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Palavras chave: Política brasileira e democracia; Catolicismo e Teologia da Libertação; Sociologia das Religiões.

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1 O IDEAL DEMOCRÁTICO CATÓLICO PROGRESSISTA NAS MATÉRIAS VETADAS PELA DITADURA MILITAR NO BRASIL (1964-85) DO SEMANÁRIO CATÓLICO O SÃO

PAULO.

José Wilson A. Neves Junior1 Prof. Dr. Fábio Lanza2 Prof. Ms. Luiz Ernesto Guimarães3 Universidade Estadual de Londrina GT2–Sociedade, cultura e religiosidades.

Resumo: censura prévia foi uma das últimas estratégias da cúpula do poder militar, instituído no

executivo federal brasileiro desde 1964, para garantir a legitimidade do status quo e retardar o processo de redemocratização iniciado no final da década de 1970. Com a disponibilização, por parte da Arquidiocese de São Paulo, das cópias das matérias vetadas, pela Ditadura Militar no Brasil (1964-85), do semanário católico O São Paulo, durante a imposição da censura prévia ao jornal no período, o trabalho a seguir empreendeu, por meio da análise documental e da análise do discurso, salientando também as contribuições da Sociologia das Religiões e da Ciência Política, o processo de classificação e compreensão do ideal democrático formulado pelo clero ligado ao semanário católico e a Teologia da Libertação. Dos ideais democráticos fomentados pelo semanário O São Paulo apresentamos o ideal democrático católico progressista, vinculado à Teologia da Libertação e pautado na defesa dos Direitos Humanos (ONU-1948). Foi possível identificar que o clero progressista manteve seu posicionamento como opositores da ditadura militar sem desvincular-se de sua função de Aparelho Ideológico de um Estado capitalista.

Palavras chave: Política brasileira e democracia; Catolicismo e Teologia da Libertação; Sociologia

das Religiões.

Introdução

Fundado em 1956 pelo Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta o semanário O São Paulo, de cunho da Arquidiocese de São Paulo, demonstrou, como nos mostra Lanza (2006), um posicionamento de apoio ao Golpe Militar de 1964, sem deixar de salientar as críticas já elaboradas pelo jornal no que diz respeito aos atos violentos empreendidos pelos militares nos anos que compuseram o período ditatorial de 1964-1985.

O semanário mantinha no início o intuito de evangelizar a população brasileira através da doutrina ultramontana vinculada aos dogmas católicos romanizados com sede no Vaticano.

Com o Concílio Vaticano II (1961-65) e com as Conferências Episcopais de Medellín (1968) e Puebla (1979), notou-se, como aponta Wanderley (2007), uma cisão em meio ao clero

1

Graduando em Ciências Sociais e bolsista CNPq pela UEL. E-mail: nevesjr1991@gmail.com.

2 Professor Adjunto do Departamento de Ciências Sociais da UEL e orientador do Projeto de Iniciação Científica com

bolsa CNPq/UEL. Email: lanza1975@gmail.com

3 Professor Colaborador do Departamento de Ciências Sociais da UEL, doutorando em Ciências Sociais pela UNESP e

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2 latino-americano entre conservadores, ligados aos bispos da TFP (Tradição Família e Propriedade) associados com doutrina ultramontana, que desempenharam o papel de apoio e legitimação do regime ditatorial brasileiro, e progressistas4, ligados a Teologia da Libertação, que voltaram sua atenção para as camadas populares da sociedade brasileira e ao questionamento do status quo instituído pela Ditadura Militar no Brasil (1964-85).

Com chegada de Dom Paulo Evaristo Arns - ligado ao clero progressista e a Teologia da Libertação - ao cargo de editor do semanário O São Paulo (1968) e com sua ascensão ao cargo de Arcebispo de São Paulo, foi perceptível a mudança do eixo ideológico do jornal, que passou a criticar com vigor a ilegalidade do status quo militar, assim como a violência decorrente da doutrina de Segurança Nacional que impera na sociedade brasileira. O semanário atingiu, então, influência em âmbito nacional5.

Um dos aparatos utilizados pela cúpula do poder militar brasileiro no combate a fomentação do questionamento da legitimidade do regime ditatorial, assim como ao combate da proliferação de denuncias a respeito das torturas e crimes cometidos pelos militares contra os Direitos Humanos (ONU-1948), se consolidou por meio da imposição da censura prévia militar aos meios de comunicação sociais brasileiros.

