Medicamentos Potencialmente Perigosos
IntroduçãoErros de medicação
Medicamentos potencialmente perigosos
Estratégias para prevenção de erros de medicação Atuação colaborativa do farmacêutico
Introdução
Medicamentos potencialmente perigosos (MPP) são aqueles que possuem um elevado risco de
causar dano significativo ao paciente quando existe falha no processo de utilização.
Embora os erros no processo de uso do medicamento possam ou não acontecer,
quando
ocorrem com os MPP, as consequências serão devastadoras para os pacientes, como lesões
permanentes ou até a morte. Exemplos de MPP são os opioides, soluções eletrolíticas parenterais,
insulina, quimioterápicos e anticoagulantes; e os principais agravos à saúde produzidos pelos MPP são
hipotensão, hipoglicemia, sangramento, delírio, letargia e bradicardia.
Os erros de medicação (EM) são frequentes e geralmente causam problemas de saúde
evitáveis; são a oitava causa de morte nos EUA, com mais de 98.000 mortes anualmente. Os EM
contribuem muito ao aumento dos riscos da farmacoterapia e da prevalência de eventos adversos aos
medicamentos utilizados.
Revisão sistemática sobre relatos de EM que causaram reação adversa grave em pacientes
revelou que 47% de todos os EM graves foram causados por quatro medicamentos (metotrexato,
varfarina, digoxina e ácido acetil salicílico) e por três classes medicamentosas (antinflamatórios não
esteroidais, opioides e betabloqueadores). Os pesquisadores concluíram que o foco crescente nesses
medicamentos e classes pode reduzir potencialmente as hospitalizações, hospitalizações prolongadas,
incapacidade, condições de risco de vida e morte em quase 50%
.
Estudo caso-controle sobre 4.321 relatos de erros de medicamentos em três hospitais entre
2009 e 2010 verificou que 4% contribuíram a algum dano ao paciente. Dentre as conclusões do estudo,
cita-se que os sistemas de saúde devem desenvolver programas para promover o uso seguro e
consciencioso de medicamentos potencialmente perigosos
2.
Classificar estes medicamentos ajuda os profissionais preocupados com a segurança do
paciente em dirigir sua atenção para os riscos a eles associados e criar medidas a serem tomadas para
prevenir danos. Estas medidas são importantíssimas para hospitais, unidades de saúde ou
estabelecimentos de prestação de serviços de saúde, como farmácias públicas e privadas.
Contudo, é vital que os pacientes e seus cuidadores também estejam envolvidos no
desenvolvimento destes mecanismos e sejam empoderados sobre os benefícios, riscos e cuidados
relacionados a sua farmacoterapia.
Revisão sistemática que revisou a efetividade dos serviços clínicos realizados pelo farmacêutico
prestados em serviços de saúde de clínica geral de cuidados primários, concluiu que farmacêuticos
atuando nesses estabelecimentos forneceram uma série de intervenções, com resultados favoráveis
em várias áreas do manejo de doenças crônicas e uso de medicamentos com qualidade
3.
O relatório Safe Practices for Better Healthcare -2010 Update do NQF (National Quality Forum)
4recomenda “identificar os medicamentos potencialmente perigosos, e estabelecer normas e processos
para minimizar os riscos associados com a utilização destes medicamentos”.
1
Saedder, E.A., Brock, B., Nielsen, L.P. et al. Eur J Clin Pharmacol (2014) 70: 637. https://doi.org/10.1007/s00228-014-1668-z. In: CRF/RS. Comissão Assessora de Farmácia clínica. Guia de dispensação de medicamentos potencialmente perigosos (via oral). Agosto, 2017.
2
Beckett, R. D., Sheehan, A. H., & Reddan, J. G. (2012). Factors Associated with Reported Preventable Adverse Drug Events: A Retrospective, Case-Control Study. Annals of Pharmacotherapy, 46(5), 634–641.
https://doi.org/10.1345/aph.1Q785In: CRF/RS. Comissão Assessora de Farmácia clínica. Guia de dispensação de medicamentos potencialmente perigosos (via oral). Agosto, 2017.
