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A “questão social” como objeto de estudo do Serviço Social: suas refrações na Política de Assistência Social e os desafios profissionais do assistente social / The "social question" as object of study of Social Work: its refractions in the Social Assistan

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761

A “questão social” como objeto de estudo do Serviço Social: suas refrações na

Política de Assistência Social e os desafios profissionais do assistente social

The "social question" as object of study of Social Work: its refractions in the

Social Assistance Policy and the professional challenges of the social worker

DOI:10.34117/bjdv6n7-436

Recebimento dos originais: 15/06/2020 Aceitação para publicação: 17/07/2020

Ana Caroline Freitas do Monte e Silva Forte

Assistente Social; Mestre em Serviço Social, Trabalho e Questão Social. Instituição: Universidade Estadual do Ceará

Endereço: Rua José Vilar, 261 - Meireles, Fortaleza – CE, Brasil E-mail: carolinefreitasmsf@gmail.com

RESUMO

O presente artigo tem como propósito analisar a (re) produção das expressões da “questão social”, como objeto de estudo do Serviço Social, tendo como enfoque as demandas da Política de Assistência Social, identificando os desafios postos para o Serviço Social na atualidade. Para tanto, faz-se inicialmente uma introdução sobre o contexto embrionário da profissão e, em seguida, uma discussão sobre a temática “questão social”. Foi utilizada, para elucidação desse estudo, pesquisa bibliográfica citando autores como: Netto, Castel, Rosavallon, Iamamoto, Yazbek, entre outros. As conclusões pertinentes apresentadas no presente trabalho indica, sem querer encerrar aqui as altercações hermenêuticas sobre esse tema, repensar a prática e a teoria, na Política de Assistência Social, numa interlocução para a práxis, vislumbrando horizontes para a prática profissional.

Palavras-chave: “Questão Social”; Política de Assistência Social; desafios profissionais; assistente

social.

ABSTRACT

The purpose of this article is to analyze the (re) production of the expressions of the "social question", as object of study of Social Work, focusing on the demands of the Social Assistance Policy, identifying the challenges posed to Social Work today. To do so, an initial introduction is made on the embryonic context of the profession and then a discussion on the theme "social issue". For the elucidation of this study, bibliographical research will be used, mentioning authors such as: Netto, Castel, Rosavallon, Iamamoto, Yazbek, among others. The pertinent conclusions presented in this paper indicate, without wishing to close here the hermeneutic altercations on this theme, to rethink the practice and theory, in the Social Assistance Policy, in a dialogue for praxis, looking at horizons for professional practice.

Keywords: "Social issues"; Social Assistance Policy; professional challenges; social worker.

1 INTRODUÇÃO

O presente texto tem por objetivo fomentar o debate acerca do objeto de estudo do assistente social e suas expressões/ manifestações na contemporaneidade, e, em seguida, analisar os desafios do

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 assistente social nesse contexto, tomando por particularidade o campo da Política de Assistência Social.

O Serviço Social caracteriza-se como uma profissão inscrita no terreno político e ideológico e uma atuação de caráter educativo e pedagógico das classes e tem seu significado sócio-histórico inscrito na dinâmica da vida social: no desenvolvimento monopolista e nas forças sociais em luta. Afirma-se como um conjunto de práticas sociais, acionado pelas classes e mediado pelo Estado, através das políticas sociais, para responder as demandas da classe trabalhadora e as expressões da “questão social”.

O surgimento do Serviço Social está umbilicalmente ligado à trajetória do capitalismo, e a mesma é entendida e compreendida no processo de constituição e desenvolvimento da sociedade do capital1, especificamente em sua fase monopólica.

Dessa forma, o Serviço Social surge como um mediador das classes fundamentais - proletariado e burguesia-, e se desenvolve em um contexto social, político e econômico internacional do trânsito do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista, também conhecido como “estágio imperialista” (NETTO, 1992). Tais repercussões e transformações societárias no processo de desenvolvimento monopólico2 do capital faz emergir, desenvolver-se e profissionalizar-se o Serviço Social.

Segundo Martinelli (1989) o Serviço Social já surge como uma identidade atribuída, engendrada nos moldes do capitalismo, para atender os interesses da classe burguesa, afirmando-se historicamente como uma pratica humanitária, como uma mistificada ilusão de servir, determinando, dessa forma, um percurso alienante da pratica profissional. Em um contexto internacional, a profissão surge a partir de uma iniciativa da Sociedade de Organização da Caridade (1869), que trata as expressões da “questão social” na perspectiva de problemas sociais individuais de caráter moral.

