COMPETITIVIDADE DA PRODUÇÃO DE PALMITO DE PUPUNHA NO ESPÍRITO SANTO E EM SÃO PAULO
RESUMO:
O presente trabalho teve como objetivo geral analisar a competitividade da produção de palmito de pupunha no Espírito Santo e em São Paulo, por meio da matriz de análise política (MAP). Pelos resultados obtidos, conclui-se que a lucratividade privada e social da produção e comercialização do palmito de pupunha foi positiva em São Paulo; os produtores do Espírito Santo e de São Paulo foram penalizados por políticas públicas adotadas para o setor; a produção em São Paulo apresentou-se mais competitiva e menos exposta aos efeitos negativos das políticas públicas; e, os produtores desses Estados tiveram seus lucros reduzidos.
Palavras-chave: Matriz de Análise Política, Palmito de pupunha, Política Florestal, Brasil.
ABSTRACT:
The present work objectives to analyze the competitively of palm heart of pejibaye production in Espírito Santo and São Paulo, through policy analysis matrix (PAM). The results evidence that the private and social profitability of the production and commercialization of palm heart of pejibaye was positive and larger in São Paulo; Espírito Santo and São Paulo producers were penalized by the public politics adopted for the sector; the production in São Paulo was more competitive and less exposed to the negative effects of public politics; and, producers this states had their decreased profits.
Key-words: Political Analysis Matrix, Palm heart of pejibaye, Forest politics, Brazil.
ÁREA TEMÁTICA - CIÊNCIA REGIONAL: TEORIA E MÉTODOS DE ANÁLISE
1. INTRODUÇÃO
A pupunha é uma palmeira originária da Região Amazônica, sendo domesticada e disseminada nesta região e na América Central por povos indígenas. É uma ótima alternativa para produção de palmito, podendo ser explorada em plantios organizados, e possui características desejáveis, tais como precocidade, perfilhamento, rendimento e qualidade do seu palmito (CHAIMSOHN, 2000).
O cultivo da pupunheira para produção de palmito vem despertando, desde a década de 70, o interesse de agricultores de todo o país. Esse interesse é devido, principalmente, à alta demanda, tanto interna quanto externa, de palmito de boa qualidade e à alta lucratividade do setor. A busca de novas opções de cultivo em substituição aos tradicionais, em virtude dos baixos preços alcançados por esses últimos no mercado, faz também com que empresários de outros setores se aventurem no agronegócio palmito de pupunha (BOVI, 2000).
O Brasil é o maior produtor e consumidor de palmito do mundo, mas já não possui
mais o título de maior exportador. Nos últimos anos, a Costa Rica e o Equador, com plantios
de pupunha de forma organizada, com ganhos de escala e conseqüentemente preços mais
baixos, assumiram a liderança do mercado internacional. A perda do Brasil da primeira
posição no ranking dos maiores exportadores mundiais deve-se aos fatos do palmito nacional
apresentar baixa qualidade e de ser um produto não ecológico, pois é sustentado pelo corte de
palmeiras nativas. A baixa qualidade do palmito é resultado do processo de extrativismo (GUERREIRO, 2002; SAMPAIO, 2007).
Devido ao potencial comercial do palmito de pupunha, muitos países latino- americanos estão investindo no seu cultivo e industrialização. O interesse para cultivar a pupunha está aumentando fortemente nos últimos anos (VILLACHICA, 1996), especialmente para a produção de palmito. Dois fatores que estão facilitando este aumento: a existência de um mercado a nível mundial e a disponibilidade de tecnologia para o cultivo e industrialização da pupunha para palmito (VERRUMA-BERNARDI, 2007).
Em 2008, o Brasil exportou 1.624 toneladas de palmito, o que corresponde a US$ 7,1 milhões, sendo que a maior parte destas exportações foi destinada para os Estados Unidos, com 1.072 toneladas (66% do total das exportações), seguido pela França, com 133 toneladas (AGRIANUAL, 2009).
