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CONGADA DE CATALÃO (GO): O SINCRETISMO DA FESTA POPULAR NA PERSPECTIVA DOS DEVOTOS

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Academic year: 2021

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Dossiê

* Recebido em: 09.03.2020. Aprovado em: 01.06.2020.

** Mestrando em História pela Universidade Estadual de Goiás. E-mail: professormarcosmanoelhist@gmail.com

Marcos Manoel Ferreira**

CONGADA DE CATALÃO (GO): O SINCRETISMO

DA FESTA POPULAR NA PERSPECTIVA DOS DEVOTOS*

Resumo: neste artigo, buscamos compreender a percepção dos devotos e partícipes

acerca do sincretismo religioso, vivenciados no contexto dos festejos em louvor à Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia, na Congada de Catalão. Na perspectiva de uma abordagem dialógica que possibilite compreendermos as vi-vências dos sujeitos envolvidos nesse processo e suas relações no universo imagético, estético, religioso e cultural nestas manifestações. Intentamos a elaboração de um estudo teórico bibliográfico, etnográfico-religioso, cultural e empírico, vivenciado no âmbito dos festejos. Suas origens, história, subjetividades e interpretações, através de registros, observações e entrevistas, com organizadores e devotos. Frente as di-versidades, o pluralismo cultural e religioso, seus ritos e simbolismos, legados de um povo multirracial, bem como, as interposições culturais e religiosas. O catolicismo popular, as religiões afro-brasileiras, africanidade. A cultura popular e a religiosida-de presentes na tradição congolesa, bem como, Angola, Moçambique e outras regiões da África.

Palavras-chave: Festa Popular. Congada. Religião. Sincretismo. Africanidade.

CONGADA OF CATALÃO (GO): THE SYNCRETISM OF THE POPULAR PARTY IN THE PESPECTIVE OF THE DEVOTES

Abstract: in this article, we seek to understand the perception of devotees and participants about religious syncretism, experienced in the context of celebrations in praise of Nossa Senhora do Rosario, São Benedito and Santa Ifigênia, in Congada de Catalão. From the perspective of a dialogical approach that allows us to understand the experiences of the sub-jects involved in this process and their relationships in the imagery, aesthetic, religious and cultural universe in these manifestations. We intend to elaborate a theoretical bibliogra-phic, ethnographic-religious, cultural and empirical study, experienced in the scope of the celebrations. Its origins, history, subjectivities and interpretations, through records,

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obser-vations and interviews, with organizers and devotees. In the face of diversities, cultural and religious pluralism, their rites and symbolisms, legacies of a multiracial people, as well as cultural and religious interpositions. Popular catholicism, afro-brazilian religious, africa-nities, religiosity and popular culture present in the congolese tradition, as well as, Angola, Mozambique and other parts of Africa.

Keywords: Popular Party. Congada Religion. Syncretism. Africanity.

A

proposta deste artigo é entendermos de modo mais robusto como os devotos e partícipes

dos festejos em homenagem à Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia, percebem o sincretismo religioso, vivenciado no contexto cultural e popular destas cele-brações1 na cidade de Catalão2. Buscamos estabelecer uma abordagem dialógica, teórica e empíri-ca, que possibilite a compreensão das vivências dos sujeitos envolvidos neste processo e como se relacionam nesse auto de fé. Intentamos elaborar um estudo investigativo pautado no historicismo etnográfico-religioso, cultural, bem como, compreendermos sob a perspectiva dos devotos do Ro-sário, o entendimento do processo sincrético expresso nas festividades e ritos. Seus simbolismos, subjetividades, tradições, crenças e religiosidades, corroborando o universo manifesto pela diversi-dade cultural e étnica. Uma reflexão histórica sobre suas origens e raízes, frente a esta manifestação cultural africana – Congada – e os elementos constitutivos, no contexto da grande Festa do Santo de Preto (BRANDÃO, 1985).

Registros históricos apontam influências originárias do outro lado do Atlântico, que no Bra-sil, ganhou título de patrimônio cultural imaterial e novos contornos – sem perder sua essência – principalmente em terras mineiras3 e goianas. Nossas fontes, referências teóricas, ao que se refere às celebrações dos congos em Catalão, nas quais embasamos nossos registros, são resultados de importantes estudos das manifestações da cultura popular, antropólogos, historiadores e africanis-tas. Abordagens consubstanciadas na – História Oral, Regional, Cultural –, determinantes para a concepção de alguns

conceitos basilares, acerca da importância destas tradições religiosas, suas subjetividades no contexto destas celebrações e a vivência empírica nos meandros da religiosidade popular. Nesta perspectiva:

a fonte histórica é aquilo que coloca o historiador diretamente em contato com o seu problema. Ela é precisamente o material através do qual o historiador examina ou analisa uma sociedade humana no tempo (BARROS, 2019, p. 134).

A relevância histórica e cultural dos povos de Angola, Mali, Congo, Benin, Togo e todas as suas contribuições dentro de um processo sincrético e latente nas tradições brasileiras. A ocorrência do contato direto do – branco europeu e o preto africano – em fins do século XIV, intensificaram a atividade comercial escravocrata. Ação recorrente na África, antes mesmo da proximidade com os portugueses e os anseios mercantilistas.

