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Infraestrutura pública, produtividade e crescimento: uma resenha

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Academic year: 2020

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(1)

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-FUNDAÇAO

GETULIO VARGAS

INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA

P/IBRE TO CEEG 3

TEXTO PARA DISCUSSÃO - CEEG N° 3

INFRAESTRUTURA PÚBLICA, PRODUTIVIDADE E CRESCIMENTO: UMA RESENHA

(2)

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA

CENTRO DE ESTUDOS DE ECONOMIA E GOVERNO

Praia de Botafogo, 190, sala 1114 22253-900 - Rio de Janeiro -RJ TeL: 551-5245/551-3149

TEXTO PARA DISCUSSÃO - CEEG N° 3

INFRAESTRUTURA PÚBLICA, PRODUTIVIDADE

E CRESCIMENTO: UMA RESENHA

199712 1690

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59

Janeiro -

1994

Pedro Cavalcanti F en-eira

(3)

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(4)

J

1. Introdução

A questão do impacto do capital público e dos gastos

em infraestrutura sobre produtividade e produto do setor público está na ordem do dia nos países desenvolvidos. Não só entre acadêmicos mas também entre a classe política,

especialmente após a eleição de Bill Clinton à presidência

dos Estados Unidos. Como é sabido, uma de suas prioridades

de governo é a recuperação da infraestrutura pública

americana que não acompanhou o crescimento do produto

devido a redução do ritmo de investimentos públicos nas décadas de setenta e oitenta.

No Brasil, entretanto, a questão dos investimentos

públicos ficou subordinada ao debate sobre o desequilíbrio

]

das contas do setor público e seu impacto sobre preços e

nível de atividade. A necessidade óbvia do reajuste fiscal

tornou secundária a questão da formação de capital público e poucos são os que hoje no país estudam as interrelações entre capital público e desempenho do setor privado. Não

I I

obstante, essa é uma questão importantíssima especialmente neste momento em que a infraestrutura pública instalada dá

sinais de esgotamento e o patente subinvestimento

governamental em infraestrutura enfrentado pelo país na

l

última década começa a produtivo. Os exemplos são muitos: afetar negativamente o processo

"I 1

(5)

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l

I

a) Atualmente existem no país cerca de sete linhas

telefônicas por cem habitantes contra 50 para os países

desenvolvidos. Este número é também inferior ao do Uruguai

e Venezuela, por exemplo, países cuja estrutura econômica é

bem menos avançada e diversificada que a nossa. O fato de

uma linha telefônica no centro do Rio de Janeiro custar cerca de US$ 2.000 dá uma idéia das dificuldades impostas à economia,

b) existem hoje 18 grandes projetos públicos na área de

energia que estão · interrompidos por falta de recursos.

Calcula-se que neste momento a capacidade instalada está próxima de seu limite, e

c) a deficiências na malha viária e estradas vicinais, leva a que parte elevada da safra colhida seja desperdiçada no

transporte entre as áreas de colheita e o local de

beneficiamento e armazenamento.

Todos esses fatores, de uma forma ou de outra, afetam o desempenho do setor privado bem como o crescimento da

produtividade. Não existem, entretanto, estimaçôes

empíricas para dados brasileiros da sobre a magnitude e a extensão da influência de movimentos do capital públicos sobre PIB e produtividade, ao contrário do que ocorre no exterior. Nos Estados Unidos, por exemplo, este é um dos

itens mais em voga na agenda dos pesquisadores e é

(6)

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I

I

acalorado o debate entre aqueles que defendem ser

significativo o impacto produtivo do capital público e

aqueles que o veêm ou o estimaram como empiricamente

irrelevante.

É importante perceber que este debate está distante da

discussão sobre o caráter expansionista ou anti-cíclico dos gastos públicos presente em modelos keynesianos clássicos. Neste último caso, o governo afeta o nível do produto pelo

lado da demanda através do mecanismo multiplicador.

