BIBLIOTECA PESSOAL.
BIBLIOTECA UNIVERSAL
CDU 027.1
ABRAHAMA.MOLES
Departamento dePsicologiaSocial
Universidade
deEstrasburgo FrançaA partir dc uma teoria funcional da biblioteca são examinadas as características específicas da biblio teca pessoal, do ponto de vista dc sua estrutura e das relações entre ela e seu criador e usuário.
"Organizar sua biblioteca é organizar seu pensa mento."
A
biblioteca
pessoal ou particularpraticamente
nuncafoi
analisada naliteratura
científica ou nos estudos
documentários.
No entanto, são bem poucas as pessoasEste artigo
foi
escrito cspeciaknentcpara a
RBB.Seu
título
original
é“Bibliotbèque
personnels,
bibliotbèque
universelle”
. (Tradução de Antônio Agenor Briquet de Lemos.)R. Bibliotacon. Brasília 6 (1) janjjun. 1978
“cultas” que não
possuem pelomenosalguns
livro6, arrumados ouamontoadosnu
maprateleira, e que
se
pode qualificar de biblioteca. E, comcerteza,
amaioria das
pessoas que possuem apenas
alguns
livros,alguns
romancescomprados numa
banca dejornal,
emprestados devizinhos
ou amigos,
consideram-nos maiscomo
objetos semitransitórios
cujo consumo s< resume i leitura ocasionale que,depois de terem desempenhado essepapel,
vãosc
amontoadosnum
canto,
como
vagoescrúpulo
de que ainda se acham em bom estadoe poderíam, portanto, servir ainda, de quetal
vez se pudesse emprestá-los ou
doá-los
aalguém, ou
então
revendê-los,
emsíntese,
que
não
estãoabsolutamente
em
condiçõesdeirparao
cesto de papel.Emalgumas
pessoas
esses
escrúpulosacnam-se vagamentematizados
porumrespeitocultural em
relaçãoao escrito, que
someni*»
a»civilizações
chinesa e hebraicaexpressaram clara
mente
naproibição
que lançavam contra
a destruiçãoouhumilhaçãodoescrito,
do impressoou
dolivro,
pois, de alguma forma equalquer
que fosse seu assunto,ele
se
liga
ao Grande Livro de Todas as Coisas, aquele quecontém
todasas
respostasa todasas
perguntas
que nãoforam
feitas,ao qua!o
judaísmochamou
de
Bíblia.Mas, em nossasociedade de
consumo
e supermercado, issonão
passa de um toque sagradonummundo
profano
em queo
irrespeito
pela
coisaconsumível permanececomo o
valorfundamental.
A biblioteca
particularé sem dúvidaalgo
diferente
do romance policial largado sob a camaou
que se empilhano sótão.
Qualquer
que
seja seu
tamanho,
elanuncaéasomade objetos
caducos.Aocontrário,
aBiblioteca Particular começa,talvez,
nobolso
daquele artífice que comprouo
ManualDunodpara
bombeiroshidráulicos
e velaritualmenteem
suapresençaquandoparte
emex
pedição
profissional,
ou
no dicionário doserãofamiliar,completado
porum atlase
enfeitadopor um livro de
figuras
ouumaedição
do RobinsonCrusoe.A
bibliotecaé
coleçâacsrtaiuçnte, pxas
anles
de tudoveneração de um instrumento
econstrução
progressiva desse instrumento por
acumulação.
Todointelectual
possui umabiblio
teca, cujo
arranjo
eextensão são
testemunhasdele
mesmo, e ébem sabido que uma olhada iia tublrutecade
um
intelectual
dizmuito
sobreo
que ele é,o
que pensa, o que faz, sobresuas
orientações
políticas,
seus
gostos
artísticos
ouseus
projetosre
centes,
poisela
é umatestemunha
de suaatividade maisespecífica.Desenvolveremos aqui,
sumariamente,
alguns
dosprincípios
que podemreger
a
bi
blioteca
particular
do intelectual
a partirde
uma espéciede
“teoria
funcional” da
biblioteca
de acordo com umavisão própria
do conhecimento. A biblioteca é um perspectivismo da cultura e suaimagem
fundamental é a do indivíduo, doEu
no
centro de Minha
biblioteca,
apartir da
qualsc
projeta
minhaprópria
visãodomun
do do conhecimento,
pelo menos
o esforço
quefaçopararealizaressavisão estabe
lecendo
umasérie decontrafortes
dopensamento
quechamaremosaqui “os
livros”,
ou
os
documentosescritos, ou
as imagens, e,talvez
num futuropróximo, alguns
instrumentos
mais sofisticados
comoasgravações
eos vídeo-cassetes.Todosseapre
sentam comoobjetos, tijoios de saber,
de
documentos oudelembranças, geralmen-te deforma
retangular,mais ou
menos alongada,maisoumenos plana,trazendo
deum
lado umtítulo
e umareferência, geralmenterepetidos
noladomenor
doparaíe-
lepípedo e
legíveis
demais
ou menos longe,acompanhados
frequentemente deum
nome
de pessoa:
que chamaremos o “autor”.
