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Open Desenho animado e educação: calça quadrada, cabeça redonda?

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LINHA DE PESQUISA: POLÍTICAS PÚBLICAS E PRÁTICAS EDUCATIVAS

DESENHO ANIMADO E EDUCAÇÃO:

Calça Quadrada, Cabeça Redonda?

MARGARIDA SONIA M. MONTE SILVA

Orientadora: Profª. Dra. Adelaide Alves Dias

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MARGARIDA SÔNIA M. MONTE SILVA

DESENHO ANIMADO E EDUCAÇÃO:

Calça Quadrada, Cabeça Redonda?

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em Educação, sob a orientação da Profª. Dra. Adelaide Alves Dias.

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S586d Silva, Margarida Sônia M. Monte

Desenho animado e educação: calça quadrada, cabeça redonda?/ Margarida Sônia M. Monte Silva. – João Pessoa : UFPB, 2010. 167 f.: il.

Orientadora: Adelaide Alves Dias. Tese (Doutorado) – UFPB /CE.

1. Pedagogia crítica. 2. Desenho animado. 3. Representação simbólica. 4. Internalização. 5. Resistência.

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MARGARIDA SONIA M. MONTE SILVA

DESENHO ANIMADO E EDUCAÇÃO:

Calça Quadrada, Cabeça Redonda?

Aprovada em: ____/____/______

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________ Orientadora: Profª. Drª. Adelaide Alves Dias – UFPB

___________________________________________________ Profº. Dr. Walter Matias Lima – UFAL

____________________________________________________ Profª. Drª. Glória das Neves Dutra Escarião – UFPB

____________________________________________________ Profª. Drª. Sônia de Almeida Pimenta – UFPB

____________________________________________________ Profº. Dr. José Vaz Magalhães Neto – UFPB

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A Gilberto, lugar seguro das minhas lembranças. A João Gabriel, filósofo e razão da minha vida. A Sarinha, anjo e alegria do meu viver.

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus misericordioso, por ter me concedido mais uma vitória na minha vida.

Aos meus queridos pais, José e Giselda, obrigado por tudo que me ensinaram e me apoiaram por toda uma vida.

Aos meus irmãos: Hildebrando, Edmundo e Leonardo em cuja determinação eu me espelho.

Às minhas irmãs, companheiras e amigas, fontes de apoio incondicional, Lúcia, Helena e Zelinha, que carinhosamente chamo de: As três Marias.

A João Gabriel que, com sua “filosofia infantil”, me motivou a escolher o tema desse trabalho e pelas suas sugestões durante o percurso de elaboração.

A Sarinha, que com alegria, serenidade e companheirismo tornou menos árdua a caminhada.

À direção, ao corpo docente e aos funcionários da Escola de Educação Básica da Universidade Federal da Paraíba, pela acolhida carinhosa e por permitirem a realização da pesquisa.

Às amadas crianças participantes da pesquisa de campo, que com seu conhecimento e capacidade me conduziram a saber mais sobre elas.

A Michelle Kely Batista Silva, pelo seu excelente trabalho de filmagem das rodas de conversa.

À profª. Drª. Adelaide Alves Dias que orientou esse trabalho, obrigada pelo profissionalismo eficiente, pela justiça e principalmente pela amizade.

À amiga Nazaré Zenaide sempre presente em minha vida com sua ajuda eficiente, amizade grandiosa, incentivo constante e humildade edificante. Obrigada por permanecer minha amiga.

A Mara Simões, que com bondade esteve presente, de maneira prestimosa sem reclamar diante dos meus inúmeros limites.

A todos os colegas da turma 26 do Doutorado em Educação pelo incentivo e companheirismo.

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SILVA, Margarida Sonia Marinho do Monte. Desenho animado e educação: Calça quadrada, cabeça redonda? 2010. 180p. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal da Paraíba. Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa, 2010.

RESUMO

A tese contém uma análise da relação entre os conteúdos transmitidos pelo desenho animado Bob Esponja e a formação da subjetividade infantil utilizando os conceitos de representação simbólica, internalização e resistência, baseados em Piaget (1978) Vygotsky (2007) e Giroux (1986), respectivamente. Nesta investigação, participaram 62 crianças de 03 a 05 anos, alunos da Escola de Educação Básica da Universidade Federal da Paraíba, matriculados nos turnos manhã e tarde em 2009. A pesquisa etnográfica utilizou a observação direta, entrevistas com os alunos e rodas de conversa antes e depois que os mesmos assistiram ao vídeo do desenho animado Bob Esponja. Os dados obtidos e submetidos a análise indicam que os conteúdos do referido desenho interferiram na subjetividade dos espectadores infantis de 03 e de 04 anos, em proporção maior do que naqueles de 05 anos. Esta interferência é demonstrada pela preferência em “ser” o personagem principal do desenho, adotando atitudes e comportamentos padronizados, no entanto, não os impedindo de acrescentar aos conteúdos do desenho animado um sentido próprio. A tese defende ainda que a educação escolar tem potencial para capacitar os alunos no sentido de educar para mídia televisiva, especificamente os desenhos animados, através do diálogo e análise crítica, procedimentos adotados pela pedagogia crítica. Concluímos que devemos integrar à escola os estudos de educação para a mídia televisiva, como instrumento pedagógico e como objeto de estudo para que se desenvolva nos alunos uma postura crítica diante dela.

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SILVA, Margarida Sonia Marinho do Monte. Cartoon and education: square pants, round head? 2010. 180p. Thesis (Doctorate in Education) – Post-graduation Program in Education. Federal University of Paraíba. Federal University of Paraíba – UFPB, João Pessoa, 2010.

ABSTRACT

The thesis presents an analysis of the relation between the contents transmitted by the SpongeBob animated series and the infantile subjectivity formation using the

concepts of symbolic representation, internalization and resistance based on Piaget (1978) Vygotsky (2007) and Giroux (1986) respectively. In this investigation sixty-two children, between 03 and 05 years old, took part. They were students from the Basic Education School of the Federal University of Paraíba, enrolled in the morning and afternoon shifts in 2009. The ethnographic research used the direct observation, interviews with the students and dialogues in circle before and after they watched the

SpongeBob series video. The data obtained and submitted to analyses indicate that

the contents, of the mentioned cartoon, intervened in the subjectivity of the infantile spectators, between 03 and 04 years old, in a proportion higher than in those who were 05 years old. Such interference is demonstrated by the preference of “being” the main cartoon character, adopting standardized attitudes and behaviors. Nevertheless, this does not prevent the children from adding their own meaning to the cartoon’s contents. The thesis still advocates that the school education has the potential to prepare the students as concerns educating them by means of the television media, specifically, the cartoons, through the dialogue and the critical analysis; procedures adopted by the critical pedagogy. We concluded that we should integrate to school the educational studies for the television media as both a pedagogical instrument and a study object so as to promote a critical behavior in the students in regard to the media.

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SILVA, Monte Margarida Marinho Sonia. Dibujos animados y educación: ¿pantalones cuadrados, cabeza redonda? 2010.180p. Tesis (doctorado en educación) – Programa de posgrado en educación. Universidad Federal de Paraíba. Universidad de Federal de Paraíba – UFPB, João Pessoa, 2010.

