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PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES EM RELAÇÃO AO SOLO E SEU USO, EM COMUNIDADES TRADICIONAIS, DA REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES, MT.

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PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES EM RELAÇÃO AO

SOLO E SEU USO, EM COMUNIDADES TRADICIONAIS,

DA REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES, MT.

HELIONORA DA SILVA ALVES

C U I A B Á - MT 2004

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PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES EM RELAÇÃO AO

SOLO E SEU USO, EM COMUNIDADES TRADICIONAIS,

DA REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES, MT.

HELIONORA DA SILVA ALVES Engª. Agrônoma

Orientador: Profº. Dr. RODRIGO ALEIXO BRITO DE AZEVEDO

Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Agricultura Tropical.

C U I A B Á - MT 2004

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Percepção dos agricultores em relação ao solo e seu uso, em comunidades tradicionais, da região da Morraria, Cáceres, MT / Helionora da Silva Alves.- 2005.

390p. : il. ; color.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinaria, 2005.

“Orientação Prof. Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo”

CDU – 165.18:631-051:631.4(817.2)

Índice para Catálogo Sistemático

1. Agricultores – Sistema de conhecimento – Cáceres (MT)

2. Solo – Agricultura – Sistema de conhecimento

3. Etnopedologia

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“A natureza é sempre um bom exemplo,

observá-la minuciosamente facilita a

compreensão da maioria das coisas.”

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etapa do meu caminho profissional.

A minha querida mãe Honorata da Silva, pelo carinho, amor, companheirismo, dedicação e compreensão de sempre, e mais evidentes do que nunca nessa fase do mestrado.

À Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em particular o Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical, pela oportunidade de realização do mestrado.

Ao Professor Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo, pela maravilhosa orientação, imensa paciência e a amizade construída nessa jornada.

As famílias de agricultores da região da Morraria, que participaram da pesquisa, pela calorosa recepção e acolhida durante o trabalho de campo, e a contribuição e paciência em participar da pesquisa através das informações prestadas.

Aos colegas de pesquisa, Daniela, Mauro e Virgínia pela paciência, trocas de conhecimento e experiência durante os trabalhos de campo.

Ao colega, Renato e sua esposa Débora, pelo apoio prestado e acolhida em Cáceres.

A Coordenação e a todos os professores do Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical, em especial as secretárias Maria e Denise pelo auxilio empregado durante todo o curso.

A todos os colegas de Pós-graduação em Agricultura Tropical, pela amizade, em especial Giovani e Patrícia pelas conversas calorosas e boas risadas.

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RESUMO - A agronomia está voltada às técnicas operacionais que visam aumentar a produtividade agrícola, e não consideram a complexidade e a realidade dos sistemas de produção dos pequenos produtores. É necessário a construção de um novo senso comum entre técnicos e agricultores, e para que isso ocorra é indispensável a compreensão sobre o universo do agricultor pelos técnicos, isso é fundamental para superar as dificuldades de diálogos entre ambas as partes e poder propor no futuro orientações técnicas adequadas à realidade e direcionar soluções para os problemas que os agricultores enfrentam. Dessa forma, o objetivo geral deste trabalho é compreender a lógica da classificação dos solos feita pelos agricultores da região da Morraria em Cáceres-MT. O trabalho foi realizado em nove unidades produtivas (UPs) pertencentes às comunidades de Nossa Senhora da Guia e Sagrado Coração de Jesus. Visando identificar e descrever as percepções dos agricultores sobre suas relações produtivas com os solos; identificar e descrever os critérios que levam a classificação dos solos, utilizadas pelos agricultores; identificar e descrever os critérios que são indicadores de categorias de solos adotados pelos agricultores; e identificar e descrever os critérios de ordem utilitária dos solos adotados pelos agricultores. Para classificar os solos citados pelos agricultores, na realização das entrevistas, foram atribuídos critérios, estes utilizados como filtros para separa as características citadas pelos agricultores, esses critérios foram baseados a partir da visão dos agricultores: cor, força, liga, maciez e dureza, umidade, localização na paisagem, planta cultivada, manejo e planta nativa e visão agronômica: cor, fertilidade, localização na paisagem, cobertura vegetal associada, textura, consistência, infiltração, estrutura, cerosidade, classificação, plantas indicadoras, manejo e aptidão de uso. Os dados foram analisados através de análises descritivas,

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estatística multivariada com análise de componentes principais e análise por peso ponderado. Concluiu-se que a nominação dos solos pode ser particular para cada agricultor, devido o baixo índice de compartilhamento dos conhecimentos sobre os nomes dos solos. Utilizando critérios agronômicos ou critérios estabelecidos conforme a visão do agricultor a classificação é considerada utilitária. Os processos classificatórios e de utilização dos solos, podem ser distintos, em relação aos solos com cobertura vegetal nativa e solos já manuseados para produção. Há necessidade de se aperfeiçoar a metodologia utilizada, buscando adotar procedimentos mais sistemáticos e participativos de classificação dos solos identificados, e ainda lançar mão das metodologias agronômicas de classificação dos solos, para que possam ser estudados com profundidade e no futuro seja possível propor orientações técnicas mais adequadas as suas estratégias de produção.

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FARMERS’ VIEW ABOUT SOIL AND ITS USE IN COMMUNITIES TRADICIONAL, REGION OF MORRARIA, CÁCERES-MT

ABSTRACT – The agronomy is concerned to the operational techniques which aims is to increase the agricultural productivity without taking into consideration the complexity and the reality of the production systems of the small farmers. It is necessary to construct a new common sense between experts and the farmers, so that, it is indispensable for the technicians to understand the farmers’ world to overcome the misunderstanding caused by lack of dialogue between them, thus to recommend appropriate technical orientations to the reality and to present solutions to the problems faced by the farmers. In this way, the general aim of this work is to understand the logic of the soils classification done by the farmers of Morraria region, in Cáceres-MT. This research was done in nine productive units (PUs) that belong to the communities of Nossa Senhora da Guia and Sagrado Coração de Jesus, which objective was to identify and to describe the farmers’ view with regard to their productive relationship to the soils, the criteria used by the farmers to the soils classification and its indicators, and even the criteria used to establish categories of soils according to its utility. To classify the soils mentioned by the farmers in the interviews, some criteria was set in order to distinguish the characteristics mentioned by the farmers, according to their own view: color, strength, binding, softness and hardness, humidity, localization of landscape, plant grown, handling and native plant, and the characteristics observed based on an agronomic view: color, fertility, landscape localization, associated vegetable covering, texture, consistence, infiltration of water, structure, coatins, classification, indicator plants, handing and capacity of using. The data were analyzed through descriptive analysis, multivarieted statistic with the analysis of the mainly compounds and weighed weight analysis. It was concluded that for each farmer the soils nomination can be particular due to the low index of sharing of knowledge about the soil names. By using the agronomic criteria or the criteria set according to the

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farmer view is an useful classification. The classificatory processes and the use of the soils can be different from the soils with native vegetable covering to that one already handled to production. There is a need of improving the methodology used by searching to adopt procedures more shared and systematic soils classification to that ones identified and even to use agronomic methodologies to soil classification in order to become possible to study them deeply and suggest appropriate technical orientations considering the production strategies.

