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Intercalando olhares a partir dos registros paroquiais da Madre de Deus de Porto Alegre: a possível combinação entre macro e micro-história

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Academic year: 2020

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Intercalando olhares a partir dos registros paroquiais

da Madre de Deus de Porto Alegre: a possível

combinação entre macro e micro-história

Merging looks from the parish registers of the Madre de Deus de Porto Alegre: a possible

combination of macro and micro-history

La fusión de las miradas de los registros parroquiales de la Madre de Deus de Porto Alegre:

una posible combinación de macro y micro-historia

Denize Terezinha Leal Freitas*

“Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem.”

Marcel Proust

Recebido em 29/07/2013 Aprovado em 20/09/2013 http://dx.doi.org/10.5335/hdtv.14n.1.3370

* Doutoranda em História pela Universidade

Fe-deral do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra em História Latino-Americana na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UniSinoS). Coedito-ra e membro do Conselho Editorial da Revista Brasileira de História & Ciências Sociais.

O presente artigo aborda as novas tendên-cias da história, o seu diálogo com a antro-pologia e as diferentes escalas de análise que podem ser combinadas num diálogo que tem se mostrado promissor. Dessas novas abordagens, fez-se uma ponte que a demografia histórica tem atravessado de encontro a história social. Nesse senti-do, pretendemos mostrar como as análi-ses quantitativas dos registros paroquiais (casamento, batismo e óbito) podem ser-vir enquanto propulsores do estudo das trajetórias individuais. No jogo de escala proposto, deslocando-se de uma análise macro em direção à micro, objetiva-se in-dicar quais os passos viáveis de articulação

de variadas fontes e métodos para tornar essa combinação possível diante do desafio de pesquisar a história das famílias e da po-pulação da Freguesia da Madre de Deus de Porto Alegre nos séculos XVIII e XIX.

Palavras-chave: Registros paroquiais. Família.

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Introdução

Os caminhos a serem trilhados numa pesquisa dependem majoritariamente da maneira como o sujeito observa e, sobre-tudo, questiona o seu objeto de estudo. O diálogo profícuo entre a história e a antro-pologia permitiu aos historiadores percebe-rem o quanto as suas investigações seriam enriquecidas a partir de uma nova perspec-tiva de análise,1 propondo-se a lançar novos olhares, questões e métodos.

Para Levi (1992, p. 137), os pesquisa-dores permitiram interpretações que levas-sem em consideração outros ângulos do objeto. Em outras palavras, começaram a valorizar “a escala como um objeto de aná-lise que serve para medir as dimensões no campo dos relacionamentos”. Esse mergu-lho microscópico diante das fontes levou os historiadores a uma pluralidade de univer-sos, até então intangíveis.

As contradições sociais, as articulações pessoais (ou coletivas), as discrepâncias, as “anormalidades” que (res)saltaram aos olhos mostraram o quão complexo e ambíguo são os diferentes segmentos que compõem as sociedades no tempo e no espaço. Portanto, mais do que adequar os resultados da pes-quisa a um modelo unificado de hipóteses explicativas fechadas, os micro-historiadores aproximam-se dos antropólogos quando fle-xibilizam a teoria diante dos fatos.

Em vez de se iniciar com uma série de ob-servações e tentativas para impor sobre elas uma teoria do tipo legal, esta perspec-tiva parte de um conjunto de sinais signifi-cativos e tenta ajustá-los em uma estrutura inteligível. A descrição densa serve por-tanto para registrar por escrito uma série

de acontecimentos ou fatos significativos que de outra foram seriam imperceptí-veis, mas que podem ser interpretados por sua inserção no contexto, ou seja, no fluxo do discurso social. Essa abordagem é bem-sucedida na utilização da análise microscópica dos acontecimentos mais in-significantes, como um meio de se chegar a conclusões de mais amplo alcance (LEVI, 1992, p. 142).

Obviamente, isso não significa uma abolição dos métodos de análise macro-his-tóricos, pelo contrário, é desses que devem surgir as melhores problemáticas para que o pesquisador questione seus resultados, e sobretudo, duvide das regularidades, esteja sensível às mudanças de comportamento na longa duração e hesite diante das aborda-gens generalizantes ou simplificadas. Enfim, para que se permita “dar vida e voz” aos su-jeitos históricos diluídos nesse todo, procu-rando atentar aos mais sutis sinais.

Nesse sentido, pretendemos abor-dar como as análises quantitativas dos regis-tros paroquiais (casamento, batismo e óbi-to) podem servir enquanto propulsores do estudo das trajetórias individuais. No jogo de escala proposto, deslocando-se de uma análise macro em direção à micro, objetiva--se indicar quais os passos viáveis de arti-culação de variadas fontes e métodos para tornar essa combinação possível diante do desafio de pesquisar a história das famílias e da população da Freguesia da Madre de Deus de Porto Alegre.

Inicialmente, examinaremos como po-demos estabelecer essa relação entre macro e micro-história. Quais as vantagens? Qual a razão dessa necessidade? Como efetivá--la? Num segundo momento, buscar-se-á

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mostrar quais os indícios que nos permitirão viabilizar a ponte analítica através das fon-tes, tendo como objetivo exemplificar esse exercício microscópico através de casos já estudados e de outros observados.

