A moderna ciencia da riq ueza e
o neopatrimonialismo contabil
Prof. Dr. Antonio Lopes de Sa"
A nova doutrina contabil, a do Neopatrimonialismo contabil, oferece uma metodologia que amplia as teorias tradicionais e traz inovat;oes, sem, todavia, abandonar as conquistas realizadas por outras escolas de pensamentos. Como surgiu, como evolui, que diretrizes acena, soo informat;oes uteis que neste trabalho se oferece aos que se preocupam em atualizar os conhecimentos cientfficos em Contabilidade.
PALAVRA CHAVES
Neopatrimonialismo contabil - DOUlrina Contabil - Teoria da CoOla
bilidade - Ciencia Contabil - Contabilidade Contemporanea
* Contador. Presidente da Academia Brasileira de Ciencias Contabeis. Oetentor da Medalha do Mento ContabilJoao lyra
- - -{ A moderna ciencia da r;queza e 0 neopatrimonialismo contabil
DESPERTAR DO
CONHECIMENTO CONTABIL
A situaao privilegiada a que chegou a Con tabilidade neste initio de seculo XXI, e fmto
de uma sedimentaao milenar de esforos in telectuais, esses que sempre foram os das
vocaiies dos contadores.
Foi dessa profissao que emergiu a inven ao dos numeros abstratos, na Sumeria, ha cerca de S.200 anos, dando origem as mate
maticas, como tambem foi do registro conta bil que nasceu a escrita comum, aquela que
permitiu 0 evoluir de todas as literaturas. Numeros e letras tiveram por origem, pois, a aao dos que se dedicaram as contas patri
moniais.
Seguindo a esse luminoso curso de vit6ria da razao foi que, tambem, nos albores do se colo XIX, conquistou-se a dignidade cientifi ca, vit6ria de uma das mais brilhantes etapas do conhecimento contabil.
Tal saber, originario da observaao das coisas que acontecem, da procura das verda des que regem as relaiies entre os elementos
que fazem acontecer os fatos, acendeu na
mente dos referidos profissionais a luz que permitiu perceber que a informaao nada mais era que um simples caminho, mas, nao aver dadeira finalidade de uma importantissima cultma, nem 0 objetivo maior da Ulilidade do conhecimento patrimonial.
Ter consciencia sobre 0 porque ocorrem os fatos, 0 que deveras eles significam, sob que
condi6es a riqueza se transforma, pas sou a ser um escopo, aquele que realmente justifi cou 0 valor de um estudo superior da Conta bilidade.
Mais que cumprir uma formalidade infor mativa, relativa a situaiies demonstradas, foi preciso buscar 0 entendimento sobre os fenb menoS patrimoniais, visando a uma utilidade competente para explicar as causas do
suces-so ou do insucessuces-so na utilizaao da riqueza. A bus ca de esclarecimentos sobre os acon tecimentos e uma pratica antiga, esteve pre sente nas reflexiies dos mais ilustres perso
nagens da civilizaao, inclusive de contado
res e empresarios, mas, a curiosidade, por si s6, jamais conseguiu aleanar os prop6sitos
perseguidos de forma organizada.
S6 passado milenios, quando 0 ser huma
no comeou a preocupar-se nao apenas em
desvendar os misterios da natureza, mas, tam bem, 0 que dizia respeito a ele mesmo, as cau
sas promotoras de sua existencia, cl utilida des que geria, quer isolada, quer em socieda de, urn outro filao de interesses surgiu, for mando as ciencias humanas e as sociais.
Nessas se inseriram, tambem, as materias
indagativas e explicativas sobre as evolubes
da riqueza, quando esta se usa a servio do bem estar dos seres, sob diversos aspectos.
A Contabilidade coube 0 estudo racional
do patrimiinio em face da eficacia deste, es pecificamente se dedicando ao estudo sobrea satisfaao das finalidades ou objetivos das
unidades de que a sociedade humana se com piie, ou sejam as das "celulas sociais" (empre sas e instituiiies de fins ideais).