RESUMEN

La tesis presentada contiene un análisis de la relación de los contenidos transmitidos por el dibujo animado Bob Esponja y la formación de la subjetividad infantil mediante los conceptos de representación simbólica, internalización y resistencia, basados en Piaget (1978), Vygotsky (2007) y Giroux (1986) respectivamente. En esta investigación han participado 62 niños de 3 a 5 años, alumnos de la Escuela de la Educación Básica de la Universidad Federal de Paraíba, matriculados por la mañana y por la tarde en el año de 2009. La investigación etnográfica ha utilizado la observación directa, entrevistas con estudiantes y ruedas de conversación antes de que ellos hubieran visto el video del dibujo animado de Bob Esponja como también después de que lo habían visto. Los datos obtenidos y sometidos a análisis indican que los contenidos de ese diseño, interfiere en la subjetividad de los espectadores infantiles de 3 y de 4 años en una proporción más amplia que en los de 5 años. Esa interferencia es demostrada por la preferencia en "ser" el personaje principal del diseño, adoptando actitudes y conductas estandarizadas, sin embargo, no les impide añadir a los contenidos del dibujo animado un sentido propio. La tesis sostiene todavía que la educación escolar posee el potencial para habilitar a los alumnos hacia la educación de los medios de televisión, específicamente los dibujos animados, mediante el diálogo y el análisis crítico, procedimientos adoptados por la pedagogía crítica. Hemos llegado a la conclusión de que debemos integrar a la escuela, los estudios de educación para los medios de televisión, como una herramienta pedagógica además de un objeto de estudio para que se desarrolle en los aprendices una postura crítica frente a ella.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – D. A. Popaye ...33

Figura 2 – D. A. Pockemon...34

Figuras 3 – Desenhos Animados Disney ...38

Figuras 4 – Contos de Fadas ...39

Figura 5 – Maurício de Sousa e seus personagens ...39

Figura 6 – D. A. Pockemon ...40

Figura 7 – Criança assistindo televisão ...41

Figura 8 – Heróis de desenhos antigos ...42

Figuras 9 – Produtos com ilustrações de desenhos animados ...45

Figura 10 – D. A. As meninas super poderosas ...46

Figura 11 – D. A. O Laboratório de Dexter ...47

Figura 12 – D. A. Dragon Ball-Z ...47

Figura 13 – D. A. Pica-Pau...48

Figura 14 – D. A. Jimmy Nêutron ...48

Figura 15 – D. A. Tom e Jerry ...49

Figuras 16 – D. A. Bob Esponja Calça Quadrada ...50

Figura 17 – D. A. Bob Esponja ...51

Figura 18 – Morada de Bob Esponja ...51

Figura 19 – Patrick ...52

Figura 20 – Lula Molusco ...53

Figura 21 – Sr. Siriguejo...54

Figura 22 – Sandy ...54

Figuras 23 – Produtos com ilustrações de Bob Esponja ...83

Fotos 1 – Brindes da lanchonete Burger King ...83

Figuras 24 – Ilustrações de vários desenhos animados...104

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Nº total de alunos de 3 a 5 anos (2009) ...102

Quadro 2 – Número de meninos e meninas pesquisados quanto ao

reconhecimento do desenho animado Bob Esponja, seus

personagens e sua preferência por eles. ...103

Quadro 3 – Caracterização das crianças em função do reconhecimento do

desenho animado Bob Esponja e sua preferência. ...106

Quadro 4 – Número de alunos por turma e turno que participaram da segunda

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LISTA DE SIGLAS

UFPB – Universidade Federal da Paraíba

EEB UFPB – Escola de Educação Básica da Universidade Federal da Paraíba

D. A. – Desenho Animado

CEMC – Cultura Educacional Mundial Comum

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SUMÁRIO

1 CONTEXTUALIZANDO O TEMA ...13

1.1 Criança e Visibilidade Social...21

2 CULTURA INFANTIL E DESENHO ANIMADO...30

2.1 A Televisão e o Telespectador ...30

2.2 Desenhos Animados...37

2.2.1 Um pouco da história...37

2.2.2 Os desenhos animados e a criança ...40

2.2.3 Se liga nessa!...44

2.2.4 Bob Esponja Calça Quadrada ...50

3 SUBJETIVIDADE E DESENVOLVIMENTO INFANTIL...57

3.1 Construção, Interação, Cognição – Jean Piaget: Um olhar...58

3.2 Construção, Interação, Cultura – Lev, Vygotsky: Outro olhar...65

3.3 Globalização, Indústria Cultural e Consumo...72

3.4 Construção, Interação, Cultura, Resistência – Henry Giroux: Olhares que se cruzam...88

4 ORGANIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA ...98

4.1 Natureza e Lócus da Pesquisa ...98

4.2 Procedimentos na Construção e Análise dos Dados...100

4.3 Descrição e Análise da Primeira Fase da Pesquisa – Aproximação e Busca..102

4.4 Descrição e Análise da Segunda Fase da Pesquisa – Interação e Registro.108 4.4.1 Escolha do episódio ...108

4.4.2 Assistindo ao episódio...110

4.4.3 Roda de conversa e confecção dos desenhos...111

4.4.4 Você quer ser Bob Esponja? “Falas” das crianças...113

4.4.5 Fazendo arte – fantasia e realidade ...114

4.4.6 Na pista dos saberes...155

CONSIDERAÇÕES FINAIS...159

REFERÊNCIAS...161

APÊNDICES...168

Apêndice 1...169

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1 CONTEXTUALIZANDO O TEMA

Estudiosos das mais diversas áreas de conhecimento dedicaram-se e ainda se dedicam a pesquisar sobre desenhos animados e sua relação com a comunicação, educação, brincadeiras e jogos, sexualidade, violência, estados psicológicos e imaginário infantil. Os efeitos dos desenhos animados sobre quem os assiste são incontestáveis. O que desejamos conhecer é como ocorre tal influência numa determinada faixa etária do desenvolvimento humano.

Os desenhos animados são parte integrante da mídia televisiva que, hoje, assume, junto à escola e à família, papel significativo na educação das novas gerações. Com esta afirmativa não estamos atribuindo falta de autonomia aos telespectadores diante da mídia televisiva. Apesar de sabermos que os textos midiáticos são carregados de sentido e servem a propósitos e interesses preestabelecidos, investigamos aquele que os recebe e sua relação com eles. A criança, quando assiste aos desenhos animados, constrói sentido para o que vê na televisão. O que nos interessa investigar é como eles influenciam a subjetividade de crianças de 3 a 5 anos de idade. O desenho animado Bob Esponja Calça Quadrada é o instrumento midiático que utilizamos para estudar essa relação. Diante de tais concepções instituímos como tese para essa investigação:

O desenho animado Bob Esponja com seus conteúdos, ao mesmo tempo que diverte, interfere na formação da subjetividade de crianças de 3 a 5 anos de idade que, por sua vez, constroem sentido para o que assistem mediante o contexto social em que estão inseridas.

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especificamente diante dos desenhos animados, tornando-os em meios que contribuam para o desenvolvimento infantil de forma emancipatória.

Apresentamos o trabalho de pesquisa através de 4 (quatro) capítulos. O primeiro deles, que ora estamos escrevendo, intitula-se “Contextualizando o Tema”, que contém a exposição da tese, objetivos, justificativa e considerações sobre os capítulos desenvolvidos. Ainda nesse primeiro capítulo, dissertamos sobre a criança e visibilidade social, a televisão e o espectador, os desenhos animados, contando um pouco da história dos mesmos, sua relação com as crianças e descrevemos alguns desenhos animados veiculados pela televisão brasileira. O desenho animado Bob Esponja, que foi escolhido como instrumento na pesquisa, também é descrito nesse primeiro capítulo. Bob Esponja Calça Quadrada é um desenho animado veiculado através da televisão brasileira, desde 1999 e tem sido objeto de estudo de dissertação de Mestrado, artigos de periódicos e de trabalho de conclusão de curso. Citamos alguns desses estudos no desenvolvimento dessa investigação, a exemplo de Boutin (2006) que apresentou a dissertação de Mestrado: “Aspectos Pedagógicos do Desenho Animado Infantil Bob Esponja” à Universidade Metodista de São Paulo em São Bernardo do Campo. Pillar (2009) com o artigo: “Efeitos de humor de Bob Esponja” e Medeiros (2009) que apresentou: “Produções de sentido em Bob Esponja Calça Quadrada”. Ainda Lira (2005) escreveu “O Merchandising Capitalista no Desenho Bob Esponja” e Silva (2008) apresenta “Desenho Animado: Instrumento de Manutenção Social”, ambos os trabalhos apresentados na conclusão de cursos de Graduação.

