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LEVANTAMENTOS ARQUEOLÓGICOS NO MÉDIO E ALTO JAcuí, RS, BRASIL

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Academic year: 2018

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-LEVANTAM ENTOS ARQUEOLÓGICOS

NO M ÉDIO E ALTO JAcuí, RS, BRASIL*

PEDRa AUGUSTO MENTZ RIBEIRO"

RESUM O

A área pesquisada se localiza no centro do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Num projeto de cinco anos, o objetivo principal nesta primeira etapa (1,0 ano) foi encontrar um sítio da Tradição Tupiguaraní que apresentasse condíções de ser escavado. Infelizmente, apesar de termos estudado 57 sítios, 47 deles Tupiguarani (os restantes das tradições Umbu e Humaitá), não registramos um passível de escavação. Os resultados apresentados são preliminares, uma vez que não consideramos concluídos os trabalhos. Os sítios estão sobre as várzeas do rio Jacuí, em locais planos, sendo esse o principal aspecto para os assentamentos Guaranis. A área dos sítios varia dos 200 aos 8000m2. O material característico são fragmentos de vasilhas de cerâmica de formas variadas, sem decoração (simples), com decoração plástica (corrugada-ungulada, corrugada, ungulada, mista, roletada, escovada e pinçada, nessa ordem de importância, as três últimas em número insignificante) e pintada [10 tipos, destacando-se o vermelho sobre branco externo ("A") e o engobe vermelho interno ("E")]. Ainda de cerâmica temos: cachimbos, contas, roletes, massas e afiador-em-canaleta. No litico destacaríamos as lâminas de machado polidas. as lascas de calcedônia. os afiadores-em-canaleta e os polidores de arenito. Esse material é secundado pelos tembetás (fragmentos) de cristal de rocha e placas peitorais, ambos polidos. No ósseo. registramos a ocorrência de um anzol, ponta e, no conchífero,

contas-de-colar (três de

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J a s p id e la ja s p id e a ) e um pingente. Como vestígios fitofaunísticos encontramos ossos de váríos mamíferos, répteis. aves. peixes e moluscos bivalves e univalves. Além disso, junto com estes últimos ocorreram

Projeto finànciado pelo Instituto Indigenista Interamericano, órgão da OEA, México, DF;.~onvênio com a Universidade Central da Venezuela, Caracas.

Professor titular. Doutor. responsável pelas disciplinas Arqueologia Geral e Pré-História, Coordenador do Projeto para o Brasil e Coordenador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia - LEPAN. do Dep. de Biblioteconomia e História -FURG.

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ossos humanos (fragmentos de mandíbula, úmero, fêmur e costelas). Comparando o material, este se assemelha ao da Tradição Tupiguarani do sul do Brasil, Subtradição Guarani,

estilo Corrugado. Pertence

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à fase Guaratã. Quanto à

periodização, seria do século V da nossa era até a chegada dos jesuitas espanhóis na região. em torno de 1630 A. O.

SUMMARY

Survey in central Rio Grande do Sul for the purpose of locating a site of the Tupiguarani Tradition for intensive excavation recorded 57 sites, 47 of Tupiguarani affilíation. None presented the necessary conditions. The habitation sites are on levei places along the Jacuí river bank, the typical location of Guarani settlements. Area ranges from 200 to 8000m2. The most abundant remains were pottery fragments, undecorated or decorated with plastic techniques (fingernail-marked corrugation, corrugation, fingernaíl marking, superimposed coils, brushing, pinched, the latter three minor), painting (10 types with ~ed-on-white most common), and red slipping (interior). Ceram!c artifacts-inóíude pipes, beads, coils, lumps, and grooved abraders, Líthics include polished axes, calcedony flakes,grooved abraders, and sandstone polishers. Less abundant are lip plugs of rock crystal and breast plaques,

both polished. Abone fishhook and shell beads (three of

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J a s p id e la ja s p id e a ) and a shell pendant were also encountered.

Faunal remains include mammal, reptile, bird, and fish bones, and molluscs (univalve and bivalve), as well as fragmentary human bones (mandible, humerus. femur, ribs). The material is typical of the Tupiguarani Tradition, Guarani Subtradition, Corrugation style, of southern Brazil. It represents the Guaratã Phase and is estimated to date from the fifth century to the arrival ofthe Spanish Jesuits c. AO 1630.

1 - GEOGRAFIA E HISTÓRIA DA REGIÃO

A área pesquisada encontra-se entre os 29°20' e 29°35' de latitude sul e dos 53°13' aos 53°21' de longitude oeste (Figura 1). Geograficamente a região é conhecida como Depressão Periférica. Hidrograficamente corresponde à bacia do rio Jacuí, mais precisamente entre a confluência do Jacuí e o Jacuizinho até o arroio Corupá, ambos na margem esquerda do rio principal (Figura 2). Outros cursos d'água de destaque na região pesquisada são: na margem esquerda, o lajeado (arroio) do Gringo, dos Dourados e da Gringa; na margem direita o arroio Canhemborá e o Trombudo.

O clima é do tipo "Cfa'' (Subtropical ou Virginiano) 112b (Peneplanície sedimentar periférica, altitude inferior a 400m). A precipitação pluviométrica atinge a média de 1700 a 1800mm anuais. As médias de

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temperatura anuais são superiores a 18°C, mais precisamente 19,1 °C (24,70C é a temperatura média do mês mais quente) (Moreno, 1961).

A altitude em relação ao nível do mar onde se inserem os sítios arqueológicos estudados varia entre 30 e 120m, aproximadamente.

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FIGURA 1 - Mapa do Estado do Rio Grande do Sul assinalando a área pesquisada.

Geologicamente a região apresenta estas características: Depressão Periférica:

1 - Formação Serra Geral. Lavas basálticas, diques e s í lls de diabásio associados.

2 - Formação Botucatu. Arenitos feldspáticos finos a médios, grãos subangulares e arredondados, foscos, com estratificações eólicas típicas,

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cores rosa a vermelho.

3 - Aluviões Sedimentos atuais a subatuais depositados em planícies de

inundação a barras; cascalhos, areias e argilas (Carraro et aI., 1974).

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- 29-30'

ARROIO CORUP":

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LEGENDA

- SiTIO TUPIGUARANI A SiTIO UM BU eHUM AITA O SiTIO UM BU

FuTURA BARRAGEM

FIGURA 2 - Mapa de situação da área pesquisada e dos sitias arqueológicos estudados.

A formação Serra Geral se encontra na parte norte da área pesquisada. A futura barragem se localizará justamente no início da ocorrência de basalto nas partes baixas do vale. A partir daí, rio abaixo, paredões de basalto são observados nas partes altas dos morros, paralelos ao rio Jacuí e suas várzeas. Até mais ou menos 10km abaixo da futura

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barragem ocorre o arenito junto

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à calha do rio. Depois disso, até o fim do seu curso, o Jacuí é acompanhado por várzeas aluvionais. Grande

quantidade de seixos são observados ao longo do seu leito. Estes. como vamos ver, seriam a base da matéria-prima para os primeiros povoadores confeccionarem seus instrumentos.

