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GOIÂNIA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA IDENTIDADE ( ). Andreia Silva Lisboa

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GOIÂNIA: A CONSTITUIÇÃO DE UMA NOVA IDENTIDADE (1930- 1933).

Andreia Silva Lisboa

A idéia da mudança da capital do Estado de Goiás é pensada desde o século XVIII e XIX, a proposta é retomada com Pedro Ludovico, no inicio da década de 1930, com a esperança de progresso e estratégia de sobrevivência política. Assim Goiânia vai representar o símbolo de um novo Goiás, moderno. Portanto, o símbolo de uma nova identidade, calcada no projeto nacional pós-30, modernidade em forma de progresso. Portanto, o presente trabalho propõe analisar a transferência da capital de Goiás a partir da identidade. O seja, objetivamos analisar a construção da auto-imagem da cidade de Goiânia. Na medida em que essa é edificada a partir das representações, da “antiga” capital do Estado a “Cidade de Goiás”.

Contudo muito já foi dito na historiografia goiana a respeito desse fato histórico, não propomos aqui uma discussão historiográfica sobre a transferência e a mudança da Capital de Goiás. O intuito consiste em perceber, nesse processo de mudança da Capital de Goiás, um momento privilegiado para se constituir ou forjar uma nova identidade. Para, além disso, é importante perceber que para formar essa nova identidade modernidade/progresso de Goiânia, foi preciso antes, desqualificar a imagem da Cidade de Goiás (Antiga Capital), lhe conferindo a identidade da decadência e do atraso. Na medida em que, a identidade é relacional, pois depende, para existir, de algo exterior a ela, de uma outra identidade que ela não é, mas que fornece condições para sua existência, Goiânia se propunha assim, a ser a “diferença”, a nova capital do progresso. (WOODWARD, 2000, p. 10).

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Desta forma, utilizaremos como fonte de pesquisa a revista A

Informação Goyana. Editada no Rio de Janeiro, entre 1917 a 1935, por

um grupo de intelectuais goianos formado no final do século XIX e inicio do XX. A Informação Goyana circulou principalmente na capital federal, em Goiás, nos principais Estados do país e em alguns países estrangeiros. Desta forma, teve um número expressivo de colaboradores, constituído por goianos e seus principais foram Henrique Silva (1865-1935) e Americano do Brasil (1892-1932).

È importante também refletir sobre o cenário nacional em que a revista é idealizada e criada. A Informação Goyana surgiu em 1917, no fim da Primeira Guerra, conflito que teve importante repercussão no Brasil, pondo em discussão questões que pareciam adormecidas. Encaminhavam-se também os preparativos para a comemoração do Centenário da Independência, dando margens a uma serie de estudos e análises dos problemas que a sociedade brasileira enfrentava.

Havia uma nítida preocupação de se discutir a identidade e os rumos da nação1 brasileira. Todos tinham algo a dizer - políticos, militares, empresários, trabalhadores, médicos, educadores, mas também artistas e intelectuais. Como deveria ser o Brasil moderno? Através da literatura, das artes plásticas, da música, e mesmo de manifestos, os artistas e intelectuais modernistas buscaram compreender a cultura brasileira e sintonizá-la com o contexto internacional.

Em agosto de 1917 é publicado o primeiro número da revista A

Informação Goyana, editada no Rio de Janeiro, por um grupo de jovens

goianos, em sua maioria estudantes e residentes na Capital Federal. Definida em seu frontispício como “Revista mensal, illustrada e

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Para a discussão conceitual de nação ver ANDERSON,Benedict.Nação e Conscência Nacional.São Paulo, Ática,1989.p.66-72.

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informativa das possibilidades econômicas do Brasil Central”; A

Informação Goyana trabalhou de modo rico e complexo as varias

expressões de vida dessa região, dedicando especial atenção a Goiás. Os dirigentes de A Informação Goyana pretenderam inserir Goiás num circuito político de discussão do qual o Estado estava praticamente ausente e que pudesse ser discutido como possibilidade econômica, política e cultural.

É o que se observa no seu “artigo-programma”, escrito para o primeiro número, publicado em agosto de 1917. O texto apresenta com clareza, que o periódico não pretendia ser mais um órgão técnico no meio jornalístico em que se inseriu. Pretendia sim, ser um órgão temático especializado em Brazil Central (inter-land brasileiro), com fim político, informativo e de propaganda; enfim educativo. Assim demonstrou preocupação em relação á ignorância e o desinteresse da empresa da capital federal pelo estado de Goiás. Tomando para si não só a tarefa de preencher lacunas deixadas pela empresa carioca, como também de refutar as informações erronias vinculadas sobre o Estado. Tornar o Estado conhecido, suas possibilidades econômicas aos olhos de investidores particulares e do próprio governo federal. (NEPOMUCENO, 2003:16).

