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PEDAGOGICAL OBSERVATION NETWORK UNIT, THE STEA EXPERIENCE WITH A LANDSMAN FAMILY IN FILHOS DE SEPÉ SETTLEMENT, VIAMÃO-RS

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Pelotas - RS, 06 a 08 de julho de 2016

SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção

REDE DE UNIDADE DE OBSERVAÇÃO PEDAGÓGICA, A EXPERIÊNCIA DA ATES COM UMA FAMÍLIA DE CAMPONESES NO ASSENTAMENTO FILHOS DE SEPÉ, VIAMÃO-RS

PEDAGOGICAL OBSERVATION NETWORK UNIT, THE STEA

EXPERIENCE WITH A LANDSMAN FAMILY IN FILHOS DE SEPÉ SETTLEMENT, VIAMÃO-RS

Dayana Cristina Mezzonato Machado1, Antonio Marcos Vignolo2, Pedro Silvino

Neumann3, Sarita D’Ávila dos Santos4.

1 dayanacmma@gmail.com, UFRGS/COPTEC; 2 amvig74@yahoo.com.br, Termo de

Cooperação INCRA/UFSM; 3 Termo de Cooperação INCRA/UFSM; 3

neumannsp@yahoo.com.br, UFSM; 4 sarita3jan@yahoo.com.br, COCEARGS.

Grupo 1. Fundamentos teórico-metodológicos da abordagem sistêmica aplicada à agricultura.

Resumo

O presente trabalho relata a experiência de construção da Unidade de Observação Pedagógica (UOP) relativa ao sistema de produção Hortaliças e Policultivos no Assentamento Filhos de Sepé, Viamão, Rio Grande do Sul. A experiência é parte da Rede de Unidades de Observação e Referência Pedagógica (RUOP), ferramenta metodológica da extensão rural voltada às áreas de reforma agrária, desenvolvida através do programa de Assessoria Técnica Social e Ambiental no Rio Grande do Sul (ATES-RS). Os instrumentos da gestão agrícola e da Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários foram considerados capazes de contribuir para a

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qualificação do trabalho da ATES-RS, o que permitiu a criação, em 2012, da RUOP buscando uma representatividade dos principais sistemas de produção dos assentamentos do estado do RS ao mesmo tempo em que fosse possível refletir sobre os condicionantes e potencialidades de tais sistemas adotados pelos agricultores assentados. Neste relato, buscou-se descrever o processo de construção entre técnicos e agricultores da UOP hortaliças e policultivos, bem como apresentar alguns resultados dos indicadores econômicos do sistema estudado. Observou-se que a construção desObservou-se referencial metodológico contribuiu para o conhecimento detalhado e sistematizado do sistema hortaliças e policultivos, tanto pelos técnicos quanto pelos agricultores.

Palavras chave: Metodologias. Extensão Rural. Assentamento. Sistemas Agrários.

Abstract:

This paper describes the construction experience of the Pedagogical Observation Unit (UOP) of the production system vegetables and polycultures in Assentamento Filhos de Sepé, Viamão, Rio Grande do Sul, as part of the Note Units and Educational Reference Network (RUOP ). This is a methodological tool extension applied to the areas of land reform, through the Social Assistance Technical and Environmental program in Rio Grande do Sul (RS-ATES). The tools of farm management and analysis Diagnosis of Agrarian Systems were considered able to contribute to the improvement of the work of ATES-RS, which allowed the creation in 2012 of RUOP, where one could have a representation of the main production systems state settlement and a reflection on the conditions and potential of such systems adopted by farmers settled. In this report, we attempted to describe the process of construction between technicians and farmers UOP vegetables and and present some results of the economic indicators of the studied system. It was noted that the construction of this methodological framework contributed to the detailed and systematic knowledge of the system and vegetables polycultures by both technical and farmers.

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Introdução

Em 2009 o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) contratou serviços de Assessoria Técnica Social e Ambiental (ATES) para 11.011 famílias de agricultores assentados no Rio Grande do Sul, localizadas em 303 Projetos de Assentamentos (PA) ocupando um total de 87 municípios gaúchos (Dalbianco e Neumann, 2012)1. A ATES é uma política federal de assessoria técnica e extensão rural exclusiva para assentamentos de reforma agrária criado em 2003 como parte da Política Nacional de Assistência Técnica (PNATER). Dentre os fatores que contribuíram para a criação da ATES, Dias (2004) considera que a pressão social promovida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) “diante da expectativa de realização de um processo amplo de reforma agrária mediante a formulação do II Plano Nacional de Reforma Agrária” (Dias, 2004, apud Neumann e Dalbianco, 2012).