Do macro para o micro: como articular

um diálogo?

Através da caracterização de quem casou na Freguesia Madre de Deus de Por-to Alegre, foi possível averiguar uma série de informações referentes a quem, quando, como e de onde vinham os nubentes que trocaram alianças na localidade. Nesse prin-cípio de investigação, que se tornou alvo de pesquisa da dissertação de mestrado (ver FREITAS, 2011),nosso objetivo central era mapear, isto é, identificar as características gerais de quem contraiu núpcias nesse local.

Contudo, muitas indagações surgi-ram, dentre elas, em linhas gerais, desta-cam-se: afinal, quais são as motivações por trás dessas escolhas nupciais? E aquela par-cela da população que não se casou sob as bênçãos da Igreja? Nesse sentido, pode-se constatar, a partir da metodologia da de-mografia histórica, que foi a responsável pela expansão de novos horizontes para a pesquisa, que não podemos separar a análise quantitativa da análise qualitativa. Logo, os dados são o ponto de partida para a análise, e a partir deles, o pesquisador busca levantar suas hipóteses e coordenar a investigação, a fim de compreender sua relevância. Segundo Barros:

Hoje se espera que o historiador “problema-tize” a morte, o nascimento ou o casamento, que não apenas contabilize os movimentos migratórios, mas que também fale sobre as expectativas culturais e sociais dos migran-tes, que recupere um pouco da sua vida da aparente aridez a partir de uma documen-tação que se utilizada com finalidade mera-mente estatística, não trará para os leitores de história mais do que um número, verda-deiro, mas abstrato, preciso mas patético, matematicamente descarnado (2004, p. 25). O estudo dos registros paroquiais de casamento forneceu as bases para que sou-béssemos qual o alcance e a importância do matrimônio no cotidiano dessa população livre que ascendia à tal sacramento. Toda-via, necessitamos perceber como se davam essas articulações matrimoniais, e por que algumas pessoas optavam por não se casar. Tal possibilidade investigativa se viabiliza a partir do cruzamento nominativo do con-junto dos registros paroquiais (casamento, batismo e óbitos), permitindo identificar os bastidores das outras formas de uniões, além do matrimônio, e os diversos arranjos familiares advindos de dentro e fora dos la-ços do sétimo sacramento.

Para tanto, buscamos, por meio da traje-tória de alguns nubentes e não nubentes, apro-ximarmo-nos das estratégias familiares, dos tipos de famílias e das possíveis causas que levaram ou não os indivíduos ao altar. Assim, deixaremo-nos conduzir pelo “fio de Ariad-ne”, de acordo com a história social: o nome.

Não obstante, é por meio do nome que o pesquisador identifica o complexo emaranhado de relações e conjunturas so-ciais nas quais o sujeito está presente. Por-tanto, ao investigador cabe a tarefa de ob-servar cuidadosamente

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[...] as linhas que convergem para o nome e que dele partem, compondo uma espécie de teia de malha fina, dão ao observador a ima-gem gráfica do tecido social em que o indiví-duo está inserido (GINZBURG, 2004, p. 175). Tal instrumento metodológico nos ser-virá de guia, a fim de reconstituirmos algu-mas das trajetórias da vida familiar que nos permitam caracterizar as famílias e as for-mas de união que compuseram a sociedade porto-alegrense.

Dessa forma, nossa intenção é adentrar no mundo familiar e descobrir de como acon-teciam as uniões da população dessa localida-de. Entendemos que se torna imprescindível observar como se davam as práticas de união atravél das gerações, isto é, a metodologia da reconstituição de famílias. Essa metodologia vale-se do que denominamos cruzamento no-minativo das fontes. Segundo o estudo intitu-lado Identifying People in the Past (WRIGLEY, 1973), “é o processo pelo qual, diferentes itens de informação sobre um indivíduo nomea-do são associanomea-dos uns com os outros em um todo coerente, de acordo com certas regras”. A incansável busca de reunir informações a respeito de um indivíduo inserido na socieda-de fez com que inúmeros socieda-demógrafos histo-riadores2, utilizando-se de seus conjuntos de registros paroquiais, realizassem estudos a partir do cruzamento nominativo das fontes. Resumidamente, para Marcílio:

O princípio da reconstituição de famílias é o seguinte: reunir, na medida do possível, as fichas ou levantamentos de batizados, de casamento, e de óbitos de cada um dos esposos; transpor esses dados para a parte da ficha de família destinada a receber as informações relativas ao marido ou à mu-lher; procurar transcrever (se houver) as in-formações que elas contêm para a parte das fichas destinadas aos filhos (1977, p. 54).

Daí a importância dos registros de ca-samento, pois “o casamento é o ponto de partida da família conjugal” (MARCÍLIO, 1977, p. 54), isto é, cada ficha de família par-te de um casamento. Obviamenpar-te, outras formas de união serão abordadas na análise, visto que a sucessão das gerações pode apre-sentar distintos tipos de arranjos conjugais ou a presença de celibatários na família.