No universodosparalelepípedos,sua forma exata,sua
dimensãoeseu
pesosão extremamente variáveis: desde
o
microli-vro de poemasque
resume, em200 páginas
depapel-bíblía,
istoé, 2x 3
cm,ocon
junto
da
poesia erótica contemporânea com a intuiçãoconfessa(e falaciosa)de
caber
numabolsa
de senhora, até asmassasimponentesdas
enciclopédiasde 30ou40
cm
de lombadas, pesandovários
quilos.A
sociedade ocidental,desde o
desapareci-
jnento
dosrolos, adotou
por tradiçãojustapor
essesparalepípedos
colocando-osvcrticalmente sobre uma
superfície
horizontal,
a prateleira,criando
assim umauni
dade
de arranjo familiar - aestantede biblioteca - queelaexportou
para todasas
culturas
a
que impôsseu
reinado. A palavra“
biblioteca” significa
tanto oconteúdo delivros
quantoa
prateleiraou o
conjunto
deprateleirasque os contêm,equando
as prateleiras
se empilham verticalmente ou horizontalmente ao longo de uma su
perfície
plana vertical, de profundidade pouco maisou
menospadronizada,com o dorso doslivros
formandouma superfície de
leitura longitudinal, que serepete
emestantes,
armários e galerias,ela
se apresenta como uma Parede deLivros,
desde
que
atinja
uma certaextensão.
É aanálise
funcionaldessa
parede dclivros
que
gostaríamos de
esboçar
com relação ao indivíduoque
co
seu
Senhor e, por isso, escravo,da
mesma forma queo
homemnadamais
équeSenhor dependente
de seuspróprios
instrumentos.O
princípio
debase
já foienunciado: minha
biblioteca
éminha
própriavisão
domundo
do saber, minhabiblioteca
é umaextensão
demim
mesmo,mais
precisa-menle, umaextensão
de meucérebro,
refletindo
emsua
estrutura aespecificidade dc minha personalidadecultural®
Estudando
minha biblioteca, comoindicamos aci
ma,
vós,
visitantes, podereis conhecer meuespírito, o
que
se tratade umahabilida
de
que
todo intelectual
sabe praticar quando olha de soslaioa
biblioteca deoutro
membro do mesmo gueto
intelectual
aquem
esteja visitando.Eis
aíum
processo clássicode espionagemna
cidade
dosintelectuais.Assim, minha
biblioteca
é uma amplificaçãode
minhacultura.
Emque
medidaa
culturapessoal pode
ser realmente
“
amplificada”?
É claroque
não indefinidaniente.
A cultura
é,
por definição, minha pessoa, ela é minha ferramenta sobo
controle de meupróprio
campode
consciência,e
autilização
dessaferramenta
é
limitadapor
minhas próprias capacidades. Mesmo que ela sirvapara
amplificar meu ser,eu sou
a
máquina de tratamentodas
informações e terei de manipular ositens
que saem de
meus próprios
circuitos de conhecimento, embora seja preciso que minha capacidade detratamento não
seja
ultrapassada. Em resumo, qualquer que seja meu desejo, e meu tempo disponível,não
é possível ampliarindefinidamente meu cérebro,o
que
seria presunçoso. Dessa observação de bom senso, que algunsnegligenciam airosamente,
deixando-se corromper pela ideologia doMais
(“quanto
mais
melhor”
),destacam-se
duas proposições.A
primeiradelas
estabelece umcontraste
entreMinhabibliotecapessoal,queéuma
extensão
de mim mesmo, e A bibliotecapública (oua
bibliotecauniversitária,ou a biblioteca“
universal”).iA
minhatem
limites,esses
limitesestão
ligados
amim,
eu sou amedida de
meusaber.A segunda observaçãoé que
os
livros
que se acham emminha
biblioteca são
deal
guma forma “sagrados”,poissão
partes
demimmesmo.Assim,
amenos que eusejalouco (o
que acontece),elesnão
podemseremprestados
ou
doados, domesmo mo
do que o
carpinteiro
não
emprestaseu serrote
ouo
ginastasuaperna.A
forçadessalimitação
emextensão
é aprópria firmezacomque governomeuspróprios
conhe
cimentos.
Mais
exatamente,ela
fornece aescalapara a
qualoslivros,itens da biblio
teca, contrafortes
ou esteiosde
meuconhecimento,
servempara
fortificá-la,para
tomá-la mais
forte sem,no
entanto,
a submergir. Existe nissoum
tênue
limitea
considerar:
é tãofácil deixar-se
resvalarpara
o
kitsch daculturaeconfundir
oque
se
sabe
comos
livrosque
setem,
oude
exagerar
aidéiade
simesmo
apartir
dos elementos daquilo que se tem nas estantes. Pararemediar
issoéprecisouma vonta
de
de autocontrole, umconhecimento
deseus
limites,
o qual nósjásabemosestar
vagamenteligado
ao
tempode
vida
queointelectualpassa
emsuabiblioteca. Assim, a dimensão de minhabiblioteca
temalgoaver com aspossibilidadesdeextensão
de
meu
cérebro,
e é sábioconsiderar
este, deinício,
como sendo limitado deforma
precisa.
A
biblioteca éminha
ferramenta de cadadia,
eladetermina
e documenta minhas idéias Ela deve ser “prática
” e estar sobo
controle
permanente de meucampo
de consciência.Eu
devodominar
meuambiente
intelectual:aparede delivros,
apaisa
gem de idéias que ela
contém,
deveestar
sujeitaamim
enão o
contrário.Portanto, emtermos
mais materiais,existe
uma relaçãoentreaextensão
de
minhas
estantes e o poder integrador de meuespírito.
