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Irrigação do cafeeiro - introdução

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Academic year: 2021

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Irrigação do cafeeiro - introdução

André Luís Teixeira Fernandes

Doutor em Engenharia de Água e Solo Pró Reitor de Pesquisa, Pós Graduação e Extensão

Universidade de Uberaba – UNIUBE

andrefernandes@c3consultoriaepesquisa.com.br O Brasil já irriga 260.000 hectares de todo o seu parque cafeeiro, o que representa quase 10% da cafeicultura nacional. O que chama a atenção é que esta fatia irrigada responde por quase um terço da produção nacional, mostrando a grande competitividade desta atividade no agronegócio brasileiro. Esta percentagem de área irrigada é muito superior à média brasileira (Figura 1), mostrando que o café responde bem à esta tecnologia, que só tem aumentado nos últimos anos. O Brasil irriga apenas 5,8% da sua área cultivada, mas isto representa 41% do valor da produção. Segundo dados da FAO, todos os estudos indicam que as demandas de produção de alimentos, fibras e de agroenergia só podem ser atingidas com o uso crescente da irrigação. Em 2050, seremos mais de 9 bilhões de habitantes, o que torna necessário o aumento de 70% da produção de alimentos. Para que seja possível este aumento, é necessário aumentar a produtividade sem aumentar das áreas cultivadas, o que somente é possível com irrigação.

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Na Figura 2, podemos ver que as principais causas de quebra de produtividade na lavoura cafeeira são decorrentes da falta de chuva ou irrigação (56%) ou do excesso hídrico (17%), o que explica o expressivo aumento nas áreas irrigadas de café no Brasil.

Figura 2 – Principais causas de quebra de produtividade na cafeicultura

Os cafezais irrigados estão mais concentrados nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e, em menor proporção, em Goiás, Mato Grosso, Rondônia e São Paulo. A irrigação tem sido utilizada mesmo nas regiões consideradas tradicionais para o cafeeiro, como o sul de Minas Gerais, Zona da Mata de Minas Gerais, Mogiana Paulista, Espírito Santo, etc.

Trabalhos de pesquisa desenvolvidos nas regiões de Lavras e Viçosa, em Minas Gerais, consideradas aptas climaticamente ao cultivo do cafeeiro, sem a necessidade de irrigação, demonstram que o aumento de produtividade média com o uso da irrigação (médias de pelos menos três safras) tem sido de 50%, quando comparada com as lavouras de sequeiro.

Na Tabela 1 é possível analisar a região Sul de Minas Gerais (Varginha, MG) nos últimos 13 anos com relação ao déficit hídrico. Em 13 anos de medições climatológicas, em 7 deles a precipitação foi abaixo da média normal da região, sugerindo que a irrigação, mesmo nesta região considerada tradicional sem irrigação, pode trazer grandes benefícios ao produtor de café.

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Tabela 1 – Precipitações anuais e déficits hídricos máximos observados na região de Varginha – MG, Fazenda Experimental do da Fundação Procafé.

É importante salientar que, embora a irrigação seja viável nestas regiões, o benefício do uso desta tecnologia é mais evidente em regiões mais quentes, onde a temperatura média mensal dificilmente fica abaixo dos 19º C, como as novas fronteiras do café - Barreiras, Luiz Eduardo Magalhães e Cocos, na Bahia.

Na Tabela 2, é possível verificar a divisão da cafeicultura brasileira em regiões, de acordo com a temperatura. As regiões podem ser classificadas em “frias”, “médias” e quentes. A irrigação tem proporcionado melhores resultados de produtividade nas regiões quentes, seguido pelas médias e, por último, nas frias.

Vários experimentos têm sido conduzidos nas diferentes regiões cafeeiras, objetivando, principalmente, avaliar o efeito da irrigação na produtividade e qualidade do cafeeiro, sendo vários deles relacionados a estresse hídrico x produtividade/qualidade do café.

Existem diferentes sistemas de irrigação que podem ser utilizados, sendo que a escolha do mais adequado depende de uma série de fatores, destacando-se o tipo de solo, a topografia, o tamanho da área, os fatores climáticos, os fatores relacionados ao manejo da cultura, o déficit hídrico, a capacidade de investimento do produtor e o custo do sistema de irrigação.

