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Relatório Final da Disciplina Contexto, Currículo, Alunos, e Processos de Aprendizado

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Academic year: 2022

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE EDUCAÇÃO

EDM5791 – Metodologia de Ensino Superior

Relatório Final da Disciplina

Contexto, Currículo, Alunos, e Processos de Aprendizado

Prof.ª Myriam Krasilchik

Danilo Leite Dalmon N° USP: 7260275

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Sumário

1. INTRODUÇÃO 2

2. CONTEXTO 3

3. CURRÍCULOS 4

4. ALUNOS 5

5. PROCESSOS DE APRENDIZADO 7

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 11

1. Introdução

Professores de ensino superior não são obrigados a ter uma formação que inclui conteúdos específicos para a prática do trabalho docente, como é o caso de professores dos ensinos médio, fundamental e infantil. Sempre ouvi falar que isso se deve ao fato do professor de ensino superior não ter papel de “educador”, apenas de “detentor de conhecimento”.

Independentemente de ser verdade, profissionais pós-graduados exercem a função docente sem ao mínimo terem ideia de seu despreparo para serem professores. A disciplina Metodologia de Ensino Superior possui objetivos para preparar melhor os alunos de pós- graduação nesse sentido.

Este relatório consiste em um resumo dos conteúdos discutidos durante as aulas da disciplina com comentários e análises pessoais. Particularmente, tento encaixar algumas discussões em situações que enfrentei em minha graduação (Engenharia de Controle e Automação) e que enfrento hoje na pós-graduação (Mestrado em Ciências da Computação), e comparar alguns aspectos do livro How People Learn1, que comecei a ler pouco antes do início das aulas.

A organização do texto segue aproximadamente a das aulas, primeiro são abordados os assuntos: (a) contexto em que as aulas se situam; (b) currículos que guiam a preparação das aulas; (c) alunos; e (d) modalidades de ensino ou formas de preparação e execução de aulas.

Por fim, o relatório termina com considerações finais.

1 National Research Council, How People Learn: Brain, Mind, Experience, and School: Expanded Edition, National Academy Press, Washington, DC, EUA, 2000.

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2. Contexto

Uma aula é influenciada por vários fatores, pois está inserida em um contexto social.

Para que os alunos aprendam mais e melhor, o professor deve, em sua aula, considerar esses fatores. Em linhas gerais, o contexto pode ser dividido em três tipos de fatores: externos, institucionais e práticos.

Os fatores externos que influenciam o trabalho dos professores e alunos incluem leis, políticas, governo, empresas (mercado de trabalho), índices de avaliações educacionais, mídia, a comunidade externa à instituição de ensino, entre outros. Cada fator influencia de uma maneira particular, as leis definem a organização das instituições de ensino, o trabalho do professor; o mercado e a mídia afetam o interesse dos alunos em cursos e conteúdos; a mídia pode ser usada como fonte de informações para as aulas.

Dois exemplos evidentes de fatores externos no trabalho dos professores são as políticas de definição de salário, e o programa ProUni. Durante a minha graduação, muitos professores usavam o trabalho que engenheiros exercem em empresas como motivação para estudar certos conteúdos. Além disso, o currículo do curso teve de ser alterado por causa de uma resolução do MEC. Já na pós-graduação, participei de uma reunião de coordenadores de pós-graduação da SBC (Sociedade Brasileira de Computação) onde o principal assunto era a avaliação da CAPES dos programas e da disponibilização de verbas pelas instituições de fomento.

O livro How People Learn defende que um ambiente de aprendizagem deva ser centrado na comunidade, ou seja, considerar a comunidade como essencial ao decorrer das aulas. Exemplos práticos descritos envolvem pais dos alunos em atividades, meios de comunicação como jornais e televisão e até intercâmbios culturais. Acredito que no caso de ensino superior, o envolvimento direto de empresas e atividades de extensão são exemplos práticos de ações de um ambiente de aprendizagem centrado na comunidade.