A partir do século XVI em Pernambuco4, iniciava-se uma lucrativa e desumana atividade econômica, fomentando a mais perversa das práticas humanas, a escravidão. Descortinava um pano-rama comercial lucrativo, pautado na compra e venda de seres humanos. Comércio rentável, alicer-çado na injustiça, na violência e no racismo, na escravidão preta de desterrados, vítimas do senhorio cristão europeu. Sob o tinir dos grilhões, desembarcaram no Brasil aos milhares e, com eles, além da dor do exílio, a Diáspora5 africana e o banzo da terra mãe. Assim:

a partir de meados do século XVII os europeus aperfeiçoaram ainda mais seus métodos de trabalho. Os principais motivos de sua prosperidade foram a exploração da mão de obra africana e seus empre-endimentos nas Américas. [...] O tráfico de escravos africanos para o Brasil ocorreu do século XV até meados do século XIX, quando caiu na ilegalidade. Incluiu a chegada gradativa de homens e mu-lheres provenientes da costa ocidental da África, do atual Senegal até a Angola, e também da contra costa, principalmente no período do século XVII, em que os angolanos estiveram sob o domínio da Holanda (LOPES, 2008, p. 33-49).

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Alguns registros indicam a existência de organizações de pretos em Confrarias do Rosário6 – referência à Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos pretos –, Irmandades no nordeste brasi-leiro, que a:

exemplo do catolicismo herdado do período colonial, as confrarias eram associações corporativas organizadas por leigos e sediadas nas igrejas. [...] Assim, ao longo do século XIX, ainda existiam irmandades preponderantemente ligadas a comerciantes ou negociantes e seus dependentes, como também irmandades de “pardos” e “pretos”. [...] Irmandades de Nossa Senhora do Rosário, que atra-íam os descendentes de africanos em todo o Império (VAINFAS, 2008, p. 390).

Outros importantes estudiosos também destacaram o papel das Irmandades e o quanto contri-buíram – ainda que idealizadas pelos brancos – no processo de união, resistência e o fortalecimento entre os afrodescendentes, que possibilitavam entre outras ações, a ajuda financeira aos mais despro-vidos, por exemplo. Ou seja:

as irmandades eram associações religiosas que permitiam aos negros se reunir de modo relativa-mente autônomo em torno da devoção a um santo católico. Espalhadas por diversas áreas do Brasil escravista desde o século XVII, as irmandades eram locais em que se criavam laços de solidariedade e ajuda mútua entre seus integrantes (VIANA, 2012, p. 47).

O hibridismo do povo brasileiro – os indígenas, o branco europeu e o preto africano – resul-tando na pluralidade, diversidade étnica, cultural e religiosa. “A maioria das festas populares, tanto as sagradas quanto as profanas, não tiveram origens em terra brasileira, mas originaram-se com a vinda dos colonizadores” (SILVA, 2016, p. 19). Processo insidioso, marcado pelo paradoxo histórico entre o progresso e o discurso proselitista em nome de Deus – sob a égide da bíblia e da espada – persuasivo e etnocêntrico, o genocídio cultural, físico, de indígenas e africanos. O sangue vertido em nome da propagação da fé católica sob o aval da coroa, do eurocentrismo lusitano, do metalismo espoliado e da balança comercial favorável, perpetuando abismos históricos e estruturais. Assim, a catequese alicerçou o caminho da dominação metropolitana e a política escravagista. Desta forma:

a singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, expli-ca-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África (FREYRE, 2004, p. 66).

Nesta perspectiva cultural e religiosa, uma das mais importantes tradições brasileiras, são os festejos dos congos ou congadas de Catalão, suas representações e significados. De matriz africana, que através de suas danças, músicas, cores e devoção à Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia, possuem papéis de destaques no calendário cultural, popular e religioso. Nestas mani-festações populares que remontam o período colonial:

o sagrado e o profano sempre existiram lado a lado, mesmo que a Igreja e o Estado tentassem proibir. Estes persistem há século e permanecem vivos nas festas atuais, fazendo parte da religiosidade e cul-tura popular, por exemplo, nas festividades das Congadas de Catalão (SILVA, 2016, p. 19).

São celebrações alegóricas, de alegria e exaltação à liberdade; alusão ao sofrimento do cativeiro e dos grilhões, do tronco e a devoção. O culto aos santos católicos e a interposição dos orixás, como instrumento de resistência, sintonia com as raízes e o legado da terra natal. Mecanismos enfrentando o racismo e a intolerância religiosa, consolidando os festejos de pretos – escravizados ou forros –, suas manifestações culturais, aos poucos, foram corroborando a diversidade e a interculturalidade.

