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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE VEREADORES DA
CIDADE E COMARCA DE COLNIZA
– ESTADO DE MATO GROSSO
CELSO LEITE GARCIA, brasileiro, casado, Prefeito de Colniza
– afastado-, portador do RG
nº 22571065-1 SSP/MT e inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas sob o nº
113.284.058-936, residente e domiciliado na Rua Amapola, 353, Centro, Colniza/MT, CEP 78.335-000,
vem à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art 54, IV da Lei Orgânica Municipal,
art 16, II, VII e § 1º e 2º do Regimento Interno da Câmara Municipal de Colniza e art. 5 e
7, III, do Decreto Lei 201/67, apresentar
REPRESENTAÇÃO POR QUEBRA DE DECORO PARLAMENTAR
Em face de SIWAL SANTANA SOARES– PSDB, vereador deste Parlamento Municipal de
Colniza/MT, pelos fatos e direitos expostos a seguir, agindo de forma incompatível com
o decoro do cargo de vereador, conforme segue.
01-
DO DECORO
Decoro é o mesmo que agir com decência e pudor, seguindo as normas
morais e éticas previstas na sociedade. Este termo também pode ser definido como o
comportamento de recato e respeito tido por alguém em uma determinada
circunstância. Sendo assim, uma pessoa que age com decoro significa que se comporta
de forma correta, do ponto de vista da moral e ética vigente na sociedade. Desta forma,
a falta ou quebra de decoro, se refere ao comportamento oposto, ou seja, agir sem
respeito, dignidade e compostura em situações onde, é adequada.
Como se não fossem suficientes os diversos percalços conceituais,
sobre a real definição de “decoro”, questiona-se sempre a respeito das divergências
sobre os procedimentos realmente incompatíveis com aqueles atributos do cargo de
Legislador.
“Porém, a delimitação legal do conceito de decoro parlamentar é
incompleta, gerando dúvidas na sua aplicação. A Constituição Federal
(artigo 55, parágrafo 1º) prevê como falta de decoro o abuso das
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prerrogativas pelo parlamentar, percepção de vantagens indevidas e
atos definidos como tal nos regimentos internos. E os regimentos
internos não vão muito além da redação do texto constitucional.”
Aqui analisa-se a dignidade da posição política, sendo a dignidade e o
decoro fazendo parte do cargo que ocupa o legislador.
“Na busca do conceito há, no mínimo, dois desafios a serem
enfrentados, ambos interligados: a questão temporal e a abrangência
do dever de decoro. Na primeira, deve-se procurar estabelecer a partir
de quando o parlamentar pode ser punido por falta de decoro. Na
segunda, se o decoro abrange apenas atos praticados no exercício do
mandato, relativos à atividade parlamentar, ou também outros, na vida
política e pessoal.
É de importância salientar que no caso concreto, a análise da
moralidade das condutas legislativas envolvem prudência e compreensão clara e objetiva
do interesse social abordado. Há de se medir a boa-fé e a lealdade como parâmetros
definidores daquilo que é, moral ou imoral.
O cargo de vereador em questão, exige um comportamento digno e
condizente com seu cargo, repelindo qualquer manobra, esquema ou procedimento
indecoroso, que estigmatizem negativamente o Poder Público. Sendo este cargo de um
agente político, o qual está sujeito a cassação da investidura mediante processo
específico.
Na espécie verifica-se entanto.
02- DOS FATOS
Tornou-se conhecido pela população colnizense uma ação judicial que
tramitou perante a Vara do Trabalho de Júnia- itinerante Colniza, onde através da
reclamação trabalhista nº 0000316-70.2018.5.23.0081 o Senhor Ordálio Francisco da
Silva tentava receber do denunciado, vereador, reclamado e possivelmente do réu, Siwal
Santana Soares, onde na referida ação, que ora se junta cópia integral, teve seu trâmite
normal sendo inclusive ouvido em juízo após contestação o réu e o autor para em seguida
o juiz da Vara do Trabalho de Juína, Dr. Ediandro Martins em data de 29 de abril de 2019
sentenciar o feito.
02.1
– DA AÇÃO JUDICIAL
Especificamente analisando o que consta na Ação Judicial acima
mencionada, onde o advogado do denunciado Dr. Robson Medeiros, com procuração
para falar em nome do denunciado, então reclamado, assim se manifesta em sua peça
contestatória:
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“
PRELIMINARES.ILICITUDE DA ATIVIDADE EXERCIDA/ IMPOSSIBILIDADE JURIDICA DO PEDIDO.
