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O design da fotografia
Jeremy Webb
O design da fotografia é uma introdução à metodologia do design na
criação de imagens fotográficas. Em uma época em que somos
bombardeados por fotografias por todos os lados, este livro mostra de que
forma o conhecimento dos princípios do design é capaz de agregar valor
e dar um maior nível de profundidade às imagens fotográficas. Levar o
design em conta na hora de produzir uma fotografia não significa trabalhar
com lentidão nem é sinônimo de obstáculo. Muito ao contrário: o
conhecimento dos princípios do design desempenha um papel vital na
criação de imagens duradouras e de qualidade.
A ampla gama de fundamentos relacionados ao design e sua aplicação
fotográfica – entre os quais estão incluídos o uso dos espaços vazios, das
linhas, das formas, das cores, das texturas e da luz – fazem que este livro
seja um guia completo. O primeiro capítulo repassa a teoria do desenho
fotográfico e analisa temas relacionados ao procedimento
(enquadramento, ângulo, ponto de vista). O segundo capítulo enumera
os principais elementos de design que intervêm na captura fotográfica
(forma, luz, cor etc.). O terceiro capítulo, por sua vez, mostra como os
elementos do design são processados, combinados e manipulados de
maneira a criar imagens atrativas e potentes. O quarto capítulo trata da
profundidade e da escala; o quinto, do movimento e do fluxo; o sexto,
da ênfase e da emoção. Por fim, o sétimo e último capítulo explora
como aplicar todos esses conhecimentos teóricos na prática com vistas
a conseguir uma boa estruturação do trabalho fotográfico mediante
o design.
Jeremy Webb mora em Norwich, no Reino Unido, e é fotógrafo e
professor. Tem uma experiência bastante ampla como diretor de oficinas
e docente – tanto no ensino superior como em cursos avançados – e trabalha
como tutor a distância para várias instituições. Dedica-se à fotografia
tanto com filme como com meios digitais e ganhou diversos prêmios
por suas criações com Photoshop. Além disso, é autor do livro Creative
Vision (2005).
www.ggili.com.br
O design da fotografia
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O design da fotografia
Título original: Design Principles. Publicado originalmente por Fairchild Books, uma divisão da Bloomsbury Publishing Plc Desenho gráfico: an Atelier project, www.atelier.ie Tradução: Denis Fracalossi
Preparação e revisão de texto: Solange Monaco Fotografia da capa: Windowlit figure/Jeremy Webb Design da capa: Toni Cabré/Editorial Gustavo Gili, SL
Qualquer forma de reprodução, distribuição, comunicação pública ou transformação desta obra só pode ser realizada com a autorização expressa de seus titulares, salvo exceção prevista pela lei. Caso seja necessário reproduzir algum trecho desta obra, seja por meio de fotocópia, digitalização ou transcrição, entrar em contato com a Editora.
A Editora não se pronuncia, expressa ou implicitamente, a respeito da acuidade das informações contidas neste livro e não assume qualquer responsabilidade legal em caso de erros ou omissões. © da tradução: Denis Fracalossi
© Bloomsbury Publishing Plc, 2010
Esta edição publica-se em acordo com a editora Bloomsbury Publishing, Plc
para a edição em português:
© Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2015 ISBN: 978-85-8452-059-6 (PDF digital) www.ggili.com.br
Editorial Gustavo Gili, SL
Via Laietana 47, 2º, 08003 Barcelona, Espanha. Tel. (+34) 93 322 81 61 Editora G. Gili, Ltda
Av. José Maria de Faria, 470, Sala 103, Lapa de Baixo CEP: 05038-190, São Paulo-SP-Brasil. Tel. (+55) (11) 3611 2443
Título: Dusk [Crepúsculo] Fonte/Fotógrafo: Jeremy Webb
Um design eficiente resulta muitas vezes de uma abordagem que se vale da limitação como força motriz por trás do processo de criação de uma imagem – fazer mais com menos. Quando um ou dois elementos estão separados e destacados, a natureza transformadora da luz é capaz de misturá-los de forma eficaz e dramática.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Webb, Jeremy
O design da fotografia / Jeremy Webb ; tradução Denis Fracalossi. -- 1. ed. -- São Paulo :
Gustavo Gili, 2014.