A produção de palmito no Brasil em 2007 foi de 61.429 toneladas, o que representa uma área colhida de 10.035ha. As regiões Centro-Oeste e Nordeste são responsáveis por 78,5% dessa produção. Os estados de Goiás e Bahia se destacam nessas regiões e também em nível nacional, com uma produção de 23.092 e 21.253 toneladas, respectivamente. Outros Estados como Espírito Santo e São Paulo, que constituem área de interesse deste trabalho, apesar de apresentarem produção modesta, 778 toneladas e 1.933 toneladas, em 2007, respectivamente, em comparação com Goiás e Bahia, estão se destacando a nível nacional, em termos de evolução de área colhida, quantidade produzida e rendimento médio por hectare (IBGE, 2007).
A tendência do mercado de palmito de pupunha é crescente tanto em nível interno, como internacionalmente, não só para atender as exigências do mercado internacional, como pela atual demanda dos frutos de açaí para produção da polpa, que apresenta maior rentabilidade que o mercado de palmito, apontando assim para uma diminuição paulatina deste palmito no mercado.
O esgotamento da oferta de matéria-prima proveniente da coleta extrativa no centro sul, a intensificação da fiscalização de órgãos oficiais impedindo a devastação predatória, o custo da taxa de reflorestamento (próximo de 12% dos custos de industrialização), o alto preço do produto no mercado nacional e internacional, sendo que, no primeiro, a tonelada do produto líquido drenado vem sendo vendida a valores superiores a US$ 4.000,00, são fatores que vêm estimulando o investimento e produção racional para palmito industrializado (VERRUMA-BERNARDI, 2007).
Entretanto, existem alguns entraves ao cultivo das palmeiras tais como os inerentes à planta, que desestimulam o cultivo em larga escala das principais palmeiras produtoras de palmito comestível de boa qualidade. Palmeiras do gênero Eutepe demoram de 8 a 12 anos para estarem aptas para o corte do palmito. O segundo fator de importância é a baixa sobrevivência das mudas, especialmente da palmeira juçara, com perdas às vezes superiores a 40%. Em terceiro lugar pode ser mencionada a heterogeneidade do material existente. Como espécies que sofreram pouco melhoramento, há grande variabilidade entre e dentro das populações, o que se traduz em ausência de uniformidade na formação das mudas, na área de cultivo e na colheita do produto. Há variabilidade também para características químicas e bioquímicas do palmito, afetando sobremaneira a qualidade do produto final. Perda rápida da viabilidade das sementes e dificuldade para sua conservação e armazenamento são outros fatores que, se não impedem, pelo menos prejudicam o plantio único em largas áreas (GUERREIRO, 2002). Além disso, acredita-se, que políticas públicas também estejam prejudicando o cultivo de palmeiras no Brasil e, consequentemente, a geração de emprego, renda e divisas no país.
Sendo assim, estudos mostrando os efeitos das políticas públicas na produção de
palmito tornam-se relevantes, pois permitem identificar pontos de estrangulamento na
estrutura de custos do setor produtivo para que se possam direcionar políticas que objetivem a manutenção e, ou, a ampliação da capacidade produtiva e de exportação de palmito do Brasil.
Estudos deste tipo podem, também, explicar os impactos de políticas públicas no setor, o que subsidiaria a adoção de medidas políticas contribuindo para a tomada de decisão de alocação dos recursos e do planejamento de políticas comerciais.
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo geral analisar a competitividade da produção de palmito de pupunha no Brasil, comparando diferentes regiões do Brasil: São Paulo e Espírito Santo. Especificamente, pretendeu-se determinar a lucratividade privada e social na produção do palmito de pupunha no Brasil para as diferentes regiões; identificar os efeitos de políticas públicas sobre as diferentes regiões, em relação ao mercado externo; mensurar os indicadores que avaliam o grau de competitividade do setor produtivo, assim como a eficiência econômica e os efeitos das políticas neste setor, levando em consideração os resultados privados e sociais; analisar a sensibilidade dos indicadores privados e sociais devido a uma variação nos preços sociais; e propor medidas para o desenvolvimento do setor no Brasil.