O Manual do Programa de ATES considera que a assessoria técnica deve atuar para diminuir a pobreza, consolidar sistemas produtivos existentes e matrizes produtivas baseadas na agroecologia, além de realizar mediações necessárias para se integrar políticas públicas e programas institucionais, inserindo as famílias aos mercados institucionais e outros programas de políticas, sendo, portanto, “fundamental e estratégica para a promoção do desenvolvimento sustentável dos assentamentos, apoiada em referências conceituais da agricultura familiar e da agroecologia”. (PROGRAMA DE ATES RS, 2014, p. 11).

Em 2012, o Conselho Estadual da ATES2 propôs a criação da Rede de Unidades de

Observação Pedagógica (RUOP) com o objetivo de superar o caráter genérico das metas do programa e qualificar a atuação das equipes técnicas a partir da reflexão sobre os “condicionantes, limites e potencialidades dos sistemas de produção adotados pelos assentados e também para a geração de referências técnicas e econômicas para o desenvolvimento sustentável dos assentamentos em bases locais e/ou regionais” (ATES/RS, 2013, p. 7).

Para cumprir tal objetivo ficou estabelecido enquanto meta estadual do programa de ATES que em cada Projeto de Assentamento (PA), a cada cem famílias de agricultores, deveria ser construída uma Unidade de Observação Pedagógica (UOP) a partir da abordagem dos

1 No final de 2012 foi contratado serviço de ATES para o Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, somando-se

mais 376 famílias.

2 Conselho Estadual é uma instancia do programa em que reúne as instituições que definem as ações do mesmo

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sistemas agrários (Manual de ATES, 2012), o conjunto dessas UOP’s permitiria formar a rede. De acordo com Pinheiro (1997):

A abordagem de sistemas na agricultura emergiu numa era “pós-revolução verde”, em decorrência das crescentes criticas e fracassos das ações de desenvolvimento rural convencionais. Foi apresentada como uma alternativa, sobretudo para os produtores familiares e de recursos (físicos e financeiros) escassos, tradicionalmente marginalizados e a beira do processo de exclusão social. (PINEHIRO et al, 1997, p. 3)

Segundo Pinheiro (1997) a abordagem sistêmica é parte da construção de um Desenvolvimento Rural que considera agricultores, cientistas e técnicos sujeitos portadores de conhecimento. Assim, a extensão rural existe a partir de uma relação dialógica entre esses sujeitos sociais, em que técnica e tecnologia não são neutras, ao contrário são elaboradas a partir dos objetivos de cada sistema agrário. É a partir do conhecimento especializado do agricultor, em parceria com técnicos e pesquisadores, que se elabora a tecnologia mais apropriada ao sistema agropecuário em questão. Por essa razão, o trabalho a partir de tipologias de sistemas agrários, no qual se voltam às atenções para as dimensões socioeconômicas do agroecossistema específico, tornou-se uma possibilidade real de uma extensão rural que se propõe a superar os limites do modelo tradicional difusionista.

O presente texto tem por objetivo relatar a experiência da Unidade de Observação Pedagógica enquanto ferramenta metodológica de extensão rural da ATES. O relato está baseado na experiência desenvolvida entre a equipe técnica de Viamão e a família de agricultores do Assentamento Filhos de Sepé, E. K. e N. P., sobre o sistema de produção de hortaliças e policultivos, no período compreendido entre janeiro de 2013 a agosto de 2014. Além dessa introdução e das considerações finais, o relato traz três seções. A primeira discute os elementos metodológicos desenvolvidos entre mediadores e agricultores para a implantação da UOP. Na segunda seção é apresentado o funcionamento da UPA, os dados e alguns resultados da UOP. Na terceira seção são apresentados alguns desafios para a continuidade do trabalho de extensão rural a partir da análise dos sistemas agrários.

Mediadores e agricultores: os caminhos percorridos

Os técnicos das equipes de ATES e os Assessores Técnicos Pedagógicos (ATP) participaram de oficinas estaduais de capacitação no intuito de conhecer os objetivos e a

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metodologia de construção da RUOP, tais oficinas aconteceram no âmbito dos Encontros Estaduais da ATES realizadas na Universidade Federal de Santa Maria.

No Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, o trabalho da RUOP começou no início de 2013, o critério utilizado pela equipe de ATES para definir os responsáveis pela implantação e acompanhamento da RUOP foi afinidade e familiaridade com o tema da gestão agrícola. Em um primeiro momento, as inúmeras planilhas do Excel, as diversas fórmulas e os cálculos se apresentaram como limitantes para envolver todos os profissionais3 da equipe, assim, a tarefa ficou sob a responsabilidade de uma profissional, da área das agrárias, que juntamente com a ATP realizaram a análise do sistema agrário da região e construíram as tipologias.