No Brasil, o Centro de Estudos de Ação Social (1932) funda a primeira escola de Serviço Social em São Paulo (1936) que forma os primeiros agentes sociais. Sob o imperativo do

1 Como nota introdutória, para Karl Marx, capital é uma relação social e capitalismo um determinado modo de produção

caracterizado pelo processo de dominação dos meios de produção por uma classe a compra e venda da força de trabalho, como o intuito de extração da mais-valia. Dando origem a apropriação privada dos bens produzidos coletivamente. Traço definidor desse sistema é a posse privada dos meios de produção por uma classe e a exploração da força de trabalho daqueles que não os detêm, radicalizando a pobreza das classes subalternas.

2 A constituição da organização monopólica surge no final do século XIX e inicio do século XX e caracteriza-se como

um modelo econômico baseado na fusão do capital industrial com o bancário, no investimento especulativo do mercado de ações e na dívida pública, na concentração da produção e centralização da pobreza, na maximização dos lucros, no controle dos mercados, pela fusão das grandes empresas multinacionais, em um contexto de desregulamentação e liberalização da economia. Também conhecido como capitalismo financeiro caracteriza-se como um modo de estruturação da economia mundial baseada na financeirização da economia, no capital fetiche, ou capital que rende juros, no processo de coisificação do capital, capaz de gerar lucros em cima dele mesmo, na esfera estrita das finanças (IAMAMOTO, 2007); e na mundialização do capital, baseado na abertura dos mercados.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 comunitarismo cristão, a profissão surge de uma iniciativa da Igreja Católica, do empresariado e do Estado, como um departamento especializado de ação social da Igreja Católica, sob influência franco-belga, dos ideários de São Tomás de Aquino (do tomismo e do neotomismo), sob uma perspectiva sociológica, de atuação da prática humanitária e caritativa, o Serviço Social Brasileiro difere-se do Serviço Social americano, este, baseado em uma linha psicanalítica de ação social, na perspectiva do trabalho social, diferenciando-se de praticas caritativas.

O Serviço Social desenvolve-se e profissionaliza-se no processo de surgimento das instituições assistenciais, da década de 1940, período em aproxima-se do Serviço Social americano, na prática do Serviço Social de Caso, Grupo e Comunidade, baseado no positivismo, na busca da tecnificação da atuação profissional. Nos anos de 1950 surge a abertura do mercado de trabalho nas empresas e em 1960, a profissão repensa criticamente sua atuação tradicionalista e conservadora, aproximando-se da teoria social marxista, embora em tortuoso processo (NETTO, 1990).

O Movimento de Reconceituação (1965-1975) surge como uma inciativa latino-americana que buscava romper com a prática tradicionalista historicamente construída. O Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio do Serviço Social – CBCISS dará inicio no processo de renovação com a abertura de seminários de teorização, no sentido de tecnificar a profissão, são essas: O Seminário de Araxá (1967), Teresópolis (1970), Sumaré (1978) e Alto da Boa Vista (1984).

No entanto, o contexto politico, no Brasil, de ditadura militar impossibilitou um posicionamento mais crítico e reacionário do Serviço Social esse movimento de renovação redundou em um processo de tecnificação-conservadora, que teve como momentos, em ordem cronológica: a vertente modernizadora, ou modernização conservadora, baseada na matriz positivista e em abordagens funcionalistas e estruturalistas; a vertente reatualização do conservadorismo, baseada na matriz fenomenológica e na metodologia dialógica de transformação social; e por último, a vertente intenção de ruptura, com a aproximação do marxismo “althusseriano”, e baseado numa abordagem reducionista dos “marxismo de manual” (NETTO, 1990), cuja imersão deu-se com o “Método BH”. É nos anos de 1980 que o Serviço Social faz uma efetiva interlocução com a teoria social crítica marxista, como uma matriz teórico-metodológica que apreende o ser social a partir de suas mediações. Entendendo que a natureza relacional do ser social não é percebida na sua imediaticidade, e partindo do conceito de que a verdade não se revela na sua imediaticidade, dando a pesquisa social ares de cientificidade, fugindo do senso comum (NETTO, 1992).

Nessa mesma década a profissão adquire maturidade profissional, dialogando com autores marxistas como: Antônio Gramsci, Agnes Heller, Eric Hobsbawn, Georg Lukács (YAZBECK, 2009); desenvolve-se na pesquisa e ganha visibilidade no âmbito das Ciências Sociais, na Construção do seu Projeto Ético Político profissional, compromissado com as classes subalternas; na reflexão da ética

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 profissional; no avanço e constituição de entidades da categoria, ampliando necessidades, exigências e novas demandas das instituições empregadoras.

Atualmente, o Serviço Social afirma-se como uma profissão particular inserida na divisão sócio-técnica do trabalho coletivo, e está inserida no processo de reproduções das relações sociais, reprodução material e espiritual (na consciência social, jurídica, filosófica, artística e religiosa) e na reprodução da luta de classes, imbuída da teoria social crítica marxista (IAMAMOTO, 2009).