A vegetação dominante é a Floresta Estacional Decidual da Fralda da Serra Geral no Estado do Rio Grande do Sul. "A floresta da fralda da Serra Geral constitui um prolongamento das florestas da Bacia do Rio Paraná e sobretudo do Alto Uruguai, ..." (Klein, 1983, p.79). "... entre Santa Maria e Santa Cruz, os profundos recortes do rio Jacuí e do rio Pardo ocasionam uma distensão do talude, resultando o conseqüente aprofundamento da zona silvática; ...u (Rarnbo, in Klein, 1983, p. 75). Essa seria a explicação para a

ocorrência da Floresta Estacional Decidual na área em estudo. Pouco resta dessa floresta, pois a agricultura intensa, exceto em encostas íngremes e algumas manchas isoladas, fez com que ela fosse duramente atacada.

Ao norte, rio acima, são observados os sub-bosques de pinhais e,

no planalto mais ao norte, os pinhais, outrora o domínio da

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A r a u c a r ia a n g u s t if o lia (pinheiro brasileiro).

Os solos que ocorrem são o Oásis (O), a partir da confluência do rio Jacuí com o Jacuizinho até aproximadamente o lajeado dos Dourados. Corresponde a mais ou menos 1/3 da área. A partir do último curso d'água até o final da área pesquisada registra-se o Vacacai (VAL). Esse solo é circundado, nas partes altas da margem direita, pelo Oásis, e pelo Ciríaco-Charrua, na margem esquerda.

O Oásis é assim classificado: Laterítico bruno-avermelhado, distrófico húmico, textura argilosa, relevo ondulado, substrato basalto. Vacacaí: Planossolo, textura média, relevo plano e suavemente ondulado, substrato sedimentos aluviais (Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Rio Grande do Sul, 1973).

Etnoistoricamente a região é conhecida como ocupada pelos índios Tape, uma subdivisão do Guarani. Foram esses indígenas aldeados pelos jesuítas espanhóis entre 1626 e 1634 no Rio Grande do Sul. No vale do Jacuí havia uma redução, Sant'Ana, abandonada em 1637 devido ao ataque bandeirante paulista no vale do rio Pardo em fins de 1636. Sant'Ana ficaria na confluência do arroio Paredão (Corupá? lajeado dos Dourados?) com o Jacuí.

A colonização do vale do médio e alto Jacuí iniciou com a vinda dos colonos alemães e italianos a partir da metade do século XIX. Nas férteis várzeas plantaram milho, feijão, cana-de-açúcar, cucurbitáceas, amendoim, mandioca, aipim, batata doce e outras em menor escala. Exceto a cana-de-açúcar, as demais citadas já eram cultivadas pelos Guaranis. Atualmente, além das descritas acima, são produzidas, com mais Intensidade, a soja e o arroz. Esta última cultura, no médio Jacuí, abaixo da

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futura barragem, está causando a destruição de sítios arqueológicos pela

terraplenagem.

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HISTÓRICO E TÉCNICA DA PESQUISA

Na região foram realizados projetos de pesquisa anteriores ao presente. Os primeiros, no final da década de 1960, dentro do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), coordenados por Betty Meggers e Clifford Evans, do Smithsonian Institution, Washington, foram executados por José Proenza Brochado (Brochado, 1969 e 1971). Os estudos foram de campo e de coleções particulares. Nos primeiros praticaram-se coletas superficiais sistemáticas e cortes experimentais, obtendo, ainda, datação de carbono 14 (C-14).

Mais tarde, Brochado e Pedro Ignácio Schmitz, com o patrocínio do Instituto Anchietano de Pesquisas, realizaram estudos dos locais com arte rupestre: foram os abrigos sob rocha do lajeado dos Dourados e Linha Sétima e ainda a caverna de Canhemborá (Brochado & Schmitz, 1972/73 e 1976).

A terceira atividade de pesquisa na região foi através de Schmitz, Ribeiro e Ferrari (1981). Mais tarde Schmitz publica outro trabalho, dessa vez analisando a ocupação Tupiguarani na região (Schmitz, 1985). O financiamento, então, foi da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Essa Companhia é a responsável pela construção de uma barragem para obtenção de energia elétrica no médio Jacuí (barragem de Dona Francisca, município de Agudo). Tratava-se, portanto, de um projeto de salvamento. A área pesquisada foi basicamente aquela a ser inundada, isto é, um pouco acima do arroio Canhemborá até a confluência do Jacuí

com o Jacuizinho.

Em 1988 passamos a integrar o Projeto KA-TU-GUA (Karive-Tupi-Guarani), coordenado pela Universidad Central de Venezuela, através da Dra Carmen-Helena Parés. Recebemos, a partir daí, financiamento do Instituto Indigenista Interamericano, membro da Organização dos Estados Americanos (OEA), sediado na cidade do México.

Com quatro temporadas, a partir de outubro de 1989, totalizamos 31 dias de trabalho de campo. Foram estudados 57 sítios arqueológicos através de coletas superficiais sistemáticas e cortes experimentais, estes em seis locais. As coletas foram realizadas separadamente por concentração de material ou manchas de terra preta. Cada uma dessas concentrações levou um número diferente de catálogo. Os cortes experimentais variaram em número e dimensões, isto é, de um até cinco e de 1,0 x 2,Om, 1,5 x 1,5m e 2,0 x 2,Om, respectivamente (Foto 5). Os níveis foram de 10 em 10cm, exceto o primeiro, que, em virtude de ter sido feito em locais lavrados, era de

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rscrn. Com exceção de um local, os demais apresentaram a estratigrafia original destruída, pois não ultrapassavam 20cm de profundidade. A terra foi peneirada em malha de 0,4cm.

No laboratório do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (CEPA), das Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, o material foi limpo, registrado, numerado, restaurado, classificado e analisado; peças ou fragmentos representativos foram fotografados; bordas e formas de vasilhas foram desenhadas, além de motivos de decoração pintada.

Os vestígios fitofaunísticos foram analisados no Museu de Ciências da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

Queremos enfatizar que os dados apresentados no presente trabalho são parciais. Não conseguimos realizar um levantamento sistemático da margem direita do rio Jacuí da mesma forma como o foi da margem esquerda. Além disso, não encontramos um sítio Guarani não-perturbado ou superficialmente perturbado para nele realizarmos uma escavação extensa, objetivo principal do Projeto. Seria esse, no presente momento da pesquisa arqueológica no sul do Brasil, o único meio de obter-se um avanço significativo no conhecimento da tradição ceramista Tupiguarani.

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3 - DESCRiÇÃO DOS SíTIOS ARQUEOLÓGICOS

Os sítios arqueológicos encontram-se, na sua grande maioria, na várzea do alto e médio rio Jacuí (Figura 2), em locais mais ou menos planos. Correspondem, mais precisamente, a diques arenosos holocênicos " ... bastante salientes, cuja crista é dificilmente alcançada mesmo pelas maiores enchentes. Atrás do estreito dique o terreno é mais baixo, coletando as águas que escorrem dos morros e que são escoadas através de sangas paralelas ao rio; ... " (Schmitz et aI., 1981, p.12). Inclusive são localizados fragmentos de cerâmica e líticos na margem e leito do rio, resultado das barrancas erodidas. O que varia é a extensão da várzea, seja no sentido longitudinal, seja transversalmente ao curso do no. Na parte mais baixa da área pesquisada a várzea é mais larga (Foto 1), estreitando-se paulatinamente à medida que sobe o rio Jacuí (Foto 2 e 3), extinguindo-se, praticamente, quando este encontra o Jacuizinho. Esse aspecto era o principal para os assentamentos Guarani. Secundariamente observou-se que a confluência com um afluente ou uma corredeira também é fator de preferência para a localização de sítios daquela tradição.

