• Nenhum resultado encontrado

Open “A creança é uma planta mimosa e gentil, frágil e encantadora”: um estudo sobre a revista do ensino da Paraíba

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Open “A creança é uma planta mimosa e gentil, frágil e encantadora”: um estudo sobre a revista do ensino da Paraíba"

Copied!
122
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MERYGLAUCIA SILVA AZEVEDO LUCENA

“A CREANÇA É UMA PLANTA MIMOSA E GE

NTIL, FRAGIL E

ENCANTADORA”: Um

estudo sobre a Revista do Ensino da Paraíba

(1932-1942)

(2)

“A CREANÇA É UMA PLANTA MIMOSA E GENTIL, FRAGIL E

ENCANTADORA”: Um estudo sobre

a Revista do Ensino da Paraíba

(1932-1942)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (Strictu Sensu), do Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, na Linha de Pesquisa em História da Educação, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Área de Concentração: Educação.

Linha de Pesquisa: História da Educação.

Orientador(a): Profa. Drª. Maria do Socorro Nóbrega

Queiroga.

(3)
(4)
(5)

Sei que muitos vão pular esta página, mas preciso agradecer “àquelas pessoas as quais temos que amar porque sem elas nos perderíamos na noite” (Oskar Pfister). Sim! Temos que amá-las! E é um amor que se amplia no dia a dia, pois na solidão da escrita encontrei pessoas que estavam sempre aptas a ajudar na minha caminhada. Comparo esta caminhada a rosa que recebi no início da seleção do Mestrado, de uma pessoa que não conhecia e me parou com um sorriso dizendo: - “Deus mandou te entregar esta rosa para realizar o teu pedido”. Assim foi minha caminhada: como uma rosa, estas que são belas, perfumadas, mas com seus espinhos. Chego ao final desta trajetória, deste ciclo que se fecha para abrir novos horizontes, com imensa gratidão aos que fizeram parte dessa caminhada.

Ao onipotente Deus, que através do seu amor me deu força para caminhar, enfrentar e vencer os obstáculos da vida acadêmica e pessoal;

A Nossa Senhora de Fátima, que pela sua intercessão me ajudou a caminhar firme e forte;

A São Francisco de Assis, que me ensinou a seguir este caminho acreditando na Providência Divina;

À Sônia Maria, minha mãe, que acompanhou cada passo desta caminhada: os estudos para seleção, a expectativa de receber o resultado de cada etapa da seleção, os estudos nas disciplinas e a escrita deste trabalho. A minha mãe agradeço por não ter medido esforços para que eu pudesse chegar até aqui;

Ao meu pai, Marcos Antônio, pelos seus incentivos e ensinamentos, ainda lá na

minha infância e na época de escola;

Ao meu amado esposo, Guilherme, que com o seu amor e companheirismo me

apoiou desde o princípio de tudo, me dando colo e palavras de confiança nos momentos mais difíceis;

A todos da Turma 34 do Mestrado em Educação da UFPB, pelo companheirismo,

juntos estudando, discutindo e, principalmente, pelo apoio emocional. Vocês tiveram participação direta na trajetória deste trabalho;

(6)

A todos brasileiros e brasileiras que contribuíram com o desenvolvimento desta

pesquisa, através da bolsa concedida pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior).

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB, em especial aos que compõem a Linha de Pesquisa História da Educação, que contribuíram de forma direta na minha formação.

Aos professores, Maria Lúcia Nunes da Silva e Matheus da Cruz e Zica, por aceitarem o nosso convite para integrar a banca avaliadora deste trabalho.

À Professora Melânia, que me acompanhou durante a graduação no curso de Pedagogia, da Universidade Federal de Campina Grande. A minha participação no Programa de Educação Tutorial possibilitou vivências acadêmicas, profissionais e pessoais que foram significativas. Agradeço pelo seu incentivo, este trabalho decorre da minha experiência na sua pesquisa. Aprendi muito com a senhora!

Agradeço pela amizade acadêmica e pessoal de Jéssica Queiroz (Jéh), Pâmella

Tamires (Pâm) e Tatiana Leite (Tati), por só quererem o meu bem. Obrigada pela amizade! Aos Funcionários da instituição Biblioteca de Obras Raras Átila de Almeida;

E a Todos! Que contribuíram de forma direta ou indireta para realização deste

trabalho!

(7)

Comece fazendo o necessário, depois o que

é possível, e de repente você estará fazendo o

impossível.

(8)

A presente pesquisa se insere no campo de estudos da área História da Educação, mais especificamente nos estudos sobre a imprensa educacional, sendo o objetivo geral analisar as temáticas da Revista do Ensino da Paraíba segundo a política da Diretoria do Ensino Primário. Desse modo, o nosso intuito foi de contribuir com a historiografia da educação da Paraíba, em diálogo com a produção brasileira relacionada ao tema de pesquisa. Para tal investigação, trabalhamos com o recorte temporal de circulação da Revista do Ensino, o qual foi de 1932 até 1942, o primeiro ano que saiu o exemplar inaugural e, o segundo, foi o ano em que o impresso publicou seu último número, totalizando assim, 15 exemplares e 18 números. Os principais procedimentos metodológicos adotados foram: pesquisa documental, tendo como referência os 18 números da Revista do Ensino e o estudo de referencial teórico relacionado ao tema, sobretudo, os estudos sobre impressos educacionais. A pesquisa se desenvolveu a partir do olhar da Nova História Cultural. Para as análises, utilizamos como referenciais os seguintes autores: Roger Chartier; Michel Foucault; Denice Barbara Catani; José Baptista Mello; Maurilane de Souza Biccas; Paula Cristina David Guimarães; entre outros. Dentre as várias análises realizadas nesse estudo, concluímos que a Revista do Ensino como periódico oficial do Estado da Paraíba veiculou e legitimou saberes sobre o ensino primário, formação docente, alunos, família, entre outros. A Revista do Ensino fez circular as propostas de modernização do ensino paraibano, tentando instaurar um “novo” ideário pedagógico, diante disso, encontramos no impresso educacional paraibano uma comunicação entre a chamada Escola Antiga e a Escola Nova, ao acionar projetos de uma educação da infância pautada na psicologia, na biologia, no higienismo, na moral e no civismo, promovendo assim, práticas educativas para civilizar e moralizar as crianças e, mais do que isto, normatizar e disciplinarizar corpos e mentes.

(9)

This research is within the field of study of the History of Education area, more specifically in the study of the educational press with the general objective to analyze the education of children in policy board of Primary Education in the Paraíba Education Magazine. Therefore, our intention was to contribute to the historiography of Paraíba education, in dialogue with the brazilian production-related research topic. To do this research, we work with the time frame of circulation Journal of Education, which was from 1932 until 1942, the first year it came out the inaugural copy and the second was the year in which the printed published its latest issue, totaling 15 copies and 18 numbers. The main methodological procedures adopted were: documentary research, with reference to the 18 numbers of the Education Magazine and study theoretical framework related to the theme, especially studies on educational printed. The research was carried from the look of New Cultural History. For the analyzes, we use as reference the following authors: Roger Chartier, Michel Foucault, Denice Barbara Catani, José Baptista Mello, Maurilane Souza Biccas, Paula Cristina David Guimarães, among others. Among the various analyzes performed in this study, the Education Magazine as official Paraíba press ran and legitimized knowledge about primary education, teacher training, student, family, among others. The Journal of Education has circulated the modernization proposals Paraiba teaching, trying to establish a new ideas teaching, thus, we find the educational printed Paraiba communication between called Old School and New School, to trigger project a childhood education guided in psychology, biology, in hygienism in moral and civics, promoting, educational practices to civilize and moralize children and, more than that, standardize and discipline bodies and minds.

Keywords: Journal of Education. Press. Child Education.