Contexto institucional inclui o tipo de instituição, políticas internas à instituição, currículos, organização e ambiente de trabalho, funcionários, relação entre os professores, se pública ou privada, processo seletivo de alunos, etc. Por causa da maior proximidade, esses fatores parecem ter uma influência ainda maior no trabalho dos professores. Novamente, os fatores divergem bastante quanto à forma de influência: salário e ambiente de trabalho afetam a motivação do professor, enquanto que os currículos ajudam a definir os conteúdos das aulas.

Dentre os fatores institucionais, currículos e o perfil institucional dos alunos serão discutidos em seções específicas a seguir.

A coordenadoria do meu curso de graduação organizava reuniões de avaliação de curso semestrais, essa era uma política institucional que dividia a opinião dos professores.

Outro fator importante para meus professores da graduação era o critério de promoção na carreira docente que hoje, por exemplo, prioriza índices de produção científica.

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Além dos fatores externos e institucionais, fatores práticos influenciam o trabalho dos professores e alunos, tais como infra-estrutura, recursos disponíveis, número de alunos na classe e tempo de aula. Professores devem adaptar suas aulas em função desses fatores, o que será melhor discutido na seção sobre processos de aprendizado.

3. Currículos

Currículo é, basicamente, um guia para o trabalho de uma instituição que indica suas ideologias e objetivos. Em instituições de ensino tem o papel de definir a estrutura dos cursos, o projeto pedagógico, a ementa das disciplinas. Currículo também existe em instituições que não são de ensino, como a mídia que possui suas ideologias e as defende quando se comunica com o público, como governo e empresas que também instauram meios de fazer valer suas ideias. Assim, um currículo sempre carrega intenções das pessoas ou instituições, sendo impossível haver um currículo neutro.

A elaboração de um currículo sofre influência de vários fatores, como os descritos anteriormente externos, institucionais e práticos. Por exemplo, a legislação influencia a estrutura dos cursos, a composição do corpo docente; ou os gestores possuem opiniões que podem divergir das dos professores e ambas influenciam o currículo; no caso de fatores práticos, os recursos disponíveis e a demanda existente são também essenciais para esse trabalho.

Em geral, nas instituições de ensino, o currículo consiste em um documento escrito com o seu conteúdo. Porém, outros aspectos da instituição também indicam suas ideologias e objetivos. Em linhas gerais, chamamos o documento do currículo de currículo explícito e as outras formas de indicar a ideologia e objetivos de currículo oculto. O currículo oculto se manifesta de diversas maneiras, como a infra-estrutura, disponibilidade de recursos, organização das aulas e horários, postura dos professores, funcionários e até mesmo dos alunos.

Durante a minha graduação havia manifestações de currículo oculto incluindo “richas”

entre diferentes cursos da faculdade e entre departamentos, o distanciamento e arrogância de grupos de professores, a importância das provas apenas como avaliações somativas, e a busca por professores pouco exigentes. Acredito que vários desses aspectos sejam característicos de muitos cursos de engenharia e ciências exatas.

Existem classificações de concepções de currículo em instituições de ensino, nas quais currículos com ideias e objetivos similares são agrupados. Uma dessas classificações divide os currículos em racionalismo acadêmico, desenvolvimento cognitivo, relevância pessoal, reconstrução social e tecnologia.

Os currículos baseados em racionalismo acadêmico são os considerados tradicionais, que sugiram com as doutrinas de professor responsável por depositar o conhecimento no

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aluno receptor. Por outro lado, os baseados em desenvolvimento cognitivo buscam autonomia intelectual dos alunos, sendo os professores apenas estimuladores para o aprendizado dos alunos, que deve ser significativo. Acredito que a maioria das instituições de ensino possui currículos tradicionalistas. Pela minha experiência, professores da área de exatas raramente têm conhecimento ou interesse pela pedagogia, e por isso tendem a ensinar da maneira que foram ensinados e continuar com o currículo tradicionalista. Gostaria que houvesse uma transição para currículos de desenvolvimento cognitivo, mas para isso deve haver uma grande receptividade por parte desses docentes.

