrer na macro e microestrutura dos textos que circulam socialmente, e, nesse processo, tanto podem conservar. características. constituintes,. como. podem. apresentar. algumas. modificações/ inovações. Assim, sobre tal concepção, nos propomos a investigar os classificados do Jornal Tribuna do Norte (Natal/ RN), enfocando os vestígios de mudança e de permanência que ocorreram entre os anos de 1951 a 2010. Com a chegada dos portugueses ao Brasil, cartazes e recursos orais passaram a ser uma forma de divulgar a venda e/ou a troca de um produto, mas foi com o surgimento do jornal no país, que a divulgação de produtos diversos ganhou destaque, contribuindo para que no século XX, a sociedade que se tornara mais consumista passasse a participar ativamente da interação proposta pelos classificados: comprar, vender, alugar e até trocar. Muitas são as pesquisas centradas na Linguística histórica, cada uma trazendo elementos que contribuem para o conhecimento das tradições discursivas. Inserida nessa perspectiva, sob o ponto de vista diacrônico, esta pesquisa tem por objetivo principal evidenciar que o texto é mantenedor de tradições do meio em que faz parte e que a mudança e a permanência são características de um gênero. Observando os classificados pretendemos mostrar de que forma essas tradições se manifestam, tomando como base o levantamento dos classificados do jornal natalense Tribuna do Norte, fundado no ano de 1950. Como objetivos específicos, desejamos apresentar a história dos classificados no Brasil, relatando como se originou a divulgação de venda de produtos e de que forma ao longo dos anos os jornais abriram espaço para esse tipo de anúncio; analisar a estrutura dos classificados do jornal Tribuna do Norte desde a seção Oportunidades, entre os anos de 1951 a 1979, e posteriormente, no caderno dos Classificados, entre 1980 a 2010, através do levantamento de um corpus composto por 250 anúncios, para então descrever quais foram os vestígios de mudança e de.

(14) 14. permanência que ocorreram ao longo desses anos. Para tanto, partimos dos seguintes pressupostos: - Embora não possuíssem uma nomeação específica no momento em que surgiram no Brasil, é possível perceber que se tratam de anúncios, aos quais denominamos de classificados; - Os classificados, desde o seu surgimento possuem a mesma função social, embora tenham passado por mudanças no que diz respeito a sua macroestrutura; - Alguns elementos microestruturais dos jornais permanecem em todo percurso histórico dos classificados, caracterizando-se como tradições do gênero. Ao ler os classificados do jornal Tribuna do Norte surgiu o desejo de investigar se a estrutura textual desse gênero era a mesma em relação aos anos anteriores, quais recursos linguísticos eram utilizados e quais desses poderiam ser considerados como tradição. Isso desencadeou o propósito de apontar até que ponto diferentes áreas de interesse como a Linguística, a História e o Jornalismo convergem para o mesmo caminho: a Tradição Discursiva. Entre. os. aspectos. teórico-científicos. que. embasam. esta. pesquisa,. destacamos como principal o de caráter histórico, baseado na Linguística histórica dos gêneros, que de acordo com Aschenberg (2002, apud ZAVAM 2009) “é empregada dentro do escopo da Romanística alemã, para se referir aos estudos voltados para a formação, a continuidade e a mudança de gêneros textuais...”, pois ainda que a Tradição Discursiva não se revele apena nos gêneros textuais, são neles que observamos de que forma os fatores linguísticos e socioculturais se manifestam no interior do texto. Falar sobre a Linguística histórica nos permite conceber a língua no seu processo histórico-discursivo, na sua ação enquanto processo interacional- o texto-, lugar onde podemos observar com nitidez os traços de evocação de uma tradição discursiva, “assim, uma análise comparativa de um mesmo texto em diferentes épocas permitirá observar o que houve de continuidade e de ruptura das versões iniciais às atuais” (GOMES 2007, p. 15). Fazer o levantamento dos dados de uma pesquisa implica traçar um longo caminho para percorrer, a fim de obter informações que de fato embasem todo o trabalho. Em se tratando de uma pesquisa com textos jornalísticos, especificamente os classificados, é preciso considerar o contexto sócio-histórico, pois eles acabam se tornando materiais que refletem o uso linguístico e cultural das épocas em que.

(15) 15. estão inseridos. Nesse sentido, para desenvolver esta pesquisa documental, pautada na análise qualitativa, seguimos as seguintes etapas metodológicas: - Inicialmente, considerando as contribuições das diferentes áreas de conhecimento, para que se possa rastrear como o texto mantém e incorpora elementos ao longo do tempo, fizemos um levantamento da teoria da Tradição Discursiva, baseado principalmente em (COSERIU 1980; Brigite Schlieben-Lange 1993; KABATEK 2006; SIMÕES 2011); a teoria dos gêneros proposta por (TRAVAGLIA 2001; MARCUSCHI 2002; ASCHENBERG 2003; BAKHTIN 2007); e a história da imprensa e dos anúncios no Brasil, desenvolvidos por (CARAVALHO 1996; FERNANDES 2006; SIMÕES 2006). - A segunda etapa se deu com o levantamento do corpus do jornal Tribuna do Norte, que são os classificados, os quais foram selecionados e transcritos mantendo-lhes a grafia original e o sistema de pontuação. A transcrição seguiu as normas do Projeto para a História do Português Brasileiro (PHPB), onde os textos são transcritos seguindo a formatação do período em que foram escritos. Como se tratava de uma pesquisa de larga escala, já que englobaria os séculos XX e XXI, dividimos a coleta em três partes: a primeira entre os anos de 1950 e 1960, cedidos em cds pelo projeto de pesquisa do PHPB do Rio Grande do Norte, onde foi preciso fazer a seleção do material, pois nele encontrávamos as fotos de todos os cadernos do Jornal Tribuna do Norte e de outros que também compõem a história da imprensa norte rio-grandense; nas fases seguintes, da década de setenta, e por fim, de 1980 a 2010, as imagens foram fotografadas no Arquivo do Jornal, que direciona um lugar exclusivo para pesquisa dos exemplares de 1951 até o ano atual. De acordo com informações de funcionários desse departamento, os exemplares de 1950, ano em que o jornal foi fundado, não são disponíveis para pesquisadores. Em posse de todo o corpus, organizamos da seguinte forma: primeiro apresentamos os classificados da seção Oportunidades, entre os anos de 1951 a 1979, e depois os do Caderno Classificados, entre os anos de 1980 a 2010, isso porque, no mesmo jornal pudemos identificar que o lugar em que os classificados vinham no suporte mudou. Em suma, nosso corpus é constituído de duzentos e cinquenta classificados, entre os anos de 1950 a 2010, porém foi priorizado apenas um recorte para mostrar os traços de mudança e de permanência que ocorreram ao longo dos anos..