De acordo com Neumann e Fialho (2007) compreender a realidade complexa requer conhecimento do geral e do específico, de maneira que seja possível analisar de que maneira a dinâmica rural da região determina ou influencia as condições dos sistemas de produção praticados pelo agricultor. Afirmam ainda que é fundamental compreender e respeitar a heterogeneidade dos sistemas de produção para atuar de maneira condizente com cada realidade, superando a visão homogeneizadora. Para a análise sistêmica torna-se necessária a estratificação da realidade, em que as categorias de estudo são grupos homogêneos, tais como as tipologias dos sistemas de produção.

Optou-se por considerar o assentamento Filhos de Sepé enquanto região para a análise do sistema agrário, tendo em vista a sua extensão territorial, o número de famílias e a diversidade de produção.

O Assentamento Filhos de Sepé e os sistemas de produção

O assentamento é composto por 376 famílias, distribuídas em quatro setores de moradia, que ocupam um território aproximado de 7500 ha, localizados no município de Viamão, RS. O assentamento foi constituído, em 1998, por famílias provenientes de diversas partes do estado, em especial o noroeste, região do Alto Rio Uruguai. Tal condição conferiu à comunidade assentada características culturais e experiências de vida diversas (PREISS, 2013).

O PA está situado dentro de uma área de preservação ambiental, denominada APA do Banhado Grande, e suas águas são efluentes para o rio Gravataí, que abastece a população e indústrias desse município. Além disso, o assentamento é zona de amortecimento do Refugio

3 Todas as planilhas para a construção da UOP foram previamente elaboradas pelo Programa de Assessoria da

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da Vida Silvestre Banhado dos Pachecos (RVSBP), que abriga algumas dezenas de espécies ameaçadas de extinção, dentre elas o cervo do pantanal, o qual tem como a única população gaúcha aquela que vive no RVSBP (DIEL, 2012).

Tais particularidades ambientais colocaram o assentamento em condições especiais para a prática agrícola. No ano de 2004 foi auferido um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) no qual ficou estabelecida como condição para existência do assentamento a proibição do uso de fogo e do arrendamento de terras e águas, bem como produção agrícola livre de agrotóxicos e transgênicos (DIEL, 2012).

Apesar dessas condicionantes, o fato de o assentamento estar localizado em uma região de planície costeira (área de várzea), acrescidos aos fatos de possuir a nascente de Águas Claras e uma barragem com 500 ha de superfície d’água o coloca em condições potenciais para a produção de arroz ecológico. Atualmente o perímetro irrigável é de 1600 ha, localizados em uma zona denominada lotes de produção, com disponibilidade para aproximadamente 140 famílias, com área média de 12 ha cada. Dados da produção de arroz ecológico no ano agrícola 2014-2015 (Fonte: Distrito de Irrigação) demonstram que houve o envolvimento de 130 famílias, em uma área total de 1300 ha, o que totalizou a produção de 5,8 mil toneladas de arroz seco em casca.

Para além do arroz ecológico tem sido crescente a produção de hortaliças diversas (tais como folhosas, tubérculos, cucurbitáceas); frutíferas (caqui, pêssego, goiaba, citros) e outros grãos, como o milho, feijão e amendoim. Diferentemente do arroz, essas atividades agrícolas são desenvolvidas junto aos lotes de moradia, também denominados lotes secos, que em média atingem entre um e dois hectares. São aproximadamente 50 famílias envolvidas com a produção comercial de hortaliças e frutas em um território de aproximadamente 75 ha. Os dados abaixo, coletados pela equipe de ATES, ajudam a demonstrar a produção atual desses alimentos. Os mesmos podem ser encontrados no Sistema Integrado de Gestão Rural da ATES (SIGRA).

212.850 30.390 11.436 47.630 20.330 2.163 5.770 2.800 1.500 262.024 mandioca batata doce

moranga abóbora milho feijao melancia amendoim cebola hortaliças

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2. 3.

Gráfico1: Produção em Kg de hortaliças diversas, tubérculos e grãos. Fonte: SIGRA, 2013.

Gráfico 2: Produção em Kg de frutas. Fonte: SIGRA, 2013.

Há também a produção animal, em que predomina a criação de gado de corte, num total de aproximadamente 2000 cabeças (SIGRA, 2013). O rebanho de gado leiteiro, com produção de leite e seus derivados e a criação de pequenos animais, como galinha, porco, ovelha e cabra, correspondem, em geral à produção para o autoconsumo; no entanto, essas atividades têm ganhado espaço como complemento de renda agrícola entre as famílias assentadas.

37.840

3.228

7.950

3.780 3.842

95 98 3.065 420 800

caqui pessego bergamota laranja goiaba banana ameixa figo abacate uva

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Gráfico 3: Número de famílias com rebanho bovino divididos em gado leiteiro e gado de corte. Fonte: SIGRA, 2013.