E, sem dúvida, amedida nessedomínio
ébem difícil: situemo-la, segundo anatureza das
obras
e anatureza
da
disciplina,por
exemplo,
científica, entre
dois mil e quatromil
livros,empregando
a palavra“livros
”naacepção tradicionalsancionadapela
definição
daUNESCO.Essa
observação lançaa
suspeitaprincipalmente
sobre
aquelaspessoas
quevosmos
tram
orgulhosamente suavasta bibliotecaou
sobreaquelespríncipesdaIgreja ouda
ação de séculos passadosde quemse
pode
pensar que abiblioteca
tinha mais o cará
ter
deum
luxoostentatório
do que um instrumentoreal
parauma tarefaemqueas
idéias
não
sãoforçosamente
essenciais.
Se
estavam tãoocupados
em governar,em
administrar ou
combater,
em quemedida
o contacto comseus
livros teriasido
au
têntico? Não
teriam
sido eles
antes orgulhososcolecionadores,
preciosos bibliófilos, emoposição mesmo
à idéiade
queum
livrovalesomente
peloselementos culturais
que
contém?
Já
ledes todos oslivros
de
vossabiblioteca?É apergunta
quetemos
a
vontade de fazeràqueles que
exibem
uma biblioteca prestigiosa. Ede
quevosocu
pais exatamente
nesta vida?
Essa
observação nosleva
a um terceiroprincípio
douniverso
pessoal dacultura:
todos
os
livros
deminha
biblioteca
foram
lidos ou estãosendo
lidos,ou vão
serli
dos
ou relidos,
comexceção de alguns
elementos
documentaisj(dicionários, atlas, tabelas numéricas,mapas)
que, por definição, sãofeitos
paraserem
consultados
e
não paraserem lidos e que
representam
uma porcentagem muitopequena:
não
há motivo para que eu façaconcorrência
com abiblioteca demapase estampas, anão
sernumcampoespecializado
em
quemeveja na
condição deetnólogodeSumatra.
Uma
quarta
observação decorre desse mesmoprincípio dominante:não
existecatá
logo em minha bibliotecaparticular. Minha
memória
é meu catálogo,o
que se ba
seia
no
simplesparadoxode
quepossuir
uminstrumentodo
qualseesqueceu a
exis
tência
éfuncionalmente
não o possuir
poisafunção
criadorabaseia-se
nadisponibi
lidade
dos elementos do pensamento. Um livro foi lido,foi
domado,
foi
inserido
como “
super-signo” oucomo impressão na
texturade meu pensamento,
e,
seesque
cí
umagrandeparte
do queele contém,seide formaimprecisaqueeleestápresente
em
meudomínio
pessoal, que essa ferramenta ou essematerialestãodisponíveis,eque a mãoquese estende
para
olivroé umaextensão demeucérebro.
Possuo
comouma
matéria
de mim mesmo-
com vazios, falhas,zonas
vagas
— oconteúdo dos 2.000 ou 4.000livros quefazem
minhacultura,que
fazem amimmesmocomoho
mem de
cultura.
Eéexatamente
porissoque, deinício, minha biblioteca é limitada
e, depois,
elanão
requer,
com baseno
princípio,nenhum
“
catálogo”
,nenhum
fi-
chário.
Senão
seipor
mim mesmoonde tenho tal
livroécomosenão
soubesseque
tenho esse livro, enquantovalor, pois
o
campo doespírito é
umcampo devalores.
A
biblioteca
éseu
próprio catálogo. *
E, naturalmente,
o
campode minha
consciência e o de minhamemória
nãosão
constantes durante toda a vida. Minha
memória
émais
vasta emminha juventude
estudiosae
ainda
capaz de acréscimos.Minhamemóriaémais
fraca
e menosfiel
emminha
idade madura, mas ocampo de minhas atividadesede
meusinteresses levou-aa diversificarsuas categoriaseaconstruirtrajetosnoscaminhos doconhecimento.(Para
mim, aarquitetura
das
salas deconcerto
“faz
parte”
daacústica
das
salase
não
dadecoração
arquitetônica.)Esses
dois fatores se compensam, ediremos,
em
gera),
que têm um limitesuperior. Ultrapassar
consideravelmenteesses limites é
suspeito do ponto de vista
de
uma alienação desua
própria
cultura:
o
homem que pretende quenão
pode
trabalhar
antes
de ter mudado suabiblioteca
éum
intelec
tual levemente
suspeito
detraição,
suspeito de setrair
a
si mesmo, em todocaso,
e
dequererultrapassarlimitesnaturais!*
O catálogoda biblioteca
é ounão um
livro dabibliotecae,
como tal,deve
ou
não
ser incluído
no catálogo, isto
é,nelemesmo?(Brouwer).
Desse
princípio
delimitação
domeioatual
emfunção
damensagem
potencial
resul
ta
um
outroprincípio:
odo
sacrifícioótimo
querege
asentradas
esaídas
naparede doslivros.Aointroduzir
algode
novo,um
novo livro,se nãoquisersucumbir
diante dainflaçãodocumentária,
deverei,então
para
memanter
dentro de meuspróprios
limites, retirar
um outro livro,o
que
implica em reflexão e decisãoponderada
quando
da
compra deum
livro(que
realmente
farei)equando
desua colocação
no lugar Aomesmo
tempo
isso
implica emsacrifício:
o
livroque for eliminado será,
a
partir
de
então,caducoou inútil.Eis um
processoqueé ooposto
mesmo daqueledabiblioteca pública:
estase baseia, aocontrário,
primeiramentena
idéiadotesouro de
sistemacumulativo:
elafunciona
segundo
o
princípio da sedimentação. A bibliotecapúblicaé cumulativa.Quanto
mais livros ela possuir
mais
leitores servirá.