Exatamente o oposto ocorre no presente debate onde o efeito dos gastos públicos se faz sentir pelo lado da oferta. Aqui o capital afeta o retorno dos insumos privados e desta

forma estimula (ou desestimula, quando for o caso)

investimento e trabalho.

o

mecanismo de transmissão seria o seguinte: para uma

dada quantidade de fatores privados, melhores estradas, energia e comunicação abundante e barata elevam o produto final e conseqüentemente implicam em maior produtividade dos fatores privados e reduzem o custo por unidade de insumo. A maior produtividade, por sua vez, se traduz em

elevação da remuneração dos fatores o que estimula o

investimento e o emprego.

o

mecanismo da transmissão é,

portanto, diametralmente oposto ao mecanismo implícito nos modelos keynesianos, onde o crescimento dos gastos públicos gera uma cadeia de incrementos de consumo e investimento

(7)

l

I I

I

1

1 I

I

1

privados que pode ou não afetar o retorno dos fatores.

o

presente artigo apresenta uma síntese da literatura

sobre esta questão. Na próxima seção apresentaremos

evidências empíricas para economia americana. Na seguinte

discutiremos trabalhos de cross-section e na última

"apresentamos alguns comentários finais.

2. O Caso Americano

As estimativas empíricas para a economia americana

podem ser divididas entre" aquelas à nível mais agregado e

as estimativas microeconômicas ao nível de indústria e região.

Entre as estimativas mais agregadas

6

artigo pioneiro

de Aschauer (1989a) ainda é hoje o mais citado na

literatura. Neste artigo estimou-se, usando dados anuais, o impacto do capital público não militar sobre produto por unidade de capital privado ("produtividade" do capital) e

sobre produtividade total dos fatores. Esta última

estatística é definida com a razão entre produto e a

contribuição de todos os insumos privados, que no caso são

trabalho e capital. Isto é, produtividade total dos

fatores, p, é definido por:

onde Y é produto, Lt é trabalho e Kt é capital privado.

(8)

Os coeficientes alpha e beta dão a participação do capi tal e trabalho no produto, respectivamente. Aschauer, corno a grande parte dos artigos desta literatura, parte de

urna função de produção Cobb-Douglas, onde capital (ou

investimento) público é um dos fatores de produção:

Aplicando-se logarítimos e subtraindo a LnKt + ~ LnLt

de ambos os lados, obtém-se:

In Pt

=

Co + , In Kgt + zt ( 3)

Por outro lado, impondo-se retornos constantes aos

insumos privados (~

=

l-a ) e subtraindo-se In kt de ambos

os lados da função de produção logaritimizada, ternos:

InYt - InKt

=

C + (1- a)(ln Lt - In Kt) + , InKgt + Zt (4)

Aschauer assume que o resíduo z não é auto

correlaçionado (é um "white noise") o que pode implicar em

-.

I estimações viesadas dada a tendência comum obsei.·vada nas

J

séries temporais americanas. Na tabela I abaixo os

resultados da estimação das equações (3) e (4) são

apresentados nas colunas dois e um respectivamente. Outros

l

resultados da literatura, que discutiremos posteriormente,

(9)

---, I

J

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J

l

TABELA I

ESTIMATIVAS DO IMPACTO DO CAPITAL PÚBLICO NA ECONOMIA AMERICANA

Equação e Método Dependente Cte Kg L K u Dkg DR PIN RHO t R2 SER "F ASCHAUER OLS ( 1 ) Y-R -2,42 (-21,58) 0,30 (16,79) 0,35 (4,85) 0,43 (12,28) 0,008 (4,62) 0,976 0,008 NO OLS ( 2 ) P -3,87 (-9,56) 0,49 (14,54) 0,35 (18,70) 0,002 (-1,45) 0,993 0,008 ND FERREIRA NLTSLS ( 3) Y 0,12 (0,65) 0,08 (2,75) 0,58 (3,12) 0,16 (1,65) 0,997 (54,41) 0,997 0,007 70002 OLS ( 4 ) Dp 0,003

( °

,4) 0,09 (3,33) 0,14 0,007 11,2 NADIRI E MAMUNEAS OLS ( 5 ) Dp -0,41 (4,25) 0,292 (8,414) 0,248 (4,022) -0,47 (1,41) 0,17 (4,688) 0,263 ND ND

