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PROCESSO: RTOrd

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Academic year: 2021

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PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Gab Des Rosana Salim Villela Travesedo Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6o. andar Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ

PROCESSO: 0001344-03.2010.5.01.0005 - RTOrd

A C Ó R D Ã O 10ª T U R M A

COOPERATIVA. ACIDENTE DE TRABALHO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E OBJETIVA DO

TOMADOR DOS SERVIÇOS. NEXO DE

CAUSALIDADE. CONFIGURAÇÃO. É ônus

daquele que se beneficia da força de trabalho do cooperado, em seu estabelecimento, garantir que a prestação da atividade laborativa se desenvolva em um meio ambiente seguro e saudável, sob pena de responsabilidade - subjetiva e objetiva - pelo infortúnio decorrente de sua incúria, haja vista a teoria da assunção dos riscos da atividade econômica (CLT, art. 2º). Na seara reparatória, o norte há que ser a dignidade da pessoa humana – epicentro da Lei Maior – art. 1º, III – a valorização do trabalho e a função social da propriedade empresarial – CF, art. 170 –, dando azo à indenização vindicada. Apelo empresarial improvido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de recurso ordinário em que são partes: PRONEP MEDICINA DOMICILIAR - HOME CARE, como recorrente e CINTIA GUIMARÃES DOS SANTOS DE LIMA e

COOPERATIVA DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS DE SAÚDE LTDA., como recorridas.

Cuida-se de recurso ordinário interposto pela segunda ré (tomadora dos serviços), objetivando a reforma da sentença de fls. 374/377, proferida pela MM. Juíza Monica de Almeida Rodrigues, da 5ªVT/RJ, que julgou improcedente o pedido quanto à primeira ré e procedente em parte quanto à segunda. Investe contra a condenação no pagamento de indenização por dano moral.

Custas e depósito recursal, às fls. 386/387. Contrarrazões, às fls. 390/399.

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É o relatório.

V O T O:

Conhecimento:

Recurso ordinário interposto a tempo e modo. Conheço-o.

Mérito:

Da indenização por dano moral:

No afã de esquivar-se da condenação, a segunda ré – PRONEP MEDICINA DOMICILIAR - HOME CARE – imputa à empresa AIR LIQUID a responsabilidade pela manutenção e fiscalização do cilindro de oxigênio causador do acidente que deu azo à indenização por dano moral, no importe de R$25.000,00. Invoca o depoimento pessoal da autora, o qual, a seu dizer, noticiaria inexistência do nexo de causalidade.

Trata-se, contudo, de falaciosa tese.

Deflui do panorama processual que a trabalhadora prestou serviços à PRONEP, como enfermeira, na qualidade de cooperada, por meio da COOPERATIVA DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS DE SAÚDE LTDA., na residência da Sra. Maria (beneficiária de Plano de Saúde da PETROBRAS, que firmara convênio com a recorrente para administração do home care), tendo sofrido acidente de trabalho aos 26/07/2009.

É fato incontroverso que, na citada data, o cilindro de ar que fornecia oxigênio à enferma traqueostomizada, caiu sobre o pé esquerdo da recorrida, causando-lhe fratura exposta dos 2º e 3º artelhos, como se infere dos documentos de fls. 32/34 e 41/52. Tal infortúnio resultou na concessão de benefício previdenciário pelo INSS (fl. 48) e na impossibilidade de a obreira utilizar calçado ao longo do dia.

Releva notar que o motivo determinante da queda do pesado balão de oxigênio foi o fato deste não possuir suporte que o fixasse à parede, a despeito da providência solicitada à recorrente por parte de familiar da enferma (fl. 350).

Sublinhe-se que as circunstâncias afetas ao acidente e as consequências dele advindas não foram em momento algum contestadas pelas rés, sendo certo que a insurgência da recorrente cinge-se ao nexo de causalidade, na medida em que nega sua responsabilidade pela fiscalização do uso do indigitado equipamento.

