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CONCEPÇÕES DE IDOSOS LONGEVOS COM DEPENDÊNCIA FUNCIONAL SOBRE A VELHICE

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CONCEPÇÕES DE IDOSOS LONGEVOS COM DEPENDÊNCIA

FUNCIONAL SOBRE A VELHICE

Pollyanna Viana Lima1 Tatiane Dias Casimiro Valença2 Renato Novaes Chaves3 Elaine dos Santos Santana4 Jamília Brito Gomes5 Luciana Araújo dos Reis6 RESUMO: Este estudo teve por objetivo analisar as concepções de idosos longevos com dependência funcional causada pela velhice. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e descritiva, realizada em uma Unidade de Saúde da Família do Município de Vitória da Conquista/Bahia. Foram selecionados sete idosos com 80 anos ou mais, de ambos os sexos, que apresentavam dependência funcional, com condições mentais para responder às questões da entrevista e que aceitaram participar voluntariamente do estudo. Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram um questionário social, demográfico, econômico e epidemiológico e a entrevista semi dirigida. Para a análise das informações foi aplicada a Análise de Conteúdo Temático-categorial de Laurence Bardin, e para auxiliar na análise foi usado o software NVivo, versão 11.0. Por meio da análise foram obtidas três categorias temáticas, sendo elas (1) Concepção de velhice como patológica; (2) Concepção de velhice como negativa; e (3) Concepção de velhice como finitude. Essas categorias revelaram a relação com a vivência da doença e da dependência como marcador para concepção da velhice. Concluiu-se que os idosos concebem a velhice como patológica, incapacitante, relacionada a aspectos negativos da vida e a finitude.

Palavras-chave: idoso; atividades cotidianas; velhice.

ABSTRACT: This study aimed to analyze the conceptions that long-living elderly with functional dependence have about old age. It is a qualitative and descriptive research carried out in a Family Health Unit in the Municipality of Vitoria/ Bahia, with seven elderly people aged 80, of both genders, who presented functional dependence with mental conditions to answer the questions of the interview, and who agreed to participate voluntarily in the study. The instruments used for data collection were a social, demographic, economic and epidemiological questionnaire and the semi-directed interview. For the analysis of the information, Laurence Bardin’s thematic-categorical content analysis was applied, and in the analysis organization the NVivo software, version 11.0. By means of the analysis, three thematic categories were obtained, which were (1) old-age conception as pathological; (2) old-age conception as negative; and (3) old-age conception as finitude. These categories revealed the relationship with the experience of the illness and dependence as a marker for the old-age conception. It was concluded the elderly conceive old-age as pathological, incapacitating, related to negative aspects of life and finitude.

Keywords: elderly; daily activities; old-age.

1 Doutoranda em Memória: Linguagem e Sociedade da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB. Docente do

curso de Enfermagem da Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR. polly_vl@yahoo.com.br

2 Doutoranda em Memória: Linguagem e Sociedade da UESB. Professora Assistente do Curso de Fisioterapia da

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). tatidcv@ig.com.br

3Mestranda em Memória: Linguagem e Sociedade da UESB. Bolsista da CAPES. rnc_novaes@hotmail.com 4 Mestranda em Memória: Linguagem e Sociedade da UESB. Bolsista da CAPES. elasantana13@gmail.com

5 Mestranda em Memória: Linguagem e Sociedade da UESB. Psicóloga Organizacional e do Trabalho na Prefeitura Municipal

de Vitória da Conquista, BA – Brasil. jamiliabritopsi@gmail.com

6 Doutora em Ciências da Saúde pela UFRN. Professora Titular do Programa de Pós – Graduação Stricto Sensu em Memória:

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1. INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2002), é considerada idosa a pessoa com 60 anos ou mais, em países em desenvolvimento, e com 65 anos ou mais em países desenvolvidos. Esse conceito é baseado na idade cronológica e é um tanto limitante, no sentido que coloca o idoso numa homogeneidade, não considera as trajetórias de vida de cada indivíduo, as condições econômicas, de gênero e raça. Todavia, é a demarcação mais usual e necessária pelo fato de facilitar benefícios, políticas públicas e também pesquisas.