---Notas a) Valores em parênteses são estatísticas t., Kg=capital público nas equações 1 e 2, investimentos públicos na equação 3, l:horas

trabalhadas, horas trabalhadas-estoque capital na equação 1. K = estoque capital privado, renda disponível defasada na equação 3,

u

=

utilização da capacidade instalada. DR = taxa de crescimento dos

gastos públicos em pesquisa e desenvolvimento. PIN = taxa de

crescimento dos fatores privados (ponderados pela participação do produto). ND = não disponível.

(10)

" \

I

I

1

Os resultados obtidos por Aschauer mostram uma forte

relação entre capital público (kg) e produtividade do

capital (Y-K) e também produtividade total dos fatores (P). Neste último caso as estimativas mostram que um aumento de 1% no nível do capital público implicam um incremento entre 0,35% a 0,49%, dependendo da especificação do modelo, da

P.T.F. Por outro lado, estima-se que a elasticidade do

produto por unidade de capital público esteja entre 0,36 e

0,39 %: o aumento da produtividade do capital é um terço de qualquer elevação do capital público. Munnell (1990a) obtém valores da mesma ordem de magnitude utilizando dados e um modelo semelhante.

Estas estimativas são bastante otimistas quanto à

influência produtiva do capital público, confirmando a

hipótese de que infraestrutura pública é um importante

determinante de produtividade do setor privado.

Algumas qualificações se fazem necessárias,

entretanto, especialmente em face dos elevados valores

estimados. Entre outras coisas, esses valores implicam que

a elasticidade produto do capital privado (k), ent=e 0,30 e 0,33, é inferior a elasticidade produto do capital público, um resultado pouco intuitivo.

Uma das fontes do problema destas regressões estaria

(11)

---,

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I

J

I

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l

I

simultaneidade entre as variáveis independente e a variável dependente. Como é sabido, este tipo de erro na formulação do modelo pode causar viés nos coeficientes estimados o que ainda é fortalecido aqui por ter o autor assumido que os resíduos não são auto correlacionados. Adicionalmente, as estimativas são todas em nível. Isto implica em regressões espúrias onde a tendência comum entre as variáveis faz com que a relação entre as séries seja superestimada.

Esses dois problemas são levados em conta em Ferreira (1993) onde os determinantes do capital e trabalho são explicitados. Usando técnicas de equações simultâneas e estimando taxas de variações em alguns casos, chega-se a resultados ainda positivos mas a magnitudes bem inferiores para dados semelhantes a Aschauer. O impacto estimado de variações no capital público sobre taxa de crescimento da produtividade total dos fatores é agora somente 0,11: um aumento de 1% no estoque de infraestrutura e equipamentos leva a produtividade a aumentar somente 0,11% e não meio

ponto percentual como em Aschauer. A estimativa . da

elasticidade do produto em relação aos investimentos

públicos também cai significativamente, era cerca de 0,39 em Aschavor e em Ferreira o resultado é de somente 0,08.

Embora de magnitudes modestas quando . comparada com resultados anteriores da literatura, ainda assim estas estimativas sustentam a hipótese de que o capital público

(12)

l

l

J

J

afeta positivamente o crescimento da produtividade na

economia. Elas dão sustentação a hipótese levantada por

alguns economistas (Morrison e Schhwartz (1992), por

exemplo) de que a queda do ritmo de investimentos públicos nos EUA nas décadas de 70 e 80 pode explicar parte da

desaceleração do crescimento da produtividade que se

verifica neste país a partir de 1974. A produtividade da mão-de-obra americana cresceu em média 2% ao ano entre 1950 e 1970 mas somente 0,8% entre 1971 e 1985. Por outro lado, gastos em infraestrutura e equipamentos como proporção do PIB caíram de 2,6% para 1,5% entre 1972 e 1983. Pelos nossos números uma redução de 10% no ritmo de crescimento dos investimentos públicos implica em redução de 1% no ritmo de crescimento da produtividade total dos fatores, o que é compatível com o ocorrido na economia americana.

