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Ciênc. saúde coletiva vol.10 número1

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Academic year: 2018

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Violência e estilos de masculinidade. Violência,

Cultura e Poder. Fátima Regina Cecchetto. Edito-ra FGV, Rio de Janeiro, 2004, 245p.

Elaine Ferreira do Nascimento

IFF/Fiocruz

Fátima Regina Cecchetto é mestre em ciências sociais pela Uerj e doutora em saúde coletiva pelo IMS. Seu livro, originalmente uma tese de doutorado pela Uerj, busca compreender, no contexto das masculini-dades juvenis e de jovens adultos vigentes, a questão da produção das violências como forma de sociabili-dade em espaços de lazer de um determinado seg-mento da população carioca.

O universo da pesquisa é constituído por galeras

funk, gangues de lutadores de jiu-jítsu e freqüentado-res de bailes charme. O estudo se debruça sobre a violência nos espaços de lazer de jovens e jovens adultos moradores de favelas, subúrbios e bairros da Zona Sul. Este se constitui em uma comparação en-tre as práticas no lazer dos bailes funke charme e no contexto esportivo do jiu-jítsu.

A autora recusa estereótipos que associam dire-tamente violência, masculinidade e pobreza ou o pa-radigma da sociobiologia, que não dá conta de expli-car as múltiplas questões e manifestações da violên-cia e das masculinidades. Para tal, a organização do livro se divide em sete capítulos, que buscam dar contorno aos diversos significados e pluralidades dos estilos sobre masculinidades contemporâneas

No capítulo 1 a autora apresenta uma revisão da literatura acerca dos estudos sobre a masculinidade numa perspectiva norte-americana a partir de men’s

studies, ancorada, no entanto, nos estudos de gênero

do Brasil como campo disciplinar e eixo estrutura-dor. Este capítulo faz um balanço da produção sobre masculinidades que inicia na década de 1970, tendo uma considerável ampliação nos anos 80; aborda a questão do papel masculino socialmente construído, a crise da masculinidade como reflexo das transfor-mações socioeconômicas e geopolíticas globais, pas-sando pelo novo modelo de masculinidades, aqui com forte influência da psicanálise, sociologia e an-tropologia; a discussão das masculinidades hegemô-nicas e subordinadas com recorte étnico/raça e de classe. E por fim a necessidade de produção de outras palavras sobre gênero/masculinidades.

No capítulo 2 a autora trata da questão do corpo, vinculado à temática da identidade, da sociabilidade,

da violência e das relações entre os sexos(p. 73), ou

se-ja, do processo de construção social das masculinida-des. Para tal argumento, Fátima Cecchetto discutirá as formas de competição masculina, músculo como atributo de culto pelo masculino, violência associada à virilidade e o culto ao corpo, a hipervalorização deste como veículo de statuse de poder, mas que também revela símbolos e significados de pertenci-mento, estilos e de afirmação.

No capítulo 3, a autora problematiza a emoção, o esporte e o lazer, articulando-os com a violência. Co-mo os sujeitos de sua pesquisa se aproximam ou in-teragem ou mesmo se distanciam desse fenômeno,

ou seja, como se dá a teoria do processo civilizador que focaliza o controle e o descontrole das emoções nessas

configurações. A autora articulou com a perspectiva

da abordagem antropológica das emoções como uma “prática social discursiva”.

Os capítulos 4 e 5 apresentam o cotidiano do universo dos bailes funke as academias de jiu-jítsu como lazer, esporte e estilo de vida, no qual há um processo de sociabilidade e práticas que são produzi-das, reproduzidas e reiteradas nesses espaços de lazer e da busca voluntária pelo risco. Ambos apresentam um contexto de violência. O uso de drogas para fins específicos nos dois grupos: em relação aos freqüen-tadores de bailes funkpara estimular e potencializar o etos da disposição guerreira, do forte, do poderoso, do que pode tudo; em relação aos lutadores de jiu-jítsu o uso de drogas associado ao exercício físico pe-sado para modelar o corpo, criar músculos e também para torná-los fortes, poderosos, invencíveis, ou seja, igualmente para estimular e potencializar o etos da disposição guerreira. Aqui também há um diálogo com as teorias antropológicas e sociológicas contem-porâneas.

O capítulo 6 se constitui em uma apresentação metodológica de aproximação com o campo, aqui das academias de lutadores de jiu-jítsu, revelando o conflituoso e árduo processo sofrido pela autora em se apropriar deste campo para coletar os dados, as di-ficuldades/obstáculos, os preconceitos de gênero, a necessidade das aulas quase que obrigatórias para se aproximar de uma condição de “nativa”. Além de problematizar este espaço como produtor de símbo-los e significados de pertencimento, códigos de hon-ra e estilos sobre masculinidades.

O capítulo 7 revela o cotidiano dos bailes char-me, que, como a autora intitula “elegância, criativi-dade e suavicriativi-dade”, valoriza um estilo de moda; o ves-tuário é de elegância e lembra um pouco uma parte do passado brasileiro, pois existe uma tradição de se vestir quase que na modalidade esporte fino, ou seja, negro, bonito e cheiroso, que dança devagarzinho, utiliza o salão para dançar e conquistar mulheres, sem qualquer relação com a violência explícita. Aqui o comportamento pacífico revela outras possibilida-des de construção da identidade masculina.

Este livro, como a própria Cecchetto salienta, é uma contribuição valiosa à discussão sobre o fenô-meno da violência carioca, além da pluralidade das identidades masculinas, ao mesmo tempo em que vai problematizando e expondo singularidades, diferenças e especificidades que a violência, ou o seu discurso, apresenta nas experiências de três grupos sociais: das galeras de jovens negros dos bailes funk em várias par-tes da cidade; das gangues de brancos e não brancos de lutadores de jiu-jítsu da zona sul; e dos grupos char-meiros de jovens negros dos subúrbios. Seus signos, sím-bolos e práticas constituem e diversificam os territórios da cidade pelos quais circulam e tentam ou conseguem

controlar. E ao pesquisar estes três segmentos,

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