Quanto a forma como abordamos a infância é concedendo-lhe visibilidade, captando suas opiniões e concepções, não interpretando suas falas nem tampouco transcrevendo-as. Consideramos que há a necessidade de não esquecer a criança como sujeito, cidadã, que tem voz e que produz cultura. As crianças têm o direito de dar um sentido diferente aos conceitos e ações e produzir uma nova leitura do mundo, e queremos garantir a elas esse direito.

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de audiência no Brasil, se comparado aos outros 170 países em que é veiculado (PILLAR, 2009).

Como motivação pessoal, ao exercermos o magistério superior, temos estudado o papel do desenho animado como estratégia pedagógica, acompanhando o trabalho de conclusão de Curso de Pedagogia de alguns alunos estagiários. Também apresentamos artigos em simpósios e congressos que tratam do desenho animado como texto, e como seus conteúdos são compreendidos pelas crianças. O interesse pelo estudo do desenho animado remonta ainda à constatação no seio familiar, ou seja, nos filhos, da preferência desse tipo de mídia televisiva e a inerente necessidade em acompanhar o desenvolvimento dos mesmos.

Outra justificativa podemos encontrar no papel que a televisão exerce na vida das pessoas. Como meio de comunicação de massa ela tem um papel importante na formação do sujeito como veículo de informação e comunicação junto com outros meios (MOLINA e PRADOS, 2009). Às vezes é reconhecida como estimuladora da violência, apatia e consumo, porém, também é reconhecida como estimuladora do conhecimento, informação e diversão (FERNANDES, 2003). Advém dessa dicotomia, a escolha do título da tese em questão. Quando apresentamos a indagação Calça Quadrada, Cabeça Redonda?, estamos nos referindo à possibilidade dos conteúdos do desenho animado Bob Esponja em homogeneizar ou não o pensamento daqueles que o assistem. A realidade das crianças brasileiras quanto à preferência pela televisão, além de outros meios midiáticos, é acrescentada à preferência também de muitos pais, pois estando a criança assistindo TV em casa, estaria, em termos, longe dos riscos que a rua oferece como drogas, prostituição, roubo, violência, dentre outros, no horário oposto ao que frequentam a escola. No Brasil, o tempo de permanência na escola ainda é inferior ao que a criança permanece fora da escola.

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(2003), e utilizá-la para a construção de conhecimento crítico, reflexivo e emancipatório dos alunos.

Vejamos através dos tempos, como chegamos aos dias de hoje à cultura de imagens.

Desde a Antiguidade Clássica até o Renascimento a tradição oral prevaleceu na organização do conhecimento. Sem registros escritos, a fala preenchia, além da função de comunicação, a de conservação do conhecimento. Era a supremacia auditiva que, mesmo após o surgimento da escrita, perdurou por muito tempo, pois o conhecimento da mesma era então monopólio de uma elite de escribas alheia às massas iletradas. Até o século XV, a literatura existia para ser narrada em público, e o manuscrito era apenas um instrumento acessório dessa vasta e influente cultura oral.

A cultura tipográfica introduziu a visão como o primeiro dos sentidos na hierarquia, tomando o lugar da audição. A linguagem escrita liberou o homem da dependência da memória do falante para a aquisição do conhecimento. Por meio de caracteres, a escrita conservaria o conhecimento.

Séculos depois, os meios eletrônicos estenderam e extrapolaram os limites usuais da visão e da audição, alterando nossa realidade cotidiana. Uma sensibilidade nova parece se instalar no indivíduo contemporâneo, cada vez mais incapaz de viver sem estímulos audiovisuais.

Os meios de comunicação como jornal, rádio, televisão, trem, carro, moeda, etc. são verdadeiras extensões do homem, pois servem para vinculá-lo aos outros homens. Eles são mensagens que podem exercer efeitos distintos sobre a mente.

As sociedades contemporâneas industrializadas são consideradas sociedades de massa, ou seja, compostas por grande número de indivíduos anônimos. As instituições dominantes, escolas, igrejas, etc., tentam prover as necessidades dessa multidão de pessoas. Essas instituições também criam outras perspectivas, da mesma forma em que desenvolvem mecanismos eficazes para controlar essas massas humanas, fazê-las produzir, consumir e se conformar.

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ultrapassando barreiras de espaço físico e social. Tais instrumentos são principalmente o rádio, a televisão, a imprensa e, mais recentemente, a informática, que fazem parte da cultura niveladora, homogeneizadora, produto da indústria cultural.

A indústria cultural, centrada nesses meios de comunicação de massa, tem um ritmo acelerado de produção e consumo e constitui uma esfera da atividade econômica. Ela ainda exerce um papel fundamental na organização social e está, sem dúvida, associada ao exercício do poder e à ordenação da vida coletiva.

Os meios de comunicação de massa penetram em todas as esferas da vida social moderna, no meio urbano ou rural, na vida profissional, nas atividades religiosas, no lazer, na educação, na participação política. Eles também difundem maneiras de se comportar, propõem estilos de vida, modos de organizar a vida cotidiana, de se vestir, de construir sua casa, maneiras de falar e de escrever, de sonhar, de sofrer, de pensar, de lutar, de amar.

Eles ainda funcionam de forma homogeneizadora dirigindo mensagens comuns a todos, gerando necessidades e expectativas massificadas. “A lógica de sua maneira de funcionar é o amaciamento dos conflitos sociais: A indústria cultural parece homogeneizar a vida e visão do mundo das diversas populações” (SANTOS, 2005). Percebemos, no entanto, que a própria indústria cultural também está suscetível a contradições na vida social. Sobre as mensagens transmitidas o controle não é total, pois por mais homogêneo que seja o conteúdo delas não é possível substituir integralmente a percepção das pessoas.

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As novas tecnologias da comunicação introduziram outras linguagens, invadindo com imagens, som e informações, de maneira tão forte, intensa e insistente, quase todos os cantos e recantos do Planeta e de nossa privacidade (CARLOS, 2006).

É o texto – imagem, que reeduca o olhar, o perceber do espectador. A imagem tem um papel fundamental na leitura de mundo, tanto para os letrados como para os iletrados e, comprovadamente, mais para estes últimos.

Os programas televisivos têm o poder de ativar a percepção para os diferentes níveis de consciência crítica. A ética presente na escolha das imagens das imagens transmitidas pela televisão e cinema pode inibir ou estimular estilos de conduta. O filósofo brasileiro Brissac Peixoto, 1992 (apud PAIVA, 2005) mostra a potência do imaginário vigilante do cinema, orientando estilos de gosto e formas de conduta, configurações ético-estéticas no cenário urbanizado das grandes cidades. Com certeza, o telespectador tem a liberdade de exercer sua faculdade de julgar, porém, devemos nos lembrar da possibilidade menor de que dispõem as crianças, ainda, de utilizar seu senso crítico. Os desenhos animados povoam o imaginário infantil de heróis e vilões que representam figuras sedutoras e poderosas, mas, às vezes, estranhas e mesquinhas. Essa ambiguidade, pode não ser percebida pela criança. A TV exerce uma ação de sedução e condicionamento sobre ela a ponto de se transformar uma necessidade fundamental como alimentar-se ou divertir-se.

Através da TV são difundidas imagens junto às diversas culturas locais, como um tipo de padronização do imaginário e estilo de vida, mobilizando momentos preciosos de investimento afetivo. O caráter da interculturalidade dos programas televisivos exibidos internacionalmente merece também atenção, quando nos reportamos à mídia televisiva e à objetividade infantil.

