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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA. Mestrado de Psicanálise Saúde Sociedade COMIDA: OBJETO DA PULSÃO POR: ADRIANA RIBEIRO MACEDO VARGAS

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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

Mestrado de Psicanálise Saúde Sociedade

COMIDA: OBJETO DA PULSÃO

POR: ADRIANA RIBEIRO MACEDO VARGAS

Orientadora: Profa Dra Maria Anita Carneiro Ribeiro

Rio de Janeiro

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1. COMIDA: OBJETO DA PULSÃO

“Sugar ao seio materno é o ponto de partida de toda vida sexual, o protótipo inigualável de toda satisfação sexual ulterior, ao qual a fantasia retorna muitíssimas vezes, em épocas de necessidade” (Freud, 1917 [1916-17], p.367). Ainda em relação ao seio, Freud afirma que “para a criança, a amamentação no seio materno torna-se modelar para todos os relacionamentos amorosos. O encontro do objeto é, na verdade, um reencontro” (Freud, 1905, p.210). As escolhas amorosas futuras estão apoiadas nos modelos infantis primitivos como tentativa de recuperar a felicidade perdida, movimento de reinvestimento no traço deixado pela primeira experiência de satisfação. As diversas organizações sexuais geram um prazer parcial e local, assim denominado por não haver ainda a unificação das pulsões para a obtenção do prazer genital. Quando esse prazer é intenso, há o risco de que algo que seria um meio de se obter prazer de excitação se transforme no alvo em si. Para que isso aconteça, é necessário que já durante a infância tenha ocorrido uma obtenção de prazer incomum. Nesses anos anteriores à organização genital, a escolha de objeto toma a direção do primeiro objeto do prazer oral, ou seja, o seio e, conseqüentemente, a mãe. “A mãe é o primeiro objeto de amor” (Freud, 1917 [1916-17]b, p.385).

No Projeto para uma psicologia científica (1895), o objeto primordial perdido, o seio, é apresentado como a primeira estruturação da realidade psíquica e, portanto, a condição para a aquisição da linguagem e do pensamento. Nos Três Ensaios sobre a sexualidade (1905), como já abordado, a organização pré-genital canibalesca seria um protótipo para a identificação. Em Psicologia dos grupos e análise do ego (1921), a identificação seria derivada da fase oral da organização libidinal, em que o objeto amado e apreciado é comido e suprimido em uma “afeição devoradora”. Assim, os primeiros caminhos do pensamento estariam relacionado ao objeto oral, o que leva Haddad (2004) a formular que “(...) pensamos com a boca, com os dentes” (p. 46), considerando que a oralidade estabelece a oposição bom/ruim e os limites interior/exterior.

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O autor Lemoine-Luccioni (1995) nos mostra como, para além da alimentação, o ato de comer é pleno em significados e nos remete diretamente às relações constitutivas do sujeito. Destaco o termo “relação” pois mesmo não se tratando de “objetos totais” e de relação de objeto propriamente dita, há um outro sempre presente: “... o homem não gosta de comer só, porque come sempre por alguém (ou contra alguém)”. Ele destaca ainda que não só uma pulsão é sempre parcial, como sempre extravasa por sobre outras pulsões, e dá como exemplo a situação de um homem e uma mulher que, quando já não podem fazer amor, se põem a comer. “A perversão se define precisamente como uma pulsão desviada de sua meta. A perversão do gosto é muito conhecida. (...) É como se houvesse uma lei que estabelecesse que cada prazer transgride sua própria zona erógena, sua própria zona sensível, sem que se possa falar em perversão. Ora, a perversão poderia ser explicada por essa lei. Trata-se, então, de que cada pulsão e cada prazer deve escapar do paradigma para evitar a saciedade e, ao sair de sua especificidade graças à transgressão, salvaguardar este prazer. A perversão seria então natural ao homem”.

No enfoque psicanalítico, a obesidade é investigada em sua relação com uma rede conceitual na qual as definições de pulsão, função materna e corpo representado ocupam papel central, não se restringindo, portanto, à ocorrência de um corpo obeso concreto definido segundo os padrões de objetividade do modelo clínico.

A satisfação mais primitiva, apesar de ser auto-erótica, tem como objeto o seio. Isso ocorre porque a criança não consegue diferenciar o seio como sendo dela ou do outro. A perda do seio é efetivada com a representação da imagem daquele que vem satisfazer a criança, ele é perdido a partir da separação entre o sujeito e o outro. A perda desse objeto que satisfaz é fundamental para que outras zonas e outros objetos sejam investidos, deixando marcas que vão aparecer na relação do sujeito com o outro através dos processos de identificação, ambivalência e diferenciação. A partir daí, poderíamos falar que, desde o início, é o seio, associado com a alimentação, que traz a primeira marca de separação entre o sujeito e o Outro e que, em um momento posterior, a cada ativação dessa marca entre em jogo um movimento de separação em torno do alimento.

