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"ENTRE RISOS E LÁGRIMAS": UMA ANÁLISE DAS PERSONAGENS FEMININAS ATENIENSES NA OBRA DE ARISTÓFANES. (SÉCULOS VI A IV a.c)

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"ENTRE RISOS E LÁGRIMAS": UMA ANÁLISE DAS

PERSONAGENS FEMININAS ATENIENSES NA OBRA DE

ARISTÓFANES. (SÉCULOS VI A IV a.C)

Giselle Moreira da Mata

Resumo: Aristófanes destacou-se entre os estudiosos do Mundo Antigo, eleito o mais

brilhante escritor de peças teatrais da Antiguidade grega. Autor de comédias, seus trabalhos se caracterizaram por traduzir de forma crítica a realidade social, cultural, política e religiosa da sociedade ateniense Clássica. Expomos, neste artigo, o conteúdo relacionado ao projeto de dissertação apresentado ao programa de Pós-Graduação em História (UFG). Dentre as obras selecionadas para este estudo, optamos especificadamente por Lisístrata e Revolução das Mulheres, comédias de Aristófanes que datam de 411 a.C. Nosso trabalho se volta, sobretudo, no sentido de compreender, segundo a ótica Aristofânica, o feminino na sociedade ateniense Clássica, a partir da análise de algumas de suas personagens apresentadas nas peças destacadas.

Palavras-Chave: Antiguidade Clássica, Aristófanes, Personagens, Feminino, Comédia

Antiga.

Questões ligadas à “Sexualidade”, naturalmente, despertaram em homens de todas as épocas um interesse peculiar, notoriamente, por se tratarem de alguns dos mais interessantes elementos, sobre os quais podemos avaliar o desencadeamento das relações entre os sexos ao longo da História, mediante o horizonte de diversas culturas.

Diante deste contexto, resolvemos desenvolver um trabalho direcionado para a compreensão específica do feminino, partindo do princípio de que a diferenciação sexual representa um importante fator, no contexto individual de cada cultura, na execução de papéis desempenhados por homens e mulheres nas mais variadas sociedades e períodos históricos.

No intuito de elucidarmos as inúmeras questões que envolvem este silencioso universo feminino, contamos com o apoio fornecido pela vertente historiográfica intitulada “História das Mulheres”. Através dela, criou-se no seio da produção historiográfica um novo momento, em que o sexo em observância tornou-se um objeto privilegiado, particularmente a partir da Nova História, configurando-se entre as novas áreas de pesquisa e despertando o olhar do historiador para temáticas até então excluídas de seu interesse.

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Dispomos, ainda, das renovações teórico-metodológicas propostas pelos estudos de gênero, que avaliam os paradigmas históricos tradicionais, incorporando novas abordagens, através da descoberta e melhor uso das fontes, a fim de que se possa ampliar e questionar o conhecimento histórico produzido.

Sendo assim, para efetivarmos nosso objetivo, resolvemos selecionar algumas obras de Aristófanes, um comediógrafo grego antigo, cujo trabalho acreditamos fornecer elementos significativos concernentes às relações que envolviam as mulheres, particularmente a ateniense durante o período Clássico. As obras desenvolvidas pelo autor foram escolhidas pela variedade de temas e personagens relacionados ao universo feminino. Elegemos, especificadamente, as peças Lisístrata e Revolução das Mulheres, apresentadas em 411 a.C.

Optamos por Aristófanes, em virtude da capacidade que algumas de suas personagens femininas possuem de nos remeter as mais profundas reflexões acerca de uma hierarquia sexual na Atenas Clássica, bem como a determinação dos papéis sociais na polis grega. A seguir, levantamos os principais fatos que exerceram influência na elaboração de toda a sua obra.

Aristófanes e a Comédia Antiga.

Aristófanes nasceu em Atenas por volta de 457 a.C, mas são poucos os dados que possuímos acerca de sua vida. Sabemos que seu pai se chamava Filípides, Foi criado provavelmente no meio rural, consta que se tornou careca por volta dos vinte anos, exerceu um cargo público e que teve dois filhos que seguiram carreira no teatro cômico, chamados Araros e Filipos. Ele é mostrado por Platão, em O Banquete, como um companheiro agradável, jovial e divertido (PLATÃO. O Banquete, 27).

Comediógrafo, seus trabalhos se caracterizaram por traduzir de forma crítica a realidade social, cultural, política e religiosa da sociedade ateniense no período Clássico.

Diante de situações irônicas e caricaturizadas construiu suas obras, voltando-se para a defesa de valores conservadores, direcionando-as, por exemplo, a política, as tragédias, aos sofistas1

e as próprias mulheres.

Ao todo escreveu mais de quarenta peças das quais apenas onze são conhecidas. Das restantes, possuímos apenas fragmentos. Conservador, revelou hostilidade às inovações e a todos os homens responsáveis por elas (FREIRE, 1985 :72).

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Viveu toda a sua vida sob o esplendor do “Século de Péricles”, e também sob o início e o fim da Guerra do Peloponeso, que arruinou toda Hélade. Viu de perto a destruição econômica, militar e cultural de sua Cidade-Estado, fato que conseqüentemente possuiu uma influência primordial durante a confecção de seus trabalhos.

Péricles se destacou como um dos principais líderes atenienses, a maior personalidade política em Atenas durante o período Clássico. O “Século de Péricles” compreende ao período entre o final das guerras Greco-Pérsicas e sua morte, por volta de 429 a.C. Em seu governo, Atenas alcançou uma das maiores projeções políticas, econômicas e culturais de toda a sua história (CARTLEDGE, 2006: 73).

Estratego2

e político grego, nasceu de uma família ateniense influente nas finanças e na política, os alcmeônidas3

. Entre seus membros, destacamos também a presença do líder reformista Clístenes e do general e político Alcibíades. Seu governo se notabilizou como a época de maior consolidação do sistema democrático ateniense4

. Tornou-se o principal artífice da expansão imperial de Atenas como potência comercial da Grécia.

Seu governo ampliou a hegemonia ateniense sobre inúmeras Cidades-Estado, através da Liga de Delos. Atenas vivenciou neste período uma fase expansionista, monopolizando o comércio marítimo e comandando seus aliados.