Inicialmente, as dificuldades para a realização das festas, estavam por todos os lados e enfren-tavam desafios severos, marginalizados pela sociedade escravocrata, racista, católica e seus beleguins locais. Segundo Viana:

sob o ponto de vista das autoridades governamentais, religiosas e dos senhores, as festas negras foram muitas vezes descritas como “folias”, “batuques”, “vozerias” ou “tocatas de preto”. Esses termos eram

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usados em debates políticos e na imprensa do século XIX para qualificar as diferentes manifestações festivas dos africanos e de seus descendentes. Alguns senhores viam com desconfiança as festas dos negros (2012, p. 48).

A resistência, o culto às suas raízes africanas e a adoção de Nossa Senhora do Rosário, como pa-droeira dos pretos, aos poucos vão se afirmando e se interpondo ao catolicismo popular, assimilando ritos e devoção. A congada e suas multiplicidades na qual a sociedade catalana está imersa, processo fundamental para a construção da identidade dos sujeitos, evidenciando a necessidade humana do sagrado em grandes festividades públicas. Portanto:

a Congada é uma manifestação religiosa e cultural de expressão afro-brasileira caracterizada como uma festa da cultura popular. Procura por intermédio de seus símbolos e representações, compre-ender os mitos, a história e a cultura africana, envolvendo os participantes em geral, que tem sua fé “materializada” nos santos católicos: São Benedito, Santa Ifigênia e Nossa Senhora do Rosário [...] (SILVA, 2016, p. 21).

Estas manifestações, ritos e procissões; os folguedos e suas variantes regionais; os festejos, cren-ças, o misticismo, o sagrado e o profano; as festividades compostas de saberes populares – as quais, não se sabe ao certo, ou quase sempre, suas origens –, seus elementos constitutivos, nas mais diversas celebrações culturais e seus cultos. Conforme Cascudo:

O Brasil-Colônia absorveu as tradições culturais e religiosas dos indígenas e dos negros escravos. Assim, suas crenças e divindades acabaram fundindo com os santos católicos, num sincretismo re-ligioso. Cerimônias de pajelança, terreiros e roças se associam às festas católicas de caráter popular (2002, p. 170).

Assim, os sujeitos manifestos nestas festividades, nesta simbiose cultural afro-brasileira, suas crenças, singularidades e subjetividades, absorvem elementos locais e geográficos. Evidenciando as influências e o pluralismo cultural, o ecletismo, a tolerância religiosa, marcantes em meio às dife-renças, suas representações litúrgicas, teológicas e as diversidades étnicas. Manifestações profusas, congadas, autos de fé, o catolicismo popular, candomblecismo, umbandismo, os festejos dançantes, coreografados,

dinâmicos e em transformação, incorporando novas características. Como podemos observar:

a cultura congadeira subsidiada pelas cantigas, pelas rezas, coreografias, ritmos, cores, celebrações das mais diversas ordens, contam e cantam coisas também antigas, de guerras, de lutas, de batalhas, de fé. [...] Estas práticas culturais com as suas festas, suas danças, seus cantos e mais propriamente com o ressoar de seus tambores igualmente enunciam uma mensagem que não só aquela de tristeza, de rebelião ou de fé (BRASILEIRO, 2016, p. 22).

Tradições, práticas sociais e populares, no contexto da contemporaneidade e os novos olhares sobre a dinâmica cultural, que:

O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resul-tado da operação de uma determinada cultura (LARAIA, 2000, p. 70).

A partir de 1850, com a vigência da Lei Eusébio de Queirós, proibindo definitivamente o trá-fico de pessoas para o Brasil, foi peremptória no processo de redução do fluxo de entrada de novos escravizados africanos no país. Ocorrendo uma ruptura com a cultura africana de forma direta, mas, não com os costumes dos afro-brasileiros que viviam há gerações nestas terras. No entanto, nesse processo, não era mais a cultura africana que se opunha à cultura dos europeus e dos povos indígenas. Contudo, fazia parte de uma cultura que passou a ser desenvolvida nos trópicos desde que os primei-ros africanos – iorubás, bantos, congoleses, nagôs, zulus, entre outprimei-ros – desembarcaram no Brasil. Nesse sentido, vale destacar que:

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[...] não seria incorreto dizermos que já se tratava de um sincretismo cultural, uma ‘mistura’ da cultura africana com a cultura europeia e indígena em vários aspectos de nossa sociabilidade, desde a questão religiosa dos cultos e das religiões afro-brasileiras (umbanda, quimbanda, candomblé, macumba, etc.) até a influência linguística, passando pela influência alimentar, musical etc. As religiões afro-brasilei-ras, por exemplo, apresentam algumas similaridades com a cultura religiosa africana. Elas utilizam os terreiros como lugar do sagrado, e a cultura é transmitida, sobretudo, pela oralidade – não havendo um ‘livro sagrado’, como a Bíblia no caso do cristianismo (CONTIERO; SILVA, 2017, p. 120-121).