Desde os mais remotos tempos, todavia,
coma manifestaao intuitiva e empirica, 0 homem primitivo ja se apercebera de que 0 melo material para a sobrevivencia era algo que muito interessava bem conhecer e foi as sim que se formou 0 primeiro conceito sobre o patrimbnio.
Tal efeito da inteligencia levou 0 habitante
da caverna a fazer as primeiras inscriiies con tabeis, em registros que, ha cerea de 20.000
anos, sulearam peas de ossos e pedras ou se manifestaram em pinturas e marcas nas pare des, tetos e solos das gmtas, visando a
dar memoria sobre 0 que se achava acumula
do a espera de utilizaao.Milhares dessas gravaiies ainda se conser
yam nos primeiros abrigos naturais do ser humano e tais provas estao espalhadas emvarias partes do mundo, inclusive, et corn
abundancia, em dezenas de grutas brasileiras
(em Montalvania, Vale do Peruau, Pedra Fu rada etc.).
Se por um lado as manifestaiies foram
intuitivas, informativas, DaD deixaram, tam
bem, de revelar um recurso de inteligencia,
pois 0 cerebro, naquele tempo remoto. pode ria guardar um expressivo numero de signifi cados, considerando-se que 0 homem do Pa leolitico Superior nao tinha armazenado men talmente muita coisa.
o empirismo, por secuIos, se constituiu em fonte natural do conhecimento cientifico, li mitado ao observar e ao esperar Que as coisas
acontecessem sempre da mesma forma, coma
uma primeira base para que se pudesse crer que os fatos realmente ocorressem.
De inicio ja se sabia que muitas coisas su cederiam sob tais DU quais circunstancias, mas, faltava a percepao sobre as raziies ou relaoes logicas que levavam deveras a deter minar urn evento, parque, tambem, DaD exis tia um metodo ou disciplina de raciocinio que permitisse organizar racionalmente as ideias.
o subjetivo, todavia, isoladamente, por
maior eficiencia que possua, DaD tern (oDdi iies de superar 0 pensamento objetivo, quan do se trata de entendimento universal e isto 0 comprovou 0 tempo, os milhares de anos que
decorreram desde as intuioes particulares ate a perquiriao metodica.
So a ciencia, pois, como um complexo de teorias, estas como agregados de proposiiies logicas, viria a explicar as causas dos aconte
cimentos; muitos seculos, entretanto, foram
necessarios para que se desenvolvesse e se
buscassem raziies profundas, apoiadas em
reflexiies e experimentaiies, competentes
para explicar 0 porque dos eventos.
A Contabilidade seguiu a essa vocaao,
como todos os demais ramos do conhecimen to humane e quando se formou a consciencia
de que nao eram as informaoes, mas, sim, 0 que elas significavam 0 que justificava 0 co nhecimento contabil, um grande progresso se operou.
Da mesma forma, quando os quimicos en tenderam que nao bastava misturar corpos e transforma-los, mas, necessario se fazia en tender porque as modificaoes ocorriam, toda uma Quimica Moderna nasceu, buscando con ceitos e uma disciplina em proposioes logi cas, estas que passaram a construir teorias cientificas (e isto muito se deveu a Lavoisier, embora naD exclusivamente a ele).
Essa passagem da aparencia das formas para a essencia das realidades foi 0 que distin guiu a qualidade dos conhecimentos no cam po da cultura.
Despertar do estado letargico da acomo
daao de registros e demonstraiies, para 0 campo da explicaao e interpretaao dos fe nomenos patrimoniais das celulas sociais, foi a grande conquista da Historia da Contabili dade e esta se nutriu, como ainda se nutre, de escolas e correntes cientificas.
CONSCIENCIA SOBRE A
RIQUEZA E FORMA DE ESTUDA-LA
Que a riqueza das pessoas, das empresas,
e algo que de ha muito impressiona e preocu
pa 0 ser humano, e axiomatico.