(16) 16. Após o levantamento do corpus, que é integralmente constituído por classificados do jornal Tribuna do Norte, vimos a necessidade de realizar uma pesquisa sobre a história da imprensa no Rio Grande do Norte, a fim de compreender como ela se desenvolveu e quais foram os jornais que se destacaram nesse processo de ascensão da imprensa norte rio-grandense. A partir de todas essas etapas metodológicas, dividimos esta pesquisa em quatro capítulos: O primeiro capítulo faz uma imersão na Linguística histórica e no legado coseriano através da divisão dos níveis da linguagem. Também apresentamos uma abordagem sobre a Tradição Discursiva, discutindo a partir de alguns pesquisadores da área seu conceito e a sua aplicabilidade. No segundo capítulo apresentamos um panorama geral sobre a história da imprensa e dos anúncios no Brasil, dando destaque à imprensa do Rio Grande do Norte, em virtude de tratarmos de um jornal desse estado. No terceiro capítulo abordamos as tradições que constituem a microestrutura do gênero classificados. Já no capítulo 4 foram analisados os traços de mudança e de permanência dos classificados do jornal Tribuna do Norte, desde a seção Oportunidades até o caderno dos Classificados. Acredita-se, assim, que esta pesquisa contribuirá para o estudo filológico do gênero classificados e para maiores flexões a cerca das tradições que permeiam o texto, assim como desenvolver uma maior reflexão a cerca da historicidade nos aspectos linguístico e textual..

(17) 17. CAPÍTULO 1 COMPREENDENDO A TRADIÇÃO DISCURSIVA (TD). O exercício da linguagem como prática social se realiza para promover a interação verbal. De acordo com um fim específico, a comunicação se dará a partir de formas textuais já existentes, assim, nesse processo interacional promovido pela linguagem, o locutor se apropria dessas formas e pode até mesmo inová-las, resultando no que podemos chamar de Tradição Discursiva. Como afirma Jubran (2010, p.206):. A TD particulariza-se pela repetição de um texto ou de uma estrutura textual ou de formas linguísticas e elementos de conteúdo que evocam, por exemplo, padrões de construção textual, atos de fala convencionalizados, uma maneira particular de falar ou escrever de certas instituições e grupos sociais.. A Linguística histórica, que tem como objetivo investigar os aspectos de desenvolvimento histórico e as mudanças de uma língua, está consideravelmente relacionada à TD, pois reconhece a língua como algo dinâmico e mutável. Essa visão não era comungada pelos estudos linguísticos estruturalistas, porém a partir da contribuição de Eugênio Coseriu a língua passou a ser estudada na dimensão dos efeitos temporais. Dentre as mais diversas situações linguísticas ou gramaticais que a Tradição Discursiva pode se realizar, destacamos o trabalho com os gêneros. Diante de sua abrangência, consideramos que eles “apresentam características relacionadas com propósitos comunicativos, firmando-se como uma TD pela relativa estabilidade composicional” (JUBRAN, 2010, p. 207). Como todo gênero possui a sua estrutura linguística e composicional, de acordo com o tempo, é possível verificar que essa estrutura pode se manter estável ou variar. 1.1 A Linguística histórica Antes de qualquer definição do que é Linguística histórica, cabe pontuar que o conhecimento sobre esta área constitui uma base sólida para a compreensão da sua.

(18) 18. relação com a Tradição Discursiva. Sobre este aspecto discorreremos no tópico a seguir, já que é o modelo que norteia nosso trabalho, seguindo o que afirma Matos e Silva (2008, p. 146): “sem dúvida, a mais recente orientação nos estudos históricodiacrônicos é a das tradições discursivas (TD)”. A Linguística histórica que iniciou seus estudos no século XIX é definida tradicionalmente “como o campo da linguística que trata de interpretar mudançasfônicas, mórficas, sintáticas e semântico-lexicais - ao longo do tempo histórico” (MATOS E SILVA, 2008, p. 8) e de acordo com Labov (1994, p. 21, apud SILVA, 2000, p. 149) tem como função “explicar as diferenças entre o passado e o presente”. Compreender o que é linguística histórica implica no entendimento de que sua abordagem se dá a partir do movimento de mutabilidade proveniente da linguagem ao longo do tempo, cabendo a ela a função de investigar como essas mudanças aconteceram, e por esse aspecto identificamos sua relação com a TD, a qual parte de estudos históricos para que se possa compreender os traços de mudança e/ou de permanência de uma língua ou de um texto. Na verdade, as mudanças da língua se manifestam nos textos, ou seja, na nossa prática discursiva, quer seja ela oral ou escrita. Matos e Silva ((2008, p. 236)), em seu livro Caminhos da Linguística histórica, ao explicar o que é Linguística histórica, aponta o que Eugenio Coseriu, no clássico Sincronia, diacronia e história, afirma sobre a constituição desta: “a descrição e a história da língua situam-se ambas, no nível histórico da linguagem e constituem juntas a linguística histórica”. A autora também admite duas grandes vertentes da linguística histórica: “A Linguística histórica lato sensu que trabalha com dados datados e localizados, como ocorre em qualquer trabalho de linguística baseado em corpora, os quais são datados e localizados, tal como os estudos descritivos...” (ibid., p. 9). E a Linguística histórica stricto sensu, “que se debruça sobre o que muda e como muda nas línguas ao longo do tempo em que tais línguas são usadas” (ibid., p.9). Todos os estudos relacionados à Linguística histórica, em suma, são extremamente dependentes da filologia por fornecer os subsídios necessários para a compreensão dos processos de mudança da língua:.