As evidências a nível agregado em séries temporais não

se restringem aos Estados Unidos. Também na Europa, a

redução dos investimentos públicos ajuda a explicar,

juntamente a choques oriundos do setor externo, a queda da

taxa de crescimento do produto e emprego verificada a

partir da segunda metade da década de setenta. Westerhout

e Von Sinderen (1992) calculam que o declínio do

investimento público queda na formação de

foi o principal fator por capi tal na Holanda entre

trás da 1974-82. Isto se dá mesmo com a redução verificada nas contribuições sociais tarifárias o que estimula o investimento privado.

(13)

I

I

I

]

Da mesma forma, o crescimento da participação dos gastos em

consumo nos gastos púbicos totais, com a conseqüente

redução da participação ou investimentos, contribuiu também para a redução do crescimento do emprego e do produto.

As estimativas com dados mais desagregados também

confirmam a hipótese de que investimentos públicos possuem relevante impacto produtivo e afetam retornos privados.

Nadiri e Mamuneas (1991) trabalham com dados a nível de indústria (2 dígitos, na classificação do Departamento de Comércio) e medem não só o efeito de infraestrutura mas

também de pesquisa e desenvolvimento financiados pelo

governo. Ao contrário dos artigos analisados anteriormente

estimam uma função custo dual ã função de produção, onde

pesquisa e desenvolvimento financiada pelo governo, e não só infraestrutura, é um dos argumentos.

Embora os efeitos sobre a estrutura de custo varie de indústria a indústria e também ao longo do tempo, a função custo de todas as indústrias é sempre deslocada para baixo quando os investimentos públicos aumentam.

aumento da produtividade para uma dada

Isto implica

quantidade de

fatores. Adicionalmente, Nadiri e Mamuneas mostram que

aumentos de investimento tanto em infraestrutura quanto em pesquisa e desenvolvimento provocam uma redução na demanda total de fatores, o que se configura numa outra fonte de

(14)

-,

J

economia de recursos para o setor privado.

A tabela II abaixo reproduz as tabelas 3 e 4 do

trabalho de Nadiri e Mamuneas.

TABELA 2

ELASTICIDADE CUSTOS POR INDÚSTRIA (1956-86) DADOS AMERICANOS Alimentação Papel Química Petroquímica Plásticos Vidros Metais Primários Metalúrgica Maquinaria Equipamentos Elétricos Transporte Instrumentos Científicos Serviços de Capital em Infraestrutura -0,133 -0,150 -0,160 -0,227 -0,143 -0,157 -0,119 -0,123 -0,109 -0,118 -0,129 -0,117 Estoque de Capital em Pesquisa e Desenvolvimento 0,041 -0,035 -0,032 0,009* -0,035 -0,031 -0,046 -0,039 -0,050 -0,046 -0,041 -0,047 * De 1975 a 1985, elasticidade média foi -0,02.

Fonte: Nadiri e Mamuneas (1992).

As estimativas da elasticidade custo em relação a

(15)

l

J

l

sempre significativas. Seus valores variam entre -0,109 para o setor de maquinaria e -0,227 para petroquímica. Já as elasticidades custo dos investimentos em pesquisa e

desenvolvimento, embora também significativas são de

magnitudes inferiores sendo que a estimativa para a

indústria petroquímica possui o sinal oposto ao esperado), indo de -0,031 para indústria de vidraçaria e correlatos e -0,050 para o setor de maquinaria. Em outras palavras, aumentos em investimentos públicos provocam incrementos de produtividade nestas indústrias, o que se refletirá em queda do custo por unidade de fatores. Um aumento de 10% em investimentos em infraestrutura se traduzirá em reduções em

torno de 1,5% dos custos enquanto que igual aumento

percentual nos gastos em pesquisa financiados pelo governo se traduzem em reduções de, em média, 0,36% dos custos.