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Além disso, deve-se ter em mente também que é grande o volume de água exigido na irrigação e, por isso, a necessidade de otimizar a utilização deste recurso é um dos aspectos mais importantes que deverá, também, ser considerado no momento de decidir pelo método e pelo sistema de irrigação a ser utilizado.

Tabela 2 - Classificação das regiões cafeeiras do Brasil de acordo com as temperaturas médias mensais Classificação das regiões Temperatura média mensal (ºC)

J F M A M J J A S O N D

Regiões quentes (ano todo > 19ºC)

Catalão (GO), Brasília (DF), Barreiras (BA)

Regiões médias (jun e jul < 19º)

Patrocínio (MG), Araguari (MG), Bonfinópolis (MG), Paracatu (MG), Marília (SP) Regiões frias (mai a ago < 19º C) Londrina (PR), Franca (SP), Varginha (MG), Carmo do Paranaíba (MG) Temperaturas abaixo de 19ºC Temperaturas acima de 19ºC

Em geral, a irrigação do cafeeiro é feita por dois métodos: aspersão e irrigação localizada. Os sistemas de aspersão utilizados na irrigação desta cultura são os seguintes: aspersão convencional móvel (com aspersores pequenos, médios e canhões) ou fixa (que inclui o sistema de aspersão em malha), autopropelido e pivô central. Para a irrigação localizada, o sistema mais utilizado é o gotejamento, havendo, porém, regiões que utilizam a microaspersão, na forma de emissores chamados microjets. Existem também os sistemas modificados, como os tubos perfurados a laser (popularmente conhecidos como tripas), ainda com grande utilização no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, em Minas Gerais.

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Investimento na irrigação

Em função de aspectos relacionados ao consumo de energia, exigência de mão-de-obra e outros aspectos operacionais, os sistemas mais viáveis de irrigação por aspersão têm sido o convencional (principalmente do tipo malha) e o pivô central. Já com relação à irrigação localizada, os sistemas mais utilizados são o gotejamento, por suas características técnicas que permitem uma irrigação com grande precisão, economia de água e energia, e as fitas de polietileno (sistema também conhecido como “tripa”), principalmente pelo menor custo de implantação.

Na Figura 3, estão dispostos custos de implantação atualizados dos principais sistemas de irrigação para o cafeeiro. Pode-se observar que, para irrigar a lavoura, o produtor tem opções que variam de U$ 1.081,00 a 3.514,00/ha.

Figura 3 – Custos de instalação dos principais sistemas de irrigação do cafeeiro (Conversão dezembro de 2011

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Principais sistemas de irrigação para o cafeeiro

Basicamente, os sistemas de irrigação para o cafeeiro podem ser divididos em dois grandes grupos: sistemas de irrigação em área total e sistemas de irrigação localizada, que irrigam parte da área onde a cultura está implantada.

Pivô central

Os primeiros pivôs centrais utilizados para café foram adaptados de outras lavouras, com irrigação em área total, ou seja, tanto nas linhas de café quanto nas entrelinhas. Apesar de viabilizar a cafeicultura empresarial nas regiões de cerrado, o sistema pivô central “convencional” ainda apresentava o inconveniente da aplicação de grandes volumes de água e com irrigação das entrelinhas do café.

A partir destas dificuldades, surgiu uma inovação, adaptada da irrigação de pomares de citros nos Estados Unidos, com emissores localizados, irrigando somente na faixa de absorção radicular das plantas de citros.

Adaptando esta tecnologia, os pesquisadores e consultores brasileiros desenvolveram uma técnica extremamente interessante para a irrigação do cafeeiro com o pivô central, com plantio realizado em círculo, com emissores localizados sobre as linhas de café, os denominados LEPA (Figura 4).

Com a criatividade do cafeicultor, ocorreram também adaptações caseiras nos aspersores convencionais, imitando os emissores LEPA, porém com performances hidráulicas bem inferiores às dos emissores que foram fabricados especificamente para este fim (Figura 5).

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Figura 4 – Emissores localizados para pivô central

(LEPA)

Figura 5 – Adaptações de emissores para aplicação

localizada de água.

Neste sistema de plantio, igualmente aos demais sistemas de plantio e de irrigação, o produtor deve considerar que apesar das vantagens da irrigação, mais especificamente do plantio circular, o sucesso do empreendimento cafeeiro depende do cumprimento correto das demais práticas como a nutrição, tratos fitossanitários, culturais e preparo do café. A irrigação nunca deve ser considerada como a “salvadora da pátria”.