Conforme foi discutido em sala de aula, os currículos para relevância pessoal promovem o ajuste do estudante como indivíduo com atividades para aprendizagem individualizante e autoavaliações, sendo muito usado, ou mais adaptado, ao ensino infantil.

Outro tipo de currículo, o para reconstrução social também, de acordo com o que foi falado, tem ou teve pouca influência no ensino superior. Eu particularmente, apesar de não ser da área de pedagogia, tenho muita curiosidade do que um currículo para reconstrução social poderia fazer em um curso de engenharia.

O último tipo de currículo é chamado de tecnologia. Desse tipo de currículo pouco entendi, talvez por ter sido pouco discutido ou por falta de atenção. Nesse currículo entrariam principalmente os cursos a distância. Pelo material impresso, currículos baseados em tecnologia possuem objetivos de ensinar procedimentos para usar as tecnologias, seguindo a teoria comportamental. Minha área de pesquisa na pós-graduação em ciências da computação é Informática aplicada à Educação, focado em Ensino a Distância. Eu acho incoerente relacionar currículo baseado em tecnologia seguindo teoria comportamental com ensino a distância. Acredito que ensino a distância pode usar teoria comportamental, mas pode também ser usado com diversas outras abordagens, seja construtivista ou até mesmo de reconstrução social, pois “a distância” é apenas uma forma de interação que não carrega ideologias. Assim, acredito que um curso a distância não deve ser necessariamente classificado como seguindo um currículo baseado em tecnologia.

Professores, durante o planejamento e a preparação das aulas, devem considerar o currículo explícito da instituição, as várias manifestações de currículo oculto, e a abordagem curricular sua e da instituição. Dessa maneira, com conhecimento explícito das várias formas de currículo que influenciam sua aula, o professor pode conseguir melhorar os resultados de aprendizado de seus alunos.

4. Alunos

O outro alicerce para o planejamento, preparação e execução de aulas mais eficientes são os alunos. Em minha experiência, poucos professores consideram os alunos nesse processo, fazendo sempre as mesmas aulas, atualizando apenas pequenos erros ou novos conteúdos. É essencial pensar nos alunos e modelar a aula completamente em cima deles para que a aula seja mais eficiente, mesmo que seja uma aula puramente expositiva.

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Nessa disciplina, esse foi o maior choque com relação às minhas concepções anteriores sobre o trabalho de professor. Para mim, e creio que para meus professores na graduação, o professor deveria se esforçar para fazer uma boa aula expositiva, e se o aluno não resolver os exercícios, estudar sozinho e se esforçar muito além das aulas, ele não vai aprender e a culpa será dele. Seguindo por esse olhar, os professores têm uma visão ruim dos alunos, como preguiçosos, desatentos, ou ruins em geral. Isso desmotiva o próprio professor a se esforçar e fazer aulas melhores, e dificilmente vê o ciclo que isso provoca, gerando mais desmotivação por parte dos alunos.

Se o professor considera os alunos durante a preparação da aula, e nas aulas iniciais de uma disciplina para conhecê-los, ele pode preparar atividades mais motivadoras que provocarão o interesse nos alunos, que poderão deixar de serem preguiçosos e desatentos. Os currículos tradicionais não permitem esse pensamento. Assim, a transição para currículos mais próximos do desenvolvimento cognitivo é necessária ou consequência dessa mudança de abordagem.

Não apenas o professor deve ter consciência dos alunos durante suas aulas, mas também dos fatores que influenciam os alunos, incluindo a relação com os outros professores, as aulas que tiveram anteriormente, o trabalho, a família, os amigos. Esses fatores podem ser divididos em afetivos, sociais, econômicos, individuais e cognitivos. Os professores têm sua parte de influência em todos esses fatores (talvez menos nos econômicos), ou seja, sua postura é muito importante para os alunos. Conhecendo esses fatores, o professor pode modelar sua postura e explorá-los durante suas aulas para obter melhores resultados.