Título original: Design principles. ISBN 978-85-8452-059-6
1. Design 2. Fotografias 3. Fotografias -Manuais, guias, etc I. Título.
CDD-745.4 14-06621 -770 Índices para catálogo sistemático:
1. Design : Artes 745.4 2. Fotografia 770
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O design da fotografia Teoria básica do design fotográfico 10 O papel do visor na fotografia 12 O uso do espaço 16 Decisões sobre posicionamento 18 Estudo de caso 1 – Pontos de vista 22 As regras e quandoromper com elas 24
Exercício 1 – Cortes 26
Introdução 6
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Forma, iluminação e cor 28
Linha 30
Forma 36
Espaço 40
Textura 46
Estudo de caso 2 – Luz
e tempo 50 Luz 52 Cor 60 Exercício 2 – Limitações do design 68 Repetição, ritmo e contraste 70 Padrão 72 Repetição 76 Interrupção 82 Variedade e unidade 84 Estudo de caso 3 – Profundidade e luz 86 Ritmo 88 Contraste 92 Exercício 3 – Forma e estrutura 96
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Sumário
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Conclusão 174 Glossário 176 Bibliografia e webgrafia 178 Índice 180Agradecimentos e créditos das imagens 182 A ética profissional 185 Profundidade e escala 98 Como contornar as limitações 100 Profundidade real e ilusória 104 Escala e proporção 110 Estudo de caso 4 – Estilo e ambientação 114 A ausência de escala 116 Abstração 118 Exercício 4 – Imagens abstratas 122 Juntando tudo 160 Expressão de vistas e visões 162 Simbolismo como escrita visual 164 Estudo de caso 7 – Fotografia vernacular 166 Estratégias criativas 168 Exercício 7 – Conceitos e ideias 172
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Movimento e fluxo 124 Forças direcionais 126 Estudo de caso 5 – Linhas e formas 128 Contenção 130 Direção de fluxo 134 Exercício 5 – Observação 138 Ênfase e emoção 140 Ponto de interesse 142 Áreas em foco versus áreas fora de foco 146Justaposição 148 Estudo de caso 6 – Justaposição 150 Incongruência 152 Humor e emoção 154 Exercício 6 – Temas 158
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Introdução
A ideia de estudar os fundamentos do design na fotografia pode soar um pouco desencorajadora – algo parecido ao tédio decorrente da necessidade de aprender escalas musicais quando estamos começando a tocar um instrumento. O objetivo deste livro é justamente afastar esse tipo de associação negativa e mostrar como a fotografia sustentada na força dos fundamentos do design é capaz de resistir ao tempo e nos afetar profundamente. Usando uma metáfora simples, podemos dizer que o design desempenha um papel vital na transformação de imagens em atletas capazes de correr longas distâncias, e não simplesmente velocistas.
Nossa resistência contra os fundamentos do design reside, em parte, em nossa abordagem do design em seu sentido mais amplo. Simplesmente nos tornamos imunes ao efeito avassalador do design em nossa vida cotidiana. Do momento em que acordamos e jogamos nosso despertador no chão ao momento em que fechamos os olhos e desligamos o rádior-elógio, nossos dias estão tomados pelo design – presente em móveis bem projetados, em carros, revistas, embalagens, no urbanismo e assim por diante. A maior parte desse design funciona, embora algumas coisas não. Mas o design sempre promete alguma coisa – geralmente a ideia de que se destina a tornar nossa vida um pouco melhor.
É possível dizer que os fundamentos do design tornam também nossa fotografia um pouco melhor. No entanto, quando o dizemos dessa maneira, estamos de certa forma subestimando sua importância para os fotógrafos e amantes da fotografia. Em vez de existirem como um rigoroso conjunto de regras e diretrizes incontestáveis, os fundamentos do design aplicados à fotografia podem atuar como uma espécie de sistema nervoso fluido, flexível e invisível que dá vida às imagens. Alguns grandes fotógrafos têm sabedoria
e discernimento suficientes para trabalhar com fundamentos do design. Porém, nem todos os fotógrafos compartilham desse mesmo talento. Felizmente, trata-se de uma habilidade que pode ser aprendida e desenvolvida para criar imagens memoráveis e duradouras.