Ao nascer, além da perda da sensação de plenitude, o bebê passa a sofrer demandas impostas pela realidade: fome, sede, etc. A fome é saciada quando o bebê recebe da mãe o leite. Nesse momento, o “receber o leite” torna-se uma experiência de satisfação, sendo o oposto uma

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experiência de não satisfação, composta pela privação, frustração e pela falta, sendo esta última sem solução devendo ser assimilada pelo analisando. Já a satisfação apresenta dois momentos: A necessidade (considerada mau), e a Completude (considerada bom). Voltar para a plenitude e perfeição é impossível. Perder essa ilusão é um luto narcísico. No entanto, o objeto bom vai apontar em direção a esse objetivo, dando-lhe esperança. Logo, o objeto bom é a memória do meu narcisismo.

No ponto de vista da educação nutricional, a mãe seria a primeira pessoa responsável a ensinar ao bebê a conviver com esses momentos da falta, sabendo que o ato de se alimentar não poderia ocupar o vazio nem aplacar a angústia que permeia o ser humano, e que tomando essa via da educação, um rico sentido a alimentação aparecia, o terapêutico, relaxador, e socializante.

A partir do conceito de pulsão, Freud definiu como Pulsão de vida esta carga energética que visa conduzir o ser para seu estado de plenitude. A pulsão de vida aponta para o “outro”; Nela podemos incluir o amor, o sexo, etc. O ser humano tende a retornar para essa plenitude “uterina”, vivendo ilusoriamente na busca desse prazer inalcançável. No início, o bebê acha que sua mãe pode fazê-lo alcançar essa plenitude. Posteriormente, percebe que essa meta é impossível. Passa então a crer que sua mãe possui algo que possibilitará seu retorno para esse estado (falo). Porém, o retorno para este estádio é impossível. Lacan o denominou de “falta”, Winnicott (1978) de “estado transicional”, e Freud de “miséria do mundo”. Contrapondo-se às pulsões de vida estão às pulsões de morte, que fazem o movimento contrário da pulsão de vida, arrancando o bebê da “falta” e lançando-o novamente para uma dura realidade, que será negada para que novamente possa ser implantada uma condição ilusória de perfeição.

Em relação ao objeto da pulsão, Freud (1915/1974), faz as seguintes observações: “Objeto de uma pulsão é a coisa em relação à qual ou através da qual uma pulsão é capaz de atingir sua finalidade” (p. 14).

“O objeto é o que há de mais variável numa pulsão e originalmente não está ligado a ela só lhe sendo destinada por ser peculiarmente adequado a tornar possível a satisfação”(p.14).

“Pode ser modificado quantas vezes for necessário no decorrer das vicissitudes que a pulsão sofre durante sua existência, sendo que esse deslocamento da pulsão desempenha papéis altamente importantes” (p.14).

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“Sua origem em fontes de estimulação dentro do organismo e seu aparecimento como uma força constante” (FREUD, 1915/1976, p.14). Neste texto Freud faz uma observação importante sobre os destinos da pulsão: “Tendo em mente a existência de forças motoras que impedem que uma pulsão seja levada até ao fim de forma não modificada, também podemos considerar essas vicissitudes (os destinos da pulsão) como modalidades de defesa contra as pulsões” (p. 14).

1.1. Comida: Gozo

Em um episódio de compulsão alimentar há uma questão referente à quantidade de comida, da ordem do excesso, em que o eu não é senhor desse acontecimento. Esse excesso que se evidencia pela desmedida alimentar, que acontece em um pequeno intervalo de tempo, que é vivido solitariamente, em um fechamento em si mesmo como em um transe hipnótico, é o que me faz perguntar sobre a relação da compulsão alimentar com o conceito de gozo em psicanálise. Segundo Dunker(2002):

O gozo se caracteriza por uma intensidade excessiva (além da satisfação), duração repetitiva, estando a meio caminho entre uma grandeza positiva (prazer) e negativa (dor). Ele não serve para nada, ele não é um meio para alcançar um fim, como o prazer que procura a extinção da tensão. (DUNKER, 2002, p.72).

O consumo repetitivo e compulsivo do alimento demonstra a tentativa de saciar nem que seja de forma momentânea a fantasia do perfeito e de aliviar a carga da vida, buscando-se um lugar idealizado que é um ponto de fixação oral.

Entretanto, segundo Quinet, (2003) se para a necessidade há o alimento para a demanda aí implícita, por mais que a comida adquira sinal de amor, não há o que vá saciar. O sujeito pode comer o quanto quiser, compulsivamente, mas não há objeto para a pulsão, o desejo é falta radical, constitutiva. É o que parece estar completamente eclipsado para o obeso mórbido, pois ele sabe e nos diz isso. Ele não come compulsivamente para saciar a fome, não é também pelo fato de a comida estar irresistivelmente apetitosa, mesmo porque não há uma coerência nas escolhas e nem uma lembrança dos fatos. Ele não percebe que a comida jamais saciará o desejo

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que anima sua demanda de mais um prato; é um desejo articulado a partir de sua falta, onde nenhum objeto satisfaz.