2 QUESTÃO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

O termo “questão social” é um tema bastante debatido entre os teóricos nas Ciências Sociais, e também de grande relevância, pois tenta explicar a raiz dos males da pobreza e da desigualdade social. Alguns autores possuem teses importantes a respeito da categoria “questão social” que, apesar de procedência diversa e de atribuições de sentido muito distintas, não podem ser desmerecidas em seu contexto. Algumas dessas teses serão objeto de análise nesse tópico.

Para iniciar a questão da “questão social”, importante se faz acentuar que esse termo segundo José Paulo Netto (2005) data de cento e setenta anos e surge para explicar um fenômeno evidente da Europa Ocidental consequência dos impactos da primeira revolução industrial: o pauperismo. O termo foi propalado por “críticos da sociedade e filantropos situados nos mais variados espaços políticos” como para explicar a resignação da classe trabalhadora pelo abismo que se formava entre ricos e pobres. (NETTO, 2005, p. 42).

No entanto, esse termo foi sendo apropriado pelo pensamento conservador laico e confessional, e sorrateiramente naturalizado, perdendo paulatinamente sua estrutura histórica determinada. A partir de então, o pensamento revolucionário passou a identificar, na própria expressão “questão social”, uma tergiversação conservadora e a só empregá-la utilizando aspas. (NETTO, 2005).

Diante desse contexto e utilizando como referência a obra de Karl Marx em O Capital, Netto conclui que a “questão social” é constitutiva do desenvolvimento do capitalismo e que não se suprime a primeira conservando-se o segundo.

“O desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a “questão social” (...). Esta não é uma sequela adjetiva ou transitória do regime do capital: sua existência e suas manifestações são indissociáveis da dinâmica especifica do capital tornado potência social dominante (...) a “questão social” está elementarmente determinada pelo traço próprio e peculiar da relação capital / trabalho - a exploração” (NETTO, 2005, p. 45)

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Para Santos (2012) o surgimento da “questão social” tem o seu núcleo fundante na “Lei de Acumulação Capitalista”, e na generalização do trabalhador livre, no trânsito da sociedade feudal para o capitalismo.

Dessa forma, é praticamente consenso que a concepção de “questão social” está enraizada na contradição capital x trabalho, em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção.

A concepção de “questão social” mais difundida no Serviço Social é a de CARVALHO e IAMAMOTO (1983):

“A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão” (CARVALHO e IAMAMOTO, 1983, p.77). Não contraditória à esta concepção, temos a de TELES(1996):

“... a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação” (TELES, 1996, p. 85).

Nessa concepção, a “questão social” é uma categoria que expressa a contradição fundamental do modo capitalista de produção. Contradição, esta, fundada na produção e apropriação da riqueza gerada socialmente: os trabalhadores produzem a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que o trabalhador não usufrui das riquezas por ele produzidas.

Potyara Pereira (2001) assevera ainda nesse contexto que a “questão social” não é apenas sinônimo da contradição entre capital e trabalho e entre forças produtivas e relações de produção, “mas de embate político determinado por essas contradições”.

Portanto, com esse embate político, fruto da contradição fundamental do capital, exposto para a sociedade, em um contexto de crise do modelo econômico liberal (pelo surgimento da classe operária, as manifestações trabalhistas, as mudanças no mundo da produção, o processo de monopolização do capital, a Revolução Socialista (1917) e a Crise Econômica de 1929), ocorrem algumas mudanças na natureza do Estado. Mudanças essas como estratégia de contenção, intervindo nas sequelas da “questão social”, através de políticas públicas sistemáticas, favorecendo tanto a manutenção do sistema monopólico do capital como a constituição dos direitos sociais e de cidadania da classe trabalhadora.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 É com esse acirramento de classes e manifestações contundentes da classe operária que surgem importantes conquistas trabalhistas como: o primeiro seguro saúde nacional na Alemanha, em 1882, criado por Otto Von Bismarck, caracterizado como sistema de seguro social bismarckiano; e a constituição do Estado Providencia na França, em 1898. (BEHRING E BOSCHETTI, 2008).

