Perturbações de Ansiedade e Perturbação
Obsessivo-Compulsiva
Joana Andrade Serviço de Psiquiatria
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Sumário
Perturbações de Ansiedade
Ansiedade
Presente em muitas doenças…
Nas Perturbações de Ansiedade:
sintoma proeminente e com maior gravidade
ausência de doença orgânica ou outra doença psiquiátrica
sintomas são semelhantes mas há algumas diferenças…
Pert. Ansiedade Padrão Circunstâncias
PAG Contínua -
Fobias Intermitente Específicas
Hiperventilação
• Tonturas • Parestesias nas
extremidades
Autonómicos
• GI (boca seca, dificuldade em engolir…)
• Respiratório (pressão no peito, dificuldade em respirar) • CV (palpitações, desconforto torácico)
• GU (poliuria, urgência miccional, disfunção eréctil)
PAG - Epidemiologia
Prevalência anual:
4.4% UK e USA
1-2% Europa
Associada a:
Desemprego
Divórcio/separação
Clínica
Persistente!!!
Sinais clínicos comuns:
Fácies e postura tensa, sobrolho carregado
Inquieto/a, pode tremer…
Pálido/a
Sudorético/a (palmas das mãos, pés e axilas)
• + prolongadas que o normal
• Preocupações não são dirigidas a nenhuma circunstância em particular • Percepção de não conseguir controlar estes pensamentos
Preocupação/apreensão
• Irritabilidade, dificuldade de concentração e intolerância ao ruído
• Queixas de défices mnésicos frequentes, mas relac. com dificuldade de concentração Excitação psicológica
• +++ Hipersudorese, palpitações, boca seca, desconforto epigástrico, tonturas • Poderão ser as 1as queixas!!
Hiperactividade autonómica
• Inquietação motora, tremor, dificuldade em relaxar, cefaleia (++ bilateral e frontal ou occipital), dor nos ombros ou costas…
• Tonturas • Parestesias
• Dificuldade em respirar Hiperventilação
• Insónia inicial
• Sono fragmentado com a sensação de sono não-reparador • Pesadelos • Terrores nocturnos Alt. Sono • Cansaço • Sintomas depressivos • Sintomas obsessivos • Despersonalização
PAG - Diagnóstico
Ansiedade normal vs patológica – muito subjectivo…
≠ duração e intensidade dos sintomas
DSM-IV:
“preocupação” é um sintoma central
Marcado impacto no funcionamento global
> 6 meses
ICD-10:
PAG - Comorbilidade
Quando presentes sintomas significativos para
diagnóstico de 2 ou mais doenças em simultâneo
Depressão
Outras Pert. Ansiedade
PAG - Diagnóstico diferencial
Doença psiquiátrica
Depressão
gravidade de cada uma? cronologia? Variação diurna do humor?
Depressão grave agitada!!!
Esquizofrenia
o que acha que o anda a deixar tão ansioso?
Demência
avaliar sempre memória em doentes de meia-idade ou idosos
Abuso de substâncias
Pode ser primário ou secundário a ansiedade
pior de manhã? História prévia de abuso?
Doença física
Feocromocitoma e hipoglicemia
Sintomas paroxísticos – mais semelhante a Fobia ou P.Pânico Exame físico/lab
Tireotoxicose
PAG - Tratamento
Auto-ajuda
Não é necessário um terapeuta
Material em papel/online
Psicoeducação de grupo
Sessões semanais (máx. 6)
Aprendizagem interactiva baseada na partilha de experiências
Treino de relaxamento
Diminui ansiedade em casos ligeiros
>ria não pratica regularmente
> motivação se realizada em grupo
Elemento-chave: aprendizagem de técnicas de relaxamento e
PAG - Tratamento
T. cognitivo-comportamental
Combina técnicas de
relaxamento com técnicas cognitivas de controlo de pensamentos automáticos negativos
Bons resultados a curto-prazo
PAG - Tratamento
Psicofarmacologia
Útil para alivio rápido dos sintomas, enquanto se aguarda resultados da psicoterapia ou se psicoterapia falhou
Manter tratamento pelo menos 6 meses se boa resposta
Curto-prazo
BZDs de longa acção (p.ex. diazepam 5mg 2id a 10 mg 3id) – não mais de 3 semanas!!!