O seguimento de grupo populacional de idosos compreende uma extensa faixa etária; por isso, foi preciso dividi-la em segmentos. Os idosos jovens são os de idade igual ou superior a 60 anos até a faixa etária de 69 anos e os que passaram de 80 anos são os mais idosos ou idosos longevos, sendo esta última a faixa etária que mais tem crescido no Brasil nos últimos anos, devido principalmente ao aumento da expectativa de vida (BRASIL, 2013).

Além da ampliação no percentual de pessoas idosas, é observado também o aumento da expectativa de vida dessa população brasileira. Atreladas a esta transição demográfica ocorreram mudanças epidemiológicas, como a redução das doenças infectocontagiosas e aumento da ocorrência de doenças crônicas degenerativas que têm, na maioria das vezes, como grande consequência a incapacidade funcional (BRASIL, 2015).

A capacidade funcional é a condição que um sujeito tem para viver de forma autônoma e de se relacionar com o meio em que vivencia. Quando ocorre comprometimento desta capacidade, a pessoa torna-se dependente funcionalmente de outras pessoas (NOGUEIRA et al., 2010). A dependência funcional pode se iniciar com o surgimento de um déficit no funcionamento corporal e/ou psicológico e, consequentemente, provocar limitações nas atividades diárias com interferência na

independência e autonomia (YAP; BATCHELOR-MURPHY, 2015; GRATÃO et al.,

2013). Por outro lado, a independência é a capacidade de realizar algo com seus próprios meios; e a autonomia é a capacidade de decisão e comando (PAPALÉO NETO, 2011).

Em relação ao aspecto causal, a dependência funcional está relacionada a inúmeros fatores, como o ambiente, o modo de vida, as doenças

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crônico-degenerativas, entre outros (OLIVEIRA; PEDREIRA, 2012). A identificação prematura desses fatores pode contribuir para a prevenção da dependência funcional ou mesmo para ações iniciais de modo a evitar que o problema se agrave gerando maiores limitações, dependência e declínio na qualidade de vida dos idosos afetados.

Com o aumento da população e da expectativa de vida no país, estudos que buscam conhecer e discutir a dependência funcional em idosos longevos se tornam relevantes, pois, permitirão avançar no conhecimento das vivências e percepções acerca dos idosos longevos, sobre seu próprio processo de envelhecimento e o início da dependência funcional; seus papéis sociais, o significado para eles de autonomia e dependência; quais as dificuldades que os afetam; qual o seu conceito de saúde e qualidade de vida, entre outros aspectos (OLIVEIRA et al., 2012).

Além disso, estudos nessa temática são essenciais e urgentes para provocar uma reflexão sobre essa fase do ciclo vital que é muitas vezes vista de forma negativa e estereotipada. Assim, as informações concebidas podem ser utilizadas para o planejamento de ações de cuidado, promoção e manutenção da saúde e qualidade de vida do idoso longevo, seja na esfera pública, familiar ou social na qual esses indivíduos estão cada vez mais presentes. Para isso, se justifica o uso da pesquisa qualitativa, pois esta possibilita a compreensão dos fenômenos sociais, a partir da perspectiva dos próprios sujeitos investigados, tornando os dados mais contundentes (FALLER; TESTON; MARCON, 2015).

Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi analisar as concepções de idosos longevos com dependência funcional sobre a velhice.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa e descritiva realizada em uma Unidade de Saúde da Família da zona urbana do município de Vitória da Conquista/Bahia. Os sujeitos do estudo foram representados por sete idosos longevos com idade igual ou superior a 80 anos de ambos os sexos, cadastrados na unidade. A escolha dos idosos foi independente de cor, raça e grupo social, porém todos tinham dependência funcional e apresentavam condições mentais preservadas. Para tanto, os participantes do estudo foram selecionados a partir dos critérios de inclusão: ter idade superior a 80 anos, possuir condições mentais,

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segundo a avaliação do Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) (FOLSTEIN; FOLSTEIN; MCHUGH, 1975), (pontuação > 24 pontos); apresentar dependência funcional de acordo com a avaliação do Índice de Barthel (MINOSSO et al., 2010) e a Escala de Lawton (LAWTON; BRODY, 1969), e aceitarem participar voluntariamente do estudo. A partir dos critérios de inclusão, foram selecionados 8 idosos.