Nesse contexto, o modelo econômico liberal é substituído pelo Regime de Acumulação “fordista-keynesiano”, como estratégica hegemônica do capital, que baseia-se nas ideias de Herny Ford e Jonh M. Keynes. Fundamentado em um modo de produção e consumo em massa de mercadorias, produção verticalizada, no trabalho mecânico e rotineiro, associada a maior intervenção do Estado na economia, com vistas a garantir o pleno emprego. (HARVEY, 1993)

O regime de acumulação “fordista-keynesiano” impulsiona a economia e dá bases para o surgimento do Welfare State, ou Estado de Bem Estar Social, que caracteriza um momento de expansão das politicas sociais, chamado “ANOS DE OURO” das politicas sociais, de 1945 a 1965. No entanto, a desarmonia entre gastos públicos e crescimento econômico capitalista é o principal fator para o estabelecimento de uma profunda crise estrutural iniciada na década de 1970, sendo a Crise do Petróleo sua expressão maior, tendo forte repercussão para a classe-que-vivi-do-trabalho, no desmonte do sistema de proteção trabalhista (ANTUNES, 2001).

Tais mudanças na economia modifica também o sistema de produção, sendo o fordismo substituído pelo toyotismo, modelo de produção japonês, como exemplo o : “just in time”, o Kaban, os Cículos de Controle de Qualidade, etc. Baseado no processo de produção heterogênea e horizontal, no trabalhador qualificado e polivalente, tendo como principal característica a adoção do “regime de acumulação flexível”, baseado na flexibilização das relações trabalhistas (HARVEY, 1993), no processo de terceirização, na reengenharia ou reestruturação produtiva, tendo como consequências a desregulamentação enorme dos direitos do trabalho; o aumento da fragmentação da classe trabalhadora; a precarização e terceirização da força de trabalho e a destruição do sindicalismo de classe, enfraquecendo a classe trabalhadora (ANTUNES, 2001).

Essas transformações na economia política do capitalismo no final do século XX marca significativamente o período pós-moderno e a esfera da cultura, caracterizada pelo culto ao efêmero, ao fulgaz e ao fragmentado, numa crítica à razão e a ciência, afetando as relações humanas e sociais, com a banalização do individuo e do humano, com o processo de mercantilização universal, a indiferença e a descartabilidade em relação ao outro, a naturalização das relações sociais e a submissão das necessidades humanas ao poder das coisas (HARVEY, 1993)

Todos esses fatores contribuíram para que alguns autores no âmbito das ciências sociais acreditassem existir, após a década de 1970 como o fim dos “Trente Glorieuses” e a crise do Estado Providência, uma “nova questão social”. Pierre Rosavallon, renomado estudiosos da questão social,

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 autor de diversos livros e historiador das ideias políticas da França foi o pioneiro nessa análise e defendia a ideia de que a década seguinte deu início a um crescimento acelerado do desemprego e a novas formas de pobreza, o que caracterizaria, segundo o autor, que “não há um simples retorno aos problemas do passado” e que a década de 1990 principia uma nova fase para a sociedade capitalista (ROSAVALLON, 1998).

“Os fenômenos atuais da exclusão não se enquadram nas antigas categorias da exploração do homem. Assim, surgiu uma nova questão social (...). O surgimento de uma nova questão social traduz-se pela inadaptação dos antigos métodos de gestão do social, como testemunha o fato de que a crise do Estado Providência, diagnosticada no fim dos anos 1970, mudou de natureza (ROSAVALLON, 1998, p. 23)

O autor Robert Castel (2010) corrobora com Rosavallon (1998) em sua obra ilustre “As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário” em que faz uma análise antropológica de toda a situação na França após a crise do Estado Providência, elencando os novos problemas que surgem a partir de então, e apontando a constituição da nova questão social e seus três pontos relevantes de cristalização na perspectiva do trabalho, são essas: a desestabilização dos estáveis, a instalação na precariedade e a precarização do emprego e o aumento do desemprego, impulsionando o que o autor chama de inutilidade social dos supranumerários.

“Assim como o pauperismo do século XIX estava inserido no coração da dinâmica da primeira industrialização, também a precarização do trabalho é um processo central, comandado pelas novas exigências tecnológicas-econômicas da evolução do capitalismo moderno. Realmente, há aí uma razão para levantar uma “nova questão social” que, para espanto dos contemporâneos, tem a mesma amplitude e a mesma centralidade da questão suscitada pelo pauperismo na primeira metade do século XIX” (CASTEL, 2010, p. 526).

Entretanto, para autores como J. P. Netto essa caricatural descoberta torna ainda mais problemáticas as possibilidades de reformas no interior do regime do capital, o sentido em que se perde a essência da contradição fundamental da sociedade capitalista. Isso quer dizer que pensar em uma nova questão social é romper coma ideia central e descontruir a apropriação de que a mesma é o produto e expressão da contradição entre capital/ trabalho e acirramento da sociedade de classes. Segundo o autor, do “ponto de vista teórico não apresenta uma só determinação que resista ao exame rigoroso na esteira da crítica da economia política marxiana”.

