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Confederação Nacional da Indústria

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Academic year: 2021

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(1)

Março/2010

Nota Técnica

Impacto das Mudanças no

Seguro Acidente de Trabalho - SAT

Unidade de Relações do Trabalho

e Desenvolvimento Associativo

(2)

Resumo Executivo

• O ano de 2010 se inicia com a implantação de novas regras no Seguro Acidente de Trabalho (SAT), que, a pretexto de estimular investimentos das empresas em Saúde e Segurança do Trabalho, promovem um aumento expressivo e injustificado nos encargos sobre a folha salarial.

• Até 2009, o valor do SAT era calculado multiplicando-se o montante da folha de pagamento por uma das alíquotas do Risco Ambiental do Trabalho (RAT), de 1%

(leve), 2% (médio) ou 3% (grave), definidas para cada uma das 1.301 atividades econômicas da CNAE. A partir de 2010, foi incluído o Fator Acidentário de Prevenção (FAP), calculado por empresa com base no seu nível de acidentalidade, que varia de 0,5 (meio) a 2 (dois) e multiplica a alíquota do RAT calculada por atividade econômica, gerando a alíquota final a ser paga pela empresa.

• Segundo o Ministério da Previdência Social (MPS), o FAP não teria qualquer objetivo de ampliar a arrecadação, e mais de 92% das empresas seriam beneficiadas por sua implantação, pois teriam FAP menor que 1.

• As mudanças contaram com o apoio empresarial, que considerava justa a diferenciação das alíquotas das empresas no pagamento do SAT e um meio de incentivar investimentos em segurança.

• As empresas e suas entidades de representação foram surpreendidas por novas determinações relativas ao SAT, por meio do Decreto 6.957/2009, publicado em 9 de setembro de 2009. Além da esperada base para criação do FAP por empresa, o decreto estabeleceu o surpreendente reenquadramento das atividades econômicas nas alíquotas de Riscos Ambientais do Trabalho (RAT). Em seguida, no dia 29 de setembro, foi disponibilizada a primeira versão do extrato1 do FAP de cada empresa, havendo evidências de aplicações de regras técnicas diferentes das

1 Extrato com as principais informações sobre o FAP disponível para consulta no sitio do MPS na Internet (http://www2.dataprev.gov.br/fap/fap.htm), em espaço específico, mediante acesso com a senha da empresa. Posteriormente, a Previdência republicou os dados do extrato em outros dois momentos.

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regras aprovadas. Essas mudanças trouxeram um conjunto de elementos destoantes do discurso público anterior e mostram claro desacordo com a filosofia, a legislação e os objetivos de criação do FAP.

• O impacto das mudanças pode gerar um aumento na contribuição para o SAT de até 500% sobre o valor recolhido em 2009.

• Observa-se ausência de razoabilidade atuarial em uma quantidade muito significativa de empresas, provavelmente em mais de 95% dos casos, comprovando que as mudanças provocaram grandes distorções nos valores pagos do Seguro.

Impactos do Reenquadramento do Risco Ambiental do Trabalho das Atividades Econômicas

• O enquadramento das atividades econômicas nos diferentes graus de riscos RAT foi promovido sem qualquer conhecimento por parte dos atores sociais interessados.

Faltou transparência e motivação ao ato administrativo que o promoveu. Não houve divulgação pelo MPS da metodologia adotada, bem como dos cálculos que levaram ao enquadramento de cada setor.

• Quando vigorava Decreto 6.042/2007, apenas 138 (10,6%) atividades econômicas eram de risco grave e pagavam alíquota de 3%. Após a publicação do Decreto 6.957/2009, 730 (56,1%) atividades passaram a ser classificadas como risco grave e pagarão alíquota RAT de 3%.

• Das 1.301 atividades econômicas, 866 tiveram a alíquota majorada. Isto significa que empresas pertencentes a 67% das atividades econômicas terão aumento de custos por conta apenas do reenquadramento. Destas 866 atividades cujas alíquotas RAT foram elevadas com o reenquadramento, demonstra-se que 27%

sofreram aumento de 200% na alíquota, 29% sofreram aumento de 100% e 44%

aumento de 50%.

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Quantidade de Atividades Econômicas Reenquadradas por Risco

626

536

180 138

391

730

0 100 200 300 400 500 600 700 800

1% (Risco Leve) 2% (Risco Médio) 3% (Risco Grave) Até 2009 (Decreto 6.042/2007) A partir de 2010 (Decreto 6.957/2009)

• A medida impactará negativamente setores com grande número de empregos, a exemplo de fabricação de Caminhões e Ônibus, Lanchonetes e Lojas de Departamentos, além de atingir setores em que não há, à primeira vista, motivo para enquadramento em risco grave, como Serviços de Arquitetura, Serviços de tradução, interpretação e similares e Atividades de exibição cinematográfica, reforçando a fragilidade do método que suporta tais mudanças.

• Embora somente o Ministério da Previdência Social possa responder com precisão o volume de recursos a mais que será revertido aos cofres públicos, as estimativas apresentadas nessa Nota Técnica possibilitam dimensionar o impacto do reenquadramento RAT. A simples distribuição das empresas após o reenquadramento nas alíquotas de RAT provocará aumento aproximado de 28,7% na arrecadação do Seguro (para efeito desse cálculo separado, considera-se o FAP igual a 1 para todas as empresas).

• O percentual da folha tributada em 3% vai de 25%, em 2009, para 63%, em 2010.

De outro lado, o percentual da folha de pagamentos com alíquota RAT de 1% é reduzido de 23% para apenas 3%. Em relação ao total de empresas, 58% pagavam em 2009 a alíquota de 1%, sendo que em 2010 serão 13%.

• Observa-se que 56% do montante total da folha teve aumento de 50%, 100% ou 200% no SAT, enquanto 40% permaneceu com a mesma alíquota e apenas 4% da folha teve redução.

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• Observa-se ainda que, somente no tocante ao reenquadramento nas alíquotas RAT, 60% das empresas sofrerão majoração no valor a ser pago de SAT, enquanto apenas 14% sofrerão redução. Considerando um total de 950 mil empresas que pagam o SAT, o aumento atingirá 570 mil empresas.

Impactos do Fator Acidentário de Prevenção (FAP)

• De cerca de 4,3 milhões de empresas, 3,3 milhões estão enquadradas no SIMPLES Nacional e, portanto, não recolhem SAT. As empresas sujeitas à aplicação do FAP somam 952.561, entre as quais: 879.933 seriam bonificadas e apenas 72.628 sofreriam penalização.

• Essa proposição geral, contudo, oculta um conjunto de aspectos relevantes:

o A bonificação é, em geral, muito pequena; a penalização, em contrapartida, é severa e afeta principalmente as grandes empregadoras. A metodologia adotada para o FAP não é coerente com o seu objetivo, pois pune as empresas que empregam muito.

o Ainda que empresas sejam beneficiadas pela aplicação do FAP, esse efeito em mais da metade das empresas é revertido em prejuízo, quando os impactos são analisados em conjunto com o reenquadramento das atividades econômicas nas alíquotas RAT.

o A institucionalização do FAP traz efeitos colaterais, desestimulando, por exemplo, as empresas a registrarem Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT).

o No extrato divulgado pelo MPS, empresas sem registro de qualquer acidente ou doença do trabalho – cujo FAP deveria ser 0,5 (FAP mínimo) – apresentavam números muito superiores, decorrentes de técnicas e fórmulas estranhas ao marco legal utilizadas pelo Ministério. Essa distorção pode ser atribuída à ”Regra dos Empates” e à “Fórmula de

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Majoração” do FAP2. Em resumo, essas regras levam um escritório de advocacia que não registrou acidentes ou doenças ocupacionais a ter um FAP de 0,9935, que corresponde a um desconto inferior a 1% (0,65%), e empresas ligadas à construção de edifícios, também sem acidentes, a terem um desconto de apenas 11,63%. Em ambos os casos, o desconto deveria ser de 50%.