Os egipcios chegaram a criar ate urn Deus para 0 Patrimonio e que foi Toth, como as pri
meiras leis. as mais antigas que se conhecem, coma as encontradas nas inscrioes de argila na antiga Sumeria, ja cuidavam de relaoes que
diziam respeito a mensuraoes e relaoes de
natureza patrimonial.__ { A moderna ciencia da riqueza e 0 neopatrimonialismo contabil
Foi 0 proprio interesse em conhecer racionalmente 0 movimento da riqueza e de medir
a movimentac;ao pertinente 0 que levou os contadores, como ja foi referido, a inventar os mimeros abstratos, ha cerca de 5.200 anos.Aristoteles, tambem, ha mais de 2.300 anos, afirmou que existia uma ciencia da riqueza e que essa nao era a ecanomia, porque, a sua sensibilidade investigativa ja estava desper
tada para urn estudo de maior seriedade acer.
ca da importancia que representava conhecer
as razoes que moviam as transformaoes pa trimoniais.
E possivel imaginar, por exemplo, coma ha
mais de dois mU anos Ciro, 0 grande rei per sa, procurava ter noc;ao fiel de coma se movi mentavam os milhares de meios patrimoniaisque lhes eram trazidos pelos divers os s"di
tos, de diversas regioes, como efeito tributa riD e que os aplicava nos suntuosos edificios e jardins de sua Persepolis (que ele denomi nava "paridaeza", palavra persa da qual se derivou "paraiso", dado 0 estado de maravi Iha e suntuosidade que tais caprichos do fa rnoso rei aplicava em tais adornos).
Sempre foi importante saber como se com portou 0 capital, 0 que se conseguiu corn ele, o que se podia prever para a situaao futura (as previsoes ja eram feitas na Sumeria e no Egito antigo e disto existe prova arqueologi ca).
Centenas de anos antes de Cristo, na india,
o livro de Kautylia (pensador que para os indi anos equivalia a urn Aristoteles), 0 Arthasas tra (denominaao dada aos manuais de conhe cimentos gerais), ja ditava normas e teorizavasobre 0 comportamento da riqueza individua
lizada (custos, revisoes etc.).
So no seculo XIX, todavia, 0 estudo da ri
queza das empresas foi admitido coma urn
conhecimento cientifico especial e particula rizado, atribuido a Contabilidade.
A mais famosa cas a de cultura do mundo
em sua epoca, aquela que consagrou Lavoisi
er (0 pai da Quimica Moderna), Louis Pasteur
(0 pai da Microbiologia), foi, tambem, a que em 1836 reconheceu que 0 estudo da riqueza das empresas e instituioes deveria ser algo tratado de forma racional, admitindo, entao,a ciencia contabil como urn ramo dos conhe cimentos sociais.
Dai por diante foram muitas as correntes
de estudos que se dedicaram a urn estudo pro fundo dos fatos que envolviam as transfor maoes patrimoniais e que enfatizaram que a
escrita era apenas urn instrumento para se ter memoria das coisas acontecidas.
Assim, encontramos na obra de Francesco Villa, (La Contabilita, ediao Monti, MUao, 1840), urn serio destaque a essa circunstancia mencionada, ou seja, a de que a escrituraao contabil nao e a propria Contabilidade, mas, sim, algo de que esta se vale para realizar es tudos e cuja importancia e simplesmente a informativa.
De fato, tadas as ciencias utilizam-se de registras e tadas padem neles aplicar a forma da partida dabrada e que nao e, senao, uma
evidencia de causa e efeito de urn fato consi
derado.
Francisco D'Auria, urn dos mais famosos
intelectuais de nos sa disciplina, muito bemisso demonstrou (em seu livro Primeiros Prin cipios de Contabilidade Pura, ediao USP, Sao
Paulo, 1949), na parte em que, nessa obra, dedicou ao que denominou "Sistematografia". Segundo 0 que 0 emerito mestre deixou c1aro em sua obra, 0 criterio que nasceu em bero contabil, 0 das partidas dobradas, pode
aplicar-se a evidencia de qualquer fenomeno da natureza ou de aao do homem, desde que
a preocupac;ao seja a de se apresentar causa e efeito (essa a origem do Balano Social, Balan
o Nacional, Balano Cambial etc.).