Anualmente, nos primeiros 12 dias do mês de outubro, são realizados na cidade de Catalão, os festejos em louvor à Nossa Senhora do Rosário, e, com ela, precipuamente as singularidades do sincretismo religioso entre o catolicismo popular e religiões de afro-brasileiras, que se interpõem nas celebrações religiosas e populares. A Congada, congado ou congo, são realizadas também em outras partes do Brasil, que de cidade para cidade, observamos a ocorrência de algumas variações na dinâmica, na composição da festa e o número de integrantes nos ternos. Outro aspecto relevante é a questão da própria história das manifestações, componentes característicos de cada região, que con-siste na celebração de agradecimento do povo congolês aos seus governantes. Inspirada no Cortejo aos Reis Congos que ocorre dentro dos festejos do Rosário, tradição oriunda da cristianização católica no Congo, símbolo das imposições portuguesas no reino africano. Contudo:

resta ainda averiguar se foram os africanos que deram ao seu folguedo a denominação de maracatu, porquanto outras designações existem, aplicadas a divertimentos dos negros, as quais não são da língua destes, mas lusitanas, como congada e dança de Moçambique (MAGALHÃES, 1944, apud CASCUDO, 2002, p. 167).

As festividades em Catalão acontecem desde 1876, evidenciando a cultura popular, imersa em elementos de africanidade e a resistência afrobrasileira no país: um espetáculo apoteótico ao ar livre, numa gigantesca multicolorida festa popular e que indistintamente, abarca e abraça todos os credos, etnias, diversidades e níveis sociais. Os ternos animam por onde passam o cortejo, com muita dança, vários instrumentos, celeuma e alegria. Catopé ou catupé, dança mineira em cortejo, assemelhando-se a congada ou moçambique, em conformidade com LOPES (2015, p. 42). No contexto dos festejos de Catalão, Catupé é “um dos grupos da congada. Os instrumentos básicos são caixas grandes e pandeiros. Tamborim (para o capitão), sanfona e violão completam os instrumentos” (MACEDO, 2007, p. 98). Há uma hierarquia, destacando-se o rei, a rainha, os generais, capitães, etc.

E, com efeito, até hoje se não faz parte da literatura católica, faz parte imprescindível da liturgia dos reis do Congo, de Moçambique, de Congada, acompanharem as procissões católicas, seguidos de seus súditos (ANDRADE, 1935, p. 37-53 apud CASCUDO, 2002, p. 301).

Nota-se em suas descrições a imposição do catolicismo aos pretos e também os interesses dos políticos em se fazerem vistos ganhando a confiança da população.

A força religiosa, o auto de fé, a tradição que se renova no esplendor a cada Alvorada7 e seu poder de alcance cultural, atraindo fiéis, turistas, folcloristas, pesquisadores, buscando experiências, vivências antropológicas, sociais, culturais, artísticas e históricas. Estas celebrações congadeiras, seu processo histórico-dialógico, foi a amálgama de elementos religiosos, culturais e populares. Seus múltiplos aspectos ritualísticos, coadunados a devoção à São Benedito, a Santa do Rosário e Santa Ifigênia, culminando com o dia 12 de outubro, feriado nacional, em homenagem à Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. “O sincretismo é elemento essencial de todas as formas de religião, está muito presente na religiosidade popular” (FERRETTI, 1998, p. 195). Nas religiões afro-brasileiras o sincretismo é uma forma de relacionar o africano com o brasileiro, de fazer alianças como os es-cravizados aprendeu na senzala e nos quilombos “sem se transformar naquilo que o senhor desejava” (REIS, 1996, p. 20, apud FERRETTI, 1998, p. 195), nem ficar “presos a modelos ideológicos excluden-tes” (MUNANGA, 1996, p. 63, apud FERRETTI, 1998, p. 195).

A sociedade brasileira tradicionalmente de maioria cristã8, maculada pelo racismo, pela into-lerância étnica e religiosa. Injustiça e a marginalização da cultura, das religiões de matriz africana e

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afro-brasileiras, como também já ocorreram com outras – o Espiritismo, Islamismo, entre outras. Ig-norando o papel desempenhado pelos africanos e afro-brasileiros, deixando a empáfia da ignorância sobrepor a uma realidade, que não é mito.

A construção da grandeza dessa terra, inúmeras vezes marcada pelo sangue alheio, para saciar a sanha de latifúndios canavieiros, mineradores, cafeeiros, numa supremacia branca, patriarcal e or-dinária. O sal gotejado na terra fértil, irrigada pelo suor de bantos e sudaneses, fizeram a fortuna, a doçura da cana e da vida de muitos infames senhores. Do açúcar alvo como a neve, que deixava mel o amargo café. Temperado pela vergonhosa escravidão dos renegados e a miséria dos ignorados que tanto contribuíram para a grandeza econômica e cultural do país! Pelas mãos calejadas e pés em brasa, impávidos cor de ébano, historicamente inferiorizados e marginalizados, pela intolerância caucasiana e racista (FERREIRA, 2019, p. 2).