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Página

1 INTRODUÇÃO... 18

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 20

2.1 Conhecimento do Agricultor... 20

2.1.1 A Importância do Conhecimento do Agricultor... 23

2.1.2 Conhecimento do Agricultor na Etnopedologia... 25

2.2 Aspectos Metodológicos... 30

2.2.1 Estudos Etnocientifícos... 30

2.2.2 Uso das Análises Multivariadas nos Estudos... 34

3 MATERIAL E MÉTODOS... 36

3.1 Área da Pesquisa... 36

3.2 Fundamentos Metodológicos... 37

3.2.1 Caracterização Geral – 1ª Etapa... 38

3.2.1.1 Realização das Entrevistas... 40

3.2.2 Metodologia da 2ª Etapa... 41

3.2.2.1 Identificação e Descrição das Percepções dos Agricultores sobre suas Relações Produtivas com os Solos... 42

3.2.2.2 Descrição e Relatos das UPs Analisadas na Segunda Etapa... 51

3.2.2.2.1 Unidade Produtiva N001... 51 3.2.2.2.2 Unidade Produtiva N005... 58 3.2.2.2.3 Unidade Produtiva N010... 66 3.2.2.2.4 Unidade Produtiva N011... 75 3.2.2.2.5 Unidade Produtiva N012... 81 3.2.2.2.6 Unidade Produtiva S001... 88 3.2.2.2.7 Unidade Produtiva S003... 95 3.2.2.2.8 Unidade Produtiva S006... 106 3.2.2.2.9 Unidade Produtiva S009... 110 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 118 4.1 Análise Descritiva... 118

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4.2.1 Análise Fatorial pelo método de Componente Principais para os

critérios de razão classificatória... 130

4.2.2 Análise Fatorial pelo método de Componente Principais para o critério planta nativa (plantas indicadoras)... 183

4.2.3 Análise Fatorial pelo Método de Componentes Principais para os critérios Aptidão de uso (planta cultivada) e Manejo – relacionados ao caráter utilitário dos solos... 194 4.3 Ponderação dos Pesos... 208

4.3.1 Ponderação dos pesos para os critérios de razão classificatória conforme a visão dos agricultores... 208

4.3.2 Ponderação dos pesos para os critérios de razão classificatória conforme visão agronômica... 223

5 CONCLUSÃO... 239 6 CONSIDERAÇÃO GERAL... 240 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 241 ANEXO 1... 247 ANEXO 2... 264 ANEXO 3... 279 ANEXO 4... 289 ANEXO 5... 299 ANEXO 6... 339 ANEXO 7... 377 ANEXO 8... 383

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Página Tabela 1. UPs pesquisadas e nomes das comunidades e localidades a qual pertencem na região da Morraria, Cáceres-MT... 41 Tabela 2. Definição de cada critério estabelecido para classificar os solos... 45 Tabela 3. Filtros referentes a cada critério... 47 Tabela 4. Quantidade de solos nomeados em cada Unidade Produtiva pesquisada... 118 Tabela 5. Percentagem de citação dos Solos... 119 Tabela 6. Percentagem de ocorrência dos Solos por UP... 121 Tabela 7. Soma das características dos solos presentes em todos os filtros estabelecidos conforme a visão dos agricultores... 124 Tabela 8. Soma das características dos solos presentes em todos os filtros estabelecidos conforme a visão agronômica... 125 Tabela 9. Autovalores e percentagem de explicação da variabilidade dos dados dos 13 fatores dos Critérios de Razão Classificatória conforme a visão dos agricultores... 131 Tabela 10. Valor calculado para identificar as variáveis mais explicativas dos Critérios de Razão Classificatória conforme a visão dos agricultores... 132 Tabela 11. Soma das características presentes em cada critério do fator 1, conforme a visão do agricultor... 133 Tabela 12. Características correlacionadas dos solos, obtidas pela análise por Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme a visão do agricultor, para o fator 1... 133 Tabela 13. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme a visão do agricultor, para o fator 2... 136 Tabela 14. Característica da terra e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme a visão do agricultor, para o fator 3... 137 Tabela 15. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme a visão do agricultor, para o fator 4... 141 Tabela 16. Soma das características presentes em cada critério do fator 4, conforme a visão do agricultor... 141 Tabela 17. Soma das características presentes em cada critério do fator 5, conforme a visão do agricultor... 142 Tabela 18. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme a visão do agricultor, para o fator 5... 144

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fator 6, conforme a visão do agricultor... 146 Tabela 21. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme visão do agricultor, para o fator 7... 148 Tabela 22. Soma das características presentes em cada critério do fator 7, conforme a visão do agricultor... 148 Tabela 23. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme visão do agricultor, para o fator 8... 149 Tabela 24. Soma das características presentes em cada critério do fator 8, conforme a visão do agricultor... 150 Tabela 25. Soma das características presentes em cada critério do fator 9, conforme a visão do agricultor... 151 Tabela 26. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme visão do agricultor, para o fator 9... 153 Tabela 27. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme visão do agricultor, para o fator... 155 Tabela 28. Soma das características presentes em cada critério do fator 10, conforme a visão do agricultor... 155 Tabela 29. Soma das características presentes em cada critério do fator 11, conforme a visão do agricultor... 156 Tabela 30. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme visão do agricultor, para o fator 11... 157 Tabela 31. Soma das características presentes em cada critério do fator 12, conforme a visão do agricultor... 158 Tabela 32. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme visão do agricultor, para o fator 12... 160 Tabela 33. Característica do solo e sua correlação obtida pela análise de Componentes Principais nos seis critérios de razão classificatória conforme visão do agricultor, para o fator 13... 162 Tabela 34. Soma das características presentes em cada critério do fator 13, conforme a visão do agricultor... 162 Tabela 35. Autovalores e percentagem de explicação da variabilidade dos dados dos 10 fatores dos Critérios de Razão Classificatória conforme a visão agronômica... 163 Tabela 36. Correlações das variáveis descritoras dos fatores 1 a 10, critérios de razão classificatória conforme a visão agronômica... 164 Tabela 37. Soma das características presentes em cada critério do fator 1, conforme a visão agronômica... 170

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Tabela 40. Soma das características presentes em cada critério do fator 4, conforme a visão agronômica... 174 Tabela 41. Soma das características presentes em cada critério do fator 5, conforme a visão agronômica... 176 Tabela 42. Soma das características presentes em cada critério do fator 6, conforme a visão agronômica... 176 Tabela 43. Soma das características presentes em cada critério do fator 7, conforme a visão agronômica... 177 Tabela 44. Soma das características presentes em cada critério do fator 8, conforme a visão agronômica... 178 Tabela 45. Soma das características presentes em cada critério do fator 9, conforme a visão agronômica... 179 Tabela 46. Soma das características presentes em cada critério do fator 9, conforme a visão agronômica... 180 Tabela 47. Autovalores e percentagem de explicação da variabilidade dos dados dos 7 fatores do Critério Planta Nativa... 183 Tabela 48. Valor calculado para identificar as variáveis mais explicativas do Critério Planta Nativa... 184 Tabela 49. Características presentes no fator 1 e suas correlações na análise de componentes principais para o critério Planta Nativa... 184 Tabela 50. Características presentes no fator 2 e suas correlações na análise de componentes principais para o critério Planta Nativa... 186 Tabela 51. Características presentes no fator 3 e suas correlações na análise de componentes principais para o critério Planta Nativa... 187 Tabela 52. Características presentes no fator 4 e suas correlações na análise de componentes principais para o critério Planta Nativa... 189 Tabela 53. Características presentes no fator 5 e suas correlações na análise de componentes principais para o critério Planta Nativa... 190 Tabela 54. Características presentes no fator 6 e suas correlações na análise de componentes principais para o critério Planta Nativa... 192 Tabela 55. Características presentes no fator 7 e suas correlações na análise de componentes principais para o critério Planta Nativa... 193 Tabela 56. Autovalores e percentagem de explicação da variabilidade dos dados dos 8 fatores dos critérios relacionados ao caráter utilitário dos solos... 194 Tabela 57. Correlações das variáveis descritoras dos fatores 1 a 8, critérios de razão utilitária dos solos... 194 Tabela 58. Critérios de razão utilitária dos solos e a soma das características presentes em cada critério utilitário, resultado da análise fatorial de componentes principais, fator 1... 198 Tabela 59. Critérios de razão utilitária dos solos e a soma das características presentes em cada critério utilitário, resultado da análise fatorial de componentes principais, fator 2... 199