“A tese aqui sustentada é que inexiste qualquer ‘nova questão social’ (...) O que devemos investigar é, para além da permanência de manifestações tradicionais da ‘questão social’, a emergência de novas expressões da ‘questão social’ que é insuprimível sem a supressão da ordem do capital” (NETTO, 2005, p. 48).

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Potyara Pereira (2001), apesar de concordar que estamos presenciando uma nova conjuntura social, vivenciando aspectos como a globalização, a reestruturação na economia e a desnacionalização do capital, discorda do adjetivo “nova” questão social, haja vista que, segundo a autora, esse termo refere-se basicamente a manifestações contemporâneas de problemas que são engendrados pelas contradições fundamentais já referidas e de “se propugnar métodos de gestão do social cuja principal novidade é a de serem diferentes dos adotados pelo Welfare State keynesiano”. “Tudo isso, compõe um quadro que, do ponto de vista conjuntural, é novo, porque a história não se repete. Mas, estruturalmente, esse quadro é determinado pelo secular confronto entre forças produtivas e relações de produção que, por sua vez, responde pelo velho fenômeno da desigualdade social, hoje mais acirrada. Este é, recorrendo a Marx, o segredo íntimo, o fundamento oculto de todo o edifício social, e que está na base da questão social (velha, nova, efetiva ou potencial)” (PEREIRA, 2001, p. 55).

A “questão social” na contemporaneidade, portanto, apesar de ter suas peculiaridades que inovam em alguns aspectos do ponto de vista conjuntural da sociedade, possui sua essência na lógica de acumulação capitalista e no acirramento de classes. As ideias que subsumem ou escondem a essência da “questão social” – como é o caso dos termos “nova pobreza”, “exclusão3”... - abrem precedentes para obscurecer também os fundamentos que explicam os fenômenos que deram origem ao termo. Portanto a modificação desse termo impede a sua real compreensão.

Para o Serviço Social parece consenso essa apreensão, apesar de sua análise ainda ser elemento de discussão, principalmente ao que diz respeito à apreciação sobre o objeto de estudo do Serviço Social. O próximo tópico iniciará uma breve interlocução teórica entre autores sobre o tema para tentar buscar esclarecimentos a essa questão.

3 A “QUESTÃO SOCIAL” COMO OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL

A profissão atua nas diversas manifestações da “questão social”, esta, por sua vez, tem sua maior expressão pela literatura profissional como o acirramento da luta de classes, e o seu aparecimento para o cenário político da sociedade, impondo maior intervenção do Estado nas relações sociais das classes fundamentais. Como resultado desse processo surge o Serviço Social para dar respostas às expressões da “questão social”.

No entanto, a análise da definição sobre o objeto de trabalho do assistente social ainda é elemento de discussão para estudiosos do Serviço Social, mas a compreensão do tema tem

3 A amplitude com que se utiliza o termo “exclusão” na sociedade contemporânea é alvo de discussão na obra “As

armadilhas da exclusão” de Robert Castel (1997), em que o autor propõe uma análise desse termo de forma moderada, haja vista que o uso impreciso dessa palavra oculta o estado atual da “questão social”.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 predominância, para a categoria profissional, na acepção de Iamamoto (1997), que considera ser a “questão social” o objeto de trabalho profissional quando afirma que:

“Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. [...] ... a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social”(IAMAMOTO, 1997, p. 14).

No entanto, sobre o objeto de estudo do Serviço Social ainda existem alguns questionamentos para a literatura profissional especializada a respeito da sua definição, do ponto de vista analítico. O entendimento como colocar a “questão social” como objeto do Serviço Social, para alguns autores, como Machado (1999) pressupõe dois caminhos: “ou se destitui a questão social de toda a abrangência conceitual, ou se retoma a uma visão do Serviço Social como o único capaz de atuar nas mudanças/transformações da sociedade”.

É indiscutível, portanto, que o assistente social atue no âmbito das desigualdades sociais ou, mais genericamente, nas diversas manifestações da “questão social”, mas, segundo alguns teóricos, como Machado (1999), Pereira (2001), Faleiros (1997), não seria objeto exclusivo do Serviço Social, já que outras profissões também têm suas atuações determinadas por ela, como por exemplo:

“o médico que atende problemas de saúde causados por fome, insegurança, acidentes de trabalho, etc.; o engenheiro que projeta habitações a baixo custo; o advogado que atende as pessoas sem recursos para defender seus direitos; enfim, os mais diferentes profissionais que, também, atuam nas expressões da questão social” (MACHADO, 1999, p. 4).