• A metodologia do FAP concentra as empresas pequenas pouco abaixo do FAP igual a 1 (concedendo-lhes pequenos descontos) e as grandes no FAP próximo a 2 (impondo-lhes grandes punições). Mesmo que o número de empresas severamente punidas seja menor que o das empresas levemente bonificadas, o montante da massa salarial3 no primeiro grupo, é quase duas vezes maior do que o do segundo grupo.

• Na simulação feita nesta Nota Técnica para estimar o impacto do FAP sobre a arrecadação utilizaram-se valores conservadores em relação a sua aplicação, com FAP médio de 0,9 para os “bonificados” e de 1,5 para os “punidos”, quando na realidade estes números tendem a serem maiores. Assim, apenas com a aplicação do FAP, mesmo considerando 92% das empresas com FAP menor que 1, o aumento de arrecadação é de 30,2%.

• Considerando que a arrecadação já foi elevada em 28,7% com o reenquadramento das alíquotas do RAT, , e aplicando-se sobre esse aumento a variação do FAP de 30,2%, chega-se a um aumento total na arrecadação do SAT de 67,5%. Como o valor estimado pelo MPS em 2009 é de R$ 8,1 bilhões, ao se aplicar essa variação, estima-se a elevação desse montante para R$ 13,6 bilhões em 2010. Isto significa um aumento de arrecadação superior a R$ 5 bilhões no primeiro ano e contraria o discurso segundo o qual as novas regras não ampliariam a arrecadação do Seguro.

2 Ver ‘Regra de Empates’ e ‘Majoração do FAP’ em detalhes no anexo 1.

3 É importante ressaltar que para estimar o impacto do FAP sobre a arrecadação, a informação relevante é a massa salarial, que compõe a base de cálculo.

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Receitas e Despesas no SAT

• Ao se verificar a variação da “conta do SAT” entre 2005 e 2009, observa-se um aumento de 23% nas despesas e um aumento de 68% nas receitas. Observa-se, portanto, que as receitas já vêm experimentando crescimento relativo bem superior às despesas.

• Observa-se que em comparação a 2003, o aumento de arrecadação do SAT acumulado até 2009 era de 72% e em 2010 saltará para 179%. Salienta-se que para 2011, não haverá o desconto de 25% na alíquota do FAP maior que ‘1’, provocando mais aumento na arrecadação do SAT.

• A forma de apresentar a “conta do SAT” separada e deficitária em R$ 4,2 bilhões em 2009 é incorreta, pois traz problemas conceituais e legais. A Previdência tem funcionamento específico por meio do Regime Geral da Previdência Social (RGPS).

No caso do SAT, além do valor recolhido pelas empresas pelo tributo específico, há outras contribuições e tributos que financiam as despesas com acidentes e doenças do trabalho, e outros benefícios. As empresas optantes pelo SIMPLES Nacional estão isentas do recolhimento do SAT, porém recolhem outras contribuições que ajudam a financiar a Seguridade Social, e, portanto, os seus afastamentos por acidentes e doenças do trabalho. O modelo brasileiro é bastante distinto do existente em outros países, sendo impossível uma comparação direta de alíquotas

• Outro argumento equivocado é o que busca atribuir aos aumentos dos registros de acidentes e doenças do trabalho a justificativa para a necessidade de elevar a arrecadação do SAT. Números não fundamentados e desprovidos de cálculos transparentes e corretos sobre o impacto geral na economia também não são elementos para fundamentar o aumento de arrecadação.

• A partir da entrada em vigor, em 2007, do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP, uma série de doenças consideradas “comuns” passou a ser considerada “doença do trabalho”, provocando aumento expressivo neste tipo de registro e nos benefícios pagos pela Previdência Social a título de acidentes e doenças do trabalho. Assim, despesas que já eram pagas pela Previdência

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deixaram de ser contabilizadas como doenças comuns e passaram a ser contabilizadas nesta incorreta “conta do SAT”, por causa do NTEP. Porém, conforme dito, em ambos os casos, os recursos são oriundos do RGPS.

• Por fim, é necessário que o MPS apresente a metodologia, os cálculos realizados e as evidências que suporiam o argumento de que o FAP “significa um novo tempo para o setor, pois vai ajudar a diminuir o custo Brasil, que consome anualmente 1,8% do PIB, ou seja, R$ 50 bilhões de despesas diretas e indiretas” em decorrência de problemas do ambiente de trabalho.

Fragilidades Jurídicas e Reflexos nos Custos para Empresas e para o Estado

• As mudanças no SAT foram feitas de forma conturbada e com muitas fragilidades técnicas e jurídicas. A intransigência do MPS em rever um conjunto de questões levou milhares de empresas e suas entidades de representação a procurar meios de preservar seus direitos e evitar este aumento de custos.

• Esta representa um custo elevado e desnecessário para o setor produtivo e para o Estado, seja por mobilizar suas estruturas em defesas administrativas e judiciais, seja pelo próprio custo que impõe ao Judiciário.

• De modo geral, tem-se observado que os resultados iniciais de liminares e sentenças em todo o país conferem razão às empresas e sindicatos empresariais na disputa.

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Sumário

Sumário... 9

1 Introdução ... 10

2 Novo Cálculo do SAT... 13

3 Impactos do Reenquadramento do Risco Ambiental do Trabalho das Atividades Econômicas... 16

3.1 Aspectos Gerais ... 16

3.2 As distorções do reenquadramento... 18

3.3 Impactos do Reenquadramento sobre as Empresas e a Arrecadação da Previdência Social ... 21

4 Impactos do Fator Acidentário de Prevenção (FAP) ... 25

4.1 Bonificação e Penalização no FAP ... 25

4.2 Decifrando a metodologia do FAP... 28

4.3 Simulação dos Impactos do FAP... 33

5 Receitas e Despesas no Seguro Acidente de Trabalho... 36

5.1 A conta do Seguro Acidente de Trabalho... 36

5.2 Aumento da Arrecadação... 39

5.3 Avaliação do Aumento de Acidentes e Doenças do Trabalho ... 41

5.4 Avaliação das Despesas ... 48

6 Fragilidades Jurídicas e Reflexos nos Custos para Empresas e para o Estado ... 51

7 CONCLUSÃO... 52

ANEXO I - “Regra de Empates” e “Fórmula de Majoração” no cálculo do FAP ... 53

ANEXO II – SAT - Alterações Recentes. Considerações. Alternativas de Impugnação Judicial ... 63

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1 Introdução

O ano de 2010 se inicia com a implantação de mudanças nas regras do Seguro Acidente de Trabalho (SAT). A principal premissa para mudar a forma de contribuição para o SAT seria permitir a diferenciação das alíquotas pagas pelas empresas, em função de sua atenção à saúde e segurança do trabalho. Ou seja, empresas que adotam políticas eficazes de prevenção a acidentes do trabalho e doenças ocupacionais fariam jus a um desconto na alíquota do SAT; ao contrário, empresas com índices mais altos de acidentalidade seriam penalizadas.

Até o final de 2009, o valor do SAT por empresa era calculado pela multiplicação de sua folha de pagamentos por uma alíquota de Riscos de Acidentes de Trabalho (RAT), de 1%, 2% ou 3%, definida para cada uma das 1.301 atividades econômicas da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE)4.

Para operacionalizar as mudanças no SAT, a partir de janeiro de 2010, a forma de cálculo do SAT passou a contar com mais um multiplicador: o Fator Acidentário de Prevenção (FAP). O FAP varia de 0,5 a 2 e é calculado pelo Ministério da Previdência Social (MPS) em função do nível de acidentalidade de uma empresa quando comparada às demais da mesma atividade econômica. Empresas sem acidentes poderiam, portanto, reduzir seu seguro em 50%.