A partir da análise da dinâmica agrícola regional, no caso, o assentamento, chegou-se a construção da seguinte tipologia:

Quadro 01: Demonstrativo das tipologias da região Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão. Fonte: COPTEC, 2013. 1986 125 1154 179 Nº de cabeças Nº famílias criadoras

Famílias criadoras de rebanho bovino, 2013

Leiteiro Corte

Sistema de produção Tipos Sub-tipos Famílias

arroz + policultivo 15 famílias

arroz + animais 8 famílias

arroz 76 famílias

arroz + policultivo 3 famílias

arroz + animais 7 famílias

arroz 11 famílias

Hortaliças + animais 3 famílias

Hortaliças + policultivos 4 famílias Arroz Orgânico (120 fam.)

Parceria (99 fam.) Coletivo / Cooperado (21 fam.) Hortaliças (51 fam.) até 1 há 1 a 2 há

mercado formal (feiras, mercados institucionais, restaurantes, mercados, etc.) e

informal. 19 famílias

mercado formal (feiras, mercados institucionais, restaurantes, mercados, etc.) e

informal 25 famílias

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Para estudo e análise das Unidades de Produção optou-se por duas unidades de produção de arroz ecológico, sendo uma experiência individual e uma experiência de grupo coletivo; e uma terceira unidade de produção de hortaliças e policultivos (em destaque no quadro acima). Tais escolhas buscaram refletir os principais sistemas produtivos que o assentamento desenvolveu ao longo dos seus 15 anos de história.4

O diálogo entre agricultores e mediadores

Depois de realizado o estudo acerca dos sistemas produtivos e suas tipologias, iniciou-se o trabalho de mobilização com os agricultores, em que foi realizada visita aos agricultores para apresentação da proposta de instalação da UOP, objetivos e metodologia de trabalho. Para representar o sistema produtivo de hortaliças e policultivos foi escolhida a família de E. K. e N. P., que aceitou a proposta e prontamente se envolveu com a ferramenta sugerida.

Na primeira visita, dedicada à coleta de dados, foi possível identificar que o sistema produtivo da família (que será apresentado na próxima seção) estava organizado de uma maneira extremamente complexa. Próprio da racionalidade camponesa, o sistema produtivo envolve uma rede de conexões entre os diversos cultivos, em que terra, força de trabalho e insumos apresenta-se de maneira quase indissociável. Assim, o trabalho de coleta exigiu complexa base de cálculos entre agricultor e mediador para se chegar aos valores solicitados pelas planilhas. Foram necessários três dias para ser lograr preencher as primeiras planilhas. Esses primeiros contatos, marcados pelo estranhamento de algo novo que eram as planilhas, tanto para o profissional quanto para os agricultores, foram muito importantes para se construir os primeiros passos para o diálogo e a confiança. Os encontros, sempre acompanhados de chimarrão, bolacha, amendoim; algumas vezes almoço, com cafezinho, seguiram com visitas a

4 Considerando o princípio da metodologia de análise diagnóstico dos sistemas agrários, partiu-se do geral para o

específico, nesse caso o Assentamento Filhos de Sepé foi considerado como uma região para a análise, essa opção se justificou pelo fato de o assentamento possuir grande extensão territorial, aproximadamente sete mil hectares e, consequentemente haver grande número de famílias assentadas, 376. O quadro acima apresenta as tipologias construídas em que foram considerados os sistemas produtivos representativos da região, conforme demonstram o número de famílias para cada sistema. Assim, os sistemas apresentados são a produção de arroz orgânico e hortaliças. O sistema arroz orgânico foi estratificado nos tipos parceira e cooperado, sendo classificados nos subtipos arroz e policultivos, arroz e animais e somente arroz. No caso do sistema produtivo de Hortaliças foram primeiramente estratificados por área de produção e em seguida classificados nos subtipos hortaliças, hortaliças e policultivos e hortaliças e animais. Sendo o mais representativo aquele com área entre um e dois hectares de sub-tipo hortaliças e policultivos.

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campo, direcionados aos sistemas produtivos. Neles também eram apresentadas dificuldades agronômicas, técnicas próprias dos camponeses, bem como eram levantadas demandas de comercialização, questões familiares, dentre outras.

Em agosto de 2013 foram apresentados os dados sistematizados das coletas junto com a família de E. K. e N. P. As planilhas, com os indicadores e algumas observações dos pontos fortes e fracos da UPA, foram apresentadas indicados. A partir desse momento foi colocada a proposta de a própria família anotar e coletar os seus dados, para que a sistematização fosse então realizada a posteriori com a ajuda da ATES. Foram deixados os modelos das planilhas de coletas.

N. P. e E. K. construíram seu próprio mecanismo de anotação dos dados, organizaram um caderno no qual preenchiam diariamente todas as saídas e entradas da família. Ao final de cada mês eles mesmos realizavam o balanço. Nos encontros com a equipe já nos pautávamos pelos dados que eles tinham gravados na memória, o que permitiu a ATES conhecer melhor os sistemas de produção da UPA e sua dinâmica, assim como a família se apoderou, ao seu modo, da ferramenta e deu utilidade para a mesma.