As riquezas das cidades gregas, como Esparta, Atenas e Tebas, era um fato muito conhecido naquela época. Isso atraiu a cobiça do Império Persa, liderado na época por Dário I. Inicialmente, os Persas atacaram as colônias gregas da Ásia Menor. Depois, em 490 a.C., lançaram seu exército contra a Grécia Continental.

Em suma, estes conflitos foram conhecidos como guerras “Greco-Pérsicas”. Traduziram os embates entre os gregos e o Império Persa, visando à expansão de territórios. Nelas, a cidade de Atenas, liderada por Péricles, desempenhou um papel fundamental na derrota contra os inimigos, que lhe conferiu maior hegemonia sobre as outras Cidades-Estado. Contudo, este sucesso também lhe acarretou rivalidades com outras cidades, como Esparta, Corinto, Mégara e Tebas. Este confronto entre os próprios gregos, culminou em uma nova guerra, a do “Peloponeso”, que por sua vez, foi uma batalha motivada pela disputa de interesses econômicos e políticos, em especial de duas grandes cidades: Atenas e Esparta (CARTLEDGE, 2006: 75).

Havia de um lado, a Confederação de Delos, aliança entre cidades gregas lideradas por Atenas, que enfrentou a Liga do Peloponeso, organização nascida da reunião

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Sua história foi detalhadamente registrada por Tucídides. Ele acreditava que a razão fundamental da guerra foi o crescimento do poder ateniense e o temor que o mesmo despertava entre os espartanos. Acredita-se que a essência da guerra esteja relacionada a política de Atenas. Seu método democrático estava sendo copiado, despertando a atenção de cidades em que prevaleciam as oligarquias tradicionais, como as de Esparta (TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, 48).

Contudo, a Liga de Delos foi derrotada pelos espartanos e seus aliados. Neste momento, a polis ateniense vivia também sobre o julgo de uma peste que dizimou cerca de um terço da população. Péricles ainda conseguiu reeleger-se estratego, porém morreu pouco depois, vítima da mesma, que assolava a península da Ática (KAGAN, 2006: 12).

Com o término da Guerra do Peloponeso, chegou ao fim à hegemonia de Atenas e teve início a de Esparta, que se aproveitou disso para impor seu domínio a toda Grécia. Contudo, enfraquecidas pelas guerras, as cidades gregas foram posteriormente dominadas pelo exército de Filipe II, rei da Macedônia, que acabou por conquistá-las (TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, 37).

Diante destes fatos, Aristófanes transportou para o teatro cômico estes e outros problemas vividos pelos atenienses neste período. Suas sátiras atingiam a todos, aos políticos, aos fatores que desencadearam a Guerra do Peloponeso, aos cidadãos, às instituições da cidade, entre outros. Dirigiu sua capacidade satírica particularmente contra algumas personalidades, dentre elas, contra os renovadores do pensamento, como Sócrates, e em especial para um dos grandes expoentes do gênero trágico, chamado Eurípides (GRIMAL, 1978: 61).

“Aristófanes era um patriota, cuja Guerra do Peloponeso se fez sentir em suas obras de uma forma muito intensa. Sobretudo, representa um apelo à paz, uma crítica a diversos setores da sociedade obstinados pela guerra. Era com profunda desilusão que via sua cidade ameaçada, mergulhada em uma decadência sem fim” (GRIMAL, 1978: 63).

Foi defensor do passado de Atenas, dos valores democráticos tradicionais, das virtudes cívicas e da solidariedade social. Violentamente satírico, critica a pomposidade, a impostura e a corrupção na sociedade em que viveu (ACKER, 2007:12).

Enfim, comentou em diálogos críticos e inteligentes todos os temas importantes da época, a Guerra do Peloponeso, os métodos de educação, as discussões filosóficas e o papel da mulher na sociedade. Notabilizou-se como o principal representante da comédia

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antiga. Notadamente, o gênero cômico grego antigo foi dividido em dois períodos: A comédia antiga e a comédia nova.

A comédia, bem como todo o teatro grego, nasceu da adoração de Dioniso: o deus do vinho, das festas, dos banquetes e do teatro. Em seu nome eram realizados concursos de comédias em Atenas, que os gregos denominavam de “festas Dionisíacas” e que datam de cerca de 486 a.C (GRIMAL, 1978: 53).

A comédia antiga desenvolveu-se numa Atenas envolvida por questões políticas, onde o comediógrafo reconhecia publicamente os problemas vivenciados em sua Cidade-Estado. A comédia nova, entretanto, trabalhou em um contexto diferente. Nesta fase, Atenas já era uma cidade que privilegiava não apenas os assuntos de Estado, mas as intrigas privadas e íntimas.

A comédia nova desenvolveu-se em um período em que Atenas não mais desfrutava da liberdade política e da prosperidade que dela fizeram uma das mais poderosas Cidades-Estado do período. Em uma época de crises, enfraquecida pelas guerras, o teatro sofreu o impacto destas transformações. Esta nova fase do gênero cômico desenvolveu-se numa sociedade também “nova”, de hábitos que estavam sofrendo mutações.

Sendo assim. mudaram-se particularmente os temas e o modo de tratá-los. O amor e a pintura de caracteres ocuparam o primeiro lugar. Críticas e investidas políticas, que eram tão freqüentes na comédia antiga praticamente desapareceram.

Acerca da comédia antiga, pouco conhecemos sobre ela. Quase tudo o que possuimos devemos as obras aristofânicas, ou seja, ao mais antigo formato cômico que possuímos notícias seguras (GRIMAL, 1978: 71).

Segundo Pierre Grimal, conhecemos a comédia antiga apenas em seus momentos finais, via Aristófanes. Entre outros comediógrafos, são citados os nomes de Quiónides, Magnes, e Crátino, que apareceram sob a autoria de algumas comédias de menor destaque (GRIMAL, 1978: 72).

Já a comédia nova, encontramos no comediógrafo Menandro seu principal representante. Seus trabalhos se destacaram por explorar outros temas, preferindo enredos que girassem em torno de identidades falsas, intrigas familiares e amorosas. Representam uma profunda mudança nas características do gênero em que a fixação de tipos e de costumes substituem a sátira, por exemplo.