O Mini-Exame do Estado Mental composto por dez perguntas avalia quatro parâmetros: memória de curto e longo prazo; orientação; informações do cotidiano; e capacidade de cálculo (FOLSTEI; FOLSTEIN; MCHUGH, 1975). O Índice de Barthel utilizado para avaliar a capacidade funcional compõe-se de dez atividades: alimentação, banho, higiene pessoal, vestir-se, intestinos, bexiga, transferência para

higiene íntima, transferência – cadeira e cama –, deambulação e subida de escadas

(MINOSSO et al., 2010).

A Escala de Lawton também é utilizada para avaliar a capacidade funcional e reúne atividades mais complexas imprescindíveis para uma vida social autônoma, como: telefonar, efetuar compras, preparar as refeições, arrumar a casa ou cuidar do jardim, fazer reparos em casa, lavar e passar a roupa, usar meios de transporte, usar medicação e controlar finanças particulares ou da casa (LAWTON; BRODY; 1969).

Para coleta dos dados foi aplicado um questionário elaborado pelo pesquisador onde foram obtidos os dados sociais, demográficos, econômicos e epidemiológicos dos idosos participantes. Em seguida foi utilizada uma entrevista semidirigida com questões sobre a percepção do idoso sobre a velhice.

Inicialmente, foi realizada uma visita à residência do idoso para apresentação do pesquisador e do estudo. Posteriormente, foi marcado um novo encontro, em dia e hora determinados pelo idoso, para aplicação dos instrumentos de coleta dos dados. Esse processo ocorreu durante o período de janeiro a março de 2015. As entrevistas foram realizadas de forma individual, contando com a presença do idoso, do pesquisador e, em alguns casos com a presença de um familiar no ambiente, mas sem sua participação. As entrevistas foram gravadas com a autorização do idoso, sendo posteriormente ouvidas e transcritas para melhor entendimento e análise das informações.

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Para a análise dos dados, foi aplicada a análise de conteúdo temático-categorial de Laurence Bardin (BARDIN, 2011), que é um conjunto de técnicas de

análise das comunicações. Esta técnica está baseada em três fases: pré-análise,

exploração do material e tratamento dos resultados, inferência e interpretação.

Na etapa de pré-análise foi feita uma leitura flutuante, escolhido o documento, estabelecidas as hipóteses e objetivos e, por último, construídas a referenciação dos índices e a elaboração de indicadores. Em seguida, foi realizada a exploração do material com a definição de categorias e a identificação das unidades de registro e das unidades de contexto nos documentos. Na última etapa, foi efetivado o tratamento dos resultados, inferência e interpretação, ou seja, ocorreu o adensamento e o destaque das informações para análise, culminando nas interpretações inferenciais.

Para auxiliar no manejo dos dados e na organização da análise de conteúdo temática, foi usada a ferramenta computacional de suporte para análise dos dados

qualitativos NVivo, versão 11.0 (QRS INTERNACIONAL, 2013). É importante

ressaltar que todo o procedimento de interpretação foi exclusivo da pesquisadora, já que o software não efetua a análise dos dados.

Antes do início dos procedimentos de coleta de dados, o projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Independente do Nordeste com parecer de aprovação nº 759.441. Todos os participantes tiveram pleno conhecimento do estudo e de seus objetivos, assinando, para tanto, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a Resolução do Conselho

Nacional de Saúde (CNS)nº. 466/12 para pesquisa com seres humanos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Caracterização dos Idosos longevos com Dependência Funcional

Os resultados do questionário social, demográfico e epidemiológico revelaram que os idosos apresentam idade média de 87,2 anos, com a maioria do sexo masculino (n=4). Quanto à escolaridade, houve variação com presença de Analfabetos (n=2), Alfabetizados (n=2), concluintes do Ensino Fundamental (n=2) e do Ensino Médio (n=1). A renda familiar predominante foi a de um salário mínimo, obtido a partir da aposentadoria. As ocupações foram: trabalhador rural (n=2),

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professora (n=1), ferreiro (n=1), motorista (n=1), mecânico (n=1), do lar (n=1). No campo relativo à religião, os entrevistados se denominaram católicos (04), evangélicos (02) e espírita (01). As patologias apontadas entre os entrevistados mostraram o predomínio da Hipertensão Arterial Sistólica (n=6), seguida de osteoporose (n=2), artrose (n=3), Cardiopatia (n=2), Trombose Pulmonar (n=1) e Gastrite (n=1).

