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A política de ciência e tecnologia numa democracia participativa

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A POLlTICA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

NUMA DEMOCRACIA

PARTICIPATIVA

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M A R I N A L E M E T T E M O R E I R A

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

1. INTRODUÇÃO

A preferência pelo tema "A POlíTICA DE CIÊNCIA E

rECNOLOGIA NUMA DEMOCRACIA PARTICIPATIVA",

funda-menta-se principalmente em duas razões:

1) trata-se de um aspecto central no que se refere à definição

de políticas científico--tecnológicas nos países em

desen-volvimento, entre os quais se inclui o Brasil, ora vivendo o

delicado processo de redemocratização;

2) a autora está inserida neste processo participativo

demo-crático, além de poder acrescentar, ao debate, reflexões

oriundas de sua experiência profissional e acadêmica, no

trato de questões sociais que julga relevantes, e cuja

so-lução tem esbarrado, quase sempre, na falta de

entrosamen-to entre o desenvolvimenentrosamen-to econômico e

científico-tecnoló-gico e os problemas sociais ainda subsistentes em larga

escala em nosso País.

2. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO

A. preocupação com ciência e tecnologia em décadas

re-centes vem ocupando lugar de destaque nos planos de Governo

de países em desenvolvimento. Acreditam na necessidade de

desenvolver a inteligência de todos a serviço do projeto de

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uma nova Nação, constituindo elemento importante no esforço de cada qual para a superação do estado de subdesenvolvimen-to em que se encontram.

As Nações Unidas têm desempenhado um papel

fundamen-tal no debate e na disseminacão de idéias e estudos

concernen-tes à superação dos problemas originados do insuficente

desen-volvimento econômico dos países do Terceiro Mundo. As

agên-cias e os organismos da Secretaria-Geral da ONU têm

coope-rado de forma decisiva no despertar de consciências para a

necessidade e viabilidade de reduzir-se os níveis de pobreza

em que vive a esmagadora maioria de seus habitantes. Um dos

caminhos para lograr este objetivo conduziria à formulação e

aplicação rigorosa e consistente de políticas públicas de longo

prazo, que busquem o desenvolvimento em todas as suas

di-mensões: econômica, social e cultural. Os programas

deriva-dos destas políticas de âmbito nacional têm o seu sucesso

for-temente condicionado à sua complementação por um conjunto

de medidas tendentes à instauração de uma nova ordem

eco-nômica internacional, presentemente ainda marcada por tão

substancial desigualdade e incompreensão.

Em seu livro Projeto Esperança, Roger Garaudy (1978)

per-mite sintetizar o quadro hoje prevalecente nos três qrandes

blocos de países e as respectivas relações de interdependência.

Qual o quadro diagnosticado por Garaudy?

No que concerne ao bloco de países desenvolvidos

capi-talistas, sua evolução histórica é marcada de um lado por

ex-traordinário progresso econômico, científico e tecnológico que

culmina, neste século, com uma elevação substancial dos

ní-veis de bem-estar social de seus habitantes. E, de outro lado,

convivendo com esses aspectos positivos, a implementação

de uma política externa, marcada pela dureza e pelo egoísmo

dentro do próprio bloco e em relação aos países do 3.° Mundo.

Recorrendo às teses marxistas, Garaudy aponta um grande

risco, entretanto, no modelo econômico capitalista: o mito do

crescimento acelerado da capacidade de produção, que se

apoiaria na exacerbação do "CONSUMISMO", como condição

para a sustentação do modelo. Daí resulta, cornç conseqüência

inelutável, a alienação do homem, corrompido pelo desejo

ex-clusivo de bens materiais, o que o leva a uma violenta e

neuro-tizante competição com os seus semelhantes, inibidora da

co-operação e da fraternidade, com o agravante de um sistema

que conduz à destruição excessiva de recursos naturais e a

sérios desequilíbrios ecológicos. No plano internacional, a

"guerra fria" conduz ao desperdício de enormes recursos na

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produção de material bélico e de destruição em ~assa, que

poderiam ser aplicados de outro modo na resoluçao dos

pro-blemas reais da humanidade.

O bloco socialista liderado pela União Soviética que,

se-gundo marxistas de visão liberal, como Garaudy e Sartre,

ado-taria padrões de desenvolvimento econômico e social

diferen-ciados, acabouaprisionado pelo modelo de crescimento a todo

custo e pelo padrão militarizante, imposto pela "guerra fria"

com o bloco capitalista. Se é verdade que resolveu problemas

básicos de suasmassas populares, colocou-as sob a tutela de

regimes de natureza autoritária, pouco propícios ao livre

desenvolvimento do indivíduo.