Buspirona – eficácia semelhante mas inicio de acção mais lento
β-bloqueadores – mais usados para ansiedade de desempenho
Demasiado rápido e por demasiado
PAG - Tratamento
Longo-prazo
Inibidores selectivos da recaptação da serotonina (SSRIs)
Inibidores da recaptação da serotonina e noradrenalina (SNRIs) – pior tolerados
Fobias específicas
Epidemiologia
7% homens e 17% mulheres
>ria tem inicio na infância
Clínica:
Quadro de ansiedade extrema e inapropriada na presença de
determinado objecto ou circunstância
Ansiedade antecipatória – mto frequente >>
evitamento
DSM-IV:
Animais
Aspectos do ambiente natural
Sangue, injecções ou lesões
Diagnóstico diferencial
Raramente é difícil
Depressão subjacente – considerar!
Pert. Obsessivas
História clínica Exame mental
Prognóstico
Se inicio na infância: a evolução tende a ser crónica
Tratamento
Exposição com prevenção de resposta (TCC)
Melhora a intensidade
Melhora o impacto no quotidiano
Não cura por completo
Dropout: 50%
BZDs em situações pontuais
Ansiedade/Fobia Social
Ansiedade exagerada surge em situações sociais
em que o indivíduo se sente observado por outros e poderá ser alvo de críticas
Evitamento
Ambientes mais comuns: jantares, cantinas, restaurantes, reuniões…
Ou não comparecem ou optam por uma situação intermédia em que evitam interagir (não
conversam ou sentam-se num lugar afastado)
Ansiedade/Fobia Social
12% prevalência; 50% procuram tratamento
Início e desenvolvimento
Início da adolescência
1º episódio: num local público, sem razão aparente
surgem sintomas de ansiedade em situações semelhantes, progressivamente mais intensos, levando a mais evitamentos
Abuso de álcool
Surge com > frequência que noutras fobias
Etiologia
Genética
Condicionamento
A >ria tem início num episódio com características similares aos que
posteriormente se tornam o estímulo da fobia
Factores cognitivos
+++ Medo da avaliação negativa
Standards de desempenho excessivamente elevados Crenças negativas acerca do próprio
Monitorização excessiva do seu desempenho em situações sociais
Imagens intrusivas negativas do próprio a ser observado por terceiros
Mecanismos neuronais
Diagnóstico diferencial
Agorafobia e Pert. Pânico
comorbilidade com Fobia Social (FS) é frequente
PAG e Depressão
Quando surgem sintomas?
História clínica e exame mental
Esquizofrenia
Na FS a convicção de estar a ser observado esbate-se fora da situação stressora
Pert. dismórfica corporal
História clínica!!
Pert. personalidade evitante
Na FS o inicio é evidente e evolução curta (pode ser difícil recordar…)
Podem ser entidades comorbidas
Competências sociais desadequadas
Presente em P.Personalidade, esquizofrenia e oligofrenia
Ansiedade é secundária!
Timidez
FS - Tratamento
Psicológico
TCC!!