As entrevistas realizadas foram transcritas na íntegra em documento de texto e lançadas no software QSR NVivo. Em seguida procedeu-se à análise temático-categorial, resultando em três categorias: 1) Concepção de velhice como patológica; 2) Concepção de velhice como negativa; e 3) Concepção de velhice como finitude. Através deste software, também foi possível a apresentação panorâmica da frequência das palavras inerentes às ideias e aos conceitos alusivos a cada categoria, a partir de nuvens de palavras. Assim, a partir das unidades temáticas referentes às três categorias foi construída a nuvem de palavras a seguir (Figura 1):

Figura 1. Nuvem de palavras: Concepção de velhice para idosos longevos com

dependência funcional. Vitória da Conquista – BA, 2015.

Fonte: Dados da pesquisa

A nuvem de palavras da Fig. 1, construída a partir do software apresenta os vocábulos mais evocados pelos idosos ao indagá-los sobre a velhice. Observa-se que “vida”, “doenças”, “saúde”, “trombose”, “deprimida”, “problema”, “hipertensão”, “sozinha”, “velhice” e “lembro”, são as dez palavras que se encontram em maior

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destaque. Essas palavras corroboram as categorias resultantes das entrevistas, pois intensifica a demonstração do peso que as doenças têm na vida desses idosos e revela ainda a concepção negativa que eles têm da velhice.

Os vocábulos com maior frequência evidenciam significados negativos em relação à velhice com dependência funcional, sendo essa fase da vida descrita pela presença de doenças, depressão, problemas e solidão. Assim, os idosos participantes referiram medo diante da situação de não poderem desempenhar suas atividades diárias, de se tornarem dependentes pela doença, o que levou ao aparecimento de sentimentos negativos. O estudo realizado por Menezes et al. (2013) também chegou à conclusão de que os idosos concebem a velhice como um período negativo da vida relacionando-o com doença e com possíveis limitações. Esta percepção negativa da velhice pode estar presente antes mesmo do idoso apresentar a dependência funcional. Isso foi observado no estudo de Menezes et al. (2013) realizado com idosos independentes que correlacionaram a velhice com um estado de doença e incapacidade para realização de suas atividades da vida diária. Com base nos vocábulos em evidência na nuvem de palavras e na análise do conteúdo das falas, foi possível perceber que a velhice com saúde para os idosos longevos com dependência funcional ficou apenas nas suas lembranças. O viver a velhice no contexto atual é marcado pela presença de doenças, especialmente as crônico-degenerativas, que provoca uma velhice dependente, deprimida e carregada de problemas. Foi observado que uma das características na vida do idoso com dependência funcional é o saudosismo, sendo que estes recordam o tempo da juventude como um período no qual eles apresentavam vigor físico, força, independência e saúde (FALLER , TESTON, MARCON, 2015).

3.2 Categoria 1: Concepção de velhice como patológica

Foi questionado para cada idoso, durante a entrevista, se ele se sentia velho e, caso a resposta fosse positiva, com qual idade essa velhice havia surgido para ele. As respostas foram muito parecidas, pois todos se sentiam velhos e relacionavam o início da velhice com o começo da instalação de doenças e com o comprometimento da capacidade funcional. Os idosos deixaram claro que só se

sentiram velhos quando começaram a ter problemas de saúde e,

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maravilhosa, não parecia que eu era velho. Eu adoeci já estava com 72 anos. Começou a mudar a partir daí. Pra mim a velhice só começou com 72 anos”.