Algumas religiões, ainda de maneira muito modesta e instável, aos poucos se tem afirmado no espaço público, cada vez mais. Em pleno século XXI, os crescentes ataques aos terreiros, por exemplo, em alguns estados brasileiros e o acirramento dos discursos de ódio contra algumas religiões, seitas, intolerância, principalmente contra umbandistas e candomblecistas. Numa escalada mundial, o Isla-mismo tem sido colocado como o grande vilão, o inimigo do mundo civilizado, frente aos ataques de bestialidade e a barbárie em “nome de Deus”. O velho pano de fundo camuflando os reais interesses e a plena convicção dogmática, da purificação das chagas dos assassinos e o eviterno Paraíso como recompensa. Portanto, nessa perspectiva de ignorância e intolerância, o Islã é o mal a ser combatido e banido, sob a ordem-moral religiosa cristão-judaica ocidental, como se em todas as religiões, desde os primórdios, não existissem indivíduos e práticas intolerantes e extremistas. No Brasil, ausentes das regulamentações que as retirassem da clandestinidade, instituições de ensino e perseguidas durante bom tempo pela Igreja, o poder público e alguns segmentos da sociedade.

O Código Penal, juntamente com regulamentações sanitárias e policiais, fundamentou ações que atingiram sobretudo cultos que, por suas referências africanas, eram identificados como claramente “mágicos”, em um sentido que se traduzia em “selvageria” e “feitiçaria” (GIUMBELLI, 2008, p. 84).

A relevância deste estudo, reflexões e discussões, é compreendermos sob a perspectiva dos devotos do Rosário, como percebem e compreendem a Congada, com suas raízes africanas, no universo cristão das festividades. “Sem dúvida, a influência cristã e, especificamente, católica” (SANCHIS, 1997, p. 31).

O referencial teórico-metodológico e conceitual de sincretismo presente neste artigo, ainda que a propedêutica aponte para algumas direções, busca elucidar a propositura inicial, que constitui o cerne desta reflexão. Portanto, se – existe ou não – a percepção por parte dos devotos e partícipes da Festa do Rosário, na Congada de Catalão, acerca do sincretismo intrínseco nos festejos, eviden-ciam até aqui, visões e entendimentos conflitantes. “Arte e religião constituem fenômenos difíceis de separar, tanto pela atitude de contemplação mística existente em ambos como pela teatralidade do desempenho da liturgia” (FERRETI, 1998, p. 184). Nessa dinâmica cultural, tradições, procissões e comemorações dos santos, o sincretismo, por consequência, é uma das características centrais da festa religiosa e popular em Catalão.

Em virtude do rico patrimônio cultural que lograram conservar, as religiões negras, espe-cialmente a partir dos anos 60, reencontraram-se com a sociedade brasileira no campo das artes, fornecendo à cultura popular muito de seu repertório, que é convertido em arte profa-na para o consumo das massas, ganhando, em troca, reconhecimento e prestígio (PRANDI, 1998, p. 155).

O acervo, Fundação Cultural Maria das Dores Campos e o Museu das Congadas, com uma infinidade de material iconográfico, pinturas de diversos artistas locais, fotografias de várias etapas e momentos dos festejos, dispõem de uma abundância de fontes e possibilidades para análises e pes-quisas. Material audiovisual como documentários, vídeos populares e institucionais, educativos, bem como músicas e cantigas folclóricas e religiosas. As referidas fontes serão utilizadas para o

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aprofun-damento da pesquisa, reflexões e estudo da dinâmica dos festejos, como orientação e fundamentação teórica, ilustração do trabalho final.

Outro componente essencial nesse processo investigativo será o trabalho de campo, fonte fun-damental para coleta e análises de dados/informações. Momento de experiência empírica e vivência antropológica, participação direta e indireta na festa, rituais, missas, procissões e o contato com de-votos, turistas, populares e organizadores. Segundo Oliveira (1996, p. 22), nesses termos, o olhar e o ouvir são parte da primeira etapa de uma pesquisa, enquanto o escrever é a parte inerente à segunda. Adotamos como referências para nossas análises, reflexões e direcionamentos da pesquisa, entre-vistas com os envolvidos nos festejos, dois questionários diferentes, aplicados aos organizadores e partícipes, utilizando-se gravador de voz, como meio para obtenção das informações concernentes aos elementos – religiosos, culturais – interpostos nas celebrações. As demais etapas da pesquisa, compostas pelas leituras bibliográficas, visitas a museus e análises dos dados coletados. Os entre-vistados, organizados e separados em 3 grupos distintos, totalizando o número de 30 participantes, selecionados aleatoriamente entre os componentes de cada grupo. Os participantes, dos Primeiro e Segundo grupos, serão escolhidos pelo grau hierárquico que possuem no processo de organização e de responsabilidade legal nas festividades – clérigos e dirigentes das Irmandades. No caso dos parti-cipantes do Terceiro grupo, devotos e partícipes domiciliados em Catalão.

Percebemos que entre muitos devotos, não existe compreensão do sincretismo religioso, cul-tural, interposições nos ritos e simbolismos presentes nos festejos cristãos, permeados de elementos os quais sempre combateram – as tradições de matriz africana e as religiões afro-brasileiras macum-ba9 – colocadas na “clandestinidade” e na condição de marginalizadas por muito tempo. Giumbelli (2008, p. 84), destaca o quanto foi necessária uma legislação no país para que estas religiões pudessem ser amparadas pelo poder estatal, para se manifestarem seus cultos e se protegerem da intolerância religiosa, no espaço público.