Os sítios da Tradição Umbu, fase Rio Pardinho, ou fase Canhemborá, da Tradição Humaitá, estão em locais um pouco mais

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elevados (1 ,5m, em média) do que a área circundante e também um pouco mais afastados do rio. Exceto em dois locais, não se observou fenômeno de sobreposição entre as várias culturas (Umbu e Hurnaitá).

FOTO 1 _ Paisagem do médio Jacuí no setor mais meridional da área pesquisada. No primeiro plano a várzea; o rio encontra-se na concentração de floresta que corta horízontalmente a foto.

FOTO 2 _ Rio Jacuí, desde a margem esquerda, na confluência com o lajeado dos Dourados. Na várzea

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à esquerda foi encontrado um sítio que forneceu uma urna com 3 cachimbos (Foto 8k) e uma pequena vasilha (Foto 7z) no seu interior.

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FOTO 3 - Vista do sitio RS-JC-92. Logo atrás das pessoas está a barranca do rio Jacuí.

FOTO 4 - Perfil de um dos cortes experimentais no sítio RS-JC-92. Observa-se a coloração escura na parte inferior do perfil.

A área dos sítios da Tradição Tupiguarani, Subtradição Guarani, varia de 200 a 8000m2, aproximadamente, com predomínio da faixa entre 800 e 2000m2, Conforme estudos anteriores na área, os maiores são os mais antigos e se encontrariam nas várzeas mais largas. J á os sítios da

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Tradição Umbu estão entre 400 e 1400m2, sendo a maiona inferior a 1000m2 Dos três sítios da Tradição Humaitá, dois encontram-se em

sobreposição com os da Umbu.

A profundidade dos sedimentos com sinais de ocupação é rasa, isto é, atinge 15 a 20cm (Foto 5). Apenas um local apresenta maior profundidade (Foto 4), mas pouco resta do antigo sítio (eradido pelas águas do rio). Como os sítios estão assentados sobre locais de cultivo, encontram-se praticamente destruídos Nos últimos anos tem-se intensificado o cultivo do arroz. A terraplenagem para o prepara do local tem efetivamente destruído vários sítios arqueológicos no médio rio Jacuí. abaixo do local da futura barragem.

Na grande maioria dos sítios Guarani são observáveis manchas de terra preta (escura), em número de uma a cinco, prevalecendo entre uma e

três. A forma dessas manchas é circular e o diâmetro variável entre

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8 e 30m,

predominando entre 8 e 15m

FOTO 5 _ Cortes experimentais (trincheira) no sitio RS-JC-57.

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Em vários sítios obtivemos notícia de ter sido encontradas, em lavouras, vasilhas relativamente grandes com ossos humanos no seu interior (crânio, fêmur, tíbia, costelas, etc.) acompanhadas de duas ou três vasilhas pequenas e, num caso, com mais três cachimbos. Essas peças foram destruídas quando da sua retirada ou levadas por colecionadores ou pequenos museus regionais, Nós conseguimos resgatar apenas um achado desses.

FOTO 6 - Maxilar inferior

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in s it u encontrado nos cortes experimentais do sítio RS-JC-56. Esta peça éa mesma da foto 8w.

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DESCRiÇÃO DO M ATERIAL

4_1 - Tradição Tupiguarani, Subtradição Guarani

O material foi dividido conforme sua matéria-prima.

4.1.1 - Cerâm ica

4.1.1.1 - Vasilham e - Foram estudados 13,916 fragmentos de cerâmica de

vasilhas, além de três peças relativamente completas. A técnica de confecção é o acordelado, podendo-se observar os positivos e os negativos dos raletes. Os roletes apresentam-se sobrepostos (conforme a própria definição de acordelado) ou em espiral, a partir da base. O antiplástico predominante é o arenoso, detectável inclusive pelo tato, mas observa-se também um argilo-arenoso. A areia é formada por grãos de quartzo arredondados, com uma média de 0,2mm. Os grãos de hematita são mais freqüentes no antiplástico

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FOTO 7 _ Fragmentos de vasilhas da Tradição Tupiguarani: simples (a, b), corrugados (c, d, f, g), corrugados-ungulados (e, h _ I, n, o _ q), ungulados (r - y); afiador-em-canaleta sobre fragmento de vasilha corrugado-ungulado (rn): vasilha ungulado (z) encontrado no interior de urna com três cachimbos tubulares cônicos (ver Foto 8k),

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argiloso e as dimensões giram em torno dos 1,5mm, mas chegam a alcançar 6,Omm de diâmetro. A areia é irregularmente distribuída na pasta. Textura frouxa e freqüentes bolhas de ar, visíveis a olho nu. Fratura mais ou menos regular, coincidindo com a junção dos roletes. Cor do núcleo: lilás, preto-pardacento e pardacento-oliva entre paredes mais claras pardacento-amareladas. Cozimento: em atmosfera oxidante, incompleto, com a maior parte em ambas as faces, numa espessura média de 1,5mm; mal-controlado, apresentando na superfície manchas escuras. O cozimento na face externa é em geral mais espesso do que na interna.

Tratamento de superfície: alisada medianamente na face interna e também na face externa quando simples (Foto 7a, b). As decorações plásticas observadas foram: corrugada-ungulada (a mais freqüente) (Foto 7e, h I, n, o -q), corrugada - verifica-se uma relativa variedade de tipos de corrugações (Foto 7c, d, f, g) - ungulada (Foto 7r - z; Foto 8a, b, d), mista (Foto 8c, e - h), roletada (Foto 8i), escovada, pinçada (as três últimas insignificantes em quantidade); as pintadas foram divididas em dez tipos, predominando, pela ordem, os tipos "A" (vermelho sobre branco na face externa) (Figura 3a, c - k; Figura 4a - e, h, j; Figura 5a - h; Figura 6m - n; Figura 7e - h), "E" (engobo vermelho na face interna) e "8" (vermelho sobre branco na face interna) (Figura 6a - k); vêm a seguir, também pela ordem quantitativa, os tipos "D" (engobo vermelho na face externa), "F" (engobo vermelho em ambas as faces), "K" [tricolor (vermelho e preto sobre branco) na face externa] (Figura 3b; Figura 4f, g, i), "L" [tricolor (vermelho e preto sobre branco) na face interna] (Figura 61), "H" (vermelho sobre branco interno e engobo vermelho externo), "G" (vermelho sobre branco externo e engobo vermelho interno) e "C" (vermelho sobre branco em ambas as faces). Grande quantidade de fragmentos classificados como vermelho sobre branco na realidade apresentam, além do vermelho, em geral nas faixas horizontais no lábio e nas dobraduras, motivos ou traços paralelos às faixas com tonalidades mais escuras (pardacento-liláceo, terra de Siena com tonalidades). Registrou-se a ocorrência de traços verticais de pintura vermelha realizada com a extremidade dos dedos em setor da peça sem pintura. Ao contrário daquilo que conhecíamos para a cerâmica pintada, um lábio não se encontrava com engobo vermelho e sim branco (Figura 7g). Encontramos poucos casos de suporte interno de tampa de urna, ao que tudo indica circundante, em fragmentos de pintado "A" (Figura 5e', g'). Os tipos mistos são aqueles com dois tipos de decoração numa mesma superfície ocupando áreas distintas ou com uma decoração numa face e outra na face oposta. Os tipos que ocorrem

são, pela ordem: corrugado-ungulado externo e engobo vermelho interno; corrugado-ungulado externo e vermelho sobre branco interno; corrugado ~xterno e enqobo- vermelho interno; ungulado externo e engobo vermelho Interno; ungulado externo e vermelho sobre branco interno; corrugado e

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ungulado (Foto 8f), inciso externo e engobo vermelho interno (Foto 8h), roletado externo e engobo vermelho interno, roletado e ungulado (Foto 8e), roletado e ungulado externo e engobo vermelho interno, corrugado com vermelho externo (sobreposição), roletado com corrugado-ungulado externo (Foto 8c) e digitado com ungulado externo (Foto 8g) (os últimos sete tipos com uma ocorrência).