As narrativas dos idosos atestaram o quanto o início da velhice é difícil de ser mensurada. Usa-se a idade cronológica como um facilitador, porém é complexo definir, em uma prática real, a idade em que se inicia a velhice, pois cada um, a depender do meio em que vive e de fatores biológicos e sociais próprios, demarca um início para essa etapa da vida. O caráter progressivo e irreversível das doenças crônico-degenerativas não curáveis, que são mais frequentes nessa faixa etária e que geram dependência funcional, constitui um evento marcante na percepção da velhice (FALLER; TESTON; MARCON, 2015).

As pessoas, individualmente, definem a velhice de forma diferenciada. Além disso, cada sociedade a caracteriza conforme padrões sociais, econômicos e culturais. Em nossa sociedade predomina a associação da velhice com doença, morte, passividade física e mental (ZIMERMAN, 2007).

Com base nos relatos dos idosos longevos entrevistados, foi possível perceber o quanto as doenças exercem impacto sobre suas vidas ao provocarem

alterações em seu corpo gerando dor, sofrimento e dependência funcional: “Há

muitos anos a minha perna começou a dar uma dor forte, um problema de doença na perna e a gente vai ficando velha, aí vem as doenças”. Os idosos descreveram as alterações biológicas relacionadas à presença de sintomas característicos, principalmente de doenças crônico-degenerativas, que são comuns nessa fase do

ciclo vital. Guerra e Caldas (2010)realizaram um estudo com 47 pessoas idosas que

participavam de um grupo de terceira idade, e identificaram que uma parte significante dos entrevistados considera velhice como sinônimo de doença, havendo, também, uma negação pelos mesmos, justamente por pensarem que só há velhice quando há doença.

O idoso portador de uma patologia crônico-degenerativa pode vivenciar esta fase de maneira muito difícil, pois começa a rever seu conceito de saúde em virtude das limitações e incômodos físicos no seu dia a dia (VALENÇA; SILVA, 2011). Neste estudo ficou clara a correlação de saúde com autonomia física, principalmente porque essas doenças evoluíram e provocaram um quadro de dependência funcional caracterizado pela dificuldade para realizar as atividades da vida diária:

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“Eu fazia tudo, mas agora que veio a doença, não faço mais nada, porque eu não enxergo mais. Hoje eu que preciso de ajuda pra tudo”.

Para os idosos participantes deste estudo, a velhice só é percebida e torna algo concreto a partir do momento que as doenças se instalam de maneira a afetar a atividade funcional. Destaca-se que essa realidade não é um fato isolado, pois constantemente a concepção de envelhecimento é concebida tendo em vista problemas como doenças, perdas e incapacidade. O que ratifica uma descaracterização da velhice que a define como sinônimo de doença.

Deixamos claro que não se pode dizer que velhice seja sinônimo de doença, porém a sociedade ocidental repercute uma visão milenar da velhice atrelada a uma imagem negativa. Muitas vezes essa imagem é reforçada pela ciência biológica, que define essa fase da vida como uma degeneração orgânica irreversível e irremediável; fadada ao declínio das funções, das reservas fisiológicas e à chegada

iminente da morte (PEREIRA; GIACOMIN; FIRMO, 2015). Assim, ao se deparar

com a realidade da doença e da dependência, o idoso acaba por fazer a relação entre doença e velhice.

Ao se tornarem dependentes e fragilizados, os idosos relataram que

passaram a requerer cuidados de longa duração e a presença de um cuidadorou de

alguém que o auxilie nas atividades do cotidiano: “Dependo dos outros até pra andar, pra alimentar, pra tudo tem que ser levado, carregado por outras pessoas. Hoje dependo da minha filha pra tudo, até pra escovar os dentes, pra beber água, pra tomar banho”.

Estudo realizado com idosos dependentes assistidos pela Pastoral da Pessoa Idosa do município de Cascavel-PR verificou que o fato de depender de outras pessoas para realizar as atividades básicas da vida diária gera sentimentos de impotência e inutilidade, que provoca descontrole emocional (TAVARES et al., 2012). Em outro estudo, realizado por SILVA et al. (2012), foi possível evidenciar que a incapacidade funcional é a variável que mais interfere na concepção negativa em relação ao processo de saúde e velhice por parte de pessoas idosas.