(19) 19. uma vez que tem como base de análise inscrições, manuscritos e textos impressos do passado, que, recuperados pelo trabalho filológico, tornam-se os corpora indispensáveis às análises das mudanças linguísticas de longa duração (ibid. p. 10). Para. um melhor entendimento sobre essa e outras questões citadas. anteriormente, consideremos o gráfico a seguir: Quadro 1: A relação da linguística histórica com a filologia. (cf. MATOS E SILVA, 2008, p. 10). Como pudemos observar, a Linguística histórica abrange vários aspectos relacionados à língua, para que assim possa avaliar os elementos que condicionam as mudanças na estrutura linguístico-textual. 1.2 O surgimento da Tradição Discursiva e as ideias de Eugênio Coseriu A Tradição Discursiva surgiu na Alemanha, especificamente dentro da Linguística Românica, a partir da última década de 1980, impulsionada pelo legado teórico de Eugenio Coseriu, o qual concebia a língua em uma perspectiva histórica. No Brasil, o estudo da Tradição Discursiva está centrado principalmente no estudo.

(20) 20. histórico do português brasileiro, através do grupo de pesquisa Para a História do Português Brasileiro (PHPB). Opondo-se a visão estruturalista de Saussure, trazida no livro Curso de Linguística Geral (1916), entre elas a dicotomia entre língua (língua) e fala (parole) e a delimitação dos estudos da língua em uma perspectiva sincrônica, onde então poderia separar os fatores internos e externos da língua (tanto em relação aos fatores sociais quanto históricos), Eugênio Coseriu propõe um acréscimo à dicotomia saussuriana, dessa vez, com estudos linguísticos voltados para a compreensão da língua enquanto fenômeno histórico, contrapondo a visão de que a língua seria atemporal. O linguista romeno via a língua como um sistema em movimento e que de forma alguma poderia dissociar seu estudo do fator histórico. Com essa visão apresenta um novo conceito em relação ao que seria sincronia e diacronia: se para Saussure, a sincronia correspondia a tudo quanto era estático, e a diacronia como tudo que diz respeito às evoluções (CLG, p.96), para Coseriu (1982), a sincronia seria a língua em funcionamento, e a diacronia seria a língua em seu desenvolvimento histórico. Na sincronia coseriana, o desenvolvimento histórico com relação à língua é muito mais abrangente porque considera todos os fatores temporais, sociais e culturais que propiciam as mudanças; não se limita às evoluções sem considerar os fatores que as motivaram, pois “a língua não pode ser isolada dos fatores externos – isto é, de tudo aquilo que constitui a fisicidade, a historicidade e a liberdade expressiva dos falantes” (COSERIU, 1979, p. 19). E com esse posicionamento, mais uma vez Coseriu contrapõe o pensamento saussuriano de que a língua não depende ou é influenciada pelos fatores externos. Com relação à dicotomia saussuriana, o acréscimo se deu então através da tripartição que Coseriu (1979) fez em relação ao fenômeno linguístico, onde propôs a distinção entre: - sistema: forma indispensável, oposição funcional; - norma: representa o primeiro grau de abstração da língua e contém somente aquilo que no falar concreto é repetição de modelos anteriores; - fala: atos linguísticos concretamente registrados no próprio momento de sua produção. A fala, “o falar concreto corresponde mais ou menos a parole de F. de Saussure e se poderia chamar “fala” (no sentido de processo, de dinâmica, que contém o vocábulo discurso)” (id., 1980, p.119). Portanto, o sistema abarca todo o.

(21) 21. conjunto de possibilidades da fala, que vai desde as variações linguísticas até o sistema de oposições dela. Já a norma parte do que existe linguisticamente em grupos distintos. Embora faça parte de uma mesma sociedade, abrange as realizações obrigatórias, consagradas e compartilhadas, e, é justamente por isso que nesse aspecto deve-se considerar as especificidades de cada grupo em se tratando das repetições, tradições e hábitos linguísticos. O próprio Coseriu (1980, p. 123) comenta a respeito da distinção entre norma e fala, citando o seguinte exemplo: “Em Espanhol, o fonema /b/ é, no sistema, somente “oral”, “bilabial” e “sonoro”... [...] na norma, entretanto, é ainda “oclusivo” em certos casos (em posição inicial absoluta e depois nasal) e “fricativo” nos demais.” Dessa forma, concluímos que: “se a norma contém tudo o que é fato de realização tradicional, o sistema contém as oposições funcionais... [...] Portanto, todos os traços que assinalamos como distintivos pertencem ao sistema.” (ibid., 1980, p. 123) Ao apontar o elemento norma em sua proposta, não se trata das imposições estabelecidas para o uso da língua, principalmente em se tratando dos critérios de correção, mas daquela que seguimos por sermos membros de uma comunidade linguística (COSERIU, 1979, p. 69). Essa tríade composta por sistema, norma e fala se integra através do uso individual do sistema, e a partir dessa tripartição Coseriu mostra que o estudo da língua deve considerar o aspecto histórico, já que ela é mutável e se transforma em função do tempo. À mudança linguística é um dos aspectos inerentes da língua. Coseriu (1979, p.58) aponta que ela “está ao alcance de qualquer falante, pois pertence à experiência corrente sobre a linguagem” e “tem, efetivamente, UMA causa eficiente, que é a liberdade lingüística, e UMA razão universal, que é a finalidade expressiva (e comunicativa) dos falantes.” (ibid., pp.175-176). Nesse sentido, toda mudança da língua acontece em virtude da experiência de cada indivíduo no meio social. Coseriu (1979, p.93) deixa bem claro que “a mudança lingüística não é, senão a manifestação da criatividade da linguagem na história das línguas”, onde o falante é o gerenciador das inovações, que, por conseguinte, constituem as mudanças. Embora também possamos relacionar os fatores da mutabilidade da língua à diversidade cultural em todos os seus aspectos, quer sejam eles sociais, econômicos e históricos, toda e qualquer mudança deve-se, antes de qualquer coisa, à própria característica da língua: ser mutável; ela muda porque está em funcionamento, por não ser um sistema preso..