(10)

FIGURA 1 - Professor José Baptista Mello ... 20

FIGURA 2 - Capas da Revista do Ensino, n° 1, Ano I, 1932, n° 15, Ano V, 1937 ... 37

FIGURA 3 - Sumários da Revista do Ensino, nº 1, Ano I, 1932; n° 4 e 5, Ano II, 1933; nº 11, Ano III, 1934 e n° 17,Ano X, 1942 ...40

FIGURA 4 – Capa da Revista do Ensino, Ano I, n° 1 ... 62

FIGURA 5 – Capa da Revista do Ensino, Ano III, n° 10 ... 62

FIGURA 6 – Capa da Revista do Ensino, Ano IV, n° 13 ... 63

FIGURA 7 – Capa da Revista do Ensino, Ano V, n° 15 ... 63

FIGURA 8 – Capa da Revista do Ensino, Ano X, n° 17 ... 65

FIGURA 9 – Inauguração do Jardim de Infância anexo ao Grupo “Dr. Tomaz de Mindêlo” . 68 FIGURA 10 – Jardim de Infância do Curso Modêlo ... 69

FIGURA 11 – Jardim de Infância Santa Therezinha ... 69

FIGURA 12 – Jardim de Infância Isabel Maria das Neves ... 70

FIGURA 13 – Fotos de homenagens da Revista do Ensino: (a) Presidente João Pessoa; (b) Dr. Anthenor Navarro; (c) Dr. Gratuliano da Costa Brito; (d) Dr. Argemiro de Figueiredo ... 73

FIGURA 14 – As mulheres homenageadas na Revista do Ensino: (a) Professora Alzira Fonsêca; (b) Professora Umbelina Garcez; (c) Professora Alice de Azevêdo ... 75

(11)

QUADRO 1 - Teses e Dissertações publicadas no portal PPGE/UFPB; PPGH/UFPB ... 30

QUADRO 2 - As edições da Revista do Ensino (por ano) ... 36

QUADRO 3 – As temáticas gerais da Revista do Ensino ... 38

(12)

RESUMO ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS E GRÁFICOS LISTA DE QUADROS

APRESENTAÇÃO ... 11

CAPÍTULO 1 ... 17

1 OS CAMINHOS DA PESQUISA ... 18

1.1 As ferramentas Foucaultianas utilizadas para a leitura da Revista do Ensino/PB... 24

1.2 A construção do objeto de estudo ... 27

1.3 Descrevendo os procedimentos metodológicos ... 34

CAPÍTULO 2 ... 42

2 A REVISTA DO ENSINO COMO DISPOSITIVO DE ORIENTAÇÃO CULTURAL E TÉCNICA ... 43

2.1 A produção e a circulação da Revista do Ensino/PB ... 55

2.1.1 Periodicidade ... 55

2.1.2 O formato da Revista do Ensino/PB ... 61

2.1.3 O uso da Revista do Ensino/PB ... 66

CAPÍTULO 3 ... 79

3 UM OLHAR SOBRE A INFÂNCIA E A EDUCAÇÃO ... 80

3.1 A educação na Revista do Ensino/PB: uma interlocução com o movimento escolanovista ... 81

3.2 Leis, decretos, diretrizes pedagógicas e programa de ensino: uma leitura na Revista do Ensino sobre o atendimento à educação da criança ... 90

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 103

REFERÊNCIAS ... 106

ANEXO I : Sumários da Revista do Ensino/PB ... 114

(13)

APRESENTAÇÃO

1

A creança é uma planta mimosa e gentil, frágil e encantadora, pedindo carinhosos e inteligentes cuidados...A mestra, sabendo mais psicologia que pedagogia será mais mamã que mestra: toda bondade e simplicidade, sem pose nem reumatismos...tão capaz de ensinar ginastica como de cantar ou consolar uma creança, e sobretudo amiga, bem amiga dos pequeninos, com um grande coração capaz de guarda-los todos nele... (REVISTA DO ENSINO, ANO I, N° 1, 1932, p.13)2.

No discurso que abre este texto, as palavras de Alice de Azevêdo Monteiro, professora que exerceu um papel central na implantação dos Jardins de Infância na Paraíba3, foram importantes para a legitimação de uma concepção de infância e de educação, de um tempo em que há proeminência do uso das ciências modernas no espaço escolar e da formação docente. Sob o alicerce dos novos saberes, a educação vai ascender, cada vez mais, a categoria de fator de desenvolvimento e progresso.

Sobre isso, as autoras Gouvêa e Paixão (2004), destacam que no século XX a infância passa a ser perscrutada pelos saberes modernos, sobretudo a Psicologia, e compreendida em seus diferentes períodos cronológicos e de desenvolvimento. Dizem que é “com extremo detalhamento e tentativa de rigor teórico e metodológico”, que “esse sujeito infantil” vai ser definido, qualificado e quantificado quanto às “especificidades internas à categoria [da] infância, numa interlocução direta com a instituição escolar” (GOUVÊA; PAIXÃO, 2004, p. 347), o que se fazia presente no tempo pesquisado, como vimos na citação retirada da Revista do Ensino/PB, a qual a criança é comparada a uma “planta mimosa”, subjetivação cuja atribuição de sentido ao cuidado com a infância, enunciados produzidos desde o século XIX, estão ligados à necessidade de transformação, com o viés do mundo burguês. Assim também, uma preocupação com a mulher com cujo instinto maternal, natural, seria o sujeito capaz de educar as crianças, cabendo-lhe exercer seu papel maternal na escola, devendo ser “mais mamã que mestra”.

1 Faço uso, em alguns momentos deste trabalho, da escrita na primeira pessoa do singular, uma vez que, disserto

sobre a minha formação enquanto pesquisadora e da própria construção do objeto de estudo. Também uso a primeira pessoa do plural, pois a escrita desta pesquisa parte de ação coletiva, ou seja, minha escrita (orientanda), da orientadora e das referências às pesquisas sistematizadas.

2 Foram mantidas a grafia e a pontuação originais da fonte pesquisada.

3 A participação da Professora Alice de Azevêdo Monteiro como escritora não foi apenas na Revista do

(14)

No artigo, que trago em fragmentos, os sentidos da educação da infância convergiram para a importância da escola maternal chamada também de Jardim de Infância, na formação da criança. A autora defende que “[...]a escola maternal ou jardim de infancia preparará a creança para aprender. As jardineiras nivelarão o terreno, onde os professores primários semearão” (REVISTA DO ENSINO, ANO I, N° 1, 1932, p.13, grifo da revista). Segundo esse discurso, a inserção das crianças mais cedo no espaço escolar formaria um ambiente propício para moldar o seu comportamento. Era preciso aprender e memorizar os comportamentos normativos para que estes fossem posteriormente colocados em prática, ou seja, produzir um sujeito com uma determinada forma de ser e de agir.

Moldados os corpos e mentes, as crianças estariam preparadas para uma futura atuação no âmbito social, como também, para adentrar no ensino primário, aspecto que a própria educadora Alice de Azevêdo Monteiro ressalta: “Somente nas escolas maternais poderá o menino adquirir os bons habitos, que lhe permitam receber as lições, que lhe fôrem mais tarde ministradas pelo professor primario” (REVISTA DO ENSINO, ANO I, N° 1, 1932, p.13). Percebe-se que, o discurso “[...] como práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam” (FOUCAULT, 2012, p.60), veiculado na Revista do Ensino buscava produzir novos saberes e verdades sobre o corpo e a mente infantis, alicerçadas pelos fundamentos dos campos em voga, como a Medicina, a Psicologia, a Biologia e a Pedagogia.

Diante do exposto, as práticas discursivas que compuseram a Revista do Ensino me fizeram perceber que, ao realizar a leitura de suas páginas era preciso ir além do ver as suas folhas e representações pictóricas, era preciso deslocar sobre elas um olhar de pergunta, que não assume os discursos de autoridade, mas o suspende como verdade inquestionável. Ver e olhar: duas perspectivas diferentes de ler uma fonte.

Ao olharmos o impresso paraibano, sim! Ao olharmos! Pois aqui adotamos o ver e o olhar como se segue: “Ver é reto, olhar é sinuoso. Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado. A imediaticidade do ver torna-o um evento objetivo [...]. A lentidão é do olhar, a rapidez é própria ao ver” (TIBURI, 2004). No aprendizado de olhar e pensar a Revista do Ensino/PB4, pude perceber que durante o seu ciclo de vida, no período de 10 anos, por ela circularam práticas discursivas e não-discursivas que nos possibilitam compreender as diferentes facetas do âmbito social, político, econômico e cultural paraibano, bem como a educação da infância que esteve presente nas páginas da Revista/PB.