As imagens televisivas trazem consigo outro tipo de ambiguidade, ou seja, apresentam uma sátira dos costumes como também uma apologia das convenções (PAIVA, 2005). Estaria de acordo com o caráter ambíguo da globalização, isto é, inovar e conservar.

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do mundo e a partir de um plano pessoal partem para destruir seus algozes (COSTA, 2002).

Passamos a descrever o segundo capítulo onde desenvolvemos o marco teórico cujo título é Subjetividade e Desenvolvimento Infantil, e foi subdividido em quatro sessões ou itens. Os conceitos de representação simbólica definido por Jean Piaget (1978) e de internalização apresentado por Vygotsky (2007) (sessões 1 e 2 deste capítulo) são importantes para a compreensão desse processo, como também o conceito de indústria cultural (sessão 3), criado por Adorno e Horkheimer (1985), sociólogos participantes e fundadores da Escola de Frankfurt, juntamente com outros estudiosos da Teoria Crítica da Sociedade (sessão 5). Outro elemento conceitual importante está contido nos estudos de Giroux (1986), que nos possibilita, através dos conceitos de resistência e pedagogia crítica, uma visão não tradicional da escola (sessão 4).

A representação simbólica é a característica marcante do segundo estágio de desenvolvimento cognitivo proposto por Piaget (1978). Nesse estágio, a compreensão e o pensamento simbólico são reorganizados, porém, não há lógica. O pensamento da criança geralmente é egocêntrico, sendo, incapaz de considerar outras perspectivas que não sejam as suas e animista, atribuindo motivação e características humanas a objetos inanimados e aos animais. Ainda nesse estágio, a criança tem dificuldade para distinguir entre fantasia e realidade, e essencialmente, baseia suas conclusões no pensamento intuitivo.

Os estudos sobre mídia que utilizam a teoria piagetiana, em sua maioria, focalizam-se nas características cognitivas do pensamento pré-operacional (2 a 7 anos, apesar de as crianças desse estágio apresentarem progressos espetaculares em relação ao anterior no âmbito de vários saberes como linguagem, desenho e atividades práticas de vida diária. É nesse estágio que elas apresentam maior suscetibilidade de serem influenciadas pelos estímulos simbólicos provocados pelos conteúdos da TV, inclusive com possibilidades de criar ou reforçar padrões já existentes de consumo. É fundamental que percebamos como a mídia televisiva atua na construção e produção das memórias infantis estando seus conteúdos presentes nas áreas econômica, social, familiar, escolar, etc (FISCHER, 2007).

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de uma forma muito particular, de maneira que internalização e transformação interagem constantemente. Nas pesquisas sobre subjetividade e mídia televisiva, a teoria vygotskyana (2007) ajuda a explicar como realmente a qualidade das trocas provindas dos conteúdos cognitivos influencia decisivamente na forma como as crianças tornam mais complexo o seu pensamento e processam novas informações.

O conceito indústria cultural foi empregado pela primeira vez em 1947, quando foi publicado o livro Dialética do Esclarecimento de Adorno e Korkheimer. Esse conceito, explicaram eles, visava substituir “cultura de massas”, pois esta expressão induz ao engodo que satisfaz aos interesses dos detentores dos veículos de comunicação de massa. Estes últimos querem dar a entender que cultura de massas é como uma cultura surgindo espontaneamente das próprias massas. Para Adorno (2002), tal não ocorre, pois afirma ele que a indústria cultural é quem adapta seus produtos ao consumo das massas e determina o próprio produto, e, o conceito de indústria cultural dá base à intencionalidade de formação de um tipo de cultura.

Adorno e Horkheimer (1985) expõem de modo bem claro que a cultura se converteu em mercadoria. A proposição advém da expressão desenvolvida por eles de indústria cultural, a qual refere-se às indústrias interessadas na produção em massa de bens culturais, ressaltando que a expressão não diz respeito às empresas produtoras nem às técnicas de difusão de bens culturais, e sim a um movimento histórico-universal.

Os desenhos animados, como um tipo de mídia televisiva, encerram duas possibilidades: a produção de sentido por parte do espectador, como também, são dotados de intencionalidade que corresponde aos interesses das classes dominantes. Perpassando sobre essas possibilidades apresentamos a sessão:

Globalização, Indústria Culturale Consumo.

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O quarto capítulo transcorre como, metodologicamente, conduzimos a pesquisa e o intitulamos: Organização dos Dados da Pesquisa. Está subdividido em: Natureza e Lócus da Pesquisa; Procedimentos na Construção e Análise dos Dados; Descrição da Primeira Fase da Pesquisa – Aproximação e Busca e Descrição da Segunda Fase da Pesquisa – Interação e Registro..

Nas considerações finais, intencionamos enfatizar os aspectos conclusivos da pesquisa, como também opiniões e sugestões relativas às conclusões.

1.1 Criança e Visibilidade Social

Um dos objetivos dessa investigação é contribuímos, para a afirmação de que a criança produz e é produzida na/pela cultura. Dentro dessa concepção sociocultural, o conceito de criança é uma construção histórica e sua constituição se dá mediante interações sociais. A criança não é um ser passivo e deve ser compreendida como um ser capaz de experimentar, criticar e julgar (DIAS, 2009).

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Nas suas pesquisas, os sociólogos da infância assumem o lugar de aprendizes deixando-se levar pelas mãos e pelas vozes das próprias crianças e é assim que conduzimos a presente investigação. Sarmento (2007) postula que:

a infância tem sofrido um processo de ocultação. Esse processo decorre das concepções historicamente construídas sobre as crianças e dos modos como elas foram inscritas em imagens sociais que tanto esclarecem sobre os seus produtores (o conjunto de sistemas estruturados de crenças, teorias e idéias, em diversas épocas históricas) quanto ocultam a realidade dos mundos sociais e culturais das crianças, na complexidade da sua existência social.

Mais uma vez reforçamos que a condução da nossa pesquisa com crianças é contextualizando-as socialmente, atribuindo importância a sua participação.

O interesse histórico pela infância é relativamente recente. A referência histórica à infância aparece tardiamente e essa é, aliás, uma das razões que levaram Áries (1981) a afirmar a “ausência da consciência da idéia da infância” até o início da modernidade.

Os estudos dos sociólogos da infância atuam em dois campos:

− Estrutura e ação: substitui o reducionismo biológico pelo reducionismo sociológico.

− Ser em devir: considerar que a criança é um “vir a ser” é esquecer que caráter inacabado da vida dos adultos é tão evidente quanto o das crianças.

A historiografia mais recente sobre a infância tem considerado que:

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Expomos, em seguida, as concepções apresentadas por Sarmento (2007) sobre as imagens sociais da infância, frisando que a criação de sucessivas representações das crianças ao longo da história produziu um efeito de invisibilização da realidade social da infância.

Baseando-se nos estudos de Jenks & Prout, o autor citado anteriormente destaca dois períodos quanto à construção da imagem da criança: a pré-sociológica e a sociológica. Segue uma suscinta explanação de cada uma delas.

1. Imagens da criança pré-sociológica:

A criança má (the evil child) – baseada na idéia do "pecado original", a

imagem da criança má está associada a toda uma conceitualização do corpo e da natureza como realidades que necessitam de serem controladas; é a teoria de Hobbes sobre a exigência de controle dos "excessos".

A criança inocente – contrapondo-se à criança má, essa concepção

fundamenta-se no mito romântico da infância como a idade da inocência.

A criança imanente – essa imagem considera a idéia de um potencial

de desenvolvimento da criança, não a partir de uma natureza intrinsecamente boa, mas da possibilidade de aquisição da razão e da experiência, a qual aparece na formulação filosófica da teoria da sociedade de John Locke.