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Histórico e funcionamento da Unidade de Observação Pedagógica

Como descrito anteriormente, a UOP escolhida como “modal” representa o sistema produtivo das hortaliças diversas e policultivos e é composta pelo casal de agricultores E. K. e N. P. O agricultor E. K. tem 47 anos de idade, filho de camponeses de origem alemã, nasceu em Iraí, ao norte do Rio Grande do Sul, região conhecida como Médio Alto Uruguai. A pouca disponibilidade de terra que seus pais possuíam para o sustento de toda família, fez com que E. K. buscasse alternativas através da reforma agrária. Em 1996 ingressou em um acampamento, de nome Santo Antônio, no município de Santo Antônio das Missões, organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). No final de 1998 foi contemplado como beneficiário da reforma agrária em Viamão juntamente com outras 375 famílias, no Assentamento Filhos de Sepé. A área total recebida pelo agricultor foi de 14 hectares, divididos em três unidades territoriais distintas: 0,2 hectares como local de moradia, um hectare situados a aproximadamente 600 metros de sua residência e 12,8 ha localizados na região de várzea, a 15 km do local em que vive.

Em 2010, E. K. casou-se com N. P., natural de Sapiranga, região metropolitana de Porto Alegre. Antes do casamento N. P. foi freira por mais de 20 anos, quando teve oportunidade de estudar e morar em outras regiões do país. Seus pais são de origem rural, no entanto, N.P. morou na cidade na sua juventude, retornando ao meio rural em 2010 quando se casou.

Desde o início do assentamento E. K. teve dificuldade em produzir na área de várzea, tanto pela distancia quanto pela limitação de força de trabalho, optando dessa forma pela produção diversificada nas proximidades da casa. A produção destina-se ao autoconsumo e à comercialização, que é realizada de forma direta pelo E. K., por carroça, em condomínios vizinhos ao assentamento (duas vezes na semana). Também são vendidos produtos para o mercado institucional via o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). A família possui divisão interna do trabalho, sendo tarefa da mulher a realização dos afazeres domésticos, elaboração dos produtos processados (doce, queijo, conserva, compota), confecção de artesanato (pano de prato, tapete, toalha, etc), trato dos animais e trabalho na lavoura. N.P. ainda trabalha fora da UPA durante dois dias da semana. Ao homem foram destinadas as tarefas da lavoura (que ficou em maior quantidade para ele) e a comercialização da produção.

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SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção Práticas e Técnicas da Unidade de Produção Agropecuária

Como parte da metodologia dos sistemas agrários, a análise da UPA foi realizada a partir das glebas e das parcelas de cultivo5. A UPA está dividida em três unidades territoriais de gestão, aqui denominadas de gleba, geograficamente separadas6. A primeira gleba é constituída pela parcela de cultivo de hortaliças, nela também está incluída a casa, o galpão e as estufas de produção de mudas e hortaliças em ambiente protegido. A segunda gleba é uma área separada da primeira, distante aproximadamente 600 metros; nela estão localizadas quatro parcelas de cultivo: o pomar; as culturas de verão (abóboras, melancia, feijão e amendoim); os tubérculos (mandioca e batata doce); e o potreiro. Por fim, a terceira gleba da UPA está localizada na área de baixada, distantes 14 km da moradia. Abaixo segue apresentação sobre a forma de utilização de cada uma dessas partes.

Na parcela de cultivo de hortaliças, com 0,1 hectares, são produzidos alface (roxa, americana, lisa), mostarda, brócolis, cebolinha, salsa, repolho, beterraba, cebola, espinafre, dentre outras. O preparo dos canteiros é manual e é utilizado adubo cama de aviário comprado. As mudas de hortaliças são feitas na propriedade e para isso são compradas as sementes, substrato e ingredientes para caldas de produção orgânica. Atualmente a família possui duas estufas, as quais não se encontram em bom estado de conservação. O plantio das hortaliças e o controle de plantas pioneiras são manuais; o controle de insetos indesejáveis e doenças é feito preventivamente com o uso de biofertilizantes e caldas preparados na propriedade. A colheita é manual e familiar. O cultivo de hortaliças está próximo a casa como pode ser visto na figura 01.

5 A gleba corresponde à unidade de gestão das unidades de produção. São divisões internas das terras da unidade

de produção e, diferentemente das parcelas de cultivo, resultam de determinantes mais complexos, como elementos do território, dos sistemas de cultura utilizados, dos limites naturais existentes, etc. Sua existência dificilmente se altera ao longo do tempo.

6 No processo de criação do assentamento o INCRA recomendou que as moradias deveriam estar localizadas nas

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Figura 01: Croqui do lote de moradia, produção de hortaliças, estufas e galpão. Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados da COPTEC.