O reclamado sendo proprietário de um caminhão e um trator, Associou-se com terceiros para a pratica de extração de madeira, tinham como membros desta associação Sr. Paulo, incumbido de pesquisar e cortar a madeira e ainda auxiliar no carregamento, o arrasto da madeira no mato e carrega-la com levas com o trator, era função de ROMÁRIO, e o RECLAMANTE era transporta-la de forma ctransporta-landestina até a madeireira.
Ficou estipulado pelas partes que cada um cuidaria de uma função previamente estabelecida, uma vez que não existia pagamento de salário e cada membro da equipe desempenhava um papel especifico, ganhando por carga e nunca por mês.
Como se verifica da inicial, O RECLAMENTE ora alguma cita palavra manejo, empresa, notas isto por que todos extraiam madeira de forma clandestina. Conscientes da ilicitude que praticavam, não existia a habitualidade, só trabalhavam quando não existia fiscalização, na região, quando esta chegava, as atividades paravam.
Cada um tinha sua função, desde que cumprissem sua tarefa, poderia buscar auxilio), onerosidade (não existia salario estipulado) ou subordinação (eram responsáveis pela elaboração e execução de tarefas a cada um incumbidas ficando sobre sua responsabilidades e risco sempre na eminencia de serem apanhados e presos.
Este é o fato pelo qual o reclamante em sua inicial optava por uma jornada noturna, para não ser pego pela fiscalização durante o dia.
Não existia um gerente, cartão de ponto, livro de assinatura ou qualquer tipo de ordem direta (subordinação), apenas o serviço que cada um deveria executar.
Obviamente que o trator arrastava a madeira e carregava o caminhão, o operador de motosserras que derrubava as arvores era o mesmo que as aparava, e o caminhão dirigido pelo RECLAMANTE era o que transportava a madeira, para isto ocorrer cada qual era responsável pela máquina, pela manutenção, operação, e obviamente não ser apanhado...” (grifei)
[...]
“A extração de toras de árvores nesse tipo de área sem a aludida permissão é, além de infração administrativa, crime contra a flora, previsto na Lei n. 9.606/1998.
A atividade do autor relacionava- se diretamente com o transporte de madeira frias, sem notas para transporte sem emplaquetamento de toras, ou até mesmo romaneio de madeira.
Vale mencionar ainda que o reclamante tinha conhecimento da ilicitude da atividade na qual trabalhava em favor do demandado, tanto que o mesmo sempre fazia o transporte a noite, onde chegava no período urbano já de madrugada, período que dificulta a fiscalização.
4 [...]
“Se um cidadão qualquer desta Cidade tem o conhecimento dessa ilegalidade, muito mais deve tê-lo quem se dedica economicamente à tarefa como o reclamante.
Logo, se houve algum tipo prestação de serviços pelo reclamante foi em atividade ilícita contribuindo diretamente para a extração irregular de árvores em mata nativa e tendo conhecimento da ilegalidade desta atividade.
A Lei nº 9.605/98 trata em seu capítulo V dos crimes contra o meio ambiente e em sua Seção II, sobre os crimes contra a flora, disciplina:
Art. 46. Receber ou adquirir, para fins comerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licença do vendedor, outorgada pela autoridade competente, e sem munir-se da via que deverá acompanhar o produto até final beneficiamento:
Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, tem em depósito, transporta ou guarda madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença válida para todo o tempo da viagem ou do armazenamento, outorgada pela autoridade competente.
Junta documentos ainda na contestação, um deles causando espanto a
atitude do ora denunciado e réu no processo trabalhista onde verifica-se que houve
inclusive cirurgia de desbridamento de coto necrosado MIE (pé), ou seja, o motorista
contratado, sem condições, com o pé praticamente arrancado, possivelmente em
péssima situação financeira, ser humano e munícipe de Colniza, que deveria estar
recebendo atenção redobrada do réu acusado, foi negado pelo nobre vereador, réu,
denunciado usando de subterfúgio jurídico ante a formação de quadrilha perpetrada pelo
réu para se ver livre de suas obrigações como primeiramente homem de caráter ilibado,
vereador, representante do povo colnizense.