A LEPA

LEPA é um método altamente eficiente de aplicação de água às culturas em sistemas de pivô central e lateral móvel. Significa “Low Energy Precision Application”, ou aplicação precisa de água com baixo consumo de energia.

Em linhas gerais, a sua utilização promove uma redução nas perdas de água por deriva – vento e evaporação; aumenta a produtividade das culturas e diminui custos de energia de bombeamento. No Quadro 1 podem ser visualizadas algumas diferenças existentes entre os emissores LEPA e os emissores convencionais, no que diz respeito a perdas de água.

Em muitas situações, esses benefícios justificam a transformação do kit de “sprays” existentes no pivô por um sistema LEPA. As perdas de água com a utilização deste sistema dificilmente ultrapassam 2 a 3%, contra os 25 a 30% dos “sprays” convencionais.

Quadro 1 – Perdas de água em sistemas convencionais e com a utilização dos emissores LEPA.

Área de perda de água Emissores convencionais Emissores tipo LEPA

Evaporação do solo Maior, pois toda a superfície do solo é molhada.

Menos da metade da superfície do solo é molhada, reduzindo evaporação.

Evaporação do cafeeiro Maior, porque os cafeeiros ficam mais úmidos, permitindo grande superfície de evaporação.

Os cafeeiros permanecem mais tempo secos.

Deriva pelo vento Os “sprays” convencionais são

altamente suscetíveis às perdas pelo vento.

Deriva mínima, pela localização do jato de água sobre o cafeeiro.

Escoamento superficial Topografia, baixo

desenvolvimento vegetativo e irrigação excessiva podem

Escoamento pode ser problema, se não forem tomadas medidas adequadas.

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favorecer perdas por escoamento superficial.

Percolação profunda Alta – a irrigação excessiva pode provocar perdas de água abaixo da superfície do solo.

Baixa, pois o correto monitoramento da umidade do solo reduz as perdas.

O sistema LEPA permite quatro opções de molhamento, porém, na irrigação do cafeeiro são mais utilizadas duas delas - o borbulhador e o “spray”. Torna-se necessário, portanto, que os fabricantes de equipamentos estudem a fabricação de um emissor mais barato, com apenas duas opções de molhamento, que são as mais utilizadas para o café. O LEPA hoje disponível no mercado, fabricado por uma empresa norte-americana, apresenta as seguintes opções:

- Borbulhador: caracteriza-se por aplicar água a uma baixa velocidade, dirigida à base da linha de café;

- Borbulhador aerador: caracteriza-se por aplicar água diretamente na base das linhas de café;

- Quimigação: caracteriza-se por apresentar o spray invertido, que amplia a área de aplicação de água, sendo ideal para ser instalado entre duas linhas de plantas. Para café, não apresenta grandes vantagens, na medida em que os emissores são instalados sobre as linhas de plantio;

- Spray: caracteriza-se por irrigar toda a área de lavoura, ideal para a situação onde são plantadas culturas intercalares ou quebra-ventos temporários nas entrelinhas, ou quando se deseja reduzir o problema de escoamento superficial, no início do desenvolvimento do cafeeiro.

Aspersão convencional e em malha

Neste sistema, a água é aplicada ao solo na forma de uma chuva artificial, por meio do fracionamento do jato em gotas de água que se espalham no ar, caindo sobre o terreno. Este fracionamento é obtido pelo fluxo de água sob pressão por pequenos orifícios ou bocais.

Existem diferentes tipos de sistema de aspersão, como: portátil, semi-fixo e fixo. Uma inovação que tem apresentado bons resultados na irrigação do cafeeiro é uma adaptação no sistema convencional de aspersão, o sistema de aspersão em malha.

Este sistema tem como características principais: a) a utilização de tubos de PVC de baixo diâmetro, que constituem as linhas laterais, que se ligam “em malha” e são enterradas; b)

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baixo consumo de energia, de 0,6 a 1,10 CV/ha; c) adaptação a qualquer tipo de terreno; d) possibilidade de divisão da área em várias sub-áreas; e) facilidade de operação e manutenção; f) possibilidade de fertirrigação; g) baixo custo de instalação e manutenção.