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Tabela 61. Critérios de razão utilitária dos solos e a soma das características presentes em cada critério utilitário, resultado da análise fatorial de componentes principais, fator 4... 200 Tabela 62. Critérios de razão utilitária dos solos e a soma das características presentes em cada critério utilitário, resultado da análise fatorial de componentes principais, fator 5... 201 Tabela 63. Critérios de razão utilitária dos solos e a soma das características presentes em cada critério utilitário, resultado da análise fatorial de componentes principais, fator 6... 202 Tabela 64. Critérios de razão utilitária dos solos e a soma das características presentes em cada critério utilitário, resultado da análise fatorial de componentes principais, fator 7... 202 Tabela 65. Critérios de razão utilitária dos solos e a soma das características presentes em cada critério utilitário, resultado da análise fatorial de componentes principais, fator 8... 203 Tabela 66. Tipo de Solo citado por UP... 204 Tabela 67. Autovalores e percentagens de explicação da variância para os critérios classificatórios dos solos, visão dos agricultores... 208 Tabela 68. Valores dos pesos absolutos (β), relativos (w) e acumulados das varáveis dos seis critérios de classificação das categorias de terras, visão dos agricultores... 210 Tabela 69. Soma das características presentes em cada critério de classificação, conforme a visão dos agricultores... 223 Tabela 70. Autovalores e percentagens de explicação da variância para os critérios classificatórios dos solos, critérios agronômicos... 223 Tabela 71. Valores dos pesos absolutos (β), relativos (w) e acumulados das varáveis dos seis critérios de classificação das categorias de terras na visão agronômica... 225 Tabela 72. Soma das características presentes em cada critério de classificação, conforme a visão agronômica... 238 Tabela 73. Características de cada critério nomeado conforme a visão do agricultor... 247 Tabela 74. Características de cada critério nomeado conforme a visão agronômica... 256 Tabela 75. Códigos das Características, utilizados como variáveis na análise de componentes principais e na ponderação dos pesos para os critérios classificatórios, conforme a visão dos agricultores... 279 Tabela 76. Códigos das Características, utilizados como variáveis na análise de componentes principais e na ponderação dos pesos para os critérios classificatórios, conforme visão agronômica... 289 Tabela 77. Matriz dos escores dos seis critérios classificatórios conforme visão dos agricultores... 299 Tabela 78. Matriz dos escores dos seis critérios classificatórios conforme visão agronômica... 339

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Página Figura 1. Síntese da Estrutura Metodológica da primeira etapa da pesquisa: Caracterização geral... 39 Figura 2. Síntese da Estrutura Metodológica da segunda etapa da pesquisa: Identificação e Descrição das Percepções dos Agricultores sobre suas Relações Produtivas com os solos...

42 Figura 3. Síntese da Estrutura Metodológica da segunda etapa da pesquisa: Identificação e Descrição das Percepções dos Agricultores sobre suas Relações Produtivas com os solos...

48 Figura 4. Gráfico da distribuição de todos os filtros em percentagem, na análise descritiva dos critérios estabelecidos conforme a visão do agricultor...

124 Figura 5. Gráfico da distribuição de todos os filtros em percentagem, na análise descritiva dos critérios estabelecidos conforme a visão agronômica... 126 Figura 6. Gráfico da distribuição dos filtros em percentagem, na análise descritiva dos critérios de razão classificatória estabelecidos conforme a visão do agricultor... 128 Figura 7. Gráfico da distribuição dos filtros em percentagem, na análise descritiva dos critérios de razão classificatória estabelecidos conforme a visão agronômica... 129 Figura 8. Gráfico da distribuição dos critérios em percentagem, na análise fatorial por componentes principais dos critérios de razão classificatória estabelecidos conforme a visão do agricultor...

181 Figura 9. Gráfico da distribuição dos critérios em percentagem, na análise fatorial por componentes principais dos critérios de razão classificatória estabelecidos conforme a visão agronômica...

182 Figura 10. Gráfico dos critérios de classificação das categorias de solos conforme a visão dos agricultores pelo método do peso das variáveis...

222 Figura 11. Gráfico dos critérios de classificação das categorias de solos conforme a visão agronômica pelo método do peso das variáveis...

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1. INTRODUÇÃO

A agronomia é ensinada nas universidades conforme os princípios das ciências naturais, e a agricultura a partir da natureza e da realidade social, isso ocasiona em diferenças conceituais entre técnicos e agricultores, levando a incompatibilidade de diálogo entre as duas partes. A agronomia está voltada às técnicas operacionais que visam aumentar a produtividade agrícola, não considerando a complexidade e a realidade dos sistemas de produção dos pequenos produtores.

Torna-se então necessário a construção de um novo senso comum entre técnicos e agricultores, e para que isso ocorra é indispensável compreender a lógica dos sistemas de conhecimento dos agricultores, pois existindo diferenças nos conceitos agronômicos entre agricultores e profissionais da agronomia, a compreensão mútua sobre os procedimentos técnicos a ser adotados, torna-se bastante difícil. A compreensão sobre o universo do agricultor pelos técnicos, é fundamental para superar essas dificuldades.

Estudar a lógica dos sistemas de conhecimentos dos agricultores, e poder auxiliá-los com orientações técnicas adequadas à sua realidade e direcionar soluções para os problemas que enfrentam é um grande dilema.

Dessa forma essa pesquisa, buscou compreender a percepção dos agricultores tradicionais da região da Morraria em Cáceres-MT, em relação à classificação das categorias e os padrões de uso dos solos, visando perceber se há uma possível relação entre a classificação e o uso dos solos na visão dos agricultores.

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Assim, o objetivo geral deste trabalho é compreender a lógica da classificação dos solos feita pelos agricultores da região da Morraria em Cáceres-MT. Especificando:

ƒ Identificação e descrição das percepções dos agricultores sobre suas relações produtivas com os solos;

ƒ Identificação e descrição dos critérios que levam a classificação dos solos, utilizadas pelos agricultores;

ƒ Identificação e descrição dos critérios que são indicadores de categorias de solos adotados pelos agricultores;

ƒ Identificação e descrição dos critérios de ordem utilitária dos solos adotados pelos agricultores.

O presente trabalho desenvolveu-se em duas etapas, onde primeiramente foi realizada uma caracterização geral para se buscar entender a realidade da região trabalhada e a segunda etapa constou de diálogo entre pesquisador e agricultores para perceber as classificações dos solos utilizadas por eles. Dispôs da utilização de diagnóstico qualitativo, buscando valorizar o conhecimento dos agricultores e não tratá-los como um objeto a se observar, medir e pesar, mas sim, como um informante melhor informado que o pesquisador.

O tema estudado nessa dissertação originou-se de um programa que vem desenvolvendo vários projetos de pesquisa sobre sistemas agrícolas, realizados na Universidade Federal do Mato Grosso, no intuito de compreender o universo dos agricultores a partir de análises realizadas nos diferentes sistemas funcionais das Unidades Produtivas (UPs).

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Conhecimento do Agricultor

Os aspectos teóricos que fundamentaram a pesquisa estão relacionados com a compreensão do conhecimento de agricultores tradicionais, como estes acumulam e constroem o conhecimento, especificamente no que se referem à percepção destes na classificação dos solos, como instrumentos de análise.

A primeira questão a ser tratada é relacionada ao contexto de “Comunidades Tradicionais”. A discussão sobre esse tema é muito ampla e complexa. No entanto a questão conceitual que envolve a definição de “Comunidades Tradicionais”, voltada para o objetivo estudado, refere-se a grupos de pessoas com uma cultura diferenciada e que transmitem seu modo de vida de geração para geração. Estas podem viver de maneira mais ou menos isolada, mantendo relações de cooperação mútua entre as pessoas inseridas na comunidade e, relações de interdependência com o ambiente, através do uso e manejo dos recursos disponíveis que é feito de modo particular e de acordo com a adaptação ao meio em que vivem. Desta maneira, é possível exemplificar com as populações indígenas, sitiantes, comunidades ribeirinhas entre outras (DIEGUES & ARRUDA, 2001).

Os agricultores tradicionais são os que não aderiram totalmente à agricultura tecnológica. Segundo AZEVEDO (2001), esta se baseia no uso intensificado de recursos naturais e introdução de insumos externos nos sistemas de produção.

