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A SINTAXE DO SUJEITO EM MANCHETES DE SAULO SALES DE SOUZA RESUMO:

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A SINTAXE DO SUJEITO EM MANCHETES DE PRIMEIRA PÁGINA

SAULO SALES DE SOUZA RESUMO:

O tema desta pesquisa é a análise da ocorrência dos tipos de sujeito nas manchetes de primeira página, de jornais tradicio-nais e populares. Será usada, como base teórica, a perspectiva de estudos sintáticos relacionada à semântica histórica da enuncia-ção, desenvolvida por Dias (2002), que prevê quatro formas de ocupação do lugar do sujeito.

Os objetivos desta pesquisa são: evidenciar como a enunci-ação irá se relacionar com a sintaxe em relenunci-ação ao sujeito nestes tipos de jornais, e buscar uma maior compreensão de como os papéis do leitor no contexto de enunciação dos dois tipos de jor-nal influenciará a sintaxe no preenchimento do lugar do sujeito. A metodologia de pesquisa a ser adotada envolve o levantamento de dados das manchetes de primeira página do jornal tradicional e popular. O jornal tradicional é o de grande renome historicamen-te, no nosso caso adotaremos o Estado de Minas. Já o jornal popular é o do tipo de jornal sensacionalista, no nosso caso, utilizaremos como objeto de análise o Super Notícia.

Ao fim, observamos que o jornal tradicional e o popular se especializam para informar a dois tipos diferentes de públicos, e

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isto se dá através da escolha do campo de conhecimentos presente em suas manchetes, o que reflete na sintaxe.

Introdução

O objetivo deste artigo é analisar o sujeito das manchetes de primeira página de jornais tradicionais e populares, de acordo com a perspectiva da semântica histórica da enunciação. Esta análise possibilitará o encontro de regularidades nestas duas for-mas de enunciar.

A relevância desta análise vem do fato de se constatar que a enunciação, o uso, define e explica padrões gramaticais. Esta concepção vai contra as gramáticas tradicionais, que pregam um procedimento normativo do uso de uma língua. Para nós, no uso da língua encontramos regularidades, devido a sua historicidade; ou seja, o uso que um grupo de indivíduos faz da língua ao longo de sua história, e irá constituir um campo de conhecimentos co-mum nesta sociedade, e dentro deste campo encontraremos tais regularidades do funcionamento de uma língua. A língua funciona e constitui sentido, e nas regularidades de seu funcionamento devemos buscar explicações para questões relativas à gramática.

Será usada, como base teórica, a perspectiva de estudos sin-táticos relacionada à semântica histórica da enunciação. Esta

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perspectiva foi desenvolvida por Dias (2002) e prevê quatro tipos de sujeito gramatical que serão explicadas mais adiante.

A análise do sujeito, de acordo com a perspectiva apresen-tada neste trabalho, esclarecerá questões relativas ao contexto sócio-cultural que permeia o conhecimento jornalístico. Este con-texto apontará o tipo de conhecimento e para quem ele se dirige, por isso a sintaxe assumirá diferentes formas, devido a diferentes regularidades que irão reger a forma de enunciar entre os jornais, tradicional e o popular, a seus públicos, sendo esse o ponto prin-cipal de nosso estudo.

Foram levantados os dados das manchetes de primeira pá-gina do jornal tradicional e popular.O jornal de tradição é o tipo de jornal bem conceituado e de grande renome até historicamente, no nosso caso adotamos o Estado de Minas. Já o jornal popular é o tipo de jornal sensacionalista, de caráter policialesco, no nosso caso, utilizamos como objeto de análise o Super Notícia.

Na primeira seção deste trabalho faremos uma explanação das teorias importantes para nosso estudo, como nossa noção de enunciação, os tipos de sujeito de acordo com a perspectiva de Dias (2002), e considerações de alguns autores a respeito do títu-lo. Na segunda seção faremos uma análise das regularidades nas manchetes do jornal tradicional e popular, respectivamente, O Estado de Minas e o Super Notícia. Por fim faremos nossas con-siderações finais sobre à análise dos dados e o ganho de nosso estudo.