Graças a esse esforço, não só os recursos naturais e as possibilidades econômicas da região ganharam divulgação, mas também a história de Goiás, seu folclore, seus costumes, suas lendas, sua literatura, a história de seus homens ilustres, a coragem de seus habitantes, o que reflete a busca por uma identidade goiana que para os intelectuais da revista seria imprescindível na constituição de uma identidade nacional. Para, além disso, o desejo maior era diagnosticar e contribuir para a solução dos problemas nacionais, em outros termos, o anseio maior era contribuir para a construção do progresso material e da nacionalidade brasileira.

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Nesse sentido, esses intelectuais pretenderam construir uma “teoria” do Brasil Central, em especial de Goiás. A tarefa que se atribuíram foi a de descobrir, com base no conhecimento construído cientificamente o papel que Goiás teria de desempenhar no conjunto da nação brasileira. Isto é, cabia á eles contribuir cientificamente para remover o atraso e promover o progresso material de Goiás e ao mesmo tempo, integra – lo ás “mais prosperas zonas do paiz”.

Enfim, na vastidão de temáticas, que a revista traz, encontramos em suas edições entre 1930 e 1932 a questão da mudança da Capital de Goiás, sendo discutida em vários artigos. Os primeiro artigos tratam da política da mudança da Capital, isto é, o renascimento da idéia por Pedro Ludovico Teixeira e a discussão sobre qual lugar no Estado teria as melhores condições para abrigar a nova Capital, que seria o símbolo do progresso em Goiás.

Depois de escolhido o local, a revista traz o decreto da mudança, o relatório do engenheiro urbanista Doutor Armando de Godoi, sobre as condições favoráveis do lugar escolhido, que atenderia todos os requisitos para uma “cidade moderna” e por fim, em outubro de 1933 ,a revista notícia em sua primeira página a solenidade do lançamento da pedra fundamental que marcou o inicio da construção da “futura sede do governo”.

De tal modo, em outubro de 1931 em uma nota intitulada “Muda da Capital de Goyaz”, se observa a tentativa de justificar a mudança da capital. O autor Henrique Silva começa da seguinte forma:

“Nos tempos coloniais havia Villa Rica de Matto Grosso, Villa Rica de Ouro Preto e Villa Bôa de Goyas, que eram sédes dos governos dos antigos Capitães - generaes. Era no tempo da áurea sacra fames.

Passaram-se anos, desappareceram as pepitas de vil metal que afloravam á superficio da terra e era apanhada nas ruas após grandes chuvas...”(A Informação Goyana, outubro de 1931p. 1598)”.

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Observe que o autor ao identificar as antigas capitais dos tempos coloniais, ressalta sempre a imagem de cidades atrasadas e antigas que vivenciaram sua glória ou seus tempos áureos, na época da exploração mineral do ouro. Prosseguindo, o autor ressalta que fatalmente, Villa Rica de Matto Grosso e Villa Rica de Ouro Preto foram abandonadas, devido ao seu insalubre clima e principalmente a má situação geográfica que não atendia as necessidades de um desenvolvimento ideal para capital de um Estado. Assim, era chegada à hora também para a então Villa Bôa de Goyas ser abandonada isso porque além de apresentar essas condições indesejáveis, de clima e geografia, reúne ainda outros fatores negativos.

Portanto, a justificativa aqui está baseada na imagem do atraso que teoricamente Villa Bôa, representava, isto é, a decadência da mineração teria estagnado a cidade no eterno atraso e lhe conferido a incapacidade para o desenvolvimento. Nessa perspectiva, entendemos atraso, como sinônimo de decadência. Posto que as duas expressões pertençam a um mesmo campo semântico do qual fazem parte as imagens da pobreza, isolamento, abandono, ruralização, ócio, preguiça, inaptidão para o trabalho, entre tantos adjetivos desabonadores, que, no conjunto, constituem a representação da decadência da qual a “antiga capital”, estaria imbuída. (ASSIS, 2007, p.15).

A partir dessa imagem de decadente a justificativa da mudança da Capital vem se estruturando. Em julho de 1932, Henrique Silva, publica a representação dirigida ao Exmo. Snr. Dr. Pedro Ludovico Teixeira Interventor Federal, por parte de Mario da Costa, Prefeito do município de Bomfim, demonstrando as vantagens e as conveniências em ser transferida para tal município a Capital do Estado. Enfim, trata-se como fala o autor da discussão do momento, percebida a necessidade de mudança da Capital, várias cidades reivindicavam os seus direito de se tornar à sede do governo.