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A construção dos seus sistemas de conhecimento, parte das relações entre as estruturas que dispõem para produzir e as atividades que desenvolvem, ligadas com a diversidade, quantidade e qualidade de recursos que têm disponíveis, e ainda com o espaço que utilizam para desenvolver sua produção e sustento. Este espaço não pode ser considerado estritamente geográfico, pois vai além do território que ocupam, por exemplo, da pesca, coleta de frutos na vegetação nativa e caça, entre outras atividades de âmbito econômico que são desenvolvidas dentro ou fora da unidade produtiva (DIEGUES & ARRUDA, 2001). Estabelece-se então uma noção de espaço funcional, que é o conjunto formado pelo terreno ocupado e todos os recursos e os fatores utilizados pelo agricultor para realização da produção. Os conhecimentos adquiridos para se utilizar os recursos, provêm da organização social da produção, e este processo ocorre no momento que o espaço funcional está sendo explorado. A organização social funciona por intermédio dos recursos da natureza e do homem (AZEVEDO, 2001).

A questão leva à necessidade de se compreender a relação dos agricultores com o ambiente, o que permite conhecer os recursos que os agricultores utilizam. Com isso define-se sistema de conhecimento como um corpo que evolui dinamicamente, renovando e aprimorando constantemente o saber de determinados grupos sociais, que vive em ambiente compartilhado, para adaptação a condições de mudanças (LAURENT, 1996).

A construção do conhecimento do agricultor compreende as decisões, razões, estratégias de manejo, ou seja, os fundamentos utilizados por estes, para poder aperfeiçoar seus sistemas de produção e atender seus interesses e necessidades (AZEVEDO, 2001).

Conhecimento tradicional pode ser definido, em relação à agricultura, como o conhecimento acumulado pelos agricultores, derivado da interação das habilidades e tecnologias com o ambiente por estes (ALTIERI, 1991). Possuem um grande arsenal de culturas tradicionais, as quais devem ser compreendidas como “padrões de comportamento transmitidos socialmente,

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modelos mentais usados para perceber, relatar e interpretar o mundo, símbolos e significados socialmente compartilhados, além de seus materiais próprios do modo de produção” (DIEGUES, 1983)

O sistema de conhecimento dos agricultores não tem embasamento científico, pois é adquirido durante sua experiência de vida e produção, o que permite conhecer bem a região de sua unidade produtiva, atendendo as especificidades locais, baseando-se em características que envolvem o grupo social da região, e são transmitidos entre as gerações, através de um conhecimento empírico, que permeia o uso do ambiente. Não é estático, vai acumulando experiências ao longo dos anos, e pode em certos momentos retomar técnicas desenvolvidas no passado, e ao mesmo tempo introduzir inovações tecnológicas. A transmissão desses conhecimentos ocorre de acordo com o tipo de controle que dispõe sobre os recursos, através do próprio trabalho, pois é um saber-fazer, e envolve a transmissão de técnicas e valores, dessa forma os conhecimentos vão sendo acumulados e transmitidos historicamente (TOLEDO, 1992; ROLLING & JIGGINS, 1993; RIVERA, 1995; WOORTMANN & WOORTMANN, 1997; DIEGUES & ARRUDA, 2001).

O conhecimento dos agricultores é manifestado através de impressões, taxonomias e normas práticas, que estão relacionadas com a ideologia agrícola, que tem relação com a representação da percepção de cada individuo, podendo perceber as diferenças dentro da comunidade, sendo então importante por estabelecer outras formas para poder expressar o conhecimento, e a ideologia agrícola permitindo que as pessoas compreendam como a agricultura pode ser praticada. Dessa forma, é possível definir que existem diferenças entre o conhecimento dos agricultores que é baseado apenas na experiência, e não no estudo e origina-se naturalmente do grupo social que o envolve, ligado ao processo de sua geração e o conhecimento agronômico que é produzido através da pesquisa cientifica com estudos dos processos naturais que rodeiam os agricultores. (TOLEDO, 1990; AZEVEDO, 1999). O conhecimento agronômico se baseia no sistema de conhecimento científico restringe-se

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aos processos da natureza, e exige pesquisas para adquirir o saber, através de investigações sobre assuntos específicos e experimentos sistemáticos (TOLEDO, 1992; ROLLING & JIGGINS, 1993; RIVERA, 1995). O conhecimento científico não acompanha as necessidades dos agricultores tradicionais, por não tratar das questões sociais, limitando-se às técnicas da agricultura. Mantendo uma distância do empirismo dos agricultores (AZEVEDO, 2001).

Para entender o conhecimento dos agricultores através das classificações que são formas organizarem o conhecimento, é possível basear-se na compreensão da construção das normas práticas por eles adotadas, na compreensão que tem do ambiente e das suas relações com ele, sendo consolidado através do roteiro tecnológico que é utilizado para as tomadas de decisão, que varia conforme as situações sociais e históricas dos agricultores (ALCORN, 1989).

As relações entre os aspectos naturais e sociais estão inteiramente ligadas com os sistemas de produção, definidos como um conjunto das atividades realizadas pelo ser humano, distribuídas no seu ambiente, atingindo componentes biofísicos e socioeconômicos da região de produção agrícola (REINTJES et al., 1994). Para compreender os chamados “agricultores tradicionais”, os sistemas de produção inserem-se em modelos explicativos mais gerais onde as mudanças que podem ocorrer são ligadas à produção de bens e serviços de interesses socioeconômicos (LANDY, 1998). Geralmente, as pesquisas sobre o enfoque de sistemas de produção têm sido realizadas sem perceber o “ambiente sociológico”, ou seja: a comunidade, a unidade de produção familiar, as organizações sociais, as quais, junto com o agricultor e sua família, devem ser os maiores beneficiários das tecnologias resultantes dessas pesquisas (TOURINHO, 1994).

2.1.1 A Importância do Conhecimento do Agricultor

O grau de importância que se deve atribuir ao conhecimento do agricultor sobre o ambiente em que vive é bastante alto, pois seu poder de

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observação é parte fundamental do processo de produção. Uma prova disso é a agricultura que surgiu somente após o entendimento empírico do processo germinativo da semente pelo homem (BORGES, 2000).

Por intermédio do conhecimento que o homem possuía e o tipo de ralação que estabeleciam com o seu ambiente é que os recursos naturais eram utilizados de forma equilibrada. Assim, as técnicas agrícolas eram aperfeiçoadas ao longo das gerações sem agredir o ambiente. As criações eram integradas com os cultivos vegetais, que serviam para alimentar o homem e os animais. A fertilidade do solo era recuperada ecologicamente, pois obedecia ao principio da reciclagem de nutrientes. O solo era deixado em pousio ou cultivado com plantas forrageira, regeneradoras de fertilidade. No entanto, com o desencadear de alguns processos históricos, os sistemas produtivos de muitas comunidades entraram em colapso ou passaram por um processo de transformação. O conhecimento que agricultor contemporâneo tem sobre seu ambiente é parte fundamental do conjunto de ferramentas que formam as suas bases cientifícas. Portanto, o agricultor é um dos responsáveis pelas perspectivas futuras da etnociência (BORGES, 2000).

Segundo TORCHELLI (1983), o contato diário do agricultor com o meio, torna-o capaz de entender a complexidade existente no ambiente para produzir, tranformando-o em um “pesquisador”. MONTECINOS & ALTIERI (1992), ressaltam que esses atores são capazes de manejar, no seu ambiente de trabalho refúgios de diversidade genética com variadas espécies vegetais. Para que isso ocorra, o agricultor realiza observações, desenvolve técnicas de produção que se adaptem às condições do local e assimila seus conhecimentos à realidade que encontra, passando esse conhecimento de geração para geração.

O agricultor é o ator principal do sistema agrícola, e se desenvolve culturalmente, acumulando conhecimentos e informações que podem ser transmitidas ao longo das gerações. A sua percepção, em relação ao meio ambiente, está ligada a processos de aprendizado empírico, nos quais seu entendimento e possíveis ações podem mudar com o passar do tempo, a

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não ser que esteja relacionado a um determinado comportamento geral. Então, a capacidade dos agricultores em assimilar modelos implantados, está relacionada com o processo de suas práticas cotidianas, na observação e nas possibilidades financeiras que dispõe para redirecionar ações pré-estabelecidas (CARDOSO & RESENDE, 1996).

a pesquisa cientifíca feita em conjunto com o agricultor se enriquece com profundidade, pois por mais análises que sejam feitas no campo, o pesquisador não convive cotidianamente com a natureza, e encontra maiores dificuldades para compreende-la. Portanto, a pesquisa cientifíca que considera estas questões deve refletir o grau de compatibilidade entre os valores e cognições dos agricultores, estudando os verdadeiros vínculos existentes com o ambiente (BORGES, 2000).