A forma verdadeira, pois, de estudar, corn proveito, a riqueza, e aquela que as doutrinas
nos indicaram atraves das escolas cientificas,
pois, a escrituraao e mero instrumento, utila qualquer ramo de conhecimento, sem priva cidade, portanto, desde que is so seja 0 dese jiivel.
Hoje, as teorias da Contabilidade Superior sao as que nos ensejam a produao de mode
los de comportamentos da riqueza, esses que podem levar as empresas a prosperidade, que se ocupam corn a essencia do que sucede e
nao corn a evidencia formal do sucedido.
E atraves do estudo l6gico das relaiies que
geram 0 feniimeno patrimonial, do julgamen to, da aniilise das causas motoras que se pode construir modelos que conduzem a plena econstante satisfaao das necessidades, ou seja,
a prosperidade da "celula social".
E nao ha duvida, quando a prosperidade patrimonial atinge a todas as celulas socials, a napio se torna prospera e quando isto ocorre em todos os paises, 0 bem estar global se ma terializa.
Tal raciocinio de indole cartesiana, ou seja, aquele que nos acena que pelas partes e que se chega ao todo, foi 0 que a nova doutrina cientifica, a mais recente, a do "Neopatrimo nialismo contiibil contiibil", adotou como urn
axioma de finalidade universal.
Du seja, a verdade mencionada e a que re presenta 0 zenite da teoria neopatrimonialis ta contiibil, est a que se ergue apoiada em muitos outros axiomas e teoremas.
Aos Contadores compete a grande tarefa de ajudar 0 equilibrio das Naiies e cooperar, atraves da aao profissional, para 0 bem estar geral, pois, eles estao presentes em todas as
empresas e em todas as instituiiies.
FUNDAMENTOS E EVOLU<;:AO DO
NEOPATRIMONIALlSMO CONTABIL
o Neopatrimonialismo contiibil e uma nova
corrente cientifica da Contabilidade que se
preocupou especialmente em estabelecer urn metodo de raclocinio para 0 entendimento so bre 0 que sucede corn a riqueza patrimonial das empresas e das instituiiies de fins ideais.
Para tanto, estabeleceu uma Teoria Geral,
ou seja, uma ordem de conhecimentos que per mitiu ser a matriz de todos os demais na area
especifica do conhecimento da riqueza das "ce lulas sociais" (estas admitidas coma empresas e instituiiies de fins ideais).
Buscou, pois, "relaiies 16gicas" sob as quais a riqueza se movimenta e 0 que deflui disto como transformaiies, ou seja, procurou com preender 0 porque das modificaiies operadas, estas que sao realidades que se espelham em anotaiies que os registros oferecem.
Nao se perdeu em formalidades relativas a aspectos ditos "priiticos", mas, sim, abriu opor tunidades para que estes pudessem posterior mente ser mais claramente entendidos, expli cados, interpretados e oferecessem modelos de comportamentos, a partir do conhecimento das
causas dos feniimenos (como fazem as demais
ciencias).
Registrar e demonstrar foram considerados no Neopatrimonialismo contiibil coma meros instrumentos para ensejar estudos, logo, de importancia apenas auxiliar; refutou a tese de
que pudesse se erguer teoria sobre instrumen
tos, coma se estes fossem os objetos princi
pais, ou ainda, apoiou-se no queja no inicio do seculo XIX era motivo de advertencia por parte
dos mais insignes intelectuais da Contabilida de.