Segundo Faleiros (1997, p. 37):

“... a expressão questão social é tomada de forma muito genérica, embora seja usada para definir uma particularidade profissional. Se for entendida como sendo as contradições do processo de acumulação capitalista, seria, por sua vez, contraditório colocá-la como objeto particular de uma profissão determinada, já que se refere a relações impossíveis de serem tratadas profissionalmente, através de estratégias institucionais/relacionais próprias do próprio desenvolvimento das práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações dessas contradições o objeto profissional, é preciso também qualificá-las para não colocar em pauta toda a heterogeneidade de situações que, segundo Netto, caracteriza, justamente, o Serviço Social”.

Para tanto, segundo o referido autor, o objeto do Serviço Social se definiria pelo empowerment:

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 “A questão do objeto profissional deve ser inserida num quadro teórico-prático, não pode ser entendida de forma isolada. Penso que no contexto do paradigma da correlação de forças o objeto profissional do serviço social se define como empoderamento, fortalecimento, empowerment do sujeito , individual ou coletivo, na sua relação de cidadania (civil, política, social ,incluindo políticas sociais), de identificação ( contra as opressões e discriminações), e de autonomia ( sobrevivência, vida social, condições de trabalho e vida...)” (fonte: correspondência pessoal, 15/10/1999)

Dessa forma, o entendimento para Faleiros (1997) da definição da “questão social” como objeto profissional não estabelece a especificidade profissional, mas sim apenas um espaço de atuação profissional.

As acepções de cada autor aqui apresentadas não objetiva definir ou defender a opção por um ou outro objeto, mas sim, repensar como o objeto do Serviço Social tem sido colocado a fim de repensá-lo para dar maior objetividade à atuação profissional.

O próximo capítulo apresenta as expressões da “questão social” na Política de Assistência Social, a fim de expor e analisar os desafios no cotidiano do trabalho do assistente social.

4 AS EXPRESSÕES DA “QUESTÃO SOCIAL” NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E OS DESAFIOS POSTOS PARA O SERVIÇO SOCIAL

A Política de Assistência Social é uma política pública de Seguridade Social, não contributiva, que foi incluída no texto Constitucional desde 1988 no Brasil, a partir de amplas iniciativas e reinvindicações dos movimentos sociais com o processo de redemocratização do país na década de 1980. Esta visa prover os mínimos sociais, através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, promovendo a proteção social, a defesa e a garantia de direitos à população brasileira, de forma articulada às demais.

A Política de Assistência Social vem se instrumentalizando e ampliando suas possibilidades de alcance ao longo dos anos, sendo importante para a contenção da miséria e a diminuição da desigualdade e da pobreza. Esta vem ganhando visibilidade e avanços com a elaboração e constituição da LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social, LEI Nº 8.742, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1993; do SUAS- Sistema Único de Assistência Social, em 2003; da PNAS – Politica Nacional de Assistência Social, em 2004, e com a estruturação dos equipamentos de Proteção Social Básica e Proteção Social Especial, como CRAS, CREAS, Centro POP e as Unidades de Acolhimento.

O assistente social vem ganhando destaque nesse campo profissional com o planejamento, gestão, avaliação e execução, principalmente pelo processo de municipalização e descentralização administrativa da política de assistência social, atuando em diversos setores como: CRAS, CREAS, CAPS, entre outros. Este lida no cotidiano profissional com diversas manifestações da questão social.

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Segundo Silva (2017), em pesquisa sobre a “questão social e o trabalho do assistente social nos CRAS, as “múltiplas expressões da questão social que se apresentam no cotidiano do CRAS, desafiam o assistente social quanto à proposição e respostas às múltiplas demandas dos usuários” (SILVA, 2017, p. 3). A autora ainda destaca alguns exemplos dessas expressões nos CRAS:

“Usuário(a) soropostivo que sofre processo de segregação e discriminação por sua condição de saúde, é excluído (a) do mercado de trabalho, não tem renda fixa, nem suficiente para suprir suas necessidades sociais, assim como dos seus filhos. Idoso (a) que sofre negligência, violência psicológica e financeira por parte dos familiares que na maioria das vezes são sustentados pelos próprios idosos, somados ao alcoolismo, a drogadição, subemprego, conflitos familiares. Criança, órfã de mãe, o pai é presidiário, convive com avó paterna que apresenta um quadro de saúde debilitado e precárias condições de sobrevivência. A criança vivencia processo de evasão escolar. Grande demanda de atendimento psicosocial, inclusive de adolescente com diagnóstico de esquizofrenia, crianças com síndromes, distúrbios mentais que convivem mutuamente com outros fatores socioeconomicos ( violência doméstica, trabalho precário e informal, drogadição) que conformam a situação de vulnerabilidade e risco social”.

A adoção de políticas neoliberais na década de 1990 no Brasil colocam em andamento processos desarticuladores, de desmontagem e de retração de direitos e investimentos no campo social. Isso resulta em uma desarticulação, em especial, da política de Assistência Social, e consequentemente, em sua operacionalização, defrontando-se com a fragmentação e focalização, em que se avulta o caráter funcionalista dessa política social para a sociedade capitalista.