02.2- DO TERMO DE AUDIÊNCIA DO PROCESSO TRABALHISTA
“DEPOIMENTO PESSOAL DO RÉU: “que o caminhão dirigido pelo autor era do réu, embora não estivesse em seu nome; que não tem conhecimento se o caminhão estava com defeito no tanque de combustível; que o combinado é que o réu tinha caminhão e trator para produção, sendo que o autor ganhava por produção; que a fazenda, ao que falaram para o réu, era na fazenda reunidas; que não acompanhou a exploração total; que questionado como ficou sabendo como a madeira era ilegal pelo fato de não haver manejo nem nota fiscal; questionado se o autor poderia sair com
5 o caminhão para qualquer lugar, informou que o depoente trabalha na cidade e que o motorista saía para puxar madeira; novamente questionado se o autor pudesse trabalhar em outros lugares, informou que ficava na consciência do autor para onde iria; que o pagamento da madeira era feita diretamente na serraria; questionado em qual serraria, informou que não sabe informar; que o pagamento era realizado ao motorista; que não sabe informar a serraria; que se o trabalho continuasse o depoente queria sua parte no negócio, independentemente de qual serraria fosse; que o depoente não teve contato com o pessoal da fazenda, nem com o pessoal da serraria; que Paulo é o cortador da madeira; que o pagamento do tratorista era da serraria também; que novamente informar não saber o nome da serraria; que o depoente viu o acidente; que o depoente foi no local ver o maquinário no dia do acidente; que estava no local no momento, até mesmo socorrendo o autor; que prestou auxílio ao autor, em muito mais coisa, além dos recibos que foram juntados; que depositou valores, a pedido do autor, na conta do Sr. Alexandre; que deu dinheiro para a esposa do autor sempre que pediam”.
DEPOIMENTO PESSOAL DO AUTOR: “que o caminhão trabalhado era do réu; que conhece o sr. Paulo o qual era cortador de madeira; que o trabalho era ao lado da Fazenda do réu, sendo executado na Fazenda Reunidas; que as madeiras eram transportadas no período noturno porque ficou sabendo que as madeiras eram ilegais; que sabe que é ilegal por não existir documentação; que ficou sabendo que a madeiras era ilegal e continuo a trabalhar; que após alguns dias se acidentou. Nada mais.””
02.3- DA SENTENÇA DO JUIZ TRABALHISTA
Em data de 29 de abril de 2019 o juiz do Trabalho, Dr. Ediandro Martins sentenciou o feito e ao final reconheceu a ilicitude das atividades desenvolvidas pelo autor e réu na referida ação trabalhista, atendendo o pleito acatando a tese de que o fato não podia ser regulado pela Justiça do Trabalho, ante sua ilicitude, tese essa e confissão essa apresentada pelo próprio réu, ora denunciado, através de seu advogado.
Vejamos agora algumas partes da referida sentença que como dito anteriormente foi juntado ao presente feito em sua integralidade
“Em defesa, de maneira clara e objetiva, o Demandado reconhece os fatos que lhes são imputados, apontando, nada obstante, que associou-se com o Autor e terceiros para a prática de atividades ilícitas, de extração de madeira em área proibida.
Constou da contestação: "O reclamado sendo proprietário de um caminhão e um trator, Associou-se com terceiros para a pratica de extração de madeira, tinham como membros desta associação Sr. Paulo, incumbido de pesquisar e cortar a madeira e ainda auxiliar no carregamento, o arrasto
6 da madeira no mato e carrega-la com levas com o trator , era função de ROMÁRIO, e o RECLAMANTE era transporta-la de forma clandestina ate a madeireira.
Ficou estipulado pelas partes que cada um cuidaria de uma função previamente estabelecida, uma vez que não existia pagamento de salário e cada membro da equipe desempenhava um papel especifico, ganhando por carga e nunca por mês.
Como se verifica da inicial, O RECLAMENTE ora alguma cita palavra manejo, empresa, notas isto por que todos extraiam madeira de forma clandestina.
Conscientes da ilicitude que praticavam, não existia a habitualidade, só trabalhavam quando não existia fiscalização, na região, quando esta chegava, as atividades paravam .
Cada um tinha sua função, desde que cumprissem sua tarefa, poderia buscar auxilio), onerosidade( não existia salario estipulado) ou subordinação( eram responsáveis pela elaboração e execução de tarefas a cada um incumbidas ficando sobre sua responsabilidades e risco sempre na eminencia de serem apanhados e presos." (b8885a0, pp. 2/3, destaquei).” [...]
“Da leitura da exordial, em conjunto com o depoimento pessoal do Reclamante, resta evidente que a parte sabidamente estava executando trabalho ilícito. Com efeito, não apenas o Reclamante estava praticando ilícito ambiental pela derrubada de madeira sem a devida autorização ambiental, como igualmente afirmou que mesmo após isso prosseguiu os trabalho na região”
[...]
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Considerando o médio grau de complexidade da demanda, a despeito do grau de zelo dos profissionais, arbitro os honorários advocatícios em 10% sobre o valor da ação, em favor do patrono do Réu.