Para tanto, inicialmente, construiu axiomas e teoremas (como verdades e proposiiies so bre estas), partindo das seguintes realidades:
1. A necessidade humana gera uma finali dade para conseguir meios patrimoniais que visem a suprir 0 que se precisa; 2. Os meios patrimoniais constituem uma
substtincia ou riqueza (patrimonio) das
"ceJulas sociais" (empresas e
institui-Florianopolis, v. 3 . nO 6 . p. 7-17 - agosto/novembro 2003- - - -1.01
_ -{ A moderna ciencia da riqueza e 0 neopatrimonialismo contabil
oes);3. A riqueza nao se move por si mesma,
neeessitando de agentes motores para
isto e estes se eneontram dentro (admi nistradores, exeeutores etc.) e fora das "eelulas soeiais" (natureza, soeiedade,
mere ado, tecnologias ete.);
4. Ao se movimentar a riqueza se trans forma;
5. Toda movimentaao enseja 0 exercieio
de uma (unriio (uso dos meios patrimo niais);
6. A funao e, pois, a deeorreneia do uso
ou movimento do meio patrimonial atra
yes da aao de urn agente motor inter no ou externo;
7. Quando a (unriio anula a neeessidade,
pelo movimento, produz a efieaeia (eon segue-se 0 que se deseja);
8. Existem funoes definidas eom finali
dades especifieas, estas eonstituindo sistemas que age m todos ao mesmo
tempo e de forma autonoma, em inte
raf;ao, constituindo, assim, urn univer so patrimonial em movimento.
Logo, existem grupos de relaroes ou aeon teeimentos que de forma logiea permitem a
an'Hise ou estudo do fenomeno patrimonial e
tambem sistemas que reunem funoes espe
cifieas.
Assim, a doutrina neopatrimonialista eon tabil organizou as bases de sua doutrina e que hoje ja possui vasta literatura fruto de inten
sa pesquisa, prosseguindo as investigaoes
que em curso se realizam (basta analisar a bi
bliografia deste trabalho para identifiear di
versos dos trabalhos editados).
GRUPOS DE RELAC;:OES QUE
DETERMINAM 0 FENOMENO
PATRIMONIAL
Tudo 0 que aeonteee eom 0 patrimonio
ad-vem da participaao de fatores materiais e ima
teriais, e, estas, para que se possa bem enten
der as propriedades dos fatos, a doutrina neo
patrimonialista eontabil as reuniu por nature
zas, em tres grandes grupos de relaoes: es senciais, dimensionais e ambientais ou dos en
tomos agentes_
As esseneiais saD as que em realidade re presentam 0 embriao ou origem do aeonteci mento; as dimensionais as que ofereeem 0 jul gamento do sueedido; as ambientais as que evi denciam as forras agentes motoras ou que aei
onaram os movimentos produtores das oeor
rencias.
Em verdade, antes que a riqueza se materi alize ela, por indole, vive na rnente hurnana ou
deflui de fato a esta ligada, mas, tudo subordi
nado a muitas circunstancias que criam limi
tes e geram aspeetos passiveis de observaao. Essa a razao de se eonsiderar a neeessidade
eomo 0 ponto de partida, segundo no seeulo
XIX, ja 0 eoneebia Giovanni Rossi (em sua ma
gistral obra L'ente eeonomieo-amministrativo,
vols I e 11, ediao 5tabilimento Tipo-Utografieo degli Artigianelli, Regio dell'Emilia, 1882).
Aquilo que se precisa conseguir, coma urn
nadir perante 0 eosmos patrimonial - e 0 pon
to alieerador, aquele que justifiea a propria
existeneia da riqueza, mas, embora sentido, reeonheeido, nem sempre pode ser alcanado
tal eomo 0 desejavel.
Ha urn limite ideal, pois, e urn real.
o ideal representa 0 que deveras e 0 deseja
vel e 0 real aquele que pode ser eonseguido,
sem que provoque distoroes.
Essa a razao pela qual e preeiso traar a fi
nalidade eomo uma raeional possibilidade de
atender a neeessidade.
A seqiiencia neeessidade, finalidade, meio patrimonial e (unriio forma aquela que a men
te humana, dentro da organizaao que habita
(e que e a eelula social), eonstitui 0 eonjunto de relaroes logieas essenciais.
Para considerar todo esse fluxo, ter no,ao
de coma deveras se efetiva a movimentac;ao patrimonial, julgar 0 acontecimento, outras rela,oes se consideraram coma as de causa,
efeito, qualidade, quantidade, tempo e espa,o.