Cálculo do SAT até 2009 Cálculo do SAT a partir de 2010 SAT = Folha de Pagamento x

Alíquota RAT

SAT = Folha de Pagamento x (Alíquota RAT x FAP)

Segundo o MPS, o FAP não teria qualquer objetivo de ampliar a arrecadação:

4 Neste texto, a expressão ‘atividade econômica’ corresponde a subclasse no quinto nível de desagregação da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).

“Nós não temos nenhum objetivo de aumentar a arrecadação do seguro acidente de trabalho. Nosso objetivo é criarmos incentivos à prevenção de acidentes de trabalho e de doenças ocupacionais” - representante do MPS - Jornal Nacional, em 23/10/2009.

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Essa premissa foi reafirmada pelo Ministério em reuniões do Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), e reforçada ainda pela afirmação de que 92% das empresas seriam beneficiadas pela aplicação do FAP e apenas 8% seriam punidas.

A finalidade das mudanças contou com o apoio empresarial, que considerava justa a diferenciação das alíquotas das empresas no pagamento do SAT e um meio de incentivar investimentos em um tema muito relevante: a saúde do trabalhador.

Esse foi o pano de fundo da aprovação da Resolução MPS/CNPS nº 1.308 , de 27 de maio de 2009, complementada pela Resolução MPS/CNPS nº 1.309, de 24 de junho de 2009. Essas resoluções, em consonância com as premissas até então divulgadas, trouxeram as bases de regulamentação do FAP, descrevendo seus objetivos e os elementos necessários para sua implantação: freqüência de acidentes e doenças, gravidade e custo decorrentes para a Previdência.

Contudo, o discurso não correspondeu à realidade. Nos meses seguintes, as empresas e suas entidades de representação foram surpreendidas por novas determinações relativas ao SAT, por meio do Decreto 6.957/2009, publicado em 9 de setembro de 2009, que trouxe duas mudanças principais:

Definiu a base para criação do FAP por empresa – já aguardada; e

Promoveu o reenquadramento das atividades econômicas nas alíquotas de Riscos Ambientais do Trabalho (RAT) – novidade desconhecida.

“O Ministério da Previdência informou que, a partir de janeiro, pouco mais de 72 mil empresas terão aumentos nas suas contribuições ao Seguro Acidente de Trabalho (SAT). A carga será elevada porque tiveram mais ocorrências na área de saúde de seus trabalhadores. Por outro lado, mais de 1 milhão de pessoas jurídicas terá descontos nesses pagamentos porque reduziram os riscos ocupacionais e investiram em prevenção.” – Valor Econômico, 24/09/2009.

(12)

No dia 29 de setembro foi disponibilizada a primeira versão do extrato5 do FAP de cada empresa no sitio do MPS na Internet, em um espaço específico, gerando dúvidas iniciais sobre a aplicação da regra aprovada.

Essas mudanças trouxeram um conjunto de elementos destoante do discurso público anterior. As informações até então divulgadas pelo MPS, que pareciam convergir para a finalidade da mudança proposta para o SAT, induziram todos ao equívoco.

As primeiras análises realizadas após o reenquadramento das alíquotas RAT por atividade econômica (CNAE subclasse) e a liberação dos extratos do FAP das empresas pelo MPS demonstraram que a mudança no SAT não atingirá seu objetivo mais nobre:

reduzir os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais. Além disso, as novas regras provocarão aumento de cerca de 60% na arrecadação do tributo em 2010 (o que corresponde a cerca de R$ 5 bilhões), conforme se demonstrará nesta Nota.

Como se verá, as escolhas técnicas e metodológicas se mostraram inadequadas e em desacordo com a legislação. Esse contexto motivou a elaboração do presente trabalho, que busca explicar as mudanças no SAT e seus impactos sobre a arrecadação, assim como provocar a suspensão das medidas e seu aperfeiçoamento metodológico.

Para tanto, trata separadamente os impactos do reenquadramento das atividades econômicas nas alíquotas RAT e a aplicação do FAP, fechando com uma análise do impacto conjunto. Aborda, ainda, questões referentes às receitas e despesas da Previdência com os acidentes e doenças do trabalho.

Sua conclusão reforça a necessidade de que, diante dos prejuízos às empresas e aos empregos, o Governo suspenda as mudanças no SAT e inicie o diálogo com o setor produtivo, com vistas à definição de formas efetivas de incentivo à prevenção de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais no Brasil.

5 Extrato com as principais informações sobre o FAP disponível para consulta no sitio do MPS na Internet (http://www2.dataprev.gov.br/fap/fap.htm), em espaço específico, mediante acesso com a senha da empresa. Posteriormente, a Previdência republicou os dados do extrato em outros dois momentos.

"Nunca tivemos a preocupação de aumentar a arrecadação com a reformulação feita", representante do MPS (Correio Braziliense, em 24/10/2009).

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2 Novo Cálculo do SAT

As mudanças trazidas pelo “Novo Seguro Acidentes de Trabalho” (SAT) têm como fato mais perceptível a introdução do FAP no cálculo do Seguro. O SAT é recolhido mensalmente junto com as guias da GFIP (Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social), conforme o Ato Declaratório Executivo SRF N.º 3, de 18 de janeiro de 2010, tendo como base de cálculo a folha de pagamento da empresa.

A alíquota RAT é aplicada a cada uma das 1.301 atividades econômicas da CNAE, sendo determinada de acordo com o grau de risco de acidentalidade da atividade. Até 2009, eram válidas as alíquotas descritas no Decreto 6.042/2007. A partir de janeiro de 2010, passaram a vigorar as alíquotas do Decreto 6.957/2009.

O FAP, por sua vez, varia entre 0,5 (meio) e 2 (dois) e é multiplicado pela alíquota RAT - compondo a alíquota a ser paga, denominada de RAT Ajustada6. Essa alíquota é multiplicada pelo montante de folha de pagamento da empresa, para que se obtenha o valor do seguro a ser recolhido.

O FAP foi implantado com base nas Resoluções MPS/CNPS 1.308/2009 e 1.309/2009, complementadas pelo Decreto 6.957/2009. Relaciona-se ao desempenho da empresa frente às demais da mesma atividade econômica em que está classificada.

6 A aplicação do FAP das empresas sobre alíquota RAT da atividade econômica gera o RAT ajustado, que será a alíquota de recolhimento aplicada à folha de pagamento. Exemplo: RAT - 3%; FAP - 1,6; RAT ajustado será 4,8%.

Valor do Seguro (SAT) = Folha de Pagamento x (Alíquota RAT x FAP da Empresa) Onde:

Valor do Seguro é o montante a ser recolhido pela empresa.

Alíquota do RAT corresponde ao risco de 1%, 2% ou 3% do seu CNAE (subclasse).

FAP da Empresa: varia entre 0,5 e 2, sendo calculado pelo Ministério da Previdência Social.

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Os efeitos práticos dessa majoração, após o reenquadramento das alíquotas do RAT e a adoção do FAP, são demonstrados na tabela 1, que simula a situação de empresas cuja contribuição para o SAT até 2009 era de R$ 1 milhão anual.