Os valores encontrados, corno já mencionamos, são

inferiores a outras estimativas que usam dados mais

agregados, com

quando estimam

exceção de Ferreira (1993). Entretanto,

diretamente o impacto das variáveis

governamentais sobre crescimento da produtividade total dos

fatores as elasticidades "agregadas" são notadamente

superiores: 0,292 e 0,248 para elasticidade em relação a infraestrutura e P&D, respectivamente, como se pode ver na tabela l.

Morrison e Swchartz (1992) trabalham com urna estrutura

(16)

J

l

l

l

l

teórica semelhante. Utilizam um painel de dados industriais

por regiões e chegam a resultados próximos a Nadini e

Mamuneas. Trabalhando também regressões baseada no lado dos custos do crescimento produtivo, estimam que o preço sombra do capital público, que reflete redução proporcional dos custos comparado aos custos totais, varia entre 15% e 30%,

dependendo da região e período. Mostram também que o

impacto sobre a produtividade total dos insumos é positivo e significante.

Ainda em referência à experiência americana existem alguns outros artigos que merecem menção, entre eles alguns que não encontram nenhuma relação quantitativa entre a acumulação de capital do setor público e produtividade do

setor pri yado. Holtz-Eakin (1992 ) estima ' funções de

produç,ão a n~vel, estadual, ' controlando por , caraterísticas específi.cas ,dos est~dos e ,não' encontra n'enh~m papel para os 'gastos 'púbiicos na evolução 'da 'produtividade , privada. E'ste '

tanlbém' é um resultado encontrado por Hulten e Shwab (198'4)

e (1991) para dados industriais agregados e a nível

regional, respectivamente. Por outro lado, Munnell (1990b) e Holtz-Eakin (1989) também trabalham com dados estaduais e

encontram resultados diferentes destes últimos já que

mostram nestes artigos que capital público efetivamente aumenta a produtividade do setor privado.

(17)

3. Evidências em Dados Cross-Section

A queda no ritmo de crescimento da produtividade não é um fenômeno restrito somente aos Estados Unidos, mas atinge

também, por exemplo, o conjunto dos países do · grupo dos

sete. ·0 crescimento da produtividade nestes países foi em

média 4,0% durante o período de 1960-68, 3,2% entre 68 e

·73, · 1,4 % entre 7"3 e 79 e 1,5 % entre. 79· e 8 6. Em todos·

esses países a . taxa c;fe c~estime~to da. produti vidade" no~ anos · setenta e oitenta foi pelo menos .50% inferior a taxa de crescimento durante os anos sessenta.

Ao mesmo tempo verifica-se um deslocamento dos gastos

públicos de investimentos para consumo, . neste mesmo grupo

de países. A razão Investimentos Públicos/PIB cai de 3,1%

para 1,5 % na Alemanha, de 3,5 %. para 1,6 % na França e de

3,9% para 1,0% na Inglaterra, entre 1967 e 1985. Somente

no Japão· esta razão aumenta enquanto na Itália se mantém

l

relativamente constante.

Se, como já vimos, capital público (infra-estrutura) é um fator vital para o processo produtivo, essa redução

i

I

observada na participação dos investimentos públicos no PIB

e nos orçamentos governamentais pode ajudar a explicar o declínio produtivo dos países do grupo industriais e de outros países que enfrentam problemas semelhantes. Aschaver (1989b) usa dados do grupo dos sete entre 1966 e 1985 para

14

-,

(18)

l

l

l

I I -, I

medir o impacto produtivo dos investimentos públicos. A

equação estimada, derivada a partir de uma função de

produção Cobb-Douglas é dada por:

onde p é produtividade do trabalho (e não produtividade

total das fatores como antes), ir é a razão entre

investimentos privados e produto, gi a razão entre

investimentos públicos e produto e u é utilização da

capacidade. Usa-se ir e não taxa de crescimento do capital

privado devido a inexistência na época de dados para

capi tal. Entretanto, dado que a relação entre as duas

variáveis é dada por: ir

=

(K/Y)* DK, se a razão capital

produto for estável, ir é uma boa proxy de DK. A

estabilidade de K/Y é, entretanto, duvidosa e isto pode explicar alguns problemas dessas estimações. A tabela III abaixo apresenta as estimações de Aschauer (1989b) bem como de Ferreira (1993).