3
Edwin C.K. Tan, Kay Stewart, Rohan A. Elliott, Johnson George. Pharmacist services provided in general practice clinics: A systematic review and meta-analysis, Research in Social and Administrative Pharmacy. Volume 10, Issue 4, 2014, Pages 608-622, ISSN 1551-7411, https://doi.org/10.1016/j.sapharm.2013.08.006. In: CRF/RS. Comissão Assessora de Farmácia clínica. Guia de dispensação de medicamentos potencialmente perigosos (via oral). Agosto, 2017.
4
National Quality Forum (NQF). Safe Practices for Better Healthcare–2010 Update: A Consensus Report. Washington, DC: NQF; 2010. Disponível em https://bit.ly/2Y9D1oA.
Erros de medicação
Erro de medicação é qualquer evento evitável que, de fato ou potencialmente, pode levar ao
uso inadequado de medicamento. Isso implica que o uso inadequado pode ou não lesar o paciente, e
não importa se o medicamento se encontra sob o controle de profissionais de saúde, do paciente ou
do consumidor.
O erro pode estar relacionado à prática profissional, produtos usados na área de saúde,
procedimentos, problemas de comunicação, incluindo prescrição, rótulos, embalagens, nomes,
preparação, dispensação, distribuição, administração, educação, monitoramento e uso de
medicamentos. Tipos de EM descritos
5:
1. Medicamento errado
1.1 Prescrição inadequada do medicamento
1.1.1 Medicamento não indicado/ não apropriado para o diagnóstico que se pretende tratar
1.1.2 História prévia de alergia ou reação adversa similar 1.1.3 Medicamento inadequado para o paciente por
causa da idade, situação clínica, etc 1.1.4 Medicamento contraindicado
1.1.5 Interação medicamento-medicamento 1.1.6 Interação medicamento-alimento 1.1.7 Duplicidade terapêutica
1.1.8 Medicamento desnecessário
1.2 Transcrição/ dispensação/ administração de um medicamento diferente do prescrito
2. Omissão de dose ou do medicamento
2.1 Falta de prescrição de um medicamento necessário 2.2 Omissão na transcrição 2.3 Omissão na dispensação 2.4 Omissão na administração 2.5 3. Dose errada 3.1 Dose maior 3.2 Dose menor 3.3 Dose extra
4. Frequência de administração errada 5. Forma farmacêutica errada
6. Erro de preparo, manipulação e/ou acondicionamento 7. Técnica de administração errada
8. Via de administração errada 9. Velocidade de administração errada 10. Horário errado de administração 11. Paciente errado
12. Duração do tratamento errada
12.1 Duração maior 12.2 Duração menor
13. Monitorização insuficiente do tratamento
13.1 Falta de revisão clínica 13.2 Falta de controles analíticos
14. Medicamento deteriorado 15. Falta de adesão do paciente 16. Outros tipos
17. Não se aplica
5
Otero López MJ, Castaño Rodriguez B, Pérez Encinas M, Codina Jane C, Tamés Alonso MJ, Sánchez Muñoz T. Actualización de la calssificación de errores de medicación del grupo Ruiz-Jarabo 2000. Farm. Hosp. 2008;32(1):38-52. In: CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Manual III. Atividades do. Farmacêutico na Farmácia. Comunitária. Brasília – agosto de 2009. Disponível em https://bit.ly/2JnN5X7.
Os eventos adversos preveníveis e potenciais relacionados a medicamentos são produzidos por
erros de medicação, e a possibilidade de prevenção é uma das diferenças marcantes entre as reações
adversas e os erros de medicação. A reação adversa a medicamento é considerada como um evento
inevitável, ainda que se conheça a sua possibilidade de ocorrência, e os erros de medicação são, por
definição, preveníveis.