No caso da Arquidiocese de São Paulo os militares não só fecharam a Rádio 9 de Julho como impuseram a censura prévia militar ao semanário O São Paulo em 1972, censura que perdurou até 8 de junho de 1978 quando “a censura, portanto, acabou como havia começado: pelo telefone, sem que houvesse um documento escrito, decretando o seu término, como não tinha havido, sete anos antes, decretando o seu início” (PEREIRA, 1982, p. 184).

Com a disponibilização de um total de, aproximadamente, 170 cópias das matérias vetadas pela Ditadura Militar brasileira (1964-85) provenientes do semanário O São Paulo, para o Projeto Estudos de Mídia Religiosa6, foi possível realizar a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso que deu fruto a este artigo.

No processo de elaboração do trabalho que a seguir foram selecionadas, de forma intencional, um total de quatro matérias, provindas do acervo mencionado, tendo como critério de seleção a presença ou abordagem dos temas que se referem as categorias de análise que são postas em questão pela pesquisa.

4 A partir de Martins (2011) a classificação desta parcela do clero católico brasileiro como “progressista” deve ser

realizada apenas ao considerarmos o “marco da tradição conservadora própria da Igreja” (MARTINS, 2011, p. 25).

5 Vide Lanza (2006). 6

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3 Procedimentos metodológicos

Mostraram-se imprescindíveis para a elaboração deste trabalho as contribuições de diferentes áreas das Ciências Sociais, sendo elas a Sociologia, com ênfase na Sociologia das Religiões, a Ciência Política, a análise documental, assim como as contribuições da análise do discurso7.

O Exército brasileiro e as Forças Armadas foram tomados nesse trabalho, a partir da perspectiva de Weber (1971), como mecanismos de força legitimados do Estado, que tem por objetivo garantir a manutenção da ordem social capitalista no Estado brasileiro, combatendo, desta forma, qualquer possível ameaça à ordem social instituída.

A Igreja Católica pode ser considerada um Aparelho Ideológico de Estado, tendo como função a legitimação da ordem social capitalista ao passo em que “a definição gramsciana de Estado permite definir a Igreja como um Aparelho Ideológico de Estado e por isso precisar suas relações com a ‘sociedade civil’” (PORTELLI, 1984, p. 37).

Não escapando desta classificação o clero progressista vinculado ao semanário católico O São Paulo, tendo em vista que no decorrer do processo de análise das matérias vetadas do jornal não foi perceptível nenhum questionamento ao direito de propriedade privada, nem ao Estado capitalista em si, mas sim ao regime ditatorial e ao “capitalismo selvagem”8.

A análise documental9 realizada neste trabalho seguiu os apontamentos de Cellard (2012), tomando todas as precauções apresentadas pelo autor no que diz respeito à análise prévia dos documentos que impõe as cinco categorias que possibilitarão uma melhor análise dos documentos fornecidos, sendo essas categorias: 1° o contexto histórico no qual os documentos foram produzidos; 2° conhecimento sobre o autor que produziu o documento; 3° autenticidade e confiabilidade do documento (com o intuito de descobrir se os documentos não foram adulterados por indivíduos de má fé); 4° a natureza do texto; e, por fim, 5° os conceitos-chave e a lógica interna do texto.

7 A análise do discurso apresentou neste trabalho papel fundamental no processo de discernimento das formulações do

ideal democrático católico progressista exposto nas matérias vetadas, de forma prévia pela Ditadura Militar, do semanário O São Paulo.

8 Não deixando de salientar a existência de uma parcela considerável do clero progressista brasileiro que manteve

determinada proximidade com ideias comunistas.

9 Ademais devemos considerar que a análise documental pode “nos dizer muitas coisas sobre a maneira na qual os

eventos são construídos, as justificativas empregadas assim como fornecer materiais sobre os quais basear investigações mais aprofundadas” (MAY, 2004, p. 205).

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4 Os apontamentos de Michel Pechêux (CESÁRIO e ALMEIDA, 2010), a respeito da análise do discurso, nos mostram que o discurso está sempre atravessado pela ideologia, sendo que uma formação discursiva tende a estar impregnada pela formação ideológica.