O culto aos santos presentes na Congada – Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia –, possuem suas origens na África, com a cristianização de alguns de reis e reinos africanos. No Brasil, ganharam representações nos festejos religiosos, do catolicismo popular e as religiões afro-brasileiras. São Benedito (1526 – 1589) – preto, africano –, mesmo nascido na Europa, Itália, seus pais eram africanos e trabalhavam para uma família cristã. Santa Ifigê-nia ou EfigêIfigê-nia (século I) – preta, africana, IfigêIfigê-nia da Etiópia – e Nossa Senhora do Rosário, foi adotada pelos escravizados e libertos, que tinham nas Irmandades do Rosário, o elo entre os pretos e suas tradições africanas. A devoção aos santos, remonta a Angola do século XVII, mesmo antes da canonização de São Benedito, em 1807, afirmou LOPES (2015, p. 122). Durante o período colonial, a devoção à Santa Ifigênia, por exemplo, considerada como a mãe protetora dos pretos, associada a figura de Maria, zelosa, provedora, personalizada na garra e na luta da mulher africana. A difusão do culto aos santos pretos, tiveram início a partir de algumas áreas de Pernambuco, Bahia e Sergipe. Mais tarde, com a interiorização e a atividade aurífera nas cidades mineiras de Ouro Preto e Mariana, a devoção à Santa Ifigênia, foi mais intensa, principalmente em Mariana – culto mais recente que o do Rosário. Esta representatividade é evidenciada quan-do os estuquan-dos afirmam que:

a irmandade existente era a de Santa Efigênia e, em nenhum momento da conjuntura analisada, foi mensionada a existência de qualquer culto àquele santo no interior da capela de Nossa Senhora do Rosário, onde estava instalada a devoção à santa (OLIVEIRA, 2007, p. 248).

O culto aos orixás10, possui uma longa história de resistência e sincretismo. “Os africanos e

afro--brasileiros impedidos de cultuar os orixás, valiam-se de imagens e referências católicas para manter viva sua fé” (JÚNIOR, 2013, p. 19). Neste cenário, a Congada de Catalão, carregada de religiosidade e simbolismos, atua como elemento de agregação social, étnica e cultural.

Os aspectos centrais perpassam a compreensão do significado da Congada Nossa Senhora do Ro-sário como sistema ritual sincrético, que envolve o entrelaçamento de religiões, bem como a iden-tidade e memória coletiva do grupo social (ALMEIDA, 2012, p. 22).

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No contexto religioso cristão do auto de fé à Nossa Senhora do Rosário, São Benedito11 e San-ta Ifigênia, o sagrado e o profano sob o manto sagrado, que deixa de lado diferenças, divergências, numa integração e interação ecumênica, sincrética, popular e étnica, em nome da mesma devoção, dialogando entre religiões. O aparente paradoxo entre o cristianismo e as religiões afro-brasileira explicita a grandiosidade e a riqueza do grande evento popular. Demonstração de fé que arrasta milhares de pessoas em procissão, seguindo os vários ternos coreografados em cores fortes e vi-brantes, representados de forma artística, ritualística, simbólica e sincrética. Atribui-se também o termo:

Sincretismo em nosso país, quase que exclusivamente ao catolicismo popular e às religiões afro-brasileiras. Tal fato não diminui, mas engrandece o domínio da religião, como ponto de encontro e de convergência entre tradições distintas (FERRETTI, 1998, p. 183).

De norte a sul do vasto território brasileiro, de grandeza continental e raízes pluriétnicas, observamos as influências, o pluralismo e a importância cultural dos festejos e os folguedos no Rosário. A religiosidade, simbolismos, culinária e personagens característicos de cada região, que permeiam as radições, o imagético popular, encontros e misturas, resultando no interculturalismo étnico e religioso. “A miscigenação ibérica, indígena e africana provocou o surgimento de identi-dades regionais próprias, e essas, integradas em seu tempo e realidade, possuiriam universalidade” (PFEFFER, 2013, p. 112).

O aprofundamento nessas relações étnicas, o pluralismo latente nas manifestações religiosas e culturais, no âmbito da secularização do sincretismo presente nos ritos da Festa, evidenciam a força da fé e da tradição. Nesta perspectiva da batida hipnotizante12, devoção, manifestação popular e a grandeza da religiosidade, manifesta nas práticas de toda celebração. “No Brasil, a transversalidade entre a música e a religião esteve presente no cotidiano dos escravizados” (CARMO, 2014, p. 1). Buscamos dialogar com as mais diversas fontes, bibliográficas, historiográficas, iconográficas, orais, pesquisa de campo, etc. Os sujeitos sociais que integram e interagem nesse contexto religioso, cultural e nem sempre, conscientes do sincretismo, presente no auto de fé.