3.3 Categoria 2: Concepção de velhice como negativa

Assim como todos os ciclos vitais, a velhice é uma etapa que apresenta aspectos negativos e positivos. Todavia, se sabe que ela, como última etapa da

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vida, vem associada ao acúmulo de alterações e dificuldades comumente relacionadas a um período existencial negativo (SCHINEIDER; IRIGARAY, 2008). Diante dos vocábulos apresentados na nuvem de palavras e dos discursos dos entrevistados ficou constatado que este foi o sentimento mais aparente nas entrevistas em relação à velhice.

Todos os idosos relataram o quanto é difícil viver sendo dependente de outras pessoas, e que consideram o momento atual como ruim. Passaram a se sentir incapazes e sem perspectivas e ainda relacionaram a velhice a momentos de

tristeza, solidão e sofrimento. “Minha vida depois da velhice só mudou pra ruim”.

A concepção negativa da velhice demonstrada pelos participantes deste estudo não é um sentimento de um grupo isolado. Outros estudos vêm evidenciando a representação negativa da velhice para idosos, principalmente para aqueles que sofrem com algum tipo de dependência. Isso legitima a concepção de que o estado de saúde tem papel determinante na maneira como esses sujeitos veem o processo do envelhecer (STACHESKI, 2012; FREITAS; QUEIROZ; SOUSA, 2010).

Adverte-se que esta negatividade está também fortemente relacionada a uma

construção social que afirma que “somente tem valor quem tem saúde e pode

trabalhar” e de que “velho doente só serve para dar trabalho”. Assim, essa concepção negativa da velhice não está relacionada apenas aos aspectos cronológicos e físicos, mas, também, a doenças, a dependência e a incapacidade para o trabalho (FALLER; TESTON; MARCON, 2015).

Essa visão depreciativa da velhice na sociedade ocidental é histórica e perpassa por mudanças sociais e econômicas que se iniciaram a partir do século XVIII, especialmente, devido aos novos modelos de produção. Dessa forma, o idoso, por não apresentar força física para a produção, se torna desvalorizado diante da sociedade. (BARBIERI, 2012).

Por sua vez, a negatividade na velhice possibilita o surgimento de sentimentos de insegurança, solidão, medo, inutilidades e ausência de expectativas. Portanto, cabe aos profissionais, familiares de idosos e todas as instituições que lidam diretamente com eles, alterar essa imagem negativa da velhice, com o intuito de reduzir aspectos que dificultam a própria aceitação da velhice, bem como a continuidade dessa fase com mais qualidade de vida.

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Diante do processo de dependência funcional e fragilidade, que pode afetar os idosos longevos, torna-se fundamental o cuidado e apoio da sua família. Com o envelhecimento, o idoso pode perder o seu papel de referência no âmbito familiar e social. Com isso, sentimentos de desamparo, abandono, solidão, depressão podem ser desencadeados trazendo consequências físicas, psicológicas e sociais. É necessário que os profissionais de saúde estimulem e desenvolvam ações para com a família, cuidadores e sociedade, em relação ao cuidado e maior atenção a estes idosos (OLIVEIRA; MENEZES, 2011).

A Política Nacional de Atenção Básica descreve que o cuidado em saúde da população idosa deve se dar tanto no âmbito da unidade de saúde, quanto no domicílio e nos outros espaços comunitários, e que essa assistência deve ser pautada na escuta qualificada das necessidades dos usuários, no caso deste estudo, nas percepções, necessidades e problemas dos idosos longevos com dependência funcional (OLIVEIRA, MENEZES, 2011). Só assim será possível conhecer e desenvolver um atendimento humanizado, criando o vínculo entre profissional, idoso e sua família. Para isso, é fundamental ouvir e conhecer as percepções dos idosos sobre a velhice com dependência funcional.