Tabela 1 – Exemplo do aumento de custos com “Novo Seguro Acidente de Trabalho”

Reenquadramento no RAT

Supondo aplicação do FAP à 0,5 em 2010

Supondo aplicação do FAP à 2 em 2010 ariação da

Alíquota do RAT (CNAE)

Valor do SAT em

2009

Novo Valor do

SAT em 2010

Variação SAT 2009/201

0

Novo valor do SAT com

FAP

Variação no valor SAT 2009 e

SAT com FAP 2010

Novo valor do SAT Com FAP

Variação no valor SAT 2009 e SAT com FAP

2010

1% para 2% R$ 1 mi R$ 2 mi 100% R$ 1 mi 0% R$ 4 mi 300,0%

1% para 3% R$ 1 mi R$ 3 mi 200% R$ 1,5 mi 50% R$ 6 mi 500,0%

2% para3% R$ 1 mi R$ 1,5 mi 50% R$ 0,75 mi -25% R$ 3 mi 200,0%

No caso extremo de uma empresa que pertença a uma atividade econômica cuja alíquota RAT era de 1% em 2009, mas após o reenquadramento seja de 3%, caso se aplique o FAP igual a 2, o valor de SAT a ser pago será de R$ 6 milhões por ano (exemplo da segunda linha na tabela). Ou seja, o aumento na contribuição para o SAT pode chegar a 500% sobre o valor recolhido em 2009.

Ressalva-se que a metodologia do FAP prevê um desconto de 25% em 2010, apenas para FAP maior que ‘1’. Desse modo, o FAP máximo em 2010 será de 1,75, possibilitando, contudo, um aumento de até 425% no exemplo citado. De 2011 em diante, o FAP máximo passará a ser 2, havendo um novo aumento de custos para as empresas com o SAT.

Para ilustrar esse fato, a Tabela 2 apresenta três casos reais de empresas que tiveram suas alíquotas RAT reenquadradas pelo Decreto 6.957/2009 e aplicação simultânea de FAP maior do que 1. São situações comumente encontradas entre as empresas.

(15)

Tabela 2 – Casos reais de empresas após aplicação do Novo SAT

Empresa Valor do SAT pago em 2009

Valor do SAT com

FAP em 2010 Aumento %

Custo da Previdência com

Benefícios Acidentários

A R$ 289.355,37 R$ 1.064.462,24 268% -

B R$ 101.109.67 R$ 239.670.35 137% -

C R$ 196.384,61 R$ 664.958,29 239% R$ 56.547,21

O dados apresentados na Tabela 2 levam a duas conclusões:

Os aumentos percentuais são expressivos; e

Não há correlação entre o aumento do Seguro e valor gasto pela Previdência com benefícios referentes a essas empresas.

A empresa ‘A’, por exemplo, sofreu reajuste de 268% por conta das mudanças, ainda que não tenha gerado custos à Previdência Social. A empresa B, de igual forma, também foi penalizada com aumento de 137%, sem ter gerado qualquer custo em decorrência de acidentes ou doenças do trabalho. A empresa ‘C’, por sua vez, gerou custo de R$ 56.547,21 à Previdência em 2009, correspondente a 29% de sua contribuição para o SAT naquele ano. Supondo que esse custo se repita em 2010, representaria 12% do valor do Seguro, o que se afasta da idéia de cálculo atuarial de um Seguro.

Ao analisar os demais casos empresariais, observa-se que essa ausência de razoabilidade atuarial se repete em uma quantidade muito significativa de empresas, superior a 90% dos casos, comprovando que as novas mudanças provocaram distorções nos valores do Seguro.

(16)

3 Impactos do Reenquadramento do Risco Ambiental do Trabalho das Atividades Econômicas

Esse tópico demonstrará o impacto do reenquadramento das 1.301 atividades econômicas nas alíquotas do Risco Ambiental do Trabalho (RAT). Para tanto, apresentará simulações que estimam o aumento de arrecadação advinda dessa medida.

3.1 Aspectos Gerais

O reenquadramento das 1.301 atividades econômicas promovido pelo Anexo V do Decreto 6.957/2009 significa a redistribuição dessas atividades nas alíquotas do RAT, que podem ser de 1% (risco leve), 2% (risco médio) ou 3% (risco grave).

Três questões merecem destaque em relação a esse reenquadramento:

Foi promovido sem o necessário conhecimento por parte dos atores sociais interessados.

O ato administrativo que o promoveu não atende de maneira adequada aos princípios da transparência e da motivação. Isto é, o Decreto 6.957/2009 apenas informou as novas alíquotas de risco por atividade econômica, sem divulgar os critérios utilizados para reenquadrar as atividades em risco leve, médio ou grave, bem como as estatísticas e os cálculos que fundamentaram a majoração da alíquota do RAT para dois terços das atividades econômicas.

Provocará um elevado e injustificado aumento de despesas para as empresas e de arrecadação para a Previdência Social.

A Figura 1 apresenta um comparativo entre o Decreto 6.042/2007 e o Decreto 6.957/2009 quanto à distribuição das atividades econômicas nas alíquotas RAT.

(17)

Quantidade de Atividades Econômicas Reenquadradas por Risco

626

536

180 138

391

730

0 100 200 300 400 500 600 700 800

1% (Risco Leve) 2% (Risco Médio) 3% (Risco Grave) Até 2009 (Decreto 6.042/2007) A partir de 2010 (Decreto 6.957/2009)

Figura 1 – Distribuição das atividades econômicas por alíquotas de risco – Comparativo entre os Decretos 6.042/2007 e 6.957/2009.

A Figura 1 demonstra que até o final de 2009, quando vigorava Decreto 6.042/2007, apenas 138 (10,6%) atividades econômicas eram de risco grave e pagavam alíquota de 3%. Após a publicação do Decreto 6.957/2009, 730 (56,1%) atividades passaram a ser classificadas como risco grave e pagarão alíquota RAT de 3%.

O gráfico apresentado na Figura 2 aponta que dois terços das atividades econômicas tiveram a alíquota RAT elevada, 29% (379) permaneceram no mesmo patamar e apenas 4% (55) tiveram os riscos associados diminuídos.

Reenquadramento das Alíquotas RAT

55 4%

379 29%

866 67%

Redução Constante Aumento

Figura 2 – Deslocamentos derivados do reenquadramentos das atividades econômicas na alíquota RAT

(18)

Com base na figura 1, das 1.301 atividades econômicas, 866 tiveram a alíquota majorada. Isto significa que empresas pertencentes a 67% das atividades econômicas terão aumento de custos. Destas 866 atividades cujas alíquotas RAT foram elevadas após o reenquadramento, a Figura 3 demonstra que 27% sofreram aumento de 200%

na alíquota, 29% sofreram aumento de 100% e 44% aumento de 50%.

Majoração das Aliquotas RAT

383 44%

247 29%

236 27%

2 para 3 1 para 2 1 para 3

Figura 3 – Reenquadramento das atividades econômicas que sofreram elevação da alíquota RAT

3.2 As distorções do reenquadramento

O objetivo desse tópico é demonstrar a necessidade de maior razoabilidade e transparência no enquadramento das atividades econômicas nos diferentes graus de riscos RAT. Como a metodologia adotada e os cálculos que levaram ao reenquadramento de cada setor não foram divulgados de forma clara pelo MPS à sociedade, a grande quantidade de inconsistências não possibilita inferir, a partir de processos dedutivos , os critérios utilizados..

A Tabela 3 apresenta exemplos de atividades econômicas que tiveram suas alíquotas majoradas em 200% (1% para 3%) ou 100% (1% para 2%). Esses e diversos outros exemplos permitem observar que a medida impactará negativamente setores com grande número de empregos, além de atingir setores em que não há, à primeira vista, motivo para enquadramento em risco grave, reforçando a fragilidade do método que suporta tais mudanças.

