Andradina, 07 de setembro de 2013 Carta de Andradina
Prezada Senhora, Dilma Rousseff
MD. Presidenta da República Federativa do Brasil.
Nós, abaixo assinados, reunidos na Praça Antônio Joaquim de Moura Andrade, localizada no Centro da cidade de Andradina/SP, neste dia 07 de setembro de 2013, data comemorativa à Independência do Brasil, no Ato público do “Grito dos Excluídos”, apresentamos à Vossa Excelência.
O Município de Andradina caracteriza-se como centro regional e desde sua fundação no ano de 1937 sua história se confunde com a das Usinas Hidrelétricas de Ilha Solteira, Jupiá, Três Irmãos e Canal de Pereira Barreto, que formam juntos o Complexo de Urubupungá.
A maioria das cidades localizadas na região de Andradina teve como fonte de desenvolvimento ao longo dos anos a construção desse Complexo de Usinas Hidrelétricas e do Canal de Pereira Barreto, principalmente pela chegada de trabalhadores vindos das mais diversas localidades do Brasil, na esperança de uma vida melhor e por aqui permaneceram e constituíram suas famílias. Assim, inegavelmente contribuíram para a transformação desses Municípios.
O aproveitamento múltiplo Três Irmãos inclui a usina, duas eclusas e o Canal Pereira Barreto, que liga o reservatório da hidrelétrica de Três Irmãos ao da Usina Ilha Solteira, aperfeiçoando dessa maneira o aproveitamento de energia e que, em conjunto com as eclusas, possibilita a navegação entre os rios Tietê, Paraná e Parnaíba, sendo essa a grande particularidade da Usina Três Irmãos.
A tarifa de energia elétrica brasileira é uma das mais caras do mundo, apesar da energia elétrica brasileira ser proveniente de hidrelétricas – uma das fontes mais limpas e baratas.
Em setembro de 2012, o governo brasileiro editou uma importante medida visando reduzir as tarifas de energia. Dentre elas destacamos a que permite que o consumidor se aproprie através da tarifa dos custos da construção dessas usinas já amortizadas, cujos prazos de concessões estão vencendo.
Os governos de São Paulo, de Minas Gerais e do Paraná, não aceitaram as condições apresentadas pelo governo para a renovação das concessões. Assim sendo, a concessão de Três Irmãos, que venceu em 2011, retornou para as mãos da União, que agora, por força da lei, precisa licitá-la novamente.
Ademais, é da índole da nossa gente a participação efetiva nos mais diversos seguimentos da sociedade, organizando-se em sindicatos, associações, movimentos, clubes de serviços, entidades sem fins lucrativos, além das mais diversas denominações religiosas, que juntas defendem o interesses dos seus integrantes e contribuem para suprir as lacunas das políticas públicas deixadas pelo Estado.
Dentre essas entidades, destacamos a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de Andradina, que dispensa atendimento a cerca de 300 (trezentas) pessoas com deficiência intelectual, bem como as famílias da própria cidade e Municípios vizinhos (Castilho, Murutinga do Sul, Guaraçaí e Nova Independência).
E, neste ano de 2013, a APAE de Andradina completa 40 anos, pois a entidade nasceu quando não havia nenhum programa que contemplasse atendimento às pessoas com tais limitações, com a agravante da violação aos direitos dos assistidos. Por óbvio, é inegável que durante essas 4 décadas de profunda dedicação, tanto a direção quanto os colaboradores da instituição de ensino acumularam grande experiência, desenvolvendo um atendimento técnico de qualidade; possui um corpo docente, com equipe de apoio e multidisciplinar altamente especializados, além da incontestável estrutura física totalmente adaptada e acessível às necessidades especiais dos alunos.
Com efeito, em virtude da especialização do trabalho e atividades necessárias ao atendimento à clientela assistida, a APAE de Andradina, aliada a todas as APAEs do Brasil e demais instituições de natureza similar, nesta oportunidade, se manifestam contrário à proposta de alteração na meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE), em trâmite no Senado Federal, principalmente no concernente ao direito de liberdade de opção das pessoas com deficiência intelectual de serem matriculadas nas Escolas de Ensino Especial, bem como quanto à suspensão dos repasses de recursos atualmente transferidos às referidas entidades.
A cidade de Andradina e outros municípios dessa região tiveram como um dos principais motivos de fundação o traçado da rede ferroviária brasileira pela companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), numa extensão de 1622 quilômetros, que atualmente serve os trens de minério entre a região central do estado de São Paulo, a partir de Bauru, até a divisa com a Bolívia em Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, devido ao desenvolvimento promovido com a chegada do trem como meio de transporte de passageiros e cargas naquela época.
Ocorre que a partir do projeto de ampliação da capacidade desenvolvido pela VETRIA Mineração, que visa aproveitar o minério de ferro de alta qualidade extraído em Corumbá/MS, transportando até Santos por meio dessa mesma ferrovia, atualmente sob concessão da América Latina Logística Operações Ferroviárias, resultará na ampliação da capacidade de transporte do minério para quase 30 milhões de toneladas nos próximos 4 anos, de forma que o tráfego ferroviário aumentará sensivelmente, o que fatalmente provocará maiores transtornos e riscos à população da cidade do que o vivenciado na atualidade, pelo excessivo crescimento do tráfego de trens na área urbana e, no nosso caso, no centro da cidade.
Assim sendo, no contexto da mobilidade urbana, é imperioso seja esta situação levada em consideração, no sentido de atender aos anseios da nossa população, que há anos reivindica a construção do contorno ferroviário da cidade de Andradina, a fim de que seja esse pleito inserido como prioridade dos Governos Estadual e Federal, com urgente definição e aporte de recursos dos Programas de Aceleração do Crescimento (PACS).