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1 – Fundamentos do lugar do sujeito

Neste trabalho, enunciação é entendida como “o aconteci-mento em que a língua funciona e assim constitui sentido” (GUIMARÂES, 2006, p. 124). Vemos a enunciação como o evento responsável pela formação de sentido em uma língua, sendo ela, o ato de colocar a língua em funcionamento, que constitui aquele que fala e seu destinatário, ou seja, locutor e interlocutor. Para nossa teoria, enunciar é determinado socialmente (Idem, 1989, p. 73), pois o conjunto de conhecimentos de onde um enunciado provém é um construto social e cultural no âmbito de uma sociedade.

A língua comporta duas dimensões, a orgânica e a enuncia-tiva (DIAS, 2003, p. 61-2). A dimensão orgânica é onde os ele-mentos sintáticos articulam entre si no nível da sentença, a di-mensão enunciativa constituirá o que chamamos de lugar, que é uma trilha na história das enunciações de um determinado item lexical, as condições de ocupação de um lugar sintático estão no nível da enunciação. O lugar é um ponto de convergência onde essas duas dimensões constituirão a chamada demanda de satura-ção. De acordo com Dias (2002, p. 52) “Em outras palavras, te-mos, de um lado, formações simbólicas não projetadas nas unida-des e nas formas articuladas; de outro, formas articuladas que projetam formações simbólicas dispersas. Essa discrepância cons-titutiva entre o material e o simbólico produz uma demanda de

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saturação”. As duas dimensões são discrepantes, mesmo operan-do de forma constitutiva para um acontecimento enunciativo. Nem todas as modulações das idéias são representáveis nas for-mas de articulação do meio sintático, ao mesmo tempo que, essas formas de articulação, ora deixam a desejar na capacidade de representação, ou ultrapassam essa mesma capacidade de repre-sentar. No nosso caso, nosso foco de atenção está no lugar do sujeito. Esse lugar será ocupado de quatro formas diferentes, que são as quatro formas de sujeito propostas por Dias (Id. ibid.). São elas:

a) Base: O sujeito é formado por um sintagma nominal, tendo como núcleo um substantivo (Id. ibid., p. 53). O substantivo cons-titui um ponto de estabilidade na relação constitutiva entre a di-mensão orgânica e a enunciativa, devido a sua materialidade mor-fológica e a sua memória, que é sua trilha de ocorrência em outras enunciações. O substantivo está submetido ao conjunto de ele-mentos do sintagma, que interferem na constituição de seu senti-do, porém ele não perde a sua qualidade de designador, que ali-menta sua característica de ser um ponto de estabilidade ao repre-sentar o simbólico. “O sujeito aciona o verbo” (Idem, 2003, p.63), assim, de acordo com nossa perspectiva, acionar o verbo é tirar o verbo de sua forma tal qual o encontramos no dicionário, é conju-gá-lo. O sujeito determinará a conjugação do verbo. Analisemos o exemplo (1):

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b. O irmão de Silas não se atrasa como ele. c. Um aluno desta sala nunca chega no horário. d. Nevou no sul do país.

e. Faz muito calor aqui.

Nas frases de (1a) a (1c) da dependência do núcleo em re-lação à definitude referencial. Nessa escala, os determinantes vão adquirindo importância na contexto de enunciação do sintagma. A definitude, para nós, está relacionada à pertinência que os objetos da memória ganham no momento da enunciação. Não temos ne-nhum determinante em (1a), temos um artigo definido em (1b), ao passo que temos um artigo indefinido em (1c). Assim para nós O

irmão de Silas possui a mesma definição de Um aluno desta sala.

As condições para a definição do núcleo são as condições para a formulação de um sintagma com a força necessária a apontar para este objeto no simbólico, na trilha de suas enunciações.

Na sentença (1d) temos a situação em que o sujeito não é materializado lexicalmente. Há a condensação ao máximo das possibilidades de definitude de um sujeito, que está inserido na própria instância do verbo. O lugar de sujeito nesse caso possui a característica de ter passado por um processo de repetição exaus-tiva em outras situações de enunciação, ao ponto de somente o verbo remeter a esse sujeito. Facilmente percebemos que o sujeito em (2e) é neve.