Finalmente, como fator agente que move 0 patrim6nio, externa a ele, coma rela,ao que gera a transforma,ao, se admitiu 0 entorno ou
ambientes (que nao se confunde corn 0 nome
ambiental tal coma hoje se usa de forma restri tiva s6 para efeitos da natureza).
Nessas rela,oes ambientais se consideraram as end6genas (administra,ao da celula, pesso al) e as ex6genas (natureza, sociedade, merca do etc.).
A doutrina neopatrimonialista contabil, so
bre tais rela,oes, ergueu urn expressivo mime
ro de proposi,oes logicas, criando uma Teoria
Geral.
o que deveras existe de novo no Neopatri
monialismo contabil e essa forma de discipli nar os estudos, as observac;oes, os raciocinios, levando para 0 campo do holistico.
o RECONHECIMENTO DOS
SISTEMAS DE FUNC:OES
PATRIMONIAIS
A partir desses raciocinios e tambem pas
sivel perceber que as fun,oes se grupam em
sistemas e e nesse particular que mais se apu
rou 0 estudo neopatrimonialista contabil. Procurou reconhecer que nao e 0 elemento
ou meio patrimonial em si, mas, a fun,ao que
ele desempenha e que impprta para conhecer
o comportamento da riqueza.
ja afirmava Aristoteles (em sua obra A Po litica) que as coisas possuem "varias fun,oes",
ou seja, existem utilidades varias para uma
mesma materia, perfeitamente identificaveis.
A doutrina contabilistica, desenvolvida a
partir do seculo XIX, ja evidenciava corn clare za toda essa imporUincia "funcional" do
pa-trimanio e toda ela, dentro da otica holistica,
foi aproveitada, no adequavel, dentro da dou trina Neopatrimonialista contabil.
E evidente que, por exemplo, urn mesmo
estoque de mercadorias que serve para obter lucro (resultabilidade) tambem vai oferecermeios de pagamentos e servira para pagar (Ii qUidez), coma precisara ter urn limite conve niente para nao impedir 0 livre f1uxo de ou tros elementos do patrimanio, e, assim, ser vir a fun,ao de equilibrio (estabilidade) e de plena vitalidade (economicidade).
Ao estabelecer as rela,oes logicas, ao ad mitir os sistemas, ao reconhecer que estes vi vem em intera,ao, se procurou conhecer sob
que condi,oes poderiam ser feitos enuncia
dos logicos, pois, nao existem teorias sem te oremas.
Quando os primeiros estudos foram desen volvidos para dar origem as doutrinas do Ne
opatrimonialismo contabil foram identificados
sete sistemas de fun,oes patrimoniais: liqui
dez, resultabilidade, estabilidade, economici dade, produtividade, invulnerabilidade e elas ticidade.
Corn a evolu,ao constante dessa novel cor rente cientifica, admitiu mais urn sistema den tro do universo patrimonial, ou seja, urn oita vo e que foi 0 da socialidade, enfocando as necessidades da celula para corn 0 organismo social no qual se insere.
CONTRIBUIc:Ao DA DOUTRINA
NEOPATRIMONIAlISTA CONTABIL
o Neopatrimonialismo contabil partiu das
premissas estabelecidas pelas escolas conta
beis latinas, basicamente, e, tambem, de es
critos de uns poucos anglo-saxoes (dos que naD se contaminaram pelos vicios das norma tizaoes), adotando 0 que melhor se adaptou
a uma nova filosofia de pensamento contabil, coerente corn as mudanas operadas a partir
Florian6polis, v. 3 . n' 6 - p. 7-17 - agosto/novembro 2003- - - -{ID
__ -{ A moderna ciencia da riqueza e 0 neopatrimonialismo contabil
da segunda metade do seculo XX.Pouco foi 0 aproveitado dos autores esta' dunidenses e ingleses, em razao da escassa contribuiao que os mesmos ofereceram ao campo cientifico da Contabilidade; taG debil
que nao chegou em nossa Historia a registrar verdadeiras correntes de pensamentos.
Respeitando as conquistas validas, todavia, o Neopatrimonialismo contabil disciplinou seus principios a partir de uma diretriz pro. pria e inovadora, de forte conteudo epistemo. logico, com metodo proprio.