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Em Lisístrata e Revolução das Mulheres, as personagens femininas foram muito bem representadas. Os papéis eram desempenhados por homens disfarçados, o que conferia ao discurso cômico uma forma caricaturada (GRIMAL, 1978: 60).

Em seu discurso, elas tornaram-se sujeitos de conhecimento, diferentemente da concepção grega de diferenciação dos sexos, que enquadrou o feminino sempre numa posição de receptividade ao masculino, principalmente quanto à questão relativa à sua capacidade de aquisição conquistadora e de sua competência.

Nas peças analisadas, notamos uma variedade de personagens femininas. Nelas, através de situações que não conseguiríamos imaginar segundo os padrões patriarcais gregos, encontramos mulheres representadas enquanto seres sociais, dotadas de capacidade intelectual e vocação sexual própria.

Em Lisístrata, apresentada nos últimos anos da Guerra do Peloponeso, Atenas vivia uma situação crítica. A comédia que traz um apelo pela paz, foi representada pela primeira vez durante as Lenéias, festivais em honra a Dioniso, sob o nome de “Calístrato”, o ensaiador da peça. Nela, atenienses e espartanos estão envolvidos na Guerra do Peloponeso.

As mulheres já estavam cansadas de sofrer pela perda de seus maridos nos campos de batalha. Para acabar definitivamente com esta situação, a ateniense Lisístrata propõe realizar e liderar uma greve de sexo, unindo as mulheres para alcançar o propósito de terem os homens de volta, mesmo que para isso tivessem que lutar contra seus próprios desejos sexuais. Apesar da defesa dos guerreiros, a peça permeia entre jogos de sedução e disputas pelas quais acaba vencendo a sabedoria feminina.

Em Lisístrata, vimos que o elemento sexual apresentou-se como um forte instrumento para conquista de seus interesses. Num jogo permanente de sedução, de avanços e de recuos, a trama foi finalizada com a vitória das mulheres, materializada num acordo de paz entre Atenas e Esparta.

Lisístrata de Aristófanes é a primeira grande obra pacifista da história da qual se tem notícia, onde encontramos a discussão de temas tão sérios quanto os contemporâneos, como a paz, as mulheres, a democracia, o amor à pátria e o preço da guerra. Nesta obra, vários recursos cômicos foram utilizados pelo autor, apresentando situações ridículas, caricaturas de personagens reais, ironias, trocadilhos, mal-entendidos, exageros e neologismos.

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“A comédia de Aristófanes, em certos aspectos, tem a função de uma imprensa de oposição. Ao serviço de um ideal político (o conservadorismo, o respeito pelos valores, que, ao tempo das guerras Medo-Persas, tinham feito furor em Atenas, mas também o respeito pela vida humana, o horror a guerra, o sentimento muito forte dos prazeres da vida) o autor denuncia tudo o que contrário ao interesse da cidade e ao espírito humanista” (GRIMAL, 1978: 61).

As críticas do poeta atingiam a todos: os chefes políticos, a assembléia, os tribunais e os juízes, os militares, os tragediógrafos, os filósofos, os velhos, os jovens e as mulheres. As intenções morais por trás das críticas eram muito sérias. O poeta defendia sempre os valores antigos, a vida rural e, especialmente, a paz tão desejável durante a Guerra do Peloponeso.

Em a Revolução das Mulheres, a personagem principal, chamada Valentina, lidera várias mulheres que, unidas e disfarçadas como homens, resolvem tomar o poder das mãos do sexo oposto. Vestidas de forma masculina se dirigem à assembléia infiltradas em meio ao público e à frente da tribuna. Durante o discurso, se passando por homens, propõem que o governo e todas as decisões políticas fossem entregues às mulheres. Sem perceberem que foram enganados, os verdadeiros homens acabam entregando o poder nas mãos do grupo feminino. As mulheres instauram mudanças quanto à forma de governar. Propõem extinguir todas as desigualdades entre os cidadãos.

Para que seus objetivos se concretizassem, todos deveriam entregar as suas posses a um fundo comum pelo bem de toda a coletividade, logicamente todos os bens seriam administrados por elas. Nesta nova sociedade, novas leis foram criadas.

Trata-se de uma obra em que Aristófanes satiriza um estado imaginário administrado por mulheres, no qual tudo é de todos e as mais velhas têm prioridade para reclamar o amor dos jovens. O autor chama a atenção para o comportamento dos cidadãos e para as instituições de Atenas. E, sobretudo, faz uma denúncia à corrupção. Valentina representou um poder que se situava nas mãos de indivíduos que o utilizavam em benefício próprio e em detrimento da igualdade proposta pelas leis.

Os Papéis Femininos Na Sociedade Ateniense Clássica.

Para que possamos compreender a complexidade das personagens de Aristófanes, apresentadas acima, é necessário que façamos algumas considerações sobre o

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desenvolvimento dos papéis femininos na cidade de Atenas entre os séculos VI a IV a.C., facilitando, desta forma, as posteriores discussões envolvendo o assunto.

Como foi mencionado anteriormente, os papéis femininos na polis ateniense Clássica foram mediados por valores de uma cultura patriarcal. Em geral, existe um consenso de que a condição do feminino na Atenas Clássica era de inferioridade. Contudo, existem algumas controvérsias quanto à questão de seu status social, que se converteu em um dos focos das pesquisas mais recentes acerca da mulher ateniense.

Segundo Sarah B. Pomeroy, no livro Diosas, Rameras, Esposas y Esclavas: Mujeres en la Antigüedad Clásica, as opiniões sobre este assunto se estendem de um extremo a outro. Alguns investigadores mantêm as mulheres como seres depreciados e reclusos; outros dizem que elas eram respeitadas e que gozavam de uma certa liberdade; por fim, há os que afirmam que viviam reclusas, no entanto, esta reclusão era estimada e respeitada principalmente no ambiente do lar (POMEROY, 1987: 74).

Existem numerosas versões sobre o assunto, a maior parte dos estudiosos como Nikos A. Vrissimtzis, em seu livro Amor, Sexo & Casamento na Grécia Antiga, destacam as restrições do feminino ao ambiente do lar, a falta de acesso à política, aos valores culturais e da vida social em Atenas. Segundo ele, a mulher só adquiria alguma importância na sociedade ateniense no momento do casamento. O matrimônio representava a continuação dos descendentes diretos (VRISSIMTIZIS, 2002: 42).