(19)

--,

I \

l

--.

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l

I

\

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I Método Variável Dependente

c

DKg DK DL Du DCP G K L DPOP 2 R SER F TABELA 3

ESTIMATIVAS PARA CROSS-SECTION ASCHAUER ( 1 ) OLS Y-L 0.21 (-0.51) 0.44 (3.38) 0.22 (3.06) -0.29 (3.22) 1.28 (8.00) 0.58 1. 57 ND ( 2 ) OLS Y-L -0.21 -0.54 0.34 (2.42) 0.12 (1.72) -0.35 (4.37) 1.51 (10.06) -0.13 (2.17) 0.58 1.55 ND ( 3 ) OLS DY 0.16 (3.10) 0.26 (4.50) 0.17 (3.08) 0.07 (0.30) 0.539 0.17 21.8 FERREIRA ( 4 ) 2SLS Y 1.23 (2.66) 0.24 (4.18) 0.75 (12.41) 0.01 (0.25) 0.859 0.35 12.87 ( 5 ) OLS Dp 0.02 (0.32) 0.21 (3.03) -0.48 (-2.34) 0.15 0.18 5.56 Notar Valores em parênteses são estatísticas t. A explicação das

variáveis está no texto do artigo. ND

=

não disponível.

(20)

1 I

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A primeira coluna apresenta a estimativa da equação cinco, enquanto a segunda adiciona o efeito do consumo público sobre crescimento da produtividade (DCP). Em ambas as regressões o coeficiente dos investimentos públicos é

significativo a 5% e bastante forte sendo inclusive

superior ao efeito da acumulação de capital privado. Por outro lado, de acordo com resultados da coluna 2, aumentos na razão consumo público/produto diminuem a produtividade,

já que crescimento de 10% em DCP provoca uma queda na produtividade de 0,13%.

De forma semelhante, os resultados apresentados na

coluna 3 indicam que o efeito do capital privado sobre crescj mento do produto é inferior ao impacto do capital público. Esta coluna reproduz uma estimação de Ferreira (1993) para 66 países usando dados de fontes diversas, entre elas Surnrners and Heston (1991) e Benhabib e Spiegel

(1992). Neste caso Dkg e Dk são efetivamente crescimento do capital público e privado, respectivamente, e não a razão investimento/produto, como em Aschauer (1989b).

o

que se fez nesta última estimação foi basicamente um

tradicional exercício de contabilidade de crescimento.'

Aplicou-se logarítimos a uma função de produção

Cobb-Douglas ampliada pela presença de capital privado e em seguida subtraiu-se a mesma equação defasada até 'o período inicial. Isto é, estimou-se a seguinte equação:

(21)

l

I

l

l

\ I 1

l

I

Log Yt - Log YO

=

Log At - Log AO + C1 (Log K9t - LogK90)

+ C2 (Log Lt - Log LO) + C3 (Log Kt - Log Ko) (6)

Neste caso, e em outras estimações não reportadas aqui, a contribuição do crescimento do capital público ao crescimento econômico flutua em torno de 0,26 e como em Aschauer (1989b) é superior a contribuição do capital privado. Entretanto, como nas estimativas para séries temporais, o problema de simultaneidade entre variáveis independentes e as dependentes pode estar ocorrendo aqui o que viesaria os coeficientes estimados.

A regressão apresentada na coluna 4 da tabela 111 é uma tentativa de correção deste problema. Nela os determinantes de capital privado e do trabalho são levados em conta e fazem parte de um modelo simples de equilíbrio geral onde os gastos públicos produtivos são um integrante da função de produção. O coeficiente estimado desta última variável, 0,24, não está mui to distante das estimativas anteriores. Entretanto este valor é agora um terço somente do coeficiente do capital privado aumentando a suspeita de viés nas estimativas reportadas nas colunas 1 a 3.