Outra parcela de cultivo é o pomar, com área de 0,4 hectares, são cultivadas as seguintes variedades: caqui, pêssego, goiaba, tangerina, laranja, ameixa. As frutíferas são adubadas duas vezes por ano e recebem poda de inverno, às vezes poda verde (no verão). Na entrelinha é cultivado feijão e/ou adubação verde (ervilhaca, aveia e feijão miúdo). São realizadas capinas manuais, podendo ser própria e contratada. O pomar possui diferentes estágios, algumas plantas encontram-se em fase de produção ao passo que outras ainda estão em fase de formação.

A terceira parcela de cultivo, de 0,2 hectares, é gestada no verão com as culturas de feijão, amendoim, abóbora, moranga e melancia. Geralmente a área é preparada de forma mecanizada a partir de serviço contratado. As sementes são compradas. A área recebe adubação orgânica de cama de aviário antes do plantio, são realizadas capinas manuais a partir de mão de obra própria e contratada. No inverno, essa parcela recebe o cultivo de aveia para cobertura de solo e complemento para a alimentação animal. As sementes são compradas, a área é adubada com cama aviária também comprada e a mão de obra utilizada é familiar própria.

Outra parcela de cultivo localizada na gleba dois é destinada para o plantio dos tubérculos, num total de 0,2 hectares. O solo é preparado mecanicamente, com parte do serviço contratado e parte com tração animal própria. São utilizadas sementes próprias de mandioca (“ramas”) e de batata doce. Utiliza-se adubo comprado cama de aviário e o plantio recebe, em geral, quatro capinas, sendo parte própria e parte contratada. A colheita é realizada com mão de obra própria.

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Figura 02: Área de produção situada a 600m da moradia: pomar, cultura de verão, mandioca e batata doce. Fonte: COPTEC, 2013.

A última parcela de cultivo da gleba dois é o potreiro, formado por pastagem nativa sendo utilizada como parte da alimentação para a vaca e novilha. São plantados nas divisas dos lotes capim elefante e cana de açúcar, que também servem de alimento para o gado.

A gleba três está situada a aproximadamente 14 km da moradia, (em uma região de várzea), na época da primeira coleta de dados encontrava-se em pousio. A família de agricultores tem intensões de cercar toda a área e investir em produção de gado.

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SBSP - Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção Fluxograma Síntese

A Unidade de Observação Pedagógica de Hortaliças e Policultivos do Assentamento Filhos de Sepé, composta por dois membros, tem sua atividade agrícola caracterizada pela diversificação, com baixo uso de tecnologia, intenso uso de mão de obra familiar e reduzido uso de insumos externos.

Abaixo ilustramos o fluxograma de funcionamento da UOP em que podemos observar as diversas movimentações realizadas pela família, é possível perceber que há uma diversidade de produtos gerados pela própria unidade, ocorrendo diversas inter-relações entre os sistemas, o que caracteriza os sistemas de policultivos, próprios da agricultura camponesa. Pode-se notar que a entrada de insumos agrícolas externos para a UPA representa valores reduzidos.

Quadro 01: Fluxograma de funcionamento da UPA de E. K. e N. P. Fonte: COPTEC, 2013.

No quadro acima, o retângulo azul representa a unidade de produção agropecuária; todos os retângulos azuis são as atividades agrícolas e não agrícolas realizadas dentro da UPA, sendo as setas azuis indicativas dos fluxos entre essas atividades. Os retângulos vermelhos fora

FLUXOGRAMA DE FUNCIONAMENTO DA UNIDADE DE OBSERVAÇÃO PEDAGÓGICA

FAMÍLIA Elói Kremer e Nilsa Padilha INSUMOS = R$ 232,50 INSUMOS = R$ 1.140,90 Rancho Mercado Bolsa Família LEITE E QUEIJO = 3.300 litros/ano Feira R$ 5.520,00/ano Frutas 0,4 ha Mandioca + batata doce 0,27 ha Abóbora, feijão, amendoim 0,27 ha Feira e PAA = R$ 1444,72 Autoconsumo = R$ 2.226 Hortaliças 0,1 ha Feira e PAA = R$ 16.618,00 Artesanato e processados venda direta = R$ 2.360,00 INSUMOS = R$ 265,00 Vacas pastagem de inverno 0,27 ha Suplementos e sanidade= R$276,00/ano Trabalho fora da UPA

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da UPA são aqueles insumos externos que entram na unidade. Retângulos verdes representam os produtos que saem da UPA, sendo comercializados.

A família adotou um sistema de diversificação, não se especializando em nenhuma cultura ou atividade. Nesse sentido, as entradas de recursos a partir das vendas são bem distribuídas, sendo o maior peso atribuído a produção de hortaliças e frutas. O leite e derivados e o artesanato são importantes fontes de complemento de renda.