O processo de alienação que acomete o indivíduo nos

re-gimes capitalistas, afeta, embora de outras formas, o cidadão

dos países socialistas.

Em ambosos casos, as sociedades tendem a afastar-se de

uma visão de mundo menos materialista, mais humana, mais

cristã, mais solidária, o que resulta em prejuízo da implantação

€ : disseminação de "democracias de massas", como quer Hélio

Jaguaribe, nospaíses do 3.° Mundo, como instrumento políti co

indispensável às transformações econômico-sociais de que são

tão carentes.

O 3.° Mundoé vítima de ambos os modelos. Por si só, não

pode mudar o quadro reinante. Somente uma nova ordem

eco-nômica internacional e um acordo de convivência entre o mundo

capitalista e o mundo socialista poderão dar um novo rumo,

mais promissor, à humanidade como um todo. Em suma, uma

nova ética social de convivência entre nações.

Finalizando, se é que se pode finalizar este início de

re-flexão, o "Projeto Esperança" é a pregação deste ideal. Em

seu favor devemmilitar todos os homens de boa vontade,

inde-pendente de suas situações específicas. É o que faz Garaudy.

É o que fazem cientistas sociais como Raul Prebish, Jan

Tin-bergen, Myrdal e outros. É o que fizeram João XXIII e Gandhi.

Nesse contexto de mutações e crises de uma sociedade

em ebulição, faz-se necessária a interação estreita entre os.

sistemas econômicos, e sua infra-estrutura

científico-tecnoló-gica, e as demandas sociais e culturais da Nação. O que se

observou até agora no mundo atual foi lamentavelmente a

ex-pressão da inexistência de tal vinculação. E, nessa perspectiva.

paradoxalmente, o que pareceu ser desenvolvimento econôrnlco

foi muitas vezes a negação do desenvolvimento social.

. Coube aindaà ONU colocar em foco a atividade própria d

pesquisa científica e tecnológica como importante fator d pro

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qresso dos países em desenvolvimento, inclusive convocando

duas conferências sobre o tema: a de Genebra, ém 1962, e a

de Viena, em 1979.

Assim, é altamente justificável a preocupação de rever e

até reforrnular as políticas de ciência e tecnologia, como

va-riáveis instrumentais do processo de desenvolvimento

econô-mico, tendo em vista não apenas o seu impacto no crescimento

econômico, mas também aquelas demandas

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s o c la is e culturais

próprias de um país subdesenvolvido e quase sempre

represa-das e marginalizarepresa-das no plano político.

A questão que se coloca e deve ser discutida é de que

modo o regime democrático poderá ou não favorecer a

conci-liação entre dois objetivos essenciais para o Brasil:

1.°) prosseguir em ritmo intenso na ampliação e

moderni-zação de sua capacidade produtiva; e 2.°) oferecer, ao mesmo

tempo, soluções adequadas para os gravíssimos problemas

so-ciais e culturais que se acumulam ao longo dos anos, e que

não podem mais permanecer inalterados num sistema político

efetivamente democrático.

Nesta hipótese, o que se pode postular no campo da

po-lítíca de ciência e tecnologia? Para responder a essa

indaga-ção, algumas reflexões, fruto da vivência profissional e

aca-dêmica da autora, são colocadas nos tópicos seguintes.

3. CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO PROCESSO EDUCACIONAL

Estudos produzidos recentemente pelo LCCjCNPq

ana-lisando o crescimento demográfico brasileiro e as

conseqüên-cias no setor educacional, indicam que em 1980 e no ano 2000

entre 25 e 30 milhões de indivíduos serão analfabetos,

hipó-tese esta considerada otimista, Esta é uma questão bastante

grave e que deve ser enfrentada com seriedade sob pena de

comprometer todo o processo de democratização e de

desen-volvimento econômico e social almejado por todos nós.

Todas as considerações até aqui abordadas não terão

po-rém qualquer ressonância se não estiverem inseridas num

pro-cesso amplo e profundo de educação, no qual o potencial

hu-mano é estimulado a alcançar sua melhor e mais adequada

ex-pressão de vida. Nessa perspectiva são reconhecidas todas as

dimensões e iniciativas da educação, quer no sistema formal

em todos os seus níveis, quer nos procedimentos alternativos

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de uma educação permanente fora dos limites das instituições.