4 Ao me referir a Revista do Ensino que circulou no Estado da Paraíba irei escrever da seguinte maneira: Revista

(15)

Mas calma, Leitor! Vamos ver e olhar, já que ambos “[...] se complementam, são dois movimentos do mesmo gesto que envolve sensibilidade e atenção” (TIBURI, 2004), sinuosamente para a pesquisa! Sinto a necessidade de fazer um parêntese, pois preciso esclarecer alguns importantes traços desta trajetória como pesquisadora. Uma trajetória que começa ainda no Curso de Graduação em Pedagogia.

Tendo a autora do presente texto leituras sobre a história da educação da infância brasileira, as quais me faziam compreender e/ou refletir que em cada época e espaço geográfico procurou-se definir uma(s) forma(s) de pensar e sentir a educação infantil, ao me deparar com o artigo que trago como epígrafe e que compõe o título da Dissertação, comecei a pensar em um projeto de pesquisa para o Mestrado que abordasse a educação da infância paraibana (1932-1942), tendo como fonte a Revista do Ensino da Paraíba.

Um estímulo que não partiu somente do meu interesse acadêmico particular, mas como uma possibilidade de reflexão e de produção de novas fontes e conhecimentos em História da Educação, pois compreendo que para tornar a área mais rica e subjetiva, os estudos sobre o percurso histórico da educação brasileira necessitam de reflexões específicas, produzindo saberes locais, mostrando os seus diferentes aspectos: político, social, cultural, econômico, educacional, etc., compostos por diferentes significados e partilhados pelos sujeitos que escrevem, reescrevem, significam e ressignificam o mundo, nos diversos períodos históricos e geográficos.

Esses foram os primeiros passos de uma trajetória, que não parou com a leitura do texto supracitado. Ao manipular a Revista do Ensino/PB percebia o quanto o periódico era rico para a historiografia paraibana, pois ao meu olhar, a Revista/PB guarda valores importantes, principalmente, o valor histórico que marca uma época paraibana, a década de 1930 e que confere o lugar de artefato cultural representativo de um tempo, de um espaço, de uma organização educacional, que buscava uma identidade em uma interconexão e diálogo com o país, com a produção brasileira.

Diante da expressividade discursiva do periódico educacional paraibano e considerando os anos da sua circulação, algumas inquietações afloravam a cada manuseio da

Revista do Ensino/PB e a cada leitura sobre as pesquisas na área da História da Educação.

(16)

A quem as temáticas se dirigiam mais explicitamente – considerando-se que o periódico se reconhecia como uma produção no campo da educação?

Esses questionamentos vieram pela primeira vez quando participei do Programa de Educação Tutorial (PET), o qual foi instaurado em 2006, no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Durante a participação no grupo PET/Pedagogia (UFCG), iniciei, no ano de 2010, uma pesquisa no campo da História da Educação, intitulada “Escola Pública no Brasil e em Campina Grande, Paraíba (PB)”, sob a orientação da Professora Doutora Melânia Mendonça Rodrigues5.

Como pesquisadora, a vontade de tecer novos significados para a história educacional paraibana ampliou-se através da Revista do Ensino/PB. Durante a graduação, os conhecimentos sobre o periódico e as temáticas que veiculava foram aos poucos sendo estruturados mentalmente e concretizados em publicações nos eventos científicos, tendo os seguintes títulos: “A escola pública no Brasil: sua gênese no contexto paraibano6”; “Impressos

na História da Educação: Revista do Ensino na Paraíba (1932-1942)”; “A Revista do Ensino e a disseminação do ideário escolanovista na Paraíba”; “Revista do Ensino da Paraíba: Um veículo oficial?” 7.

Com o intuito de continuar bordando a história educacional paraibana, tendo a Revista

do Ensino/PB como fonte, novos horizontes foram sendo almejados; com a conclusão do

Curso de Pedagogia em 2013, pela UFCG, tive a certeza de participar da seleção para o Mestrado (seleção do ano de 2014), do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na linha de pesquisa em História da Educação. Aprovada no Programa, concluídas as disciplinas ofertadas pelo PPGE/UFPB e realizadas as leituras indicadas pela Orientadora Maria do Socorro Nóbrega Queiroga e pelos professores que compuseram a Banca de Qualificação, foi possível ressignificar a fonte investigada no estudo, como também, elementos que tangenciam a educação da infância.

Isso não significa que eu tenha pesquisado diretamente sobre a educação da infância paraibana em suas diferentes concepções. Compreendo a relevância dessas reflexões e do aprofundamento em pesquisas específicas, dado o caráter de complexidade da história da educação das infâncias. Mais especificamente, por compreendê-la como historicamente situada, ou seja, está relacionada com as implicações e com as transformações políticas, sociais, econômicas e culturais de um tempo.

5 Docente da Universidade Federal de Campina, da Unidade Acadêmica de Educação e Ex-tutora do

PET-Pedagogia (UFCG).

6 Seminário PET-Conexões de Saberes, 2012, Recife/PE.

(17)

Diante disso, o estudo tem por objetivo geral: Analisar as temáticas da Revista do

Ensino segundo a Política da Diretoria do Ensino Primário. Tomando como eixos

articuladores a orientar o processo de investigação: a) discutir os temas sobre a educação da

infância presente na Revista do Ensino da Paraíba, no período de 1932-1942; b) analisar as

diretrizes pedagógicas para a educação da infância veiculadas na Revista do Ensino. Pesquisar os discursos presentes na Revista do Ensino/PB, produzido pela Diretoria do Ensino Primário da Paraíba, seguindo os objetivos propostos, foi um passo que esse estudo deu na tentativa de contribuir com a historiografia paraibana e possibilitar um diálogo profícuo com a produção brasileira relacionada ao tema de pesquisa.

Como já anunciado, a Revista do Ensino/PB se constitui na fonte deste estudo, tendo como recorte temporal o período de circulação do impresso (1932-1942) e seus 18 (dezoito) números. Analisar o período de circulação do impresso proporcionou perceber as rupturas, descontinuidades e/ou regularidades dos enunciados que foram veiculados pela revista, que do ponto de vista da leitura interpretativa dos sentidos, conduziu uma visão que descarta os generalismos e universalismos, privilegiando ler os discursos na sua inserção nas relações de poder-saber de um tempo e espaço singulares.

A presente Dissertação registra o resultado de uma investigação sobre os temas presentes nos discursos produzidos pela Diretoria do Ensino Primário, a partir da leitura da

Revista do Ensino/PB. Empreendida, no campo historiográfico da Nova História Cultural,

tomarei como referencial as ferramentas pensadas por Michel Foucault, com o intuito de compreender as temáticas que estiveram presentes nas páginas da Revista/PB sobre a educação da infância.

A partir deste delineamento inicial, destacamos os momentos nos quais esta pesquisa foi configurada, estando organizada com uma apresentação, três capítulos e as considerações finais. Na apresentação, já descrita, tratamos do começo da trajetória desta pesquisa, a escolha em estudar a Revista do Ensino/PB, as questões norteadoras, os objetivos, sendo anunciado o campo historiográfico e o referencial a nortear as discussões, estes últimos serão melhor discutidos no Capítulo 1, no qual foram desenvolvidos quatro tópicos, nestes expus as escolhas teóricas e metodológicas para a realização da investigação.

O Capítulo 2 trata propriamente da fonte, através de um trabalho descritivo-analítico

da Revista do Ensino/PB, focalizando as suas características textuais, como formato e número

(18)

educacional. Luta aqui compreendida como sendo conquistas de espaços nas relações de poder/saber/verdade, entre os diferentes personagens que se fizeram presentes na Revista do

Ensino/PB, seja como elementos dos discursos, como as infâncias, os professores, seja os que

contribuíram com a implementação do impresso educacional escrevendo textos.

A caracterização da Revista do Ensino/PB possibilitou-nos compreender e/ou desvendar os sentidos e significados dos discursos produzidos, no que se refere aos entrelaçamentos com o cenário político e educacional do tempo pesquisado, buscando analisar a participação dos sujeitos no periódico, as orientações disseminadas para estabelecer uma determinada organização do ensino, enfim uma forma de pensar a sociedade e a educação, caracterizando uma estratégia de regulação.