O método de Henry foi melhor adap-tado pela professora Amorim, ou seja, dife-rentemente do primeiro, as fichas familiares são realizadas a partir dos indivíduos e não pelos casamentos. Para a realidade luso-bra-sileira, essa adaptação é a mais adequada à análise das famílias devido aos elevados ín-dices de ilegitimidade. De acordo com Scott, identificamos a “propensão à bastardia” en-raizada no Velho Mundo,, neste viés especí-fico, destacando o caso português.

Quando Peter Laslett fez referência à possi-bilidade de certas áreas do continente euro-peu apresentarem índices de ilegitimidade elevados e propor existência de subcomuni-dades com propensão à bastardia, Portugal foi incluído neste cenário, além de outras regiões como a Escandinávia, o sul da Ale-manha e a Áustria. Este autor já antevia o caso português com um interesse especial, uma vez que se referiu àquele pequeno país como um “puzzle”, isto é um “quebra-cabe-ças”, dada a diversidade de situações que pareciam existir, no que dizia respeito aos seus sistemas familiares (SCOTT, 2005, p. 3). Portanto, objetivamos mapear e alcan-çar informações geracionais e, a partir disso, compreender de que forma procuraram, ou não, reproduzir a prática matrimonial com o passar do tempo. Segundo Nascimento, a família tem papel fundamental nas escolhas dos indivíduos, pois:

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É na família que os indivíduos se relacio-nam e trocam experiências, visto que ela é, ao mesmo tempo, um espaço de confli-to cooperativo e um espaço determinante de bem-estar através da distribuição de recursos, passando muitas vezes a refletir diretamente dúvidas, aspirações e ques-tões pessoais. Na família os filhos e demais membros encontram o espaço que lhes ga-rantem a sobrevivência, desenvolvimento, bem-estar e proteção integral através de aportes afetivos e, sobretudo, materiais (2006, p. 2).

De acordo com Faria (1998), não po-demos falar em um tipo de família quando referimo-nos à história das famílias brasilei-ras, sobretudo durante o passado colonial e imperial. Para a autora, a família é múltipla, diversa, plural, portanto, repleta de arranjos e de organizações que se diversificam no tempo e no espaço. Assim, questionamos: que tipos de famílias encontramos em Porto Alegre? Que tipos de uniões prevaleceram? Quais alterações podem ter ocorrido ao lon-go do tempo e por quê? Enfim, pretende-se problematizar os desfechos familiares tanto do contexto local quanto das possíveis in-fluências externas (uniões entre pessoas que migraram de outras regiões, com indivíduos de outras etnias com religiões e/ou costu-mes distintos dos luso-brasileiros) a partir do cruzamento nominativo das fontes.

Portanto, munido de um banco de da-dos, construído a partir dos métodos da de-mografia histórica,3 bem como, tendo à dis-posição um conjunto de documentação de cunho eclesiástico e civil, pretendemos re-constituir a trajetória familiar de alguns nu-bentes. Teremos como foco as vivências dos nubentes antes e depois do casamento, vi-sando identificar, a partir do cruzamento das

fontes eclesiásticas, as formas de uniões e os tipos de famílias que caracterizaram a popu-lação de Porto Alegre, durante as transforma-ções ocorridas entre os finais do século XVIII e durante a primeira metade do século XIX.

A macro e a micro história foram, por muito tempo, relacionadas de maneiras dis-tintas, opostas e como campos diacrônicos, por vezes, totalmente opostos na maneira de historiar. No entanto, o diálogo entre as análises de longa duração com aquelas que privilegiam um estreitamento no foco de investigação a partir dos sujeitos é funda-mental para o enriquecimento do trabalho histórico. Tanto que é a partir de uma aná-lise conjuntural que emergem novas indaga-ções, questionamentos e problematizações a serem feitas a respeito do sujeito histórico. Segundo Rosental:

O comportamento social não poderia, por-tanto simplesmente depender da obediên-cia mecânica a um sistema de normas: sua explicação impõe que se leve em conside-ração a posição de cada membro da popu-lação estudada (1998, p. 156).

Mas isso não significa optar substan-cialmente apenas por uma perspectiva de análise, mas agregá-las de maneira que os limites de cada escala possa ser superado ou complementado pela outra. Para Revel (2000), as abordagens macro privilegiaram, por muito tempo, um olhar mais apurado sobre as regularidades históricas, baseadas em trabalhos empíricos e dados estatísticos meticulosamente elaborados por uma escrita protocolada e científica. Obviamente, o gran-de impacto gran-desse tipo gran-de visão histórica teve como consequência um esgotamento em si.

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Não obstante, a escola italiana da dé-cada de 1970 com Ginzburg e Levi trouxe à tona as limitações e o enfadamento de abordagens já bastante difundidas pelos macro-historiadores,4 os quais chamavam a atenção dos historiadores para perceberem o outro lado da moeda, ou melhor, clamam para que estes reduzam a escala a fim de observar as singularidades e privilegiar um olhar sobre os objetos de maneira mais com-plexa, concebendo a importância da lingua-gem, do emprego da palavra, dos silêncios, enfim, a busca de uma ciência do vivido.