A expansão contínua da cultura digital reacendeu o interesse no mundo da fotografia como uma forma de arte de massa, e novos canais de distribuição foram abertos para o envio de bilhões de fotos que giram em todo o mundo em um ritmo estonteante. Mas não é apenas a nova era tecnológica que facilita o volume e a velocidade de distribuição de imagens – nossa mentalidade coletiva e nossa ânsia por velocidade também foram catalisadores dessa reação. O mundo
simplesmente se converteu em um amontoado de fotografias, o que até então nunca havia acontecido.
No entanto, essa fome voraz de fotografia ainda carece de fotos com substância, arte, significado e poderosas intenções – o que se vê é uma vitória esmagadora do medíocre e do mundano. O que faz a fotografia resistir ao tempo? Um fotógrafo, que faz uso do seu senso de design e trabalha com estilo e visão, produz imagens que são mundos à parte daqueles criados quando se tem meramente a velocidade e a conveniência em mente.
Compreender o design não o atrapalhará, não o enganará nem se tornará um obstáculo em seu caminho. Trata-se de uma habilidade disponível para todos, a qualquer instante. E, se não nos dedicarmos a explorar todo o potencial da fotografia, ele ficará latente, quando deveria ser um elemento animado, vivo e impossível de ser ignorado.
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∆ Sumário | IntroduçãoLLLL
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Título: Red sofa and banana [Sofá vermelho e banana] Fonte/Fotógrafo: Jeremy Webb
Ao terem consciência do design, os fotógrafos conseguem enxergar potencial em situações que não são evidentes para os demais. Além disso, o design melhora o resultado de sua fotografia e aumenta sua capacidade de ver o mundo de forma diferente, fazendo-o entender como até mesmo a cena mais simples pode proporcionar uma oportunidade de brincar com os fundamentos do design.
Teoria básica do design fotográfico
O capítulo de abertura examina de perto alguns dos passos mais importantes no processo fotográfico – como enquadrar seu objeto e de que ponto fazer sua foto. Decisões referentes a ângulo, distância e ponto de vista podem afetar profundamente a aparência geral da imagem final, assim como o uso do espaço dentro da fotografia pode dar vida e corpo a seu tema, influenciando como “lemos” as imagens fotográficas.
Forma, iluminação e cor
De modo geral, considera-se que esses elementos sejam compostos por seis características do design das quais os fotógrafos podem se valer ao fazer suas fotos, com vistas a criar imagens criativas. Vamos dar uma olhada em cada um desses elementos separadamente – como se fossem ingredientes prontos para ser misturados no processo de design apresentado no capítulo seguinte – e avaliar como usá-los na composição de nossas fotos.
Repetição, ritmo e contraste
Após termos olhado para os ingredientes ou elementos de design no capítulo anterior, esta importante parte do livro mostra como os elementos do design podem ser processados, combinados e manipulados para criar imagens fortes, que tenham o design em seu cerne. Profundidade e escala
Todas as fotografias são bidimensionais, mas isso não precisa nem deve limitar nosso pensamento ou nossa intuição. O uso de fundamentos do design pode criar uma ilusão de profundidade, o que é capaz de influenciar como nos envolvemos com a imagem. Veremos como a proporção e a escala podem confundir e encantar os olhos, e como a arte do abstrato
é derivada de uma consciência de fundamentos simples, mas essenciais do design.
Movimento e fluxo
Quando uma fotografia parece muito estática ou flácida, geralmente é porque a imagem não contém nenhum sentido real de movimento. Movimento significa vida. A sensação de movimento pode dar vida a uma fotografia, com forças direcionais que exigem um envolvimento ativo com a imagem, em vez de uma mera aceitação passiva. Esse aspecto pode ser facilmente trabalhado usando-se o design dinâmico.