No Capítulo 3, realizo uma discussão sobre as diretrizes pedagógicas para a educação das crianças veiculadas na Revista/PB, incluindo a discussão sobre o papel do Estado quanto às orientações para a realização da prática docente e para a educação da criança na Paraíba. O intuito da escrita deste Capítulo foi de analisar as políticas criadas e anunciadas nas páginas da revista pela Diretoria do Ensino Primário, retomando e sob as lentes das noções criadas por Michel Foucault e as novas possibilidades colocadas pelos historiadores da Nova História no âmbito da educação, sobretudo, dialogando com fontes produzidas, a partir de outras pesquisas, referendadas nas bibliografias a que tive acesso.

(19)
(20)

-1 OS CAMINHOS DA PESQUISA

[...] uma publicação de interêsse dos educadores da Paraíba. Através da leitura das suas páginas êles se inteirarão das atividades educacionais que se processam no Estado, e ficarão informados das discussões em torno dos problemas do ensino em geral e dos relacionados com a reorganização dos serviços de educação da Paraíba (REVISTA DO ENSINO, ANO X, N° 17, 1942, p.5).

Traduzir e fazer circular os novos conhecimentos através de um periódico paraibano, entre os anos de 1932-1942, exigiu desta pesquisadora antes compreender os regimes de verdade que serviram de alicerce para a educação na Paraíba, naquele momento. Portanto, “olhar” os discursos proclamados pela fonte significou mais: significou ir além, não sendo suficiente apenas dar voz à fonte8, o que é muito importante, mas lê-la tal como ela se reconhecia e queria se fazer ver para os seus potenciais leitores.

Como veículo oficial do Estado da Paraíba, o periódico veiculou, durante seu ciclo de vida de 1932 a 1942, assuntos políticos e educacionais, legitimando nas páginas da

Revista/PB a vontade política de alguns personagens que compuseram o âmbito social

paraibano. Com o discurso de apresentação da Revista do Ensino/PB, o Estado “apresenta” aos professores o seu projeto educacional e a organização do ensino paraibano. Cabe destacar que, o professorado foi proclamado pelo periódico como parte importante para disseminação do projeto educacional e de organização do ensino do Estado.

Os professores do ensino primário foram convocados pelo Estado não somente a ler religiosamente a Revista/PB, mas a escrever, a sujeitar sua voz9 e propagar sua visão sobre a educação, contribuindo com a formação para docência na escola primária, como no chamamento da citação: “E’ preciso, porém, que os senhores professores façam das páginas da ‘Revista do Ensino’ a sua leitura habitual e remetam, regularmente, as suas colaborações afim de que sejam publicadas no órgão do Departamento de Educação” (REVISTA DO ENSINO, ANO X, N° 17, 1942, p.5). Percebemos que, a Revista do Ensino/PB ao se configurar como uma produção importante da cultura oficial relacionada à cultura escolar, nos proporciona uma reflexão e entendimento acerca das concepções de Estado, de sociedade e de escola, que habitavam o inconsciente coletivo no recorte temporal pesquisado.

8 A voz que damos a fonte não é no sentido de deixá-la falar por si só, mas para compreendemos os diferentes

discursos veiculados pelo periódico.

(21)

Diante do cenário apresentado, optei em realizar o estudo da Revista/PB, como já mencionado na apresentação, tendo como objetivo geral: Analisar as temáticas da Revista do

Ensino segundo a Política da Diretoria do Ensino Primário. Tomando como eixos

articuladores a orientar o processo de investigação: a) discutir os temas sobre a educação da

infância presente na Revista do Ensino da Paraíba, no período de 1932-1942; b) analisar as

diretrizes pedagógicas para a educação da infância veiculadas na Revista do Ensino.

A Revista/PB foi criada pelo Decreto nº 287, de 18 de maio de 1932 e promulgada

(22)

FIGURA 1 - Professor José Baptista Mello

Fonte: Revista do Ensino, ano I, n° 1, 1932.

Para esses estudiosos (KULESZA, 2011; MENDONÇA, et. al, 2012), o fundador e primeiro editor do periódico paraibano atuou nas reformas educacionais do Estado da Paraíba fazendo circular as ideias modernas escolanovistas, como já acontecia em outros estados brasileiros, em embates entre as ideias tradicionais e um novo modelo de pensamento. Ser “moderno” na Paraíba dos anos de 1930 significava um sentimento de avanço, de encontro com o novo, mesmo que, na maioria das vezes, isso tenha necessariamente havido um rompimento com certas práticas representativas do “velho” com o “passado”, mas uma tensão entre continuidades e descontinuidades em relação aos ideais tradicionais. Ser “moderno” significava ainda, reproduzir práticas que se desenvolviam em outras realidades, locais e mundiais, como a configuração de uma individualização do sujeito e a busca pelo progresso econômico e sociais, em estreita ligação com práticas modernas para repensar a organização dos espaços da cidade, da escola, os projetos arquitetônicos, a higienização, entre outros que fizeram confluir e aproximar discursos políticos, médicos, educadores, engenheiros, etc., configurando um cenário de jogos de poder e uma disputa pela verdade e pelo saber, representados por laicos e católicos.

Foram essas configurações das práticas discursivas que possibilitaram que, José Baptista de Mello fosse elevado à categoria de “educador ativo” quando se tratava de ideias “modernas”. Atuando principalmente na imprensa paraibana, além da criação da Revista do

(23)

-1922. Também escreveu livros, como “Evolução do Ensino na Paraíba”, cuja primeira edição foi publicada no ano de 1936.

Temos assim, a constituição de um impresso educacional que veiculou, em suas páginas, uma visão de modernidade que capilarizava os discursos oficiais e dos professores sobre a organização dos espaços e tempos escolares, os enunciados de leis com acento na cientificidade, principalmente, os saberes do escolanovismo, na versão da Psicologia, da Biologia e da Pedagogia, e que deram corpo e legitimação à formação docente, à formação do educando e às orientações para a família. A Revista do Ensino/PB, segundo nossa leitura, serviu para divulgar o que se reconhecia como transformações do Ensino Primário, tal como expressa em seu número 2: “[...] a actual diffusão que se verifica do Ensino Primário do Estado requer um orgam de sua divulgação e que ao mesmo tempo sirva de estimulo, não só ao professorado como também aos que se interessam pelos assumptos pedagogicos e educacionais”. (REVISTA DO ENSINO, ANO I, N° 2, 1932, p. 61).

Conforme Araújo (1984), a Revista do Ensino/PB passa a ser a grande anunciadora dos métodos de ensino no Estado da Paraíba, veiculando, segundo o pensamento até hoje colocado por educadores, o que havia de mais moderno no âmbito educacional. Infiro que, as ideias postuladas e a circular no periódico paraibano, parafraseando Foucault se constituíam em produções de verdades imersas em jogos de poder, representando assim, os interesses políticos locais. Portanto, uma batalha entre os discursos sobre o que era significado como o “novo” e o “velho”.

Um dos mecanismos utilizados para a solidificação do ideário escolanovista na Paraíba, e que aparece com grande relevância na Revista/PB diz respeito às mudanças metodológicas e teóricas no processo educativo, e que demandariam transformações no quadro do Magistério paraibano, responsabilizado por aplicar os métodos modernos e as novas práticas pedagógicas (SILVA, 2008, p.49)

(24)

fonte educacional paraibana pesquisada amplia sobremaneira para compreendemos mais sobre as ideias veiculadas pela Revista/PB.

No decorrer da pesquisa, percebemos a existência de diferentes discursos presentes nas páginas da Revista do Ensino/PB sobre a educação da criança, entre eles destacamos, como exemplo, o discurso da escolarização, da moral e do higienismo. Esses foram discursos que estiveram alicerçados na relação saber/poder do movimento escolanovista, da Igreja Católica e dos Médicos higienistas.