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O que é importante perceber são representações feitas da Cidade de Goiás, primeiro por Henrique Silva e depois pelo próprio prefeito de Bomfim. Desta forma, Henrique inicia com as seguintes afirmações:

“Os Goyanos estão dispostos a mudar a capital do seu Estado. Cidade Veha, com um mundo de condições

desfavoráveis, a capital do Rio Vermelho tem de ser, fatalmente, abandonada mais ia, menos dia. É uma

conseqüência inevitável do progresso que dia a dia se accentua no grande Estado visinho”. (A Informação Goyana, julho de 1932p. 1666).

O prefeito de Bonfim, por sua vez, também parte da imagem de atraso e do antigo da Cidade de Goiás para qualificar seu município como o ideal para a nova capital. Deste modo ressalta a má localização da atual capital, a insalubridade do clima que em conseqüência, “tiram, não só aos governantes, mas também a todos os que nella habitam toda a disposição para o trabalho, para os estudos de nossos magnos problemas...” (A INFORMAÇÃO GOYANA, julho de 1932: 1666). O que impediria assim o desenvolvimento e progresso do Estado de uma forma geral. Contudo em dezembro de 1932, em nota intitulada “Ainda a mudança da Capital de Goyaz”, Henrique Silva, resume que a nova capital será edificada em um loca que uma missão técnica indicaria, respeitando as exigências da “esthetica moderna e obedeça ao principal objetivo da mudança, isto é, o progresso do Estado” (A INFORMAÇÃO GOYANA, dezembro de 1932:1705).

Nesse sentido a mudança da Capital e a construção de Goiânia, estavam edificadas na idéia de modernidade, sinônimo de progresso na época. Para, além disso, Goiânia representava o veiculo de condução político – burocrático capaz de levar o Estado a uma maior inserção no mercado nacional e também a inclusão da região no projeto nacionalista em curso nos anos 30. .(CHAUL, 1997:207). Isto é, no projeto centralizador de Vargas, Pedro Ludovico busca reivindicar o lugar de

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Goiás no cenário nacional e utiliza a nova capital para projetar o Estado e sua potencialidade de desenvolvimento.

Em maio de 1933, A Informação Goyana, pública o Decreto n°3350 de 18 de maio de 1918, que autoriza a construção de Goiânia, as margens do córrego Botafogo compreendido nas fazendas denominadas “Criméa”, “Vaca Brava” e “Botafogo”, no município de Campinas. Já em junho de 1933, a revista traz o Relatório do engenheiro urbanista Doutor Armando Godoi, sobre a região de Campinas e as condições favoráveis para se construir uma nova capital moderna. Enfim, pretendia que a nova sede do governo atendesse todas as necessidades de uma vida moderna. Teria assim, avenidas largas, abastecimento de água, rede de esgoto sanitário, coleta de lixo e regulamentação das construções. (FREITAS, 1999:239).

Portanto um projeto ideal para uma cidade símbolo da modernidade. Projeto esse que na realidade não vai ser totalmente cumprido. Desde sua construção até após sua inauguração Goiânia vai apresentar vários problemas como; invasões faltam de luz, água e saneamento básico. Contudo, esse projeto ideal pensando para a nova capital reflete a busca de uma nova identidade calcada na diferença.

Enfim, Goiânia simbolizava a busca por uma identidade fundada no progresso e conseqüentemente moderna, diferente da imagem conferida a antiga capital, Cidade de Goiás, a imagem da decadência e atraso. A identidade moderna aqui forjada é pensada a partir do outro diferente, isto é, a partir da Cidade de Goiás, que primeiro seria identificada, como decadente e atrasada para depois ser negada e abandonada e daí servir de base para constituição de uma nova cidade identificada como o símbolo do progresso e da modernidade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- ASSIS, Wilson Rocha. A História da Decadência. In:. Os Moderados

e a representações de Goiás n’ A Matutina Meiapotense (1830-1834)-Goiânia, 2007.p.13-15. (Dissertação de mestrado).

-CHAUL, Nasr Fayad.Caminhos de Goiás: da construção da

“Decadência” aos limites da modernidade. Goiânia: Ed. da UFG,

1997.p.107-135.

-FREITAS, Lena Castello Branco Ferreira de (Org).Saúde e Doença em

Goiás: a medicina possível.Goiânia: Ed. da UFG, 1999.p.239-290.

-NEPOMUCENO, Maria Araújo.O Papel Político-Educativo De A

INFORMAÇÃO GOYANA Na Construção Da Nacionalidade.Goiânia:

Ed.da UFG, 2003.

-SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e Diferença: a perspectiva dos

estudos culturais.Tomaz Tadeu da Silva (org), Stuart Halll, Kathryn

Woodward.-Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.p.10.

-Fontes:

-A INFORMAÇÃO GOYANA.Governo do Estado de Goiás.Goiânia: AGEPEL, 2001.(Reprodução fac-similar da coleção completa da revista publicada no Rio de Janeiro por Henrique Silva e Americano do Brasil, no período de agosto de 1917 a maio de 1935).

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