2. METODOLOGIA
2.1. Referencial Teórico
O fundamento teórico deste trabalho baseou-se na abordagem que relaciona a competitividade aos custos. Nesse contexto, Rosado (1997) ressalta que o conhecimento dos componentes dos custos é útil para compreensão da competitividade. Segundo a autora, a competitividade resulta da interação entre os custos de produção e todos os custos adicionais incorridos para que o produto seja comercializado para o comprador estrangeiro. Assim, para se determinar a competitividade, é necessário considerar os fatores e os efeitos de políticas que influenciam os preços enfrentados pelos agentes econômicos. Esses determinantes incluem eficiência produtiva, política de preços dos insumos, taxa de juros, taxa de câmbio e política de impostos e subsídios.
O conceito de eficiência associa a competitividade de uma economia às condições gerais do processo de produção. Nesse sentido, o progresso tecnológico é um elemento central na configuração e na evolução dos sistemas econômicos e dos fluxos internacionais de comércio, assim como o melhor aproveitamento de economias de escala, maior capacitação de mão-de-obra, etc. (HAGUENAUER, 1989; ALVES, 2002). Os indicadores de eficiência relacionam-se com a comparação dos preços e custos unitários de um país com os de um determinado conjunto de competidores internacionais (IE/UNICAMP et al., 1993).
Além disso, também é relevante mencionar que os insumos comercializados internacionalmente estão sujeitos a impostos, tarifas ou subsídios que podem gerar distorções consideráveis sobre a competitividade (FERREIRA NETO, 2005).
Em geral, a competitividade resulta da combinação dos efeitos de distorções de mercado, que incluem as causadas por política econômica e por competição imperfeita entre as firmas; e de vantagens comparativas (ALVIM e OLIVEIRA JÚNIOR, 2005).
Feitas essas considerações, verifica-se que a competitividade é influenciada por uma
grande quantidade de fatores inter-relacionados como tecnologia disponível e a forma como
esta é aplicada, preços domésticos dos insumos produtivos, taxa de câmbio, taxa de paridade
entre os parceiros comerciais do país, custos de transporte, estrutura de incentivos, barreiras
tarifárias e não-tarifárias no país importador, qualidade e imagem do produto, etc. (BNDES,
1991 citado por FERREIRA NETO, 2005).
2.2. Referencial Analítico
Considerações Preliminares
Para atender aos objetivos deste trabalho, empregou-se o método da Matriz de Análise Política (MAP), desenvolvido por Monke e Pearson (1989).
Esse instrumental permite identificar incentivos ou desincentivos para agentes econômicos; analisar o impacto de políticas diretas em nível de cadeia; verificar os efeitos de políticas sobre a lucratividade privada e examinar os impactos favoráveis ou desfavoráveis à sociedade relativos às atividades econômicas (ALVES, 2002). Desta forma, este método é frequentemente utilizado na análise da cadeia produtiva de produtos da agropecuária no Brasil e no exterior (NELSON, 1991; NELSON e PANGGABEAN, 1991; ROSADO, 1997;
AHMAD e MARTINI, 2000; MARRA et al., 2001; MARTINS, 2001; ALVES, 2002;
MOHANTY et al., 2002; ALVIM et al., 2004; ALVIM e OLIVEIRA JÚNIOR, 2005;
FERREIRA NETO, 2005; MOSS, 2006; ROSADO et al, 2006).
Na literatura econômica internacional, a MAP foi empregada na área florestal, por exemplo, nos estudos de Maryani e Irawanti (1997), Hadi e Budhi (1997) e Endom (1999).
Maryani e Irawanti (1997) analisaram os impactos das políticas públicas na competitividade da produção de óleo de palma e da madeira industrial processada em Sumatra, Indonésia, mais precisamente, na província de Riau, em 1997, que é constituída por seis distritos. São eles: Pakan baru, Kampar, Bengkalis, Inderagiri Hulu, Kepulauan Riau e Batam. Os autores concluíram que tanto a produção de óleo de palma quanto à produção de madeira industrial processada são economicamente eficientes devido às políticas governamentais para essas mercadorias.