Ênfase e emoção
Geralmente, uma fotografia bem-sucedida depende da capacidade do fotógrafo de construir sua imagem de forma que seu público responda ao mesmo ponto de interesse (POI) ou sinta a resposta emocional pretendida por ele. Este capítulo analisa como o uso da cor, do foco e de diferentes possibilidades técnicas da composição podem influenciar sutil ou profundamente nossas emoções.
Juntando tudo
Qual é a utilidade de todos esses conceitos se eles continuarem sendo apenas um conhecimento teórico? Aplicar os fundamentos do design em seu trabalho faz você ficar no comando de suas imagens. Este capítulo cobre vários assuntos: aqui olhamos para o simbolismo, a apresentação e relacionamos uma série de ideias que o ajudarão a manter o design no centro do seu trabalho.
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Título: Trolleys [Carrinhos] Fonte/Fotógrafo: Jeremy Webb
Um toque diferente é dado à corriqueira visão de carrinhos de supermercado quando estes são fotografados através de uma janela de carro molhada pela chuva. Os azuis e os vermelhos vivos das correntes ficam mais suaves e desbotados, como se fossem uma pintura com aquarela sobre papel, proporcionando uma imagem do cotidiano mais suave e menos nítida.
Aplicar os fundamentos
do design em seu trabalho
faz você ficar no comando
de suas imagens.
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1
Teoria básica do
design fotográfico
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10—11
Explicando da maneira mais básica possível, o design aplicado à fotografia nada mais é do que o arranjo habilidoso de informações pictóricas dentro de um quadro. Os fotógrafos podem incluir ou excluir informações, enfatizar ou diminuir áreas de conteúdo, e ajustar a posição dessas áreas por meio de pequenos ajustes nas angulações, se necessário, a fim de capturar a imagem que desejam.
O design e a composição são como dois lados de uma mesma moeda – o design representando o processo; a composição, o resultado. Reconhecer o papel que o design executa em sua fotografia e responder a esse papel são ações que permitem criar imagens que poderão ser “lidas” e compreendidas pelo espectador. No entanto, é essencial que a conquista desse conhecimento não destrua, sob hipótese alguma, a magia da fotografia nem enfraqueça seu poder.
Muitos fotógrafos concordam que não existe uma fórmula única ou um caminho mais fácil para produzir boas fotografias. A justificativa para que uma boa fotografia seja
considerada boa pode ser evidenciada na intenção e na composição dessa foto. É necessário que façamos malabarismo com um conjunto de variáveis do design e sejamos capazes de ver o que existe, e não o que esperamos ou supomos que exista. Quando temos a possibilidade de abordar um tema com uma visão pura e uma curiosidade pueril, devemos aproveitar a chance para capturar a imagem com a singularidade de nosso próprio olhar e toda a eficiência que ela requer.
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Título: Gallery [Galeria] Fonte/Fotógrafa: Hannah Starkey
Dentro desta imagem lindamente construída, tão apoiada em linhas retas e blocos de diferentes tonalidades, apenas o copo de plástico e a cadeira de plástico se destacam como elementos isolados dentro do estudo angular e bastante gráfico do espaço.
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O visor de uma câmera fotográfica cria o limite exato entre o que será e o que não será capturado. Diferentemente do que acontece na pintura, em que a imagem tem início em uma superfície em branco, a fotografia pode ser encarada como uma “busca redutiva”. Ele começa enxergando tudo e, desse tudo, com o auxílio das bordas do visor, extrai um pequeno aspecto que, consciente ou inconscientemente, ao excluir elementos específicos, dará origem a algo.
A palavra “redutiva” aqui não é empregada com uma conotação negativa – ela pretende apenas destacar a essência da captura da imagem fotográfica na forma como é normalmente praticada.
O visor é a principal ferramenta de composição conhecida pelos fotógrafos. No entanto, seu poder de influenciar nossa relação com as imagens é muitas vezes relegado a segundo plano, uma vez que, ao nos preocuparmos mais com o tema e a centralidade, deixamos de enquadrar as cenas de forma criativa ou inovadora.