Uma maneira interessante de analisar os alunos é classificar seus comportamentos como de alunos superficial ou de alunos profundos. Alunos superficiais têm interesse superficial no conteúdo, estudam por dever, não têm interesse em aprender, apenas em conseguir resultados nas avaliações e prosseguir no curso. Alunos profundos, por outro lado, estudam por paixão, estão preocupados em aprender verdadeiramente o conteúdo, e conseguir resultados nas avaliações é uma consequência. Pessoas não são superficiais ou profundas o tempo todo, pois se comportam de maneira diferente em situações diferente, também não são totalmente superficiais ou profundas, possuem comportamentos intermediários.

Durante minha graduação, a maioria das disciplinas eu tentei ser um aluno profundo, o que não aconteceu com a maioria de meus colegas. Porém, houve situações em que a tensão para obter resultados na avaliação e a forma com que o conteúdo era cobrado que me transformaram em aluno superficial. Assim, conforme foi dito em sala de aula, podemos dizer que a abordagem do professor, e principalmente as formas de avaliação têm uma influência grande no comportamento dos alunos em direção ao “superficialismo”.

Para lidar com alunos superficiais vários estudos foram feitos, no sentido de interessar esses alunos e fazê-los aprender mais e melhor, as abordagens dos professores devem ser mais interativas, exigindo maior participação dos alunos, além de avaliações que não cobrem procedimentos ou memorizações. Dessa maneira, alunos superficiais podem se tornar mais

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profundos, o que é bom para sua aprendizagem e para o trabalho do professor. Como foi dito anteriormente, abordagens de currículo de desenvolvimento cognitivo podem ter esse efeito.

Outra maneira de desenvolver nos alunos capacidades de facilitar a aprendizagem é ajudá-los a ter metacognição. Metacognição é a habilidade de conhecer e, a partir daí, explorar as formas que a pessoa aprende. Um aluno que tem uma metacognição desenvolvida, sabe qual a forma de estudar para otimizar sua aprendizagem e conseguir melhores resultados.

Professores podem planejar suas aulas e realizar atividades para ajudar os alunos a conhecer melhor como eles aprendem.

A avaliação, novamente, possui um papel essencial tanto para desenvolver metacognição nos alunos quanto para deixá-los mais profundos. Porém, a avaliação normalmente utilizada, chamada de somativa, ajuda pouco. A avaliação do tipo formativa é a mais importante. Avaliação formativa devolve ao aluno uma informação quanto ao seu resultado em uma atividade não com o objetivo de classificá-lo em relação aos outros, mas com o objetivo de ajudá-lo na próxima vez em que for realizar a atividade. Usando bastante avaliação formativa o aluno consegue descobrir mais facilmente seus erros e os mecanismos com os quais se sente mais familiarizado para estudar e aprender.

Em minha graduação, poucas foram as vezes em que um professor usou avaliação formativa. Presenciei várias tentativas: professores aplicavam “testes” ao fim de cada aula, ou cobravam atividades toda semana, para acompanhar o rendimento dos alunos. Mas essas atividades não eram retornadas aos alunos com o objetivo de enxergar os erros e falhas de conceituação, pois suas correções levavam muito tempo para ser entregues, e consistiam de uma simples nota.

O livro How People Learn defende que os ambientes de aprendizagem devem ser centrados nos alunos, no conhecimento, na avaliação e na comunidade (que já foi descrito) para melhorar a aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores. Um ambiente centrado nos alunos é exatamente o que foi defendido durante as aulas: os alunos devem ser o centro das atenções da aula, tudo deve ser feito tendo seu aprendizado como objetivo final. Um ambiente centrado no conhecimento gera aulas que consideram não só as características das modalidades de ensino utilizadas, mas também as especificidades e detalhes do conteúdo a ser ensinado para preparar e executar as aulas. Esse é um enfoque que não foi dado durante as aulas da disciplina. Um ambiente centrado em avaliação gera aulas com uma grande influência da avaliação formativa, fator que também foi descrito aqui.