Portanto, acreditamos que partindo de uma experiência de análise quantitativa, munidos de uma gama documental trans-formada em banco de dados e já parcialmen-te trabalhada, poderemos enriquecer nossa investigação, partindo para a análise micro--histórica. Afinal, previamente encontramos as regularidades matrimoniais de Porto Ale-gre, mas quais as rupturas, aspectos diferen-tes e inesperados podem aflorar através de uma mudança de escala de análise?

As análises de caráter quantitativo têm suas limitações e virtualidades. De um lado, fazem aparecer o que está imerso, encobrindo a complexidade da sociedade. Por outro, apontam para novos problemas e direcionamentos de pesquisa. Nesse sen-tido, estamos convictos, é vital que a me-todologia articule-se a análises “micro” (GALVÃO & NADALIN, 2003, p. 553). Portanto, é indispensável que haja um caminho do meio entre a análise micro e ma-cro. Logo, pretende-se estudar os aspectos sociais das formas de união sobre outra óti-ca, pois:

[...] existe assim a possibilidade de recons-truir histórias de famílias e, às vezes, por al-guma feliz coincidência de fontes, histórias individuais suficientemente ricas – típicas ou excepcionais -, sendo ainda possível pôr em relevo relações interindividuais contínuas, isto é, estruturadas (por exemplo, relações de débito/crédito) (GRENDI, 2009, p. 23-24). Buscamos priorizar as relações entre os sujeitos, analisando seus comportamentos, escolhas e atitudes perante sua maleabilidade de interferir nas regularidades sociais. Para Revel (2000, p. 17), o micro-historiador busca “Estudar o social não como um objeto dotado de propriedades, mas sim como um conjunto de inter-relações móveis dentro de configura-ções em constante adaptação.” E mais ainda:

A manipulação deliberada desse jogo de escalas sugere uma paisagem totalmente diferente, ao mesmo tempo que uma outra ideia da representatividade de um caso lo-cal. Os acontecimentos são, naturalmente, únicos, mas só podem ser compreendidos, até mesmo em sua particularidade, se fo-rem restituídos aos diferentes níveis de uma dinâmica histórica (2000, p. 35). De modo geral, tentamos, aqui, perce-ber as ações individuais não descoladas do social, mas como resultado de uma intera-ção que abre um leque de possibilidades de espaços e temporalidades de atuação. Iden-tificar as estratégias familiares e individuais entrelaçadas, dando ênfase às tensões e às ambiguidades que atravessam as relações sociais. De modo geral, valeremo-nos da micro-história com a finalidade de traçar interpretações cruzadas entre o indivíduo e o social, tendo como fio condutor suas rela-ções familiares atravessadas pelos ciclos vi-tais visualizados nos batismos, casamentos e óbitos. Assim, vamos à prática de pesquisa.

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Como se aplica na pesquisa?

Objetivamos mostrar na prática alguns estudos de caso que permitiram emergir al-guns sujeitos históricos, os quais poderiam ser denominados como “excepcionais nor-mais”.5 Determinadas trajetórias ou casos particulares de indivíduos destacam-se na aparente homogeneidade dos dados, dentre os quais observamos o caso de Anna Joaqui-na Rangel de Azeredo e Augusto Guilherme Schroder, (ver FREITAS & SILVA, 2012) o coadjutor Manoel Marques de Sampaio6, en-tre outros. Exemplificaremos, na sequência, alguns casos em que é possível problema-tizar questões como maternidades ocultas, bem como paternidades tardias.

Os “casamentos fora do casamento”

Encontramos casos do que denomina-mos ser o “casamento fora do casamento”, isto é, casais que viviam em condição de concubinato, que constituíram famílias, mas que somente depois de anos vão sacramen-tar sua união. Conforme os registros estu-dados, pode-se considerar que, no caso de Jerônimo e Maria Francisca, a ausência do sacramento não impediu que uma nova fa-mília fosse constituída, segundo informação retirada do Livro de Registro de Casamentos (1772-1835) da Paróquia Nossa Senhora Ma-dre de Deus Porto Alegre, em seu volume 3: Aos trinta e hum dias do mez de

Dezem-bro de mil oitocentos e vinte cinco annos

nesta Matriz de Nosa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre pelas cinco horas da tarde, depois de feitas as diligencias do estilo e não havendo impedimento na

forma do Sagrado Concilio Tridentino e

Constituição, por ordem do Reverendissi-mo Conego Provedor Vigario Geral des-ta Provincia Antonio Vieira da Soledade perante o Reverendo Coadjuntor Ignacio Soares Viana, se receberão em Matrimonio com palavras de prezente em que expresa-rão o seu mutuo consentimento Jeronimo