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Em (1e) temos um caso de projeção oblíqua (Idem, 2002, p. 57). Verbos que indicam existência e tempo, fazem com que as condições de definição do sintagma nominal sejam uma especifi-cidade do verbo. Nestes casos, o acionador do verbo está inserido no objeto. È a própria necessidade de especificação que faz o verbo ser acionado, constituindo-se assim o lugar do sujeito gra-matical.

b) Suporte: “O sintagma que se situa no lugar do sujeito é forma-do por um dêitico” (Id. ibid., p. 56) nesse tipo de sujeito. Ao di-zermos dêitico, falamos dos pronomes pessoais, dos demonstrati-vos isso, isto e aquilo, e aos advérbios de tempo e lugar. A capa-cidade de definitude do não está no interior do sintagma que ocu-pa o lugar do sujeito. O dêitico se comporta como uma âncora, que se fixa na pessoa como perspectiva da enunciação, ou num campo de orientação temática. Esse campo de orientação temática diz respeito a textualidade em si mesma. Nessa espécie de sujeito, a determinação não ocorre no interior do sintagma, pois a base de referência está em outro lugar. Observemos o exemplo (2): (2) a. Eu estudei ontem à noite.

b. Estudei ontem à noite.

c. Pedro e Tiago, estudem agora. d. Estudem agora.

e. Copiando o dever de Paulo, hein Pedro. f. Copiando o dever de Paulo!

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O acionamento do verbo ocorre segundo as condições de definição do próprio acontecimento de enunciação. A ancoragem desempenha seu papel, à partir da primeira pessoa, como em (2a) e (2b), ou à partir da segunda pessoa, como em (2c) e (2d). Quan-do o lugar Quan-do sujeito não é explicitaQuan-do em termos de léxico, a identificação das perspectivas de primeira e segunda pessoa é feita através das desinências verbais, como em (2b), ou de acordo com o caráter imperativo da sentença, como em (2d), ou através de um vocativo, como em (2e), ou ainda pela entonação, demons-trada pela marca da exclamação, como em (2f). Desta forma, a presença ou a ausência de um pronome de primeira ou de segunda pessoa é regida pelas condições que fazem um enunciado perten-cer a um perten-certo campo de orientação temática, ou seja, um texto.

Desta forma, de (2a) a (2f), a constituição da perspectiva de pessoa, através da qual se faz a ancoragem, é determinada pela relação entre o desempenho do ato de enunciação e o campo de orientação da temática do texto.

c) Projeção: O sintagma ocupante do lugar do sujeito é formado pelo que a gramática tradicional classifica como pronome indefi-nido, ou em outros casos, como pronome interrogativo. São pala-vras como “alguém”, “ninguém”, “todos” e “quem”. Nessa situa-ção, “o sujeito é a projeção de uma identidade à partir da instância enunciativa circunscrita pelo predicado”. Analisemos os exem-plos de (3):

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b. Quem faltou ao trabalho hoje. c. Todos compareceram ao trabalho. d. Quebraram o contrato com a gravadora. e. Vende-se guitarra em ótimo estado.

Podemos observar nestes exemplos que a base de projeção do sujeito é definida pela situação de enunciação do predicado. O alvo dessa projeção adquire o papel de acionador do verbo, assim, de lugar do sujeito. Os pronomes indefinidos e interrogativos que ocupam a posição de lugar do sujeito são os portadores da identi-dade projetada da situação de enunciação da sentença. A concor-dância ocorrerá de acordo com a morfologia de cada um desses pronomes, nos exemplos de (3), verificamos alguém e quem como singular, e todos como plural.

Nos exemplos (3d) e (3e) ocorre o que chamamos de

iden-tidade projetada (Id. ibid., p. 59). Nestes casos, não temos a

ocu-pação do lugar do sujeito. Mas a expressão alguém que funciona como paradigma dessa identidade. Assim, em (3d) teríamos o portador de identidade que não parece no dimensão orgânica mas entendido na dimensão enunciativa como “Alguém que quebrou o contrato com a gravadora”, entendido pela gramática tradicional como sujeito indeterminado. E em (3e) o sujeito seria “guitarra”, pois seria, sentenças na voz passiva. Porém, dentro de nossas perspectivas, consideramos a sentença (3e) como (3d), se tratando de sujeito de identidade projetada não realizado no léxico.