5. Processos de Aprendizado

Para preparar uma aula recomenda-se considerar objetivos, conteúdo, modalidade didática e forma de avaliação. Como cada um desses aspectos influencia os outros, eles devem ser considerados simultaneamente ou em um processo iterativo. Esta seção analisa objetivos, conteúdo e modalidades didáticas.

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Os fatores apresentados até aqui: contexto, currículo e alunos; são essenciais para a definição dos objetivos, conteúdo, modalidades didáticas e avaliação. Essa relação deve apresentar coerência para que uma disciplina ou aula seja eficiente para a aprendizagem dos alunos.

5.1. Objetivos

Os objetivos definem o estado dos alunos desejado após as aulas. Em currículos tradicionais os objetivos podem ser a explicação de conteúdos, em currículos para o desenvolvimento cognitivo os objetivos podem ser o aluno aprender significativamente alguma parte do conteúdo. Em princípio os objetivos deveriam ser anteriores à análise do conteúdo, avaliação e modalidade didática durante a preparação da aula, mas isso dificilmente ocorre por causa da natureza intrincada de todos esses fatores.

Existem diferentes níveis para a definição dos objetivos educacionais, como objetivos mundiais, nacionais, institucionais ou do curso, da disciplina e da aula. Objetivos mundiais e nacionais são especificados por organizações e governos, o que hoje em dia trabalha em torno de competências (e habilidades). Objetivos de disciplina e da aula concernem conhecimentos mais específicos.

Uma descrição e classificação interessante para objetivos educacionais são as que descreve David R. Kratwohl2. Níveis de conhecimento de um assunto podem ser classificados em: 1. Memorização, 2. Entendimento, 3. Aplicação, 4. Análise, 5. Avaliação e 6. Criação.

Além disso, esses níveis são atingidos em dimensões de conhecimento, são elas:

conhecimento A. Factual, B. Conceitual, C. Procedimental e D. Metacognitivo. Nessa organização, um objetivo pode ser especificado com uma célula da tabela ou juntando um nível com uma dimensão, por exemplo, A1 ou C3. Assim, uma boa maneira de especificar os objetivos educacionais de aulas ou disciplinas é usando a taxonomia descrita nesse artigo.

Outro fator que envolve os objetivos durante uma disciplina é quando e como o professor deve mostrar seus objetivos aos alunos. Minha experiência sempre foi apresentá-los no primeiro dia de aula, em conjunto com o programa da disciplina. Porém, isso não é aconselhado, pois os alunos ainda não têm consciência do conteúdo da disciplina, o que torna mais interessante mostrar os objetivos em momentos posteriores. Além disso, a revelação dos objetivos da disciplina deve ser realizada oportunamente considerando os conteúdos apresentados no momento.

5.2. Conteúdo

O conteúdo é considerado pela maioria (por influência dos currículos tradicionais) como o fator mais importante e o primeiro a ser considerado durante a preparação de uma aula. Ele define a abrangência, a profundidade e a sequência dos tópicos da área de conhecimento abordados na aula ou disciplina.

2 Kratwohl, D. R., A Revision of Bloom’s Taxonomy: An Overview, Theory into Practice, Vol. 41, N. 4, 2002.

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Um fator muito importante para a definição do conteúdo é o tempo. O tempo limita consideravelmente o conteúdo, como pode ser visto nas aulas de 10 minutos realizadas durante aulas da disciplina.

O contexto, o currículo e os alunos devem influenciar a definição da abrangência, profundidade e sequência do conteúdo. Um exercício interessante foi realizado em sala, dados tópicos os alunos escolheram uma sequência para eles, o que resultou em sequências bem diferentes, de acordo com a abordagem (currículo) e da opinião pessoal dos alunos.