Francisco de Vargas viuvo de Vicencia

Maria da Conceição com Maria Francisca

d’ Oliveira, viuva de Antero Joze Pinto,

sepultado no cemitério da Freguesia Se-nhor Bom Jesus do Triunfo, sendo de tudo testemunhas os abaixo asignados, perante os quais declarão os contrahentes que por

este Matrimonio subsequente legitima-rão, e queirão que legitimados ficassem os seis filhos de ambos havidos de nomes Tristão, Constança, Maria, Clara, Cândi-da e Anna. E para constar mandei fazer

este asento que comigo e as testemunhas e os contrahentes asinei. Dia mez e anno est supra (PARÓQUIA NOSSA SENHO-RA MADRE DE DEUS PORTO ALEGRE, 1772-1835, p. 150, Livro 3 – grifos nossos). Assim, para muitos casais, a legitima-ção de suas uniões tornava-se praticamente inviável. Dentre os principais entraves en-frentados, citamos: os obstáculos envolven-do a partilha envolven-dos bens familiares envolven-do ex-côn-juge, as disputas patrimoniais entre os filhos e a política da indissolubilidade dos laços contraídos no primeiro matrimônio. Em muitos casos analisados, Figueiredo (1997), constatou que era melhor que viúvos e/ou viúvas não tivessem um novo parceiro e/ou que, quando o tivessem, não legitimassem novas núpcias. Provavelmente, para o casal analisado, a união somente foi legitimada num momento posterior, porque tornou-se inevitável aos olhos da igreja, ou pela deci-são dos nubentes em garantir a legitimidade de seus seis filhos.

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Em outros casos, encontramos casais que legitimaram seus filhos e sua união mes-mo não estando subordinados aos entraves morais e sociais da viuvez. Pelo contrário, pela quantidade e idade dos filhos, consti-tuíam famílias fora do casamento. Porém, por alguma razão, seja de ordem pessoal, imposição social ou da igreja optaram por legitimara união, garantindo assim, a legiti-midade dos filhos.

Em outros casos, chama-nos a atenção o status de quem casa, bem como o tempo de vida conjugal sem os sacramentos do matri-mônio. A idade dos filhos no caso a seguir denuncia a existência de “outra forma de união”, através da qual observamos um seio familiar fora dos enlaces do casamento.

Aos dezeste dias do mez de Desembro de mil oitocentos trinta e hum annos, nesta Matriz de Nossa Senhora Madre de Deos de Porto Alegre pelas sete horas da tarde depois defeitas as diligencias do estilo, tirados os Depoimentos Dispensados os Proclamas enão resultando impedimento algum na forma do Sagrado Concilio Tri-dentino e Constituição do Bispado por Or-dem do Excelentissimo e Reverendissimo Conego Provizor e Vigario Geral da Pro-vincia Antonio Vieira da Soledade, perante o Reverendo Coadjutor Orestes Rodrigues de Araujo se receberão em Matrimonio com palavras deprezente em que expres-sarão seo mutuo consentimento o Tenente

do Batalhão de Cassadores de Segunda Linha Numero quarenta eseis Jozé Luiz Leite de Castro, filho legitimo de Jozé Luiz

Ferreira Lima e de Dona Euzebia Laurinda Leite de Castro, natural da Ferguezia de Prezeto, Bispado de Braga no Reino de Por-tugal com Dona Floresbella Querubina de

Sampayo, natural desta Provincia, filha de pais incognitos: não receberão

Ben-çãos por ser em tempo prohibido, sendo de tudo Testemunha as abaixo assignados

perante os quaes declararão estes conjuges que legitimarão equeirão que legitimados ficassem em [virtude] e deste Matrimonio subsequente aos filhos de ambos havidos

de nomes Antonio de idade de sete nos e meio, Jozefa de idade de cinco an-nos e meio, Jozé de idade de hum anan-nos;

E para constar mandei fazer este assento, que commigo assignarão os contrahentes e as Testemunhas que tambem aforão deste acto e declararão era este [efeito]

José Joaquim Leite de Castro Florisbela Querubina de Sampayo Antonio Jose da Silva Guimarães Graciano Leopoldo dos Santos Pereira (PARÓQUIA NOSSA SENHORA MADRE DE DEUS PORTO ALEGRE, 1772-1835, p. 102, Livro 4 – grifo nosso).

Nesse caso, destaca-se o fato de os nubentes não serem viúvos, de representa-rem uma parcela da população socialmente abastada – como visualizamos pelos títulos e patentes – e de a nubente ter filiação incóg-nita.7 Podemos levantar a hipótese de recru-tamento militar, daí a necessidade da legali-zação da união perante a igreja e o Estado, ou também, outra possibilidade é a situação “escandalosa” dessa família perante a igreja – veja-se a incognicidade dos pais da noiva, visto a mesma possuir titulação de Dona, o que nos remete à grande possibilidade de a mesma advir de uma família abastada – daí a necessidade em regularizar a situação con-jugal de tão ilustre família. As hipóteses são as mais diversas, pois as fontes – nesse caso – ocultam-nos as intenções desse típico caso de outras formas de união.

