• Nenhum resultado encontrado

Ciênc. saúde coletiva vol.10 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Ciênc. saúde coletiva vol.10 número1"

Copied!
1
0
0

Texto

(1)

4

EDIT

ORIAL EDIT

ORIAL

O homem como foco da Saúde Pública

O primeiro estranhamento que pode surgir ao se propor abordar o homem no campo da Saúde Pública é que tal proposta pode ser entendida como um movimento que vai contra a perspectiva de gênero, abordagem que vem se consolidando nesse campo. Entretanto, um olhar mais apurado sobre o assunto pode indicar que focalizar especificamente o ho-mem ou a mulher não compromete necessariamente a dimensão relacional de gênero, uma vez que o masculino só pode ser visto em relação ao feminino e vice-versa. Nesse sentido, propor a consolidação do homem como foco da Saúde Pública significa, dentre outros aspectos, buscar a singularidade de um dos pares do gênero e evidenciar novas de-mandas de “ressignificação” do masculino, decorrentes de deslocamentos ocorridos no campo do gênero, para que se possa buscar uma saúde para ele voltada.

Não se pode dizer que tem havido uma invisibilidade do homem na pauta da Saúde Públi-ca, já que o ser masculino sempre esteve presente tanto no âmbito dos serviços quanto no meio acadêmico relacionados a essa área, na qualidade de sujeito ou alvo das ações. Mas

pode-se dizer que, nos anos 90, a temática homem e saúdeveio se consolidando com um enfoque

di-ferenciado. Nesses anos, tal temática passou a ser atravessada por discussões sobre as especifici-dades e a distribuição desigual do poder entre os gêneros, relacionadas a questões sociocultu-rais, voltando-se para as singularidades da saúde e da doença entre os segmentos de homens.

Especificamente no campo dos serviços, na América Latina, crescem as ações progra-máticas focalizando o ser homem diante da sexualidade, reprodução, paternidade e vio-lência, buscando captar a participação masculina no alcance dos objetivos dessas ações. Já nos meios acadêmicos, os estudos sobre as masculinidades, desenvolvidos principalmente no âmbito das ciências sociais, vêm apontando nexos entre a construção do ser masculino e o processo saúde-doença-cuidar.

As ciências sociais vêm trazendo contribuições teórico-metodológicas para a Saúde Pú-blica abordar a temática em questão. Os estudos socioculturais nacionais e internacionais sobre a construção da masculinidade apontam marcas identitárias de uma visão

hegemôni-ca do ser masculino. Tais marhegemôni-cas se expressam, principalmente, pela adoção do status quase

que exclusivo de ser ativo, pela crença de que deva mostrar invencibilidade, pela associação do masculino à necessidade de se expor ao risco, e pela naturalização do descontrole sexual e a redução da sexualidade masculina à penetração. Com tal modelo de masculino, os estudos também assinalam que não se pode desconsiderar a possibilidade de aspectos normativo-sociais serem alterados ou ressignificados pela subjetividade dos atores normativo-sociais.

Inferências dessa discussão, em síntese, remetem à idéia de que o homem, quando in-fluenciado por ideologias hegemônicas de gênero, pode colocar em risco tanto a saúde da mulher quanto a sua própria. Nesse sentido, o entendimento dessas, dentre outras questões, por parte da Saúde Pública, pode trazer um novo enfoque para o enfrentamento de certas formas do adoecimento e para a promoção da saúde tanto masculina quanto feminina.

Por fim, cabe lembrar que o recente interesse em aprofundar a questão da promoção da saúde representará, para o campo da Saúde Pública, empreendimentos de vulto con-cretos em novas pesquisas e incursões político-programáticas nesse universo das masculi-nidades e das relações entre homem e mulheres.

Romeu Gomes, Lília Blima Schraiber e Márcia Thereza Couto

Referências

Documentos relacionados

Enfim, o texto de Schraiber, Gomes e Couto mostra muito bem o modo como os homens emergem na pauta da Saúde Coletiva e trazem informações fundamentais para quem deseje desenvolver

A relação entre algumas marcas de gênero e certos agravos à saúde aparece, por exemplo, na reflexão sobre o exercício da sexualidade mascu- lina, em que a disseminação do HIV

É nesta exata direção que a su- gestão de Estela, quanto à integralidade como conceito norteador dos estudos, indica não ape- nas uma profícua saída epistemológica, pois, sem

Este livro, como a própria Cecchetto salienta, é uma contribuição valiosa à discussão sobre o fenô- meno da violência carioca, além da pluralidade das identidades masculinas,

Para isso, rompem fronteiras, fazendo dialogar diferentes cam- pos disciplinares (antropologia, história, psicanálise e sociologia), em busca de uma abordagem interdisci- plinar, não

No momento em que as reflexões sobre a chama- da “crise do masculino” e a denúncia da “dominação masculina”, como opressão para mulheres e homens, ganham, pouco a pouco,

1) a reforma agrária como política essencial de desenvolvimento justo, popular, solidário e sustentável, pressupondo mudança na estrutura fundiária, democratização do acesso

Diferentemente da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional, que atuam sobre o processo individual e biológico e colocam o trabalhador como objeto de intervenção, a Saúde