Quantomais
livros“
eu”possuir mais
decrescerá
sua
eficácia marginal apartir de
um certo
limite.Quanto
à
biblioteca
universal, suaambição é ainda
mais
alta—a
de ser o
tesourodacultura humana,
deser
um
sinônimo emsignos
dessacultura—enquantoquea
diferença queexiste
en
tre
ela
e aminha biblioteca
é a mesma diferença quesepara
minhacultura
daquela
de
toda
a humanidade.Assim, portanto,
minha
bibliotecafuncionasegundoo
princípio deseleção:“
qualo melhor instrumento paraapoiar
meuespírito
num instante dado”?Instrumento
que deverá
ser
substituído
poroutro
ainda
melhorse este
aparecer no
mercado in
telectualdalivraria.
É
aíquesesituamoprocesso dinâmico daavaliaçãofuncional e
seuconflitocom
o
aspectohistoricizanteeromântico
quenão
possoseparar
de meudevir.
De fato, existe aí uma falhano campo
de
consciência. Essaseleção e essaes
colha
interna
que
fizsão
sempreum
processoestatístico,
mas acensura
periódicae
aeliminação daquilo que para
mim
é caducoéumadas
atividadesmais
intelectuais
qu
c mantêm meu espírito em ordem, que me obrigam ajulgamentos devalor,que limpam meuespírito,
marcando como
seloda
condenaçãooslivros quesão esque
cidos, que
não
sãomais
“sagrados
”,
e que setomam
livros
para uma recirculação purgativa, numa residênciasecundária,para
o
empréstimoa
amigosou
colegas,etc.,
até c opróbrio
da
revenda.
Valeriaa pena precisar o que éesse
turn
over cultural, essa visão sobre omundo
doconhecimento
tal comoele evoluiatravés
dotempo,
essa paisagem intelectual e
a
vidaseparadade
seusconstituintes: esse seriaum
cami
nho
paraseaproximar da
personalidade
cultural.A
estruturade
minha
biblioteca é, portanto, tãoimportante quantoseuconteúdo. Nãoé um amontoado delivros.
Nãoé o empilhamentogeométrico
numa
pratelei-iade
obrasheteróelítas.
Mesmono
campoliterário, oindivíduo
quedeseja
ter
do
mínio sobre
sua
bibliotecade
romances
policiaisdeve
adotar, desde queelase
tor
ne
um
pouco vasta,algum
critériode
ordenação:
pelo
formato
epelonome doau
tor
são os critérios
maisbanais.Uma bibliotecacientíficaé necessariamente
arruma
da
de
modotopológico,
se não topograficamente,ou, no
mínimo,
“mentalmente”,quer
dizer,ela constitui
um
esquemade
assuntos ou de temas, oude
fontesde in
formações. Ela constitui, de
modo
muito
preciso,
um campo topológicode
valoresdocumentais
que
obedece aoesquema
bem desenvolvidoporK.Lewin. Deixaremos de ladoo
casointeressante
do intelectual que se vêna
situação
de “herdeiro”
de umabiblioteca
formada poroutro
intelectual, e se descobreconcordando
com as escolhasque
estefizera
(freqüentemente) ediscordando
da
arrumação
anterior, luta
contra
esta
e refazumaoutra
arrumção.E,
naturalmente,
mesmo que isso surja como uma regra paraapoiar
com uma mol
dura a estrutura
incompleta
da memória, essa regrac
observada com um rigorex-
trcmamenie
variável segundo ocaráter
dointelectualque
a
fezou quedela
seserve.
Seguida
de
pertopelos
lleugmáticos, osobssessivos, os
inquietos, os rítualistas,elarecebe
comindiferença
umtributo
de respeitoda
parte
dosespontâneos,
dosfrené
ticos, ou simplesmente daqueles que possuem urna “grande
memória”,
o
que deve significar que para esteso
custo memorial relativo(custocognitivo)da
pesquisa deum
livro através dos dédalos de suamemória
e desuas
estantes é considerado emseu
espírito
como pequenoem face,
por um lado, de seus recursos de “energia” memoriale, poroutro
lado,
em face docusto de
codificação,isto
c,de
arrumação.
Em
outras
palavras, paraeles
a ordemnão vale
apena, sendo preferívelperder
uma
informação do que
perder
tempo
em estruturá-la, primeiroem suamemória
e de
pois
emsuas
prateleiras.De
fato,muitos
de nósconsideram
seucampo
deconsciên
ciacomo limitado
temporalmente
e julgam,porconseqüência,que
umlivroou
do
cumento muito
antigo
pode desaparecer naquilo que Orwell denominava por antí-fraseo
“buraco
damemória”
, sem risco apreciável para suacapacidade
criadora: é
uma
forma sofisticada
de
dizer queeles
vivemna
atualidade.