Reconheceu como ponto de partida, entre tanto, 0 que Vincenzo Masi fundamentou em sua doutrina, ou seja, de que tudo 0 que aeon. tece com a riqueza das empresas e das insti tuiiles e um fenilmeno patrimonial e aceitou a quase totalidade das concepiles de dinami ca e funcionalidade, especialmente as de Gio vanni Rossi, Alberto Ceccherelli, Gino Zappa, Pietro Onida, Egidio Giannessi, Joseph Dumar chey e Eugenio Schmalenbach.
Acolheu grande parte das teorias de Ricar
do Mattessich, Moises Garcia Garcia e Jose
Maria Requena Rodriguez, em suas teses quan titativas e circulatorias, por reconhecer que eram esforos no sentido de buscar visoes de maior amplitude.
Sustentou, pois, que os fatos patrimoniais, em suas divers as dimensiles e dentro de seus ambientes, sao os que interessam como mate ria de estudo contabil, para que se possa co
nhecer a realidade da influencia dos mesmos
sobre as necessidades.
o patrimonialismo de Masi, sem duvida, foi um ponto de partida como estrutura cien
tifica.
A contribuiao de outros intelectuais de
muito valor, tambem foi absorvida, sem pre
conceitos de escolas de pensamentos. Finalmente, a imposiao derivada das mo
dificailes diversas ocorridas nos mercados,
na sociedade, na ciencia, na etica, to do este
conjunto foi 0 que conduziu tambem a uma
nova 6tica.Todo esse conjunto de fatores cooperou para que pudesse nascer uma nova doutrina, coerente com a nossa epoca, que e 0 Neopatri monialismo contabil.
Valeu-se, esta nova corrente, tambem, da
observaao de estudos empiricos realizados
no seculo passado e que sugeriram, inclusive, desdobramentos do conhecimento contabil
como os relativos as ditas Contabilidade Am
biental, Contabilidade do Capital Intelectual,
Contabilidade Social, Contabilidade Estrategi ca etc.
o empirismo e fonte que leva, muitas ve zes a concepiles outras epode ser absorvido para beneficiar-se corn 0 metodo cientifico e produzir doutrinas de substancia, sem des preza-lo, mas, revestindo 0 pragmatico com a 6tica universalista.
o Neopatrimonialismo contabil, como cor
rente cientifica, so nasceu na decada de 90 do seculo XX, baseado na Teoria Geral do Conhe cimento Contabil (editada em 1992), mas re sultou de pesquisas e reflexiles realizadas des de as decadas de 70 e 80 (estas expostas pela primeira vez na Universidade de Sevilha em 1987).
o que de novo trouxe a nova doutrina ci entifica foi exatamente uma metodologia, apoi
ada por uma mentalidade disciplinadora, en
volvida por rigores epistemologicos.
A metodologia do Neopatrimonialismo con tabil aplicou-se na direao de classificar e re conhecer especialmente as relailes logicas que determinam a essencia do fenilmeno pa.
trimonial, as das dimensiles ocorridas e, dan. do enfase, especialmente, "ao porque ocorrem os fatas", ou seja, qual a verdadeira influencia dos fatores que produzem a transformaao da
riqueza (e que sao os dos ambientes internos e os externos que envolvem os meios patri moniais).
Adotando a filosofia dos sistemas entendeu
esta nova corrente do pensamento contabil que impossivel se torna estabelecer modelos de soluiies para a movimentaao racional da riqueza se estes DaO se inspirarem no conheci
mento das funroes patrimoniais (para que ser
ve cada componente da riqueza e a quem ser ve), quer estas em si, quer em relaao aos sis temas destas, quer aos das correlaoes destes corn os entornos.
As transformaoes funcionais, portanto, passaram a ser reconhecidas:
1) em cada operaao,
2) nos sistemas de operaiies, 3) nos campos de sistemas, 4) nas interaoes sistematicas e
5) nas suas ligaoes corn os agentes trans
formadores (administraao, pessoal, so
ciedade humana, mercados, natureza, ciencias, tecnologias, politicas etc.). A visa-o, embora ho!istica, portanto, DaD deixou de considerar a C/!/ula social (empre sas e instituioes de fins ideais) como urn com
plexo isolado, coma objeto de observaao e
nem cada fenomeno patrimonial em si, coma uma unidade.