(22) 22. 1.3 Os níveis da linguagem e sua relação com a construção do texto Ainda partindo da visão tripartida da língua, Coseriu afirma que a linguagem é uma atividade humana universal que se realiza individualmente, mas sempre segundo técnicas historicamente determinadas (COSERIU, 1980, p. 91). Sumariamente podemos retomar os três níveis da linguagem propostos por Coseriu (2007, p.130): 1) O nível universal da linguagem ou nível do falar em geral; 2) O nível histórico das línguas; 3) O nível individual dos textos. Com essa tripartição da língua, consideramos que existe uma inter-relação entre esses níveis na produção oral e/ou escrita: o universal, porque temos a competência de falar; o histórico, quando acionamos as regras do saber idiomático em nossas práticas discursivas; e o individual, ao produzirmos o discurso. Nesse sentido, na medida em que fazemos uso da linguagem, acionamos esses três mecanismos e acabamos produzindo nossos textos a partir do conhecimento de uma tradição textual. O que cabe também ressaltar é que essa ligação pode muito bem ser interrompida na relação entre o nível histórico e entre o nível individual, no momento em que um texto mescle elementos de duas ou mais línguas, até porque, ambos sofrem influências diferentes. Segundo Coseriu (1980, p. 92):. Esses três níveis são, até certo ponto, autônomos. Assim, o nível universal segue também normas próprias e realiza também possibilidades suas, independentes das línguas particulares. Analogamente, não cabe considerar o nível universal como mera realização de uma historicidade determinada, porque nesse nível encontramos de uma parte, indivíduos poliglotas, que conhecem e realizam diferentes tradições históricas, e de outra, não existe nenhum indivíduo que realize por si só toda uma tradição histórica. Por isso, o nível individual supera em certo sentido o histórico, pelo fato do indivíduo poder falar mais de uma língua e, noutro sentido, o nível individual é mais limitado que o histórico, porque nenhum indivíduo realiza totalmente essa ou aquela língua.. Schlieben-Lange (1993), também considera que “dominamos, enquanto falantes, determinadas técnicas gerais do falar que, uma vez aprendidas na aquisição da primeira língua, podemos empregar em todas as outras línguas.”.

(23) 23. Então, se o falante possui a técnica do nível universal, ele é plenamente capaz de dominar o saber idiomático de qualquer outra língua. Sobre o falar, Coseriu chama a atenção para o fato de que, se falamos conforme uma determinada técnica histórica não pode desconsiderar que a técnica universal também se faz presente nessa realização, pois também abarca possibilidades expressivas não linguísticas comuns a todos, pois: [...] o estudo da técnica universal também é necessário para determinar com exatidão o funcionamento das línguas, porquanto no falar a técnica universal e a técnica histórica se entrelaçam e completam reciprocamente, amiúde até reciprocamente. (ibid., p.95). Vejamos então o quadro a seguir que explica resumidamente as relações entre esses níveis da linguagem. Quadro 2: O funcionamento dos níveis da linguagem. Coseriu, 1980, p. 93. A partir dessa concepção sobre os níveis do falar, torna-se possível compreender que a construção do texto está situada nos níveis histórico e individual, isso porque quando o locutor elabora seu texto o faz utilizando os conhecimentos do saber idiomático e das tradições textuais. E mesmo considerando que o texto não depende das línguas históricas específicas, está sujeito a mudanças ao longo do tempo, porque seu conjunto de características se estabelece historicamente. Assim, é impossível falar de Tradição Discursiva sem relacionar ao aspecto histórico, pois será esse aspecto que também permeará a elaboração do texto na relação entre os níveis da linguagem. Tal afirmação justifica-se pelo fato de existir tradições textuais definidas, que permanecem ao longo do tempo e que se tornam estruturas na realização comunicativa, seja ela oral ou escrita, ou seja, “as tradições discursivas.

(24) 24. são, nesse sentido, formas textuais que são evocadas e que se repetem, e, nesse processo contínuo de evocação e repetição, ora conservam elementos linguísticos e/ou discursivos (traços de permanência), ora apresentam inovações (vestígios de mudança).” (ZAVAM, 2009) Coseriu, ao considerar os aspectos que constituem o texto, afirma:. A respeito do texto, que é o nível que interessa aqui, já se estabeleceu uma primeira comprovação fundamental: não se trata de um nível da estruturação gramatical de uma língua racionalmente necessário, pois uma língua continuaria sendo uma língua ainda que não dispusesse de procedimentos específicos para a constituição de textos, ou seja, para a expressão de funções textuais. [...] Acontece, no entanto, que todos os idiomas conhecidos até o momento parecem comprovar a existência desse tipo de procedimentos, de modo que o texto como nível de estruturação idiomática, pode ser considerado, pelo menos provisoriamente, como um universal empírico (COSERIU, 2007, p. 308, grifos do autor).. Portanto, se o nível universal corresponde ao falar em geral, algo que é inato ao indivíduo, o texto está inserido nesse meio, porque ao falarmos produzimos textos, e sempre a partir de procedimentos específicos, de acordo com a finalidade comunicativa. Do ponto de vista da abordagem dos textos, podemos observar no esquema abaixo apresentado por Jungbluth (2004, pautada em HABLER, 2001, apud GOMES, 2007, p.50), o eixo vertical, que indica o texto em sua atualidade (eixo sincrônica), e no eixo horizontal, a relação desse texto com outros (eixo diacrônico). Segundo Gomes (2007), estes podem ser antecessores e sucessores de um mesmo conjunto de gêneros, que, portanto, representam as tradições discursivas. Figura I: Os dois eixos da tradição discursiva.