E bem provável,
no
entanto, quenão
existaintelectual,
que tenhaumabiblioteca de trabalho,quenão
busquenelasde
algumamaneira,
umaestrutura
queprojetea con
figuração de
seu
próprio
espírito
na desua
parede delivros
pormeio
de uma orde
nação,maisoumenos
personalizada,
quefornece
molduras
eesteio
aoseuespírito.
E
aqui que a materialidade do objeto-livro deve ser levada em conta. Trata-se, por
tanto,emrelaçãoa umindivíduosituadono
centro
de sua
concha privada, derepar
tirobjetos retangulares
(fontes
de
informação,
sub-rotinasde
umsupersigno-título)
sobre
prateleiras
horizontes dealtura
e profundidademais
ou menos qualificadas Trata-se, portanto, de projetarseu
universopessoal deconhecimentos,
devidamente hierarquizados, sobre umespaço
linear(comprimento)ou eventualmentesuperficial(comprimento
Xaltura).
Doisfatoresvãoguiaressetipode
considerações:o
primei ro é que livros edocumentos
variam substancialmente
de dimensões e de formas,participando
na basedo
estruturema do ânguloreto
(existem
livros
redondos,mas estaforma
emsié umaaberração
intencional
enão
generalizável paraque se façadesua
anomiaum argumento de interesse).Um
método
simples,muito
praticadonas
bibliotecaspessoais,consistirá, então, em
consagrar a
dimensão
vertical, necessariamente quantificada, porformatos
emcerto R. Bibliotecon. Brasília 6 (1) jan./jun. 197845
número de prateleiras,
número
pequenopois estas seestendempela altura
disponí
vel
e, mais precisamente, como enfatizará ofuncionalista,
àaltura disponível
dohomem
como
braço
erguido
(2,25 m pelo modulorde
LeCorbusier), levando
a uma repartiçãovertical
por tamanhos emum
lugar,adotando
o princípio de que numa mesma seqüência vertical de prateleiras situam-seos
mesmos “temas”
ou
objetos
distribuídos
segundo asdiferentes
prateleiras
a
partir
de seusformatos.
Os
princípios
da
ergonomia nosensinam
queos
maioresestarão colocados
em
baixoou,
pelomenos,
àaltura
do tronco.Oatodequantificar formatos
quevariamquase
de modo contínuo
no
mundoda
ediçãode
livros
é,
emsi,
um problemalaborioso que sóencontraumasoluçãoaproximativa,emparticularcomaidéia de “coleções”
ou formatosdominantes como
fator
deunificação.Quanto
à dimensão horizontal ela se apresenta no desenvolvimento da biblioteca comosendo
adequada
aum conjuntomuitograndeoumesmo infinito, coincidindo
com oconjunto
dos
conhecimentoshumanosecuja
únicalimitação
serádetermina
da
peloprincípioprecedente, aquelequese
refere aminhascapacidades
dememori
zaçãoe
de
exploração.Ora, uma
das
estruturas
de base
quea bibliotecapodeproporaoespíritocomporta
uma
dimensão
linear longa ouextensível
de assuntos e uma dimensãovertical deformatos
quepermitem
dar umacerta
unidade de
aspecto àsprateleiras,
isto é,a
inclusão de
um
fatorestético
na biblioteca. Pois elaé partede
mim mesmo, e se gostode
mimdevo gostar
de minhabiblioteca,
porque o fatode
elaser “bonita”,
oupelomenos
agradável de
se olhar,não
meé indiferente.Os grandes formatos e as obrasvolumosas devem
encontrar-se
não muito
longedo
chão, e
o
assoalhodeve
ser
tãoconfortável quanto
seja
razoável para que nelese
possa
sentar
e contemplar, espalhados à sua volta, os livros para fazerumtrabalho
(tapete com
aquecimento).
Quanto à altura, eladeve
serlimitada
aum
tamanhodefácil
acessibilidade. Assim,uma
sériede
critériosfuncionais
descreve econtém
osistema
da
parede delivros
a partir
de
um princípio
de acessibilidade
e deum prin
cípio
de
ordenação.Notemos,
de passagem,queadimensão longitudinaldostemasé
aquiuma
dimensão“
topológica”, isto
é, uma linha que podecomportar
estruturas geométricas, com ressaltos, comângulos
reentrantes
e salientes,etc.,sendo
essencial que correspon
dam
a
um trajeto
único
a pé. Éinteressante
observartambém
que essaestrutura analítica linear porassuntos
ao longode
um
contínuo
seimpõe pelo fato de que
a
segunda dimensão, a altura,
encontra-se (i)
mobilizada pela variabilidade dosforma
tos, dos retângulos, que constitui o livro. Suponhamos que os objetos
intelectuais
a
classificar se achem,porqualquer razão,
nacondição de um
formato
rigorosamen
te padrão e que
não
possamexistir
de
outra formaa não
sernessepadrão.Então, a
variabilidade
material
estariaeliminada, adimensão
vertical
prestrar-se-iaàanálise
classificatória, podendo-se imaginar umabiblioteca classificadaem
duas
dimensões.segundo
dois
critérios, constituindouma
parede de
conhecimentosem queo con
teúdo
de
umobjeto
está
emcorrelação
comsua altura
elargura (prateleira
e espaço entre osmontantes). Um exemplocaracterístico
destecaso
seriaa
classificaçãopes
soal
de dispositivosrepartidosem
caixas quantificando
temasanalíticos: oconjuntodos
assuntospossui,
duas
dimensõescategorias-
aaltura
ea
largura-
e
éem
suas
profiuididtdes vanáveis
que,
se acumulam rodas asimagens quetratam
do mesmoassunto.