Como nos afirmou em correspondencia particular, em 18 de agosto de 2003, 0 emeri
to prof. Valerio Nepomuceno: "0 neopatrimo nialismo contabil e conseqiiencia dos estudos empreendidos por brasileiros e para os lati nos, DaD desconsiderando, ohviamente. aqui 10 que a doutrina ja consagrou ao longo da historia."
E, prosseguiu: "Sempre me lembro do ilus tre Prof. Dr. Eduardo Scarano, quando ele afir
ma que a Contabilidade, ao contrario das ou
tras ciencias sociais, se perdeu em uma nor
matizaao sem precedente na historia." "Ima
gine", afirmou ele, "se os medicos, os enge
nheiros, resolvessem normatizar a medicina,
a engenharia, e criassem em torno disso cor
poraoes fechadas para geri-las."
E, condui, 0 prof. Nepomuceno : "Nesse sentido, 0 neopatrimonialismo contabil res gata 0 carater cientifico da contabilidade.
Resgata 0 pensar contabil, perdido ha muito." A corrente neopatrimonialista contabil se
apresenta hoje, na Historia da Contabilidade,
coma a mais moderna e a maior de todas as
organizadas e ativas, corn milhares de adep tos em varios continentes e uma produao li teraria cientifica nao so abundante, mas, de
qualidade excepcional, editada internacional mente.
CARACTERES DISTINTIVOS DO
NEOPATRIMONIAlISMO CONTABIL
o que de especifico trouxe a moderna cor rente cientifica do neopatrimonialismo conta bil foi exatamente a visao ampla dos agentes transformadores do patrimonio, partindo, para isto, da consagraao da "funao" ou "exerci cio do patrimonio" coma base.
Diferencia-se das demais correntes de pen samento cientifico contabil porque:
1. Classifica os fatores que produzem 0
fen6meno patrimonial em tres grandes
grupos especificos;
2. Grupa as funoes em oito sistemas e
Ihes da 0 tratamento metodologico coma tal;
3. Aprofunda-se no regime da autonomia, concomitancia e interatividade dos sis temas;
4. Estabelece axiomas que sustentam uma teoria geral do conhecimento contabil,
da qual devem ser derivadas todas as
demais;
5. Enuncia proposioes logicas que apre
sentam as verdades sobre as relaoes entre os fatores determinantes do fe nameno patrimonial;
6. Considera coma finalidade fundamen tal a Mica da eficacia, esta como
satis-Florian6polis, v. 3 - n° 6 - p. 7.17 - agosto/novembro 2003- - - -{1IiI
A moderna clencia da riqueza e 0 neopatrimonialismo contabil
integrado ao ambiente externo da soei
edade;ID. Admite que 0 escopO deve ser 0 de lor
nar todas as celulas soeiais prosperas
para que tambem, por decorreneia, seja
prospera a soeiedade humana.
faao plena da necessidade atraves da
funao dos meios patrimoniais;
7. Admite 0 sentido de conexao da funao
patrimonial corn os agentes motores queproduzem a transformaao patrimoni
al e busca conhecer as causas dos
feno-menos;
8. Adota a visao holistica da funao da ri
queza de modo que ela possa ser percebida como algo a servio de objeti
vos humanos e humanisticos;9. Considera as unidades de empreendi
mentos humanos que em carater per manente buscam seus objetivos como"celulas sociais", ou seja, como algo
Esses os pontos principais que as doutri
nas do Neopatrimonialismo contabil desenvol
ve e que se constitui hoje em uma literaturaja
vigorosa e abundante.Como toda materia cientinca nao se trata
de algo concluido, pois, a evoluao e fator
preponderante e que garante a propria vitali
dade das ciencias.BIBLlOGRAFIA - (trabalhos referidos e consultados)
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