(19)

Tabela 3 – Exemplos de Atividades Econômicas reenquadradas em 100% e 200%

200% de Aumento

Agências matrimoniais Decoração de interiores

Aluguel de fitas de vídeo, DVDs e similares Exploração de boliches

Atividades de exibição cinematográfica Fabricação de caminhões e ônibus Atividades de organizações associativas patronais e

empresariais Fabricação de componentes eletrônicos

Atividades de organizações associativas profissionais Fabricação de motocicletas, peças e acessórios Atividades de profissionais da nutrição Gestão e manutenção de cemitérios

Atividades funerárias e serviços relacionados não

especificados anteriormente Lanchonetes, casas de chá, de sucos e similares Bares e outros estabelecimentos especializados em servir

bebidas Lojas de departamentos ou magazines

Centros de apoio a pacientes com câncer e com AIDS Marketing direto

Chaveiros Medição de consumo de energia elétrica, gás e água

Comércio atacadista de materiais de construção em geral Padaria e confeitaria com predominância de produção própria

Comércio varejista de bebidas Reparação e manutenção de computadores e de equipamentos periféricos

Comércio varejista de combustíveis para veículos

automotores Securitização de créditos

Comércio varejista de doces, balas, bombons e

semelhantes Serviços de arquitetura

Comércio varejista de hortifrutigranjeiros Serviços de engenharia

Comércio varejista de materiais de construção em geral Serviços de tradução, interpretação e similares Compra e venda de imóveis próprios Transporte metroviário

100% de Aumento

Administração de cartões de crédito Filmagem de festas e eventos Atividades de consultoria e auditoria contábil e tributária Hotéis

Atividades de organizações religiosas Laboratórios clínicos

Atividades de terapia ocupacional Locação de automóveis sem condutor

Cabeleireiros Motéis

Comércio varejista de calçados Orfanatos

Consultoria em publicidade Produção de gás; processamento de gás natural Consultoria em tecnologia da informação Salas de acesso à internet

Corretagem no aluguel de imóveis Serviço de inseminação artificial em animais Desenvolvimento e licenciamento de programas de

computador customizáveis Serviços de acabamentos gráficos

Educação infantil – creche Serviços de dublagem

Ensino de esportes Serviços de funerárias

Fonte: Decreto 6.957/2009.

A única informação disponibilizada pelo Ministério da Previdência Social com relação à metodologia de reenquadramento do risco das atividades econômicas está no Anexo I da Portaria Interministerial nº 254, de 24 de setembro de 2009. Essa portaria dispõe sobre a publicação dos róis de percentis de freqüência, gravidade e custo, por atividade econômica, considerados para o cálculo do Fator Acidentário de Prevenção - FAP.

(20)

Entretanto, não há clareza sobre o que significa tal informação e tampouco foram divulgados a metodologia e os cálculos em cada atividade econômica. Esse ponto evidencia a necessidade de haver diálogo entre governo e entidades empresariais, a fim de se entender a metodologia aplicada e promover as melhorias e correções pertinentes.

A Figura 4, formulada com base nos dados disponibilizados, indica a divergência no reequadramento de algumas atividades com índices de freqüência, gravidade e custo similares. Há uma série de situações de difícil compreensão quando se busca fazer comparação entre os índices apresentados.

Figura 4 – Atividades econômicas selecionadas no Anexo I da Portaria Interministerial 254, de 24 de setembro de 2009.

No primeiro quadro da Figura 4, os percentis do segmento das caixas econômicas são bem mais elevados do que os das tinturarias. Entretanto, este segmento sofreu variação de 200% na alíquota RAT, ao tempo em que o primeiro reduziu 33%.

O segundo quadro indica, por sua vez, que as atividades de fabricação de roupas de proteção, facção de roupas profissionais e de produção teatral, que possuem índices de freqüência, gravidade e custo exatamente iguais, sofreram reequadramentos distintos. É notável, portanto, a ausência de clareza metodológica para a elevação da alíquota RAT dessas atividades econômicas.

(21)

3.3 Impactos do Reenquadramento sobre as Empresas e a Arrecadação da Previdência Social

Não há dúvida de que o reenquadramento do risco das atividades econômicas terá impacto positivo sobre a arrecadação da Previdência Social. Embora somente o Ministério da Previdência possa responder com precisão quanto a mais será revertido aos cofres públicos, as estimativas apresentadas a seguir possibilitam dimensionar esse impacto.

As estimativas foram elaboradas com base no Decreto 6.957/2009 e em informações do Cadastro Industrial da CNI (número de empregados, número de empresas e folha de pagamento por atividade econômica).

Foram adotadas também algumas regras (convergentes com as adotadas no SAT):

As empresas optantes do SIMPLES Nacional foram excluídas.

No caso de empresas com mais de um estabelecimento, a atividade econômica considerada foi a do estabelecimento com maior número de empregados.

O número de empregados de cada empresa corresponde à soma dos empregados de todos os seus estabelecimentos.

Foram consideradas apenas as atividades econômicas que recolhem o SAT, expurgando-se da base as atividades rurais, por exemplo.

A primeira estimativa, apresentada na Tabela 4 e na Figura 5, consiste na comparação do enquadramento das atividades econômicas entre 2009 e 2010, utilizando como critérios o número de empresas, número de empregados e o montante estimado da folha de pagamento.

Tabela 4 – Comparativo da distribuição entre alíquotas do RAT nos Decretos 6.042/2007 (para 2009) e 6.957/2009 (para 2010).

Alíquotas do RAT (SAT)

1% 2% 3%

Critérios de segmentação

2009 2010 2009 2010 2009 2010

Número de Empresas 58% 13% 23% 54% 19% 33%

Número de Empregados 40% 4% 39% 47% 21% 48%

Montante da Folha de Pagamento Estimada 23% 3% 52% 34% 25% 63%

(22)

Considerando somente a folha de pagamentos estimada - pois sobre ela é calculado o RAT Ajustado - vê-se que o percentual da folha tributada em 3% sobe de 25%, em 2009, para 63%, em 2010. De outro lado, o percentual da folha de pagamentos com alíquota RAT de 1% é reduzido de 23% para apenas 3%. Em relação ao total de empresas, 58% pagavam em 2009 a alíquota de 1%, sendo que em 2010 serão 13%.

A Figura 5 apresenta três gráficos a partir das porcentagens da tabela anterior, mostrando a comparação do enquadramento das atividades econômicas até 2009 e com seu status a partir de 2010, para número de empresa, número de empregados e montante da folha de pagamento.

Variação de Empresas

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

2009 2010 2009 2010 2009 2010

1% 2% 3%

Variação de Empregados

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

2009 2010 2009 2010 2009 2010

1% 2% 3%

Variação da Folha de Pagamento

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

2009 2010 2009 2010 2009 2010

1% 2% 3%

Figura 5 – Gráficos comparativos da distribuição entre alíquotas do RAT até 2009 (Decreto 6.042/2007) e a partir de 2010 (Decreto 6.957/2009).

(23)

Com base na tabela anterior, pode-se aplicar um exercício para demonstrar o aumento na arrecadação da Previdência e, conseqüentemente, de custos para o conjunto das empresas. Como o Seguro é calculado a partir da aplicação da alíquota RAT sobre a folha de pagamento, o exercício consiste em mensurar da variação de arrecadação de 2009 para 2010, a partir a multiplicação da participação percentual da folha de pagamento por cada uma das respectivas alíquotas RAT de 2010 - [(3% x 1%) + (34% x 2%) + (63% x 3%)] – e, dividir pela mesma multiplicação de 2009 - [(23% x 1%) + (52% x 2%) + (25% x 3%)]. Desse modo, obtêm-se uma estimativa da variação do valor do Seguro a ser recolhido pelas empresas.

Conclui-se que a simples distribuição das empresas após o reenquadramento nas alíquotas de RAT provoca aumento aproximado de 28,7% na arrecadação.