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Exubera da prova oral produzida, todavia, que, à PRONEP incumbia o dever de manutenção e fiscalização de todo o equipamento do home care, verbis:

“...Que quem monta a estrutura do home care é a 2ª ré; que a cooperativa entra apenas com o pessoal...” (depoimento do preposto da 1ª ré - fl. 340)

“...Que não havia suporte no cilindro de oxigênio que causou o acidente; (...) que tudo que faltava tinha que pedir à 2ª ré; que pediu o suporte de cilindro antes do acidente, mas não foi atendida; que prometiam que iam enviar, mas jamais o fizeram...” (depoimento da testemunha da autora - fl. 350).

“...Que o cilindro deve estar fixado ou em suporte; que a 2ª ré é quem monta o home care; que o suporte deve ser fornecido pela empresa que fornece o balão, mas a 2ª ré tem o dever de fiscalizar; (...) que se não vem o suporte, deve-se reclamar com a 2ª ré...” (depoimento da testemunha das rés - fl. 351).

Nesse contexto, a afirmação da autora, à época do depoimento pessoal, de que a responsabilidade pelo indigitado balão de oxigênio seria da empresa AIR LIQUID, não tem o condão de afastar o dever da PRONEP de manutenção e fiscalização do uso do indigitado equipamento, o que inclui, por óbvio, sua indispensável fixação. Digno de nota que o depoimento em baila noticia, ainda, “que o responsável

pelo home care era a 2ª ré”.

Resta, pois, evidenciado, a todas as luzes, o nexo de causalidade entre o infortúnio e a conduta omissiva da recorrente, absolutamente negligente na adoção das medidas de segurança e no dever objetivo de garantir à trabalhadora sua incolumidade física no desempenho da atividade laborativa.

Recente publicação da OIT - Organização Internacional do Trabalho - registra que “o trabalho mata mais do que as guerras”.

Com tanto de real como de avassalador, os dados estatísticos relativos aos acidentes de trabalho, doenças profissionais e

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respectivas consequências são estímulos gritantes para que se volte

um olhar atento sobre as condições em que, ainda hoje, desenvolve-se o trabalho.

Sobremais a lamentável marca brasileira - primeiro lugar no podium mundial de acidentes de trabalho.

Essa repulsa constitucional pelo menoscabo da saúde do trabalhador resultou na edição de “princípios gerais da atividade econômica”, inscritos no art. 170 da Lei Maior, dentre os quais, a valorização do trabalho humano, a defesa do meio ambiente de trabalho e a função social da propriedade empresarial, tudo em consonância com o epicentro da Constituição, qual seja, a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III ).

Nessa toada de intelecção constitucional, o art. 7º,

XXVIII proclama a obrigação de o empregador (in casu, representado

pela empresa beneficiária dos serviços cooperados e responsável pelo ambiente laboral) indenizar quando concorrer com dolo ou culpa para o acidente de trabalho.

No plano infraconstitucional, o Código Civil estatui, em seu art. 927, verbis,

“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186, 187), causar

dano a outrem, fica obrigado a repará-lo... Parágrafo único: Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”

Sabe-se que é ônus do empregador - ou daqueles que se aproveitam ou exploram a força de trabalho do empregado - garantir que a prestação da atividade laborativa desenvolva-se em um meio ambiente seguro e saudável, sob pena de responsabilidade pelo infortúnio decorrente de sua incúria, haja vista a teoria da assunção dos riscos da atividade econômica (CLT, art. 2º)..

Resta hígido, pois, o direito da autora à indenização postulada, uma vez que terá de conviver por toda a vida com o sofrimento e a angústia da limitação física que lhe restou imposta.

Quanto ao valor fixado à reparação - R$25.000,00 -, tem-se-no por razoável e em harmonia com os princípios da ponderação e proporcionalidade, considerando-se a extensão do dano, o porte

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econômico do ofensor e o efeito dissuasório que se deve incrustar à indenização.

Nego provimento.

Conclusão:

Conheço do recurso ordinário e, no mérito, nego-lhe provimento.

A C O R D A M os Desembargadores que compõem a

10ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos do voto da Excelentíssima Desembargadora Relatora. Ausentou-se, momentaneamente, o Excelentíssimo Juiz Convocado Marcelo Antero de Carvalho.

Rio de Janeiro, 10 de abril de 2013.

Rosana Salim Villela Travesedo

Desembargadora do Trabalho Relatora

Referências

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