Psicoterapia dinâmica: ++ se problemas prévios em
relações interpessoais
Farmacológico
SSRIs ou Venlafaxina
6 meses (pelo menos)
Descontinuar lentamente…
BZDs
(curto-prazo e pontualmente) Β- bloqueadores
Agorafobia
Ansiedade surge quando: 1. fora de casa
2. multidões
3. locais dos quais não poderão sair facilmente
Clínica semelhante a outras Pert. Ansiedade, mas… Ataques de pânico (espontâneos ou em resposta a
estímulos)
Se > 4 AP em 4 semanas: Pert. Pânico com Agorafobia
Pensamento centrado no medo de desmaiar ou perda de controlo
Evitam progressivamente estas situações, até em casos graves não conseguir sair de casa
Ansiedade antecipatória
Muito comum
Agorafobia
Outros sintomas
Depressivos:
comum
pode ser consequência das limitações causadas pela ansiedade e evitamento
Despersonalização
Início
2 picos: 20-25 anos e 35 anos
++ mulheres
1. 1º episódio num local público em que surgem sintomas de ansiedade sem
precipitante aparente
2. Quando a situação se repete, sintomas recomeçam… 3. Evitamento da situação
Agf - Etiologia
Teorias para o início:
Hipótese cognitiva
A 1ª crise de ansiedade desenvolve-se porque o indivíduo se
encontra inexplicavelmente com medo de algum aspecto da situação
Teoria comportamental
A 1ª crise de ansiedade resulta da acção de um estímulo ambiental aleatório num indivíduo predisposto a responder exageradamente com ansiedade
Teoria psicanalítica
Agf - etiologia
Teorias para progressão e manutenção
Teorias da Aprendizagem
Condicionamento/evitamento
Personalidade
Frequentemente dependentes
> probabilidade a evitarem do que a confrontarem os problemas
Influência familiar
Agf – Diagnóstico diferencial
Fobia social
Avaliar o padrão de evitamento
Cronologia de aparecimento dos sintomas
PAG
Se Agf grave, a ansiedade pode-se generalizar a vários estímulos
Cronologia de aparecimento dos sintomas
Pert. Pânico
Comorbilidade muito frequente
Depressão
Comorbilidade frequente
Cronologia de aparecimento dos sintomas
Psicoses
Agf - Prognóstico
Pode ser de curta duração
Se dura > 1 ano, é provável que se mantenha pelo menos 5
anos e possa cronificar
Agf - tratamento
Psicológico
Exposição!
TCC
Agf/PP - tratamento
Farmacológico
BZDs
curto-prazo! (guidelines não recomendam)
Alprazolam – usado quando estão presentes ataques de pânico
Possível que interfiram com a resposta ao tratamento psicológico!
Antidepressivos
Úteis quando há diagnóstico de depressão comórbida ou quando há ataques de pânico frequentes
1ª linha SSRIs (paroxetina, escitalopram e sertralina); Venlafaxina; Clomipramina
Início do tratamento pode levar a um aumento da ansiedade (↓ doses)
Agf - Gestão
O que os doentes precisam saber?
Esclarecer o que são ataques de pânico e evitamento
Esclarecer porque são prescritos ADs para a ansiedade
A medicação só será eficiente se também ocorrerem esforços para ultrapassar os evitamentos – O resultado depende do esforço do doente!!!
Gestão comportamental
Doente deverá ser encorajado a voltar ao local ansiógeno
Exposição + T. cognitiva para Ataques de Pânico
Medicação
PP - Epidemiologia
2.7% em 12 meses
4.7% prevalência ao longo da vida
2 mulheres: 1 homem
> frequência de:
outras Pert. Ansiedade
Depressão Major
Clínica
Característica central:
Ataques de Pânico
Ansiedade aumenta rapidamente
Sintomas graves
Indivíduo teme um desfecho catastrófico
• dificuldade em respirar • engasgamento • palpitações/taquicardia • desconforto torácico/toracalgia • hipersudorese • tonturas/sensação de desmaio • náuseas/desconforto abdominal • despersonalização/desrealização • parestesias • calafrios • tremores • medo de morrer
• medo de enlouquecer/perder o controlo
PP - Clínica
Hiperventilação
Frequente
Respiração rápida e superficial
Leva a hipocapnia
Paradoxalmente leva a sensação de falta de ar o que faz com que a
PP- Diagnóstico
Ataques de pânico
Ocorrem inesperadamente (
sem factor precipitante!
)
> 4 em 4 semanas
PP – Diagnóstico diferencial
Ataques de pânico podem ocorrer
PAG
Fobias (++ Agorafobia)
Doença orgânica aguda
PP - Evolução e prognóstico
30 % remissão completa da sintomatologia
30% remissão parcial da sintomatologia
PP- Tratamento
Terapia cognitiva
↓ medo dos efeitos físicos da ansiedade (ex. palpitações sejam sinal de enfarte do miocárdio)
Sintomas são induzidos por hiperventilação
Terapeuta assinala a sequência dos sintomas que leva ao medo e esclarece que uma sequência semelhante ocorre durante a fase inicial de um ataque de pânico
Pelo menos tão eficaz como a medicação
Agf/PP - tratamento
Farmacológico
BZDs
curto-prazo! (guidelines não recomendam)
Alprazolam – usado quando estão presentes ataques de pânico
Possível que interfiram com a resposta ao tratamento psicológico
Antidepressivos
Úteis quando há diagnóstico de depressão comórbida ou quando há ataques de pânico frequentes
1ª linha SSRIs (paroxetina, escitalopram e sertralina); Venlafaxina; Clomipramina
Início do tratamento pode levar a um aumento da ansiedade (↓ doses)
PP - Gestão
O que os doentes precisam saber?