Como limitações, este sistema apresenta: a) impossibilidade de automação; b) maior dependência de mão-de-obra; c) abertura de grande número de valetas para acondicionamento das malhas.

Autopropelido convencional

Consiste num aspersor tipo canhão montado em um veículo equipado com autopropulsor, por meio da movimentação hidráulica de um carretel que enrola um cabo de aço de comprimento igual à faixa de irrigação.

Carretel enrolador

Mais moderno que o anterior, irriga uma faixa de terra continuamente, pelo deslocamento de um canhão hidráulico montado sobre um carrinho de três rodas conectado na extremidade de uma mangueira. Neste equipamento, apenas a mangueira é movimentada. Tanto o autopropelido convencional quanto o carretel enrolador e o pivô central convencional irrigam em área total (linhas de café e entrelinhas).

Tubos perfurados a laser ou “tripa”

Trata-se de uma combinação de aspersão convencional com irrigação localizada, onde a água é aplicada por esguichamento por meio orifícios feitos a laser na mangueira. As “tripas” são colocadas próximas às saias dos cafeeiros (um orifício de saída) ou no meio da rua (dois orifícios de saída).

Devido ao seu baixo custo de implantação, esse sistema tem sido largamente utilizado em algumas regiões do Brasil, como Araguari, no Triângulo Mineiro. O maior inconveniente desse sistema, apesar do baixo custo de implantação, é a manutenção, pois a grande maioria dos projetos é feita com “tripas móveis”, que requerem uma reposição anual da ordem de 30%.

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Alguns cafeicultores, para reduzirem esses custos, optaram por sistemas fixos, mesmo com o maior custo de implantação.

Gotejamento

Efetua a irrigação sobre o solo, na área de maior absorção das raízes do cafeeiro, com pequena intensidade (1 a 10 litros/hora), porém, com alta freqüência (turno de rega de 1 a 10 dias), de modo que se mantenha a umidade do solo na zona radicular próxima à capacidade de campo, situação onde a água é facilmente absorvida pelo cafeeiro.

A água é pressurizada pelo sistema de bombeamento, e, antes que chegue aos gotejadores, passa pelo cabeçal de controle, onde é filtrada. Um dos grandes problemas verificados na irrigação localizada é o entupimento de emissores e, por essa razão, a filtragem é prática essencial para um bom funcionamento desse sistema.

Apresenta como principais vantagens: a) alta uniformidade de aplicação de água, de 90 a 95%; b) redução de gastos de água, energia e mão-de-obra; c) aplicação eficiente de defensivos e fertilizantes; d) possibilidade de automação total do sistema.

Como desvantagens, apresenta: a) alto custo de implantação; b) entupimento de emissores; c) concentração do sistema radicular em pequena porção do solo, onde se forma o “bulbo molhado” do gotejador; d) danos e avarias das linhas laterais por trabalhadores (enxadas) e animais (roedores).

Para evitar problemas de vandalismo, alguns produtores têm adotado a técnica de enterrio de emissores. Porém, ela deve ser cuidadosamente planejada, pois a colocação de gotejadores muito distantes da maior concentração de raízes do cafeeiro pode provocar reduções expressivas de desenvolvimento vegetativo e produtivo da cultura.

Como novidade do sistema de irrigação por gotejamento, podemos citar o enterrio de emissores (Figura 6), para evitar avarias por roedores, insetos, maquinários, implementos agrícolas.

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Figura 6 – Gotejamento enterrado na cultura do café

Porém, para que a técnica tenha sucesso, deve-se tomar os devidos cuidados com a manutenção do sistema (impedindo intrusão de raízes e entupimentos com impurezas físicas e químicas) e também com a profundidade do enterrio, que nunca deve ser superior a 15 cm.

Importância da pesquisa

Nos últimos 12 anos, a produtividade média nacional passou de 12 para 18 sacas beneficiadas por hectare, com lavouras-modelo registrando recordes de 70 sacas. Esse aumento deve-se muito à contribuição da pesquisa, em todas as áreas do conhecimento.

É importante convencer os responsáveis pela política cafeeira que, cada real gasto com pesquisa de qualidade, como a que é feita pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, gera cerca de R$ 25,00 em termos de benefício ao cafeicultor nacional.

A demanda global pela bebida de café cresce a um ritmo tal que, mesmo somados os estoques de todos os países produtores, nos próximos três anos, não haveria café suficiente para atender ao desejo dos apreciadores em todo o mundo.