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-FIGURA 3 - Fragmentos de vasilhas pintados extemamente de vermelho sobre branco (a, a', c - k'); vermelho e preto sobre branco (b). As mesmas letras sem e com apóstrofo correspondem ao fragmento e sua borda. respectivamente. As linhas contínuas e áreas escuras correspondem à pintura vermelha, e as tracejadas, às pretas. A linha tracejada na figura "c" trata-se de coloração pardacento-lilácea.

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Formas: as aberturas das vasilhas se encontram entre 5,0 e 58,Ocm, predominando a faixa entre 11,0 e 29,Ocm (90,6%). Não foi observada diferença entre decoração e tamanho das vasilhas, exceto que as simples não apresen.tavam as maiores dimensões. Quanto ao contorno, nas sem decoração e pintadas internamente de vermelho sobre branco predominam os contornos simples, e na pintada vermelho sobre branco

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externamente, os compostos e complexos. As decoradas plasticamente, em especial as corrugadas, corrugadas-unguladas e unguladas apresentam formas inflectidas e diretas. A espessura das paredes varia entre 0,2 e 2,5cm, predominando entre 0,6 e 1,3cm (83,3%).

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FIGURA 5 _ Fragmentos de vasilhas pintados externamente de vermelho sobre branco. As mesmas letras sem e com apóstrofo correspondem ao fragmento e sua borda, respectivamente. As linhas tracejadas nas figuras "a" e "e" são de coloração pardacento-iilácea As figuras "e" e "g", apresentam reforço interno.

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--FIGURA 6 . Fragmentos de vasilhas pintados internamente de vermelho sobre branco (a . k'); vermelho e preto sobre branco (I, I'); pequenas vasilhas reconstituídas pintadas de vermelho Sobre branco externamente (rn. n). As mesmas letras sem e com apóstrofo correspondem ao fragmento e sua borda, respectivamente. As linhas contínuas e áreas escuras correspondem a

pintura vermelha. e as tracejadas, às pretas. A linha tracejada nas figuras "a". "rn'', "n", e pontos nas "g", "j", "i", trata-se de coloração terra-de-siena-escura.

Quanto à forma, predominam, nas sem decoração e pintadas internamente de vermelho sobre branco, a meia calota e meia esfera; nas COrrugadas, corruqadas-unquíadas e unguladas, as inflectidas e compostas formando um duplo cone, com a parte inferior bem maior, ou ainda com a

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parte inferior semiesférica (Figura 8a - j, n - r). Outras formas incomuns vemos na Figura 7a - c. As formas complexas ocorrem nas pintadas tipo "A" (Figura 6n; Figura 7e - h; Figura 8k - I, s, t). As bordas são, em sua maioria, extrovertidas, diretas, inclinadas externamente; nas pintadas também são registradas bordas introvertidas e com reforço externo.

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.-FIGURA 7 - Vasilhames da Tradição Tupiguarani, Subtradição Guarani: simples (a), ungulada (b, d). corrugada-ungulada (c). pintada "A" (e - h). Os tipos "a" e" e " são incomuns à Guarani. A vasilha "b" encontrava-se dentro de uma urna corrugada, juntamente com dois cachimbos, um deles o da Foto 8k. A escala de 8cm, no canto direito, corresponde somente à urna "h". As vasilhas " e " e "g", foram encontradas dentro de uma urna com ossos humanos. A urna com os ossos fOI enterrada novamente pelo proprietário que a encontrara.

26 BIBLOS, Rio Grande. 8: 9 - 42. 1996

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FIGURA 8 - Formas comuns de vasilhas do médio Jacuí: simples (a, b, d, e, i, j); ungulada (b, d, f, p); cOrrugada e corrugada-ungulada (a - j, n _ r); mista (b _ d, g, j, n); pintada internamente (b - d); pintada externamente (k _ m, s, t).

Os lábios são, em sua quase totalidade, arredondados. Observamos varras casos de lábios com ungulações perpendiculares ao Contorno da boca (Foto 7c, p) e bordas com ungulações sobre o reforço externo que elas apresentavam (Foto 7s, Z, 8d). Um caso não-confirmado de sinal de alça extern?mente. Um fragmento de borda apresenta, logo abaixo do pescoÇo, uma pequena asa vertical (Figura 7d, Foto 7r). As bases são levemente arredondadas, algumas quase cônicas e outras planas.

BIBLOS, RIOGrande. 8' 9 ·42, 1996.

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FOTO 8 _ Fragmentos de vasilhas da Tradição Tupiguarani unguladas (a, b, d), mistas (c, e -h) e roletada (i). As mistas são roletada e corrugada-ungulada (c), roletada e ungulada (e), corrugada e ungulada (f), digitada e ungulada (g), incisa (externamente) e vermelho (internamente) (h). Conta esférica em cerâmica U)e cachimbo tubular cênico reto (k).

Material ósseo (I _ n); conchífero (o - v). Peça de uso desconhecido (I), ponta (m), anzol (n), contas-de-colar em gastrópode marinho (o - q), cilíndrica (r), retangulares curvas (s, t),

peça inconciusa (u) e pingente (v).

Vestígios fitofaunisticos (x, a', d') e restos humanos (w, y, z, b', c').

BIBlOS. Rio Grande, 8: 9 - 42, 1996.

28

Ainda em cerâmica, registramos a ocorrência das segumtes peças:

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4.1.1.2 - Cachim bo - Recebemos como doação dois dos três encontrados

dentro de uma urna funerária com tampa, juntamente com uma pequena

vasilha (Foto Bk). Os cachimbos são tubulares, cônicos, retos. Dimensões:

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B ,5 e 6,9cm de comprimento: 4,2cm de diâmetro maior e O,Bcm de espessura das paredes (ambos); fornilho com 2,2 e 2,9cm de profundidade, 2,Bcm de abertura (ambos) e diâmetro da perfuração na boquilha de 0,7 e 0,9cm, respectivamente.

4.1.1.3 - Conta -Duas peças mais ou menos esféricas, uma restando a metade,

ambas com perfuração central. A partida ao meio apresenta um sulco numa extremidade ao redor da perfuração. Dimensões: 2,1 x1 ,9cm e perfuração com 0,4cm de diâmetro; 1,9x1 ,3cm e perfuração com 0,3cm de diâmetro (Foto Bj).

4.1.1.4 - Afiador-em -canaleta - Uma peça sobre fragmento de vasilha

corrugado-ungulado, com um sulco levemente curvo na face externa, perfil em "U". Dimensões do sulco: 7,Ocm de comprimento, 0,6cm de largura e O,5cm de profundidade. A espessura do fragmento é de 1,Bcm (Foto 7m).

4.1.1.5 - Rolete - Em raros sítios foram constatados roletes, em número de

um até oito, com diâmetros que variam entre O ,B e 1,4cm. Forma mais ou menos cilíndrica, apresentam extremidades apontadas, amassadas ou na forma do rolete. Alguns encontram-se fragmentados.