2.1.2 Conhecimento do Agricultor na Etonopedologia

Ao se realizar estudo voltado para percepção dos agricultores em relação à classificação de solos, o entendimento da relação existente entre a estrutura e a função do sistema de produção se torna importante para compreender o universo que leva o agricultor a realizar tais classificações. Para melhor compreensão será feita uma breve abordagem sobre etnociência para entender as relações existentes, no que diz respeito à etnopedologia.

A etnociência baseia-se na lingüística para estudar o conhecimento de diferentes sociedades sobre os processos naturais, buscando entender a lógica relacionada ao conhecimento humano sobre a natureza, as taxonomias e classificações (DIEGUES, 1996). Sobre conceitos de etnociência, DIEGUES, 1996 comenta:

“Entre os enfoques que mais têm contribuído para estudar o conhecimento das populações tradicionais está a etnociência que parte da lingüística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os processos naturais, tentando

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descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totais”.

A etnociência implica no conhecimento do objeto em estudo, que nesse caso são os agricultores, através de um enfoque êmico. Diferente da ciência comum que parte do critério ético, o critério êmico parte do modelo conceitual do agricultor, através da visão de dentro para fora, isto é, a partir da visão de quem está sendo estudado; já o critério ético tem um modelo conceitual previamente estabelecido, através da visão de fora para dentro, Istoé, parte da visão do pesquisador para o problema, e outra diferença importante entre esses critérios é a temporalidade, pois para se fazer o entendimento do êmico é necessário compreender a construção conceitual do agricultor para entender e interpretar as informações, através de um tempo antropológico; já no ético a temporalidade é definida pelo método de coleta da informação que está relacionado aos aspectos naturais do processo. Desta forma estamos diante de uma outra ciência, que na sua origem traz contribuições da etnobiologia, da agroecologia, da geografia ambiental e das descrições etnográficas para compreender a ciência que envolve as relações dos grupos sociais com o ambiente (AZEVEDO & COELHO, 2002; SILVA, 2003).

Dentro da etnobiologia, vários campos podem ser definidos, se considerando a compartimentação cientifíca do mundo natural, tais como a etnozoologia, etnobotânica, etnoecologia, etnoentomologia, etnopedologia e etc, da mesma forma como podemos estudar diferentes sociedades a partir de uma abordagem da etnomedicina, etnofarmacologia, etc. Sendo que hoje ethno- é um prefixo popular, pelo fato de ser uma maneira curta e fácil de se dizer o modo de outras sociedades olharem o mundo. Quando utilizada com o nome de uma disciplina acadêmica, como biologia, botânica, pedologia entre outras, implica que os pesquisadores desses campos buscam compreender as percepções de sociedades locais dentro desse recorte acadêmico (HAVERROTH, 1997).

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A Etnopedologia é um campo da etnociência, e segundo KRASILNIKOV & TABOR (2003) é um termo que foi empregado por Williams e Ortiz-Solorio (1981), sendo definida como o estudo das taxonomias populares dos solos. Estes estudos iniciaram-se durante o século XX. KRASILNIKOV & TABOR (2003) ainda enfocam que o uso do conhecimento popular agrário foi discutido em inúmeros trabalhos.

Segundo BARREIRA BASSOLS & ZINCK (2003), etnopedologia é uma parte da etnoecologia, sendo uma disciplina e tem suas raízes tanto nas ciências sociais como nas ciências naturais, onde alguns campos que estão envolvidos são antropologia social, geografia rural, agronomia e agroecologia.

RYDER (2003), define etnopedologia como o estudo das relações entre usos e manejos que o agricultor dispõe para produzir (produtividade, cor, umidade, entre outros fatores relacionados com o solo). O autor sugere o termo para o estudo do tipo de sistema agrícola que a comunidade adota e ainda o tipo de ocupação, não no sentido de titulo e posse do solo, mas sim no sentido de ocupação com relação ao tipo de produção a ser estabelecido, uso e manejo do solo.

Dessa forma, etnopedologia pode enxergar em ângulos diferentes o conhecimento local. Visando estudar o solo através dos sistemas de conhecimento que populações rurais têm sobre ela, podendo ser aplicada desde populações rurais mais tradicionais até as mais modernas, para que seja possível analisar o papel ecológico e econômico dos solos (BARRERA-BASSOLS & ZINCK, 2003).

A maioria dos estudos em etnopedologia focaliza grupos que acumularam diferentes tipos de conhecimentos sobre o ambiente onde vivem, ao longo dos séculos. Estes grupos geralmente utilizam experiências que passam de geração para geração, através de um conhecimento empírico (RYDER, 2003). O conhecimento das pessoas varia de acordo com a idade, gênero, estado social e experiências; pessoas de um mesmo local podem dar respostas diferentes para as mesmas perguntas com relação à mesma situação por elas vivenciadas. Em alguns estudos feitos no Sahel

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(país do Oeste Africano), sobre os conhecimentos populares em relação ao solo, encontraram-se muitas condições comuns dentro de tradições diferentes (BARRERA BASSOLS & ZINCK, 2003).

WINKLER PRINS (1999) enfatiza a necessidade de interação do conhecimento popular com o conhecimento científico para a compreensão da percepção que os agricultores tradicionais têm com relação aos sistemas de produção que desenvolvem, enquanto TABOR (1992) recomenda que os profissionais da área da agronomia interajam com os agricultores para investigar a produtividade do solo e o valor de uso dele para sua produção, a partir do conhecimento destes e suas relações com o ambiente, para que as atividades de desenvolvimento agrário partam dos critérios de interesse do agricultor (ETTEMA, 1994; RYDER, 2003).

É difícil comparar os critérios utilizados por agricultores e por cientistas, no que diz respeito à avaliação de uma unidade produtiva. Conceitos científicos como pH, capacidade de troca de cátion, textura do solo, nutrientes entre outros, não têm sentido para os agricultores. Da mesma forma os cientistas pouco ou nada sabem sobre os critérios destes, como aroma, gosto do solo, entre outros critérios (RYDER, 2003).

BARRERA-BASSOLS & ZINCK (2003), propõem que os principais campos de pesquisa em etnopedologia devem incluir:

• Taxonomias locais de solo;

• Percepção local sobre o solo, e a explicação da estrutura do solo; • Descrição da distribuição, das propriedades, dos processos e da

dinâmica do solo;

• Conhecimento local do solo e relações do solo com outros fatores biofísicos, elementos e processos;

• Convicções, mitos, rituais e outros significados simbólicos valores e práticas que se relacionaram na administração e avaliação de qualidade de solo;

• Uso local do solo e práticas de administração do solo;

• Adaptação local, renovação e estratégias de transformação de propriedades do solo;

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• Validação de conhecimento popular, promovendo a participação dos agricultores na avaliação e planejamento de uso do solo.

As taxonomias populares além de ser de interesse histórico e antropológico, mostram diferentes formas de comunicação entre os agricultores para cada local, especialmente com relação à administração do solo, avaliação de recursos e a posse dos recursos. Estas taxonomias podem auxiliar técnicos e cientistas a compreenderem as relações dos agricultores com os recursos naturais, a partir da maneira como as populações locais conservam e monitoram os recursos. Também pode prover uma linguagem comum, entre técnico e agricultor, facilitando o entendimento entre estes e auxiliando futuras investigações no local (KRASILNIKOV & TABOR, 2003).

O procedimento da classificação vem sendo considerado essencial para explicar a lógica dos sistemas de manejo, pela ordenação de objetos, fatos, ambientes e relacionando as categorias taxonômicas que surgirem, identificados pelos agricultores, assim permitindo compreender o universo agronômico do agricultor (AZEVEDO, 2001). Estas classificações podem mostrar os fatores que limitam a administração de uma unidade produtiva e pode ajudar o pesquisador a identificar os tipos de intervenções que podem melhorar a produtividade do local, pois é possível identificar a importância do uso do solo, o valor para agricultura, correlacionando estas informações com riquezas de informações sobre os recursos naturais locais, podendo verificar e validar a taxonomia cientifica através da comparação das classificações pedológicas com o conhecimento popular (MIL-ITAREV, 1993 citado por KRASILNIKOV & TABOR, 2003).