Provavelmente, entre os habitantes de Atenas, o casamento e a geração de herdeiros representavam as únicas formas com que uma mulher ateniense adquiria notável importância social. O único estatuto social e sexual que ela poderia seguir, segundo Michel Foucault, era o matrimônio (FOUCAULT, 1985: 177).

Outros, como Charles Seltman, no livro Women in Antiquity, pontuam que os atenienses mantinham as mulheres reclusas como uma forma de proteger e preservá-las (SELTMAN, 1959: 144). Há uma grande divergência relacionada ao posicionamento adotado pelos estudiosos, notamos que existe uma tendência em perceber o feminino como uma categoria uniforme e inferiorizada. Albin Lesky, no livro História da Literatura Grega, argumenta que isto ocorre, sobretudo, em virtude da observância dos poucos vestígios deixados por elas (LESKY, 1995: 37).

Para desfrutarmos de uma compreensão significativa dos papéis femininos na polis ateniense antiga, é necessário destacarmos, primeiramente, que o universo feminino abarcava algumas categorias ou classificações. Destacamos, em especial, as deusas, as esposas legítimas, as concubinas ou palákinas, as hetairas, as pornaí e as escravas.

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As deusas, primeiramente, eram consideradas seres divinos que encarnavam em suas faces uma apresentação feminina. Pertenciam ainda a categoria dos imortais; mas se caracterizaram por possuírem muitas semelhanças com os mortais. Elas podiam ter relações com estes, que poderiam ser eróticas ou de inspiração poética. A moralidade das deusas comparadas às demais categorias estava em um outro nível, em especial quando mencionamos casos de infidelidade, adultério, entre outros (JAEGER, 1986: 241).

As esposas legítimas eram aristocratas e viviam mais reclusas que as demais, ocupavam uma posição reduzida a fiscalizar os filhos e ao andamento da casa. Não faziam refeições à mesa com o marido, não presenciavam conversas ligadas à cultura ou assuntos públicos (VRISSIMTIZIS, 2002: 51).

As concubinas ou palákinas eram geralmente mulheres livres, seu papel tinha como principal finalidade a procriação, o que era natural e apoiado pelo Estado, caso a esposa legítima fosse estéril ou gerasse apenas meninas. As mulheres atenienses que recorriam ao concubinato poderiam ter seus filhos considerados herdeiros legítimos Em geral, eram mulheres que substituíam a esposa legítima no leito do marido, quando esta estivesse doente, indisposta, grávida ou acabado de dar a luz (VRISSIMTIZIS, 2002: 63).

As hetairas, por sua vez, eram cortesãs bem educadas, cultas e belas, treinadas para o ofício desde a infância. O que os homens atenienses mais apreciavam nelas era o fato de poderem conversar no mesmo nível que eles, além do bom desempenho sexual, ao contrário do modelo de comportamento seguido pelas esposas legítimas. Era uma categoria muito bem paga pelos serviços desempenhados, e, em virtude disto, adotaram um estilo de vida luxuoso, vivendo em grandes casas ricamente mobiliadas e decoradas, com escravos à disposição (VRISSIMTIZIS, 2002: 95).

A comédia Antiga tratava as hetairas de forma ofensiva. Acusavam-nas de gananciosas, mentirosas, astutas e depravadas. A partir da comédia nova, passaram a ser tratadas com maior tolerância e em alguns casos, com simpatia (VRISSIMTIZIS, 2002: 96).

Já as pornaí, eram prostitutas que se situavam numa escala social abaixo das hetairas, não devendo, portanto, serem confundidas. Eram geralmente escravas ou ex-escravas que haviam sido libertadas por algum cliente habitual que apreciasse suas aptidões. Poderiam também ser filhas de prostitutas ou ex-prostitutas que aprendiam os segredos da profissão com suas mães. Há um grande número de representações que retratam cenas das pornaí em momentos de negociação, com trajes transparentes,

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abraçando homens ou sentando-se em seus colos, o que significava terem aceitado a proposta oferecida (VRISSIMTIZIS, 2002: 87).

As escravas constituíam a base hierárquica destas categorias. Não iam a escolas, não possuíam vida política. Em alguns casos não podiam usar seus próprios nomes, que poderiam ser alterados pelos indivíduos que as possuíam. Em geral, se tornavam escravas às prisioneiras de guerras, filhas de escravos que adquiriam essa condição por hereditariedade, crianças abandonadas, entre outras (JAEGER, 1986: 141).

Diante da classificação descrita acima, observamos que Atenas possuía mulheres que desempenhavam diferentes papéis na sociedade. Portanto, acreditamos que o feminino não deve ser tratado, nestes casos, apenas como uma categoria uniforme e indiferenciada. Esta é ainda, uma tendência de analisar o Mundo Antigo segundo valores modernos.

Observamos que a conduta feminina variava de acordo com o nível social, econômico, dentre outros. Comumente, era dever da mulher ateniense para com sua pátria, em especial através do matrimônio, a geração de herdeiros legítimos que posteriormente se tornariam os cidadãos. Esta tarefa era executada, em especial, pelas esposas legítimas, estendendo-se para outras categorias mediante algumas considerações que não constituem nosso foco principal.

Os acordos matrimoniais, para estes casos, se realizavam entre homens, que tinham como base considerações políticas e econômicas. As jovens se casavam com indivíduos cujos parentes homens lhe selecionavam. Com o nascimento do filho, especialmente homem, se cumpria o principal objetivo do casamento (POMEROY, 1987: 109).

Com relação ao trabalho, havia uma separação entre as atividades dos homens e das mulheres que também variavam de acordo com a hierarquia social. No caso das mulheres, qualquer que fosse sua classificação dentro da sociedade, havia tarefas em comum. Cuidar da casa com o objetivo de guardá-la, cuidar dos filhos, confeccionar roupas e especialmente preparar os alimentos eram as funções femininas por excelência (POMEROY, 1987: 112). As aristocratas trabalhavam no ambiente do lar, já as mulheres de classificações menos favorecidas trabalhavam ainda fora de suas casas. Podiam ser lavadeiras, vendedoras, oferecendo alimentos ou seus artesanatos, ou prostitutas.