.'-4.1.1.6 - M assa - Em quase todos os sítios onde ocorrem os roletes foram

encontradas massas de argila de forma irregular. Apresentam sinais de amassamento, inclusive com impressão digital. As dimensões variam entre 4,5x2,Ocm (comprimento x espessura) até 1 ,O x O A c m . Uma apresentava uma cavidade com O,9cm de diâmetro e 3,4cm de profundidade (1,Ocm a menos que o comprimento da massa).

4.1.1.7 - Peça de uso desconhecido - Pequeno cilindro com entalhe

circundante na parte medial. Dimensões: 1,9cm de comprimento e 1,Ocm de diâmetro.

4.1.2 - Seriação

Através das coletas superficiais sistemáticas e cortes experimentais, montamos uma seriação (método para estabelecer cronologias culturais). Cada amostra procede de uma concentração cerâmica ou de manchas de terra escura (preta) e dos níveis de quatro cortes experimentais. Utilizadas 51 amostras (18 foram rejeitadas por

BIBlQS, Rio Grande, 8: 9 -42. 1996

(12)

apresentarem número insuficiente de fragmentos e daí não se encaixarem na seriação), os resultados foram os seguintes:

1 - Constatamos a existência de uma só fase; 2 - O simples decresce de popularidade;

3 - O ungulado e o corrugado se mantêm estáveis; 4 - O corrugado-ungulado cresce de popularidade;

5 - O pintado (foram somados todos os pintados) apresenta suave decréscimo. Quanto ao movimento migratório, observam-se duas áreas de concentração. A primeira e mais antiga se situa em Nova Boêmia, com movimentos para o norte, até Linha Ressaca, e para o sul, até Linha Boêmia; a segunda é na Linha Ressaca, com movimentos que, em ambas as direções, atingem toda a área estudada. Apesar das poucas amostras da margem direita do rio, podemos dizer que aquelas ocupações se

processavam em ambas as margens do Jacuí.

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4.1.3 - Lítico

4.1.3.1 - Polido - Nessa divisão do material Iítico se encontram peças bem

características da Tradição Tupiguarani, Subtradição Guarani: as lâminas de machado polidas, as placas peitorais e os tembetás. As primeiras são confeccionadas sobre seixos de basalto, forma petalóide e perfis biconvexos. Os bordos proximal e distal são levemente convexos. São observados sinais de polimento (estrias) em toda a superfície da peça e picoteamento nas laterais próximo ao bordo de preensão. O ângulo do bordo ativo se encontra entre 60 e 800, e as dimensões médias em torno dos 10,Ox5,Ox4,5cm -comprimento x largura x espessura. Uma peça, de dimensões incompatíveis com as de uma lâmina de machado polido, porém com as suas características, possui 3,8x2,3xO,7cm e ângulo do bordo ativo 400 (Foto 9a - g).

Registramos a ocorrência de apenas uma placa peitoral, inconclusa (sem os furos de suspensão), em basalto, forma trapezoidal com os 4 bordos convexos, perfil longitudinal biconvexo e transversal plano-convexo Dimensões: 4,4x3,1 xO,7cm (Foto ge').

Encontramos três fragmentos de tembetás em cristal de rocha, dois de seção cilíndrica e um elipsóide, duas extremidades distais e uma medial. Dimensões 0,8 e 2,Ocm de diâmetro e 1,1xO,9cm (largura x espessura).

Localizamos apenas uma conta-de-colar em calcedónia (?) verde-azulada-enegrecida, cilíndrica, com 1,60cm de comprimento, 0,85cm de diâmetro

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e 0,30cm o diâmetro da perfuração.

Registramos seis peças cujo uso é desconhecido. Quatro são em arenito, totalmente alisadas, duas trapezoidais, uma triangular e uma ovóide (esta fragmentada num lado), perfis biplanos (três) ou plano-convexo, lados convexos, levemente convexos e retos. Dimensões: 4,1 a 6,Ocm de

30 BIBLOS. Rio Grande. 8: 9 - 42. 1996.

comprimento, 2,1 a 4, 1cm de largura e 0,6 a 1,2cm de espessura (Foto 9f, g'). Uma placa em basalto, superfícies e laterais alisadas, forma retangular e perfis biplanos. Dimensões: 9, 1x4,6x1 ,5cm. Um fragmento em cristal de rocha, polido e picotado, perfil levemente convexo e lateral convexa. Espessura: 1,6cm.

4.1.3.2 - Lascado - São relativamente freqüentes, em sítios Guaranis,

lascas e núcleos de calcedônia. Eram as primeiras preparadas, formas variadas, predominando as irregulares e triangulares, uma ou outra utilizadas para cortar e raspar (Foto 9w, x). Observamos, também, na presente pesquisa, um grande número de lascas lanceoladas, estreitas e pontiagudas, que classificamos como pontas, algumas com nítidos sinais de utilização. Obtidas através da técnica bipolar, apresentam três faces, sem camada cortical. Possuem em torno de 2,5 a 4,Ocm de comprimento, 0,7 e 0,8cm de largura e O,4cm de espessura (Foto 9q _ v). Mais raramente registramos a ocorrência de pontas-em-buril. Várias dessas lascas podem apresentar camada cortical numa das extremidades, especialmente as lascas mais largas.

Os núcleos são irregulares, alguns esgotados, que apresentam várias faces, de onde foram retiradas lascas, distinguindo-se as obtidas por percussão direta e as por técnica bipolar (Foto 9y)

Em sítio Tupiguarani registramos apenas dois raspadores, um lateral, em basalto, sobre lasca espessa, sem retoques, com camada cortical na parte alta e central, forma ovóide e perfis irregulares; outro em arenito metamorfizado e com as mesmas características do anterior. Ângulo do bordo ativo entre 60 e 900. Dimensões: 10,8x6,Ox4,Ocm e 6,6x5,2x5,3cm.

Em um sítio de material Umbu e Tuplguarani e outro Humaitá e Tupiguarani, mesclados, registramos a ocorrência de três raspadores, um semicircular e um mais ou menos trapezoidal em basalto e um circular em calcedônia, os dois últimos com ponta e as demais características se encaixando nos dois primeiros descritos, inclusive as dimensões e ângulo do bordo ativo (Foto 9h _j) .

Ainda encontramos talhadores bifaciais sobre seixos de basalto, Com escassos lascamentos por percussão direta sobre a extremidade distal

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desta até a metade da peça As dimensões se aproximam das peças Iguais da Tradição Humaitá (Foto 9k _ n)

4.1.3.3 - Utilizado - Como peças de lítico utilizado, isto é, que não sofreram

preparo para serem utilizadas, destacamos os afiadores-em-canaleta (Foto 9a' - c') e os polidores (Foto 9z, d'), ambos sobre plaquetas ou blocos de arenito. Em geral encontram-se fragmentadas, daí apresentarem formas irregulares, porém os perfis são biplanos.

BIBLOS, Rio Grande. 8: 9 -42, 1996.

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Os afiadores apresentam um ou dois sulcos em "U", que cortam a peça, às vezes se entrecruzando O polimento e o(s) sulco(s) são observados sobre uma ou duas faces. Uma peça apresentava finíssimas estrias numa face polida.

Alisadores (de cerâmica) são pequenos seixos de basalto, forma mais ou menos circular e perfil plano-convexo, que possuem uma face alisada.

Registramos apenas três batedores sobre seixos, em basalto, pois

a quantidade de seixos existentes não permitia uma segura classificação.