É possível consultar no site da ISMP Brasil, em
https://www.ismp-brasil.org/site/boletins/
,
b
oletins informativos sobre erros de medicação.
Medicamentos potencialmente perigosos
A ISMP Brasil mantém lista atualizada de MPP em ambientes de natureza hospitalar, em
instituições de longa permanência (ILP) e em domicílio onde seja provido o cuidado contínuo e a
assistência de longa duração.
Tais listas estão organizadas como classe terapêutica quando todos os medicamentos da classe
são considerados potencialmente perigosos; ou como medicamentos específicos, quando apenas um
ou alguns medicamentos da classe terapêutica apresenta risco aumentado de provocar danos
significativos ao paciente na ocorrência de um erro de medicação.
Cada instituição possui especificidades importantes a serem consideradas, e é importante que
cada uma estabeleça e divulgue a própria lista, tomando por base a lista de MPP sugerida pela ISMP
Brasil, e continue atuante na prevenção de erros associados a esses medicamentos.
MPP em ambientes hospitalares - medicamentos específicos 1. Cloreto de potássio concentrado injetável
2. EPINEFrina subcutânea 3. Fosfato de potássio injetável
4. Metotrexato de uso oral (uso não oncológico) 5. NitroPRUSSIATO de sódio injetável
6. Ocitocina endovenosa
8. Sulfato de magnésio injetável
9. VASopressina endovenosa e intraóssea
MPP em ambientes hospitalares - classes terapêuticas 1. Agonistas adrenérgicos endovenosos (ex.: EPINEFrina, FENILEFrina, NOREPinefrina)
2. Água estéril para injeção, inalação e irrigação em embalagens de 100 mL ou volume superior
3. Analgésicos opioides endovenosos, transdérmicos e de uso oral (incluindo líquidos concentrados e formulações de liberação imediata ou prolongada)
4. Anestésicos gerais, inalatórios e endovenosos (ex.: propofol, cetamina) 5. Antagonistas adrenérgicos endovenosos (ex.: propranolol, metroprolol) 6. Antiarrítmicos endovenosos (ex.: lidocaína, amioDARONA)
7. Antineoplásicos de uso oral e parenteral 8. Antitrombóticos
- Anticoagulantes (ex.: varfarina, heparina não fracionadas e heparinas de baixo peso molecular)
- Anticoagulantes orais diretos e inibidores do fator Xa (ex.: dabigatrana, rivaroxabana, apixabana, edoxabana, fondaparinux)
- Inibidores diretos da trombina (ex.: bivalirrudina, dabigatrana) - Inibidores da glicoproteína IIb/IIIa (ex.: abciximabe, tirofibana) - Trombolíticos (ex.: alteplase, tenecteplase, estreptoquinase)
9. Bloqueadores neuromusculares (ex.: suxametônio, rocurônio, pancurônio, vecurônio) 10. Cloreto de sódio hipertônico injetável com concentração maior que 0,9%
11. Glicose hipertônica com concentração maior ou igual a 20%
12. Inotrópicos endovenosos (ex.: milrinona, deslanosideo, levosimendana)
13. Insulina subcutânea e endovenosa (em todas formas de apresentação e vias de administração): todas as formulações de insulina (frasco ampola ou caneta), administradas por via subcutânea ou via endovenosa, são consideradas MPP
14. Medicamentos administrados por via epidural ou intratecal
15. Medicamentos na forma lipossomal (ex.: anfotericina B lipossomal, doxorrubicina lipossomal) e seus correspondentes medicamentos na forma convencional (ex.: anfotericina B desoxicolato, cloridrato de doxorrubicina)
16. Sedativos de uso oral de ação mínima ou moderada, para crianças (ex.: hidrato de cloral, midazolam, cetamina - forma parenteral)
17. Sedativos endovenosos de ação moderada (ex.: dexmedetomidina, midazolam, lorazepam) 18. Soluções cardioplégicas
19. Soluções para diálise peritoneal e hemodiálise 20. Soluções de nutrição parenteral
MPP em ILP e domicílios – classes terapêuticas 1. Anticoagulantes de uso parenteral oral (incluindo varfarina e novos agentes) 2. Quimioterápicos de uso parenteral e oral (excluindo os agentes hormonais)
3. Hipoglicemiantes orais e Insulinas (em todas as apresentações, tipos de dispositivos de administração, formulações, concentrações)
4. Soluções de nutrição parenteral
5. Opioides em todas as formulações, concentrações e vias de administração (uso parenteral, transdérmico e oral, inclusive líquidos concentrados, formulações de liberação prolongada e imediata)
MPP em ILP e domicílios - medicamentos específicos 1. Digoxina parenteral e oral
2. EPINEFrina parenteral
3. Metotrexato de uso oral (uso não oncológico): todos os quimioterápicos são considerados medicamentos potencialmente perigosos. Metotrexato oral para uso não oncológico tem sido apontado para dar ênfase à necessidade de se criar estratégias distintas para evitar erros de frequência de administração incorreta que
ocorrem com esta droga quando utilizada para fins não oncológicos e que podem resultar em morte.