Porém, sistemas científicos de classificação dos solos substituíram e limitaram as classificações populares, especialmente em países desenvolvidos, onde os nomes populares quando ainda existem só são válidos localmente. Apesar das limitações ainda pode-se obter informações úteis para compreender a estrutura da paisagem, as características dos solos, as finalidades destes entre outras inúmeras informações,

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principalmente em países em desenvolvimento que possuem recursos limitados para pesquisa (KRASILNIKOV & TABOR, 2003).

Essas limitações acarretaram numa perda significativa dos conhecimentos populares sobre o solo a partir dos séculos XIX e XX, acontecendo tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento. A erosão cultural levou à perda de muitas taxonomias populares e tem ameaçado as ainda existentes. As migrações intensivas resultam no descarte de culturas e conhecimento. É esperado que a perda de diversidade lingüística seja 500 vezes maior que a da diversidade biológica, com isso a perda cultural poderá ser em proporções consideráveis tanto qualitativamente como quantitativamente. Nos últimos dois séculos, estes sistemas de classificação estão desaparecendo muito rápido, perdendo-se informações potencialmente úteis. A desconexão entre o povo e a classificação de solos e as decisões de administração dos solos, vem causando perda de recursos e sérios problemas econômicos para várias comunidades, como na África, Ásia, Europa, Américas, especialmente no Senegal, Estados Unidos e Arábia Saudita (BARRERA BASSOLS & ZINCK, 2003).

A perda destes conhecimentos sobre solo continuará ocorrendo devido a inevitável expansão do conhecimento cientifico da evolução econômica e das migrações das populações. As taxonomias populares devem ser estudadas antes que se percam totalmente, pois tem alto valor econômico, social e cultural (KRASILNIKOV & TABOR, 2003).

2.2. ASPECTOS METODOLÓGICOS:

2.2.1 ESTUDOS ETNOCIENTIFÍCOS

Para a realização de um trabalho com enfoque etnocientífico, o pesquisador ao realizar a atividade de campo, tem a importante e delicada função de estabelecer uma relação de confiança mútua com a comunidade e com os informantes que participarem do processo. Para isso se torna necessário um tempo de convivência do pesquisador com o grupo, para que

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ambos se familiarizem; sendo importante esclarecer aos agricultores os objetivos da pesquisa, para que estes possam contribuir (SILVA, 2002). Desta maneira, os aspectos metodológicos que permeiam este estudo permitem a participação direta dos agricultores na pesquisa, por serem o objeto estudado, sendo uma pesquisa participativa. A pesquisa etnociêntifica quando implantada e desenvolvida, envolve os atores num amplo processo, onde as atividades para realizar a investigação exigirão compreensão e envolvimento dos participantes em todos os níveis, buscando através da participação do agricultor, conhecer e compreender seus desejos, percepções, classificações e regras para descrever o processo local (FURTADO, 2000; SILVA, 2002).

Os estudos etnocientíficos dispõem de várias técnicas de coleta de dados, utilizados isoladamente ou em conjunto dependendo do objetivo do trabalho e dos recursos e tempo disponíveis. As técnicas para a coleta dos dados podem ser classificadas em dois grandes grupos: os métodos qualitativos e os quantitativos. Os métodos qualitativos são voltados aos estudos que buscam entender os processos mais gerais do manejo de organismos e do ambiente, além do contexto cultural que envolve essas práticas. Enquanto os métodos quantitativos são destinados aos temas mais pontuais, o que permite uma quantificação e facilita a comparação. Os dois métodos podem ser utilizados; ser adotados individualmente ou se intercruzarem, dependendo do propósito do trabalho, pois são conciliáveis (AZEVEDO & COELHO, 2002).

Através da investigação com diagnósticos qualitativos sobre a realidade social, é possível valorizar os conhecimentos dos agricultores. Aproximando as áreas de pesquisa entre si, e aos agricultores. Tratando estes, não mais como um objeto a observar, medir e pesar, mas sim, como um informante, que é mais informado do que o pesquisador que o interroga. Desta forma, favorece a comunicação e o entendimento entre os agricultores e os profissionais da agronomia. Os métodos qualitativos de pesquisa, não são uma particularidade, apenas dos cientistas sociais, já que o uso eficiente dessas metodologias depende do problema a ser abordado, podendo ser

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utilizadas em todas as áreas especializadas, que abordem pesquisas qualitativas (SPERRY, 1998).

Das técnicas de coleta de dados a entrevista é uma das mais usadas, por ser adaptável a vários campos de pesquisa (GIL, 1987). Dentre os métodos de entrevista será brevemente abordada sobre as técnicas utilizadas para se realizar o trabalho.

A entrevista semi-estruturada apresenta certo grau de estruturação, já que é guiada por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando no decorrer da entrevista, é informal (RICHARDSON, 1985). O pesquisador deve conhecer previamente os aspectos a serem pesquisados, formulando pontos a tratar nas entrevistas. O pesquisador deve permitir que o informante tenha liberdade de expressar-se como quiser. As pautas devem ser ordenadas, dessa forma trata-se de uma conversa dirigida com temas pré-determinado, com flexibilidade para incluir aspectos que não estavam na pauta, mas que podem enriquecer a investigação. Para realização deste tipo de entrevista é recomendado preparar um roteiro, para que nenhum aspecto seja esquecido, porém o guia serve apenas como um lembrete na hora da entrevista, não é um questionário, o que permite extrapolar quando necessário, os assuntos previamente definidos (AZEVEDO & COELHO, 2002).

Entrevista aberta enfoca um tema específico e se obtém uma visão geral do problema pesquisado. O entrevistador não deve formular perguntas, e sim sugerir o tema a ser abordado, levando o entrevistado a refletir sobre esse tema. Este tipo de entrevista é recomendado para estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador, ou então oferecer visão aproximada do problema pesquisado permitIndo aprofundamento maior nas questões investigadas (RICHARDSON, 1985; GIL, 1987).

Os entrevistadores devem ter os seguintes cuidados na hora de realizar a entrevista (AZEVEDO, 2001):

1) Na abordagem inicial, esclarecer ao entrevistado o motivo da entrevista, explicando a pesquisa e o motivo da presença do entrevistador;

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2) Explicar que nem o entrevistado e nem o entrevistador teriam vantagens pessoais com a entrevista, esclarecendo que a investigação tem o objetivo de aumentar o conhecimento da realidade, sendo que neste sentido os benefícios poderiam vir a existir;

3) O tratamento com entrevistado deve ser de respeito, no sentido de que ele é quem sabe sobre o assunto abordado;

4) A realização da entrevista deve obedecer à disponibilidade de tempo do entrevistado, sendo previamente agendada, a duração não deve levar ao tédio, considerando que o entrevistado tem ocupações e afazeres;

5) Não interromper a entrevista caso o entrevistado forneça uma informação errada, para não inibir o entrevistado, cabe ao entrevistador o bom senso, para analisar o fundamento da resposta errada;

6) Manter o entrevistado relaxado para que o período da entrevista seja agradável;

7) Gravar as entrevistas se o entrevistado permitir e depois transcrever;

8) Ter cuidado com as palavras utilizadas, pois podem ter significados diferentes para entrevistador e entrevistado, não usar termos técnicos, pois não fazem parte do universo do agricultor;

9) O entrevistador deve guiar a entrevista, mostrando ao entrevistado os temas as serem abordados a cada momento.

Os questionários, guias e manuais são importantes na pesquisa á campo, porém é importante estabelecer uma relação de confiança com o informante-chave. Dessa forma é necessário que o pesquisador tome cuidado para não impor as suas próprias idéias aos informantes. Também é importante ser cuidadoso com as formas não-verbais de comunicação (reações de descrença, desagrado ou reprovação), pois podem recuar o informante e prejudicar e limitar a aquisição de dados (SILVA, 2002).