Com o desmonte das políticas públicas, em especial, da Assistência Social, o exercício profissional do assistente social é diretamente afetado, retomando o que Yazbek (1993) chama de “refilantropização do social”. Reproduz-se o individualismo na sociedade da mercantilização das pessoas, a teoria pós-moderna, com a efemeridade das coisas e pessoas, a predominância do sentimento de “solidariedade” em relação ao próximo, retornando à concepção da assistência social como um não direito, valores ainda correntes no cenário atual, que aponta uma tendência de inflexão e perda de direitos.

A esse respeito, segundo pesquisa elaborada por Adnari Moreira de Souza, nos Centros de Referência de Assistência Social no município de Fortaleza, sobre o trabalho do exercício profissional do assistente social nos CRAS:

“É nesse cenário adverso que os Assistentes Sociais vivenciam no cotidiano o trabalho profissional, sendo também submetidos, como trabalhadores assalariados, às estratégias do Estado capitalista, aos baixos salários, precárias condições de trabalho e flexibilização das formas contratuais, tendo em vista a crescente terceirização como forma de empregabilidade.(...) Esse percentual denota a alta rotatividade desses profissionais, que, em decorrência da precarização do referido vínculo, são levados a buscar alternativas de trabalho e renda. Tal mobilidade leva à fragilização e comprometimento em relação à continuidade das ações desenvolvidas nas respectivas áreas de intervenção profissional.” (SOUZA, 2015, p. 5-7).

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 Essa retração dos direitos sociais atinge diretamente as políticas sociais, em especial a Política de Assistência Social, retrocedendo à política do não direito, e consequentemente, a atuação profissional do assistente social, que se vê limitado quanto a sua ação e posicionamento, para dar respostas às demandas apresentadas no cotidiano profissional, sendo este um agravante na prática profissional consequência do processo de desmonte dos direitos sociais.

Atualmente, na vigência da crise econômica, política e moral do governo pós - neodesenvolvimentista brasileiro, a classe trabalhadora observa seus direitos sendo ameaçados de forma ainda mais acentuada e severa. Ainda sobre as políticas públicas tem-se observado sua retração em benefício do grande capital e da classe empresarial, inclusive sobre a Política de Assistência Social, que tem seu orçamento gravemente atenuado com a diminuição dos benefícios sociais e a falta de recursos dos equipamentos sociais.

O que representa um contrassenso ou um paradoxo, pois, é no momento em que a população mais necessita de amparo social - haja vista a explosão do desemprego e do aumento da pobreza - que o Estado enxuga seu orçamento para as políticas sociais.

Essas alterações que incidem no chamado mundo do trabalho e nas relações entre o Estado e a sociedade atingem diretamente o trabalho cotidiano do assistente social. Tal conjuntura torna-se ainda mais complexa, quando pensada que a mesma é influenciada tanto pelo desmonte dos recursos destinados pelo governo à Assistência Social, quanto pela precarização das condições de trabalho do assistente social.

Diante desse quadro, e de acordo com a literatura profissional, cabe ao profissional do Serviço Social, segundo os fundamentos do projeto ético-político, desenvolver projetos e propostas criativas capazes de promover, preservar e efetivar direitos, participar do processo de produção e criação da riqueza social.

Diante de tal questionamento é certo que essa situação merece maior aprofundamento e problematiza-lo parece ser uma alternativa viável para pensar, refletir e compreender os processos sociais que envolvem a profissão.

5 OS DESAFIOS POSTOS PARA O SERVIÇO SOCIAL

Com o avanço da descentralização das políticas sociais, com o processo de municipalização, o assistente social ganha novos postos de trabalho, como no planejamento, implementação, gestão e avaliação das politicas sociais, na inserção das equipes multidisciplinares; no controle social através da capacitação de conselheiros, principalmente na área da saúde e assistência social; modificando, dessa forma, novas exigências, como a leitura para realizar diagnósticos sócio-econômicos e analises

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 de orçamentos públicos; no domínio no processo de planejamento e avaliação de planos, programas e projetos e no trabalho no nível de assessoria e consultora (IAMAMOTO, 2007).