Depois da nossa imaginação e de nossas expectativas criativas, é no visor que
encontramos pela primeira vez o processo de design em sua forma mais crua. A forma como o visor emoldura o tema que temos em mente está baseada em uma série de decisões a ser tomadas pelo fotógrafo. Os pontos mais críticos dessas decisões são a altura, o ângulo e a distância em relação ao tema a ser fotografado.
As bordas do visor
Usar a capacidade plena do visor de uma câmera permite que o fotógrafo leve em consideração 100% do espaço disponível de uma imagem, até as bordas do visor. Como uma escolha intencional, usar a borda do visor para desmembrar visualmente um tema ou deixar algo de fora da imagem tem consequências positivas e negativas. Não há como escapar do fato de que uma imagem tem obrigatoriamente algum tipo de limitação, mas isso não significa que temos de adotar uma atitude passiva frente a suas inevitáveis restrições. Devemos olhar para as
oportunidades de usá-las de maneira criativa. Alguns fotógrafos estão bem conscientes do poder que as bordas do visor possuem. As imagens desses fotógrafos brincam de forma criativa com o que foi incluído ou excluído da fotografia.
Ao usarem o visor de forma consciente e eficaz, os fotógrafos podem criar imagens fortes e convincentes que emolduram o mundo de maneiras incomuns. Além disso, eles permitem que o espectador entre em contato com um assunto conhecido por meio de uma nova perspectiva, simplesmente ao enfatizar e reconfigurar os vários elementos de design em arranjos inovadores e de grande apelo visual.
Ao usarem o visor de forma
consciente e eficaz, os fotógrafos
podem criar imagens fortes e
convincentes que emolduram
o mundo de maneiras incomuns.
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Título: Frosty bird hide [Pele de um pássaro congelado] Fonte/Fotógrafo:
Jeremy Webb
Nesta imagem, o visor da câmera foi usado para enquadrar uma parte da cena completa em uma composição harmoniosa e equilibrada, que mistura as formas, as texturas e os tons presentes dentro dos limites do visor.
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Título: Snow wave [Onda de neve] Fonte/Fotógrafo: Jeremy Webb
Às vezes, a natureza faz que as formas mais simples estejam bem à nossa frente. Usando seu senso de distância, proximidade e ponto de vista, você pode fazer que o enquadramento ignore tudo aquilo que é desnecessário em um exercício de simplicidade.
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O papel do visor na fotografia
O enquadramento: verdades inteiras e meias verdades
A fotografia jamais poderá apresentar a verdade por completo, mas ela pode moldar a história pelo fato de estar relacionada à verdade. Alguns eventos mundiais, por exemplo, tiveram início, foram registrados e, por vezes, sofreram reviravoltas por influência da fotografia no jornalismo. Um famoso anúncio de TV criado na década de 1980 mostrava um skinhead que andava por uma rua e logo saía correndo em direção a uma velhinha. A mensagem era clara: tratava-se de um indivíduo perigoso e ameaçador em vias de assaltar ou violentar uma vítima indefesa, em plena luz do dia. Mais adiante, porém, o filme revela que o homem que corre em direção à senhora pretende, na verdade, salvá-la de alguns andaimes que estão prestes a cair sobre ela. A filmagem cuidadosamente controlada e o enquadramento das cenas mexem com nossos preconceitos e, a princípio, contam apenas parte da história. Depois de uma pausa dramática, revelam-se todos os fatos da situação e a verdade completa é apresentada. O anúncio mostra que um enquadramento pode capturar apenas parte da cena, a fim de criar um significado previamente planejado; mas, quando se adota uma visão alternativa, outro significado vem à tona. Apesar da possibilidade de uma situação conter vários significados e pontos de vista, é o fotógrafo quem seleciona qual interpretação de uma cena será capturada para uma futura edição ou apresentação. Ao lado desse poder, surge a responsabilidade de lidar eticamente com assuntos e situações potencialmente controversos e, em um nível mais artístico, de usar o visor da câmera (e as composições obtidas através dele) para encontrar o que há de mais criativo no tema que se apresenta diante de nós.