A Constituição Federal vigente estabelece expressamente o Estado Democrático de Direito está fundado na dignidade da pessoa humana e nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (art. 1º, inc. III e IV), tendo como objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária para garantir o desenvolvimento nacional e erradicar a pobreza e a marginalização, com redução das desigualdades sociais e regionais.
Todavia, na contramão desses princípios, estamos diante de uma verdadeira inversão de valores, pelo imediatismo, consumismo, individualismo e a busca desenfreada por lucros, que se sobrepõe aos direitos da classe trabalhadora, que sofre com os baixos salários, perdas do poder aquisitivo, assédio moral pelas metas insuperáveis a serem atingidas a qualquer custo, sem falar na falta de expectativa de uma previdência social digna, olvidando-se que a dignidade do trabalho decorre da dignidade da pessoa que trabalha e não o contrário. Nosso país tem mais de 150 milhões de hectares de terras agricultáveis a serem incorporadas ao processo produtivo, o que constitui a maior reserva de solo do planeta, mas paradoxalmente é também o maior concentrador de terra do mundo e também o País com a maior reserva de água doce. A temática da segurança alimentar vem tomando corpo no debate mundial, materializada na luta para acabar com a fome de milhões de pessoas.
A região de Andradina se insere nesse contexto, destacando-se como uma das mais fecundas e positivas experiências da implantação da reforma agrária no Brasil, com mais de 4.000 famílias assentadas e 1.000 acampadas, que se estabeleceram no campo e atualmente abastecem as mesas da população que vive nas cidades, por meio de um trabalho dedicado e direcionado à permanência e valorização do homem no campo com base na agricultura familiar.
Inobstante aos avanços alcançados nos últimos anos no meio rural, o produtor rural assentado e aqueles que ainda aguardam a regularização fundiária nesta região ainda não conseguiu solucionar problemas centrais do ponto de vista econômico e social dos assentamentos de reforma agrária e da agricultura familiar e comunitária: a produção com a agregação de valor. E do ponto de vista social: o acesso às políticas públicas de forma permanente e contínua.
Ou seja, a universalização das políticas públicas de incentivo e fixação do homem no campo, proporcionando acesso a educação, (profissional, ambiental e nutricional), saúde, saneamento básico, atividades de esporte, lazer e cultura, políticas de incentivo a produção são fundamentais para a construção de uma cidadania popular de promoção da dignidade humana, com justiça social nos assentamentos e acampamentos, como objetivos fundamentais para superar os desafios da reforma agrária do século XXI, no enfrentamento desse momento de crise do capital em que o problema ambiental e alimentar coloca em risco a sobrevivência da humanidade.
Estão inseridos ainda nesta manifestação do “grito dos excluídos” seguimentos da comunidade extremamente preocupados com a máxima efetividade das políticas públicas de prevenção e repressão às drogas em todo o território nacional, bem como de apoio às entidades filantrópicas que se dedicam à recuperação do/as viciado/as, por se tratar de um problema de saúde pública, conforme devidamente comprovado cientificamente.
Diante de todos os temas destacados neste dia 07 de setembro de 2013, somando-se aos eixos temáticos das manifestações de todo o país por meio do “Grito dos Excluídos”, Andradina realizou Ato Público celebrado na Praça Antônio Joaquim de Moura Andrade, com a presença e participação das entidades/instituições e seguimentos que esta subscrevem, para REIVINDICAR de Vossa Excelência o que adiante segue:
• Exigir o reconhecimento do ICMS da Usina de Três Irmãos para Andradina, que é a cidade sede do tributo e por direito deve receber os repasses dos tributos na forma da lei;
• Suspensão do processo de licitação em curso no MME da UHE Três Irmãos, e impedir o desmembramento da operação da Usina de Três Irmãos, do restante do complexo Urubupungá, principalmente da Usina de Ilha Solteira, ambas pertencentes à mesma bacia hidrográfica;
• A retirada dos trilhos do centro da cidade de Andradina e construção de um contorno ferroviário, por questão de segurança e respeito aos direitos da população andradinense;
• A manutenção do texto da Meta 4 com a garantia de continuidade dos trabalhos de atendimentos dispensados pelas APAEs e demais instituições congêneres.
• Suspenção do leilão dos poços de petróleo do campo de Libra.
• Salários e condições dignas à classe trabalhadora e o fim da exploração e do assédio moral decorrente de uma lucratividade imposta pelo modelo capitalista;
• Maior efetividade na prevenção e repressão às drogas em todo o território nacional e políticas públicas urgentes de apoio e aporte de recursos às entidades filantrópicas que trabalham na recuperação dos usuários de entorpecentes
Atenciosamente,
Sindicato Servidores Públicos Municipais de Andradina/SP; Sindicato dos Bancários de Andradina/SP;
Sindicato das Indústrias da Alimentação de Andradina/SP;
Sindicato dos Agentes Penitenciários – Regional de Andradina - SINDASP; Associação dos Aposentados da CESP de Andradina/SP;
Paróquia São Sebastião de Andradina/SP;
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Andradina/SP- APAE; Instituto Polícia Mirim de Andradina;
Acampados e Assentados de Andradina/SP, Lavínia/SP e Mirandópolis/SP; Associação de Moradores da Vila Mineira - SAVIMI;
Câmara Municipal de Andradina/SP; Governo Municipal de Andradina/SP;
Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo - Seção Andradina/SP-APEOESP;
Associação Comercial e Industrial de Andradina/SP - ACIA; Centro de Convivência do Idoso de Andradina/SP;
Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Andradina/SP - OAB; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST;
Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado de São Paulo – FTIUESP; Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo - Sinergia CUT;
Federação Única dos Petroleiros – FUP;
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB; Federação Nacional dos Urbanitários – FNU