Na Tabela 5 busca-se analisar o impacto do reenquadramento pelo Decreto 6.957/2009 das alíquotas do RAT, em relação à variação de alíquotas de acordo com as respectivas atividades econômicas no tocante a quantidade de empresas, quantidade de empregados e o montante da folha de pagamento. É mostrado o percentual de empresas, empregos e folha que foram majorados, mantidos constantes ou beneficiados pelas mudanças.

Variação da Arrecadação de 2009/2010 Fórmula:

Variação = [(3% x 1%) + (34% x 2%) + (63% x 3%)] = 28,7%

[(23% x 1%) + (52% x 2%) + (25% x 3%)]

Só o reenquadramento provoca um aumento de 28,7% na arrecadação.

(24)

Tabela 5 – Comparativo da Variação de Alíquotas com base no Decreto 6.957/2009.

Critérios de Segmentação Majoração de

Alíquota Constante Redução de Alíquota

Atividades Econômicas (CNAE) 67% 29% 4%

Número de Empresas 60% 26% 14%

Número de Empregados 56% 38% 6%

Montante da Folha de Pagamento

Estimada 56% 40% 4%

Ou seja, comparou-se a situação vigente em 2010 com a de 2009, utilizando-se número de empresas, quantidade de empregados e montante estimado da folha de pagamento das atividades econômicas, e segregando-se as que tiveram majoração de alíquota (1% para 2%, 1% para 3% e de 2% para 3%), as que permaneceram com a mesma alíquota e as que obtiveram redução em suas alíquotas de risco (3% para 1%, 3% para 2% e 3% para 2%).

O principal ponto a ser observado na tabela são os dados relativos à folha de pagamento, base de cálculo do Seguro. Observa-se que 56% do montante total da folha teve aumento de 50%, 100% ou 200% no SAT, enquanto 40% permaneceu com a mesma alíquota e apenas 4% da folha teve redução.

Observa-se ainda que, somente no tocante ao reenquadramento, 60% das empresas sofrerão majoração no valor a ser pago de SAT, enquanto apenas 14% sofrerão redução. Considerando um total de 950 mil empresas que pagam o SAT, o aumento atingirá 570 mil empresas.

“Só uma pequena parte das empresas pagará mais. Isso quer dizer que essas empresas precisam investir mais em saúde e segurança no trabalho.” - representante do MPS – Folha de SP, 26/01/2010.

(25)

4 Impactos do Fator Acidentário de Prevenção (FAP)

A segunda alteração promovida pelo “Novo Seguro Acidente de Trabalho” foi a implantação do Fator Acidentário de Prevenção (FAP). Conforme já mencionado, o FAP varia entre 0,5 (meio) e 2 (dois), e foi criado para diferenciar a alíquota a ser paga pelas empresas pertencentes a uma mesma atividade econômica, em função da atenção dispensada à segurança e à saúde do trabalhador.

Por seu conceito, presume-se que as empresas mais eficazes na prevenção a acidentes do trabalho e doenças ocupacionais seriam bonificadas, ao tempo em que aquelas com índices altos de acidentalidade sofreriam penalização.

4.1 Bonificação e Penalização no FAP

Durante as discussões sobre a implantação do FAP, o Ministério da Previdência Social divulgou um gráfico com a demonstração do impacto da aplicação do FAP sobre as empresas. A leitura desse gráfico, reproduzido na Figura 6, leva às seguintes conclusões:

De cerca de 4,3 milhões de empresas, 3,3 milhões estão enquadradas no SIMPLES Nacional e, portanto, não recolhem SAT;

As empresas sujeitas à aplicação do FAP somam 952.561, entre as quais:

o 879.933 seriam bonificadas; e

o Apenas 72.628 sofreriam penalização.

O resultado da aplicação do FAP seria, portanto, extremamente positivo, uma vez que beneficiaria 92% das empresas sujeitas à sua aplicação e incentivaria as demais a adotar novas ações para assegurar saúde e segurança a seus trabalhadores. E mais importante, o FAP não deveria impactar na arrecadação. Foi diante desse contexto que as Resoluções que regulamentam o FAP foram aprovadas pelo Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS).

(26)

Figura 6 – Resultados da aplicação do FAP divulgados pelo Ministério da Previdência Social

Entretanto, somente após a implementação do FAP foi possível identificar alguns problemas em sua metodologia:

A bonificação é, em geral, muito pequena; a penalização, em contrapartida, é severa e afeta principalmente as grandes empregadoras.

Ainda que empresas sejam beneficiadas pela aplicação do FAP, esse efeito pode ser revertido em prejuízo, quando analisado em conjunto com o reenquadramento das atividades econômicas nas alíquotas RAT (analisado no capítulo anterior). Ou seja, se 67% das atividades econômicas sofreram aumento de 50%, 100% e 200% nas alíquotas RAT, praticamente de nada adianta que as empresas pertencentes a essas atividades sejam bonificadas pelo FAP nos moldes em que ocorreram.

Como “efeito colateral”, a instituição do FAP pode desestimular as empresas a registrarem Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT), que apesar de serem uma obrigação legal, contribuem para aumentar de forma expressiva o FAP da empresa. As subnotificações prejudicariam outras políticas e mascararia a situação real de Segurança e Saúde do Trabalho.

(27)

O FAP considera os acidentes de trajeto e não se atém à idéia expressa na lei de que deve buscar estimular melhor desempenho da empresa em relação ao seu ambiente de trabalho

A metodologia adotada para o FAP não é coerente com o seu objetivo, pois simplesmente provoca uma punição para empresas que empregam muito.

Por fim, apenas após a terceira republicação do extrato do FAP das empresas pelo MPS, em 28 de outubro de 2009, foi possível verificar que empresas sem registro de qualquer acidente ou doença do trabalho – cujo FAP deveria ser 0,5 (FAP mínimo) – apresentavam números muito superiores.

A explicação para as incoerências encontradas é complexa e somente foi percebida após a disponibilização de “Perguntas e Respostas” do FAP, no sítio do MPS na internet, em 24 de novembro de 2009. Esse documento divulga técnicas e fórmulas utilizadas pelo Ministério - estranhas ao marco legal - que provocam a elevação do FAP.

A resposta à ‘Pergunta 67’ do documento esclarece duas dessas incoerências: a primeira consiste no que foi denominado ‘Regra dos Empates’7 e a segunda,

‘Majoração do FAP’. Em resumo, essas regras explicariam, por exemplo, o fato de um escritório de advocacia que não registrou acidentes ou doenças ocupacionais ter FAP de 0,9935, que corresponde a um desconto inferior a 1% (0,65%) e/ou ainda as empresas ligadas a construção de edifícios, também sem acidentes, que tiveram desconto de apenas 11,63%. Em ambos os casos o desconto deveria ser 50%.

Uma das hipóteses levantadas é que as mudanças que reduziram as bonificações ocorreram em função de a grande maioria das empresas não ter ocorrências de acidentes e doenças. Diante disso, se receou que ao aplicar o FAP 0,5 a todas elas, o resultado gerasse redução na arrecadação. Conforme será demonstrado, da forma como a metodologia está colocada, este efeito não ocorreria mesmo com o FAP igual a 0,5.

7 Ver ‘Regra de Empates’ e ‘Majoração do FAP’ em detalhes no anexo 1.

(28)

4.2 Decifrando a metodologia do FAP

Com o objetivo de compreender os critérios de aplicação do FAP às empresas, serão apresentadas a seguir as análises construídas com base nas estimativas e dados disponibilizados no Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) de 2008 e em apresentação feita pelo MPS durante as reuniões do Conselho Nacional da Previdência Social – CNPS (ver Figura 6).

O primeiro desafio é estimar o índice de acidentalidade e de afastamentos nas empresas, sendo importante ressaltar que este exercício não permite resultados precisos, mas sim uma boa análise da situação.

