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ROTEIRO DE ATIVIDADE. Helenilse Maria Almeida Costa 1 Vilma Aparecida de Pinho 2

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA/ FACULDADE DE ETNODIVERSIDADE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO POR INVERSÃO PEDAGÓGICA: INCLUSÃO PARA A EMANCIPAÇÃO EM TERRITÓRIOS SOCIOEDUCATIVOS NA

TRANSAMAZÔNICA-XINGU

ROTEIRO DE ATIVIDADE

Helenilse Maria Almeida Costa1 Vilma Aparecida de Pinho2

Atividade 2: História, Cultura e Educação da População Negra

Considerando um pequeno trecho do texto: “Identidade e Diversidade Étnicas nas Irmandades Negras no Tempo da Escravidão”, de João José Reis (1996), analise a história de vida de uma pessoa negra do seu território e reflita sobre as práticas de estratégia política de resistência dessa população na região. Destaque na história de vida de seu colaborador a origem de nascimento, raça/cor a partir da auto-declaração da pessoa, escolaridade, trabalho e renda, assim como percepção e experiência de racismo na trajetória de vida.

No interior das irmandades, dedicadas a diversos santos católicos, africanos de diversas nações, além de crioulos e pardos, desenvolveram práticas e enfrentaram situações semelhantes às suscitadas pelos acontecimentos de 1808 no Recôncavo baiano. Questões relativas à identidade e à diversidade étnicas e a alianças interétnicas foram constantes na vida dos irmãos negros, como o foram os enfrentamentos e as negociações com os brancos. As celebrações, divisões, alianças e conflitos nas ruas de Santo Amaro, quando vistos pelo ângulo do que acontecia dentro das irmandades, sugerem a existência de um conjunto de estratégias sociais que circulavam através do mundo negro no tempo da escravidão. (REIS, 1996, p. 5).

Nesse sentido escreva um texto utilizando esses elementos da história de vida com os textos e debates ocorridos durante a disciplina.

1Aluna do curso de Especialização Em Educação Por Inversão Pedagógica: Inclusão Para A Emancipação Em Territórios Socioeducativos Na Transamazônica-Xingu. nicecosta@live.com

2 Professora da Universidade Federal do Pará - UFPA do curso de Especialização Em Educação Por Inversão Pedagógica: Inclusão Para A Emancipação Em Territórios Socioeducativos Na Transamazônica-Xingu.

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AS NARRATIVAS ESTUDANTIS E PROFISSIONAIS DE UMA PROFESSORA NEGRA DA ESCOLAS DO CAMPO EM PORTO DE MOZ/PARÁ

O trabalho apresenta as narrativas de uma professora do campo que trabalha na educação básica a mais de 20 anos. Sua história de vida, revela todas as mazelas sociais vivenciadas desde sua infância e para início de conversa, iniciamos a entrevista falando um pouco das experiências infantis dessa mulher a partir do contexto do campo como seu primeiro território existencial.

A infância é a primeira fase de vida do ser humano, nela podemos ou não experimentar as melhores oportunidades de aprendizagens, isso vai depender da realidade na qual os sujeitos estão inseridos. Viver essa fase, é permitir a criança experimentar o que há de mais belo e gostoso da vida, nesta idade os pequenos não devem ser privados de vivenciar experiências cotidianos importantes para o seu desenvolvimento primário, ou seja, a brincadeira, a imaginação e a fantasia, são elementos fundamentais para o crescimento e amadurecimento natural da criança.

Esta realidade não é diferente no campo, pois as crianças que vivem nas áreas rurais precisam que lhes sejam assegurados tais direitos, pois o ambiente do campo assim como os demais, são propícios para o desenvolvimento de atividades lúdicas que envolvem o universo infantil. A amplitude do lugar, as diferentes paisagens naturais chamam as crianças para vivenciar sua infância. A liberdade que esse ambiente oferece, é diferente do movimento da cidade, ainda que perceba que muitas coisas mudaram da época em que era criança, mas se tratando de infância, todo tempo, é tempo de vivê-la. (KRAMER, 2007).

É nesta direção, que início com as narrativas da professora Sonia Maria Sales da Silva, nascida em 12 de janeiro de 1973, as 04 horas da manhã no rio Jaurucu em domicilio, no município de Porto de Moz, no Estado do Pará, Região Norte do Brasil, é de uma família humilde e muito rígida, seus pais são agricultores, sendo eles Egino Jose de Andrade Silva e Maria Creuza Sales de Lima. Passaram muitas dificuldades financeiras, pois na época não era nada fácil comprar alimentos como açúcar, café, sal. etc. “Os marreteiros3, iam até nós somente de seis em seis meses e, nesse período é que meu pai fazia as compras do que precisávamos para nos manter durante mais seis meses.” (Sonia Maria).