A criança naturalmente desenvolvida a psicologia do

desenvolvimento, a partir, especialmente, dos trabalhos de Piaget, constitui-se como o principal referencial de entendimento e interpretação da criança no século XX, com profunda influência na pedagogia, nos cuidados médicos e sociais, nas políticas públicas e na relação cotidiana dos adultos com as crianças.

2. Imagens da criança sociológica

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figuras materna e paterna. A criança é vista como um preditor do adulto, mais do que como um ser humano completo e um ator social com sua especificidade, de modo que a psicanálise introduziu um viés interpretativo que impede a análise da criança a partir do seu próprio campo. Acresce ainda o determininismo que leva, frequentemente, a atribuir comportamentos desviantes a vivências infantis, o que não deixa de ser uma derivação da imagem da “criança má”, que se revela quando adulta...”

As distintas representações da infância se caracterizam singularmente pelos traços de negatividade, mais do que pela definição de conteúdos (biológicos ou simbólicos) específicos. A criança é considerada como o não-adulto e este aspecto nega as características de um ser humano completo. A infância como a idade do “não”, localiza-se desde o significado dessa fase em latim, ou seja, infans: o que não

fala.

Na segunda metade do século XIX, desenvolveu-se e consagrou-se a infância como a idade da não-razão, em torno da qual, se institucionalizou a escola e se “inventou” o aluno.

Com a Revolução Industrial e a consequente necessidade de especialização de mão-de-obra, as crianças foram exploradas em múltiplas atividades produtivas. Nesse período, o sentimento de infância está vinculado a um ideal abstrato, fundado nas noções de inocência e moralização.

Assim, produz-se uma idéia de criança abstrata, frágil, inocente, indefesa, incapaz, incompleta, que precisa sofrer processos de socialização, mediante formação em instituições escolares, para poder tornar-se, no futuro, uma pessoa capaz de atuar na sociedade (DIAS, 2009).

No período entre as duas guerras mundiais (1918 a 1939), as crianças foram retiradas das fábricas (mas, sobretudo nos países centrais da Europa e da América do Norte), e foram consideradas como seres afastados da produção e do consumo, sendo a infância investida da natureza da idade do não-trabalho.

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Nos dias atuais, mais e mais se afirma uma indústria cultural para as crianças, frequentemente dominada pela comunicação da violência, pela erotização induzida, pela difusão de modelos de referência transmitidos pelos meios de comunicação. De uma forma geral, cresce a complexificação das condições de vida das crianças, “com estruturação dos seus cotidianos segundo dinâmicas indutoras de comportamentos agressivos, competitivos e agonísticos” (SARMENTO, 2007). Assim referem dados, tem se produzido a ideia que as crianças atuais vivem, definitivamente, um processo de adultização precoce e irreversível, e, por consequência, habitam a idade da não-infância.

Com efeito, a infância deve a sua diferença não à ausência de características (presumidamente) próprias do ser humano adulto, mas à presença de outras características distintivas que permitem que todas as crianças do mundo tenham algo em comum, nas áreas física, mental, psicológica e social. Tal distinção vai além de todas as outras operadas pelo fato de pertencerem a diferentes classes sociais, ao gênero masculino ou feminino, ou seja qual for o espaço geográfico onde residem, à cultura de origem e etnia.

A infância não é a idade da não-fala. Todas as crianças, desde bebês, têm múltiplas linguagens, porque se expressam. A infância não é a idade da não-razão. Para além da racionalidade técnico-instrumental, hegemônica na sociedade industrial, outras racionalidades se constroem, designadamente nas interações de crianças, com a incorporação de afetos, da fantasia e da vinculação ao real. A infância não é a idade do não-trabalho. Todas as crianças trabalham nas múltiplas tarefas que preenchem os seus cotidianos.

A infância é, simultaneamente, uma categoria social, do tipo geracional, e um grupo social de sujeitos ativos, que interpretam e agem no mundo, construindo e desconstruindo seus pressupostos através das culturas infantis.

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pelos adultos produziu, como consequência, o entendimento generalizado de que as crianças estão “naturalmente” privadas do exercício de direitos políticos, por exemplo votar para eleger os dirigentes.

A restrição de direitos políticos à infância, característica da modernidade ocidental, não tem, todavia, um caráter universal. Sociedades e comunidades radicadas no Oriente e no hemisfério sul, ou mesmo grupos étnicos minoritários na Europa, não se caracterizam pela exclusão das crianças da vida coletiva e, inclusive, integram as crianças nas assembléias e espaços de decisão coletiva, com efetiva participação cívica.

Entrementes, a participação política não se restringe ao poder de voto. O que importa aqui, é acentuarmos o fato de que as crianças privadas de direitos políticos diretos tendem a ser, em consequência da sua ausência forçada da cena política representativa (governo, parlamento, câmaras municipais etc.), invisibilizadas como atores políticos concretos. Por conseguinte, não é de ausência de ação política que se trata, mas de invisibilização na cena pública.

Não votando nem sendo eleitas, as crianças são tematizadas fora do quadro do referencial de destinatários políticos, os designam como “cidadãos”, “contribuintes”, “patrícios” ou mesmo “povo”. A invisibilidade é, no caso, homóloga da exclusão: as crianças são o grupo geracional mais afetado pela pobreza, pelas desigualdades sociais e pelas carências das políticas públicas. Para a recusa da compreensão das crianças como atores sociais com competências políticas concorre um conjunto de fatores.

Em primeiro lugar, a noção moderna de cidadania. O estatuto de membro da comunidade impõe, ao mesmo tempo, obrigações e deveres do cidadão para com a comunidade, todavia, a concepção clássica de cidadania recusa o estatuto político às crianças.

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projetos políticos e pedagógicos que tanto orienta-se para uma efetiva ampliação dos direitos das crianças, quanto sustentar-se em lógicas de ação que perpetuam a inscrição histórica da dominação.

Ao mesmo tempo em que a modernidade introduziu a escola como condição de acesso à cidadania, realizou um trabalho de separação das crianças do espaço público. As crianças são vistas como os cidadãos do futuro; no presente, encontram-se afastadas do convívio social amplo, salvo no contexto escolar, e resguardados pelas famílias da presença plena na vida da sociedade dos “adultos”.

A imagem da criança com um cotidiano superpreenchido, ilustra bem uma atividade dependente e vigiada sob controle adulto, numa extensão custodional do poder familiar, agora alargado às múltiplas agências de ocupação infantil (SARMENTO, 2007).

Sarmento (2007) ainda nos fala sobre a (In)visibilidade científica, que o construtivismo psicológico coloca sob suspeita o pensamento infantil, porque pressupõe a sua incompletude e imperfeição. É mais de uma falha do que de uma realização que se trata, sempre que se ouve o significado que as crianças dão aos seus gestos ou experiências. “Escutar a voz das crianças consiste, em última análise, em escutar a voz do adulto que se revela num discurso previamente interpretado”.

De modo semelhante, se as teorias dominantes da socialização rasuraram a ação interpretativa das crianças, não deixaram de criticamente enunciar, pertinentemente, muitos dos processos mais ou menos ostensivos ou mais ou menos sutis de dominação, de inculcação normativa e comportamental e de exercício da violência simbólica.

Até hoje, a fixação de imagens sociais das crianças contribuiu para que se regulassem a vida das crianças, se fixassem pontos de referência para a interpretação da mesma, se padronizassem as relações entre crianças e adultos, se definissem os programas institucionais e os procedimentos, prescrições e interdições face à ação das crianças.

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voz dos adultos, mas a expressão de uma autoria que faz a diferença com os adultos.