• Análise de Freqüência de Acidentalidade nas Empresas

Segundo os dados do AEPS, foram registrados em 2008 um total de 747.663 mil acidentes ou doenças do trabalho nas 4,3 milhões de empresas, o que significa uma média de 1 acidente a cada 5,7 empresas. No entanto, admitindo-se que empresas intensivas em mão de obra concentram mais acidentes, pode-se considerar, por inferência e para efeito de estimativa, que a média de empresas com acidentes, por exemplo, seja de 1 a cada 10 empresas (ao invés de 1 a cada 5,7 – só o MPS tem este dado exato). Ou seja, 10% do total das empresas teriam ocorrências de acidentes ou doenças. Considerando essa média, pode-se estimar que cerca de 430 mil empresas tenham ocorrências. Se metade delas forem empresas do SIMPLES Nacional, teríamos 215 mil empresas que pagam SAT com pelo menos uma ocorrência. Considerando que temos 950 mil empresas que pagam SAT, teríamos cerca de 735 mil empresas sem ocorrências de acidentes e/ou doenças do trabalho e que, portanto, deveriam ter FAP igual a 0,5.

• Análise de Afastamentos com Benefícios Previdenciários nas Empresas

Completando essa análise tem-se, em relação aos afastamentos acima de 15 dias que geraram benefícios, segundo o AEPS de 2008, um total de 377.001 ocorrências, o que resulta uma média de 1 acidente a cada 11,37 empresas (dividiu-se 4,3 milhões de empresas pelo total de ocorrências). De forma análoga, se considerarmos por

(29)

inferência que 1 a cada 20 empresas tenham uma ou mais ocorrências com afastamentos, chega-se a cerca de 215 mil empresas que geraram custos a Previdência em razão da concessão de benefícios. Se metade dessas empresas estivessem entre as que pagam SAT, teríamos 107,5 mil empresas que tiveram afastamentos com benefícios, ficando 843 mil destas empresas sem ocorrências com gravidade e custos.

Portanto, conforme dito, supõe-se que estes números motivaram o uso de artifícios não previstos e que aumentaram o FAP de todas as empresas bonificadas, reduzindo de forma expressiva os descontos no pagamento do SAT.

• Conseqüência da fórmula do FAP

Outro aspecto a destacar diz respeito à distribuição das empresas de acordo com os seus respectivos FAPs. A fórmula do FAP é dada pela multiplicação do Percentil de Freqüência (Pf), Percentil de Gravidade (Pg) e Percentil de Custo (Pc), conforme demonstrado a seguir:

02 , 0 ) 15 , 0 ( ) 50 , 0 ( ) 35 , 0

( × + × + × ×

= Pf Pg Pc

FAP

A metodologia baseada no percentil prevê que as todas as empresas de uma mesma atividade econômica sejam colocadas em três filas especificas, ordenadas do menor para o maior.

Esse enfileiramento é feito com base, respectivamente, nas fórmulas que geram o índice de freqüência dos acidentes e doenças do trabalho, o índice de gravidade dos afastamentos e o índice de custo para a Previdência com os afastamentos dos trabalhadores. Se não há acidentes na empresa, o seu índice de freqüência é zero.

Quando não há custo e/ou gravidade os valores também são zero.

0 100

Empresas enfileiradas pelos seus Índices de Frequência

Empresa D

Empresa B Empresa G Empresa I Empresa J

Empresa C Empresa E Empresa F Empresa H

Empresa A

Atividade Econômica XX

(30)

O problema da metodologia adotada pelo MPS está na forma que é feito esse ordenamento, denominado de percentil. As empresas têm seu FAP calculado pela posição percentual na fila frente a todas as demais para cada um dos índices. Se, quando a Previdência fizer o ordenamento, a empresa estiver mais no final da fila, maior será o percentil que irá receber. Isto pode ser visto na ilustração a seguir em que uma empresa com 3 ocorrências que ter seu Índice de Freqüência (If) calculado obteve 9 como resultado, ao ser comparada as demais ficou próxima ao final da fila, com percentil 92,25. É este o valor a ser considerado na fórmula do FAP.

Desse modo, empresas que possuem índices de freqüência maiores e, especialmente, índices de gravidade e custo maiores, serão deslocadas para o final da fila. Quanto maior for o percentil, maior será o valor do FAP8.

Contudo, como não há uma uniformidade na distribuição do tamanho das empresas numa mesma atividade econômica, qualquer empresa que concentre um número maior de trabalhadores que a média das demais tende, naturalmente, a ter mais ocorrências de acidentes ou doenças do trabalho, alguns deles gerando afastamentos por mais de 15 dias. Diante disso, empresas maiores tendem a ser automaticamente deslocados para o final da fila. Por estarem mais ao final fila, terão necessariamente um FAP maior que 1, com raras exceções.

Utilizando como exemplo a atividade econômica de construção civil, pode-se, por hipótese, imaginar que existam 1.000 empresas, sendo 950 pequenas e 50 médias ou grandes. Como a chance de acidentes em uma empresa com 20 trabalhadores é muito

8 O anexo 1 tem uma informação detalhada de como ocorre este cálculo

0 100

92,25 (If=9)

Percentil de Ordem de Frequência

4340

(31)

menor do que em uma empresa de 4.000 trabalhadores, provavelmente as pequenas empresas ocuparam os primeiros lugares nas filas de freqüência, de gravidade e de custos. Nesse sentido, basta apenas uma ocorrência com afastamento, ou seja, com gravidade e custos, para que os grandes empregadores sejam posicionados no final da fila e tenham, portanto, o FAP muito alto.

Fruto desta distorção, as empresas maiores vão para próximo do FAP ´2`. Também como conseqüência desta fórmula, muitas empresas sem acidentes ficam abaixo de 1, porém pelo uso da ‘Regra de Empates’, há uma concentração de empresas com FAP bem próximo a ‘1’.

A Figura 7 busca demonstrar a distribuição da quantidade de empresas desses dois grupos, de acordo com seu FAP, considerando o intervalo de 0,5 a 2.

Figura 7 – Estimativa da distribuição da quantidade de empresas por fator do FAP A partir da figura acima se observam três situações mais evidentes, para o intervalo entre 0,5 e 29:

• As 879.933 empresas bonificadas estão no intervalo entre 0,5 e 1, havendo poucos empregadores grandes ou médios entre estas. A grande concentração de empresas ocorre próximo do “1” e, em geral, são empresas pequenas que não possuem ocorrências10.

9 Conforme dito anteriormente, apenas em 2010, as empresas com FAP maior que 1 receberão desconto de 25% do que passar de um. Assim, uma empresa com FAP calculado em 1,8 receberá 25% de desconto no 0,8 – que é o que passou de 1 – e ficará com FAP 1,6.

10 A explicação para este fenômeno está na aplicação da “Regra de Empates”, já citada anteriormente.

(32)

• As empresas com poucas ocorrências, mas sem afastamentos e, portanto sem custos para a Previdência - que pela simulação descrita anteriormente seriam cerca 100 mil -, tendem a ficar no intervalo entre 0,9 e 1,3.

• As empresas com pelo menos uma ocorrência com afastamento e que, portanto, geraram custo para a Previdência, tendem a ficar mais à direita do FAP, entre 1,3 e 2, com uma concentração significativa entre 1,6 e 1,85. Sem dúvida, a grande massa de empresas nesta situação são grandes e médias empregadoras, que possuem número expressivo de funcionários e, apesar de todo o trabalho preventivo, pela lógica, dificilmente não registram pelo menos uma ocorrência com afastamento.