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Convém comentar, enfim, a questão do consumo nacional. Com todas as pesquisas desenvolvidas por várias instituições nacionais, o consumo nacional de café tem aumentado de 5 a 6% todo ano, comparado ao consumo mundial, que cresce, em média, 1,7% ao ano (25% da população mundial consome café).

Como atender a essa demanda? Com produtividade e qualidade. Mas como chegar à produtividade e qualidade? Um dos caminhos mais curtos e viáveis é com pesquisa tecnológica.

Gerenciamento da irrigação

Para que um projeto de irrigação do cafeeiro atinja seus objetivos, é necessário que, além de um projeto adequado (dimensionamento e implantação), haja também um manejo eficiente da irrigação.

O conceito de manejo eficiente da irrigação é complexo, podendo assumir diversas faces, e no seu sentido mais amplo relaciona tanto o aspecto do manejo da água como o manejo do equipamento, com o objetivo de adequar a quantidade de água a ser aplicada e o momento certo desta aplicação.

O manejo adequado da irrigação tem por um lado o compromisso com a produtividade do cafeeiro, e por outro o uso eficiente da água e da energia, promovendo a conservação do meio ambiente.

Para ilustrar o cálculo da quantidade de água necessária para cafeicultura irrigada, vamos considerar o caso da região Oeste da Bahia. Atualmente, a cultura ocupa uma área aproximada de 14.000 hectares. A região caracteriza-se por alta demanda evapotranspirativa, o que resulta no consumo médio da cultura do cafeeiro da ordem de 1600 mm.

Considerando-se que as chuvas atendam 50% da demanda da cultura (800 mm), a quantidade de água a ser aplicada via sistema de irrigação atinge a cifra de 800 mm. Sabendo-se que 1 mm repreSabendo-senta 1 L/m2 ou 10 m3/ha, é fácil concluir que serão necessários aplicar 8.000 m3 por cada hectare irrigado, ou 96.000.000 m3, ou 96 trilhões de litros de água na região, como um todo.

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Entenda melhor

Para permitir um melhor entendimento do volume de água necessário para irrigar o cafeeiro no exemplo anterior, vamos compará-lo com o gasto de água para abastecer os habitantes de uma cidade. Tomando por base um consumo de 200 litros de água/habitante por dia, conclui-se que a quantidade de água gasta na irrigação do cafeeiro nesta região corresponde ao consumo de água de água de uma cidade de cerca de 1,3 milhões de habitantes.

Os cálculos anteriores, apesar de simplificados, dão uma ideia do volume de água envolvido na agricultura irrigada, e reforçam a tese de que a gestão de recursos hídricos passa invariavelmente pela análise e conhecimento da irrigação.

Outro ponto a considerar é a necessidade de conhecimento das características dos diversos sistemas de irrigação utilizados. Cada sistema interagindo com uma determinada situação local promove uma maior ou menor eficiência de irrigação, o que irá afetar o consumo de água total.

Durante a evolução da cafeicultura irrigada no Brasil, diversos foram os enfoques adotados. Inicialmente a única preocupação era o aumento da produtividade. Atualmente, a modernização da agricultura mundial passa pelo conceito de agricultura sustentável, com a integração de todos os fatores que interferem na produção. Neste contexto é fundamental a utilização eficiente da água e conservação do meio ambiente, que vem sendo um dos grandes desafios da cafeicultura irrigada.

Outro desafio atual é a conscientização de que cafeicultura irrigada não significa a mesma coisa que cafeicultura tradicional mais água. Por trás deste simples jogo de palavras esconde-se uma questão fundamental para o futuro da agricultura irrigada, e que vem sendo o motivo de vários insucessos na exploração agrícola.

É importante a conscientização da necessidade uma reavaliação geral de conceitos e definições, quando se inicia a exploração de uma cultura irrigada em uma área qualquer. Devem ser questionados aspectos básicos, como: melhor variedade, espaçamento mais adequado, níveis de adubação, tratos fitossanitários, entre outros.

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Em síntese, é bem provável que uma série de atitudes e decisões adotadas sejam adequadas para a cafeicultura irrigada, mas não otimizam a produtividade e o lucro do produtor em condições irrigadas.