Compreendemos que o discurso da escolarização transformou a criança em aluno, além disso, chamava o Estado para a obrigatoriedade da educação, sendo o periódico paraibano o suporte para veicular as ações dos governantes quanto ao atendimento à educação da criança. Uma ressalva se faz necessária no que concerne ao discurso da escolarização, ao mesmo tempo em que o Estado é proclamado à obrigatoriedade da educação, a Igreja Católica continua ativa no Estado da Paraíba, principalmente, exercendo uma educação que moldava o corpo e a mente infantil, através da moral cristã. Assim era o discurso da moral, na maioria das vezes, alicerçado pelo pensamento religioso, mas também, era um discurso que fazia uso da imagem dos homens públicos, entre eles, os políticos paraibanos como exemplos da moral e do civismo, modelos a serem seguidos por todos; por fim, o discurso higienista, tendo a fala autorizada dos médicos na formação de corpos “hígidos”. Cabe destacar que, os discursos sobre a educação da criança na Revista do Ensino/PB, partiram de pessoas que ocupavam diferentes espaços nas redes de sociabilidades do Estado da Paraíba, como também, em outros locais geográficos, isto é, eram pessoas que estavam em lugar de destaque e tinham a fala autorizada.

Diante disso, os debates sobre a educação da criança apresentavam-se, na Revista do

Ensino/PB, em diferentes modos e gêneros textuais, artigos, a grande maioria deles escritos

por educadores, e também o gênero icnográfico como fotografias que registram os momentos e espaços escolares, que fazem apelo ao cuidar, educar e proteger as crianças, caracterizadas como seres frágeis e como sujeitos do futuro.

(25)

Brasil à condição de nação civilizada. O que significou para mim, perguntar sobre como a revista pesquisada esteve em sintonia com as demandas nacionais, políticas, culturais e educacionais, aspectos que são constantes nos discursos produzidos nesse periódico.

Estas foram às primeiras palavras sobre os caminhos da pesquisa que escolhi para você, leitor. Antes de encerrar este primeiro tópico gostaria de compartilhar os 24 meses vividos no percurso do Mestrado. As situações do dia a dia, sobre as quais não se tem total controle, pois são derives, também fazem que nós pesquisadores, durante o processo de escrita, encontremos situações diversas que oscilam entre agradáveis como também desagradáveis. O percurso da pesquisa coloca o pesquisador sempre em situações de incertezas, de não linearidade na trajetória e no encontro com novas situações, que podem nos levar a seguir outros caminhos que, até então, não eram previstos, assim “[...] o processo de pesquisa é sempre muito complexo, envolvendo descobertas e impasses que devem ser analisados, isto é, colocando os pesquisadores sempre em situação de incertezas, mais do que em condições de traçar caminhos definidos” (DERMARTINE, 2010, p. 72).

No meu caso particular de escrita desta Dissertação, a produção de maior envergadura na minha vida acadêmica (até o momento), sempre me deparei no percurso do fazer histórico, desde a definição do problema, as escolhas teóricas e metodológicas, com diversas possibilidades de reflexão. Contudo, penso que o meu maior desafio foi desenvolver mecanismos de leitura da fonte. Para Galvão e Lopes (2011, p. 7), “[...] o ponto de partida para se fazer história não são as fontes, mas os problemas e as perguntas que o(a) pesquisador(a) coloca ao passado e, consequentemente, aos vestígios que dele restaram – as fontes”. Sendo assim, mobilizei minhas sensibilidades para compreender as redes de sociabilidades que constituíram a Revista do Ensino/PB, o que exigiu de mim um olhar cuidadoso desse impresso, para assim, poder problematizá-lo e fazer as perguntas que me tiraram da zona de conforto.

(26)

1.1

AS FERRAMENTAS FOUCAULTIANAS UTILIZADAS PARA A

LEITURA DA

REVISTA DO ENSINO/PB

Quando me propus utilizar as ferramentas criadas por Michel Foucault como referencial teórico-metodológico a orientar a investigação, fiz primeiro uma aproximação com as leituras de algumas obras foucaultianas, tendo em vista que minha formação na graduação foi embasada em outra perspectiva epistemológica. Após o conhecimento dos estudos realizados por Michel Foucault, estabeleci quais conceitos poderiam ser utilizados como norte e suporte para ler a fonte e assim iniciar o processo de investigação.

É sabido que Michel Foucault em seus estudos, com valor filosófico e historiográfico, não se deteve diretamente ao estudo da educação, entretanto suas investigações e noções continuam contribuindo significativamente para se pensar esse dispositivo criado desde a modernidade europeia, tendo em vista que as ferramentas proporcionadas por seu método possibilitam ao pesquisador investigar uma variedade de temáticas e enfoques que até então estavam à margem nas pesquisas educacionais (GUIMARÃES, 2011). Conforme Guimarães (2011), foi na década de 1980 que no Brasil

[...] sob a inspiração de Vigiar e Punir, a pesquisa educacional começou a sentir os primeiros impactos da produção de Foucault. No início, tratava-se de pesquisas relacionadas, sobretudo, à questão do disciplinamento, buscando constatar, nas escolas brasileiras, as teses levantadas pelo filósofo francês sobre essa instituição moderna. Já na década de 1990 houve um novo impacto, mais significativo. Trata-se da produção do ‘Grupo de Porto

-Alegre’, que, em torno de Tomaz Tadeu da Silva e Alfredo Veiga-Neto buscou os diversos caminhos possíveis dos estudos foucaultianos em educação. Desde então a produção nacional vem crescendo (GUIMARÃES, 2011, p. 36, grifo da autora).

(27)

É assim que as noções foucaultianas, como já mencionadas, “dispositivo de poder”, “tecnologia do poder”, “biopoder” e “biopolítica”, foram importantes para compreendermos as redes de poder que se formaram com os mecanismos utilizados pelo Estado para penetrar nos diferentes espaços, como a escola e a família e os sujeitos – professores e alunos. Ademais, as mudanças e/ou movimentos das relações de poder em um contexto sócio-histórico possibilitam a elaboração de novos discursos e novas práticas, legitimando os modos de organização da vida social.

Refletir sobre os temas veiculados por esse suporte, a Revista do Ensino/PB, na Paraíba na década de 1930, a partir da perspectiva foucaultiana, significou para mim reconhecer a forma moderna de exercício do poder, possibilitadas pelo aparato escolar, a qual articula as formas de sujeição e de controle do corpo do indivíduo. Mais do que isso, a internalização do poder, o qual possibilita que os indivíduos passem a governar os outros e a autogovernar. Isso porque a educação escolar intensifica, ao máximo, a produção de um corpo individualizado e a regulação dos indivíduos, sendo capaz de forjar e fabricar identidades e sujeitos.

Trazendo as reflexões proporcionadas pela leitura de Foucault (1988, p. 89), para dialogar com a fonte pesquisada e seus discursos, vê-se que “[...] o poder está em toda parte; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares”. Diferentemente dos estudos marxista, que compreendem o poder sendo exercido por uma classe que domina e outra que é dominada, Michel Foucault não entende o poder como estando localizado em um determinado lugar, isto é, que emane de um centro, pelo contrário, o poder para Michel Foucault se manifesta em todas as formas de relação (MACHADO, 1981). Nessa visão, o Estado não é o foco fundamental onde estaria localizado o poder, ao invés disso, o poder é produto de práticas de governo em exercício, o que nos faz compreender o poder não a partir do macro para o micro, mas como relação que se manifesta de diversas formas por todo campo social.

(28)

paraibanos, que devidamente formados, esclarecidos, atuariam na educação do ensino primário da Paraíba, controlando a educação infantil, através de um poder contínuo. Essas tecnologias do poder apareciam, por exemplo, na higienização dos escolares, na formação dos corpos “hígidos”, na medição da inteligência, na busca por uma homogeneização da população escolar.

Para Foucault, a biopolítica relaciona-se às práticas que foram criadas desde o século XVIII, de modo a racionalizar “[...] os problemas propostos à prática governamental, pelos fenômenos próprios a um conjunto de seres vivos constituídos em população: saúde, higiene, natalidades, raça” (FOUCAULT, 1997 p. 89), portanto, uma nova arte de governar, onde se tem o Estado como administrador, e onde a população passa a ser indispensável para a governamentalidade que constitui uma sociedade do controle. Em outra leitura, Revel (2005, p.54) vai dizer, com base no estudo de Foucault, que:

A governamentalidade moderna coloca pela primeira vez o problema da

‘população’, isto é, a soma dos sujeitos de um território, o conjunto de sujeitos de direito ou a categoria geral da ‘espécie humana’, mas o objeto

construído pela gestão política global da vida dos indivíduos (biopolítica).