O sujeito, portanto, encontra-se predisposto a deferir um determinado tipo de discurso de acordo com o momento histórico-politico no qual o mesmo se encontra inserido, salientando que o silêncio e a recusa a discursar sobre certo tema ou assunto também constitui uma formação discursiva característica de um contexto histórico-político peculiar.

Foram considerados, também, os apontamentos de Löwy (2009), segundo o qual a ideologia de uma classe ou grupo social é sempre histórica e socialmente determinada.

Relações entre a Igreja Católica e os militares durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-85)

É perceptível durante o período em questão a necessidade, encontrada pelos militares da cúpula do poder, de receber apoio para legitimação de seu regime, por parte da parcela conservadora do clero nacional, como podemos observar em discursos como o proferido por Costa e Silva10 em 1967, no qual insinua que a doutrina militar estava pautada na doutrina social da Igreja Católica:

Recebemos com grande entusiasmo o apelo de Sua Santidade em favor do desenvolvimento integral do homem e do desenvolvimento solidário da humanidade; esses também são os nossos objetivos, convictos que estamos de que o desenvolvimento é o novo nome da paz (In: SOUZA, 2009, p. 4).

Porém, é perceptível, do mesmo modo, as fortes tensões ocorridas entre os militares da cúpula do poder e os membros representantes do clero progressista nacional que, segundo Löwy (1991), pode ser tomado como o principal adversário da cúpula poder militar. Não é de se espantar, portanto, que:

A Igreja brasileira foi um alvo preferencial de censura. O governo fechou diversas estações de rádio, impediu publicação e distribuição de documentos episcopais, e usou a Bipartite para pressionar os bispos para que evitassem, baixassem o tom ou voltassem atrás em suas declarações. A campanha contra a Igreja se tornou mais intensa quando o clero assumiu seu papel de ser ‘a voz dos que não tem voz’. Um exemplo foi o semanário arquidiocesano O São Paulo (SERBIN, 2001, p. 349). O clero progressista foi rotulado pela Ditadura Militar como sendo subversivo a ordem social instituída – em outras palavras, foi diretamente relacionado à fomentação de ideais comunistas – as respostas elaboradas pelo semanário católico O São Paulo, o as acusações

10 Segundo presidente da Ditadura Militar brasileira (1967-69), vinculado, segundo Skidmore (1991), aos militares linha

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5 proferidas pelos militares, consistia na base da defesa da doutrina cristã e dos Direitos Humanos (ONU-1948), como segue em uma das matérias vetadas, de forma prévia pela Ditadura Militar no Brasil, do semanário “Não podemos reconhecer ao Estado o direito de julgar nossa missão evangelizadora, incriminando-a de subversão ao comunismo. É muito cômodo procurar encobrir assim a denúncia de injustiças que oprimem a maior parte de nossa gente” (OSP, 1976)11.

Devemos ainda salientar quais foram às críticas elaboradas pela equipe editorial do semanário no que diz respeito às relações firmadas entre clero católico e cúpula do poder militar durante o período em questão, em matéria vetada, de forma prévia pelos militares, segue o seguinte trecho:

... com isso, alguns membros do governo, com pouca cultura democrática, ou inseguros e incertos em suas opções, ou necessitados de apoio eclesiástico, não viam com bons olhos essa tomada de posição da Igreja pro conciliar, preocupada pela justiça social, e começaram a criar um estado de tensão e de intimação, culminando com agressões a alguns homens da igreja (OSP12, 3 de março de 1978, lauda 3)

Ademais devemos considerar que, segundo Fausto (2006), o forte combate exercido pela Igreja Católica – pela parcela progressista, ligada a Teologia da Libertação – juntamente com a ameaça de retorno ao poder dos militares linha dura foram os principais motivos que levaram Geisel13 a dar início a reabertura política brasileira.

O ideal democrático católico progressista

Em meio à realidade ditatorial militar imposta ao Brasil durante as duas décadas que sucederam o Golpe de 1964 (1964-85), as aspirações democráticas da população, apesar de visíveis, foram combatidas e rechaçadas pelos militares que compunham a cúpula do poder, fomentar qualquer tipo de ideal democrático decorria na rotulação do grupo responsável como sendo subversivo a ordem social instituída.