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Portanto, podemos concluir que o período Clássico em Atenas se caracterizou para as mulheres como uma época em que, independente da categoria em que se enquadravam, acabaram vivendo em um ambiente que não foi regrado sob as mesmas condições do sexo masculino. Levaram uma vida mais limitada. Esta diferenciação entre os sexos recaiu mais pesadamente sobre as aristocratas.

Os limites vão desde as ocupações reclusas de uma aristocrática esposa legítima à liberdade intelectual, financeira, sexual e de ambientes a serem frequentados de uma hetaira. Nos parece tentador, segundo os valores modernos, nos compadecermos do modo de vida da primeira e idealizarmos o da segunda. Contudo, apesar dos poucos dados, havia muitas hetairas que sonhavam ser esposas dos cidadãos, serem consideradas respeitavéis. Já não conhecemos nenhuma esposa que desejasse ser uma cortesã (VRISSIMTIZIS, 2002: 37).

Em suma, devemos repensar a idéia de inferioridade. Ao que tudo indica, a preferência feminina ateniense antiga nos conduz a reanalisar o papel e o status da mulher na sociedade.

Personagens Femininas Na Obra de Aristófanes.

Tendo em vista o que já foi exposto, através das duas obras de Aristófanes, foi possível visualizar algumas das primeiras interrogações acerca da condição e do lugar da mulher, na Antiguidade e na História. Suas obras nos levaram a refletir em especial acerca das descobertas, dos equívocos, das lacunas, das dificuldades gerais no processo de análise da temática feminina antiga.

Notamos nas duas tramas em destaque, uma série de elementos comuns. As duas obras revelaram opiniões relativas às mulheres que vão desde a misoginia a simpatia. Foram retratadas particularmente as esposas legítimas dos cidadãos atenienses. Os elementos que compõem as obras nos revelaram personagens que, em certa medida, atuaram como elogios às mulheres, quando as comparamos com os modelos de atuação feminina no contexto da polis ateniense Clássica. Isto ocorre precisamente quando elas terminaram triunfando sob os homens. De alguma forma, elas se revestiram, em certos aspectos, de imagens que poderíamos considerar atrativas e positivas.

Abaixo, destacamos um trecho em que a personagem Lisístrata questionava a capacidade e a coragem femininas a um homem ateniense:

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“Mas que é que esperava? Você pensou que estava lidando com seres inferiores? Ou você pensa que mulher não tem coragem?” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 40).

Entre Lisístrata e Valentina, principais personagens de Lisístrata e Revolução das Mulheres, respectivamente, notamos mulheres inteligentes e vitoriosas em seus objetivos.

As protagonistas demonstraram, ainda, uma hostilidade ao feminino que as cercava, críticas em relação às demais, cuja inteligência não era capaz de formular e executar as estratégias observadas. Em comum, possuíram a habilidade de falar em público. Em Lisístrata, por exemplo, podemos observar várias partes em que a protagonista se queixa do comportamento das outras mulheres, exceto a personagem Lampito. Ela questiona as fraquezas sexuais, a força de vontade para atingirem a finalidade desejada e a incapacidade cognitiva de planejarem soluções que trouxessem seus maridos de volta.

Em alguns trechos, Lisístrata se dirigindo a Lampito afirma:

“Raça ruim a das mulheres! Se eu não fosse durona, já teria desanimado com a fraqueza delas! Parecem gatinhas de coração mole. E eu fico andando de um lado para outro sem saber o que fazer!” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 52).

“Elas são umas sem-miolos!” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 33).

Em outro trecho, uma das mulheres atenienses, chamada Cleonice, fala a Lisístrata:

“E se na medida do possível nós nos privássemos disso que você disse – Deus me livre! - Você garante que conseguiríamos a paz? Será que não há outro meio.”

(ARISTÓFANES. Lisístrata, 22).

“Como sou infeliz! Estou até sentindo tonteiras! Meu corpo está todo duro. Não suporto mais essa tortura.” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 59).

Lisístrata também fala ao coro feminino:

“Não podemos fraquejar a esta prova, por mais dura que seja. Vai ser uma vergonha se fracassarmos queridas!” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 52). Notadamente, em Revolução das Mulheres, observamos em Valentina o mesmo comportamento de Lisístrata, o que demonstra a superioridade das personagens frente às demais.

“Já é tempo de marcharmos! Lembremo-nos bem mulheres, - devemos repetir sem cessar; homens, homens, homens, para evitar descuidos desastrosos. Não será pequeno o perigo se nos apanharem tramando um golpe de audácia como esse.” (ARISTÓFANES. Revolução das Mulheres, 100).

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“Que ninguém me contradiga nem me aparteie antes de conhecer minhas idéias todas e ouvir minhas explicações.” (ARISTÓFANES: Revolução das Mulheres, 116).

Enfim, em seu discurso, as mulheres aristofânicas apresentavam habilidades superiores às demais e aos próprios homens. Mais uma vez, percebemos que suas intenções se voltam para a defesa de valores tradicionais, como a família nuclear, e a igualdade entre os cidadãos, por exemplo. Nesta época, Atenas se caracterizava por uma maior passividade relativa aos adultérios e à introdução dos filhos não legítimos na casa, além dos fatos relativos à corrupção no cenário político (ANDRADE, 2001: 36).

Abaixo, destacamos características singulares de cada uma das peças separadamente.

Lisístrata

Nesta obra, os homens preferem as relações heterossexuais. Possuem os desejos sexuais menos controlados que as mulheres. Aristófanes oferece aos homens outras alternativas sexuais durante a greve, como as relações com outros homens ou com prostitutas. O que diferencia suas personagens femininas dos homens, é que elas se encontravam totalmente privadas de relações sexuais. Desconsideravam a possibilidade de relações entre mulheres ou procurar jovens escravos para suas satisfações.

Lisístrata, se dirigindo ao coro feminino, afirma que:

“É a única forma, se quisermos obrigar nossos maridos a votar pela paz.. Teremos de nos privar.” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 20).

Segundo Sarah B. Pomeroy, em Lisístrata aparecem algumas contradições que atacam a lógica do próprio texto.

“Que validade pode ter uma guerra sexual de mulheres, quando o motivo e exatamente a ausência dos maridos? O que ocorre com as outras opções sexuais pelos homens e pelas mulheres?” (POMEROY, 1987: 137).