Inclusão versus exclusão
Decidir o que você deve ou não incluir em seu quadro não é uma questão apenas de dilemas morais, mas também de saber se o que você está incluindo (ou excluindo) é favorável à sua imagem e/ou se diminui sua força. O ideal é que você enquadre em seu visor apenas a essência e o detalhe necessários para comunicar a sua visão da forma mais forte possível. Os fotógrafos mais experientes conseguem chegar ao cerne de seu tema de uma forma capaz de deixar amadores com inveja. Mas isso acontece porque esses fotógrafos desenvolveram uma habilidade intuitiva de se aproximar de seus temas ou de usar seu senso de design (no sentido de organizar os elementos dentro do visor) de forma a excluir cuidadosamente detalhes indesejados ou enfatizar certos elementos em detrimento de outros. A inclusão de detalhes desnecessários poderá desviar a atenção do observador ou fazer que ele se sinta incomodado com o grande número de possíveis interpretações e respostas que podem surgir a partir de uma imagem confusa ou desordenada.
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Título: Miss Appleton’s shoes II [Os sapatos de Miss Appleton II], 1976
Fonte/Fotógrafa: Olivia Parker
Olivia Parker cria belas composições em suas fotos still. Nesta imagem, a cena é emoldurada por uma borda preta, criada pelas extremidades de um filme revelado, que também faz referência à natureza fotográfica de suas imagens.
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Ike Turner disse certa vez:
“São os espaços entre as notas que são importantes.”
O espaço é tão importante como a substância – o espaço é a substância, no que se refere ao design. No design, o espaço pode ser usado para isolar ou enfatizar alguma coisa, para proporcionar contraste contra algo, para mostrar a escala e o contexto de um tema e assim por diante. Sua presença é tão visível dentro de uma imagem como qualquer tema tangível que possa surgir a partir dele.
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Consciência do espaço Ter consciência do espaço é um fundamento do design que lhe permite destacar um assunto ou criar uma separação mais forte entre seu tema e o ambiente ou o fundo em que ele está inserido.
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∆ O papel do visor na fotografia | O uso do espaço | Decisões sobre posicionamento ◊
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Título: Mask [Máscara] Fonte/Fotógrafo: Oleg Dersky
O uso criativo de espaços negativos e positivos permite que os fotógrafos brinquem com nossa percepção do que parece estar vindo para a frente e o que parece estar indo para trás. O trabalho de construção existente por trás da imagem de Oleg Dersky só é revelado quando olhamos além da apresentação da superfície da imagem.
Positivo e negativo
Para serem produzidas, muitas ilusões ópticas simples dependem da percepção espacial que os olhos têm. O espaço pode definir onde se encontra um objeto em relação aos outros, permitindo, dessa forma, que tenhamos uma ideia da cena ou da situação. Muitas ilusões exploram nosso hábito de supor que as áreas de tonalidade escura ou preta representam um tema, enquanto as áreas claras ou brancas equivalem à ausência de um tema – o vazio ou o espaço. A fotografia pode, também, brincar com esses pressupostos. Afinal de contas, nossos olhos partem do princípio de que a fotografia é uma imagem bidimensional plana e a aceitam como uma cópia do mundo tridimensional quase sem se questionar. Ao usarmos o espaço como uma ferramenta de design, podemos trabalhar com a profundidade, e isso nos permite chegar a um pouco mais perto de fechar a lacuna existente entre as frustrações de representação bidimensional e a experiência tridimensional da vida real. Essa lacuna é bastante grande, mas pelo menos estamos indo na direção correta. A profundidade, em termos de fotografia, nos permite enxergar além das limitações convencionais de imagens bidimensionais e cria uma versão indireta da realidade que experimentamos.