Em matéria vetada, de forma prévia pelos censores militares, do semanário é possível destacar a já mencionada perseguição empreendida pelos militares contra a fomentação de ideais democráticos que discordassem do ambíguo ideal de democracia defendido pela cúpula do poder militar14, afirmando que:

11

Matéria intitulada “Evangelização de Olinda”, não consta autoria nem data precisa de produção, apenas o ano, 1976.

12 No que diz respeito à autoria consta apenas o nome “Oglai”.

13 Quarto presidente da Ditadura Militar no Brasil (1975-79), vinculado, segundo Skidmore (1991), ao grupo militar

castelista.

14

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6 Propostas em favor de maior vitalidade democrática tem frequentemente esbarrado em argumentos preconceituosos quando não de força. E com isso o povo tem sido impedido de participar efetivamente do processo politico e de levantar a voz para defender seus legítimos interesses (OSP15, 1976, lauda 1).

Dos ideais democráticos fomentados pelo semanário O São Paulo16, durante o período de imposição da censura prévia militar ao meio de comunicação católico, será aqui explorado o ideal democrático católico progressista, vinculado à Teologia da Libertação e pautado na defesa dos Direitos Humanos (ONU-1948).

O ideal de democracia torna-se visível na definição encontrada em uma das matérias vetadas, de forma prévia pela Ditadura Militar, provinda da Arquidiocese de Olinda – que estava sob a liderança de Dom Hélder Câmara – para o clero vinculado a Teologia da Libertação:

democracia não é e não pode ser sinônimo de ausência de autoridade; mas, também, não é criação do Estado (o que importaria em totalitarismo de direita ou de esquerda). Democracia é um regime politico em que todos aceitam uma autoridade, que governa em nome do bem comum, poder maior ao qual as próprias autoridades estão sujeitas. Quanto a liberdade e aos direitos fundamentais do homem são realidades inerentes a condição humana (OSP17, 1976, p. 7).

Devemos salientar que ao mesmo tempo em que a matéria crítica o status quo instituído pelos militares, Estado de extrema direita, crítica, também, a formação de um Estado socialista, ou de extrema esquerda, desvinculando-se assim de qualquer possível rotulação de subversivos a ordem capitalista.

Segue ainda em outra das matérias vetadas, nas mesmas condições da anterior, do semanário católico, as especificações das exigências - apontadas pela leitura e interpretação dos documentos provindos do Vaticano – para o processo de redemocratização do Brasil, sendo que “nesta abertura democrática que responda as aspirações do povo não pode deixar de levar em conta duas exigências fundamentais. Exigências que, aliás, já foram relembradas por Paulo VI, na Octagesima Adveniens (n. 43)” (OSP18

, 9 de agosto de 1977, lauda 1). Consistindo a exigência em questão na repartição de bens e poder. Seriam, portanto, a diminuição das desigualdades sociais - que atingiam níveis alarmantes em decorrência da crise econômica - e o início da abertura política que garantisse real participação da população no processo eleitoral, assim como o cumprimento dos resultados de determinada eleição. Salientando ainda que:

15 Matéria não consta autoria nem data precisa de produção, apenas o ano (1976). 16 Expostos por Neves Jr. (2013).

17 Matéria: Evangelização de Olinda. 18

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7 Estas desigualdades e tais situações estruturais de injustiça que impedem a participação do povo e barram o acesso da multidão de pessoas à vida na dignidade humana são intoleráveis, e, felizmente, hoje vozes se fazem ouvir bradando pela necessidade de iniciar com urgência uma democracia que comece um percurso novo, e em outras bases do que aquelas apontadas nas ultimas décadas (OSP, 9 de agosto de 1977, lauda 2).

A partir das definições expostas, do ideal democrático católico progressista, podemos dar início a classificação deste ideal democrático no campo da Ciência Política, para tanto tomaremos emprestados o conceito de “democracia radical”

Hoje existe uma tendência nova e forte de se pensar o socialismo como uma extensão dos direitos de cidadania, ou – e isso se torna cada vez mais comum – de pensar a “democracia radical” como um substituto para o socialismo. Como o termo democracia se transformou no slogan de várias lutas progressistas, o único tema unificador entre os muitos projetos emancipatórios de esquerda, ele passou a significar todos os bens extra econômicos em conjunto. (WOOD, 2011, p. 232). O conceito de democracia radical que se formula pelo clero católico vinculado ao semanário O São Paulo pode ser tido como uma resposta não só ao combate ao “capitalismo selvagem” e ao Estado ditatorial, como também na luta contra qualquer fomentação, ou mesmo rotulação, ao comunismo por parte do semanário, mantendo-se, portanto, desvinculado de qualquer possível represaria militar que pudesse ser empreendida contra o corpo editorial do jornal.