3.4 (3) Concepção de velhice como finitude

A partir do corpus do estudo, foi evidenciado também que a concepção que os idosos têm da velhice está relacionada ao fim da vida e a inexistência de perspectiva para o futuro: “Eu não espero mais nada. Só espero o dia que Deus me chamar. Futuro eu não vou fazer mais”. Dos sete idosos apenas um não vê a morte ligada a velhice e a dependência funcional, ficando clara a ideia de morte como uma perspectiva irremediável para um futuro próximo. No estudo realizado por Souza, Matias e Bretas (2010), foi demonstrado que o significado que os idosos têm sobre o envelhecimento está relacionado à decadência física, mental e proximidade com a morte.

Observou-se neste estudo que, para os idosos longevos entrevistados, o envelhecer com dependência funcional limita os planos para o futuro, pois o fim da

vida e a consequente chegada da morte são realidades irremediáveis: “Você vai

perdendo o ânimo das coisas, o estímulo. Quando a gente fica pensando o que fazer e não tem mais condição de fazer. Eu acho que é perto do fim”.

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A velhice é considerada um processo complexo permeado por agitações que vão alterando a trajetória de vida. Assim, a concepção da velhice para cada um pode variar (AMTHAUER; FALK, 2014) e a perspectiva de futuro e de morte pode estar relacionada à maneira como cada idoso viveu a sua trajetória, suas assimilações, adaptações e formas de enfrentamento das adversidades no decorrer da vida.

Foi observado, com este estudo, que todos os idosos encaram a morte com certa naturalidade, com a certeza de que já viveram muito, e que morrer é a última

etapa da vida. Porém, fica evidente na fala: “Tem que morrer, porque aí desocupa.

Sei que minha filha já tá cansada, mas não fala nada”, um sentimento de dar alívio para aqueles de quem dependem, pois morrer é uma forma de proporcionar o descanso aos familiares.

Essa ausência de perspectiva positiva relacionada ao futuro e até mesmo a ideia que têm acerca de morte podem estar relacionadas a distúrbios psicológicos, como distúrbios do humor, solidão, isolamento e depressão. Com o envelhecimento, ocorre um aumento da incidência de doenças psiquiátricas, como a depressão e, como consequência, o desenvolvimento de incapacidade funcional (LEITE, 2006).

Diante deste contexto, é importante destacar a adoção de um estilo de vida que busque estimular os aspectos psicológicos positivos em relação à vida presente e ao futuro, com vistas a reverter esse aspecto negativo relacionado ao envelhecimento como finitude da vida.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do cotejamento e análise das informações colhidas nas entrevistas, ficou claro que os relatos produzidos pelos participantes do estudo concebem a velhice como patológica, incapacitante e relacionada a aspectos negativos da vida. A investigação demonstrou ainda que os idosos não apresentam mais perspectiva para o futuro, e que a finitude é uma realidade encarada por eles como algo normal. Depreendeu-se também, diante dos discursos dos idosos, que a concepção que eles têm da velhice está relacionada à etapa da vida carregada de fragilidade e incapacidades.

Essa visão estigmatizada e negativa da velhice relacionada à doença, incapacidade, inutilidade, dependência e morte não deve imperar na percepção dos profissionais da área da saúde que estão em contato direto com estes idosos em

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sua prática. É necessário mostrar para o idoso, sua família e para a sociedade em geral que, mesmo com implicações na saúde, é possível buscar formas de se adaptar às adversidades advindas com a doença e, assim, viver uma velhice com qualidade. Para isso é preciso investir na implantação de ações de prevenção e identificação precoce da instalação dessas doenças e a adoção de medidas terapêuticas adequadas para tratar os sintomas de maneira adequada. Assim, será possível evitar ou diminuir a dependência funcional e promover uma melhora na qualidade de vida desses indivíduos.

Certamente, não se esgotaram os debates acerca das temáticas que emergiram no estudo realizado. De tal forma, espera-se que as lacunas possam servir de ponto de partida para pesquisas posteriores.

AGRADECIMENTOS

O primeiro autor agradece a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Bahia (FAPESB) pela bolsa e pelo auxílio dissertação concedido durante o mestrado, e aos idosos que participaram como voluntários no estudo.

REFERÊNCIAS

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Recebido em: 03 de abril de 2016 Aceito em: 18 de agosto de 2016

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Figura 1. Nuvem de palavras: Concepção de velhice para idosos longevos com  dependência funcional

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