(25) 25. 1.4 Definições da TD A Tradição Discursiva é o principal ponto de partida para o estudo histórico da língua e para a compreensão das mudanças linguísticas, porém para muitos, um dos grandes embates é encontrar a sua definição. Por isso, é importante ressaltar o que Kabatek (2006) aponta sobre a historicidade do texto e da língua ao mencionar a proposta de Brigitte Schlieben-Lange: a Pragmática histórica. Esta noção relaciona a discussão sobre “oralidade” e “escrituralidade” com uma visão histórica e oferece assim, o fundamento para o que mais adiante se chamaria o estudo da TD. Nessa obra há uma observação de que existe uma história dos textos independente da história das línguas e que o estudo histórico das línguas deve tê-la em conta. (ibid., p.507). Um aspecto de extrema importância na busca pela definição da Tradição Discursiva é considerar que ela se constitui das maneiras tradicionais de dizer ou de escrever, nesse caso, a sua realização se dá no momento em que o falante/ escritor as utiliza como recurso para a enunciação do seu discurso, havendo então a evocação de formas já existentes, que são repetidas em uma determinada situação comunicativa. Assim, deixamos de formular um mero enunciado para produzirmos textos, e nessa produção utilizamos as tradições já existentes em nosso acervo lexical, e com relação à produção escrita, as formas textuais cristalizadas, culturalmente reconhecidas, como podemos observar na representação da figura a seguir. Figura 2: A evocação da tradição na situação comunicativa. (Cf. KABATEK, 2006, p. 511). Para Kabatek (2006), a repetição da comunicação de um conteúdo já é uma TD, pois é algo linguístico e que se repete ao mesmo tempo. Porém ao tratar especificamente da Tradição Discursiva em relação ao texto, ele afirma que:.

(26) 26. As TDs se revelam portanto, a partir de um texto em um momento determinado da história com outro texto anterior: uma relação temporal com repetição de algo. Esse “algo” pode ser a repetição total do texto inteiro, mas também pode ser apenas a repetição parcial ou a evocação de uma fórmula linguística que se repete.. A Tradição Discursiva permeia todo tipo de categoria textual, independente da quantidade de repetições, desde que estas sejam repetições linguísticas. Embora que nem todas as repetições constituam uma marca de TD, necessariamente para tê-la é imprescindível o recurso da repetição, por isso Kabatek (2006) enumera três condições para a ocorrência da TD: a) A primeira é que uma TD deve ser discursiva, assim, ficam excluídas todas as repetições não linguísticas; b) A segunda condição é que mesmo no caso da repetição de elementos linguísticos, nem toda repetição forma uma TD; c) A terceira condição, que é a mais complexa, se refere ao conteúdo de um texto. Diante dessas condições, não podemos pensar que a tradição não se modifica com o passar dos anos, ao contrário, “as TDs são transformadas ao longo do tempo, e podem mudar totalmente até se converterem em outra realidade totalmente diferente da inicial.” (ibid., p.514) Kabatek (2006) elabora a seguinte definição sobre TD:. Entendemos por Tradição Discursiva (TD) a repetição de um texto ou de uma forma textual ou de uma maneira particular de escrever ou falar que adquire valor de signo próprio (portanto é significável). Pode-se formar em relação a qualquer finalidade de expressão ou qualquer elemento de conteúdo, cuja repetição estabelece uma relação de união entre atualização e tradição; qualquer relação que se pode estabelecer semioticamente entre dois elementos de tradição (atos de enunciação ou elementos referenciais) que evocam uma determinada forma textual ou determinados elementos lingüísticos empregados.. Outro aspecto importante a ser destacado acerca da TD é que:. a historicidade discursiva seria, por exemplo, a história dos gêneros textuais, dos atos de fala, os gêneros literários e retóricos e os.

(27) 27. estilos. Para Kabatek falar é uma atividade universal que se realizaria através de um duplo filtro tradicional “a intenção do ato comunicativo teria que passar em cada momento pela ordem lingüística que encadeia os signos de uma língua segundo suas regras sintáticas e pela ordem textual que atualiza certas tradições discursivas” (ibid., 2001, p. 99).. É considerando isso que Kabatek (2001, p. 100) traz a baila a noção de Tradição Discursiva, aproximando a evolução da Linguística Pragmática com a história da língua, na medida em que permite ver “as continuidades e descontinuidades da evolução textual, e talvez de uma possível evolução lingüística paralela”. Embora tenham sido apresentadas algumas definições sobre o que é Tradição Discursiva, como ela se realiza e as condições para que aconteça, não podemos deixar de considerar como base para que o entendimento da TD seja completo, a tríade coseriana sobre os três níveis da linguagem, pois a distinção entre eles é de suma importância para toda a compreensão que se possa ter sobre os estudos da linguagem, por isso Kabatek (2006) apresenta as definições desses níveis, partindo do que Coseriu afirma sobre cada um. Vejamos então, o esquema que elaboramos, onde verificamos as concepções desses níveis de acordo com cada um dos autores citados. Quadro 3: Concepções dos níveis da linguagem Coseriu, 1980 Nível universal. Nível histórico. Falar em geral. Kabatek, 2006 Dispositivo geral do homem para falar. Língua concreta. Das línguas como sistemas de significação historicamente dados. Nível individual. Discurso. Atualização dos sistemas da língua em textos ou discursos concretos.