4. Morfina solução concentrada para uso oral: todos os opioides são considerados medicamentos potencialmente perigosos. Solução de morfina concentrada tem sido apontada para dar ênfase à necessidade de se criar estratégias distintas para evitar erros de frequência de administração incorreta que ocorrem com esta droga e que podem resultar em morte.
Alguns medicamentos listados estão descritos com parte da palavra em destaque para que sejam mais facilmente diferenciados de outros medicamentos com grafia semelhante.
Estratégias para prevenção de EM
O Institute for Safe Medication Practices (ISMP EUA e ISMP Brasil) , por exemplo, recomendam
que profissionais de saúde e todos os demais envolvidos nos processos de produção e utilização de
MPP conheçam os riscos associados ao seu uso e implantem barreiras especiais para prevenir a
ocorrência de erros.
As recomendações para prevenção de EM envolvendo MPP são baseadas em princípios
norteadores ao desenvolvimento de estratégias para redução de erros envolvendo esses
medicamentos, que devem ser fundamentadas na simplificação e padronização de procedimentos:
1. Reduzir a possibilidade de ocorrência de erros;
2. Tornar os erros visíveis;
3. Minimizar as consequências dos erros.
As estratégias da ISMP Brasil descritas para uso mais seguro dos MPP em serviços de saúde
hospitalar, podem ser estendidas a outros serviços de saúde, públicos ou privados, nos diferentes
níveis de atenção e de complexidade, cujos pontos críticos identificados nos processos de utilização de
medicamentos de cada instituição podem direcionar a implantação de estratégias para a prevenção de
EM mais adequadas a cada realidade. Dez recomendações de segurança para prevenção de EM
envolvendo MPP são descritas:
1. Implantar barreiras que reduzam, dificultem ou eliminem a possibilidade da ocorrência de erros:
- Utilizar seringas adequadas para administração de soluções orais: as conexões não podem ser adaptáveis aos sistemas de administração endovenosa.
- Assegurar a identificação correta de seringas, utilizando etiquetas contendo nome do paciente, nome da solução, concentração e via de administração.
- Recolher ampolas de cloreto de potássio concentrado dos estoques existentes nas unidades assistenciais. As ampolas devem ser identificadas com etiquetas de alerta, ressaltando que o medicamento pode ser fatal se administrado sem diluir;
- Bolsas de infusão com preparações de alcaloides da vinca (como vinCRIStina, vimBLAStina, vinorelbina), devem ser identificadas com etiquetas de alerta.
2. Adotar protocolos e documentos de fácil compreensão e detalhados para utilização de MPP:
- Criar protocolos que apresentem múltiplas barreiras para erros ao longo do sistema de utilização de medicamentos.