Descortinarmos novas possibilidades de abordagens, análises, discussões e reflexões, com vis-tas a estabelecer, fomentar novos saberes e conhecimentos à luz da ciência. Frente ao extenso e com-plexo universo das religiões, da cultura popular, seus aspectos estéticos e sincréticos presentes na opulenta festa em louvor à Nossa Senhora do Rosário13 e da Congada de Catalão14, suas “nuances” e delimitações conceituais. “Como se vê, para tornar um conceito utilizável em um trabalho científico, é preciso lhe dar um tratamento elaborado” (BARROS, 2018, p. 119).

Dos primórdios da composição do povo brasileiro, sua importância e contribuições culturais afro-brasileira, que de geração em geração consolidou uma das tradições mais ricas e importantes do Brasil – a Congada – do Maranhão ao Rio Grande do Sul, em especial, Minas Gerais, principalmente do preto. Há toda uma discussão histórica, sociológica e antropológica em torno dessa questão, numa perspectiva positiva/negativa, o mito da democracia racial e o romantismo da miscigenação, criticado entre outros estudiosos, pelo sociólogo Florestan Fernandes. A realidade brasileira, evidencia o quan-to a Lei Áurea não se traduziu no que de faquan-to, se destinava:

[...] Os negros foram abandonados à própria sorte, sem a realização de reformas que os integras-sem socialmente. Por trás disso, havia um projeto de modernização conservadora que não tocou no regime do latifúndio e exacerbou o racismo como forma de discriminação (MARINGONI, 2011, p. 2).

O descaso e abandono do preto, fez valer a expressão para “inglês ver”, buscando atender aos interesses do capitalismo crescente e à necessidade da inserção do Brasil no contexto econômico in-ternacional, legitimado pela recém proclamada República (1889) dos velhos coronéis e latifúndios.

O histórico encontro e o caldear de etnias – indígenas, europeus e africanos – alicerçando a diversidade cultural e religiosa na formação da identidade brasileira, o pluralismo, o ecletismo frente ao sagrado e o profano fundiram-se sob a égide de Deus e da dominação. Nessa

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dinâmi-ca cultural, tradições, procissões e comemorações dos santos, o sincretismo, por consequência, é uma das características centrais das celebrações religiosas e populares em Catalão. De acordo com Prandi (1998):

[...] em virtude do rico patrimônio cultural que lograram conservar, as religiões negras, especialmen-te a partir dos anos 60, reencontraram-se com a sociedade brasileira no campo das arespecialmen-tes, fornecendo à cultura popular muito de seu repertório, que é convertido em arte profana para o consumo das massas, ganhando, em troca, reconhecimento e prestígio (PRANDI, 1998, p. 155).

Observamos também, mesmo não sendo o objeto principal de reflexão deste artigo, contudo, não menos pertinente, são as consideráveis transformações estruturais, políticas, econômicas, cul-turais e sociais, que colocaram Catalão em posição de evidência no cenário goiano e nacional, nos roteiros turísticos, destacadamente, o religioso e cultural. No raiar das primeiras décadas do século XX, outro grande impulso neste processo de desenvolvimento econômico e cultural, foi o advento da ferrovia, gerando progresso e modernização, para a chamada “região da estrada de ferro”, com o “Despertar dos Dormentes”, segundo BORGES (1990, p. 92).

A história cultural é de grande importância para o processo de construção da identidade de agentes e sujeitos sociais, em suas múltiplas ações e manifestações religiosas, políticas e antropológi-cas na fundamentação dessa pesquisa. De acordo com, Pesavento (2003):

[...] A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da realidade que se faz de forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos às palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais se apresentam de forma cifrada, portanto, já um significado e uma apreciação valorativa (PESAVEN-TO, 2003, p. 15).

Nessa perspectiva, Macedo (2007) evidencia as mudanças pelas quais a congada veio passando, desde seus primórdios em terras catalanas, influências do congado de Minas Gerais:

no início do século passado, todos ternos em Catalão usavam a cor branca e a maioria dos partici-pantes eram negros. Cabia aos fazendeiros (brancos) organizar a parte religiosa e de alimentação (MACEDO, 2007, p. 16).

As respostas para algumas intrigantes indagações aqui problematizadas, residem em fontes orais, testemunhais de velhos congadeiros e moradores locais, entre os ex e atuais membros da Irman-dade do Rosário, dos organizadores da Festa e representantes da Igreja.

Como este estudo está em processo de elaboração, coleta de dados, pesquisa de campo e análi-ses das observações já levantadas e colhidas, concluímos até aqui, que os partícipes, participantes dos ternos, membros das Irmandades e alguns clérigos, compreendem o sincretismo. Contudo, alguns demonstram certa “resistência” em externarem este aspecto da festa, tanto de um lado – os católicos –, como do outro – os não católicos. Enquanto os partícipes mais jovens – alguns –, das mais diversas faixas etárias, não demonstram “aparentemente”, compreensão do sincretismo religioso na Congada, envolvidos muito mais com a parte profana dos festejos – bailes, barracas, bebidas alcoólicas, etc.