Estão mais do que comprovadas as carências existentes no

sistema educacional formal brasileiro. Portanto, to r n á - lo

efi-ciente ao longo do tempo

é ,

comovemos, surgir o grande leque

de opções tecnológicas para o futuro.

Como sugere Maria da Conceição Tavares, utilizar-se, por

exemplo, a ihformática para desenvolver um sistema integrado

de informações, conhecimentos e comunicação de massa capaz

de levantar num futuro bem próximo, o perfil de informação e

cultura geral da população jovem brasileira, com o que se

cria-ria uma original e surpreendente gama de criatividade e

com-petitividade no futuro. E utilizando essas informações como

forma de treinamento e capacitação flexíveis para diferentes

ocupações, visando atender a demanda do mercado de tr a b a

-lhe. No quadro atual há uma sobrecarga no sistema

educacio-nal formal, que até o final do século produzirá milhares de

jo-vens sem nenhum preparo educacional e formal que os

incapa-citarão para o desempenho satisfatório de quaisquer atividades.

Assim, o desenvolvimento científico e tecnológico deveria

penetrar nas várias camadas da sociedade, através de um

pro-cesso educativo contínuo, tentando corrigir a defasagem

cria-da e cristalizacria-da pelo distanciamento entre o conhecimento

científico-tecnológico e as questões sociais.

Obviamente, a ciência e a tecnologia consideram

excelen-te o método científico que revolucionou o mundo em que

vive-mos e nos deu novas e excitantes perspectivas a respeito do

mundo ainda em formação. Mas também, nos deu o espectro

de um mundo isento de valores à beira de destruir-se, dividido

por enormes hiatos entre poucos ricos e muitos pobres, poucos

bacharéis em filosofia e muitos analfabetos, poucos

superali-mentados e muitos famintos, poucos esperançosos e muitos

desesperados. Colocou grande poder nas mãos daqueles que

têm poucas prioridades além do seu próprio engrandecimento

político, social e econômico.

O mundo hoje é um terreno tecnológico estéril - não

porque a ciência e a tecnologia ou o método científico sejam

maus, mas porque pouco podem dizer-nos a respeito de vaIo

res ou do significado da vida ou do que é realmente agir como

ser humano.

Se não se modificarem as prioridades nacional

d é c a d a s que sobram, com o propósito de privilegiar- o dos n

volvimento do processo educativo brasileiro, no ntid ma

amplo, será difícil imaginar-se chegar a Nação Br ~il 11a

final do século XX como aquele País que, ao lado d um i t

(4)

ma econorntco forte, soube também construir uma sociedade

culta, civilizada, justa e democrática.

No sentido de contribuir para a melhoria do ensino a nível

elementar, a PUC/RJ, através do NEAM - Núcleo de Estudo e

Ação sobre o Menor e do Departamento de Matemática, gerou

um projeto que veio atender aos anseios da Escola Christiano

Hamann que atua no ensino de

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1 .0 grau. O projeto "Matemática,

Comunidade e Universidade", tem por objetivo desenvolver

uma atividade de extensão em matemática, relacionando

Co-munidade e Universidade.

. . Esta decisão, além da motivação profissional que

propor-ciona. a~s doutores da matemática de se sentirem capazes de

contrlbul} para uma melhoria do ensino, é também fruto da

consciência social de que uma das missões da Universidade,

por vezes descurada, é tentar participar das soluções de

pro-blemas sociais.

Espera-se também que o professor passe a considerar a

Universidade como uma estrutura que lhe possibilita o

aperfei-çoamento e crescimento como educador e cientista.

Um fator decisivo para o êxito ou fracasso do ensino é

sem dúvida alguma a competência de seu corpo de professores

o que mais uma vez, exige uma eficiente infra-estrutura

cien-tífica e tecnológica, fruto de políticas corretas .

. Este projeto visa a colaborar na melhoria do ensino, por

mero de uma melhoria da qualificação de professores.

No entanto, para o aperfeiçoamento do ensino de 1 .0 e 2 .0

graus, é imprescindível que a sociedade valorize o professor e

que esta .valoriza_çã~ se reflita em uma melhor formulação de

sua carreira profissional e em seus salários.

4. O PROBLEMA DO MENOR CARENTE

Desde janeiro de 1982 a PUC/RJ apoiada principalmente

pelo CNPq, .vem desenvolvendo uma série de atividades no

campo .da criança desassistida, através do NEAM - Núcleo de

Estudos e Ação

sobre

o Menor. Se por um lado esta iniciativa

nos perm.itiu criar um .espaço dentro da universidádepara

es-tudar, articular, produzir e repensar as práticas que atuam

so-bre, ~sta criança, p~r. outro nos mostrou que sem uma definição

p o líttc a clara e eficiente, priorizando ações diretas

relaciona-das com esta problemática, nosso desempenho seria inócuo.