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2.2.2 USO DAS ANÁLISES MULTIVARIADAS NOS ESTUDOS

A aplicação de técnicas de análise multivariada em investigações agrícolas, que se inserem em pesquisas de âmbito na etnociência, vem sendo muito utilizada, pois trata simultaneamente das relações que ocorrem nas diversas variáveis qualitativas ou quantitativas que são encontradas e normalmente o número de variáveis que é obtido é muito grande (CALORIO, 1997).

Estatística multivariada é definida como um conjunto de métodos estatísticos que permite a análise simultânea de medidas múltiplas para cada indivíduo ou objeto, com objetivo de simplificar os dados, descrevendo a informação com um número reduzido de variáveis encontradas na análise (REIS, 2001).

Um dos métodos mais populares de análise fatorial, é o dos componentes principais, é um método que possibilita organizar a interpretação dos dados, indicando se há relação ou não entre as variáveis, permitindo analisar o conceito de diferentes variáveis, visando simplificar os dados reduzindo o número de variáveis necessário para descrição. Explica a correlação entre as variáveis observáveis, que são geradas pelas suas relações com um número de variáveis subjacentes, designadas por fatores comuns informando o que existe de comum nas variáveis originais, reduzindo a dimensão dos dados originais, sem que ocorra perda de informações (PESTANA & GAGEIRO, 2000).

A metodologia com utilização de métodos multivariados vem sendo muito empregada em diversas pesquisas como citado por ESCOBAR & BERDEGUÉ (1990). AZEVEDO (1996) usou está técnica para Tipificação de Sistemas Agrícolas, visando estudar as Alterações espaciais e temporais da agropecuária do estado de Mato Grosso percebendo os reflexos na regionalização do estado no período de 1970 a 1985. CALORIO (1997) utilizou na análise de sustentabilidade em estabelecimentos de agricultura familiar no Vale do Guaporé no estado do Mato Grosso, entre outros.

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O cálculo do peso relativo de cada variável na variação total dos dados, confere peso às informações e possibilita a hierarquização das variáveis é uma metodologia proposta por YING & LIU (1995), utilizada na definição de pesos para variáveis em análise de impacto ambiental.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 ÁREA DA PESQUISA

O objeto deste estudo foram agricultores da região da Morraria no Município de Cáceres, estado do Mato Grosso. Segundo estes a região, recebeu tal nome por possuir muitos morros. Nesse local encontram-se diversas comunidades tradicionais, que são antigas áreas de Sesmarias, e hoje são consideradas pelo INCRA como áreas devolutas.

As comunidades estão localizadas em áreas denominadas Bocainas, (áreas que se localizam entre duas ou mais serras). Sendo que cada uma recebe um nome diferente, para denominar a localidade, e em alguns casos é o nome da própria comunidade.

Este trabalho foi realizado em quatro comunidades:

• Comunidade Nossa Senhora do Carmo, localizada no km 22 na MT-343 de Cáceres a Barra do Bugres, conhecida como Taquaral. Nessa região foi construída uma igreja em homenagem à santa; com coordenadas 15°58.930’ latitude sul e 57°31.232’ longitude oeste de Gr. Participaram na pesquisa seis UPs das sete que compõem essa comunidade.

Comunidade Nossa Senhora da Guia, localizada na Bocaina do Taquaral, entre a serra Taquaral e a serra do Poção. Do km 24 ao 30 na MT-343, encontra-se uma média de trinta unidades produtivas, divididas em duas localidades, Chapadinha e Barreiro Vermelho, as lideranças reconhecem apenas quinze famílias como participantes da comunidade. A igreja encontra-se nas coordenadas 15°54.663’ latitude sul e 57°31.055’ longitude oeste de Gr. Nesta etapa inicial doze UPs participaram.

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Comunidade Sagrado Coração de Jesus, localizada aproximadamente a 20 km da comunidade de Nossa Senhora do Carmo, fora da rodovia MT-343, na Bocaina de Santana. Nesta região existe uma média de quatorze UPs, divididas em duas localidades, Santana e Retiro. A escola rural e a igreja apresentam coordenadas 15°53.666’ latitude sul e 57°26.988’ longitude oeste de Gr. Nessa etapa doze UPs participaram.

Comunidade Todos os Santos, localizada na Bocaina Água Branca, fora da rodovia MT-343, próxima à comunidade de Sagrado Coração de Jesus. Existem sete UPs, onde seis participaram desta etapa. A igreja da comunidade encontra-se nas coordenadas 15°56.345’ latitude sul e 57°28.194’ longitude oeste de Gr.

3.2 FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS

A base da metodologia adotada é o conhecimento do agricultor sobre a UP (Unidade Produtiva), que é toda área utilizada pelo agricultor para desenvolver seu sistema de produção, independente da área estar situada ou não na propriedade em que reside (Azevedo, 2001). Todos os dados do trabalho se basearam em informações fornecidas pelos próprios agricultores. Visando o conceito de sistema de produção, através do conjunto de atividades que o agricultor realiza, obedecendo a sua lógica de manejo, com base nos recursos disponíveis na natureza, para realizar a produção desejada (ALCORN, 1989; AZEVEDO, 2001). Dessa Forma a caracterização do uso e classificação dos solos, deve partir da descrição e relações dos elementos que os agricultores estabelecem para produção.

O presente trabalho desenvolveu-se em duas etapas. A primeira contou da coleta de dados, sendo que estavam envolvidos mais três pesquisadores, no estudo da caracterização geral da área estudada. Cada pesquisador focalizou um tema específico na segunda etapa dos trabalhos, utilizando as informações obtidas na primeira etapa individualmente, de acordo com os temas em estudo. A equipe foi composta pela doutoranda Maria Virginia Almeida da Escola Técnica Superior de Engenheiros Agrônomos e Florestais do Instituto de Sociologia e Estudos Campesinos da

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Universidade de Córdoba – Espanha, pela autora e os mestrandos Daniela Pereira dos Santos Godoy, Mauro Corrêa da Costa, inseridos no Programa de pós-graduação em Agricultura Tropical da Universidade Federal do Mato Grosso.

Antes de iniciar as atividades a campo, foram realizadas reuniões com as comunidades estudadas, com o intuito de esclarecer os objetivos das pesquisas e pedir autorização dos agricultores para realização das mesmas no local.

Na primeira etapa foi realizada a caracterização geral de um conjunto de trinta e seis UPs, sendo doze UPs da comunidade Sagrado Coração de Jesus, doze UPs da comunidade Nossa Senhora da Guia, seis UPs da comunidade Todos os Santos e seis UPs da comunidade Nossa Senhora do Carmo, na região da Morraria em Cáceres, estado de Mato Grosso.

A partir do banco de dados construído com as informações obtidas na primeira etapa, definiu-se um número menor de UPs para o aprofundamento da pesquisa, o critério de escolha destas foi enfocado no item 3.2.2 Princípios Metodológicos da segunda etapa. Participaram da segunda etapa quatro UPs na comunidade Sagrado Coração de Jesus, quatro UPs na comunidade Nossa Senhora da Guia e uma UP da comunidade Nossa Senhora do Carmo. A estrutura metodológica dessa etapa constituiu em identificar e descrever as percepções dos agricultores sobre suas relações produtivas com os solos, identificar as classificações de solo utilizadas pelos agricultores, identificar os procedimentos técnicos adotados pelos agricultores e identificar e descrever as regras de operação agronômica no solo adotada pelos agricultores.

3.2.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL – 1ª ETAPA

Na etapa inicial do estudo buscou-se caracterizar as estratégias de manejo dos agricultores da região em relação aos seus sistemas de produção. Realizou-se no período de 30/05/2003 à 19/06/2003.

Na figura 1 é apresentada à síntese das etapas realizadas na primeira etapa da pesquisa.

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ELABOR AÇ ÃO D O R O TEIR

O-G UIA E D O MANU AL

REU NIÃO PAR A R ECEB ER O ACEITE D OS AGR ICU LTOR ES PARA R EALIZAÇÃ O D A PESQ UISA REALIZAÇ ÃO DAS E NTREVISTAS C ON FE CÇ ÃO DO S CR OQ U IS SISTEMATIZAÇ ÃO DO S D ADO S BANC O DE D ADO S VISITA IN IC IA L PA RA CONH EC ER A ÁR EA DE P ESQU ISA

Figura 1. Síntese da Estrutura Metodológica da primeira etapa da pesquisa: Caracterização geral.