3 Também conhecidos como regatão, era uma espécie devendedor ambulante, que vendia vários tipos de gêneros

alimentícios dentre outras mercadorias. Esse tipo de marreteiro é muito comum nas áreas ribeirinhas do Xingu, sobretudo, nas localidades distantes da cidade.

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Segundo os relatos da professora Sonia Maria, a infância foi um período difícil, pois as crianças do campo não tinham oportunidades de estudo, as escolas ficavam muito longe da comunidade. É importante salientar o discurso da professora nesse momento de sua vida:

Minha infância foi um período marcado por diversas maneiras, uma delas a dificuldades financeira de minha família, pois sem condições econômicas para sustentar os filhos na cidade, era difícil uma criança do campo sair de sua localidade rural para estudar na cidade, para que isso acontecesse, os pais tinham que conseguir uma casa para as crianças ficarem e nem sempre as pessoas queriam assumir tal responsabilidade. (Sonia Maria).

Era muito comum as famílias residentes do campo mandarem seus filhos para estudar na cidade, mas isso só era possível caso eles tivessem uma pessoa de confiança para mandarem os filhos. Foi nesse contexto, que Sonia Maria saiu do campo e veio para a cidade, morar com uma senhora, que era professora e também muito rígida. Nessa casa ela lavava, passava, fazia comida, ou seja, cuidava dos afazeres domésticos.

Sonia Maria relata que teve uma infância muito boa no campo, sobre esse aspecto, ela destaca que:

Passei parte de minha infância no espaço rural, onde me divertia muito com meus irmãos, sempre fazíamos brincadeiras de meninos como arco e flecha, futebol, peteca, subir em arvores, andar de canoa, às vezes quando apareciam outras crianças em nossa casa, nós brincávamos de roda, de esconde – esconde, uruá (é uma fila de crianças, onde a criança mais forte vai tentar arranca-la uma por uma da fila) era muito divertido. (Sonia Maria).

A infância de Sonia Maria de fato foi marcada pela presença constante de brincadeiras, entretanto, era uma criança muito ativa e adorava brincar com os meninos e por isso sofria bullying e preconceito. Sobre isso ela relata o seguinte:

Nunca gostei de brincar de casinha, boneca, ou seja, das brincadeiras que os adultos consideram de meninas, sempre estava no meio das brincadeiras dos meninos e meu pai sempre reclamava comigo, pois não gostava que eu brincasse com os meninos, porque eu era uma menina, então tinha que brincar com as meninas. (Sonia Maria).

A respeito dessa visão as discussões realizadas em sala de aula sobre o texto sobre “A invenção da raça e o poder discricionários dos estereótipos”, orientados pela professora Vilma Pinho, nos permite enfatizar que a importância de se educar construindo novas maneiras de socialização e de formação da subjetividade humana, se torna cada vez mais necessária. Pois essa forma de pensar que existia antes, tem que ser superada na atualidade, não se pode mais permitir essa ideia de dominação de gênero sobre o outro, mas é necessário romper com este paradigma que assola a sociedade.

Sonia Maria relatam que não tendo mais como estudar no campo, teve que vim morar na cidade, pois era desejo de seu pai que um dia ela se formasse. Então largou tudo e veio morar

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na cidade, sua primeira escola urbana, foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Regalado, localizada na Rua da República, no bairro do Praião.

Lembro-me de minha primeira professora na Escola Pedro Regalado, era uma pessoa muito rígida, sua fisionomia sempre fechada nunca havia espaços para brincadeiras, até mesmo por conta do período em que fazia a alfabetização, era no momento em que o país vivia a luta da ditadura militar. Sentir muitas dificuldades nesta época, pois os professores eram muitos rígidos e como sou negra sofri muitos preconceitos por parte de meus colegas e às vezes até os professores também. (Sonia Maria).

De acordo com as narrativas da professora Sonia Maria, as práticas pedagógicas dessa época era muito focada no professor como aquele que ensina e o aluno aquele que aprende.

Lembro-me que a noitinha, quando meu pai chegava em casa da roça, mesmo cansado chamava todos os filhos e ensinava a leitura do alfabeto na cartilha do ABC, foi um tempo memorável, nunca esqueci das palavras brandas de meu pai, mesmo sem muita leitura (Sonia Maria). Nas palavras de Ferreiro (1999, p.47) “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é na maioria dos casos anterior a escola e que não termina ao finalizar a escola primária”.

Sonia Maria vivenciou momentos tensos na escola, por ser negra sempre sofreu preconceito e racismo, não foi fácil para mim, [...] no decorrer da minha vida escolar encontrei muitos obstáculos, às vezes quando fazíamos trabalho em grupo minhas ideias e opiniões nunca eram aceitas, e ficava sempre calada (Sonia Maria).