Neste momento .e~t~mcis defi.nindo um projeto integrado com

o Centro Comumtarlo da Rocmha, ressaltando a educação e

a

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saúde. em sentido amplo. Trata-se de um projeto experlm nu I

em pesquisa aplicada que se propõe a examinar e testar III

situação real ~s possibilidades de aplicação do conhecimento

científico-tecnolóqlco avançado a questoes como educaçao

básica e proftssionalízante, rnedicina social, sanea~ento ~ U ~ l

ambiente típico de pobreza e desajustamentos PSlcos~oclal

como representado pelo conjunto populacional da Rocmha.

Tendo em vista a imensa gama de informações geradas na

'área da criança e sendo estas informações de difícil acesso,

o NEAM em cooperação com unidades acadêmicas da PUC/RJ,

está desenvolvendo um projeto de criação de um BANCO DE

DADOS que propiciará a todos aqueles que têm interesse pela

causa da criança, além de governos, instituições e estudantes,

uma série de informações que facilitarão o acesso a estudos

muitas vezes desconhecidos. Além disso, terá uma

meto~o-logia para trabalhar conceitos, produzin~o um ~e~u~o

?O S

pnn-.cipals estudos, periódicos etc. E~te pro}eto .~mlmlzara a

repe-tição da produção acadêmica, alem de Identificar novos

aspec-tos a serem pesquisados.

5, CI~NCIA E PROGRESSO SOCIAL

A articulação do saber científico com as questões sociais

se dará no momento em que o cientista se permitir discutir o

conhecimento produzido, com os possíveis usuários desse

co-nhecimento. Nessa prática, há um benefício mútuo e de

inte-,gração real, na medida em que o estudioso ao avaliar seus

resultados e seus métodos, realimenta seu proceder e, por

outro lado o usuário adquire o conhecimento em questão,

in-corporando-o na sua prática de vida.

O uso dos meios de comunicação de massa na difusão dos

resultados de pesquisas é fundamental para estimular o debate

amplo, gerando por sua vez novas questões de estudo ..É

fr_e-qüente observar-se que o valor da ciência e da te~nologla nao

é transparente para vários segmentos da populaçao. A

pr~du-cão do conhecimento científico desarticulada das

necessida-des sociais, provoca um isolamento prejudicial n?

reconheci-mento desse saber. A comunicação poderia aproximar o I lqo

do saber científico, dando-lhe a oportunidade de entendim nto

e aplicação da ciência na solução de problemas sociais.

No que diz respeito à imprensa falada e esc~ita p o .1

zada, deveria ser estimulada no seu campo especfflco, () 10m.

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lismo científico. em apoio a outros mecanismos de comunica-ção de massas.

. Um sistema de informações inteligente e integrado, preso

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ta r ía um enorme serviço ao atendimento desta questão. A

ma-nipulação da informação constitui sempre uma das grandes

preocupações da humanidade no esforço para o

desenvolvi-mento.

No passado essas informações foram preservadas através

de manuscritos e livros, que transmitiam às gerações futuras

os conhecimentos adquiridos.

. Tais conhecimentos manuseados por pesquisadores e

con-venientemente utilizados. permitiam o progresso social e

tec-nológico. P~ré~, co"! o ~omputador esse processo adquiriu um

novo conceito. Isto e, fOI possível então manipular um número

considerável de informações, segundo padrões estabelecidos

ou pro~ramações, tornando possível selecionar com rapidez

c.oncluso~s. entre grande massa de dados para numa escolha

final, decidir sobre a mais conveniente ao propósito visado.

A ~nform~ti~a .a d q u tn u o

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s t a t u s de quase uma ciência, cuja

evoluçao _esta mtlmamente ligada ao avanço tecnológico da

computaçao.

É ,a~ravés dela que percebemos a informação como

enti-dade física, descobrindo-a como recurso natural. É uma forma

de energia à disposição da humanidade. esperando apenas ser

eX'pI.~ra~a. Nesse sentido, é preciso fortalecer e aumentar a

e~lcle!lcla e. a integração da infra-estrutura básica de

telecomu-rucaçoes. Dls~ondo-~e de recursos técnico-científicos tão ricos

6 .po~eros?~ e poasfval imaginar-se políticas que viabilizem a

difusão eflclent~ e ~m tempo curto do saber entre as grandes

massas popula~lonals que irá permitir-Ihes afinal, integrar-se

~e forma ~onsclente e proveitosa no processo político de uma

democracia de massas".