0
principie
de acessibilidade ■um
doselementos
essenciais de toda classificação.0
intelectual e umcérebroarmadodeum
braço,etodo
processodc recuperação
de infonnações ou de acessoa
umdado
obedeceas mesmasleis
fundamentaisdesenca
deadas pelos
fabricantes
de
memóriasde
computador
Todo atocognitivoimplicaum
custo,
e uinaclassificação
correta
deveprocurar,
de alguma forma,reduzir esse
custo.
Trata-se da
generalizaçãodá
idéia deque
“tudoo
que precisoconhecerdeveestar
ao
alcanceda
mão”- ou,
pelomenos,
ao alcance razoável de meu desloca
mento — e que, mais precisarnente,
o
custo
de
seu
acesso(message retrieval) deve serinversamente proporcional àfreqüência
desse
interesse.Os
decoradores, mesmo osque
receberam asliçõesdaescola funcionalista,têmfre-
qüen
temente
subestimado aimportância
desse princípio, bemconfirmado,
contu
do,
pelamicropsicologiado
comportamento. Têmraciocinado
quequando
umes
forçoé
fraco ele
é nuloenão
merece,portanto, ser
levadoemconta.
Deummodo
geral,existe um divórcio
entre
fabricantes
de
continentes eutilizadores
de conteú
do,
os primeiros quase ignorandoos
segundos, sempre queforneceminstrumentos,
as
“
bibliotecas” ou“
estantes”, armários, etc.,semsaber como
osindivíduosseser
vem
deles. Ora,
esta
é precisarnente umaquestão
altamentepersonalizada.
Para umtradutor, parece evidente que ele deve
ter
seusdicionáriosao
alcance damão,
e ain
da mais
perto
aquelesque
maisfrequentemente
lhe servem,demodo
adespender
o
mínimo de esforço.
Distribuir
num
espaço
umconjunto
de elementosdeconheci
mento
emfunção
de
uma
distânciadeesforço, queé,de
fato,
umaespéciede
custogeneralizado
dosmovimentos
a seremfeitos
para
tirare recolocar
um
tijolo deconhecimentos,
exige certas disposiçõesou,
pelomenos,
exclui um grandenúmero
de outras.
De
fato,
sãopoucos os intelectuaiscujos
interessessejam
realmente
ordenáveisse
gundoum
contínuo
regularmentedecrescente
e,emteoria,
acondição de
acessibi
lidade
ótima
nãotem
solução
matemática rigorosa; tocamos aquino problema
da
classificação dos conhecimentos,
de
quea
biblioteca
pessoal é um longínquorefle
xo.
Todavia,
a busca de algumcompromisso
com essaregra de
acessibilidadefarápartequase
necessariamente da idéiade
um
arranjo
funcionalde
uma
biblioteca.Tome
mos
um
exemplo simples.Uma
bibliotecade história
daliteratura
emque
as
obrasseriam
classificadas porséculos
ou épocase
onde
o
contínuo evidentementemais
fácil de
o espírito
dominar
é odas
datas
ou dos séculos: literatura doséculo
XVI,literatura
do
séculoXVIII,literatura
do
séculoXIX, etc.Se
nossointelectualtiver
uma paixão
particular
pelos autores doséculoXVIII,
elecuidará de
situar
seu lugarde
trabalho(sua
mesa,sua
escrivaninha)junto daqueles oureciprocamente
napro
ximidade
desse
setor. Assinalemos, de passagem, que essas observações,muitas
vezes imaginadas por
outros
fatoresnão
negligenciáveis(qualidade
da iluminação, calefação,etc.)
verificam-se em grande escalaemcertas
bibliotecas universitáriase
semiparticulares, como a
instalação
de
umabibliotecaaolongodos degraus deuma escadaemespiral nointeriorde uma
tone.Numa
biblioteca
literáriade
pequena
extensãoagrandezamais
simples quese pode estender linearmente é aordem
alfabéticados autores:a obra literáriaacha-se
extre-mamen te-ligada ànatureza
mesmade seuautor
eocritério
donome adquire, então, um valoreumsignificadoordenadoresquenão
ocorremnaciênciaonde geralmenteo critério fundamental
é o“assunto
” ou, pelomenos,
o
assuntodominante(palavra-
chave). Nas
bibliotecas
em que oassunto,
otítulo, émais
importante que oautoT, em geral as bibliotecas especializadas,o
problema
é então o de todasas
classifica
ções analíticas:
como
classificar os conhecimentoshumanos
segundoum
contínuo,
procurando
levaremcontaesses
três fatoresespecíficos
da
biblioteca
pessoal.1.
os
diferenteselementos
daclassificaçãonão
sãoneutros
e equivalentes:alguns são
mais
importantes do queoutros,
poissãoo
produto
deum julgamentodosersobre
seus valores
de interesses;
2.
aclassificaçãoé restritasenãoelanão podería
estarpresente
noespírito;3.
as palavras-chavesempregadas sãotiradas
doespírito
dodono
da bibliotecae
não estão
forçosamente
submetidas às
sujeiçõesda
normalização
universal.A
classificação dos conhecimentos segundoumadimensão linear
reproduzumalgo
ritmo
clássico daepistemologia.