As concepções de outros estudiosos da sociologia da infância, que apresentamos alguns deles logo a seguir corroboram a idéia de Sarmento (2007), reafirmando que a construção do ser social, ocorre por meio de múltiplas negociações com seus próximos, e na identidade do sujeito. Essa noção estimula a compreensão das crianças como atores sociais capazes de criar e modificar culturas, embora inseridas no mundo adulto. Para consolidar um campo de estudo que defende a escuta, enfocando a infância e a cultura infantis, os estudiosos da infância utilizam, em suas pesquisas, referenciais teóricos-metodológicos desafiadores. O nosso trabalho se insere tanto teórica como metodologicamente neste campo de estudo.

Podemos citar Javeau (2005), que estudou em que dimensões se designa o conceito de infância. Para esse autor, se conceito de infância é reduzido ao termo “criança”, entra-se no campo psicológico; se é reduzido ao termo “infância”, entra-se nos campos demográfico e econômico; e se se fala de “crianças”, entra-se no campo antropológico ou socioantropológico.

Mollo-Bouvier (2005) também questiona a delimitação das concepções de infância, enfatizando a socialização da criança na qualidade de sujeito social que participa de sua própria socialização, mas também da reprodução e da transformação da sociedade.

Indagando a respeito de qual o lugar que pode ocupar a questão da “deficiência” no quadro da sociologia da infância, Plaisance (2005) analisa, ao mesmo tempo, a história da infância dita “deficiente” e as evoluções recentes, a partir de 1975, em matéria de escolarização. O autor levanta as hipóteses de que a representação da criança portadora de deficiência é dominada pela representação da deficiência, mais do que a representação da criança, como criança e que a alteridade da criança com relação ao adulto é redobrada no caso da criança deficiente.

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estar envolvidas; os níveis de participação das crianças e o uso de métodos que podem aumentar o envolvimento delas na pesquisa, respeitando seus direitos.

Também Corsaro (2005) relata pesquisas etnográficas comparativas com crianças de pré-escola nos Estados Unidos e na Itália. O autor deu enfoque à entrada no campo, ao estabelecimento do status de participante e à coleta de dados. Ele ainda discute como passou a fazer “pesquisa com, e não mais sobre crianças”.

Montandon (2005) nos apresenta em seu artigo, que não basta examinar as práticas educativas de seus educadores, mas que é necessário compreender as perspectivas das crianças. Isto quer dizer que é preciso analisar não apenas o que os educadores fazem com as crianças, como também o que estas fazem com o que se faz com elas.

Gullestad (2005) trata em seu artigo das “infâncias imaginadas”, que são lembranças da infância trazidas pelo adulto e que compõem uma parte central e natural da representação da pessoa adulta. As histórias de vida, as análises da relação entre a narratividade e o social, o trabalho de memória e de textualização são fontes que se tornam essenciais para a compreensão das experiências infantis e, em particular, para entender o ponto de vista das crianças.

Rayou (2005), com a preocupação de escapar do adultocentrismo, discute as estratégias metodológicas que utilizou durante doze anos em pesquisas sobre socialização das crianças e dos jovens com diferentes níveis de escolarização.

Os estudos dos sociólogos da infância citados nesta sessão, nos fazem perceber seu empenho em seguir a concepção de que a infância é um conceito constituído sócio-historicamente e que criança participa ativamente dessa construção.

Sob este ponto de vida, buscar conhecer as crianças além das imagens e idéias construídas socialmente ao longo da história, torna-se um movimento de desconstrução dos fundamentos e concepções existente, e, como anteriormente falamos, conduzimos nossa investigação teórica e metodologicamente nessa intenção.

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2 CULTURA INFANTIL E DESENHO ANIMADO

2.1 A Televisão e o Telespectador

Debates e discussões a respeito do papel e influência da televisão, têm ocorrido no mundo todo, por ser ela, um dos meios de comunicação mais utilizados por significativa parcela da população. Às vezes é considerada responsável por males que afligem a sociedade como violência, apatia e consumo. Sua programação é vista como instrumento de alienação e transmissora da ideologia dominante. Porém, esta é apenas uma das formas de perceber o papel da televisão no contexto atual (MESQUITA e SOARES, 2008).

Primeiramente, temos que concordar que a televisão faz parte da vida diária de milhões de pessoas nos mais diferentes locais e nas mais variadas culturas e que, também, na vida das crianças atua como presença marcante. A mídia televisiva, por exemplo, individualiza seus consumidores, pois estuda seus hábitos e gostos de consumo para assegurar uma vendagem rápida e direcionada os meios de comunicação podem levar os indivíduos a se modificarem, influenciando na sua maneira de pensar e agir. Eles utilizam a linguagem como instrumento. São as palavras, gestos e imagens, que levam os indivíduos a se modificarem. A linguagem em geral, portanto, além de ser um conjunto de estímulos (sinais) visuais (como cores, sons, formas, movimentos, materiais, etc.) compreende ainda, o modo como as pessoas se organizam. Daí, constatamos que a “leitura” de elementos idênticos ou semelhantes pode ter muitas possibilidades.

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como se fosse sua essência, mas é a sua aparência. Somente a capacidade de discernimento do receptor fará com que ele perceba a diferença entre aparência e essência, entre causa e efeito.

Atualmente, somos bombardeados pelo discurso persuasivo na política, na propaganda, nos meios econômicos, nas telenovelas, nos filmes importados da TV. Essas produções desejam mostrar produtos, expor conceitos ou apresentar histórias, bem como expor idéias e modos de viver. Tentando alcançar as pessoas em sua vontade e ação, elas não são apenas convencidas pelos conteúdos televisivos a acreditar; passam a considerar que essas idéias são verdadeiras e únicas. É bem comum ouvir alguém dizer: “É verdade, eu vi na televisão”.

A TV exerce uma ação de sedução e condicionamento sobre as pessoas de todas as idades, a ponto de se transformar numa necessidade fundamental como alimentar-se ou divertir-se. No entanto, a esse respeito Freitag (2006) nos alerta que crianças e adolescentes expostos aos conteúdos televisivos agem e reagem aos estímulos expostos, fazendo uma seleção do que lhes interessa ou não, daquilo que lhes parece procedente ou improcedente o que embasa nossa tese de que as crianças produzem sentido ao assistirem TV.

As crianças e adolescentes não podem ser encaradas como massa informe, amorfa, que podem ser modeladas à revelia de sua vontade e independentemente de sua consciência, nem devem ser encarados como “passivos”. Eles agem e reagem aos estímulos de diferentes maneiras e de acordo com o seu nível de compreensão da situação. Não se prestam a um treinamento de “estímulo e resposta” preconcebida ou intencionada. São seres criativos capazes de aprendizagem de julgamento próprio, resguardadas as etapas de sua formação ou gênese intelectual e moral. Mas, também, não podem ser tratadas, antes do tempo, como adultos que já poderiam ou deveriam ter atingido maturidade biológica, linguística, moral, cognitiva, em suma: a autonomia moral (FREITAG, 2006)

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atualmente são muitos e variados formando um complexo multimídia do qual participam a própria TV, agora com canais a cabo, diferentes revistas, jornais, CD-rooms, vídeo-games, computadores, etc. (FERNANDES, 2003). A TV não é a única fonte de informação, mas é a mais acessível e a mais reconhecida publicamente, e isto é consenso entre os pesquisadores. Quando a TV é criticada negativamente, ela é considerada estimuladora da violência, apatia e consumo. Citamos algumas pesquisas que demonstram essa influência negativa da TV.

Durante os programas e nos intervalos comerciais estímulos intencionais, porém, velados, são apresentados com o objetivo de maior consumo de produtos. O próprio nome (intervalo comercial) já indica a intenção, lembrando que são esses produtos que patrocinam os programas. Decorre uma espécie de cópia dos padrões consagrados pela televisão. Desde chaveiros a material escolar, roupas e calçados, até garotos que falam gírias ou garotas que tentam imitar a cantora adolescente, seguem um padrão televisivo. São as chamadas “febres” e “manias”.