O conteúdo pode ser organizado baseado na realidade, no caminho à realidade, na história ou no aluno. Sequências baseadas na realidade apresentam o conteúdo em função daquilo que é encontrado, como no caso da botânica é abordada a raiz, depois caule, folha, flor e fruto. No caso do caminho à realidade, o professor aborda primeiro temas para preparar o aluno até chegar à realidade, como partir do modelo de uma casa para explicar a estrutura da construção. Uma sequência baseada na história vai explicar os conteúdos na ordem em que eles ocorreram no tempo. Por outro lado, uma sequência baseada no aluno pode ter várias características, como os requisitos para compreensão ou as condições dos alunos (motivação, disposição, etc.).

Durante minha graduação, tive aula com professores cuja única preocupação era o conteúdo (currículo tradicional). Acredito que as aulas eram preparadas de acordo com a ementa serviam por muitos anos sendo raramente modificadas. Tive experiências também que os professores não aceitavam nem perguntas, para não perderem tempo.

Quando o livro How People Learn fala de ambientes de aprendizagem centrados em conhecimento está se referindo ao cuidado que o professor deve fazer com o conteúdo e a influência que o conteúdo tem nas modalidades didáticas e métodos de avaliação.

5.3. Modalidades Didáticas

As modalidades didáticas são abordagens, técnicas ou métodos para a execução das aulas. Os professores usam modalidades didáticas para atingirem seus objetivos de ensinar os conteúdos aos alunos. Podemos dizer que os objetivos respondem o “porque?”, o conteúdo responde o “o que?” e as modalidades didáticas respondem o “como?”.

Essa é provavelmente o conteúdo mais “prático” e “aplicado” que os alunos esperam de um curso de metodologia de ensino, onde é discutido “como dar aula”. Abaixo cada uma das modalidades apresentadas em sala é descrita e analisada.

Exposição – aulas expositivas são as mais numerosas, pelo menos são predominantes em cursos da área de exatas, consistem em o professor executar um monólogo e explicar algum assunto. É a modalidade relacionada ao currículo tradicional, é muito usada principalmente por suas vantagens econômicas e por deixar o professor no controle total da aula. Possui várias desvantagens, podemos citar a falta de interação entre o professor e os alunos, provoca desmotivação e desinteresse, o baixo rendimento na retenção do conteúdo. Porém, as aulas expositivas não são de todo

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ruins, elas podem ser bem aplicadas para servirem objetivos específicos como sintetizar algum conteúdo, concluir um assunto e transmitir sua opinião. Para ser bem executada deve ser bem planejada e respeitar o ritmo dos alunos.

Discussão – aulas de discussão transformam o professor em um guia, um mediador entre os alunos que devem participar ativamente e discutir sobre um assunto. Os alunos se interessam por ser mais dinâmica e forçá-los a refletir sobre o que é discutido, facilitando assim um aprendizado mais significativo. Para ser uma discussão bem sucedida, o professor deve permitir e incitar a participação de todos os alunos e não pode dirigir respostas, para isso existem diversas técnicas para conduzir a aula.

Essa é uma tarefa difícil que os professores geralmente têm medo de utilizar por lhes faltar o controle presente nas aulas expositivas. O meu curso de engenharia contou com pouquíssimos exemplos de discussão e, interessantemente, nesses casos os alunos, acostumados com exposições, não valorizavam as discussões, principalmente por causa da forma de avaliação, que não eram exigentes como as outras disciplinas.

Demonstração – aulas de demonstração servem para mostrar algo (imagem, animação ou outro recurso) a toda a turma de alunos, economizar tempo e ao mesmo tempo aproximar os alunos da realidade, deixando mais concretos os seus pensamentos.

Demonstrações servem para preparar o terreno para outros tipos de aula como exposição e discussão. Para as aulas de graduação em cursos de exatas, eu vejo que há muitas demonstrações, sejam demonstrações matemáticas para chegar a equações (o que em geral os alunos ignoram por não saberem o motivo de estudarem ou não entenderem/conseguirem acompanhar) ou demonstrações de aplicações de resultados do que é estudado.