Um resultado bastante importante obtido está

relacionado as novas teorias de crescimento endógeno. Note que o coeficiente do capital implica em que a elasticidade estimada é superior a participação do capital no produto, que é de cerca de 1/3 nos países desenvolvidos. Ela é

(22)

l

superior nos países do Terceiro Mundo, sem alcançar contudo os valores estimados em Ferreira (1993) que variam entre 0,75 e 0,91 em outras regressões não reportadas na presente

resenha. Este resultado confirmaria a hipótese de Paul

Romer (1987) de que o capital teria efeitos externos e que o retorno privado seria inferior ao retorno social. Este fenômeno possibilitaria, por sua vez, crescimento endógeno

sustentável e implica em não convergência a um estado

estacionário e consequentemente

desigualdades entre países.

a persistência das

Finalmente, a coluna 5 mostra o impacto da acumulação

do capital público na determinação do crescimento da

produti vidade . e seu impacto no crescimento econômico de longo prazo. Segundo este resultado, elevações do capital público implicam elevações proporcionas de 20% na taxa de

crescimento da produtividade total dos fatores,

ligeiramente superior aos resultados para dados americanos. Tendo em conta as novas teorias de crescimento este resultado implica que diferenças na taxa de crescimento entre países pode ser explicado não só por acumulação de capital humano, como em Lucas (1988 e 1993), introdução tecnológica, como em Romer (1990), distorções tarifárias, como em Rebelo ( 1991) ou mesmo estabilidade política e distribuição de renda, como em Benhabib e Rutichini (1991). De acordo com nossos resultado diferenças em crescimento

(23)

l

l

J

l

J

podem ser explicadas também por diferentes ritmos de

investimento em infra-estrutura.

Em artigo recente, Easterly e Rebelo (1993) constroem uma série consolidada de investimento público para dados "cross-country". Eles adicionam dados de empresas estatais, que são responsáveis por investimentos em infraestrutura em

I

muitos países, à série de investimento do setor público.

Com isto buscam medir com mais exatidão o impacto dos

investimentos efetivamente empreendidos pelo governo como um todo. Constroem então médias decenais com esses dados

que entrarão em regressões de médias decenais de

crescimento per capita utilizando dados em painel.

Os resultados estão sujeitos as mesmas críticas que faremos a seguir a Barro (1991) e Levine e Renelt (1992), pois incluem sem qualquer justificativa teórica um número grande de variáveis de controle, e. g., nível inicial da renda, medidas de nível educacional, etc. Entretanto, por

desagregarem investimento· público por setores, adicionam

uma nova dimensão à análise.

Seus principais resultados são:

1) investimento em transporte e comunicação parecem ser consistentemente correlacionados com crescimento e possuem coeficientes elevados ( entre 0.59 e 0.66),

(24)

l

J

"l

1

2) investimento das estatais aparaentemente não tem

qualquer efeito sobre crescimento e seu coeficiente nas regressões é sempre negativo mas não significativo. Esse

nos parece o resultado mais surpreendente dessas

estimações.

3) investimento do setor público ( menos estatais) é

consistentemente correlacionado com crescimento e também

com investimento privado, com coeficiente acima de 0.3 no primeiro caso e perto de um no segundo,

4) quando tentam corrigir causação inversa utilizando

variáveis instrumentais o efeito de transporte e

comunicação sobre crescimento é ainda positivo, mas os

coeficientes estimados são excessivamente altos. Os autores estimam um coeficiente de 2 para investimento em transporte e comunicação e 0.7 para investimento do setor público. Esse resultado está de acordo com parte dos trabalhos empíricos em infraestrutura pública, e.g., Aschauer (1989), mas não com Ferreira (1993) onde os coeficientes estimados variam entre 0.09 e 2.3.

Barro (1991) e Levine e Renelt (1992) apresentam

evidências que contradizem as estimativas que viemos

examinando até este ponto. Nos dois artigos utilizou-se um cross-section de países para estimar o impacto de diversas

(25)

inicial, etc.) sobre a taxa de crescimento de cada um

desses países. A técnica de estimação foi mínimos

quadrados. Ambos artigos rejeitam a hipótese de impactos produtivos da infraestrutura pública.