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Título: Burger café [Lanchonete] Fonte/Fotógrafo:
Jeremy Webb
Ao posicionarmos a lanchonete na metade inferior do visor, as formas verticais da cena ganham mais espaço para cruzar a imagem. O destaque dado ao céu inexpressivo que circunda o tema faz que o fundo branco e nebuloso também pareça bastante opressivo nesta imagem de inverno feita durante uma caminhada.
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A distância existente entre você e seu tema é fundamental para o design de uma imagem. Já vimos como as extremidades do quadro podem ser usadas de forma criativa para provocar o espectador e conferir um aspecto audacioso e inovador para os temas mais corriqueiros possíveis.
O poder de comunicação de uma imagem pode mudar drasticamente com um pequeno ajuste de posicionamento, distância ou ângulo. Diferentes posicionamentos têm o poder de manipular nossos sentimentos em um nível altamente inconsciente. Um político fotografado de cima, por exemplo, pode aparecer diminuído ou menosprezado; seu tamanho fica literal e metaforicamente reduzido, fazendo-o parecer vulnerável ou infantil. O mesmo político, quando fotografado de uma posição abaixo do nível dos olhos, pode ganhar um aspecto de elevada importância, como se estivéssemos olhando para uma estátua.
Você precisa adaptar seu ponto de vista de forma a incorporar todas as informações relevantes que você deseja para sua imagem. Isso pode exigir que você chegue mais perto de seu tema, a fim de atribuir a ele um tratamento corajoso, cheio de impacto e autoridade, ou pode exigir que você se afaste dele, permitindo, dessa forma, que outros detalhes e informações apareçam no quadro e intriguem o espectador. Boa parte dos maiores fotógrafos chega a uma cena e, sem pensar, de forma rápida e silenciosa, avalia a situação a partir de muitos pontos de vista, intuitivamente. Essa abordagem é o resultado de um jeito aprimorado e já internalizado de trabalhar que tais fotógrafos adquiriram por meio de sua visão pessoal e experiência. A escolha do local de onde você fará sua imagem deve ser feita de acordo com sua vontade de criar uma composição forte e absorvente, e não uma tentativa qualquer de meramente aplicar um estilo artístico sobre um tema que precisa de um pouco de “tempero”.
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O poder de comunicação
de uma imagem pode
mudar drasticamente
com um pequeno ajuste
de posicionamento,
distância ou ângulo.
Decisões sobre posicionamento
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Título: Old tulip [Tulipa velha] Fonte/Fotógrafo:
Jeremy Webb
Adotar uma distância adequada e colocar seu tema contra um fundo simples, liso, permite que suas imagens fiquem livres de fundos que distraem a atenção dos espectadores de forma não intencional.
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Decisões sobre posicionamento
A distância do tema
A distância percebida entre você e seu tema é geralmente determinada por dois fatores principais: a distância física entre o fotógrafo e o tema; e a lente da câmera. As lentes telefoto (ou teleobjetivas) podem aproximá-lo de um assunto sem que você precise caminhar fisicamente até ele. No entanto, essas lentes podem também distorcer as relações espaciais entre os objetos – por exemplo, elas fazem que figuras em uma paisagem pareçam estar mais próximas do que elas realmente estão. Podemos aumentar o envolvimento
emocional do espectador com uma imagem simplesmente ao nos aproximarmos de um tema para enquadrá-lo de tal forma que ele seja enfatizado e fortalecido por seu isolamento contra um fundo simples, ou adquira um posicionamento simpático dentro do quadro. A distância que você adota em relação a seu tema deve possibilitar que, dentro do quadro, estejam contidas informações significativas suficientes para comunicar com precisão sua intenção. As informações de caráter supérfluo, que desvirtuam o objetivo principal por trás da construção de sua imagem, devem ser excluídas.
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Título: The pioneer trumpeter [O trompetista pioneiro], 1930 Fonte/Fotógrafo:
Aleksandr Mikhajlovich Rodchenko Esta é uma imagem icônica que para muitos americanos anunciou o início de uma nova era no modernismo pictórico. Ela é um dos primeiros exemplos de uma abordagem mais radical para a fotografia exemplificado por uma imagem corajosa e pouco convencional.