Assim, é necessário que haja maior disponibilidade de informações para a condução de uma determinada cultura em condições irrigadas, denominado como “pacotes tecnológicos”. Para isso, é fundamental desenvolver um grande número de pesquisas que possam trazer informações confiáveis aos cafeicultores irrigantes.

Cobrança pelo uso da água

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a cobrança pelo uso da água é um instrumento de gestão e uma das ferramentas das Políticas Nacional e Estadual de Recursos Hídricos, juntamente com a outorga e os Planos de Bacias Hidrográficas. Integra o SIGRH (Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos) instituído através da Lei 7663/91 obedecendo o Dispositivo Constitucional.

A cobrança pelo uso da água começou de fato a ser trabalhada no Brasil com a criação da ANA – Agência Nacional de Águas, instituída a partir da Lei de número 9433, de 1997, que criou o Sistema Nacional de Recursos Hídricos.

A ANA vem desenvolvendo ações para implementação da cobrança pelo uso dos recursos hídricos no Brasil desde 2001, em conjunto com gestores estaduais e comitês de bacias. Até o momento, a cobrança foi implementada na Bacia do Rio Paraíba do Sul e nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A partir de janeiro de 2010, a cobrança foi implementada também na Bacia do Rio Araguari. Nesta bacia, são muitos os cafeicultores irrigantes que mantêm suas irrigações utilizando os recursos hídricos da bacia.

Os princípios da cobrança pelo uso da água são fundamentados nos conceitos de “usuário pagador” e “poluidor pagador”, adotados com o objetivo de combater o desperdício e a poluição das águas, de forma que quem desperdiça e polui paga mais.

Em função de condições de escassez em quantidade e ou qualidade, a água deixou de ser um bem livre e passou a ter valor econômico. Esse fato contribuiu para a adoção de um novo

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paradigma de gestão desse recurso, que compreende a utilização de instrumentos regulatórios e econômicos, como a cobrança pelo uso da água.

Esta preocupação de cobrar pela água surgiu após se reconhecer que a água é recurso natural limitado, finito e escasso, obrigando-nos a tratá-la como um bem de uso público, essencial à vida, dotado de valor econômico. Adotar a cobrança pelo uso desse bem passa a ser interessante para sua gestão de forma integrada e participativa.

Mudança de comportamento

Para que a cobrança pelo uso da água seja um instrumento de gestão que possibilite mudanças de comportamento, a melhoria da situação ambiental das nossas bacias hidrográficas e rios que possam garantir a disponibilidade de água para população e os demais usos, como produção de alimentos, lazer, transporte e geração de energia, entre outros, é fundamental que o controle sobre esse instrumento (a cobrança) se dê de forma descentralizada e com ampla participação da sociedade, por meio dos Comitês de Bacias.

Os recursos arrecadados são repassados integralmente pela ANA à Agência de Águas da Bacia, conforme determina a Lei nº 10.881, de 2004. Cabe à Agência de Água alcançar as metas previstas no contrato de gestão assinado com a ANA, instrumento pelo qual são transferidos os recursos arrecadados.

O dinheiro, portanto, não vai para o governo, como muitos agricultores pensam. Ele é destinado à agência de água da bacia hidrográfica onde o dinheiro foi recolhido, e após discussões colegiadas (com a participação do poder público municipal, estadual, federal, usuários, sociedade civil, etc.), define-se onde o dinheiro será empregado, mas sempre na própria bacia.

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Na Tabela 3, podemos visualizar a progressividade da implementação da cobrança na Bacia Hidrográfica do Rio Araguari, que apresenta valores semelhantes aos de outras bacias do Brasil. Tabela 3 – Valores da cobrança pelo uso da água, Bacia do Rio Araguari, MG.

Para o consumo de água superficial, por exemplo, o usuário vai gastar R$ 0,01/m3 de água utilizada. Considerando a utilização em 200 dias por ano de irrigação, 50 m3/dia, em 1 ha, o produtor de café vai gastar R$ 14,00/ano se a sua irrigação for por gotejamento e R$ 38,00/ano se for por pivô convencional (em área total). Admitindo-se que o café para altas produtividades necessita de algo em torno de R$ 8.000,00 a 10.00,00 por ano em insumos, por hectare, o investimento na cobrança é relativamente baixo. De qualquer forma, mexendo no bolso do produtor, este se sentirá na obrigação de realizar o uso mais racional da sua água de irrigação.

Referências

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