Devemos ainda considerar que o conceito de democracia radical fornece a essa vertente do clero nacional a conciliação entre a doutrina cristã defendida pela Teologia da Libertação com a realidade imposta pelo Estado capitalista, possibilitando a continuidade do exercício da função de Aparelho Ideológico de Estado na esfera capitalista internacional, no sentido gramsciano, por parte deste clero, sem contradizer os ideais por eles defendidos.

Considerações Finais

O Golpe de 1964 teve fortes consequências sobre a realidade política e social brasileira. Puderam ser constatadas as abdicações, legitimadas pelo Estado ditatorial, no que tange o desrespeito aos Direitos Humanos (ONU-1948) por parte dos militares da cúpula do poder. Entre elas destacam-se: a aplicação de métodos de tortura aos perseguidos políticos e sujeitos considerados como subversivos a ordem; o cancelamento do direito ao habeas corpus; a privação dos direitos eleitorais democráticos – em relação aos cargos executivos de chefes de Estado – para a população brasileira; o combate ao direito de livre associação; e, com maior ênfase neste trabalho, a

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8 imposição da censura prévia aos meios de comunicação social e, consecutivamente, a censura ao direito de livre expressão.

Constatou-se que o Concílio Vaticano II (1961-65), a Conferência Episcopal de Medellín (1968), as formulações da Teologia da Libertação, assim como a chegada de Dom Paulo E. Arns ao cargo de Arcebispo de São Paulo, constituíram-se como fatores essenciais para a mudança de eixo de posicionamento do semanário em frente ao regime ditatorial militar.

A partir da década de 1970 O São Paulo, se destacou, portanto, pelo papel questionador em relação ao status quo militar e a doutrina de Segurança Nacional. Como consequência do citado fenômeno foi imposta a censura prévia militar ao jornal católico, que teve início em 1972 e perdurou até meados de 1978. Podemos destacar o papel político-social exercido pelo semanário O São Paulo, na luta pela redemocratização da sociedade brasileira.

A partir da análise documental - das matérias vetadas pela Ditadura Militar do semanário O São Paulo19 - e da análise do discurso tornou-se possível o discernimento da formulação de um ideal democrático ligado a Teologia da Libertação, que pode ser classificado a partir das contribuições da Ciência Política. O, aqui nomeado, ideal democrático católico progressista foi classificado como derivação da “democracia radical”, elaborada por Wood (2011).

Desta maneira, sob a perspectiva teórica gramsciana, o clero progressista formulou um ideal democrático que ao mesmo tempo em que condiz com a filosofia elaborada pela Teologia da Libertação, permite a Igreja Católica a continuidade do exercício do papel de Aparelho Ideológico de Estado capitalista na esfera internacional.

Referências Bibliográficas

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LÖWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o barão de Münchhausen, 9° ed. Cortez Editora, São Paulo, 2009.

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9 LÖWY, Michael. Marxismo e Teologia da Libertação. Trad. M. V. Baptista, São Paulo: Cortez, 1991.

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Público do Estado de São Paulo. Disponível em:

http://www.arquivoestado.sp.gov.br/upload/Deops/Prontuarios/BR_SP_APESP_DEOPS_SAN_P00 5053_01.pdf (visitado em 22/09/2013 as 16h02min) 39 laudas.

OSP20. Ainda no túnel. O São Paulo. [s.d.-- de --] de 1976, 2 laudas.

OSP. Evangelização de Olinda. O São Paulo. [s.d. -- de -- 197-]21, 10 laudas.

OSP22. Duas exigências urgentes. O São Paulo. 9 de agosto de 1977, 2 laudas.

20 Não consta autoria, nem data precisa de produção. 21

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10 OSP23. A Igreja Católica e a Segurança Nacional. O São Paulo. 3 de março de 1978, 7 laudas.

SOUZA, Padre Ney de. Entre a contestação e a convivência: Censura ao jornal O São Paulo durante o regime militar (1964-1985). Artigo apresentado em Fortaleza: XXV Simpósio Nacional de História, 2009.

22 Autoria de “GG”. 23

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