Outro aspecto a ser considerado e que demonstra a distorção está no fato das médias e das grandes empresas normalmente já desenvolverem trabalhos de prevenção de acidentes, como programas de saúde e segurança no trabalho. Este processo de melhoria no tratamento da questão vem ocorrendo progressivamente ao longo dos últimos anos. Como conseqüência – e até por força da lei, que obriga as empresas a terem engenheiros de segurança e médicos do trabalho –, as médias e grandes empresas já vêm buscando reduzir os acidentes de trabalho, inclusive com baixa subnotificação de CATs. Infelizmente, as micro e pequenas empresas possuem menos informação sobre a questão e menor capacidade e disponibilidade financeira para dar atenção às necessidades e manter programas similares.

Assim, ao punir propositadamente as grandes e não fazer nenhum trabalho de conscientização das menores, o FAP apresenta-se como metodologia de baixa efetividade para os propósitos apresentados.

“As alíquotas são baseadas nas informações sobre mortalidade, invalidez e acidente de trabalho e de trajeto dadas pelas próprias empresas. Quando cai um avião com representantes de empresas, por exemplo, essas mortes são contabilizadas e também interferem na alíquota de contribuição.” - representante do MPS – Folha de SP, 26/01/2010.

(33)

4.3 Simulação dos Impactos do FAP

A partir das considerações dos itens anteriores, a simulação do impacto do FAP apresentada a seguir utilizou a base da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), para estimar o número de empresas envolvidas, o número médio de funcionários e a remuneração média11. Cumpre ressaltar que as simulações realizadas possuem uma margem de erro que pode implicar numa pequena variação no aumento da arrecadação apresentado.

Contudo, as premissas e valores médios utilizados são conservadores, de forma a garantir segurança aos resultados. Por fim, destaca-se novamente que apenas o MPS possui as informações necessárias para efetuar os cálculos aqui simulados.

Para se chegar a uma estimativa próxima à realidade, foram estabelecidas premissas para definir o número de empresas envolvidas e aplicados alguns filtros, a fim de excluir da base empresas isentas e setores que não recolhem SAT (a exemplo do setor rural e dos governos municipais, estaduais e federal). Para o cálculo da remuneração média foi utilizada a informação “Remuneração do Trabalhador em Dezembro (nominal) de 2008”.

Definidos esses requisitos, foi realizada a tabulação dos dados pelas faixas do tamanho das empresas, de acordo com o número de vínculos (funcionários). Em seguida, foi calculado o número de empresas, o número de vínculos e média salarial de duas faixas: bônus e malus. Considerou-se que empresas punidas são, em geral, as maiores, pelas razões já expostas neste documento, e empresas menores seriam as bonificadas.

Assim, a faixa de bônus teria 879.933 empresas e a faixa de malus, 72.628.

Tabela 6 – Empresas, Empregados e Remuneração por Faixa Selecionada Faixa Número de

Empresas

Média de Vínculos

Média Salarial

(R$)

Vínculos (funcionários)

Massa Salarial em Dezembro (R$) Bônus 879.933 12,56 999,57 11.052.050 11.047.310.782,90 Malus 72.628 195,24 1.580,10 14.180.015 22.405.892.193,57

11 Salienta-se não ser possível utilizar outra base de dados disponível, pois os dados necessários para uma simulação acurada só podem ser fornecidos pelo MPS.

(34)

A figura 8 busca demonstrar visualmente o impacto das duas faixas em termos de massa salarial, com base no resultado da Tabela 7. Como se vê, a primeira faixa de bônus (em lilás) encontra-se mais próxima do FAP ‘1’e a segunda faixa (em laranja), mais próxima do FAP ‘2’. Isto é, mesmo que o número de empresas da faixa de malus seja 12 vezes menor, o montante de sua massa salarial é duas vezes maior em relação ao bônus. E é sobre a massa salarial que recai o cálculo do FAP e não sobre o número de empresas.

Figura 8 – Impacto da aplicação do FAP no aumento de arrecadação

A partir da tabela 7, é possível fazer uma simulação de impacto da aplicação do FAP sobre a arrecadação da Previdência, isolada dos efeitos relativos ao reenquadramento das alíquotas de RAT, descritos no item 3.3 desse documento. Para isso, considerou-se que sobre a massa salarial das empresas no malus foi aplicado FAP de 1,512. No caso das empresas bonificadas, considerou-se um FAP médio de 0,9, a ser aplicado sobre o conjunto da massa salarial do bônus.

A Tabela 8 demonstra a comparação “antes e depois” da aplicação dos FAPs médios.

Isto é, para cada uma das faixas, multiplicou-se o montante da massa salarial pelo FAP médio e verificou-se a variação entre antes e depois da aplicação. Assim, somente com a aplicação do FAP, mesmo que 92% das empresas tenham FAP menor que ‘1’, haveria um aumento de arrecadação de 30,2%.

12 Este número pode ser considerado conservador e visa compensar algumas distorções produzidas pelas premissas utilizadas no processo de simulação.

(35)

Tabela 7 – Estimativas de aplicação do FAP

Vínculos (Funcionários) Faixas

Número de

Empresas Média Total Salário Médio (R$)

Massa Salarial (R$)

FAP

Médio FAP Aplicado

Bônus 879.933 12,56 11.052.050 999,57 11.047.310.782,90 0,90 9.942.579.704,61 Malus 72.628 195,24 14.180.015 1.580,10 22.405.892.193,57 1,50 33.608.838.290,35

Total 952.561 25.232.065 33.453.202.976,46 43.551.417.994,96

Variação entre Massa Salarial e FAP Aplicado 30,2%

No entanto, se considerarmos que a arrecadação da Previdência já foi elevada em 28,7% em decorrência do reenquadramento das alíquotas do RAT (conforme demonstrado no capítulo 3 desse documento), e sobre esse aumento aplicarmos a variação do FAP de 30,2%, chega-se a um aumento total de arrecadação de 67,5%.

Esse valor decorre do fato de a alíquota final do SAT (RAT Ajustado) ser uma multiplicação do RAT, que majora a arrecadação em 28,7%, pelo FAP, que majora em 30,2%.

Considerando-se que as simulações utilizaram valores conservadores, conforme já mencionado, há probabilidade deste aumento em 2010 ser superior a R$5 bilhões, o que corresponde a mais de 60%.

Variação da Arrecadação de 2009/2010 Fórmula:

Variação do Valor Total Arrecadado = (Variação do RAT x Variação do FAP) Considerando-se variação do RAT de 28,7% e do FAP de 30,2%, tem-se:

Variação do Valor Total Arrecadado = (28,7% x 30,2%) = 67,5%

Arrecadação do SAT estimada pela Previdência em 2009 é de R$ 8,1 bilhões.

Ao aplicar essa variação, estima-se que a arrecadação subirá para R$ 13,6 bilhões em 2010.

O aumento de arrecadação será de R$ 5,5 bilhões no primeiro ano.

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5 Receitas e Despesas no Seguro Acidente de Trabalho

A política do “Novo Seguro Acidente de Trabalho” provocará, conforme demonstrado nos tópicos anteriores, o aumento expressivo na arrecadado do SAT, contrariando as expectativas iniciais.

Surgiram então justificativas para este aumento. A principal foi necessidade de compensar o alegado “déficit” na conta do SAT, provocado pelo aumento dos “custos”

dos acidentes de trabalho.

Esse capítulo questiona o formato da conta apresentada pelo MPS, que leva à avaliação equivocada das informações. Faz também a análise do aumento de arrecadação e das despesas, e da variação nos registros de acidentes e doenças de trabalho nos últimos anos.

5.1 A conta do Seguro Acidente de Trabalho

O MPS apresenta que a “conta do SAT” possui sucessivos “déficits” e a estimativa para 2009 é ter um “prejuízo” de R$ 4,2 bilhões.

Figura 9 – Receitas e Despesas anual do SAT – Fonte: Ministério da Previdência Social

Referências

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