Na escola os dias eram difíceis para Sonia Maria, o fato de ser negra e também ribeirinha tornava sua vida ainda mais dura como afirma ela: os meninos me apelidavam por eu ser negra me chamavam de “picolé de breu” (breu é uma rezina que é tirada de árvore, que quando vai ao fogo derrete e fica preta). A escola reproduz e produz exclusão social, ainda que de forma invisível aos nossos olhos, pois para se perceber tal discriminação, é necessário analisarmos em que contexto a escola foi criada, mas este não é o objetivo deste trabalho, no entanto, não podemos deixar de ressaltar sobre as mazelas pelas quais a escola brasileira foi alicerçada. A educação multiculturalista que respeita e democratiza o ensino nas escola públicas, em especial, a do Brasil, precisa ser a bandeira levantada por todos. (GOMES, 2007).

Desta forma, Gomes (2007), nos alerta que o processo educativo não pode ser mais excludente e nem racista, é preciso supera a ideia que ainda persista, de os negros serem relegados a subcategorias humanas, sem prestígios e sem inteligência, pois nós temos nossos direitos assegurados em lei, como por exemplo, a Lei 10.639/03 (BRASIL, 2003), que dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino da Cultura Afro-brasileira em todas as escolas do país, assim como regulamenta as políticas nacionais para esse público. Contudo, ainda vemos nossas

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instituições escolares fecharem os olhos para os estereótipos que se materializam no chão das escolas nas suas mais diversas faces, sobretudo, o racismo e a discriminação às pessoas negras.

Precisamos urgentemente nos atentar para isso, até porque o processo educativo atualmente não admite mais esse tipo de preconceito.

Sob essa perspectiva, podemos dizer que a vida dos negros na sociedade se torna menos desigual e mais justa, quando as leis são postas em prática. Pois quantas vezes Sonia Maria teve que engolir o choro por conta dos inúmeros apelidos que lhe davam na escola, no bairro e etc.

Minha autoestima ficava cada vez mais comprometida, tinha vontade de mudar de cor e de cabelo, enfim, me achava muito feia, pois era isso que ouvia todos os dias, tanto na escola, como nos outros lugares que frequentava. (Sonia Maria).

Sonia Maria destaca que sua autoestima estava muito baixa, não se agradava de sua cor, nem de seu cabelo, como chamava-a de feia, ela se convenceu, que realmente eu era muito feia e pensava que ninguém iria namorá-la, ficou com trauma sérios por conta disso, até hoje não gosto muito de espelho. Porque, me olhava no espelho e me achava muito feia, e perguntava:

“meu Deus será que alguém vai querer namorar comigo?” Mas estava enganada ainda encontrei alguém que quisesse casar comigo...risos. (Sonia Maria).

Com as dificuldade financeiras e os preconceitos sofridos na escola, no bairro e em casa, Sonia Maria parou de estudar. Retornou anos mais tarde, se formou em magistério e foi trabalhar nas escolas do campo em Porto de Moz. Atualmente é formada em Pedagogia pela Universidade federal do Pará (UFPA). E, segundo ela, hoje ela se ama, se acha linda e é muito feliz com sua identidade negra, mas confessa que não foi e não é fácil ser negro em uma sociedade racista e preconceituosa. (REIS, 1996).

Desta forma, escrever sobre as experiências de vida de Sonia Maria, uma mulher negra e muito influente em sua comunidade, foi um ato de reflexão também sobre as experiências cotidianas ao longo da trajetória pessoal e profissional dessa mulher em seu território, muito embora esse processo não tenha sido fácil, mas foi muito valioso para o meu desenvolvimento profissional e humano.

Neste sentido, os relatos hora apresentados, são experiências cotidianas vivenciadas por uma professora da rede pública de ensino de Porto de Moz. E que revelam os inúmeros descasos com a história, Cultura e Educação da População Negra no Brasil. Assim, a análise da história de vida dessa mulher negra no seu território, nos faz refletir sobre as práticas de estratégia política de resistência dessa população em seus territórios ampliando nosso olhar sobre as

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múltiplas formas de racismo e preconceito que imperam em nossa sociedade. Os diálogos tecidos em sala de aula, nos possibilitam melhores compreensão das tramas que permeiam o contexto social.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRO, Emilia. Com Todas as Letras. São Paulo: Cortez, 1999. 102p v.2.

FREIRE. Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo:

Paz e terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre currículo: diversidade e currículo. BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL Sandra Denise; NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do (Orgs.). – Brasília:

Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.

HAGE, Salomão Mufarrej (Org.). Educação do campo na Amazônia: retratos de realidade das escolas multisseriadas no Pará / - Belém: Gráfica e Editora Gutemberg Ltda, 2005.

KRAMER, Sonia. Infância, cultura contemporânea e educação contra a barbárie. In: Bazílio, Luiz Cavalieri; kramer, Sonia. Infância, educação e direitos humanos. São Paulo: Cortez, 2003. P. 83- 106.

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