- Padronizar medicamentos e doses que devem ser utilizados, de forma a reduzir a dependência da memorização e permitir a execução segura de procedimentos, principalmente para os funcionários inexperientes ou recém-admitidos no serviço e ainda não familiarizados com os processos de trabalho.
- Implantar protocolos de tratamentos antineoplásicos, uso de medicamentos para procedimentos cirúrgicos, procedimentos complexos (como o uso de MPP em unidades de terapia intensiva), situações clínicas que exigem anticoagulação, entre outros. 3. Revisar continuamente a padronização de medicamentos potencialmente perigosos
- Revisar continuamente as especialidades contendo MPP incluídas na padronização para evitar erros decorrentes da semelhança de nomes (grafia e som), rótulos e embalagens.
- Aplicar medidas corretivas ao identificar situações de risco, tais como retirar o medicamento da padronização, substituí-lo por outra especialidade, armazená-lo em local diferente do habitual ou usar etiquetas que ressaltem a diferença na sua grafia e som utilizando letra maiúscula e em negrito.
5. Centralizar os processos com elevado potencial de indução de erros
- Centralizar o preparo de misturas endovenosas contendo MPP na farmácia licenciada para esta finalidade. Por exemplo, o preparo centralizado desses medicamentos em farmácia hospitalar reduz fontes comuns de erros como: interrupções, erros de cálculo de doses e falta de padronização nas técnicas de preparo.
- A farmácia deverá possuir as condições adequadas para preparar os medicamentos em dose unitária.
4. Reduzir o número de alternativas farmacêuticas
- Reduzir ao mínimo necessário o número de apresentações de um mesmo medicamento disponíveis na instituição (concentrações e volumes) e nos estoques disponíveis nas unidades.
6. Usar procedimentos de dupla checagem dos medicamentos
- Empregar tecnologias que facilitem a operacionalização e permitam a checagem automática.
- Identificar processos de maior risco e empregar a dupla checagem (duplo check) independente, na qual um profissional realiza a checagem paralelamente ao trabalho realizado por outro: mesmo considerando que todos são susceptíveis a cometer erros, a probabilidade de que duas pessoas cometam o mesmo erro com o mesmo medicamento e o mesmo paciente é menor. A dupla checagem independente deve se limitar aos pontos mais vulneráveis do sistema e a grupos de pacientes de risco, pois a presença de um elevado número de pontos de controle pode diminuir a eficiência dessa medida, como:
- checagem de cálculos de dose para pacientes pediátricos e idosos; - programação de bombas de infusão;
- preparo e administração de quimioterápicos.
7. Incorporar alertas automáticos nos sistemas informatizados
- Implantar sistema de prescrição eletrônica com suporte clínico como medida de prevenção de erros. - Disponibilizar bases de informações integradas aos sistemas de prescrição e dispensação para alertar
sobre situações de risco no momento da prescrição e dispensação (por exemplo, limites de dose, necessidade de diluição e histórico de alergia do paciente).
Atuação colaborativa do farmacêutico
Os EM podem ocorrer em diferentes fases do processo de uso de medicamentos (prescrição,
dispensação, administração, monitoramento). A presença e atuação do farmacêutico clínico
8. Fornecer e melhorar o acesso à informação por profissionais de saúde e pacientes
- Ampliar o treinamento dos profissionais de saúde envolvidos no sistema de utilização de medicamentos. - Divulgar a lista de medicamentos potencialmente perigosos disponíveis na instituição.
- Fornecer informações técnicas sobre os medicamentos, tais como as doses máximas permitidas dos MPP. - Adotar rotina de orientação aos pacientes.
- Informar ao paciente, à família ou ao cuidador, de forma impressa e verbal, utilizando linguagem clara e acessível, o esquema terapêutico e procedimentos prescritos para que ele fique alerta e ajude a evitar possíveis erros.
- Capacitar um familiar ou cuidador para auxiliar no monitoramento nos casos em que o paciente não seja capaz de monitorar seu tratamento, como idosos com dificuldades cognitivas.