A Cartilha de Parâmetros da Atuação do Assistente Social na Política de Assistência Social do CFESS apresenta um leque de possibilidades na atuação do assistente social que são materializadas a partir das competências e atribuições especificas necessárias ao enfrentamento das situações e das demandas sociais que se apresentam no seu cotidiano profissional, e que se desdobram em diversas competências, estratégias e procedimentos específicos, são essas, dentre outras:

“ realizar pesquisas para identificação das demandas e reconhecimento das situações de vida da população, que subsidiem a formulação dos planos de Assistência Social; formular e executar os programas, projetos, benefícios e serviços próprios da Assistência Social, em órgãos da Administração Pública, empresas e organizações da sociedade civil; elaborar, executar e avaliar os planos municipais, estaduais e nacional de Assistência Social, buscando interlocução com as diversas áreas e políticas públicas, com especial destaque para as políticas de Seguridade Social; formular e defender a constituição de orçamento público necessário à implementação do plano de Assistência Social; favorecer a participação dos/as usuários/as e movimentos sociais no processo de elaboração e avaliação do orçamento público; planejar, organizar e administrar o acompanhamento dos recursos orçamentários nos benefícios e serviços socioassistenciais nos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS); realizar estudos sistemáticos com a equipe dos CRAS e CREAS, na perspectiva de análise conjunta da realidade e planejamento coletivo das ações, o que supõe assegurar espaços de reunião e reflexão no âmbito das equipes multiprofissionais; contribuir para viabilizar a participação dos/as usuários/as no processo de elaboração e avaliação do plano de Assistência Social”

Essa novas exigências e atribuições profissionais requerem do assistente social uma acurada interlocução teórico-metodológica, ético-politica e técnico–operativa na sua atuação profissional, tendo a pesquisa como um dos instrumentos fundamentais entre teoria e prática.

No entanto, as transformações do desenvolvimento da sociedade capitalista, principalmente com as metamorfoses do processo de trabalho, afetam profundamente a constituição do mercado de trabalho profissional, com a instalação de relações precarizadas de trabalho, do processo de terceirização e flexibilização das relações trabalhistas. Tal conjuntura complexifica-se com o crescente processo de mercantilização dos cursos de graduação, com a ampliação de faculdades privadas e à distancia, que aumentam o contingente de graduações em Serviço Social, pondo em risco também a qualificação da formação acadêmica, gerando, dessa forma, um verdadeiro “exercito assistencial de reserva”(IAMAMOTO, 2007).

Essas novas atribuições, exigências e demandas, associada a conjuntura regressiva para os direitos sociais da classe trabalhadora, impõem desafios a serem enfrentados pela categoria profissional, são esses: a articulação entre teoria e prática, tendo como suporte uma matriz teórico metodológico crítica, alinhada a qualificação da formação acadêmica; o alargamento das possibilidades de condução do seu trabalho e de bases de apoio que somem forças com segmentos da

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Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 7, p. 47902-47917, jul. 2020. ISSN 2525-8761 sociedade civil; tornar o projeto profissional um guia efetivo, o que impõem articular projeto profissional com a condição assalariada; tratar o trabalho do assistente social indissociável aos dilemas vividos no conjunto da classe trabalhadora e das lutas sociais, articulando “trabalho concreto” e “trabalho abstrato”.

Para Iamamoto (2007) o Serviço Social na atualidade tem o seu exercício voltado para a ação de um sujeito que tem competência para propor, negociar e defender seu espaço ocupacional, seus projetos profissionais, suas qualificações e funções. E ir além as rotinas institucionais e que apreenda o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades possíveis de serem impulsionadas pelo profissional.

Para tanto, isso requer do assistente social a utilização de sua “relativa autonomia”, evitando atitudes fatalistas e deterministas que tomem a realidade como dada, sem possibilidade de transformação; e atitudes messiânicas, voluntaristas, superestimando a profissão, permitindo que o assistente social haja de forma qualificada na dinâmica da vida social, de forma a favorecer os interesses das classes trabalhadoras e impulsionar a efetivação dos direitos sociais.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS:

As expressões da “questão social” apresentadas no cotidiano do trabalho do assistente social da Politica de Assistência Social requer do profissional repensar a prática e a teoria numa interlocução para a práxis, vislumbrando desarraigar atitudes convencionais e possibilitar horizontes para a compreensão de temáticas relevantes para a categoria profissional.

Dessa feita, as discussões ora apresentadas permitem engrandecer o debate sobre o tema, além de dar visibilidade para repensar e redefinir conceitos, ampliando as discussões para reconhecer e construir respostas para essas questões, passando pelo reconhecimento da contradição como possibilidade de construção.

Para além das discussões sobre o objeto de estudo do Serviço Social, ou seja, sem querer encerrar aqui as altercações hermenêuticas sobre esse tema, salienta-se, nessa análise, a incontestável importância de ser a “questão social” objeto de atuação profissional (fruto de inúmeras pesquisas e alvo de intensos debates no interior da categoria profissional), sendo, portanto, tema de maior relevância acadêmica e prática no sentido de se (re) pensar a intervenção profissional e suas apreensões dialéticas.

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Referências

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