Na perspectiva de Revel (2005), temos uma arte de governar que guia e conduz individualmente e coletivamente a vida, constituída por um saber sobre os comportamentos e as condutas da população e, porque não falar, de uma verdade sobre si, do seu eu. A prática de governamentalidade é exercida sobre o sujeito que passa a si governar por meio de um disciplinamento. Assim, o Estado não precisa mais ter o controle dos sujeitos e situações, uma vez que os próprios sujeitos se autogovernam. Os modos de regulação atravessam as formas de relações e, mesmo que não tenha sido objetivo da pesquisa analisar sobre a circulação e os modos de apropriação da Revista do Ensino/PB na sociedade paraibana, a atualização do biopoder e da biopolítica estão fortemente presentes em suas páginas, nos enunciados, sobre os objetivos da revista, nas ações, nas teorias e nas metodologias propostas para educação. Conforme Carvalho (2015, p.2):

[...] a perspectiva da governamentalidade biopolítica é intervir nos modos de viver da população, ela produz uma extensa rede de dispositivos de poder que abarcam a produção de saberes, sejam eles científicos ou não, ações políticas, legislativas, normativas, educativas e instituicionais.

(29)

p.1), o biopoder faz a biopolítica, nas teias de relações de poder, tensão que aparece nas páginas da Revista do Ensino/PB, como propostas para a vida dos indivíduos. Considerando-se o tempo e a sua utilização pelo Estado, a Revista do Ensino/PB fez circular enunciados que buscavam controlar e disciplinar as práticas dos sujeitos, através das ciências modernas, a saber: a Estatística, a Medicina higienista, a Psicologia Experimental, a Pedagogia, entre outras que embasaram os discursos e os legitimaram nas páginas da Revista/PB. Assim, não se tinha nas páginas do periódico em estudo, apenas formas de controle de caráter administrativo do sistema escolar, mas o controle da própria vida dos sujeitos.

Para mim, o uso das noções de Michel Foucault possibilitaram na escrita deste trabalho, o encontro com novos objetos de estudos para recriar e reinventar “[...] a partir dos nossos próprios lugares de referência que, inclusive, são plurais” (QUEIROGA, 2013, p. 29). Michel Foucault inova por trabalhar com temas relevantes para compreensão da teia social, já de início problematizando a verdade sobre a epistemologia (MACHADO, 1981), a qual coloca em evidência o conhecimento científico, tornando-o legítimo e inquestionável e não como que se produz conceitos e regulamentos. O estudo dos conceitos foucaultianos me permitiram entender, analisar e/ou problematizar a vontade de saber e de verdade articuladas às práticas discursivas, mais especificamente, sobre a educação da infância veiculada nas páginas da Revista do Ensino/PB, em um dado momento histórico e lugar, bem como, perceber quais personagens ou agentes estavam autorizados a falar na fonte em estudo.

1.2 A CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

É impossível começar este tópico sem ressaltar a importância das pesquisas advindas da renovação da História, fundamentais para historiografia por propiciar a incorporação de diversos elementos para se compreender os contextos históricos, sociais, culturais e educacionais, que estiveram presentes na formação humana.

(30)

Parece consensual que não cabe uma fórmula que deva ser seguida por todos, mas a existência de possibilidades plurais, multiplicidade de perspectivas e diversidade de caminhos. São janelas que se abrem e o pesquisador direciona o seu olhar para a diversidade de significados e/ou interpretações que podem dar suporte a sua pesquisa. Por isso, é tão importante a discussão da renovação da História advinda com a emergência no campo da historiografia, da Nova História Cultural.

Nesse sentido, estudiosos do campo da história têm destacado há algumas décadas sobre a importância verdadeiramente revolucionária que teve a História Nova e os Annales ao romperem com a tradição de padrões da historiografia, incorporando nas pesquisas novos temas, novas questões, novos procedimentos de pesquisa e de perspectiva de abordagem. Vejamos sobre isso, o que diz Le Goff (1993, p.26), em seu texto clássico:

Há uma história nova, e um de seus pioneiros, Henri Berr, já empregava o termo em 1930. A história deve esse lugar original a duas características essenciais: sua renovação integral e o arraigamento de sua mutação em tradições antigas e sólidas.

Como bem destaca Le Goff (1993, p.44), “[...] a história nova foi definida pelo aparecimento de novos métodos que renovaram domínios tradicionais da história [...] e, principalmente talvez, pelo aparecimento no campo da história de novos objetos, em geral reservados, até então, a Antropologia”. Diante disso, surgem novos enfoques, a exemplo da história das mentalidades, história cultural e a história oral.

O caráter e a amplitude das mudanças ocorridas após a emergência desse campo historiográfico, no que concerne à forma de se realizar uma pesquisa, foi bastante significativo, quando comparado à história tradicional anterior, ou seja, pode-se considerar que ocorreu uma verdadeira revolução no campo da história, ou, parafraseando alguns estudiosos, uma “virada epistemológica”, pelo que significaram e pela amplitude de possibilidades abertas ao campo, inclusive com a introdução de novos aportes analíticos a dialogar com a história: a psicanálise, a linguística, a antropologia, a sociologia, etc.

(31)

Considerando as possibilidades plurais de escrever a história, ressaltamos as pesquisas que utilizam dos impressos educacionais10 como fonte e/ou objeto, são estudos que cresceram significativamente nas três últimas décadas, sendo “[...] apresentado como um novo campo de pesquisa em vários países do mundo, e mais recentemente no Brasil” (BICCAS, 2008, p.23). No que concerne às pesquisas mais significativas no contexto mundial, destacam-se os trabalhos de “Pierre Caspard (1981), da França, e Antônio Nóvoa (1993), em Portugal”, os quais “têm realizado um trabalho bastante significativo buscando estabelecer uma história serial e de repertórios analíticos na perspectiva de fornecer informações sobre o ciclo de vida, conteúdos dos impressos” (BICCAS, 2008, p.23).

Também destacamos as pesquisas sobre a infância, já que a Revista do Ensino/PB foi um periódico criado para o ensino primário paraibano, atuando na formação dos professores e na educação da infância. Nesse sentido, evidenciamos que as produções sobre a infância tiveram uma maior ascendência, no Brasil, a partir da década de 1980. Foram trabalhos influenciados pela tradução incompleta dos estudos de Ariès, sobretudo a obra “História social da criança e da família” (1973). Esse olhar sobre a infância ocupou espaços e repercutiu, nos programas de pós-graduação, na realização dos trabalhos de dissertações e teses (GOUVÊA, 2008). No que concerne às produções mais recentes:

[...] faz-se presente a busca de superação de análises referenciadas na produção estrangeira, principalmente francesa, que levaram a uma concepção de uma unidirecionalidade e universalidade da construção da ideia moderna de infância, que unificaria as visões sobre a infância e o lugar social atribuído a criança (GOUVÊA, 2008, p. 197).

Essas considerações sinalizam para uma virada nas pesquisas sobre a infância, principalmente no que concerne aos aspectos teóricos-metodológicos, os quais abrem novas perspectivas aos estudos, no sentido de uma infância que passa a ser compreendida em sua pluralidade e não em uma perspectiva generalista e ascendente.

Diante disso, busquei observar melhor a produção acadêmica relacionada com essa categoria, a infância, no entrono do tema de estudo. Procurei inicialmente situar à pesquisa na historiografia da educação paraibana, realizando um levantamento da produção acadêmica existente sobre a educação. Para esse levantamento, elegi as dissertações e teses defendidas em dois programas de Pós-graduação da Paraíba, relacionados ao campo de pesquisa, a saber: Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) e o Programa de Pós-Graduação em História (PPGH). Durante a busca, usei os termos infância, criança e infantil, priorizando as

10 A discussão sobre os estudos que usam os impressos educacionais como fonte e/ou objeto será aprofundada no

(32)

dissertações e teses que pudessem trazer uma contribuição a partir dos títulos. Após selecionar os trabalhos mais significativos e que apresentavam os termos escolhidos, já mencionados, realizei uma leitura dos resumos dos mesmos.