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d) Perfil: O sintagma que ocupa o lugar do sujeito é formado pelo que a gramática tradicional classifica como pronomes indefinidos, especificamente “quem” e “aquele que”. De acordo com Dias (Ibidem, p. 60), “Nesse caso, o sujeito é um perfil constituído a partir da instância enunciativa circunscrita por uma base textual”. Assim, o sujeito é evidenciado por meio de uma conclusão produzida pela textualidade que dá suporte à sentença. Observemos o exemplo (4):

(4) a. Quem planta, colherá.

b. Bebeu, jogou, furtou: beberá, jogará, furtará.

A constituição do perfil ocorre quando duas sentenças en-tram numa relação de causa/conseqüência, do tipo “Aquele que age de tal forma, terá tal resultado”. O que sobressai dessa relação é um perfil de sujeito que pode ser identificado como “Todo a-quele que...”. Esse é o tipo de construção comum aos provérbios, pois esse traz o que chamamos de “verdade condensada” em seus próprios domínios. Essa condensação adquire pertinência, nesse tipo de frase como em (4), onde se amarra o passado e futuro, o gera o efeito de completude, prevalecendo acima de qualquer experiência pessoal. O não preenchimento do lugar do sujeito em (4b), se deve ao fato de que é previsível a composição orgânica que deve ocupar este lugar, ou seja, este lugar só pode ser ocupa-do por “quem” ou “aquele que”.

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Outro conceito essencial para a definição do enunciado, e conseqüentemente, destes tipos de sujeito, é a historicidade do enunciado. O enunciado é constituído historicamente não do pon-to de vista temporal, mas sim do ponpon-to de vista do social. Assim, um grupo de indivíduos com uma cultura em comum constitui um corpo de conhecimentos em comum ao longo do tempo. Isto leva-rá à formação de domínios de dizeres, que são conjuntos de ex-pressões com sentidos que relacionam entre si, dentro de um dos quais, um enunciado se constituirá (GUIMARÃES, op. cit., p. 74). De acordo com Orlandi (1999, p. 10), “se, por um lado, há imprevisibilidade na relação do sujeito com o sentido, da lingua-gem com o mundo, toda formação social, no entanto, tem formas de controle da interpretação, que são historicamente determina-das”. Segundo ela, a interpretação de um texto é determinada pelo conjunto de conhecimentos sócio-culturais de uma sociedade. O texto é enxergado aí como uma formação social, pois todo saber em uma sociedade tem sua origem nessa historicidade.

O conceito de discurso e interdiscurso são também muito importante para nossas teorias. Para Orlandi (1992, p. 20), “O discurso é efeito de sentido entre locutores”. Assim, o discurso é um conjunto de manifestações da língua em contato com determi-nadas posições sociais. De acordo com Guimarães (2005, p. 66) “o Interdiscurso é a relação de um discurso com outros discur-sos”. Para nós, essa relação não se dá a partir de outros discursos empiricamente particularizados, ela ocorre dentro de um conjunto

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de conhecimentos que a sociedade desenvolve ao longo de sua história.

Analisaremos agora visões de teóricos da linguagem que compartilham conosco de idéias importantes em relação aos títu-los de manchetes de jornais. De acordo com Carmagnani:

O título é um micro texto de dimensão e formas variadas que nomeia a obra/texto após sua execução, a partir de caracterís-ticas tais como: veículo-utilizado, imagem que o sujeito e-nunciador faz ou pretende fazer de si próprio, imagem que o enunciador faz de seu alocutário (leitor virtual), imagem que o alocutário faz ou gostaria fazer de si próprio, e a natureza da informação. Um mesmo título ou manchete significará de modo diverso caso deslocado de uma seção para outra de um mesmo jornal, ou seja, utilizado por outros jornais e revistas. (CARMAGNANI, 1992, p. 564)

O título é uma espécie de pequeno texto que traz a idéia ou mensagem principal de um texto maior. No caso das manchetes jornalísticas, ele nomeia a descrição de um fato importante e pode abordar diferentes áreas do conhecimento. Fatores como, o veícu-lo responsável pela editoração de um jornal, imagem que o sujeito que cria notícia faz de si e seu público alvo, ou a imagem que esse público faz ou gostaria fazer de si, e a espécie de informação vei-culada influenciarão não só na constituição da notícia, mas prin-cipalmente de sua manchete. Mesmo abordando um mesmo tema, veículos jornalísticos diferentes construirão notícias e manchetes diferentes.