Auguste Comteproporcionou
aesse
respeitoumraciocínio
fundamental
emsua
pirâmidedas
ciências, raciocínioretomado
maistar
de
pela
introduçãoda
idéiade
arborescênciafeita
porAmpère,desenvolvida
porDewey,
ampliadaemelhorada
pelaClassificação Decimal Universal, âqual
todas as bibliotecas do mundopagamumtributo
de respeito nominal. Defato,
comoassina
lamos
no
início deste ensaio, abiblioteca pessoal
permanece fundamentalmente di
ferente
de
todasas
bibliotecas universais;elaé avisão
de
umconhecimento
porum espírito, éesse
espírito
que
lhe
define asperspectivaspróprias,e, ainda quemante
nha
aidéia de
umacertalinearidade topológica,os
itensqueempregará poderão ser
muito diferentes.
Por
exemplo,
devese classificar numa classificação quequer
ser
linear, pelas razões
acima
invocadas,o conjunto
dos conhecimentos relativosà
energia
num
setor
de
termodinâmicafísica ounum
setorsituado
entre aeconomia social, aecologiaeapolítica?
Ora,é
bemsabido
que aclassificação decimal,mesmo
revista pela
Biblioteca
Universal
(doCongresso)de
Washington, étotalmente
inade
quada
para apesquisa
documental:umabiblioteca não
éumaárvore,
parafraseando 48R.
Bibliotecon.Brasília
6 (1)jan./jun.
1978
Alexander, nem muito rnenos os conhecimentos humanos que ela representa, mas uma rede de elementos num espaço de n-1 dimensões, o que valoriza uma classifica ção de entradas múltiplas, perteitamente realizável pela informática, e que apenas lentamente se introduz em nossas bibliotecas nacionais ou internacionais. Ao con trário, as aproximações, reduções e compromissos, que permitem desdobrar sobre
im e.mdhuQ bneei u. extremidades tamo<i de ama arvoie ::at< precisamente aqueies que :,áo c«-. óiacte» pelo esp.nito de mu ,iiJiduo ca marcha •«) i.oníiecnnen- to. E, poríamu, à i.iõiu.ieca pessoal que meílioi se ipiic.uu.
Ease principio de acessibilidade que nos vem do estudo micropsicológico dos custos
generalizados de manq,inação tie i.iii coubeeinietiio mateíiaiiz.ido «c. ato tie ler se
exprimiría incito naíuiaimente longe das mans, longe ao céieiuo, longe da consciência”, t a micro-analise do processo de acesso luz. ressaltar, mais pret.sanicn- íe ainda, que a acessibilidade na, d somente materiai. mas esta ligada <: uma espécie de espontaneidade do gesto: seguiar um iivioe atii-lo, inclui de um mo do racional pois existe aí um upo tie comportamento devidamente observável, tepetilivo, ge- lal, portanto objeto cie ciência não somente a mecânica do ato, deslotai-se de urn ponto de partida, abaixar ou levantar o braço, identificar a obra, segurar o livro, procurar em seu interior, iê-lo ou anotá-lo, mas também urn custo propriamente psicológico: legibilidade do título, facilidade de localização, “simpatia” maior ou menor pela atitude do autor em lace dos pioblemas sujeitos a controvérsia, facili dade de manipulação, acessibilidade linguística, etc. I odos esses elementos têm si do abordados fragmentariamente por diferentes pesquisadores, como a idéia de legi bilidade, de facilidade de manipulação de um livro, etc,, mas ainda permanece em grande medida no domínio do não-dito. O essencial que se pode lazer a esse respei toéprecisamente
dizê-lo.
Mencionemos de passagem, para corroborar
esse
ponto,
aexperiência muito
sim
ples,
infelizmente praticada pelas donas decasa
cuidadosas, que consiste em prote
ger
algumas
estantes
de biblioteca
pormeio
de
um
vidro móvel,com alouvávelin
tenção de mantê-las em bom estado. Esse simples obstáculo de um vidro
para abrir
ou fazer deslizar
basta
paraalterar
a espontaneidadeda
relaçãoentreo
cérebro, a mão eo
livro, afastar este dos olhos e docérebro
edar
atodo
oconteúdo
dessa distância uma distânciasuplementar
em relação ao pensamento.É
muito fácil
veri
ficar
tal
feito.Fixaremos,
em todo caso, deum
modogeral,queaacessibilidade implicanum
cus
to
mecânicode
acesso ligado à disposição doslivros
nas prateleiras
e,por
outro
la
do,
a
um custocognitivo mal conhecido. Urna
bibliotecade
3.000livros
represen
ta
aproximadamente
200m deprateleiras
quepodem
serdistribuídasemconjuntos
de
5
ou6
prateleiras
separadas por umaaltura
de 25 a 35cm,
ou seja, 25a30m2
de
extensão horizontal.
A ãreatotal
de
umcômodo
de apartamentoéda
ordem
de15
m2
e a áreaútil
é da ordem de 12m2
. Vê-seemergiraquiuma
espécie dedistân
cia necessária de
objetos
mais
distantes,
que vãosedistribuir,
porexemplo,em doiscômodos (o
empregode
ressaltosaumenta
o comprimentolinear
em20
ou 30%).
Mas
équase
certo
queuma
bibliotecade
3.000
livrosjáéo
máximo para o
campo de consciêncianormal. Percebe-se issofacilmente
consultando
osrepresentantes
da
espécie intelectual ou
examinando a
maneira
comosão construídas
aslivrarias
espe
cializadas.