9. Estabelecer protocolos com o objetivo de minimizar as consequências dos erros
- Elaborar e implantar diretrizes e protocolos de atuação para reduzir as consequências e danos aos pacientes atingidos por erros, especialmente aqueles envolvendo quimioterápicos, anticoagulantes, opioides e insulina.
- Implantar protocolos de comunicação da ocorrência de um evento adverso aos pacientes e familiares. Devem ser fornecidas informações sobre os fatos ocorridos, impacto para o paciente e medidas adotadas para minimizar ou reverter o dano, além das informações complementares e posteriores à análise do evento, como exposição das causas e lições aprendidas (disclosure inicial e final).
10. Monitorar o desempenho das estratégias de prevenção de erros
- Analisar o resultado das estratégias de prevenção por meio de dados objetivos, com uso de indicadores medidos ao longo do sistema de utilização de medicamentos. Sugere-se a adoção, minimamente, dos indicadores preconizados pelo Programa Nacional de Segurança do Paciente do Ministério da Saúde (em https://bit.ly/2LiMS6q) para monitoramento dos erros de medicação. É encorajada, no entanto, a implementação de indicadores complementares de acordo com as particularidades de cada instituição de saúde.
- Identificar pontos críticos do sistema de utilização de medicamentos e direcionar para eles os programas de prevenção e os indicadores a serem utilizados.
- Sempre que possível, realizar medições utilizando os mesmos indicadores antes e depois da implantação de mudanças para avaliar a efetividade das intervenções.
capacitado nessas fases podem contribuir à diminuição de EM.
Por serem medicamentos cuja dispensação exige apresentação de prescrição (tarjados), o
farmacêutico que prescrevê-los deve possuir capacitação específica averbada em Conselho Regional de
Farmácia
6e o ato deve estar condicionado à existência de diagnóstico prévio e apenas quando estiver
previsto em programas, protocolos, diretrizes ou normas técnicas, aprovados para uso no âmbito de
instituições de saúde ou quando da formalização de acordos de colaboração com outros prescritores
ou instituições de saúde.
6
Título de especialista ou de especialista profissional farmacêutico na área clínica, com comprovação de formação que inclua conhecimentos e habilidades em boas práticas de prescrição, fisiopatologia, semiologia, comunicação interpessoal, farmacologia clínica e terapêutica.
Prescrição farmacêutica
Etapas importantes do processo de prescrição farmacêutica que podem ser determinantes para um EM:
- Identificação das necessidades do paciente relacionadas à saúde; - Definição do objetivo terapêutico;
- Seleção da terapia ou intervenções relativas ao cuidado à saúde, com base em sua segurança, eficácia, custo e conveniência, dentro do plano de cuidado;
- Redação da prescrição: em vernáculo, por extenso, de modo legível, observados a nomenclatura e o sistema de pesos e medidas oficiais, sem emendas ou rasuras. É vedada a prescrição sem a sua identificação ou a do paciente, e a prescrição de forma secreta, codificada, abreviada, ilegível ou assinar folhas de receituários em branco. Na descrição da terapia farmacológica, incluir:
- nome do medicamento ou formulação;
- concentração/dinamização e forma farmacêutica; - via de administração;
- dose, frequência de administração do medicamento e duração do tratamento; - Orientação ao paciente;
- Avaliação dos resultados;
Dentro da equipe de saúde, a participação no planejamento e na avaliação da farmacoterapia,
contribui para que o paciente utilize de forma segura os medicamentos de que necessita, nas doses,
frequência, horários, vias de administração e duração adequados.