Análise técnico-econômica do Sistema produtivo Hortaliças e Policultivos

O sistema produtivo da unidade de produção é altamente diversificado, conforme descrito no item anterior. A produção total anual de hortaliças é de 4.700 kg, em uma área total de 0,2 ha, isso confere a UPA a produtividade de hortaliças de 23.000 kg/ha. A produção total anual de frutas é de 640 kg, em uma área de 0,4 ha, totalizando produtividade de 1.600 kg/ha. As culturas de verão (feijão, amendoim e abóbora) alcançaram produção total de 702 kg, com produtividade de 2.600 kg/ha e a produção de mandioca e batata doce atingiram a produção de 4.185 kg em 0,27 ha o que corresponde a uma produtividade de 15.500 kg/ha.

Parcela de Produção Produção total (kg) Área (ha) Produtividade

(kg/ha) Hortaliças 4700 0,1 47.000 Frutas 640 0,4 1.600 Feijão/amendoim 702 0,27 2.600 Mandioca e batata doce 4185 0,27 15.500

Quadro 02: Produtividade por parcela de produção. Fonte: COPTEC, 2013. Elaborado pelos autores.

A comercialização é feita diretamente pelo agricultor nos condomínios vizinhos ao assentamento por meio de sua carroça, além da venda ao mercado institucional via o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

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Os itens que compõem os custos de produção são sementes, adubo orgânico (cama de aviário), mão de obra (capinas manuais), serviço mecanizado (hora máquina), ração (vaca e cavalo). Os custos do sistema de produção em questão são considerados baixos se comparados ao montante financeiro gestado pela UPA, conforme pode ser visto na tabela abaixo; o fato se deve, provavelmente, ao sistema tecnológico adotado que está baseado na agroecologia. Nesse sentido, a utilização de insumos é pequena e em grande parte fabricada no próprio lote.

A unidade de produção possui poucos maquinários e equipamentos, a maioria das atividades são manuais e realizadas por mão de obra própria.

Parcela de produção Itens de custo Custo de produção

(R$/ano)

Hortaliças

horas máquina, horas homem, adubo organico (cama de aviário), semente, substrato para mudas, fertilizante organico, embalagens

622,43

Frutas horas homem, adubo orgânico (cama de aviário),

embalagens 295,47

Feijão/amendoim horas máquina, horas homem, adubo orgânico (cama

de aviário), semente, embalagens 232,46

Mandioca e batata doce horas máquina, horas homem, adubo orgânico (cama

de aviário) 223,01

Quadro 03: Custos de produção por parcela de produção. Fonte: COPTEC, 2013. Elaborado pelos autores.

Resultados econômicos e análise da UOP

Após a coleta de dados e preenchimento das planilhas, a equipe de ATES realizou operações de cálculos com base no modelo do Valor Agregado. “O valor agregado é uma medida que procura distinguir a geração de bens e serviços da sua distribuição entre os diferentes agentes que participam da produção”. (Neumann e Fialho, 2006). Esse modelo

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considera o Valor Agregado Líquido (VAL) como a diferença entre a Produção Bruta (PB), o Consumo Intermediário (CI) e a Depreciação (D)7.

A partir do cálculo do VAL pode-se chegar à Renda Agrícola (RA) do agricultor, bem como a Renda Total (RT). A RA é a diferença entre o VAL e a Distribuição do Valor Agregado (DVA)8. O VAL é a riqueza gerada pela UPA, no entanto, nem toda riqueza é apropriada pelos agricultores, uma parte é distribuída no pagamento de juros, impostos, arrendamento (quando é o caso). A produtividade do trabalho é expressa pelo coeficiente do VAL e a Unidade de Trabalho Humano (UTH).

A partir do modelo do Valor Agregado é possível determinar a eficiência técnica do sistema através do coeficiente do VAL e a superfície de área útil (SAU), ou seja, pode-se chegar a produtividade técnica do sistema.

O valor da UTH da UPA em questão foi de 1,5, de acordo com as informações da família, o esposo dedica cem por cento do seu tempo para a atividade agrícola enquanto que a esposa ocupa parte do seu tempo com atividades fora da UPA e nos afazeres domésticos, assim lhe foi conferido 50 % do tempo ao trabalho agrícola. A SAU é a diferença entre a área total da UPA (14 ha) e a área não utilizada para atividade agrícola, que no caso refere-se ao local da moradia, com 0,2 hectares; portanto, a SAU é de 13,8 ha. Segue abaixo tabela com os principais indicadores da Unidade de Observação Pedagógica de Hortaliças e policultivos.