6. DEMOCRACIA E POUT/CA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Se pensarmos em ciência como objetivo, poderíamos dizer

~ue uma p~lítica para o seu desenvolvimento, teria como

fina-Iidade preClpua o alargamento das fronteiras do conhecimento.

Em outras palavras. estaríamos propondo diretrizes e

instru-mentos. de ação que possibilitassem o aumento do acervo de

conhecimento sobre fenômenos naturais e sociais acumulados

pela humanidade ao longo do tempo. .

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Vista, pois, como um objetivo p e r s e a política científica

não tem conotações outras que não sejam aquele fim

meneio-nado acima. Todavia, com o progresso científico que se

acele-rou enormemente neste século combinada com a ativa

inter-venção dos governos nacionais e a profissionalização da

ati-Vidade científica, há uma tendência hoje que se manifesta de

várias formas no sentido de transformar parte significativa do

que era patrimônio universal, acessível a todas as Nações e

a todos os povos, em conhecimento fechado de domínio de

poucas nações desenvolvidas e, o que é ainda mais grave. de

corporações multinacionais de porte gigantesco.

Isto se deve em grande medida ao encurtamento, no

tem-po, da distância que separa a descoberta científica da sua

trans-formação em inovação tecnológica.

Como é sabido, a inovação tecnológica é modernamente a

aplicação intensiva do conhecimento científico à resolução de

problemas que se colocam sobretudo na esfera econômica. Ou

seja. a produção de novos bens e serviços e o aperfeiçoamento

de bens e serviços pré-existentes. que lançados no mercado

adquirem valor econômico.

Nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos de

eco-nomia de mercado a tendência é de privatização do progresso

técnico, que só se difunde na medida em que propicie lucros e

vantagens econômicas aos detentores do conhecimento

tecno-lógico específico.

Nota-se, assim. uma contradição latente nos países de~en.

volvidos e um contraste visível nos países subdesenvolvidos

entre a utilização do conhecimento científico-tecnológico e as

demandas sociais mais urgentes.

É necessário, portanto. que se promova um mínimo de

com-patibilização entre as políticas deAci~ncia e te~n.ologia, de um

lado, e as políticas públicas, econormcas e sociais de outro.

Nos casos por nós examinados anteriormente - educação

e assistência ao menor carente - fica patente, esta pelo

me-nos é a me-nossa convicção, de que ciência e tecnologia podem

ser instrumentos válidos de progresso social, sem conflitos

com as demais aplicações de tais conhecimentos no campo

econômico. Ao contrário, o progresso econômico viabiliza o

social ao mesmo tempo que populações educadas, sadias e esti

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muladas se constituem em riqueza insubstituível na construção

de uma sociedade moderna.

Em países subdesenvolvidos, onde prevalecem flagrantes

injustiças sociais, geralmente associadas a sistemas políticos

não democráticos, os obstáculos ao uso de ciência e

tecno-logia para resolver problemas sociais são bem maiores que

num sistema político aberto.

Um regime democrático, sem adjetivações, pressupõe a

participação popular e a canalização de suas aspirações no

campo econômico e social, através de mecanismos adequados,

que tornam transparentes tais vontades e aspirações.

Meca-nismos estes, representados por partidos políticos livremente

organizados e por um foro privilegiado como o Parlamento ou

o Congresso Nacional, posto em igualdade de' condições com

os Poderes Judiciário e Executivo. Os membros do Congresso,

cujos mandatos são temporários, assumem compromissos de

várias ordens com seus eleitores no tocante à elaboração de

leis e análise crítica das ações do Executivo na formulação 0,

implementação de seus planos de governo,

Os mecanismos que compõem o sistema democrático

per-mitem, portanto, quando praticados efetivamente: a correção

de rumos, a definição de prioridades, a

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im p le r n e n ta ç â o de pro·

gramas e o controle do Poder Executivo, de tal maneira que a

resultante final seja a progressiva incorporação dos desejos'

e vontades dos diversos segmentos da sociedade às políticas

públicas que orientam a ação de governo, políticas claramente'

definidas e fruto de debate amplo e irrestrito com a participa':

ção dos legítimos representantes eleitos pelo voto popular.