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Outra importante consideração à respeito do título é feita por Coracini:

Inserir o título numa situação real de interlocução equivale a considerar o momento de produção como iminentemente inte-rativo: um sujeito comunicante com determinadas intenções, se dirige a um sujeito leitor, que terá por sua vez formulado sua intenções (projetos) de leitura. O sujeito da comunicação, no desejo de fazer coincidir os dois projetos enunciativos, se servirá de estratégias já convencionadas e aceitas e/ou criará outras. (CORACINI, 1989, p. 235)

Outro aspecto importante do título é que ele está no centro de um processo interativo. O sujeito que cria a notícia se dirige a um determinado público, que já tem suas áreas de interesse de todo conhecimento sócio-cultural de uma sociedade. Assim, aque-le que enuncia, ou seja o que cria a mensagem usará de artifícios, como abordar temas de área de interesse do público alvo, usar uma linguagem que crie empatia no leitor e de acordo com seu grau de conhecimento e escolaridade para transmitir mensagens de acordo com o interesse e capacidade de sua audiência. O título da manchete é o ponto chave desta comunicação, que vem para nomear este ato para atrair a atenção, interesse e curiosidade do público alvo.

Os pontos apresentados nesta seção permitem um maior es-clarecimento do que é nossa teoria e de como enxergamos as manchetes. Para serem devidamente compreendidos os tipos de sujeito, precisa-se do conceito de historicidade, que é definido

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pelo contexto sócio-histórico de um povo. O interdiscurso situará as manchetes estudadas nesta pesquisa em relação sua historici-dade. Estes são os pontos principais de nossa perspectiva teórica. 2 – A análise das manchetes de primeira página

Observemos particularidades quanto à sintaxe do lugar do sujeito do jornal tradicional e popular, em termos de regularidade. O Jornal tradicional apresenta manchetes com o lugar do sujeito preenchido por siglas no lugar de núcleo do sintagma nominal. Podemos observar este fato na manchete, “STJ liberta acusado de

mandar matar fiscais”. Este fato, recorrente neste tipo de jornal,

só aparece uma vez no jornal popular, na manchete “Obras do OP

digital serão divulgadas hoje”.

Encontramos ainda o lugar do sujeito preenchido por pala-vras abstratas. Para nós palapala-vras abstratas são aquelas que reme-tem a instituições ou a obras que não podem ser percebidas visu-almente, como na manchete do jornal tradicional, “Lady Di –

Investigação conclui que acidente matou princesa”, ou ainda em,

“Governo encarece os juros”. Nestes dois exemplos, vemos que as palavras “instituição” e “governo”, não são obras visíveis, assim tidas como abstratas. Outro exemplo que convém ser desta-cado é o de outra manchete do jornal tradicional, “Pesquisa -41%

das crianças de BH de até 4 anos têm cáries”, onde o núcleo do

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espécie de abstração. Este é um fato com ocorrência muito baixa no jornal popular, como no exemplo, “Acidente na BR 381 deixa

5 mortos”, ou em “Greve de médicos atrasa processos no Fórum

de BH”. É importante observarmos que no jornal popular

encon-tramos grande ocorrência de determinantes no sintagma nominal juntamente com substantivos abstratos, este fato é muito menor no jornal tradicional. Isto se deve ao fato de que o jornal popular tende muito mais a particularização com o intuito de aproximação do dia-a-dia do público, causando um impacto no leitor, ao passo que o tradicional tende a ser mais generalizante em sus temática. Um caso importante é o das manchetes do jornal tradicional “Laranjas complicam o deputado” e “Caixa 2 de Juvenil

compli-ca mais um deputado petista”. Nela, o lugar do sujeito é

preen-chido pelo que chamamos de superposição de referente, ou seja, o núcleo do sintagma é uma palavra que foi acrescida de um sentido diferente do original. Este fato lingüístico reforça a tese de que um leitor ideal deste tipo de jornal deve dominar um nível mais elevado de conhecimento, pois um leitor com baixo nível de co-nhecimento provavelmente não saberia do que se trata tais termos que exigem um conhecimento mais específico e elevado de mun-do. Desta forma, um público mais escolarizado provavelmente se familiariza mais com este tipo de jornal. No jornal popular não observamos nenhum ocorrência deste fato, isto reforça ainda mais a tese que acabamos de proferir.