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Os “legítimos” ilegítimos da Madre de Deus

Ao falarmos em ilegitimidade, obser-vamos que os casos “excepcionais normais” que encontramos e abordamos neste tra-balho, estão intrinsecamente associados às relações ilícitas. As consequências dos ro-mances furtivos, das aventuras amorosas ou dos relacionamentos duradouros fora dos enlaces matrimoniais, ou seja, daqueles que fugiam da norma, os tornam os casos mais interessantes. Nesses casos, referimo-nos àqueles denominados como “legítimos” ile-gítimos: filhos naturais, expostos, filhos de pais incógnitos, etc.

Os expostos são marcados pelo aban-dono. Nesse sentido, obviamente, a cono-tação de estigma da rejeição é definida de acordo com a flexibilidade moral de cada sociedade. Contudo, a oportunidade de re-conhecimento da paternidade significa mais do que uma nova opção de vida, mas repre-senta o direito a uma identidade legítima. Como no caso de Zeferino, que foi legitima-do após sua exposição, na pia batismal:

Aos tres dias do mez de Fevereiro de mil oitocentos e vinte dous annos nesta Matriz de Nossa Senhora Madre de Deos baptizou solennemente o Reverendo Coadjutor Joze de Freitas e Castro e poz os Santos Oleos a Zeferino exposto aos onze de Janeiro pro-ximo em caza de Luiz Antonio Teixeira: forão Padrinhos Zeferino Vieira Rodrigues e Dona Anna Candida Vieira. E para cons-tar mandei fazer este assento que assignei. O abaixo assignado Franscico das Chagas declarou ser Pai do sobredito Zeferino (PARÓQUIA NOSSA SENHORA MADRE DE DEUS PORTO ALEGRE, 6° LIVRO DE BATISMO, 1820-1828, p. 65).

O batismo de Constança é ainda mais singular, visto que o pároco, inicialmente, de-clara que ela é filha de “pais incógnitos”, isto é, primordialmente, enfatiza-se a necessida-de necessida-de ocultar a paternidanecessida-de e, também, a ma-ternidade. Somente ao final do registro é que Jose Apolinario Pereira de Moraes reconhece a dita Constança como sua “filha natural” e “por esse motivo a reconhecia como tal”.

Aos vinte e oito dias do mez de Maio de mil oitocentos e vinte e quatro annos nesta Matriz de Nossa Senhora Madre de Deos de Porto Alegre baptizou solennemente o Reverendo Coadjutor Ignacio Soares Viana e por os Santos Oleos a Constança nascido aos vinte e quatro dias do mez de março deste anno, filha de pais incógnitos. Forão Padrinhos Antonio Joze de Moraes e sua mulher Dona Constança Perpetua Fernan-des. E declarou no Acto do Baptismo Jose Apolinario Pereira de Moraes que o Re-cembaptizada era sua filha natural e por este motivo areconhecia como tal. E para constar fiz este assento e declaração que comigo assignou (PARÓQUIA NOSSA SE-NHORA MADRE DE DEUS PORTO ALE-GRE, 6° LIVRO DE BATISMO, 1820-1828, p. 184v.-185).

De acordo com o que citamos, vale ressaltar que essa legitimidade adquirida não significa que os pais, eventualmente, tornaram legítimas as suas uniões perante os sacramentos do matrimônio. Mas, quer conferir mais do que uma confirmação da bastardia, a possibilidade de tornar-se um herdeiro em potencial, usufruir do cabedal material e imaterial desses pais, valer-se do nome e, quiçá, de sua posição e status social. Portanto, destacamos esse processo de tran-sição da ilegitimidade para a legitimidade como revelador da excepcionalidade desses filhos naturais ou ilegítimos que têm a

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opor-tunidade de valerem-se de alguns privilé-gios daqueles que são frutos dos legítimos casamentos abençoados pela igreja.

No batismo de Maria, o ocultamento do nome da mãe pode ser um fator impor-tante no que tange à proteção da reputação materna. No caso de mulheres abastadas, constituía-se como um cuidado para não “manchar” a honra familiar e, para as mulhe-res escravas, como uma estratégia para livrar seus rebentos dos grilhões da escravidão.

Aos vinte seis dias do mez de Agosto de mil oitocentos e vinte annos nesta Matriz de Nossa Senhora Madre de Deos baptizou solennemente o Reverendo Coadjutor Ig-nacio Soares Viana e poz os Sanctos Oleos a Maria nascida aos dezessete do ditto mez, filha natural de João Ventura e de Mae in-cognita: neta paterna de Manoel da Silva e de Anna Maria, naturaes da Europa. E no acto do baptismo declarou ditto João Ven-tura ser o proprio pai da baptizada e que a reconhecia por sua filha: forão Padrinhos Guilherme Florencio Frois e Nossa Senho-ra. E para constar mandei fazer este assen-to, que comigo assignou o pai da baptizada (PARÓQUIA NOSSA SENHORA MADRE DE DEUS PORTO ALEGRE, 6° LIVRO DE BATISMO, 1820-1828, p. 20v.).