(28) 28. Percebemos que as ideias sobre os níveis da linguagem concebidas por Coseriu se integram à visão de Kabatek, mostrando que a significação entre esses níveis vai além de propostas parecidas ou próximas; o que acontece nesse caso é a abordagem unívoca de pesquisadores da língua, que a concebem como um sistema em que as suas realizações se dão por meio de uma concomitância entre seus níveis, “já que não se pode falar “universalmente” sem falar uma língua e sem produzir textos, e não se pode falar uma língua como sistema de signos sem que seja mediante textos.” (KABATEK, 2006, p. 506) Peter Koch (1997) e Wulf Oesterreicher (1997) ao definirem o conceito de Tradição Discursiva partem da reduplicação do nível histórico, inicialmente abordado por Coseriu, considerando “a existência de dois fatores no nível histórico: a língua como sistema gramatical e lexical de uma língua, e as tradições discursivas” (Kabatek, 2006, pp. 508, 509). De acordo com essa consideração, o nível histórico que corresponde às línguas, contemplaria ainda outra função, que seria o das tradições discursivas. Essa reduplicação não consiste na afirmação de que a história da língua e do texto deve ser considerada a mesma. Na verdade, uma não depende da outra, pois a história do texto abarca questões que vão além do que é estabelecido pelas línguas. De acordo com a finalidade comunicativa acionamos o sistema e a norma e consequentemente a tradição discursiva, conforme podemos observar na figura a seguir. Figura 3: A dupla ação do ato comunicativo. (Cf. KABATEK 2006, p. 509). A variação linguística também é outro ponto que merece destaque, pois uma forma tradicional de falar de uma região, por exemplo, constitui uma marca de TD, logo “o saber acerca das variedades é transmitido a miúdo mediante as TD, e o.

(29) 29. emprego situacional de elementos de variedades pode ser condicionado precisamente pela TD.” (ibid., 2006, p.513) É importante enfocar que “as TD são transformadas ao longo do tempo, e podem mudar até se converterem em outra realidade totalmente diferente da inicial” (ibid., p. 514). O fato de se constituir como tradição não significa que esta fique presa aos processos temporais e históricos; se constitui como tal pelo fato de haver transformações, pois traços de mudança também são traços de tradição.. 1.5 A funcionalidade dos gêneros nas práticas sociais discursivas O estudo dos gêneros vem sendo discutido em várias temáticas, especialmente no âmbito da literatura e da linguística, e pelo fato de trabalharmos com o gênero classificado (o qual será comentado especificamente no capítulo 2), nosso objetivo nesta pesquisa é compreender como a sua constituição sóciohistórica pode contribuir para o estudo das tradições discursivas. Bakhtin (1997), ao tratar sobre os problemas dos gêneros discursivos, afirma que qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso. Esses tipos relativamente estáveis correspondem à constituição ou mesmo padronização de modelos textuais que existem socialmente, e, ao produzirmos um enunciado, diante uma finalidade comunicativa, fazemos uso deles, como se fossem um repertório usado de acordo com a ocasião sugerida no contexto; a esses modelos o linguista denomina gêneros discursivos, porque cumprem um papel discursivo. Ele também aponta que o gênero sempre é e não é ao mesmo tempo, com a real possibilidade de concomitantemente ser novo e velho, fato que nos permite compreender as mudanças que ocorrem entre os gêneros e como eles podem dar suporte para a criação de outros, como por exemplo, a carta, que originou o e-mail, o folhetim que originou a crônica etc. Na verdade, as mudanças acontecem para atender ao próprio sistema comunicativo e as suas exigências. É até possível considerar que existe em nós um repertório dos gêneros que é acionado nas mais diversas situações comunicativas, “quase da mesma forma que nos é dada a língua materna, a qual.

(30) 30. dominamos livremente até começarmos o estudo da gramática.” (BAKHTIN, 1997, p. 282) Em decorrência das infinidades de gêneros que são criados em decorrência das atividades comunicativas com finalidades específicas, Bakhtin (1997) propõe a divisão dos gêneros do discurso em dois grupos: I. Os primários que correspondem às situações comunicativas do cotidiano, ou seja, as que exigem um menor grau de formalismo por serem mais informais, como é o caso do bilhete por exemplo. II. Os secundários que correspondem às situações comunicativas mediadas pela escrita, e por isso exigem maior grau de formalidade, como é o caso de um artigo. Segundo Bakhtin (ibid., p.281):. Não há razão para minimizar a extrema heterogeneidade dos gêneros do discurso e a conseqüente dificuldade quando se trata de definir o caráter genérico do enunciado. Importa, nesse ponto, levar em consideração a diferença essencial existente entre o gênero de discurso primário (simples) e os gêneros do discurso secundário (complexo). Os gêneros secundários do discurso - o romance, o teatro, o discurso científico, o discurso ideológico, etc. – aparecem em circunstâncias de uma comunicação cultural mais complexa e relativamente mais evoluída, principalmente escrita: artística, científica, sociopolítica. Durante o processo de sua formação, esses gêneros secundários absorvem e transmutam os gêneros primários (simples) de todas as espécies, que se constituíram em circunstâncias de uma comunicação verbal espontânea. Os gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gêneros secundários, transformam-se dentro destes e adquirem uma característica particular: perdem sua relação imediata com a realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios.... O problema que o filósofo russo encontra em relação à diversidade dos gêneros é a própria diversidade funcional que parece tornar os traços comuns a todos os gêneros como inoperantes, porque os estudos foram muito mais presos à literatura “e não enquanto tipos particulares de enunciados que se diferenciam de outros tipos de enunciados, com os quais, contudo, têm em comum a natureza verbal (lingüística). (ibid., p.281) Considerando as relações de inovações nas formas textuais, Aschenberg (2003, p. 11) afirma que:.