Deverão ser capazes de explicar aos seus familiares/amigos o que é a PP
Compreender como certos estilos cognitivos e comportamentais poderão contribuir para a manutenção da PP
Livros de auto-ajuda poderão ser úteis
Escolha do tratamento
Discutida com o doente e adaptada à sua disponibilidade
Psicoterapia poderá ter melhor eficácia a longo prazo
SSRI – switch para outra classe/TCC ao fim de 12 semanas se não houve resposta
Perturbação
Considerações gerais
Doença neuropsiquiátrica potencialmente incapacitante
Afecta mais frequentemente adolescentes e adultos jovens
Prevalência 1,9 a 3,3%
Tende para cronicidade
POC - Critérios de diagnóstico
POC: obsessões e/ou compulsões reconhecidas pelo próprio como excessivas ou irrazoáveis, em algum ponto durante a doença* significativamente perturbadoras e/ou limitativas da actividade diária ou do funcionamento ocupacional ou social e/ou consumidoras de tempo (≥1 hora/dia)
presentes na maioria dos dias durante, pelo menos, duas semanas sucessivas
não são explicadas, no seu todo, por outras patologias médicas ou psiquiátricas nem pelo consumo de substâncias
Obsessões:
pensamentos, impulsos ou imagens
recorrentes, intrusivos e ansiógenos perturbam o indivíduo pelo seu conteúdo violento, obsceno ou absurdo
reconhecidas como produto involuntário da própria mente
não são simplesmente preocupações excessivas sobre os problemas da vida real a pessoa tenta, sem sucesso, ignorá-las, suprimi-las ou neutralizá-las com algum pensamento ou acção
Compulsões:
comportamentos ou actos mentais
repetitivos e estereotipados
a pessoa sente-se compelida a executar em resposta a uma obsessão ou segundo regras rígidas
visam reduzir a ansiedade ou impedir alguma situação temida mas não têm ligação realista com o facto que visam combater ou são claramente excessivos
não são intrinsecamente agradáveis ou úteis
Dimensões /clusters de sintomas
obsessões / verificação simetria / ordem
contaminação / limpeza colecção / acumulação
Temporal e transculturalmente estáveis. Sobreposição e coexistência.
Obsessões
contaminação 45% dúvida patológica 42% somáticas 36% simetria 31% agressivas 28% sexuais 26% outras 13%Compulsões
verificação 63% lavagem / limpeza 50% contagem 36% perguntar /confessar 31% simetria / precisão 28% acumulação 18%(Mataix-Cols, et al., 2005; Leckman, et al., 2007)
Contribuição genética Modulação hormonal Estrogénio / progesterona Factores infecciosos PANDAS – Streptococc. ‘Risco’ psicossocial Cronicidade
• POC de início precoce • Polimorfismos 5-HT e DA • Hereditabilidade 47%
Ambas
eficazes, isolada/associadamente
Associação é superior (?)
Exposição ↓ necessidade subsequente de ISRS
Gravidade dos sintomas, aceitação pelo doente
TCC
: exposição com prevenção da resposta
↓ comportamento condicionado, ↑comportamentos adaptativos
Resposta: 90% após 3-7 semanas (↓ 50-80%), duradoura
Modificações permanentes neurocircuitos
Inibidores recaptação serotonina
Inibidores recaptação serotonina
Clomipramina: ↓ 41% em 10 semanas
ISRS: redução ≥ 30% em 8-12 semanas, em 40-60%
Dessensibilização auto-receptores (COF)
Resposta: ~50%, frequentes sintomas residuais
Psicocirurgia
Beneficia 35-50% Complicações ● irreversível convulsões, mudanças de personalidade, efeitos da cirurgia/anestesiaEstimulação cerebral profunda
(ECP)
Alta frequência – inibição neuronal
«Lesão funcional»
Reversível ● versátil ●
↓complicações
Relação risco-benefício mais
favorável
86% melhoria significativa
46% respondedores
33% beneficiam
Evidência favorável Complicações / desvantagens...