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4.1.3.4 - M atéria corante - Fragmentos de laterita em aproximadamente

15% dos sítios, e são raríssimos aqueles que apresentaram sinais de utilização. Estes se caracterizam por estrias finíssimas (raspado) sobre uma superfície, deixando-a plana.

4.1.4 - Ósseo

Como material ósseo encontramos o seguinte (todo do RS-JC-56): uma ponta lanceolada, alisada da metade para a extremidade distal, seção em meia-cana. Dimensões: 5,8xO,6xO,2cm (Foto 8m). Um fragmento medial de ponta (?) com sinais de alisamento.

Uma peça de uso desconhecido, polida em toda a superfície, alargando-se numa extremidade, seção elipsoidal. A extremidade mais estreita é reta, perpendicular ao eixo longitudinal da peça, e a outra apresenta uma ponta mais ou menos arredondada. Dimensões: 4,1 xO,6x0,4cm (Foto 81).

Um anzol com formato da letra "J", apresentando uma saliência ("cabeça") na parte superior para preensão; junto à extremidade ativa da peça observa-se uma saliência em ponta voltada para a parte interna. É mais estreito na parte de preensão, alarga-se na curvatura para novamente estreitar-se. Seção biplana. Observam-se estrias de alisamento. A parte ativa, incluindo a curvatura e 1/3 da haste, encontra-se queimada (preta). Dimensões: 2,07xO,90xO,25cm (Foto 8n). O proprietário encontrou e possui um anzol com as mesmas características do anterior, incluindo dimensões, exceto a saliência em ponta junto à extremidade ativa e sinais de queima.

4.1.5 - Conchífero

Também proveniente do sítio RS-JC-56, todas representando contas-de-colar, exceto uma que seria um pingente. Descreveremos as primeiras.

Três conchas marinhas, esbranquiçadas, univalves

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( J a s p id e la ja s p id e a ) com a extremidade (ápice) perfurada. Dimensões entre 1,2 a

1,8cm de comprimento e 0,5 a 1,Ocm de largura; perfuração: 0,20 a 0,25cm

34 SISLOS, Rio Grande. 8: 9 - 42, 1996.

de diâmetro (Foto 80 - q).

Duas contas mais ou menos retangulares, curvas, que se afinam para a extremidade distal, perfis biplanos, esbranquiçadas, com perfuração na extremidade (uma se encontra fragmentada na perfuração). Observam_ se estrias de alisamento. Dimensões: 2,5xO,7x0,4cm e 3,2xO,8xO,2cm; diâmetro do orifício: 0,3cm (Foto 8s, t).

Uma conta cilíndrica (cilindro truncado), esbranquiçada, perfis biplanos. Dimensões: 0,6cm de diâmetro e 0,6cm de largura; 0,23cm o diâmetro da perfuração central (Foto 8r).

Um pingente triangular com perfuração no vértice. Possui uma depressão numa face e a outra com alisamento na direção das laterais longitudinais e para o vértice da perfuração (o perfil dessa face é convexo); coloração esbranquiçada. Dimensões: 2,3x1,5xO,3cm; perfuração: 0,16cm (Foto 8v).

Uma conta-de-colar ou pingente inconcluso, formato retangular alargando-se numa direção, vértices arredondados, perfis côncavo-convexos, três lados levemente convexos e um reto. Dimensões: 2,15x1,03xO,14cm (Foto 8u).

4.1.6 - Vestígios fitofaunísticos

O material identificado pelo Prof. Édison Vicente Oliveira, da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, proveniente de um sítio (RS-JC-56), é o seguinte:

4.1.6.1 - Ósseo

4.1.6.1.1 - M am íferos (Foto 8x, a', d'):

Classe MAMMALlA, Ordem MARSUPIALlA, Família DIDELPHIDAE, Gênero D id e lp h is Linnaeus, 1758, D id e lp h is sp., Gambá.

Ordem EDENTATA, Família DASYPODIDAE, Tribo Dasypodini, D a s y p u s n o v e m c in c t u s Linnaeus, 1758, Mulita grande, crioulo. D a s y p u s h y b r id u s (Desmarest. 1804), Tatu-mulita. Tríbo Euphractini, E u p h r a c r u s s e x c in c t u s Linnaeus, 1758, Tatu-peludo Tribo Priodontini, C a b a s s o u s cf. C.

t a t o u a y (Desmarest, 1804), Tatu-rabo-mole.

Ordem CARNIVORA, Família CANIDAE, Gênero C h r y s o c y o n Hamilton Smith, 1839, C h r y s o c y o n b r a c h y u r u s , Lobo-guará.

Ordem RODENTIA, Família CAPROMYIDAE, Gênero M y o c a s t o r Kerr, 1792, M y o c a s t o r c o y p u s , Ratão-do-banhado.

Família CRICETIDAE, Subfamília Cricetinae gen. et sp. indo Ordem ARTIOQACTYLA, Família TAYASSUIDAE, Gênero T a y a s s u , T a y a s s u sp., Porco-do-mato.

Família CERVIDAE, B la s t o c e r u s d ic h o t o m u s . Cervo-do-pantanal.

BIBLOS. Rro Grande. 8: 9 -42, 1996.

(15)

O z o t o c e r u s b e z o a r t ic u s ,

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Veado-campeiro. cf. M a z a m a sp., Veado-virá.

4.1.6.1.2 - Répteis

Classe REPTILlA, Subclasse TESTUDINATA, Ordem CHELONIA, Família CHELlDAE, Gênero P h r y n o p s , P h r y n o p s sp., Tartaruga.

4.1.6.1.3 - Aves

Superordem PALAEOGNATHAE, Ordem TINAMIFORMES, Família TINAMIDAE, T in a m u s sp., Macuco. R h y n c h o t u s sp., Perdigão.

4.1.6.1.4 - Peixes de água doce

Classe OSTEICHTHYES, Ordem SILURIFORMES, Família LORICARIIDAE, Gênero H y p o s t u m u s sp., Cascudo.

4.1.6.2 - Moluscos

4.1.6.2.1 - Moluscos bivalves

Classe BIVALVIA, Ordem UNIONOIDA, Família HYRIIDAE, Gênero D ip lo d o n Spix, 1827, D ip lo d o n sp.

4.1.6.2.2 - Moluscos univalves - Identificados pela Prof." Inga L. Veitenheimer Mendes, Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul:

Classe GASTROPODA, Ordem MESOGASTROPODA, Família AMPULLARIIDAE, Gênero P o m a c e a , Pomacea_sp.

Classe GASTROPODA, Ordem BASOMMATOPHORA, Família Chilinidae, Gênero C h ilin a , C h ilin a spp. (mais de uma espécie).

Classe GASTROPODA, Ordem STYLOMMATOPHORA, Família FRUTICICOLlDAE, Gênero B r a d y b a e n a , B r a d y b a e n a s im ila r is .

4.1.7 - Ossos humanos

Identificados pelo médico traumatologista Tibiriçá Segala, de Santa Cruz do Sul, os ossos humanos, encontrados associados aos vestígíos fitofaunísticos descritos no capítulo anterior (cinco), foram os seguintes: um maxilar humano fragmentado com dois molares (Foto 6, 8w), um fragmento proximal de epífise de úmero (Foto 8b'), um fragmento de extremidade proximal de fêmur (com epífise) (Foto 8c'), dois fragmentos de costelas (Foto 8y, z). Não pertencem a um mesmo indivíduo.