As celebrações populares de Catalão, movimentam os mais diversos setores da sociedade – tu-rístico, comercial, religioso – decorrentes dos festejos do Rosário e da Congada. Suas interposições culturais e crenças, interpretações, dinâmicas, diálogos e como se relacionam sincreticamente aos olhos dos devotos. Conhecermos como tudo isso se manifesta no contexto popular, secular, trazendo um entendimento à luz da Ciência das religiões e da História das religiões, suas contribuições para uma reflexão mais ampla da cultura popular e das religiões de matriz africana. Congada se “constitui em sua essência pela espiritualidade advinda de religiões africanas, como o Candomblé e a Umbanda” (KATRIB, 2004, p. 27).

Portanto, o objeto desse estudo é olharmos no contexto da modernidade, frente aos novos desafios os quais o cenário das tradições religiosas e seus festejos populares, demandam de novas pesquisas acerca do sincretismo presente na Congada de Catalão. A diversidade acerca do universo religioso dos festejos populares pelo país, revelam a fé e a riqueza cultural brasileira. A resistência

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histórica e o legado das raízes africanas, na cadência dos congos – Congada –, a estética e os ritos nas manifestações. Segundo Carmo (2014, p. 1), a devoção dos negros aos santos católicos São Benedito e Nossa Senhora do Rosário esteve diretamente relacionada ao projeto de evangelização no período colonial.

Tradições populares, que contribuem para a formação crítica da consciência coletiva e novos sujeitos, da interculturalidade, dos elementos étnicos, religiosos, que se interpõem nestes autos de fé. Contribuindo no alicerce de uma sociedade mais justa, consciente, tolerante e multicultural. Abar-cando ritos, simbolismos, elementos imagéticos, dentro de uma mesma engrenagem cultural e social, conservando características específicas, singularidades e as subjetividades de cada uma.

Notas

1 SPHA – Superintendência de Patrimônio Histórico e Artístico, Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Velha matriz) - Catalão-GO. Tombamento: Lei nº 12.926, de 1996. A festa em louvor a Nossa Senhora do Rosário acontece, oficialmente, há 143 anos na cidade, nos primeiros quinze dias do mês de outubro.

2 Município brasileiro localizado ao sul do estado de Goiás, fundado em 1833, com uma população de 106.618 habitantes, segundo dados do IBGE (2018) e 261 km da capital Goiânia.

3 Segundo um levantamento feito pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), somente no estado de Minas Gerais, 701 festas do Rosário são realizadas atualmente, nomeadas também como congado, congo, reinado e, como já foi mencionado, congada, podendo receber ainda outras denominações (MO-RAIS, 2019, p. 2).

4 O jesuíta Antônio Pires dá notícia de que em 1552 os negros africanos de Pernambuco estavam reunidos numa confraria do Rosário, e se praticava na terra procissões exclusivamente compostas de homens de cor. Não se refere ainda a reis negros aqui, mas a indicação é muito sintomática (Andrade, 1935 apud CASCU-DO, 2002, p. 301).

5 Palavra de origem grega que significa “dispersão”. [...] Hoje se aplica também à desagregação que, compul-soriamente, por força do tráfico de escravos e, mais recentemente, das péssimas condições de vida na Áfri-ca, espalhou negros africanos por todos os continentes. O termo “Diáspora” serve também para designar, por extensão de sentido, a comunidade de africanos e descendentes nas Américas e na Europa (LOPES, 2015, p. 54).

6 A eleição de reis negros meramente titulares, a coroação deles, e as festas que proviam disso, Congos, Con-gadas, sempre até hoje se ligaram intimamente à festa, e mesmo à confraria do Rosário. Inda mais: as pro-cissões católicas eram cortejos que relembravam ao negro os seus cortejos reais da África (Andrade, 1935 apud CASCUDO, 2002, p. 301).

7 Os congueiros, sem uniforme, se reúnem na porta da igreja por volta das 3 horas da madrugada e saem pelas ruas com seus ternos. Depois, tomam café da manhã juntos (MACEDO, 2007, p. 98). 8IBGE - Censo Demográfico (2010).

9 Denominação altamente genérica e pejorativa, usada no Brasil para qualquer prática religiosa de origem africana.

10 Etimologicamente e em tradução livre, “divindade que habita a cabeça” (em iorubá, “ori” é cabeça, enquanto “xá”, rei divindade. São agentes divinos, verdadeiros ministros da Divindade Suprema (JÚNIOR, 2013, p. 29) 11 Associado ao orixá Ossaim no sincretismo religioso afro-brasileiro (JÚNIOR, 2013, p. 37).

12 “Meu batalhão / É de São Benedito / Bate forte / E pula bonito”. (GERALDO PREGO (música da congada) apud, MACEDO, 2007, p. 16).

13 Santa católica, objeto de devoção de comunidades negras em todo o Brasil. Seu culto, fez surgir tradições expressas em folguedos ritualizados, como congadas, traieiras etc. A devoção aos dois santos remonta a Angola do século 17, mesmo antes da canonização de São Benedito, em 1807 (LOPES, 2015, p. 122). 14 Folguedo e ritual da tradição afro-brasileira disseminado por várias regiões e ligado aos festejos coloniais

de coroação dos “reis do Congo”, mas acolhendo, no seu entrecho, elementos de origem europeia (LOPES, 2015, p. 47).

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