O recorte temporal da pesquisa das produções acadêmicas do PPGE e PPGH cobriu o intervalo de 2007 ao de 201511. A escolha decorreu por ser um período em que houve uma efervescência de pesquisas no campo da História da Educação na Paraíba, que, segundo alguns estudiosos da área, se deu, principalmente, por ser 2007 o ano em que a Linha de Pesquisa História da Educação foi aprovada pela Assembleia Geral do PPGE e referenciada pelo colegiado, tendo já no ano de 2010, a defesa de três trabalhos de doutorado e seis dissertações de mestrado. Vale salientar que, os projetos de teses já haviam sido desenvolvidos na antiga Linha de Pesquisa Fundamentos e Processos em Educação Popular (PINHEIRO; ANANIAS, 2012).

O quadro abaixo referenda as buscas realizadas nos sites dos Programas, portanto, os dados referem-se ao que o PPGE e o PPGH disponibilizaram online nos seus sites. A busca ao acervo do PPGE se deu na Linha de Pesquisa História da Educação.

QUADRO 1 Teses e Dissertações publicadas no portal PPGE/UFPB; PPGH/UFPB

11 A busca foi até o mês de setembro de 2015.

TIPO DE

DOCUMENTO TÍTULO AUTOR ANO GRADUAÇÃO PÓS- BANCO DE DADOS

Dissertação

O Collégio de Educandos Artífices – 1865-1874: a infância desvalida da Parahyba do Norte

Guaraciane Mendonça de Lima

2008 PPGH/UFPB PPGH/UFPB

Dissertação

(DES)alinhando alguns fios da modernidade pedagógica: um estudo sobre as práticas discursivas em torno da educação infantil em Campina Grande - PB (1919-1945)

Paloma

Porto Silva 2010 PPGH/UFPB PPGH/UFPB

Dissertação

Corpos hígidos: O limpo e o sujo na Paraíba (1912-1924) Azemar dos Santos Soares Júnior

2011 PPGH/UFPB PPGH/UFPB

Dissertação ENTRE CASAS, RUAS E

Luiza Iolanda

(33)

Fonte: Elaborado a partir dos bancos de teses e dissertações publicados nos sites PPGE/UFPB; PPGH/UFPB. Quadro finalizado em 22 de setembro de 2015.

No Quadro 1 apresentado, em relação ao PPGE pode-se destacar a existência de um trabalho na Linha de Pesquisa História da Educação, em nível de Mestrado. Observa-se, também, a inexistência de trabalhos que investigam sobre a educação da infância paraibana no período aqui analisado (1932-1942). Utilizando os termos citados, encontrei trabalhos nas demais Linhas de Pesquisa, a exemplo, de Políticas Públicas, dos Estudos Culturais e Educação.

Concede a esta pesquisa certo ineditismo na Linha de Pesquisa História da Educação (PPGE), principalmente, pelo fato de analisar a educação da criança na Revista do Ensino/PB. Destaco ainda, a importância da disponibilidade de todos os originais do periódico educacional, o que caracteriza um aspecto relevante para história da educação pública paraibana. Contudo uma ressalva se faz necessária: Azemar dos Santos Soares Júnior desenvolveu estudos com a Revista do Ensino/PB, em sua pesquisa de doutorado12, na qual analisou no periódico os domínios pedagógicos da higiene e o culto do corpo e da pátria. Também, destaco o trabalho de Albanisa Maria de Assunção13, a qual desenvolveu pesquisa

utilizando também a Revista do Ensino/PB, sobre o ensino de História. São trabalhos com perspectivas diferentes, mas envolvendo a mesma fonte.

Outra pesquisa que investigou em impresso, no caso, um jornal, e tratando sobre a infância foi realizada por Costa (2015). Em sua pesquisa intitulada “‘Em torno do berço’: discursos sobre a educação da infância pobre parahybana no jornal A Imprensa (1912 -1922)”, buscou investigar os discursos veiculados no Jornal “A Imprensa” que foram direcionados à educação da infância pobre, tendo como recorte temporal o período de 1912 a 1922. A autora procurou compreender a ideia de infância, como a mesma era educada e quais

12 Defesa de Tese realizada em dezembro de 2015.

13

O mês e ano previsto para defesa é fevereiro de 2016.

IGREJAS: crianças abandonadas na cidade da Paraíba oitocentista

Pegado Cortez de Oliveira

Dissertação “Em torno do berço”: discursos sobre a educação da infância pobre parahybana no jornal A Imprensa (1912 -1922)

Solanja

(34)

os sentidos atribuídos às infâncias no jornal pesquisado. Diante disso, para entender os discursos direcionados à infância pobre, a pesquisadora teceu seu estudo construindo categorias de análises sobre os saberes educacionais ligados à escolarização, ao assistencialismo, ao higienismo e à moral da infância pobre.

No que concerne às pesquisas desenvolvidas no âmbito do PPGH/UFPB, percebe-se que a maioria dos trabalhos são anteriores ao recorte temporal utilizado na minha pesquisa, exceção apenas para a pesquisa de Silva (2010), que perpassa o recorte com início em 1919 e indo até o ano de 1945.

Nos referidos trabalhos há reflexões diferentes quanto à categoria infância. A autora Lima (2008), com seu trabalho intitulado “O Collégio de Educandos Artífices – 1865-1874: a infância desvalida da Parahyba do Norte”, buscou refletir sobre as condições das crianças e da infância na Paraíba do século XIX e, para isso, investigou a educação profissional oferecida pelo Colégio de Educandos Artíficies da Parahyba do Norte (1865 a 1874). Sua pesquisa se debruça sobre a infância desvalida, principalmente, sobre a ação dos gestores para sanar ou amenizar as consequências dessa condição, buscando perceber o diálogo das ações assistencialistas e de institucionalização da infância desvalida com um projeto maior de construção de uma identidade nacional.

Silva (2010), em sua pesquisa “(DES)alinhando alguns fios da modernidade pedagógica: um estudo sobre as práticas discursivas em torno da educação infantil em Campina Grande-PB (1919-1945)”, problematizou sobre o surgimento de uma noção de educação atrelada à ideia de modernidade na cidade de Campina Grande-PB. Para isso, a autora analisa as práticas discursivas presentes no Instituto Pedagógico, pensando “[...] como o discurso de progresso associou-se ao discurso pedagógico na tentativa de transformar Campina Grande numa cidade civilizada, moderna, saudável e de um povo educado” (SILVA, 2010, p. 8). E segue, apresentando a construção discursiva que institui as posições das crianças, sobre a formação baseada nos saberes das ciências, segundo um discurso de modernidade e de controle sobre a infância, de como as conduz e se controla as suas condutas e como as crianças desenvolvem esse controle de si mesmas.

(35)

currículo escolar, a partir de 1913, que sinaliza para um investimento na formação para cuidar da infância, tendo a função de disciplinar, bem como, lapidar corpos e mentes.

O trabalho de Oliveira (2014), intitulado “Entre Casas, Ruas e Igrejas: crianças abandonadas na cidade da Paraíba oitocentista”, também investigou a infância desvalida, uma vez que buscou em sua pesquisa analisar documentos que tratam de crianças “expostas” e órfãs na cidade da Parahyba Oitocentista, de modo a compreender os mecanismos de poder e as estratégias da biopolítica enredados pela Santa Casa de Misericórdia e pelo governo provincial em relação à tutela e à destinação dessas crianças.

Veja como é importante a presente pesquisa que realizei, no meio daquelas já citadas, nas quais tratam direta e indiretamente sobre a educação da infância. Outro aspecto dessa importância está na produção de trabalhos na Linha de Pesquisa da Educação-PPGE com a

Revista do Ensino/PB, estudando umas das temáticas do impresso, a educação, mais

especificamente, os temas sobre a educação da infância presente nas páginas da Revista/PB e as diretrizes pedagógicas para educação da infância (1932-1942).

É nesse espaço de produção que esse trabalho se coloca com o intuito de possibilitar uma reflexão sobre a experiência educacional da infância paraibana, veiculada pelo dispositivo oficial do Estado, a Revista do Ensino/PB, já que, como mencionado, esse periódico foi direcionado para o ensino primário paraibano, atuando diretamente na formação do professor, no direcionamento e na homogeneização da prática docente da rede do ensino primário da Paraíba para, assim, educar conforme os modelos educacionais e ideias que estavam circulando no período estudado. Pesquisar essa revista foi adentrar os discursos que atravessavam as redes de poder naquele momento, definindo um dever ser para a população, sob a forma do biopoder.