(31) 31. Uma mudança das condições midiáticas traz consigo uma mudança das tradições discursivas: a introdução da escrita nas línguas nacionais, a invenção da impressão tipográfica, a introdução de mídias eletrônicas causam a perda, a reorganização e a invenção de tradições discursivas. Nessas mídias eletrônicas articulam-se outros processos de um alcance ainda maior que, a longo prazo, afetam nossos hábitos cognitivos: a mudança na codificação material influencia a apreensão de textos, a reprodução na memória e, finalmente, a tradição das formas discursivas.. Partindo dessa concepção, pode-se depreender que às mudanças no gênero, até mesmo em sua estrutura formal, são condicionadas pelos fatores externos, em decorrência das condições de produção. Consideremos então o que Todorov (1980, p. 11) comenta sobre os gêneros:. De onde vêm os gêneros? Pois bem, simplesmente de outros gêneros. Um novo gênero é sempre uma transformação de um ou vários gêneros antigos: por inversão, por deslocamento, por combinação... Nunca houve literatura sem gêneros; é um sistema em contínua transformação e a questão das origens não pode abandonar, historicamente, o terreno dos próprios gêneros: no tempo, não há nada de “anterior” aos gêneros. Saussure não dizia que: “O problema da origem da linguagem não é outro senão o de suas transformações?”. Diante desta consideração, concluímos que, se um novo gênero é resultado da transformação de um ou vários gêneros antigos, há nesse caso a evocação de traços que permaneceram e outros que mudaram, o que nos permite perceber que nesse processo existe a TD. Mas, independente dos fatores que favorecem as mudanças e a criação de novos gêneros, eles existem para integrar-se no meio social e cumprir sua função comunicativa, como afirma Swales (1990, p.58, apud, BIASE 2007, p.2). Um gênero compreende uma classe de eventos comunicativos, cujos membros partilham alguns propósitos comunicativos. Esses propósitos são reconhecidos pelos expertos membros da comunidade de discurso e com isso constituem a base lógica para o gênero. Essa base modela a estrutura esquemática do discurso, influencia e condiciona a escolha do conteúdo e do estilo. O propósito comunicativo é tanto um critério privilegiado e um critério que opera para atingir o escopo de um gênero tal como aqui grosseiramente concebido e enfocado em ações retóricas comparáveis. Em aditamento ao propósito, os exemplares de um gênero exibem vários padrões de similaridade em termos de estrutura, estilo, conteúdo e audiência pretendida. Se todas as expectativas de probabilidade mais altas forem realizadas o exemplar será visto como prototípico pelos membros da comunidade de discurso. “Os nomes dos gêneros herdados e produzidos.

(32) 32. pelas comunidades de discurso e importados por outras constituem valiosas comunicações etnográficas, mas que tipicamente necessitam de validação posterior”.. De acordo com Swales, o propósito comunicativo é quem constitui o gênero e define qual deve ser usado em uma determinada situação comunicativa. Ele também considera a mutabilidade do gênero, partindo do pressuposto que: os propósitos sociais evoluem, podendo se expandir ou se retrair [ou seja] os quadros de atividade social e os padrões podem mudar [...] características mais prototípicas podem ocupar posição mais central, atitudes institucionais podem se tornar mais ou menos amigáveis para os de fora, e até mesmo os atos de fala podem dar espaço para diferentes interpretações (SWALES, 2004, p. 73, apud. BIASE, 2007).. Askehave e Swales (2001, apud. BIASE, 2007) propõem que para a identificação. de. gêneros. deve-se. considerar. dois. procedimentos:. um. textual/linguístico e um contextual. Assim:. Na execução do procedimento textual/lingüístico, o propósito comunicativo é examinado juntamente com a forma do gênero, o estilo e o conteúdo. Em uma etapa posterior, o propósito é tomado como um fator na redefinição do gênero (repurposing the genre). No procedimento contextual, portanto, o propósito comunicativo mantém a sua relevância na identificação do gênero, mas as outras etapas no processo de análise constituem-se da identificação da comunidade, seus valores, suas expectativas e seu repertório de gêneros, além do levantamento dos traços peculiares desses gêneros. Esses dois procedimentos valorizam o dinamismo dos gêneros e caracteriza-se, assim, a redefinição do papel do propósito na análise de gêneros. (BIASE, 2007, p. 3). Diante do que foi apresentado por Todorov (1980) e Swales (1990), concluímos que os gêneros sempre estão em constante transformação, porque os eventos comunicativos favorecem as mudanças e as novidades deles, e isso se torna ainda mais acentuado quando se faz uma análise diacrônica, onde é possível identificar todos os processos pelos quais os gêneros passaram, até porque:. [...] a maioria dos gêneros têm características de fácil reconhecimento que sinalizam a espécie de texto que são. E, freqüentemente, essas características estão intimamente relacionadas com as funções principais.