Prática – aulas práticas colocam o aluno em contato direto com atividades que exercerá durante o exercício de sua profissão. Essas aulas são essenciais para manter o interesse dos alunos e para prepará-los para a vida profissional. Outro aspecto positivo é o contato com o inesperado, e a resolução de problemas. Porém, essas aulas são difíceis de executar por exigirem muitos recursos e muita preparação e planejamento.

Em cursos de engenharia, aulas práticas incluem aulas de laboratório, mas eu enfrentei várias disciplinas em que nessas aulas deveria apenas seguir procedimentos. Acredito também que é possível criar aulas práticas de engenharia fora de laboratórios, com projetos e simulações, por exemplo.

Simulação (dramatização) – é possível, quando temas controversos estão em pauta, usar aulas de simulação (dramatização) para ensinar os alunos. Nelas os alunos interpretam papéis de envolvidos na situação sendo estudada e realizam discussões interpretando. Esse tipo de aula é uma forma, acredito eu, mais intensa da aula de discussão, e pode envolver também resolução de problemas e projetos.

Simulação (software) – outra forma de usar simulação é através de software. Usando dessa modalidade, o professor fornece aos alunos software que simulam uma situação à qual devem reagir. Coloquei essa modalidade separada da dramatização por achar

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que os objetivos para os quais elas servem são diferentes, pelo menos no caso de ciências exatas, quando os software simulam sistemas físicos, matemáticos ou computacionais e os alunos exploram possibilidades e manipulam objetos, ao invés de discutir sobre um tema interagindo ou solucionar um problema na discussão.

Estudo de caso – é uma modalidade que mistura simulação com projeto e discussão, estudo de caso é a proposição de um caso real (o que o diferencia da simulação) sobre o qual os alunos devem discutir e elaborar uma opinião ou solução (uma espécie de solução de problemas). Estudo de caso são muito benéficos para alunos, mas são bem difíceis para o lado do professor, pois conseguir material coerente e de qualidade e prepará-lo para apresentar em aula exige muito esforço. Outro desafio é adaptar o caso ao conhecimento atual dos alunos ou ao conteúdo esperado pela disciplina.

Resolução de problemas (projeto) – aprendizagem baseada em problemas é uma modalidade que, ao invés de conteúdos, apresenta perguntas e problemas aos alunos, e são eles que devem chegar à solução, o que permite uma aprendizagem à maneira construtivista. Possui as etapas: observação da realidade e definição do problema a estudar; pontos-chave; teorização; hipóteses de solução; e aplicação à realidade. São vantagens dessa modalidade a interdisciplinaridade, a participação ativa, método científico, os alunos se sentem “úteis”. Suas principais dificuldades são o tempo das atividades e o disponível para orientação, o preparo dos professores (ou despreparo, não se sentir à vontade, não se colocar no lugar do aluno) e a cobertura dos conteúdos previstos (que nesse caso é menos abrangente, mas mais profundo).

6. Considerações Finais

Podemos resumir o conteúdo do curso da seguinte maneira:

 Para preparar e executar uma aula considera-se o contexto, o currículo e os alunos.

 A aula é constituída de objetivos, conteúdo, modalidades didáticas e avaliações.

 O principal objetivo do professor deve ser o aprendizado dos alunos, os alunos são o principal fator a ser considerado durante a preparação e execução da aula.

Durante minha graduação, não percebi que os professores tinham consciência desses fatores, e várias dessas recomendações ficavam muito longe de serem cumpridas. Vejo isso ainda hoje em minhas aulas da pós-graduação e que isso deve ser um problema crônico ao ensino de ciências exatas. Esse curso foi de suma importância e utilidade para mim. Pretendo seguir carreira acadêmica, mas não apenas ser um pesquisador, gostaria de ser um professor de verdade, e superar o trauma que os professores da graduação me fizeram, não fazendo o mesmo com meus alunos. Além disso, quero lutar pela melhoria do ensino de cursos da área de exatas, onde creio que haja mais resistência e ignorância com relação aos métodos pedagógicos.

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