Retomando o mapeamento das produções e os temas sobre a infância quero fazer referência ao trabalho de Silva; et al. (2010), em pesquisa intitulada “Grupos de pesquisa sobre infância, criança e educação infantil no Brasil: primeiras aproximações”. Neste trabalho, mesmo que os autores deixem claro que o intuito não era realizar o estado da arte sobre o tema, percebe-se que fazem um mapeamento, de forma mais ampla da produção brasileira sobre a infância, ao cartografarem essas produções, analisando os grupos e as instituições que as produziram mais diretamente no ano de 2008.

(36)

da Avaliação Trienal (2007). E utilizou os seguintes descritores: infantil, infância, criança, educação infantil, creche, pré-escolar e criança de zero a seis anos.

As leituras realizadas sobre os discursos produzidos na Revista do Ensino/PB (1932-1942), sobre temas diversos, em diálogo com o contexto histórico-social do período em estudo, possibilitaram os diálogos e interconexão entre a Paraíba e a produção brasileira, proporcionando o delineamento do próximo item, sobre como a pesquisa foi realizada e seus procedimentos metodológicos.

1.3 DESCREVENDO OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

 Do trabalho com a Revista do Ensino/PB

Conforme já assinalei em outros momentos do texto, analisar as temáticas da Revista

do Ensino/PB sobre a educação da criança segundo a política da Diretoria do Ensino Primário

da Paraíba constituiu o objetivo desta investigação. Meu foco central consistiu, pois em compreender as diferentes práticas discursivas e os sentidos e os significados que circularam nas páginas da Revista do Ensino/PB sobre a educação da criança paraibana. Portanto, interessou-me conhecer estudos que fizeram uso da imprensa educacional como fonte e/ou objeto, e assim analisar e compreender as condições de possibilidades para que a revista investigada aparecesse como fala autorizada sobre a educação e de ser utilizada como meio para formar e informar o professorado no Estado da Paraíba.

Sabe-se que, com a abrangência de novas possibilidades de pesquisa, a imprensa educacional ganhou seu espaço na área de conhecimento da História da Educação, com novos significados e novas compreensões, passando a ser fonte e/ou objeto importante em muitos estudos. Conforme Catani et. al (2002, p. 5):

Com a preocupação de avaliar a política das organizações, as preocupações sociais, os antagonismos e filiações ideológicas e as práticas educativas, a imprensa periódica educacional – feita por professores para professores, feita para alunos por seus pares ou professores, feita pelo Estado ou outras instituições (sindicatos, partidos políticos, associações e Igreja), contém muitos dados básicos para compreensão da História da Educação e do Ensino.

(37)

Nordeste (2011-2013)”, apresenta dados sobre o avanço das pesquisas que se utilizam de impressos, identificando a sua presença como tema e fonte em dissertações e teses em Programas de Pós-graduação em Educação nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, no período entre 2011-2013.

Vale salientar que, a Nova História perspectiva que surge com o movimento dos

Annales, exerceu um papel significativo na ampliação e no enriquecimento do documento.

Conforme Le Goff (1993, p. 28):

A história nova ampliou o campo do documento histórico; ela substituiu a história [...] fundada essencialmente nos textos, no documento escrito, por uma história baseada numa multiplicidade de documentos: escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de escavações arqueológicas, documentos orais, etc.

Os fundadores dos Annales buscaram uma nova forma de escrever a História, sendo contra uma tradição de pesquisa que considerava os heróis, os marcos políticos e os documentos oficiais. A ampliação do entendimento sobre o que é um documento histórico e a crítica à noção de fato histórico foram elementos relevantes para realização de uma nova forma de ver e traduzir os aspectos que compõem a História.

Diante das novas possibilidades para se estudar os documentos e no caso desta pesquisa, de se analisar o impresso paraibano, tive como embasamento teórico a nortear a pesquisa como um todo, isto é, a metodologia, a fonte e as análises, o campo da Nova História Cultural, a qual nos possibilitou compreender e/ou refletir sobre as diferentes práticas discursivas e seus significados, produzidos pela Revista do Ensino/PB durante sua circulação. Junto com os elementos teóricos e metodológicos advindos da Nova História Cultural, os quais têm uma aproximação com as ideias de Michel Foucault, suas ferramentas teóricas e metodológicas foram fundamentais para o direcionamento da minha leitura sobre a Revista do

Ensino/PB, principalmente àquelas que ajudam a compreender as relações de poder, tais como

(38)

esse texto saísse do meu domínio e consentimento particular para múltiplas possibilidades de leitura.

Assim, para a realização desta pesquisa, em função dos questionamentos elaborados, já mencionados, e de seus desdobramentos em forma dos objetivos gerais e específicos outras etapas interligadas foram seguidas, a saber: após o estudo de referencial teórico sobre imprensa educacional foi iniciada a pesquisa documental, tendo como referência os 18 números da Revista do Ensino/PB, publicados no período de 1932 a 1942. Inicialmente, esses exemplares foram fotodigitalizados14 e organizados em sua ordem cronológica de publicação, sendo salvos em meio digital. Os números consultados podem ser observados no Quadro 2.

QUADRO 2 - As edições da Revista do Ensino (por ano)15

Fonte: Dados da pesquisa, coleta de dados iniciadas em 2010 e finalizadas em 2013.

Os exemplares são todos originais, aspecto que demandou alguns cuidados, que considero importante destacar: as fotografias foram feitas sem flash; a manipulação do material foi cuidadosa, sendo utilizadas luvas para não danificar a fonte. Os cuidados não decorreram apenas pelo motivo das Revistas/PB serem todas originais, além deste aspecto, alguns exemplares não se encontravam em bom estado de conservação, alguns deles com folhas soltas e mofadas. Na Figura 2, pode ser observado o estado de conservação dos periódicos, através da apresentação das capas de alguns dos seus exemplares.

14 Destacamos a relevância das fotografias e da organização da fonte, tendo em vista a conservação do material

para que outros pesquisadores possam fazer uso da fonte em estudos futuros.

15 Na observação do Quadro 2, podemos perceber uma irregularidade na publicação da Revista do Ensino/PB,

por exemplo, não são publicadas as edições da Revista/PB nos seguintes anos: 1935;1939;1940 e 1941. Sobre o assunto da irregularidade iremos abordar no Capítulo 2, quando vamos trabalhar com a materialidade da Revista do Ensino/PB.

16 No exemplar do ano de 1937 há um risco de caneta esferográfica no número 14, sendo escrito ao lado número

15.

ANOS MESES NÚMEROS

1932 - Ano I Abril; Julho; Setembro 1; 2 ; 3 1933 – Ano I Março; Setembro 4 e 5; 6 e 7 1934 – Ano III Março; Julho; Dezembro 8 e 9; 10; 11 1936 – Ano IV Maio; Setembro; Dezembro 12; 13; 14

1937 – Ano V Dezembro 14 (15)16 1938 – Ano VI Agosto 16

Imagem

FIGURA 1 - Professor José Baptista Mello
FIGURA 3 - Sumários da Revista do Ensino, nº 1, Ano I, 1932; n° 4 e 5, Ano II, 1933; nº 11, Ano III,  1934 e n° 17, Ano X ,1942 18
FIGURA 4 - Capa da Revista do Ensino, Ano I, n° 1
FIGURA 8: Capa da Revista do Ensino, Ano X, n° 17
+3

Referências

Documentos relacionados

Os alunos que concluam com aproveitamento este curso, ficam habilitados com o 9.º ano de escolaridade e certificação profissional, podem prosseguir estudos em cursos vocacionais

Com base no trabalho desenvolvido, o Laboratório Antidoping do Jockey Club Brasileiro (LAD/JCB) passou a ter acesso a um método validado para detecção da substância cafeína, à

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Tendo como parâmetros para análise dos dados, a comparação entre monta natural (MN) e inseminação artificial (IA) em relação ao número de concepções e

A proporçáo de indivíduos que declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no futuro é maior entle os jovens e jovens adultos do que

A tendência manteve-se, tanto entre as estirpes provenientes da comunidade, isoladas de produtos biológicos de doentes da Consulta Externa, como entre estirpes encontradas

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

Finally,  we  can  conclude  several  findings  from  our  research.  First,  productivity  is  the  most  important  determinant  for  internationalization  that