Devido à excessiva exposição de crianças e adolescentes que veem televisão até oito horas diárias estes grupos podem agir de forma semelhante ao que assistem. Essas pessoas compartilham de uma rede de significados transmitida pela TV, e, portanto, tendem a repetir comportamentos de pessoas e personagens apresentados (HAMBURGER, 2003).

As pessoas costumam, ainda, incorporar a seu vocabulário palavras de origem inglesa equivalente em nosso idioma: chamam de bike a bicicleta, de fashion

a moda, de bus o ônibus. São os meios de comunicação de massa e,

principalmente, a televisão que homogeniza. Os padrões mundiais se tornam os padrões que ela mostra. A verdade do mundo passa a ser aquela exibida pela TV, e todo mundo, de uma forma global, cabe dentro da tela do aparelho receptor de televisão. As pessoas copiam porque, aquilo que é mostrado na tela aparece como algo socialmente consagrado, como um caminho para o reconhecimento e para o sucesso. A situação da cultura, tal como ela é colocada pela mídia, não premia a originalidade, mas a cópia e por isso vemos programas semelhantes e grupos musicais idênticos (CARVALHO, 2007).

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serão inconscientemente percebidos com probabilidades de aumentar seu consumo. O experimento de Jim Vicary (1956) demonstra muito bem esse fenômeno. Tal experimento consistia em colocar em um cinema de New Jersey (EUA) durante a exibição dos filmes, propaganda taquicoscópica, ou seja, diretamente nos filmes exibidos, eram embutidos legendas estimulando o consumo de determinados produtos. Essas legendas eram exibidas de maneira tão rápida, que só se poderia percebê-las inconscientemente (ou subliminarmente). O resultado é que o consumo de tais produtos, nos intervalos dos filmes, aumentou em 60%. Outro exemplo, é o do desenho Popaye que ajudou ao governo americano a acelerar o consumo de uma supersafra de espinafre. Algumas crianças, apesar de não gostarem muito de verduras em geral, passaram a acreditar que ficariam fortes como o Popaye, se consumissem espinafre (1929).

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Figura 1 – D. A. Popaye

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Figura 2 – D. A. Pockemon

O pânico Pockemon (1997) ocorreu no Japão, precisamente em 16 de dezembro de 1997, quando um desenho animado, do mesmo nome, após ser transmitido, várias crianças foram vítimas de convulsão. Isto ocorreu devido à rápida mudança de cores, em uma velocidade taquicoscópica, e o cérebro da criança não foi capaz de assimilar, provocando assim a convulsão.

A guerra dos mundos ocorreu em 1938, quando o ator/diretor Orson Wells (EUA), aterrorizou milhares de estadunidenses relatando uma invasão fictícia de marcianos, através do rádio. O episódio acarretou o êxodo das pessoas fugindo de extra-terrestres num verdadeiro terror coletivo.

Cada um desses eventos mostra o poder que têm os meios de comunicação de massa de influenciar diretamente na vida das pessoas.

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acordo com o estudo, a TV não é indicada para os bebês, pois é uma atividade na qual há pouca interatividade com os pais e com outras pessoas (1999).

Autores como Armand Mattelart e Ariel Dorfman (1980) escreveram no período Allende, no Chile, o livro: Para ler o Pato Donald – Comunicação de Massa e Colonialismo. O livro é fruto da pesquisa dos autores sobre a influência exercida pelos produtos Disney na Educação e no relacionamento social de crianças de todo mundo. É uma crítica bem forte ao imperialismo norte-americano, defendendo a tese de que a leitura das histórias em quadrinhos não era tão inocente assim como se pensava. O que os autores mostram é que, através desse produto cultural, pode-se enviar mensagens ideológicas que estimulam a dependência cultural e reforçam valores típicos da economia capitalista. Eles denunciam a ideologia subjacente aos quadrinhos, à medida que confirmam os valores da classe dominante, deformam a visão do trabalho, encobrem conflitos e levam à passividade política. Na década de 1990, esses autores relativizaram parte de suas conclusões.

No Brasil, um grupo de professores da Universidade Federal de Santa Catarina, formou o Ateliê da Aurora (2007), que se destaca desde 2000 com teses, dissertações, resenhas e artigos orientados para o tema: Criança, media e

imaginação. Um deles, já publicado em livro, trata da representação social da criança e reprodução da ideologia dominante, organizado pela professora Elza Dias Pacheco e se intitula: “Televisão, criança, imaginário e educação: dilemas e diálogos”. Neste livro os vários textos enfatizam a influência dos desenhos animados na forma como as crianças reagem socialmente, escolhem seus heróis, refletem sobre seu futuro, ou seja, constroem seu pensamento. Nesse mesmo livro, a autora escreveu o capítulo: As metáforas do Pica-Pau: efeitos da ideologia dos desenhos animados nas crianças que, em outro momento, transformou em livro após pesquisa aprofundada. O livro se intitulou: “O Pica-pau: herói ou vilão? Representação social da criança e reprodução da ideologia dominante”.

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tanto serem citadas na bibliografia da área e resumem a nossa visão sobre a relação TV e telespectador infantil:

1. A criança é capaz de decodificar a TV de forma ativa e poderosa; mas nem todos os programas e modos de assisti-los trazem o mesmo benefício;

2. As respostas e a interpretações das crianças mudam conforme a idade

3. A TV para crianças contém formas ideológicas dominantes, mas também algumas alternativas a elas.

4. A habilidade de julgar o que é realidade na TV só pode ser adquirida pela própria experiência com o meio.

5. As crianças têm necessidade tanto de programas com fantasia como de programas com a realidade.

6. A violência nas mídias é qualitativamente diferente da violência real.

7. As crianças reformulam os significados adquiridos por meio da TV.

8. As formas ideológicas têm um efeito determinante na interpretação da televisão.

9. A família é uma instância ativa na determinação dos significados da TV.

10. A escola é um lugar onde a televisão deveria ser compreendida e incorporada.

A nossa investigação contribui para a afirmação dessas proposições acima citadas. O meio que escolhemos para analisar a relação mídia televisiva e formação da subjetividade infantil é o desenho animado Bob Esponja.

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2.2 Desenhos Animados

2.2.1 Um pouco da história

A criança não faz sua interpretação do mundo apenas através da família e da escola, ela o faz, também através do seu ambiente, dos grupos de mesma idade e, com certeza, dos “media” que estão presentes nas suas horas livres, em suas ações e representações infantis cotidianas.

Os desenhos animados fazem parte da vida das crianças desde muito cedo. Eles podem ser definidos como “todo o conteúdo de animação, desenvolvido sem a utilização constante e predominante de personagens representados por atores humanos (Classificação Indicativa, 2006, p. 217). Na classificação geral da televisão, os Desenhos Animados compõem um gênero que engloba a categoria de entretenimento. É uma sequência de desenhos, cada qual ligeiramente diferente do seguinte, dispostos de tal maneira que, uma vez filmados e projetados sobre a tela, são vistos como se estivessem em movimento. Expressam em sua maioria, os movimentos das coisas, seres, ações, de uma forma exagerada, caricaturada, sobretudo quando se trata de desenhos humorísticos, são os chamados “cartoons”. O animador de desenhos animados deve ter a habilidade do cartunista para criar seus personagens em movimento, a habilidade de expressão dramática e rítmica numa perfeita sincronização de imagens móveis e sons (FUSARI, 1985, p. 33).

Desde o seu inventor, Émile Reynaud, em primeiro de dezembro de 1888, o desenho animado foi idealizado para crianças, mas, nos últimos tempos sofreram alterações de linguagem e conteúdo para conquistar o público de outras faixas etárias. Hoje, os desenhos animados também são empregados em charges que tratam, com humor, de questões políticas e de assuntos de interesse público.

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Os desenhos animados estão vinculados, como técnica e expressão:

• Ao desenho de imagens – registro de movimentos e sons.