O trabalho de campo dividiu-se nas seguintes etapas:

1) Elaboração de um roteiro-guia em forma de questionário com perguntas dirigidas, sendo utilizado como um guia dinâmico e de um manual explicativo para o uso do questionário, visando orientar o entrevistador sobre o conteúdo e forma das questões adotadas, para não ser esquecida nenhuma informação importante. As questões abordadas nas entrevistas basearam-se na realidade da região, entre outras situações e nas indicações da literatura; o guia foi elaborado pela equipe que realizou a pesquisa;

2) Reunião com as comunidades, onde através destas com os agricultores foi explicado novamente o trabalho e recebeu-se informalmente na reunião o aceite dos agricultores que desejaram participar da investigação;

3) No trabalho de campo foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, visando proporcionar liberdade de expressão do entrevistado; as entrevistas objetivaram a caracterização das UPs e das comunidades, através da história oral sobre as UPs e as comunidades, as entrevistas foram gravadas quando o entrevistado permitiu. O roteiro-guia de entrevistas serviu como orientação para a coleta de dados, assim sendo feita de modo o mais adequado possível. Foi realizado o mapeamento social conforme proposto por MIKKELSEN (1995), para descrever o processo social de

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ocupação do espaço, foi pedido para os entrevistados (agricultor e família), que elaborasse um croqui desenhando sua UP, localizando todas as unidades e subunidades que funcionam na UP, e as áreas dentro da UP, para identificação das unidades de manejo. Alguns agricultores deram preferência em desenhar no chão de terra e não no papel que foi fornecido pelo entrevistador, dessa forma o pesquisador copiava o desenho para o papel. Para localizar as UPs, estas foram georeferenciadas com o auxílio de um GPS.

4) Sistematização dos resultados obtidos na primeira etapa, armazenando os todos os dados coletados das entrevistas e com o croqui feito pelo agricultor e sua família, além das observações de campo feitas pelos membros da equipe, em um banco de dados nos programas Access e Excel (ALMEIDA, COLICIGNO & PEZZOLI, 1997; UNONIUS, 1999). As partes das entrevistas que foram gravadas estão transcritas e armazenadas no banco de dados.

3.2.1.1 REALIZAÇÃO DAS ENTREVISTAS

Os aspectos abordados no guia e manual de entrevistas adotados nessa etapa do trabalho foram:

1) Informações Gerais: Identificação com o código da UP, com os nomes da equipe que coletou os dados, nomes dos informantes e a data da coleta dos dados, Identificação da UP com o histórico do agricultor e de sua família, história da comunidade, história da UP e composição da família;

2) Saúde e Educação Familiar: Doenças mais comuns dos membros da família, Assistência médico-hospitalar, Pessoa da comunidade que orienta nos momentos de doença, Educação da família, Padrão de alimentação da família;

3) Croqui e Mapeamento da UP;

4) Caracterização da UP: Área total e utilização do solo, Caracterização da (s) mata (s), Caracterização das aguadas, Benfeitoria, Cercamento, Máquinas e implementos disponíveis, Animais de tração e de serviço, Aspectos conservacionistas da UP e Sistema extrativista;

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5) Calendário Agrícola;

6) Economia da UP: Componentes que entram e saem da UP e quantidade, Financiamentos, Mão-de-obra contratada e o tempo gasto na UP, Fontes de renda (outras que não a auferida na UP), Meios de transporte utilizados para escoamento da produção, Produção e necessidade de compra.

Os cuidados tomados pelos investigadores durante a entrevista, foram baseados nas informações de Azevedo (2001). As entrevistas foram realizadas por grupos de dois investigadores para evitar perdas de informações dos dados levantados. O registrou-se as respostas obtidas durante a entrevista, através de anotações, sempre utilizando as mesmas palavras que o entrevistado enfocava evitando o resumir as respostas, e quando o agricultor permitiu foram gravadas.

3.2.2 METODOLOGIA DA 2ª ETAPA

Essa etapa foi realizada em nove UPs de agricultores de três comunidades da região da Morraria: quatro UPs da Comunidade Sagrado Coração de Jesus, quatro da Comunidade Nossa Senhora da Guia e uma da Comunidade Nossa Senhora do Carmo. O nome das UPs investigadas, e das comunidades / localidades as quais estão inseridas, estão citados na Tabela 1.

Tabela 1. UPs pesquisadas e nomes das comunidades e localidades a qual pertencem na região da Morraria, Cáceres-MT.

Código

da UP Nome da UP Comunidade Localidade

N001 Fazenda Chapadinha Nossa Senhora da Guia Chapadinha N005 Sítio Santo Antônio Nossa Senhora da

Guia Chapadinha

N010 Sítio Barreiro Vermelho Nossa Senhora da Guia Barreiro Vermelho N011 Sítio Nossa Senhora Aparecida Nossa Senhora do Carmo Chapadinha

Sítio São Francisco Nossa Senhora da

Guia Chapadinha

N012

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Continuação da Tabela 1. UPs pesquisadas e nomes das comunidades e localidades a qual pertencem na região da Morraria, Cáceres-MT.

Código

da UP Nome da UP Comunidade Localidade

S003 Não definiu o nome Sagrado Coração de

Jesus Santana

S006 Sete Estrela Sagrado Coração de

Jesus Retiro

S009 Sítio São José Sagrado Coração de

Jesus Santana

3.2.2.1 Identificação e Descrição das Percepções dos Agricultores sobre suas Relações Produtivas com os solos

Nessa etapa do trabalho o foco central, foi identificar as categorias de solos utilizadas pelos agricultores, identificar os procedimentos técnicos adotados pelos agricultores e identificar e descrever regras de operação agronômica no solo, adotadas pelos agricultores. Realizada no período de 20/08/2003 à 06/09/2003.

Na Figura 2 apresenta-se a síntese das etapas realizadas na segunda fase da pesquisa e abaixo da figura em seguida a explicação completa dos passos realizados.

Figura 2. Síntese da Estrutura Metodológica da segunda etapa da pesquisa: Identificação e Descrição das Percepções dos Agricultores sobre suas Relações Produtivas com os solos.

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O trabalho de campo dividiu-se nas seguintes etapas:

1) Foi elaborado um roteiro-guia simples enfocando os aspectos: • Os tipos de solos existentes (Considerando a experiência na UP e fora da UP);

• Os critérios para identificação desses tipos de solos (Os critérios que o agricultor considera: nome do solo, cor, textura, produtividade, umidade, etc);

• Como são realizados o uso e o manejo para cada tipo de solo que foi identificado pelo agricultor;

• Identificar o uso do solo, ciclos de uso, identificado o tempo de uso das áreas de cultivo (de acordo com a categoria do solo);

• Identificação do tipo de solo que o agricultor considera ideal (Qualidade do solo/ desvantagem e vantagem do solo);

• Onde e como obtiveram conhecimentos sobre solo, e como e onde são obtidas atualmente e como é realizado o processo de transmissão desses conhecimentos.

2) Informantes: Foram escolhidos informantes-chaves, a partir de análises do banco de dados da primeira etapa, onde os dados foram organizados de forma qualitativa e quantitativa; o critério de escolha dos agricultores foi a partir da disponibilidade de tempo e o desejo destes em participar da entrevista. Os informantes chaves foram os responsáveis pela UP, sempre do sexo masculino, pelo fato deles se considerarem mais capazes de fornecer maiores informações, terem mais experiências e conhecimentos com relação à classificação e demais características dos solos, do que as mulheres, sendo que estas mesmas indagaram não entender sobre solo, dizendo esse assunto ser de domínio dos homens da família;

3) A campo: Inicialmente foram feitas visitas explicando a continuidade do trabalho, recebendo o aceite dos agricultores e agendando entrevistas.

4) Coleta de Dados: A partir das informações obtidas, aprofundou-se sobre o conhecimento dos agricultores a respeito de solo, através de

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