(33) 33. ou atividades realizadas pelo gênero (BAZERMAN 2005, p.38, apud GOMES, 2007).. Diferente de Swales (1990) que propõe meios para a identificação dos gêneros, Travaglia (2001) propõe a distinção entre tipos, gêneros e subtipos. Para esse autor a classificação das tipologias existentes mistura elementos tipológicos dessas três naturezas diferentes, o que tem gerados diversos equívocos e problemas com relação à tipologização e classificação de textos, e por isso, apresenta a distinção entre esses elementos tipológicos, bem como a sua hierarquização. a) O primeiro “elemento tipológico” diz respeito ao tipo de texto, que pode ser identificado por instaurar um modo de interação, uma maneira de interlocução (cf. Travaglia 1991: cap. 2), segundo critérios que podem variar, constituindo critérios para o estabelecimento de tipologias diferentes; b) O segundo “elemento tipológico” é o gênero de texto, que se caracteriza por exercer uma função social específica; c) O terceiro “elemento tipológico” é o subtipo de texto, que se define e se caracteriza por aspectos formais da estrutura e da superfície linguística e/ou por aspectos de conteúdo. Com base nessa distinção o autor propõe uma teoria tipológica mais geral, onde seja possível não misturar elementos tipológicos de naturezas distintas em um mesmo campo, para que assim, cada um desses elementos seja identificado mediante a sua classificação e hierarquização. Marcuschi (2002), por considerar que os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia, afirma que eles surgem a partir das necessidades e atividades sócio- culturais, de modo que, é a função comunicativa que os caracteriza de forma muito mais efetiva do que propriamente a sua estrutura ou peculiaridade linguística, por isso também preconiza a importância da distinção entre tipo textual e gênero textual, assumindo uma posição similar a de Swales (1990), trazendo a seguinte distinção: a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Em geral, os tipos textuais.

(34) 34. abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção; b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para se referir aos textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam. características. sócio-comunicativas. definidas. por. conteúdos,. propriedades funcionais, estilo e composição característica. Portanto, a partir do entendimento do que é gênero e qual é a sua função que se torna possível conhecê-lo em sua totalidade de transformação e formação, pois assim como a língua, o gênero também é passivo à transformações. Dessa forma, “a ocorrência ou não de certos processos constitutivos do texto, bem como permanência ou mudança de certos processos estão diretamente associados à manutenção ou alteração de práticas discursivas consubstanciadas nos gêneros.” (JUBRAN 2010, p. 207). 1. 5.1 O gênero classificado e sua relação com a TD Os gêneros, em função de novas práticas sociais discursivas podem desaparecer ou mesmo modificar-se, dessa forma, sua estrutura é determinada pelas necessidades comunicativas, historicamente determinas. De acordo com Jubran (2010, p. 206), “os gêneros apresentam características relacionadas com propósitos comunicativos, firmando-se como uma TD pela relativa estabilidade composicional, decorrente da repetição total ou parcial de uma estrutura textual”. Porém, é importante não confundir Tradição Discursiva com gênero, pois se assim fosse, “o próprio termo TD não seria mais do que um substituto para algo já estudado à exaustão pela lingüística de texto.” (KABATEK 2006, p. 509) Na verdade, “os gêneros são tradições de comunicar, mas nem todas as tradições de comunicar são gêneros” (ibid., p.509), afinal, as representações que se constituem como TD nos gêneros evocam padrões tradicionais, através da repetição total ou parcial de uma estrutura textual ou linguística. Considerando. que. os. gêneros. discursivos. representam. uma. das. modalidades da TD, elegemos o gênero classificado, a fim de observarmos como a TD se manifesta, seja por meio de vestígios de mudança ou de permanência..

(35) 35. Os classificados, através das evoluções sócio-históricas tornam-se um campo muito proveitoso para verificarmos as mudanças e permanências através do tempo, pois como sabemos, um gênero é sempre originado de outro gênero. Logo:. [...] é interessante pensar o classificado como gênero, que se originou do anúncio, que por sua vez originou-se do aviso, que resultou do recado. No século XIX havia o anúncio e no desenrolar do século XX materializou-se a publicidade e a propaganda, feitas por uma agência de publicidade (LUCENA, 2004, p.6).. Os classificados, desde o seu surgimento, representam um espaço de interesse público que atestam para as relações sócio-históricas desenvolvidas pelo homem, onde sua função constitui-se não somente em vender ou anunciar um produto, mas também promover uma relação interativa de interesse social entre o anunciante e o interlocutor. No século XIX, por exemplo, os classificados “enunciavam. aspectos. relativos. à. educação,. à. escravidão,. entre. outros,. demonstravam parte da organização social da época.” (LUCENA 2009, p. 6) Lucena (2009) comenta que no século XIX havia um índice muito acentuado de analfabetismo, dessa forma, a maioria dos jornais destinava suas edições para o público aristocrata, por isso, era possível encontrar na mesma edição anúncios da venda ou da fuga de escravos, prestação de serviço ou a venda de um imóvel. Com o maior aproveitamento no espaço publicitário, os jornais tornaram-se mais baratos e passam a ser um meio de divulgação de produtos avulsos, que poderiam ser vendidos para todas as classes sociais, em detrimento dos estabelecimentos, que na sua maioria concentravam apenas as classes mais abastadas. No que diz respeito ao processo histórico-evolutivo da publicidade na imprensa do país, os classificados documentam as relações estabelecidas pela sociedade, pois os jornais passaram a apresentar temáticas não somente alicerçadas na apresentação dos ideais ou das notícias. Em função da efervescência nos setor econômico e cultural, a quantidade dos anúncios nas edições foi aumentando, a fim de atender ao público que crescia cotidianamente. Com isso, foi sendo estabelecido um modelo discursivo/textual que contemplasse as informações do produto e as informações do anunciante, fato que nos ajuda a compreender o.

(36) 36. porquê de os classificados pertencerem ao meio publicitário, mas com grande veiculação no meio jornalístico impresso. Vejamos o exemplo de um classificado do jornal Diário do Rio de Janeiro, na edição do dia 7 de dezembro de 1822, onde esse anúncio já se configurava nos moldes do que conhecemos como classificado: informação básica do produto e o endereço ao qual o interessado poderia se dirigir.. Quem quiser comprar velas de sebo, chegadas proximamente do Porto, dirija-se à Rua Direia, nº 30.. Assim, compreendemos que esta pesquisa sob a perspectiva da tradição Discursiva contribuirá muito para a compreensão do processo histórico sofrido pelos classificados, não somente em relação a sua origem, mas também quanto aos vestígios de permanência e aos processos de mudança..

Referências

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