O maxilar humano foi analisado pelo cirurgião-dentista Mário Eichenberg, e os resultados foram os seguintes: "Fragmento de mandíbula, lado direito, da região canina até o côndilo, que está íntegro, bem como a apófise coronóide. Indivíduo jovem, porém não é possível distinguir o sexo.

Não há evidência óssea de inserções de músculos mastigadores vigorosos

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3 6 BIBlOS, Rio Grande. 8: 9 - 42, 1996.

devido à pouca idade. Os alvéolos do 1.° e 2. ° pré-molares inferiores direitos

estão vazios. O 1.° e o 2. ° molares estão presentes e soltos nos seus alvéolos. Removendo o 1.° molar, notamos calcificação completa dos ápices, duas raizes e quatro canais radiculares, bem como cárie pequena por vestibular na fossa. Os pontos de contato proximais estão bem marcados, com facetas de desgaste. Na superfície oclusa/, facetas grandes de desgaste por provável dieta fibrosa No 2. ° molar, facetas do mesmo tipo acima, porém na região proximal apenas por mesial, devido à não-erupção do 3.° molar. As raízes estão fusionadas, com calcificação incompleta do ápice radicular com os forâmens apicais ainda bem abertos. Entre o terço cervical e o terço médio das raízes, por vestibular, uma pérola adamantina, achado não muito raro em nossos dias. Ao exame radiográfico constatamos a presença do 3. ° molar inferior incluso e m p a c ta o o . com a coroa ainda incompletamente calcificada, não tendo ainda começado a formação da raiz. Esse dado, mais a situação do 2° molar, colocam o indivíduo numa faixa etária ao redor de 12 anos. Não há evidência de moléstia periodontal".

4.2 - Tradição

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Característico da Tradição Umbu e definido como da fase Rio Pardinho (Brochado & Schmitz, 1976), encontramos o seguinte material, todo ele lascado por percussão e, exceto as pré-formas bifaciais, também por pressão: pontas-de-projétil pedunculadas de base bifurcada, com aletas. corpo triangular isósceles, relação corpo-pedúnculo varia de 2,2 a 3,0, médias nas três dimensões, perfis transversais biconvexos e longitudinais irregulares. Os retoques são perpendiculares e oblíquos ao eixo longitudinal da peça, semicirculares e retangulares. Ângulo do bordo ativo: 40 a BOo.A matéria-prima utilizada é a calcedônia e arenito metamorfizado (Foto 9h' _j'). As pré-formas bifaciais são elipsóides, perfis biconvexos-irregulares ou convexo-triangular, em arenito metamorfizado ou calcedônia. Quando fragmentadas representam extremidades distais ou proximais (poderiam ter forma lanceolada, ovóide e circular) As dimensões giram em torno dos 5,5cm de comprimento, 3,Ocm de largura e 1,3cm de espessura (Foto 9k', n'). Pontas: uma em arenito metamorfizado e outra em basalto, ovóides e perfil convexo-triangular. Não possuem camada cortical e as pontas são formadas por duas e três faces. Dimensões: 5,6x3, 1x1 ,6cm e 6, 7x3,5x1 ,Bem (Foto 91', rn'). Registramos ainda um fragmento de uma faca, em calcedônia, com retoques periféricos em bordo convexo O ângulo do bordo ativo é 400 e a espessura 1,2cm.

Os raspadores encontrados em sítios da Tradição Umbu foram apenas três, dois làterais e um atípico. Os dois em arenito metamorfizado foram confeccionados sobre lasca espessa e o em basalto sobre bloco.

BIBLOS, Rrc Grande. 8: 9 -42. 1996

(16)

Apenas um possui retoques nas laterais e extremidade convexa, todos com camada cortical. Os perfis são irregulares. As dimensões médias são de 10,Ox7,Ox3.5cm. Registramos, ainda, como da Umbu, uma peça em confecção, em arenito metamorfizado, elipsoidal, lascamentos bifaciais e sobre lasca [pré-forma bifacial (?)].

Várias lascas mostraram retoques uni ou bifaciais e/ou sinais de utilização, estes representados por bordos denteados ou com microlascamentos (raspar. cortar), formas irregulares e mais ou menos quadrangulares, perfis convexos-triangulares, preparadas, isto é, sem camada cortical, a maioria em arenito metamorfizado. As outras lascas

apresentam as mesmas características das anteriores.

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4.3 - Tradição Hum aitá

Atribuídos

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à Tradição Humaitá. fase Jacuí (Brochado, 1969), registramos os talhadores bifaciais e os pequenos talhadores bifaciais (estes com menos de 15cm de comprimento e. em geral, com um melhor acabamento do que os outros) A matéria-prima utilizada é o basalto e o arenito metamorfizado; as formas são lanceoladas (dois com ponta), curvos, em "S" e laterais. Os lascamentos são periféricos. daí quase todos possuírem camada cortical em uma ou em ambas as faces na parte central da peça. Alguns apresentavam esmagamentos nas laterais. Perfís irregulares, biplanos, plano-convexos, assimétrico-biconvexos e convexo-irregulares. Dimensões variam entre 8,Ox3,9x3,5cm (2,4cm a menor espessura) e 23,Ox8,5x4,6cm (8,8 e 5,7cm a maior largura e espessura, respectivamente) (Foto 90, p).

5 -COM PARAÇÕES E CONCLUSÕES

Primeiramente vamos descartar a possibilidade de compararmos o material das Tradições Umbu e Humaitá, em virtude de ser escasso e não muito representativo, além de não ter sido esse o objetivo do presente trabalho. Apenas queremos confirmar a sua presença na área através de 10 sítios arqueológicos.

Quanto ao material da Tradição Tupiguarani, ele se assemelha, em grandes traços, ao existente da mesma Tradição, no sul do Brasil, nordeste da Argentina, mesopotâmia dos rios Paraná e Uruguai, incluindo o rio da Prata, Uruguai e sul do Paraguai. Daí uma primeira conclusão, ou seja, que o material do médio Jacuí pertence à Subtradição Guarani. Como a

decoração mais popular da cerâmica é a corrugada-ungulada, predominando praticamente em todas as amostras. concluímos que a

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cerâmica estudada por nós está inserida dentro do Estilo Corrugado (Mentz Ribeiro, 1991).

Comparando o material por nós encontrado. da Tradição Tupiguarani, Subtradição Guarani, com as fases da mesma Tradição e Subtradição mais próximas, Toropi (Brochado, 1969), Vacacaí (Brochado, 1969 e 1971) e Guaratã (Brochado, 1971; Schmitz et aI., , 1981; Schmitz, 1985), os resultados são os seguintes:

1 - Tipos de assentamentos Quanto a esse aspecto, a fase que mais se aproxima das características dos sítios por nós estudados é a Guaratã: habitações alinhadas (duas a cinco) ou em semicírculo, planta circular ou elíptica, alguns simultaneamente sítios-cemitérios e na várzea do no Jacuí. Até as pesquisas de Brochado, os sítios eram encontrados longe dos grandes rios e no topo das coxilhas. As três fases apresentavam essas duas últimas características, com exceção de dois sítios da Guaratã na várzea do Jacuí. Schmitz registrou mais tarde a ocorrência de sítios das fases Guaratã e Toropi na várzea do Jacuí, a última com sítios mais próximos da confluência deste com o Jacuizinho (mais rio acima comparativamente aos sítios da Guaratã).