Fixemosem
todo
caso que seo
indivíduoadota um
lugarde
trabalho(aescrivani
nha dointelectual)comseus apetrechosclássicos:
telefone,
lâmpada,papel,dicioná
rios,
gravador, haverá dequalquerforma
elementos daparede
doslivros que estarão a uma distâncianitidamente
maior do queoutros, encontrando-se
emsituação des
favorável
em
relaçãoa sua presença naconsciência.
Trata-se deum
dos errosmais
correntes
le
umpensamento
abusivamente racionai decretarqueo homem
é senhorde
seu pensamentoindependente
dosmeios
(media)desse
pensamento. Seria irrea
lista supor
que
anecessidade de daralgunspassospara apanharum
livronão
tivesseinfluencia alguma
no
interesse doconteúdodesse
livro.
Eéprecisamenteocontrá
rio que é verdadeiro, podendo servir
de
basea um verdadeiro
design intelectual. Deduziremos dessaanálise
alei
de bronze do menor esforçocomo
um
elemento
determinante.
Trata-se em minhabiblioteca
de documentarminhaespontaneidade, e ocampo
de minhas investigações atuaisdeve
de
alguma forma representar-sesob meus olhos naestante
familiar. Alguns artifícios permitem jogar com essa lei de bronze da acessibilidade: sealgumas
obras devem afastar-sede
meu campode cons
ciência, é possível chamá-las de novo ao
seu
centroativo
pormeio da referência transversal da ficha introduzidanaqueles livros
que se achammais próximos
noplano
conceituai, mas que tiveramdireito,
por outras razões classificatórias, aum acesso privilegiado. Trata-se, defato,
numa biblioteca semcatálogo
analítico,
do equivalente da remissiva emteoria
documentária.
Mais precisamente vê-seemergir
sob essa observação
o
conceito
de
distânciade
similaridade: conhecer aestimativa, intuídaporum
determinadoespírito, possuidor de determinadacultura,
da proxi
midade,
ouda
distância,entre
doisprodutos
exterioresda
cultura, dois itensde
co
nhecimento,dois
livros.
Por
outro
lado, a classificação das obrasliteráriaségeralmente
de naturezadiferen
te
da
classificaçãode
assuntos
(qualquer que estaseja)queopensamento
científicopropõe
espontaneamente.O
autor
éo verdadeiro
“assunto” naliteratura
eamiúde,o
que éum fato
defácil
verificação,as
estantes
“
literárias” não
são
porsi mesmascompatíveis
com umabibliptecacientífica,localizando-se, porexemplo, num
outrocômodo,
pois seuscritérios
sãode
naturezadiferente.
Enfim,a
noção
de
ressaltos praticáveisnum
cômodo
grandeemformade
conjuntos
perpendicularesde estantesaplica-se
muito
bem a umadiminuição
das distânciasde
acessorelativasem relação com uma estrutura deconjunto que
coincidecom adilatação deum
domínioparti
cular
de interesse.
Esseselementos
podemfacilmente
ser
levados em contaporum designermuito atento para
a preocupação
intelectual, emelhor
ainda pelo próprio
proprietário da
biblioteca,
único
conhecedor
do detalhesutil
de
seucampo
de valo
res
semânticos.Assim, a
biblioteca
pessoal se distingueprofundamente de qualquei bibliotecacole
tiva
em
sua própriaestrutura.
Ela
é
orientada inteiramente poraquele que a
cons
truiu
como
umprolongamento de
simesmo,
urnaextensão
desua
pessoa intelec
tual. Os
livros
cuidadosamente reunidos por meio de uma lentaseleção(muitos in
telectuais compram
um livro
depois de tê-lo lidoao
invcs decomprá-loantes,com
0 objetivo de integrá-lo,
mediante
esse ato,
tanto simbólico quanto sacrificial,na
textura de
seu
pensamento),os
livros que
releu pois o objetivo conlessonãoé
a
coleção prestigiosa, mas a incorporação por
elementos em
sua
própria culturaaqueles
que julgou dignos de subsistiratravés
dosanos,
todosesses
tijolos
de saber perderamsua
característicainicial
demedia,
aindaque
naturalmente
sejam
impres
sos às
centenas
ou
milhares de exemplares, porém sempre de difícil acessono
mer
cado diversificado da
cultura.
Se
cada elemento
da estrutura ébanal
e
se achapre
sente
teoricamente
no Grande Mercadoda
Cultura,o
conjunto
é profundamenteorigina],
cadaelemento
está ligado um como
outro por meiode relaçõessutis que constituem um contexto para cada um,cada
urn
tornou-se umaextensão pessoal
do
ser
em lugarde serum doselementos da
“difusão”(?)
de
conhecimentos. Abiblioteca
pessoal é umadas
ilustraçõesmais
notáveisdas
idéias deKurt
Lewinsobre o
campo topológico, aplicada aosvalores culturais,
cujaestrutura deveinscre
ver-seno espaço
eque
nessapassagem
dotopológico
ao topográfico constróium
design funcionalestritamente
autônomo.
Abiblioteca
éa
carteira
deidentidade
do
intelectual.
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ZIPF,G. K.
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leasteffort.
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ABSTRACT
Persona]
library,
universal libraryOn the
basis
of
a functionaltheory
of
the library the specific features ofthe
personal library are