Se por um lado, pode parecer um flagrante da imperícia do autor, por outro, era algo natural no desenrolar do tema cômico, ou seja, a comédia se prestava a certas distorções. Há uma estima com relação à personagem. Ela possui uma inteligência aguda, habilidade dialética, audácia, elegância espiritual e encanto físico, humor, patriotismo; sendo deste modo, uma protagonista absoluta.

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Voltamos-nos ainda, para a relação das outras personagens que compõem a obra. Entre as femininas estão as atenienses, Cleonice e Mirrina. Já Lampito era uma mulher espartana; havia também algumas mulheres do coro feminino que limitam seus papéis a uma atuação secundária.

Segundo Pedro Calvo-Sotelo, em A Lisístrata de Aristófanes, alguns autores caracterizaram Lisístrata como um herói cômico, ou heroína cômica. Definiu-se como herói cômico aquele personagem rude que a crítica quis petrificar a um tipo dramático definido. Um herói cômico se caracteriza por um tipo grosseiro, ridículo e transgressor de todas as normas. É um charlatão irreverente, blasfemo, sem escrúpulos (SOTELO, 1986: 163).

Ao contrário, Lisístrata é uma protagonista cativadora, digna e elegante. Um herói cômico desfruta de um mundo sensual em que a comida, a bebida e o sexo possuem lugares privilegiados. Lisístrata, ao contrário, lidera um sacrifício pessoal em prol da castidade e da moderação.

Em resumo, ela se destaca como uma personagem superior em todos os sentidos: Vida intelectual, moral, ressaltando sua voluntariedade para com o bem estar da pátria. Sendo assim, se concentra muito acima dos heróis cômicos. Desta forma, os elementos atribuídos ao herói cômico foram, por sua vez, incorporadas a personagens secundárias como, Cleonice e Mirrina.

Cleonice é a segunda a aparecer sobre o cenário de personagens femininas, cuja personalidade nos remete a imaginar uma mulher de conceitos muito pobres. Típica charlatã que representa consumadamente a personagem que busca acima de tudo fazer o público rir. Seu comportamento verbal é perfeitamente coerente com sua referência para o cômico. Ela resume a natureza despreocupada de um culto liderado pelo vinho e pelos prazeres da carne.

“Sem sexo! Será que vou agüentar”! (ARISTÓFANES. Lisístrata, 20).

Cleonice é para Aristófanes um pretexto que o possibilitava recorrer, em qualquer ocasião, ao recurso do contraste, que realçava a beleza do papel exercido pela protagonista (SOTELO, 1986: 165).

Mirrina se destaca como uma outra personagem secundária, coadjuvante. Limita-se a um papel parecido com Cleonice, porém, em um tom ainda mais rebaixado. Ela é apresentada como uma mestra na arte do fingimento. Dissimula e participa das humilhações aos homens. É uma personagem dramaticamente descontínua, com um

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protagonismo reduzido, pouco situado, limitando-se a intervenções breves e redundantes temperadas com o sabor do humorismo.

“Sem sexo! Prefiro a guerra!”(ARISTÓFANES. Lisístrata, 21).

Lampito possui uma intervenção mais decidida, em virtude de dirigir Esparta sob o mesmo plano executado em Atenas por Lisístrata, que seria convocar as mulheres a uma guerra de sexo que obrigasse aos espartanos a concessão da paz. Ela se caracterizou por uma beleza estética notável e extrema energia física. Também era descrita com estima e inteligência.

Desta forma, percebemos que entre Lampito e Lisístrata ocorreu um paralelismo. Ela representa a própria Lisístrata em Esparta. Opõe-se ao resto das personagens, pois possui características semelhantes à Lisístrata. Como uma espartana, possuía um belo corpo cultivado pelos exercícios, sabia fazer discursos e desconfiava do sistema democrático ateniense.

Nesta fala, Lampito declara estar disposta a qualquer sacrifício para o bem estar de sua pátria.

“E eu subiria uma montanha de joelhos se soubesse que lá no cume encontraria a paz.” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 20).

É através das identidades de Lisístrata e Lampito que nós compreendemos a natureza da obra de Aristófanes. Mesmo não sendo ateniense, o autor preferiu não sujeitar a personagem espartana a qualquer comparação depreciativa, tendo em vista, uma intencionalidade pacifista subjacente.

Nas demais, é importante citarmos ainda a atuação do coro de mulheres, que forneceram um apoio decisivo à causa pacifista. Conferem um suporte decisivo a Lisístrata e Lampito em oposição aos seus inimigos. Nesta fala, o coro se manifesta em apoio a causa defendida pela protagonista e a personagem espartana.

“Está bem!... Se não há outro jeito, acabemos com a guerra!” (ARISTÓFANES. Lisístrata, 64).

Em suma, Lisístrata aborda um importante grupo de personagens femininas, mulheres que personificam conceitos defendidos pelo autor. Sem dúvida, construções que coroaram Aristófanes mais do que qualquer outro em comédias.

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Revolução das Mulheres representou, também, uma sátira às teorias de certos filósofos, principalmente os sofistas. Lideradas pela eloqüente Valentina, as mulheres lideraram o poder, alegando a incapacidade dos homens para governar. Seu principal objetivo era a promoção da igualdade em virtude do pauperismo de alguns cidadãos atenienses.

Inspiradas no princípio de uma relação entre a direção da coisa pública e do lar, as mulheres governaram a cidade de Atenas com a mesma eficiência com que cuidavam de suas casas, para satisfação de todos. Não haveria mais ricos de um lado e pobres do outro. Atenas seria como uma única habitação na qual cada um poderia obter, num fundo comum, o necessário à sua subsistência, graças a reformas de base como a comunidade de bens e de mulheres.

Nesta peça, a personagem Valentina reina unânime. Ela representa a corrupção dos cidadãos e das instituições de Atenas. A obra permeia entre elogios e críticas as mulheres. Eram inteligentes; a protagonista em especial possuía um talento discursivo e retórico.

Porém, eram tidas como dissimuladas e mentirosas, pois utilizaram sua vitória sobre os homens em beneficio próprio e não para o bem estar de uma coletividade, como informado no início da peça.