2 - Cerâmica. No que se refere ao antiplástico. a semelhança é com as fases Vacacaí e inicial da Guaratã, isto é, arenoso. Quanto à decoração, não temos as variedades da Guaratã, mesmo que insignificantes; já o escovado ocorre em todas as três e nós registramos apenas cinco fragmentos num sítio somente. Não temos meios de comparação com as formas. uma vez não serem representadas ou descritas.

3 - Lítico. As três fases que estamos comparando não apresentam completa semelhança com aquilo que encontramos. Mas entre elas é a Guaratã que guarda maior identidade; as lascas de quartzo (ágata, cristal de rocha) usadas como facas e furadores também são destaques, afiadores-em-canaleta, lâminas de machado polidas. bolas de boleadeira e itaiçá. Excluímos os dois últimos artefatos. que não constam dos nossos achados. A seguir. é a fase Toropi que mais se aproxima. exceto pela ocorrência, nesta, de mão-de-pilão, bola de boleadeira e machado de ferro. Na Vacacaí foram registrados cunha de ferro, itaiçá e bola de boleadeira. No vale do no Pardo. itaiçá (itaizá) e cunhas de ferro foram encontradas na redução jesuítica espanhola de Jesus Maria (1633-1636) ou sitios Vinculados a ela. Conseqüentemente, os locais com aqueles implementos nos vales dos rios Toropi e Jacut deverão apresentar algum tipo de associação com as reduções da primeira fase no Rio Grande do Sul (1626-1641). Poderiam ter Sido elas São Miguel, São Cosme e Damião, no Toropi, e Ibicuí Mirim e Sant'Ana, no Jacuí.

BA

A o estudo que estamos desenvolvendo interessaria apenas a última.

A conclusão a que chegamos. quanto ao tipo de assentamento

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para os Guaranis, é de que estes se encontram nas várzeas relativamente planas, em seus trechos um pouco mais elevados, junto à calha do rio. A proximidade dos sítios de corredeiras e/ou desembocadura de sangas com o rio principal, conforme Schmitz e colaboradores, julgamos acidental (Schmitz et ai, 1981). "Os sítios mais antigos, maiores, estão na parte baixa do vale, onde as várzeas são mais largas e as paredes do dique menos empinadas. Na medida em que subimos o vale encontramos aldeias menores e mais recentes" (Schmitz et ai, id.). Concordamos que os maiores

estejam na parte mais baixa do vale, porém

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dentro da área pesquisada. No que se refere ao aspecto temporal, poderemos confirmar, uma vez

retomadas as pesquisas na área. Naquele mesmo trabalho os autores afirmam que a colonização parece ter sua origem " ... um pouco abaixo do lugar de implantação da barragem; daí se teriam espalhado rio acima e rio abaixo, ocupando os terrenos que se prestavam ao mesmo tipo de cultivos" (Schmitz et ai, id., p.14). Ainda, que os sítios antigos e rl]'édios e talvez os recentes na parte mais baixa do vale correspondem à fase Guaratã, e os mais recentes, rio acima, à Toropi. A nossa seriação indicou apenas uma fase para a área pesquisada. Concluímos que essa seria a Guaratã, pois é a que mais se assemelha com tudo aquilo que encontramos e estudamos (material e tipo de assentamento)

Quanto à periodização, as primeiras ocupações teriam sido no século

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V da nossa era, correspondendo às datas mais antigas do Estilo Corrugado, quando este ". parece estar no seu período de apogeu, correspondendo provavelmente a uma adaptação equilibrada com o seu novo ambiente, o que lhe permite uma expansão rápida a toda a área ecológica e uma competição vitoriosa com os grupos de caçadores ou cultivadores incipientes que o ocupavam anteriormente" (Schmitz et ai, id., p.12).

As últimas habitações alcançaram provavelmente a chegada dos jesuítas espanhóis na região, em torno de 1630 A. D. (itaizá, cunha de ferro). Schmitz et ai acreditam ter havido contato do Guarani com os caçadores da fase Rio Pardinho, " pois num dos abrigos, junto com os materiais liticos, foram encontrados alguns fragmentos cerárnicos" (Schmitz et ai, id., p.14). Não concordamos com esta afirmação, pois o Guarani vai ocupar locais cobertos, em períodos muito recentes em outras áreas (vale do rio Pardo e do Camaquã, por exemplo), isto é, século XVII ou posterior.

Concordamos com o trabalho anteriormente citado, quando é apresentado o vale do Jacuí como muito importante para o estudo da colonização Tupiguarani no Rio Grande do Sul, pois ele " ... pode ter sido o elo de ligação para a colonização das áreas de mato mais para o leste do mesmo Estado" (Schmitz et ai, id., p.14).

Através do material estudado, também podemos chegar a outras conclusões. Por exemplo: a antropofagia não-ritualística parece ter sido

praticada pelos Guaranis no médio Jacuí com indivíduo jovem; da mesma forma, ao que tudo indica, mantinham algum tipo de contato com o litoral marinho; a pesca era praticada e uma técníca confirmada foí o uso de anzol; a utilízação de pontas de calcedônia para perfurar ou como ponta-de-projétil; a prática da técnica de lascamento bipolar, além da percussão direta.

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AGRADECIM ENTOS

Os primeiros agradecimentos são para os companheiros nas atividades de campo: Joaquim Jorge Silveira Buchaim, bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Angela Berenice Diehl e Ricardo Ott, bolsistas da Fundação de Amparo

à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS); Sirlei Elaine Hoeltz e Sergio Celio Klamt, alunos do Pós-Graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), todos estagiários do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (CEPA) das Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (FISC); acadêmico Osvaldo Torrano Ribeiro, da Federação dos Estabelecimentos de Ensino Superior de Novo Hamburgo (FEEVALE) e Áureo Nunes de Almeida, da Fundação Universidade do Rio Grande (FURG); Sr. Celso Hildo Lopes e estudante Léster Schulz, ambos de Santa Cruz do Sul; e a colaboração em laboratório: Ana Lucia Herberts, aluna do Curso de Graduação em História das Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul (FISC), estagiária do CEPA; acadêmico Waldyr Luiz Lau Filho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); campo e laboratório: Catharina Torrano Ribeiro, pesquisadora do CEPA-FISC.

Um agradecimento especial dirigimos à Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), através dos engenheiros Elias Bochese e Mirabeau Borba dos Santos, que nos cederam uma casa mobiliada na vila da futura barragem de Dona Francisca.

Agradecemos à Dra. Betty J. Meggers, do Smithsonian Institution, Washington, U. S. A., pela tradução para a língua inglesa do resumo do presente trabalho; ao Prof. Édson Vicente Oliveira, em analisar os vestígios ósseos eà Profa Ms. Inga L. Veitenheimer Mendes, na identificação do material conchífero, ambos pesquisadores da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; ao Sr. Olíbio Porto, de Santa Cruz do Sul, responsável pelas figuras 1 e 2 (mapas).

Ao médico Tibiriçá Segala e cirurgião-dentista Mário Eichenberg, ambos de Santa Cruz do Sul, o reconhecimento pela identificação e estudo dos ossos e dentes humanos.

Finalizamos agradecendo ao morador da área pesquisada, proprietário das terras onde se encontram os sítios arqueológicos, pela cooperação à nossa atividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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3 - BROCHADO, José Proenza & SCHMITZ, Pedro Ignácio. Aleros y cuevas con petroglifos e indústria lítica de Ia escarpa dei Planalto Meridional en Rio Grande do Sul, Brasil.

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