• À fotografia – “escrita da luz”

• À cinematografia – “escrita do movimento”

• À televisão – recebe e transmite imagens e sons mediante sinais eletromagnéticos.

O outro termo vinculado ao desenho animado é anime, que provem de mangá. O mangá, no Japão, é uma ilustração de uma história ou conto que pode ir para TV em forma de “anime”. Assim, as historinhas saem da revistas e chegam à TV em forma de desenhos animados.

O movimento inverso também ocorreu, quando um desenho animado, na década de 1930, nos EUA, passou depois para as revistas de quadrinhos. Estamos nos referindo ao Mickey Mouse, o ratinho que deu origem ao império Disney e a inúmeros outros personagens como o Pato Donald, Tio Patinhas, Margarida, Zé Carioca, Minie, João Bafodeonça e outros tantos mais.

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Disney, na produção de desenho animado, levou às telas alguns contos de fadas, até então, conhecidos somente através de livros. Contos como Cinderela e Branca de Neve, hoje são conhecidos mais pelos desenhos animados do que pelos livros (BIBE – LUYTEN, 1985).

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Figuras 4 – Contos de Fadas

Quanto ao Brasil, a experiência em cinema de animação, tem mostrado, sobretudo, a existência de tentativas isoladas e as enormes dificuldades de produção e distribuição. Quem tem se destacado nessa área é Maurício de Sousa que, iniciando com histórias em quadrinhos em 1959, com os personagens Bidu e Franjinha, realizou trabalhos de cinema de animação na década de 1970, os quais continua até hoje. Nessa época ele criou a personagem Mônica e outros como Magali, Cebolinha, Cascão, Tina, etc. (FUSARI, 1985), representando crianças e suas histórias. Recentemente, em 2008, Maurício de Sousa conta a história dessas mesmas crianças na adolescência, para atingir o público adolescente que na infância acompanhou os personagens como crianças.

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2.2.2 Os desenhos animados e a criança

Neste item, descrevemos a relação dos desenhos animados e a criança quanto aos conteúdos por eles abordados.

Nos últimos 25 anos, a quantidade de desenhos infantis aumentou, consideravelmente, pois também aumentou o número de canais que oferecem múltiplas opções durante 24 horas, ininterruptas, na TV, a cabo, somando-se àqueles exibidos nos canais abertos. Poucos pais e mães conhecem a variedade e quantidade de desenhos infantis, ficando à margem desse mundo dos filhos. As dificuldades também se dão quanto ao conteúdo dos desenhos animados, que antes apresentavam a luta entre o bem e o mal, dos vilões e heróis de forma linear com começo, meio e fim. Hoje os desenhos não terminam num mesmo capítulo e os vilões e heróis são “mutantes”. Eles se modificam, se transformam em personagens com características mais resistentes, constituindo o que chama-se de evolução.

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Figura 6 – D. A. Pockemon

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de argumento complicado, que invadiram o país com sua complexidade oriental, mais precisamente japonesa.

Os estados psicológicos tais como expectativa, excitação, medo, fascínio e outros, são apresentados pelas pessoas desde muito cedo. São estados que fazem parte da relação dos indivíduos com o mundo, inclusive, com a televisão que constitui uma boa parte do universo existencial das pessoas. É também através da televisão que as crianças começam a perceber o mundo que as rodeia. São as experiências sensoriais na infância tão importantes e marcantes, que tais impressões são as últimas a sobreviverem, quando o cérebro se desorganiza por senilidade, traumatismos físicos e mentais etc. São também as primeiras a voltarem à recordação, após o período de amnésia. Concordamos, assim, quão fortes e persistentes são as imagens e impressões vivenciados e presenciados na infância.

As crianças, ao assistirem desenhos animados, ficam atentas quando eles são atraentes o suficiente para tanto. Muitas vezes, alimentam-se assistindo TV, realizam as tarefas escolares e outras atividades.

Os adultos sentem dificuldade em se comunicar com as crianças nessas ocasiões. Parecem “hipnotizadas” pelas mensagens televisivas, mergulhadas no mundo da fantasia.

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Figura 7 – Criança assistindo televisão

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animados de décadas anteriores, e os de hoje em dia. Hoje, temos como heróis, crianças com superpoderes como é o caso das Meninas Superpoderosas e de Goku, em Dragon Ball; pequenos gênios como Dexter e Jimmy Neutron; meninos e meninas astutas, que desafiam o medo e enfrentam qualquer

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Figuras 8 – Heróis de desenhos antigos

obstáculo com sua sabedoria e estratégias. Os super-heróis do passado como Batmam, Superman e Mulher Maravilha eram heróis adultos (imagens cima). Os heróis-mirins de hoje vão à escola, recebem bronca dos pais, ficam de castigo, desobedecem, reclamam por carinho e atenção, burlam as leis dos adultos e são capazes de grandes feitos. Os heróis-mirins realizam feitos impossíveis para os adultos como salvar a cidade de inimigos poderosos, criar maquinarias e aparatos eletrônicos que permitem comunicações interplanetárias, manipular com destreza os segredos do mundo virtual e isso tudo e muito mais sem o suporte dos adultos. Nesta correlação, essa aproximação de realidade e fantasia, tendo como centro as crianças como heróis, faz com que os desenhos animados tenham uma estreita relação com o imaginário infantil. É bom ressaltar que a autonomia e independência desses heróis-mirins despertam os mesmos desejos nas crianças que os assistem. Quando os desenhos são violentos a criança poderá considerar que o “mais forte é quem tem razão” e que se obtém o que se pretende quando se detém o “poder”. A quantidade de violência presente nos desenhos animados principalmente de ação e aventura chega a ser mais elevada do que nos programas destinados a adultos em horário de grande audiência (CARVALHO, 2007).

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Mesquita e Soares (2008) investigaram, com base em alguns episódios dos desenhos Jimmy Nêutron e o laboratório de Dexter, quais as visões de ciência são veiculadas por meio desses episódios. Para os autores, é importante compreender como se desenvolveu e tem desenvolvido o pensamento científico em nossa sociedade. Eles sugerem o uso de desenhos animados como alternativa para motivar debates que privilegiem a construção do conhecimento científico.

Molina e Prados (2009) estudaram a informação e os sentidos dos discursos manifestados no desenho animado veiculado na televisão. Segundo a metodologia semiótica, o desenho pode ser visto como um texto, em que se pressupõe um processo de enunciação e que analisado, possibilita uma discussão sobre a educação e a cultura. O desenho animado utilizado nessa pesquisa é Cyberchase, a corrida do espaço – que faz parte do mercado cultural infantil exibido pela TV Cultura de São Paulo – Brasil.

Ricon (2009), por sua vez, procurou identificar e analisar as representações sociais contidas na figura dos cientistas, expressas nos discursos e produções de um grupo de crianças em articulação com personagens apresentadas como cientistas em desenhos animados de grande audiência. Ele possibilitou, em sua análise, estudar questões relevantes e decisivas para a compreensão da “geração mídia” (media generation).

Santiago (2009) objetivou estudar a intencionalidade de conteúdos dos desenhos animados dos estúdios Disney, entre 1938 e 1940, cujas temáticas abordavam insultos e desprezo político dos Estados Unidos da América para com as potências do eixo europeu – Itália, Alemanha e Japão. O objetivo era aproximar e alinhar as outras nações no esforço de guerra. Os motivos que levaram o pesquisador a organizar esse texto foi reconhecer o papel ideológico, veiculado nos enredos dos filmes de desenhos animados, exibidos diariamente nos principais canais de televisão da época.

Imagem

Figura 1 – D. A. Popaye
Figura 2 – D. A. Pockemon
Figura 5 – Maurício de Sousa e seus personagens
Figura 6 – D. A. Pockemon
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