O farmacêutico, como componente da equipe de saúde, tem a obrigação profissional de
oferecer informação que promova o uso seguro e adequado dos medicamentos e deve apoiar o
paciente na aprendizagem de novos comportamentos que implicam o cumprimento do tratamento. Na
dispensação, são preconizados os seguintes procedimentos:
- Fornecer toda a informação necessária para o uso correto, seguro e eficaz dos medicamentos, de
acordo com as necessidades individuais do usuário;
- Reforçar por escrito ou com material de apoio adequado, as orientações verbais prestadas;
- Ressaltar as contraindicações, interações e possíveis efeitos secundários do medicamento;
- Procurar os meios adequados para certificar-se de que o paciente não tem dúvidas sobre o modo de
ação dos medicamentos, a forma de usar (como, quando e quanto), a duração do tratamento,
No ato da prescrição, o farmacêutico deve adotar medidas que contribuam para a promoção da segurança do paciente, como:
- Basear suas ações nas melhores evidências científicas;
- Tomar decisões de forma compartilhada e centrada no paciente;
- Considerar o uso de outros medicamentos, a existência de outras condições clínicas, os hábitos de vida e o contexto de cuidado no entorno do paciente;
- Estar atento aos aspectos legais e éticos sobre os documentos entregues ao paciente;
- Comunicar adequadamente ao paciente, seu responsável ou cuidador, as suas decisões e recomendações, de modo que estes as compreendam de forma completa;
- Adotar medidas para que os resultados em saúde do paciente, decorrentes da prescrição farmacêutica, sejam acompanhados e avaliados.
possíveis efeitos adversos e precauções especiais.
Fluxograma sobre as principais etapas no processo de dispensação é sugerido no
ANEXO.
Procedimentos de segurança no armazenamento e dispensação de medicamentos:
a) Armazenar os MPP em local seguro e diferenciado, utilizando sinais de alerta e armazenando-os em local separado dos demais;
b) Desenvolver e implantar procedimentos detalhados e sistemáticos para armazenamento dos
medicamentos, como por ordem alfabética segundo a denominação genérica; em prateleiras, armários e gaveteiros organizados de acordo com a forma farmacêutica, de modo que fiquem em áreas separadas os sólidos orais, líquidos orais, injetáveis de pequeno e de grande volume e medicamentos de uso tópico; e implantação de normas de conferência dos medicamentos armazenados para evitar que sejam guardados em locais errados ou misturados com outros itens;
c) Manter o ambiente de trabalho organizado e evitar distrações como telefone, música e conversas paralelas no momento da separação dos medicamentos;
d) Usar lembretes para prevenir trocas de medicamentos com nomes similares, tais como rótulos diferenciados, notas no computador ou no local da dispensação; utilizar lembretes para que todos reconheçam os MPP e que tenham cuidado na sua dispensação;
e) Manter a prescrição e medicamentos que serão dispensados juntos durante todo o processo, para prevenir trocas de medicamentos;
Procedimentos de segurança no armazenamento e dispensação de medicamentos:
f) O farmacêutico deve avaliar as prescrições antes do início da separação dos medicamentos para evitar que possíveis erros de prescrição se tornem erros de dispensação, esclarecendo dúvidas em relação à caligrafia médica (a interpretação ou dedução do conteúdo da prescrição nunca deve ser feita e dúvidas esclarecidas pelo prescritor devem ser documentadas por escrito);
g) Efetuar a conferência final da prescrição com o resultado da dispensação, utilizando estratégias para facilitar o trabalho e torná-lo mais eficaz na detecção de erros, como a dupla-checagem, a conferência das prescrições de grupos de pacientes de alto risco (como na pediatria, idosos e insuficientes renais crônicos).
h) Aconselhar o paciente, familiares e ou cuidador, informando-os sobre o tratamento
terapêutico, por que estão utilizando os medicamentos, quais os seus efeitos, os horários de administração, as reações adversas que poderão ocorrer, e o armazenamento adequado dos medicamentos no domicílio.
Importante considerar a reconciliação de medicamentos, a qual é descrita como um processo
para obtenção de uma lista completa, precisa e atualizada dos medicamentos que cada paciente utiliza
em casa (incluindo nome, dosagem, frequência e via de administração), e comparada com as
prescrições médicas feitas na admissão, transferência, consultas ambulatoriais com outros médicos e
alta hospitalar.