Esses resultados, entretanto, não resistem a um exame mais rigoroso, estando sujeitos a sérias qualificações. A primeira crítica está na própria arbitrariedade de se reunir diversas variáveis numa mesma equação sem qualquer respaldo teórico. Romer (1993) mostra que dependendo do modelo que se utilize para deduzir formas finais como as estimadas por Barro (1991) o mesmo resultado em estimações de cross-section pode ter interpretações conflitantes e contraditórias.

A crítica mais importante porém é que a série

utilizada para medir o impacto de investimento público

sobre taxas de crescimento não implica em qualquer

causalidade. Ambos artigos utilizam a média da razão entre investimentos públicos reais e GDP real. Entretanto, não há razão sensível para que esta razão, e muito menos sua

média para 1970-85 como faz Barro, afete a taxa de

crescimento do produto entre 1960-85, que é a variável'

independente de Barro. Primeiro, e mais importante, é que se investimentos públicos provocam movimentos no produto pode ser o caso que a razão investimentos PNB se mantenha constante simplesmente porque as duas variáveis crescem a

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l

taxas semelhantes uma vez que produto segue investimentos

públicos. O que se quer saber é o impacto que o

crescimento dos gastos em infra-estrutura tem sobre o

crescimento do PIB e da produtividade, ou como movimentos no nível de um afeta o nível do outro. O segundo argumento

é que em várias das estimativas a razão

totais ((investimento público +

privado)/produto) também está presente

investimentos investimento

como variável

independente. Isto, obviamente, provoca colineariedade

entre essas variáveis independentes (investimentos públicos

sobre produto e investimentos totais sobre produto),

podendo provocar inconsitência dos coeficientes estimados e

consequentemente retirar qualquer confiança sobre a

exatidão dos valores estimados. 4. Comentários Finais

Nesta nota examinamos parte da recente literatura econômica que busca estudar e estimar o impacto do capital

público e/ou dos gastos em infraestrutura sobre' o

crescimento do produto e da produtividade. Embora os dados

sejam de origem bastante diversas e as técnicas de

estimação também variadas, os resultados em sua maioria

apontam para importantes relaçôes entre produtividade,

crescimento econômico e capital público.

(27)

_.

l

duas direções de pesquisa. Por um lado, utilizar técnicas

econométricas de séries temporais mais avançadas para

analisar os dados americanos, uma vez que foram levantados problemas às técnicas utilizadas até agora pela literatura. Por outro lado, estender esta linha de pesquisa à economia brasileira. Como é sabido, os investimentos públicos vêm caindo rapidamente nos últimos anos. Se o que se estimou para o resto do mundo também for verdade para o Brasil este declínio nos gastos em infra estrutura pode ter tido sério impacto sobre o crescimento da produtividade e do produto. Referências Bibliográficas

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(29)

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}

RELAÇ~O DOS TEXTOS PARA DISCUSS~O DA FGV/IBRE/CEEG

1) Federalismo Fiscal e Reforma Tributiria - Lia Alt P8~8i~a 8 Ca~los

H (j 1HZ" 1'-t o I.. :;~, 'v' :;~, 1 1 e d :;~, !;:; i 1 'v' ::~, '., D I,,' ;:~ I,,' m IH-.;:, / '7':3 ..

2) Revendo a Atuaçâo do Estado Enquanto Empresário no Brasil -

Fernan-do Galvâo de Almeida - Dezemb~o/93.

3) Infraestrutura, Produtividade e Crescimento: Uma Resenha - Pedro

Cavalcant i Fe~reira - Janeiro/94.

4) O lOS e o Desenvolvimento Social nas Grandes Regiões e nos Estados

Brasileiros - Ma~ia Cecrl ia P~ates Rod~igues - Feve~eiro/94.

5) Com~rcio Exterior e Meio Ambiente no Contexto das Relações

(30)

N.Cham. P/IBRE TO CEEG 3

Autor: Ferreira, Pedro Cavalcanti.

Título: Infraestrutura publica, produtividade e crescimento

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Referências

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