EXPEDIÇÃO DE OFÍCIOS
Ante a possibilidade de cometimento, em tese, de crime ambiental, determino a expedição de ofício ao Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal, bem como à Polícia Federal, com cópia integral do processo para que adotem as medidas que entenderem cabíveis.
Considerando a informação obtida em audiência de que o Réu é Vereador na Cidade de Colniza, determino a expedição de Ofício à Câmara Municipal de Vereadores, para que os Vereadores locais adotem as medidas que entenderem cabíveis.
7 ISTO POSTO, na ação trabalhista que ORDALIO FRANCISCO DA SILVA move em face de SIWAL SANTANA SOARES. nos termos da fundamentação, que integram este dispositivo para todos os efeitos, DECIDO:
- Julgar totalmente improcedentes os pedidos.
- Honorários advocatícios em favor do patrono do Réu, em 10% sobre o valor da causa.
- Condenar o Autor em litigância de má-fé em 10% sobre o valor da causa; Indefiroo pedido de justiça gratuita.
Custasprocessuais no importe de 2% sobre o valor da causa, sob responsabilidade do Autor.
Ante a possibilidade de cometimento, em tese, de crime ambiental, determinoa expedição de ofício ao Ministério Público Estadual e Ministério Público Federal, bem como à Polícia Federal, com cópia integral do processo para que adotem as medidas que entenderem cabíveis.
Considerando a informação obtida em audiência de que o Réu é Vereador na Cidade de Colniza, determinoa expedição de Ofício à Câmara Municipal de Vereadores, para que os Vereadores locais adotem as medidas que entenderem cabíveis.
Intimem-se as partes.
EDIANDRO MARTINS - Juiz do Trabalho.”
02.4- DO RECURSO
Não satisfeito com a sentença o Sr. Ordálio Francisco da Silva em data de 10 de maio de 2019 efetuou recurso ordinário ao egrégio Tribunal Regional do Trabalho tendo o referido recurso sido contra razoado pelo advogado Dr. Jabes Ferreira Celestino Barbosa ratificando este o pedido que fosse reconhecido a ilicitude do ato praticado pela associação do reclamante e reclamado, réu, vereador ora denunciado, tendo o mesmo sido atendido no seu pedido de ilicitude do objeto, conforme ementa produzida pela 2º Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 23º Região.
“EMENTA
ATIVIDADE ILÍCITA. CONTRATO NULO. EFEITOS. Ao contrário da teoria civilista, em que a declaração de nulidade contratual tem efeitos ex tunc (retroativos), o Direito do Trabalho tem como regra garantir que a nulidade contratual tenha seus efeitos somente a partir da sua declaração (não retroativos). Casos há, porém, em que essa regra deve ser deixada de lado, tendo em vista o vício que inquinou o contrato - a exemplo dos contratos para a consecução de atividade ilícita -, passando a nulidade a concorrer para o seu desfazimento, com efeitos retroativos, desde a celebração, exatamente o que ocorreu na hipótese, em que o reclamante foi contratado para o transporte ilegal de madeira, constituindo contravenção penal na
8 dicção da Lei n. 4.771/65, que instituiu o Código Florestal. Ficam indeferidos, assim, todos os pedidos perseguidos na exordial, vez que oriundos de contrato nulo baseado em objeto ilícito havido entre as partes.”
Em consulta ao sítio eletrônico do TRT verifica-se que em 13 de setembro de 2019, houve o decurso de prazo para ambas as partes ingressarem com novos recursos tendo então o processo transitado em julgado, faltando apenas a certificação de tal ato, ou seja, todo o crime assumido pelo réu Siwal em sua defesa foi corroborado pelo Tribunal Regional do Trabalho.
03- DOS PEDIDOS
Diante do acima exposto requer:
a) Seja recebida e processada a presente denuncia nos termos determinados no Decreto Lei 201/67 e no Regimento Interno da Câmara Municipal de Colniza/MT;
b) Seja encaminhado cópia ao Ministério Público Estadual e Federal, Polícia Federal para a tomada das medidas aplicáveis a espécie;
c) Seja aceita como prova emprestada todo o contido na Ação Trabalhista nº 0000316-70.2018.5.23.0081, que tramitou perante a Vara do Trabalho de Juína/MT – itinerante Colniza/MT;
d) Finalmente requer seja determinado por Vossa Excelência a leitura desta denúncia m plenário, recebimento e consequentemente a abertura de Comissão Processante visando a cassação do vereador pela mais absoluta quebra de decoro parlamentar;
e) A produção de todas as provas permitidas em direito. Termos em que pede e espera deferimento.
Colniza/MT, 13 de setembro de 2019.
__________________________________ CELSO LEITE GARCIA