Indicadores de referência UOP Hortaliças e Policultivos

UTH 1,50 SAU 14,00 PB total 27.466,44 CI total 2.513,22 VAB total 24.953,22

7 Produção Bruta (PB) é expressa pelo valor monetário da produção física gerada exclusivamente pela UPA durante

um ciclo de produção. Compõe a PB somente o valor dos produtos e serviços finais, tais como: a produção vendida; a produção estocada; a produção consumida pela família; a produção destinada ao pagamento de serviços a terceiros; a variação do rebanho animal, a remuneração de serviços prestados para terceiros. Consumo Intermediário (CI) é expresso pelo valor dos bens e serviços consumidos no decorrer do ciclo de produção, tais como: sementes, agroquímicos, combustíveis, despesas com a manutenção de máquinas e instalações, corretivos, alimentação animal, transportes, etc. Os serviços considerados no CI são apenas aqueles que compreendem o consumo de bens materiais durante a execução de uma determinada tarefa, não incluindo, portanto, os salários. Depreciação (D) corresponde à fração de valor dos meios de produção que não são integralmente consumidos do decorrer de um ciclo produtivo. (Neumann e Fialho, 2006, p. 62)

8 DVA são os juros pagos aos bancos ou outros agentes financeiros, salários pagos aos trabalhadores contratados,

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Dep 696,80 VAL 24.406,42 DVA 482,52 Renda agrícola 23.923,90 Renda Total 28.771,90 PB/SAU 2.004,85 CI/SAU 183,45 VAB/SAU 1.821,40 VAB/dia/UTH 45,58 PB/CI 10,93 Dep/SAL 50,86 Renda agrícola/UTH/mês 1.226,87

Tabela 01: indicadores da UPA. Fonte: COPTEC, 2013.

A tabela 01, com dados econômicos referentes ao ano agrícola de 2012-2013, resume os principais indicadores. Podemos observar que a superfície de área útil (SAU) é 14,00 ha, no entanto a família utiliza apenas 1,34 ha, já que o restante está em pousio. Esse é um dado interessante, pois expressa a intensificação do trabalho (elevado uso da força de trabalho família) em uma área muito pequena, onde são aplicados pouquíssimos recursos externos. A família tem ainda a possibilidade de expandir a sua atividade agropecuária caso decida utilizar a área que atualmente encontra-se em pousio.

Se comparada ao salário mínimo a renda agrícola mensal por unidade de trabalho é superior. No entanto, a situação da família é relativamente frágil, tendo em vista que o sistema está consolidado a partir do trabalho manual intensivo e a família não tem filhos ou outros membros que possam contribuir com mão de obra. N. P. reclama pelo fato de precisar dedica tanto tempo ao trabalho pesado na lavoura.

Socialização

Após a construção dos indicadores de referencia a equipe técnica socializou e discutiu os resultados com a família, que se apropriou do mecanismo de anotação diária dos seus gastos e as suas entradas.

Outro nível de socialização se deu entre os assentamentos da região metropolitana em que houve a apresentação das UOPs construídas na região e discussão dos resultados. Foram

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apresentados e comparados os sistemas de produção de hortaliças, hortaliças e policultivos, arroz orgânico, arroz convencional e leite durante encontro de famílias assentadas.

Considerações finais

A experiência apresentada da UOP de Hortaliças e Policultivos buscou relatar o processo de construção entre os diversos profissionais da ATES e os agricultores. Dessa forma, foram destacas algumas motivações para a adoção dessa ferramenta de assessoria técnica bem como a sua implementação prática na UPA dos agricultores E. K. e N. P. Dentre as motivações destacamos a necessidade de se fazer avançar em um programa de assessoria técnica capaz de compreender em maior profundidade os sistemas de produção dos agricultores assentados. O estudo da UOP de Hortaliças e Policultivos da família em questão permitiu compreender a gestão familiar de um casal de camponeses com manejo ecológico da produção, bem como suas tomadas de decisões, suas potencialidades e seus dilemas.

Como potencialidades da sua forma de gestão destacamos a preocupação com o autossustento, os gastos reduzidos com consumo intermediário e depreciação de maquinários, características que se assemelham ao campesinato e garantem um equilíbrio econômico do sistema. Por outro lado, um dos dilemas da família está na escassez de mão de obra, tendo em vista que a gestão adotada por eles é altamente exigente em força de trabalho, e a família não têm sucessores até o momento.

A experiência das UOP’s proposta pelo Programa de ATES se apresentou como uma possibilidade de inovar a ação da assessoria técnica em áreas de reforma agrária na medida em que permite conhecer no detalhe a UPA, as decisões da família, a forma de gestão adotada e sua relação com o entorno. Ao mesmo tempo em que exige da extensão rural métodos capazes de dialogar com os agricultores, nos quais as assimetrias de conhecimento e de poder sejam superadas, deixando no passado as metodologias de viés difusionistas.

Referencias Bibliográficas:

COOPERATIVA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS TECNICOS, COPTEC. Unidade de Observação Pedagógica da família E. K. e N. P. Viamão, 2013.

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SUSTENTABILIDADE SISTEMAS AGRÁRIOS. Manual da Disciplina. UFSM

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Referências

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