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Uma característica importante dos dois tipos de jornais são os tipos de conhecimentos que encontramos nos dois, que reme-tem a recortes diferentes do interdiscurso. Os campos que mais recorrem no jornal tradicional são a política mundial e nacional, avanços científicos, economia nacional e mundial, e das artes, que chamaremos de conhecimentos de destaque. Percebemos, então, que essas manchetes vêm de recortes do interdiscurso de conhe-cimentos gerais, de uma escala municipal a mundial, por isso essas manchetes causam um efeito de convidar para o texto, pois ele trata de assuntos gerais, com uma certa distância em relação ao público. Devido a estas características da manchete do jornal tradicional, o leitor ideal deste tipo de jornal é o que chamaremos, de público mais escolarizado. Por abordar temas referentes aos conhecimentos de destaque, com manchetes com efeito de convi-dar o leitor para o texto, o público que regularmente tem interesse por este tipo de jornal tende a ter um grau de instrução avançado, necessário para dominar os assuntos abordados pelos recortes do interdiscurso deste jornal.

Já o jornal popular atua em recortes do interdiscurso relati-vos aos conhecimentos dos desastres locais, das ocorrências poli-ciais locais, vida de pessoas famosas do esporte e da TV, que chamaremos de conhecimentos triviais. Desta forma, trabalhando com conhecimentos mais particulares de uma dada sociedade, esta espécie de jornal causará um efeito de impacto e empatia no leitor, isto gerará um efeito familiaridade com qualquer leitor em

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potencial em uma sociedade específica. Pelo fato do jornal popu-lar apresentar tais características, seu leitor tende ser o que cha-mamos de público menos escolarizado. Por tratar de assuntos mais próximos da vida comum, pelo fato de usar os conhecimen-tos triviais como recorte do interdiscurso, daí não se exigir que o leitor tenha um grau elevado de escolaridade, pois os jornais tra-tam de fatos próximos a ele. Como já ressaltra-tamos na parte teórica, há em um jornal uma especialização em termos de qual assunto escreve, como escreve já visando um determinado público dentro de uma sociedade.

Considerações finais

Pela análise feita, com base na relação entre a dimensão enunciativa e sintática da língua portuguesa, encontramos regula-ridades, que descreveremos a seguir, nas duas formas de enunciar, no jornal tradicional e popular. Mesmo tendo o mesmo tipo de sujeito recorrente, o fator que faz a distinção entre a enunciação dos jornais de grande e pequena circulação são os interdiscursos dos quais eles são provenientes.

Os jornais tradicionais, que geralmente se referem a conhe-cimentos de destaque, abordam assuntos relacionados a campos do saber mais geral. Assim, por pertencerem a este campo de interdiscurso, as manchetes deste tipo de jornal apresentam a ca-racterística de remeterem para o texto. Desta forma, esse tipo de

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jornal, e naturalmente, suas manchetes, tende a falar de temas mais generalizantes, que não têm grande proximidade com a vida comum, que requerem um grau de instrução mais elevado do público leitor para que dominem estes conhecimentos.

Os jornais populares, que geralmente se referem a conhe-cimentos triviais, abordam assuntos relacionados à vida corriquei-ra de uma dada sociedade. Por fazerem parte deste tipo de inter-discurso, esses jornais apresentam a característica de causarem impacto no leitor. Assim, as manchetes do jornal popular tendem a falar de fatos próximos da vida comum, que não requerem um grau elevado de instrução para que o público absorva seus conhe-cimentos.

Vemos que o jornal tradicional e o popular se especializam para informar a dois tipos diferentes de públicos, o mais e o me-nos escolarizado, e isto se dá através da escolha do campo de conhecimentos, dos quais, suas manchetes são provenientes. Isto tem reflexo na sintaxe, especificamente, no lugar do sujeito. As-sim, a recorrência da presença de siglas, o tratamento sintático que os substantivos abstratos recebem em cada espécie de jornal, e recursos como a superposição de referente são eventos que po-dem ser estudados em termos regularidades para definir os parâ-metros sintáticos de cada espécie de jornal, do tradicional e do popular.

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Esperamos que, através deste trabalho, possamos ter con-firmado a posição da enunciação como um caminho para se estu-dar a sintaxe das línguas, através de suas regularidades.

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Referências Bibliográficas

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