Essa lista é usada para aperfeiçoar a utilização dos medicamentos, pelos pacientes, em todos os
pontos de transição e tem como principal objetivo diminuir a ocorrência de erros de medicação
quando o paciente muda de nível de assistência à saúde, ou quando permanece no mesmo nível de
assistência, mas é atendido por vários médicos, que prescrevem diversos medicamentos, sem haver
uma reconciliação entre eles. Muitas vezes, nestes casos, é oportuno, necessário e esperado que a
reconciliação fosse feita na farmácia, onde ocorre a dispensação dos medicamentos prescritos.
Estudos têm demonstrado que o processo de reconciliação de medicamentos tem grande
impacto na prevenção de eventos adversos relacionados a medicamentos, sendo eficiente na redução
das discrepâncias encontradas entre as prescrições hospitalares e os medicamentos utilizados em casa,
promovendo assim a redução dos erros de medicação em cerca de 70%.
Administração e monitoramento
O farmacêutico pode realizar, no âmbito de sua competência profissional:
- A administração de medicamentos ao paciente;
- Orientar e auxiliar pacientes, cuidadores e equipe de saúde quanto à administração da dose prescrita; - Solicitar e avaliar exames laboratoriais com a finalidade de monitorar:
- os resultados da farmacoterapia utilizada;
- níveis terapêuticos de medicamentos, por meio de dados de farmacocinética clínica;
- outros indicadores para reconhecimento de EM e/ou para detecção de medidas preventivas, paliativas e ou corretivas utilizadas no serviço de saúde.
ANEXO
Fluxograma sobre os principais passos no processo de dispensação é sugerido
7:
7
ANGONESI, Daniela; RENNO, Marcela Unes Pereira. Dispensação farmacêutica: proposta de um modelo para a prática. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 9, p. 3883-3891, Sept. 2011. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011001000024&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 08 maio 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011001000024. In: CRF/RS. Comissão Assessora de Farmácia clínica. Guia de dispensação de medicamentos potencialmente perigosos (via oral). Agosto, 2017.
Fontes consultadas:
CRF/RS. Comissão Assessora de Farmácia clínica. Guia de dispensação de medicamentos potencialmente perigosos (via oral). Agosto, 2017.
CONSELHO Federal de Farmácia. Resolução nº 586, de 29 de agosto de 2013. Regula a prescrição farmacêutica e dá outras providências. Disponível em https://bit.ly/2r0yBC7.
CONSELHO Federal de Farmácia. Resolução nº 585, de 29 de agosto de 2013. Regula as atribuições clínicas do farmacêutico e dá outras providências. Disponível em https://bit.ly/2r0yBC7.
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Manual III. Atividades do. Farmacêutico na Farmácia. Comunitária. Brasília – agosto de 2009. Disponível em https://bit.ly/2JnN5X7.
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. ANACLETO, Tânia Azevedo; BORGES, Mário; MIRANDA, Rosa Hessem; MARTINS, Neiva Maria Auxiliadora Parreiras. Erros de Medicação. Revista Pharmacia Brasileira. Nº 74. Encarte de Farmácia Hospitalar. Disponível em https://bit.ly/2J9LW6c.
Instituto para Práticas Seguras no uso de Medicamentos. Boletim IMSP Brasil. Medicamentos potencialmente perigosos de
uso hospitalar - lista atualizada 2019. ISSN: 2317-2312. Volume 8, n. 1, fevereiro 2019, p.3-9. Disponível em https://bit.ly/2IoqU2C.
Instituto para Práticas Seguras no uso de Medicamentos. Boletim IMSP Brasil. Medicamentos potencialmente perigosos:
lista dos medicamentos para instituições de longa permanência. ISSN: 2317-2312. Volume 5, n. 3, agosto 2016, p.1-5. Disponível em https://bit.ly/2HgfjjY.