Valentina também se difere de Lisístrata e do comportamento das esposas legítimas, em alguns aspectos. Em nada se assemelha a uma mulher casta e virtuosa. Ao contrário, se caracterizou como falsa, dissimulada, com nenhum pudor relativo à satisfação de seu apetite sexual. Diferente dos elementos que não foram atribuídos a Lisístrata, foi caracterizada, em alguns aspectos, como uma heroína cômica.

Entre as falas de Valentina, observamos sua proposta de administração da cidade de Atenas:

“Para começar, todos terão de entregar seus bens ao governo, para que todos os cidadãos tenham partes iguais desses bens e vivam deles; não é inevitável que uns sejam ricos e outros miseráveis; que uns possuam terras sem fim e outros não tenham onde cair mortos; que uns tenham a seu serviço uma porção de escravos e outros não sejam sequer donos de si próprios! Instituiremos uma só maneira de viver, igual para todos”! (ARISTÓFANES. Revolução das Mulheres, 115). É digna de nota a solução de Valentina para o problema das mulheres feias diante da desvantagem em que ficariam, relativamente às bonitas, nesse regime autoritário.

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Neste trecho, a personagem se dirige a algumas mulheres mais velhas, afirmando defendê-las quanto ao direito de terem o amor dos jovens, da mesma forma que as mais moças.

“Eu mesma falarei em defesa de vocês, depois que estiver em frente à tribuna.”

(ARISTÓFANES. Revolução das Mulheres, 95).

A luxúrias nas mulheres aristofânicas também constituem ocasiões normais nas composições do autor. Nesta obra, os vícios femininos se mostram mais depreciados nas mulheres mais velhas, descritas como senhoras com extremo desejo sexual para os homens mais jovens. Trata-se de um recurso que foi utilizado para ferir o status do cidadão, ou seja, o relacionamento de homens com mulheres mais velhas, na Atenas Clássica, era visto como algo depreciativo.Especialmente, porque, senhoras com idades mais elevadas não poderiam procriar, contrariando questões ligadas ao matrimônio e a continuação dos descendentes diretos, os futuros cidadãos.

Assim como Lisístrata, Valentina possui uma superioridade, em especial intelectual, sobre as demais. Ela representa uma denúncia aos problemas ligados ao poder político ateniense, que, para o autor, não se converteram em prol de uma abordagem coletiva, mas individual, o que gerou uma série de desigualdades em Atenas. Desta forma, as leis foram manipuladas e legitimadas a serviço de poderes individuais.

Nestes trechos, Valentina se refere às outras mulheres, alegando que elas não eram capazes de possuir a mesma inteligência que ela:

“Como vocês dizem bobagens”! (ARISTÓFANES. Revolução das Mulheres, 98).

“Nenhuma mulher aqui possui ousadia e capacidade comparadas a mim.”

(ARISTÓFANES. Revolução das Mulheres, 99).

No final da trama, a protagonista expõe claramente que seus anseios pessoais estavam acima de ideais direcionados à igualdade coletiva. Enfim, através de sofismas, a personagem atinge suas finalidades.

“Afinal de contas eu não ia fazer essa revolução para não me usufruir dela!”

(ARISTÓFANES. Revolução das Mulheres, 115).

Valentina também representa uma crítica direta a Sofística. Ela encarna sua figura em todos os seus aspectos. Em Atenas os princípios sofistas subvertiam elementos tradicionais, dentre eles, os métodos educacionais. Neste sentido, o foco central do

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argumentação, isto é, os raciocínios partiam de premissas verdadeiras, todavia, eram dissimuladas para provocar uma ilusão de verdade, apresentando-se sob esquemas que pareciam atingir as regras da lógica.

A Revolução das Mulheres e Lisístrata são, sobretudo, documentos vivos que demonstraram a liberdade de expressão que vigorava na Grécia Clássica. Nelas, Aristófanes nos surpreende pela ousadia ao tratar de temas relacionados ao sexo e à emancipação feminina em um universo que se caracterizou por uma supremacia masculina.

Cidadania Ateniense no Período Clássico.

Atenas, sem dúvida, representava um importante centro político na Antiguidade. Somente aqueles considerados cidadãos é que poderiam participar da vida política na polis, ou seja, apenas os homens livres e maiores de vinte anos possuíam a cidadania ativa. (JAEGER, 1986: 121).

Desta forma, estavam excluídos os estrangeiros, os escravos, as mulheres e as crianças. O mais importante, para os gregos antigos, era a política e a vida social em torno da polis. O homem “só existia”, de forma plena, enquanto cidadão, fazendo parte do corpo político. O ideal comum impunha-se a todos, e o indivíduo era visto, comumente, como parte deste órgão coletivo, deste corpo social (VERNANT, 1981: 23).

Segundo as perspectivas apresentadas neste trabalho, é extremamente importante analisarmos as formas pelas quais ocorreram as apropriações políticas no espaço teatral em Aristófanes, os mecanismos da fabricação do feminino enquanto, o “Mesmo e Outro”, o que gera uma necessidade de refletirmos sobre a possibilidade de uma “cidadania feminina” na Atenas Clássica (ANDRADE, 2001: 07).

Aristófanes retrata suas personagens, elevando-as à posição de “cidadania”. Chegam a dirigir assembléias, derrotar guerras e entregar suas vidas pela polis. Diante disto, as personagens Aristôfanicas carregam uma série de simbologias, representações e imaginários, que o autor usa para questionar a identidade e os valores atenienses segundo suas próprias perspectivas.

Segundo a autora Marta Mega de Andrade, em A Cidade das Mulheres – Cidadania e Alteridade femininas na Atenas Clássica, a comédia de Aristófanes ainda que

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assumisse uma irrealidade, não poderíamos afirmar que se tratasse de algo de todo impossível. (ANDRADE, 2001: 08).

Para a autora, já existia em Atenas uma positividade com relação à presença feminina no espaço público, ainda que apresentada de forma risível em Aristófanes. Por outro lado, ao observamos a peça Revolução das Mulheres, por exemplo, é necessário destacarmos a questão que o “travestimento” nos leva a deduzir. O fato de atores homens, vestidos de mulher, vestirem-se de homens, para, discursando e votando como homens, conferirem às mulheres o governo da cidade, por si só, já caracterizava o fato, mesmo no âmbito da ficção, de que o feminino não podia e nem reivindicava o direito, enquanto mulheres, de participarem da assembléia dos cidadãos. (ANDRADE, 2001: 15).