É evidente, pois, que a participação popular na definição

ou na rejeição de políticas públicas, se torna mais viável e

adequada sob o império de uma democracia participativa.

Ciência e Tecnologia constituem hoje o instrumento

fun-damental de progresso econômico e social. Mas são

lnstrurnen-tos cuja utilização depende do conteúdo e da forma como ,s~

estabelecem as políticas que definem os objetivos a que se

destinam.

Outra vez, a discussão no fórum político que constitui a

essência do sistema democrático - o Congresso Nacional

'-é indispensável à construção de uma política de ciência e

tec-nologia ajustada às necessidades econômicas, mas que. n ã o

ignora as necessidades sociais e culturais de uma Nação que

se quer 'moderna.

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R e v . d e P s i c o l o g i a , F o r ta le z a , 4 ( I ) : ja n .Z ju n ., 1 9 8 6

REFERÊNCIAS BIBLlOGRAFICAS

8CH PE

- R / O O

/ C O S

1 ) F E R R E I R A , J o s é P e lú c io . C i ê n c i a e t e c n o l o g i a n o s p a í s e s e m d e s e n v o l v i -m e n t o : a e x p e r i ê n c i a d o B r a s i l . I .E .I ./U F R J , R io d e J a n e ir o , 1 9 8 3 , ( D is c u s s ã o 2 0 ) .

2 ) F E R R E I R A , J o s é P e lú c io . D o c u m e n t o a p r e s e n t a d o s o b r e e s t r a t é g i a s e p o

-l í t i c a s d e c i ê n c i a e t e c n o l o g i a c o m v i s t a s a m o b i l i z a ç ã o d o s r e c u r s o s

fi n a n c e i r o s n e c e s s á r i o s a o a p o i o d e a t i v i d a d e s c i e n t í fi c a s e t e c n o l 6 g i c a s .

P a q u is tã o , I s la m a b a d , n o v e m b r o - 1 9 8 5 .

3 ) F E R R E I R A , J o s é P e lú c io . D i s c u r s o p r o fe r i d o p o r o c a s i ã o d a c e r i m ô n i a q u e l h e c o n c e d e u o t í t u l o d e D o u t o r H o n o r i s C a u s a . U n iv e r s id a d e E s ta d u a l d e C a m p in a s , ju n h o - l9 7 7 .

4 ) F E R R E I R A , J o s é P e lú c io . A C i ê n c i a e a T e c n o l o g i a c o m o a g e n t e s d o D e s e n v o l v i m e n t o N a c i o n a l . C â m a r a d o s D e p u ta d o s - C o m is s ã o d e C iê n c ia e T e c n o lo g ia - F 6 r u m d e D e b a te s s o b r e D e s e n v o lv im e n to e I m p o r tâ n c ia d a T e c n o lo g ia N a c io n a l, o u tu b r o - 1 9 7 7 .

5 ) N O R A , S ., M in e . A . A i n fo r m a t i z a ç ã o d a s o c i e d a d e . F u n d a ç ã o G e tú lio V a r g a s , 1 9 8 0 .

6 ) T A V A R E S , M a r ia d a C o n c e iç ã o . N o v a s t e c n o l o g i a s d e v e m r e s p o n d e r a o s d e s a fi o s s o c i a i s . I n o v a ç ã o - A n o I - N ú m e r o O - s e te m b r o - 1 9 8 5 - R io d e J a n e ir o .

7 ) G A R A U D Y . R e g e r . O P r o j e t o E s p e r a n ç a - S a la m a n d r a C o n s u lto r ia E d

i-to r ia l L td a . - 1 9 7 8 R io d e [ a n e ir o .

8 ) P A U S , G ild a . P r o j e t o M a t e m á t i c a . C o m u n i d a d e c U n i v e r s i d a d e . P U C /R io d e [ a n e ir o - D e p a r ta m e n to d e M a te m á tic a - m a r ç o - 1 9 8 5 .

9 ) D e b a te N a c io n a l. C iê n c ia e T e c n o lo g ia n u m a s o c ie d a d e d e m o c r á tic a T e r m o s d e R e f e r ê n c ia - M C T /F T N E P /C N P q - n o v e m b r o - 1 9 8 5

R io d e J a n e ir o .

1 0 ) M O R E I R A , M a r in a L e m e tte . D o c u m e n t o a p r e s e n t a d o n o g r u p o d e t r a

-b a l h o d a E s c o l a S u p e r i o r d e G u e r r a - A E d u c a ç ã o p a r a a S o c ie d a d e d o f u tu r o - ju lh o - l9 8 2 .

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