Uma paciente em atendimento nutricional numa explicação livre sobre seus conflitos relatou-me que todos os dias após o almoço iniciam um processo de euforia alimentar, e come de maneira aleatória tudo que está em sua geladeira, mistura sabores, sem determinar quantidades, e quando dá a hora do esposo chegar em casa, só assim se acalmava e não comia mais, ela não conseguia se lembrar quais os alimentos deste período. Ele relembra que era de maneira voraz e rápida.

Neste caso distingue-se, usualmente, a necessidade da alimentação do prazer obtido com ela; a necessidade está ligada à ingestão de alimentos, e o prazer às sensações supostamente originadas nas papilas gustativas, que funcionariam assim como “zonas erógenas”. Pretende-se compreender a compulsão alimentar, principalmente no que se refere as questões subjetivas que envolvem o ato de comer. Busca-se pensar a obesidade não somente como uma doença de etiologia genética, orgânica, mas como um problema de raízes sociais e principalmente psíquica age entre diferentes culturas. É necessário pensar na formação desses sintomas, os impulsos, a finalidade das pulsões, a dificuldade para lidar com a frustração e com o limite nas sensações de prazer e alivio imediato. Para as dores e as decepções com as quais um sujeito se depara na vida, tenta-se encontrar diferentes tipos de sedativos: as diversões intensas que permitem considerar as misérias como insignificantes; as satisfações substitutivas que permitem diminuir a pena, incluindo também o sintoma; os narcóticos que permitem certas insensibilidades. Desta maneira, a toxicomania retorna, como nos diz Freud, como uma das respostas ao mal estar da cultura. Em alguns casos comer é chegar ao ponto de prazer e satisfação, ocupando o lugar de uma angústia na tentativa de se chegar a um encontro com o objeto desde sempre perdido.

Existem substâncias estranhas no corpo cuja presença no sangue e nos tecidos nos trás sensações diretamente prazerosas, por sua vez alteram de tal modo as condições de nossas vidas sensitivas que nos fazem incapazes de receber emoções de desprazer. (FREUD, 1930, p.78).

Na alimentação ocorre a mesma sensação. Começa com uma satisfação que inevitavelmente passa a tomar espaço e nos momentos em que o sujeito necessita de mais energia para aliviar alguma tensão do dia-a-dia, o alimento preenche o vazio. Contar com a assistência da sublimação das pulsões e com a reorientação dos objetivos da mesma, de maneira que iludam a frustração do mundo externo, em geral não é aplicável, pois poucas pessoas

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conseguem acessar estes mecanismos. O método não proporciona uma proteção completa contra o sofrimento, não cria uma armadura impenetrável contra as investidas das escolhas e habitualmente falha quando a fonte do sofrimento é o próprio corpo do sujeito.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DUNKER, C.I.L.; KYRILLOS NETO, Fuad - Escuta e Desejo: Fragmentos de um Caso Clínico. Pulsional Revista de Psicanálise, v. XV, n. 155, p. 46-54, 2002.

E. Lemoine-Luccioni, ?Las Mujeres Tienen Alma?, Barcelona, Biblioteca de Psicoanálisis Editorial Argonauta, 1990, p. 24-25.

E. Lemoine-Luccioni, op. cit., p. 26.

E. Lemoine-Luccioni, op. cit., p. 23-24.

FREUD, S. (1905/2006). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago.

FREUD, S.Luto e Melancolia. ESB,vol.XIV. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990(1917[1915]).

FREUD, S.Projeto Para uma Psicologia Científica. ESB, vol.I. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990(1895).

FREUD, S. O Mal-estar na Civilização . ESB, Vol.XXI . Rio de Janeiro: Imago Ed., 1990(1930[1929].

FREUD, S.Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade. ESB, vol.VII. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990(1905). FREUD, S. Fragmento da Análise de um Caso de Histeria. ESB, vol. VII.

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QUINET, Antonio. A descoberta do inconsciente: Do desejo ao sintoma. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

HADDAD, Gerard. "O dia em que Lacan me adotou". São Paulo: Companhia de Freud, 2004.

Waterland R.A., Garza C. Potential mechanisms of metabolic imprinting that lead to chronic disease. Am J Clin Nutri. 1999; 69: 179-97

Winnicott, D. W. (1978). Objetos transicionais e fenômenos transicionais. Em D. W.

Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (2ª ed.pp. 389-408). Rio de Janeiro: Francisco Alves(Original publicado em 1951).

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