Em outros momentos, como no batis-mo de Belizario, o nome da mãe Francisca Roza aparece sem problemas, visto que a mesma era “crioula forra”, isto é, a escravi-dão não poderia impedir a nomeação, uma vez que a criança nasceu de ventre livre, tampouco houve uma preocupação com uma possível “situação escandalosa”, como preveem as constituições. Mas, o que chama atenção no registro, são as informações refe-renciadas a respeito do pai, a naturalidade e a nomeação dos avós paternos, conforme verificamos a seguir:

Aos trez dias do mez de Dezembro de mil oitocentos e vinte annos nesta Matriz de Nossa Senhora Madre de Deos bapti-zou solennemente o Reverendo Coadju-tor Ignacio Soares Viana e poz os Santos Oleos a Belizario nascido aos dezesseis de Novembro proximo, filho natural de Francisca Rosa crioula forra: forão Pa-drinhos Antonio Pereira dos Santos e Francisca Antonia Viana. E no acto do baptismo declarou Antonio Jose Pena, natural da Ribeira de Pena, Arcebispado de Braga, filho legítimo de Manoel Mar-tins, e de Maria Gonçalves que ele era o proprio pai do recembaptizado e como tal o reconhecia. E para constar mandei fazer este assento que comigo assignou o sobreditto pai (PARÓQUIA NOSSA SENHORA MADRE DE DEUS PORTO ALEGRE, 6° LIVRO DE BATISMO, 1820-1828, p. 27v.).

No que tange à maternidade, encon-tramos situações de mães naturais, algu-mas com filhos de pais diferentes. Outras ocultadas, nas quais os registros apenas apontam “mães incógnitas”. Algumas ar-rependidas, como demonstra o cruzamento dos registros das paróquias com as atas da câmara de vereadores, nas quais observa-mos dois exemplos, percebendoa existência dessas “mães arrependidas.” Elas reclamam à Câmara de Vereadores a restituição de seus filhos que foram expostos. Por exemplo, em 19 de janeiro de 1793: “Nesta vereança se mandou entregar o exposto Innocencio a sua mai Thereza de Tal por declarar ser mai do mesmo exposto” (Livro 3 cópia da Atas da Câmara de Vereadores, fl. 218v.), bem como aos 24/01/1829 temos outra Ata que diz que:

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Feliciana Francisca da Conceição, morado-ra desta Cidade e filha de Abrão Fmorado-rancisco Serpa, morador em Itapuam, aqual confes-sa que a innocente Maria que foi exposta em doze de setembro do anno passado (1828) em caza de Miguel Manço da Costa, era sua filha, e que a queria criar para cujo fim lhe fosse entregue requeria; e compa-recendo também o dito Miguel Manço da Costa, nada appontou sobre a entrega, foi esta mandar fazer e se daliberou matricula respectiva, para mais e não continuar o pa-gamento pela Camara (Livro 8 de Atas da Câmara de Vereadores, fl. 85).

Nas palavras de Nascimento (2006, p. 45), na maioria das vezes os filhos rejeita-dos, abandonados e indiferentes por parte de suas mães eram “frutos clandestinos e in-desejados de uma vida amorosa e sexual na colônia que encobria uma vasta e complexa gama de relações sexuais”. Mulheres deses-peradas, mais do que arrependidas, senão apenas das suas eventuais relações ou aven-turas esporádicas que geraram consequên-cias, muitas vezes, fardos dolorosos demais para carregarem consigo. Ficaram marcas e estigmas dos abandonos efetivados, confe-rindo um peso maior do que a gravidade de ser mãe solteira.

A datam de 24 de março do ano de 1785 marca um caso exemplar: o batismo de Ana, filha de pais incógnitos. No registro desse batismo consta apenas o padrinho Antônio da

Costa Gouveia e a informação de que foi

re-alizado “in extremis” pelo Pe. Antônio Soares

Gil e que criança foi “exposta no rio do Sino

da freguesia Nova [Triunfo]” (Livro 1 - 1785 - Matriz da Madre de Deus de Porto Alegre, fl. 109 v). Esse abandono, ao que tudo indica, foi em um local totalmente inóspito, no qual as chances de sobrevivência seriam

praticamen-te nulas. Isto é, diferenpraticamen-temenpraticamen-te de outros ti-pos de abandono, sobretudo, os domiciliares, indicam um descaso e uma intenção declara-da de rejeição sumária do inocente.

Considerações finais

De modo geral, demonstramos o quan-to quan-torna-se possível, senão necessária, a ar-ticulação entre a macro e a micro história. Munidos de uma gama documental que permitem cruzamentos tanto verticais, como horizontais, mapeamos inúmeras trajetórias familiares e matrimoniais. Isso se deu tendo por base o conjunto de características gerais dessa sociedade (a partir dos registros paro-quiais, como: naturalidades, sazonalidades dos eventos, etc.), que impulsionou a análise de algumas trajetórias individuais.