Percebemos que a participação efetiva da mulher no mundo da polis, mesmo na ficção e numa época de crise de valores, era impensável. O que não significa, entretanto, que não tivessem sido desenvolvidos espaços de fala feminina como esferas próprias de sua atuação social no interior da cidade (LESSA, 1996: 85). Para Fábio de Souza Lessa, a mulher agia como elemento de integração social, disseminando informações que revitalizavam o processo de identidade junto ao grupo. Tratando-se de uma sociedade de comunicação oral, era vital a circulação de informações (LESSA, 1996: 86).

As esposas, categoria feminina abordada nas obras aristofânicas analisadas, encontravam a possibilidade de dialogarem entre si, transmitindo informações e, simultaneamente, se mantendo informadas acerca dos acontecimentos e dos saberes que circulavam na sociedade, mesmo diante de uma circulação mais restrita.

Alguns autores, como Fábio Lessa, trabalham com a hipótese de uma participação da esposa, mesmo de forma indireta, na vida política. Desta maneira, as opiniões das esposas podiam, de fato, sensibilizar os maridos nas decisões que estes tomavam na Assembléia.

Fábio Lessa afirma, ainda, que as mulheres possuíam um modo próprio de participação social, existindo a possibilidade de serem reconhecidas pela sociedade por seu valor para coesão e prosperidade para Atenas.

São inúmeras as contribuições oriundas dos trabalhos aristofânicos. Existem várias vertentes ainda a serem exploradas. Há muito que se falar sobre a cidadania ateniense, a mulher no imaginário masculino, posturas que relacionam Aristófanes a temáticas relacionadas ao andrógino, estas e outras questões farão parte de diálogos posteriores deste trabalho.

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Aristófanes “Feminista” ou Misógino?

Aristófanes nos revelou um trabalho que não se caracterizou apenas como uma depreciação do feminino em sua Cidade-Estado, como pode parecer a uma primeira vista. Como já observamos em seu trato com suas personagens, havia entre elas uma oscilação que caminhava do desprezo para o reconhecimento e a valorização. Não podemos, diante disto, considerá-lo como um defensor do feminino ou da misoginia.

O que podemos afirmar, apenas, foi que dirigiu seu pensamento em defesa e manutenção de valores tradicionais para sua época. Para os modernos, até mesmo podem ser considerados nobres, como defender a paz, a moralidade, a família e a igualdade entre os cidadãos.

Ele a traduziu em suas comédias os valores que defendia para sua polis, em contraste com uma aparente possibilidade de deturpação dessas condutas. Para isso, as mulheres foram utilizadas como um instrumento que serviu para repensarem seus papéis na sociedade, mas também destacar diversos outros temas que assolavam Atenas.

Notamos que Aristófanes constrói imagens femininas que diferem do modelo tradicional por ele idealizado. Sendo assim, trabalhou mediante um processo de alteridade. Isto quer dizer que, as personagens refletem um poder que elas não possuíram de fato, mas que nas obras lhes deram acesso ao que parecia mais desejarem, ou seja, a manutenção da própria ordem patriarcal.

Existe a idéia de uma “superioridade feminina”, isto é, as personagens retratadas fogem aos padrões patriarcais que caracterizaram a sociedade da época. Contudo, podemos observar que estas “transgressões” de conduta foram limitadas, ou seja, toda a sabedoria, todos os mecanismos aplicados para atingir a intencionalidade desejada seguiam na verdade intenções que caracterizaram os princípios defendidos por Aristófanes.

Em Lisístrata, por exemplo, as mulheres reclamavam a volta de seus maridos, na tentativa de recompor o modelo familiar cujo chefe e verdadeiro representante era o homem. Em suma, trata-se de uma “transgressão limitada” em que os elementos que determinaram a superioridade feminina foram utilizados como um recurso voltado para a defesa de valores que encarnavam o modelo Aristofânico.

Para finalizarmos, ao que tudo indica, estamos lidando com três modelos de feminino em Atenas, segundo a visão aristofânica, particularmente a partir da análise das

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esposas legítimas. Temos em primeiro lugar, a esposa personagem, fruto da criação do próprio autor. Em segundo, um modelo idealizado, mediante as suas próprias perspectivas. E por fim, a esposa ateniense substancial, que vive em meio a uma sociedade em crise; sofrendo transformações nos mais variados âmbitos.

“AMONG SMILES & TEARS ": A ANALYSIS OF FEMALE CHARACTERS IN THE WORK OF ARISTOPHANES.

ABSTRACT: Aristophanes highlighted among the scholars of the Old World, elected the most brilliant writer of plays of Greece antiquity. Author of comedy, its work is characterized by translate to critical social reality, cultural, political and religious Clasical Athenian society. Developed in this article, the content related to the project, dissertation submitted to the programme of Post-Graduate in History (UFG). Among the works selected for this study, we chose specifically for Revolution Women and Lysistrata, Aristophanes comedy of which date from 411 b.C. Our work is back, especially, to understand, according to the optical Aristofhanica, the women in Athenian society Clasical, from the analysis of some of its characters presented in parts highlighted.

KEYWORDS: Clasical Antiquity, Aristophanes, Characters, Women, Former Comedy.

NOTAS

1 Sofista - Indivíduo que faz sofismas. Introduzido pelos gregos antigos. Método baseado na persuasão focada no discurso (MARQUES, 2007:15).

2 Estratego - Palavra de origem grega. Designa um indivíduo relacionado ao militarismo. Sinônimo de “liderança” e “Chefe”. Relativo a época da democracia ateniense (MOSSÉ, 1985: 52).

3 Alcmeônidas - Tipo de família grega, de origem messênica; estabelecida em Atenas. Destacaram-se pela riqueza e participação no cenário político (MOSSÉ, 2008: 45).

4 Democracia ateniense – forma de organização política liderada pela categoria dos cidadãos. (Homens adultos nascidos de pai e mãe atenienses). Eles detinham o poder político do Estado. Estavam excluídos os estrangeiros, os escravos, as mulheres e as crianças (MOSSÉ, 2008: 57).

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Referências

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