Hadi e Budhi (1997) estudaram a eficiência econômica e a vantagem comparativa dos pequenos produtores de borracha natural de Sumatra, Indonésia, em 1997, considerando o sistema agroflorestal e a monocultura. Os autores constataram que os dois sistemas de produção não foram competitivos e que no sistema agroflorestal as perdas são maiores que no sistema de monocultura para os pequenos produtores.
Já o estudo de Endom (1999) verificou os impactos das políticas públicas na competitividade da indústria de madeira na província de Jambi, distrito de Bungo Tebo em Kabupaten, Indonésia, em 1997. As regiões que compuseram a amostra foram: PT Rimba Karya Indah, PT Dalek Esa Hutani, PT Gaya Wahana Timber, e PT Sylvagama. Os resultados revelaram que a indústria da madeira na Indonésia que opera em larga escala é relativamente competitiva e possuem elevada eficiência. No entanto, as políticas públicas contribuíram para que o preço da tora no mercado doméstico ficasse menor que o preço mundial.
Em relação à literatura econômica nacional, encontrou-se apenas o estudo de Rosado et al. (2006), que utilizou a MAP na área florestal. Esse trabalho buscou analisar a competitividade e os efeitos das políticas públicas sobre a produção da borracha natural no estado de São Paulo e Mato Grosso. Os autores constataram que a produção da borracha natural naqueles estados está sendo prejudicada com as políticas públicas, mas apesar disso é lucrativa e competitiva. Desta forma, tendo em vista que estudos que contemplem o emprego da MAP aos produtos florestais têm sido tão pouco explorados e dada sua relevância, este estudo pretende contribuir neste sentido.
Operacionalização do Modelo
A MAP expressa a lucratividade definida como a diferença entre receitas e custos, e
mensura o efeito das divergências (políticas "distorcivas" e falhas de mercado), sendo a
diferença entre os valores privados e valores sociais. Ela é constituída por duas colunas de
custos, uma referente aos insumos comercializáveis (tradeable) e outra relativa aos fatores domésticos (nontradeable). Por sua vez, os insumos intermediários (fertilizantes, pesticidas, sementes, rações, eletricidade, transporte e combustível) são divididos, em seus componentes de insumos comercializáveis e não-comercializáveis, conforme indicado no Quadro 1 (ALVES, 2002).
Quadro 1 - Matriz de Análise Política (MAP)
Itens Receitas
Custos
Lucros Insumos
Comercializáveis
Fatores Domésticos
Preços Privados A B C D
Preços Sociais E F G H
Efeitos de divergências e
eficiência política I J K L
Fonte: Monke & Pearson (1989).
A manipulação dos valores contidos na MAP origina os seguintes indicadores:
a) Lucro Privado (D): O lucro privado é representado pela diferença entre a receita obtida no mercado interno e seus custos, sendo expresso a preços de mercado, ou a preços privados (equação 1). Como valores praticados no mercado, esses sofrem interferências dos governos, na forma de tributos ou subsídios.
C B A
D (1) em que: A p
dq
d;
n
1 d i d i
q p B
i
;
n
1 d j d j
l w C
j
;A = receita privada, B = custo dos insumos comercializáveis externamente, C = o custo dos insumos domésticos, p
d= preço privado do produto, q
d= quantidade total privada de determinado produto: p
di= preço privado do insumo i, q
id= quantidade privada do insumo i utilizado na produção do bem considerado, w
dj= preço privado do insumo j, l
dj= quantidade privada do insumo j utilizado.
O cálculo da lucratividade privada retrata a competitividade da cadeia produtiva, de modo que se os lucros privados forem negativos (D < 0), os operadores estarão ganhando uma taxa de retorno subnormal e se os lucros privados forem positivos (D > 0), os operadores estarão ganhando uma taxa de retorno sobrenormais, sinalizando que pode ocorrer expansão do sistema de produção em análise no futuro. O lucro normal ocorre se D = 0 (ROSADO et al., 2006).
b) Lucro Social (H): Refere-se ao lucro alcançado a preços de sociais (equação 2).
G F E
H (2) em que: E p
sq
s;
n
1 s i s i
q p F
i
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n
1 s
j s j
l w G
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