Esse jogo de escala possibilita ao pes-quisador ir além das aparentes coerências reveladas pelos dados estatísticos. Perceber que os homens não atuam de acordo com a sociedade, mas são eles que conferem lógi-ca a essa. Nas palavras de Almeida (2012, p. 154), na maioria das vezes, “os homens agem de acordo com os padrões sociais, es-tes não são malhas de ferro, havendo sem-pre possibilidades de escolhas e alternativas, que variam de grupo para grupo, conforme as condições”. A sociedade humana é um produto histórico, carregado de intenções, simbologias e sentidos conferidos pelos ho-mens, portanto, passíveis de continuidades e descontinuidades.

Não obstante, alerta-nos Bensa (1998, p. 63) que as situações sociais estão repletas de significados. Cada uma delas é um univer-so próprio que revela inúmeros caminhos a

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serem trilhados, ou melhor, “fenômenos que têm cada uma sua própria escala temporal e espacial.” Constituem um emaranhado de sentimentos, relações, estratégias, interesses e articulações, permitindo um leque de di-versas possibilidades de análise.

Então, dar sentido e coerência às varia-ções de escala depende, majoritariamente, da capacidade do pesquisador de conferir inteligibilidade às ações dos atores sociais inseridos no contexto. Lembrando da máxi-ma de Bloch (2001, p. 8) em de que “o máxi-mais claro e complacente dos documentos não fala senão quando se sabe interrogá-lo”.

Abstract

This article discusses the new trends of history, its dialogue with anthropology and the different scales of analysis that can be combined in a dialogue that has shown promise. These new approaches, it was a bridge that has crossed Histori-cal Demography against Social History. In this sense, we intend to show how the quantitative analysis of parish records (marriage, baptism and death) can serve as a lever for the study of individual tra-jectories. In the game of scale proposed moving from a macro analysis towards micro, the objective is to indicate what steps viable articulation of different sources and methods in making this combination possible on the challenge of researching the history of Families and Population Parish of Madre de Deus de Porto Alegre in the eighteenth and nine-teenth centuries.

Keywords: Parish registers. Family.

Pa-rish Madre de Deus de Porto Alegre.

Resumen

Este artículo analiza las nuevas ten-dencias de la historia, la antropología y el diálogo con las diferentes escalas de análisis que se pueden combinar en un diálogo que se ha mostrado prometedo-ra. Estos nuevos enfoques, era un puen-te que ha cruzado Demografía Histórica contra la Historia Social. En este sentido, tenemos la intención de mostrar cómo el análisis cuantitativo de los registros parroquiales (el matrimonio, el bautis-mo y la muerte) puede servir cobautis-mo una palanca para el estudio de las trayecto-rias individuales. En el juego de la escala propuesta pasar de un análisis macro a micro, el objetivo es indicar qué medidas articulación viable de diferentes fuentes y métodos para hacer esta combinaci-ón posible en el reto de la investigacicombinaci-ón de la historia de la Familia y Población Parroquia de la Madre de Deus de Porto Alegre, en los siglos XVIII y XIX.

Palabras clave: Registros parroquiales. La

familia. La parroquia Madre de Deus de Porto Alegre.

Notas

1 Segundo Almeida (2012, p. 152), esse processo

ocorreu simultaneamente para antropólogos e historiadores, pois os primeiros “passaram a in-teressar-se pelos processos de mudanças social, percebendo que seus objetos de estudo não eram imutáveis e estáticos, e os historiadores passaram a valorizar comportamentos, crenças e cotidianos dos homens comuns e tradicionalmente conside-rados irrelevantes”.

2 Dentre eles, podemos citar: Amorim (1991),

Ma-cfarlane (1977), Fleury & Henry (1976) e Scott (1999).

3 Dentre outros estudos que tratam a respeito do

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4 Segundo Marcílio (1984), houve uma profusão

de trabalhos na Europa com os métodos da de-mografia histórica, o que gerou uma estagnação da promoção de novas abordagens históricas. Também Botelho (2004) faz menção a dois fatores que foram fulminantes para esse acontecimento: primeiro, o esgotamento de trabalhos utilizando o método por toda a Europa, e, também, a ascensão da história cultural.

5 Na definição de Ginzburg (1989, p. 177), “o

‘ex-cepcional normal’ pode ter ainda um outro sig-nificado. Se as fontes silenciam e/ou distorcem sistematicamente a realidade social das classes subalternas, um documento que seja realmen-te excepcional (e, portanto estatisticamenrealmen-te não frequente) pode ser muito revelador do que mil documentos estereotipados. Os casos marginais, como notou Kuhn, põem em causa o velho pa-radigma e, por isso mesmo ajudam a fundar um novo, mais articulado e rico. Quer dizer, funcio-nam como espias ou indícios de uma realidade oculta que a documentação, de um modo geral, não deixa transparecer”.

6 Padre Coadjutor que aparece como testemunha

de muitos casamentos realizados na Paróquia Ma-dre de Deus durante o período de 1772-1809.

7 Segundo Linda Lewin (1995, pág.123), os “filhos

de pais incógnitos” eram considerados “espúrios”, ou seja, de cópula proibida. No âmbito jurídico, é usado o termo “quoesito”, que vem do interrogati-vo latino “Quaesitus?” (De quem é ele/ela?)”.

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