RESISTÊNCIA E COMPRIMENTO DA PLUMA DO ALGODOEIRO HERBÁCEO CULTIVADO COM BIOSSÓLIDOS
Juarez Paz Pedroza (UFCG / juarez@deag.ufcg.edu.br), Adrianus C. van Haandel (UFCG), Napoleão E. de M. Beltrão (Embrapa Algodão), Jair Alves Dionísio (UFPR), Josivanda P. G. de Gouveia (UFCG). RESUMO - Em condições de casa de vegetação do Centro Nacional de Pesquisa do algodão (Embrapa Algodão), estudaram-se os efeitos de doses crescentes de lodo de esgoto, caleado à 50%ST – biossólido, (equivalentes a 0, 60, 100, 200, 250 e 300kg. ha-1 de N.), sobre a resistência e
comprimento da pluma do algodoeiro herbáceo, variedade CNPA 8H. O delineamento experimental utilizado foi em blocos ao acaso com 6 tratamentos e 5 repetições, totalizando 30 unidade experimentais. Cada unidade experimental constitui-se de vaso plástico de 90 dm3 que receberam 70
dm3 de solo. Com os resultados obtidos verificou-se efeito significativo pelo teste F, a 1% de
probabilidade, das doses de biossólido sobre as variáveis estudadas. Com o desdobramento da análise de regressão, verificou-se um ajuste quadrático dessas variáveis em função das doses de biossólido. Da derivação das equações de regressão verificou-se que as doses de biossólidos equivalentes a 292 e 335 kg.ha-1 de N. proporcionaram o valor máximo para a resistência e o comprimento da pluma,
respectivamente.
Palavras-chave: biossólido; resistência, comprimento.
RESISTENCE AND LENGTH HERBACEOU COTTON PLUMAGE OF CULTIVATED WITH BIOSOLIDS
ABSTRACT - In greenhouse conditions at National Center for Research on Cotton (Embrapa Algodão) increasing doses effects were studied of sewage sludge (equivalents at 0, 60, 100, 200, 250, and 300 kg.ha-1), limided at 50%ST (biosolid), on the resistence and length of the cotton plumage, variety
CNPA 8H. The experimental design used was in casual blocks, wich 6 treatments and 5 replications, in a total of 30 experimental units. Each experimental unit, constituted of the plastic vase of 90 dm3 at
accepted 70 dm3 of soil. According to the results obtained remarkable effects were checked by test F at
level 1% of probabililty of the biosolid doses on the variables studied. With the unfolding of the regression, a quadratic adjust of the variables was chedked. The regression equations estimated biosolid doses equivalents to 292 kg N ha-1 and 335 kg N ha-1, proportionated the maximum value for
the resistence and length, respectively.
INTRODUÇÃO
A contaminação de corpos hídricos com matéria orgânica tem origem, principalmente nos esgotos domésticos e em águas residuárias das agroindústrias. Para que o esgoto não cause problemas ambientais e de saúde pública, é necessário que seja tratado antes do lançamento nos corpos receptores. Seguindo as tendências do crescimento dos índices de coleta e tratamento de esgotos, ocorrerá um crescimento proporcional de produção de lodo, cuja disposição final tem sido um problema para as ETE’s. As principais alternativas de disposição final do lodo são os aterros sanitários, a disposição oceânica, a incineração e a reciclagem agrícola que. A reciclagem agrícola, segundo Andreoli et al. (1994) e Tsutiya (1999), é a forma de disposição final que pode ser considerada mais adequada em termos técnicos, econômicos e ambientais, desde que convenientemente aplicada.
Dentre as alternativas de disposição final do lodo de esgoto, a reciclagem agrícola tem se constituído, segundo Neiva (1999), em uma das formas mais utilizadas em diversos países desenvolvidos (Dinamarca, 54%; França, 58%; Espanha, 50%). Esse resíduo é fonte de matéria orgânica (40%) e de nutrientes para as plantas (ROS et al., 1991) e age como corretivo da acidez do solo (BERTON et al., 1989; DIAS, 1994). Uma das alternativas para o uso de biossólido na agricultura seria no algodoeiro herbáceo, que tem grande importância na economia do Nordeste, uma vez que apresenta significativa contribuição para o produto interno bruto do País e para o emprego da mão-de-obra rural. O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito de diferentes doses de biossólido sobre a resistência e o comprimento da fibra do algodoeiro herbáceo.
MATERIAL E MÉTODOS
O lodo de esgoto, proveniente de Digestores Anaeróbios (UASB) e Aeróbios do PROSAB/DEC/CCT/UFCG, após caracterização química, física, microbiológica e de metais pesados, foi desinfectado com óxido de cálcio (CaO) à 50% ST, para a eliminação dos patógenos e maus odores. Duas horas, 15 dias e 40 dias após a calagem, o material foi submetido a análises bacteriológicas e parasitológicas, para garantir um manuseio e um uso agronômico seguros.
As análises químicas, físicas e de metais pesados foram feitas segundo metodologia descrita no Standard Methods for Examination of Water and Wastewater para lodos (AWWA, 1992). As análises bacteriológicas foram feitas pela técnica de Tubos Múltiplos (AWWA, 1992) e as análises parasitológicas, realizadas através da quantificação de ovos de helmintos e da viabilidade destes, foram feitas segundo a metodologia de Yanko (1987), reconhecida pela USEPA (1992) como técnica oficial para os Estados Unidos.
Em condições de casa de vegetação do CNPA/EMBRAPA (Campina. Grande, PB), os experimentos foram conduzidos utilizando o biossólido como fonte de nitrogênio para o algodoeiro herbáceo de sequeiro, representado pela cultivar CNPA 8H. A quantidade de biossólido em cada tratamento foi estimada em função do teor de nitrogênio presente em 100g de ST e na quantidade a ser mineralizada no ciclo da cultura.
Os tratamentos empregados foram: T1 (Testemunha - solo nas condições naturais), T2 (solo +
60 kgN.ha- 1), T3 (solo + 100 kgN.ha- 1), T4 (solo + 200 kgN.ha- 1), T5 (solo + 250 kgN.ha- 1) e T6 (solo +
300 kgN.ha- 1). No fundo de cada unidade experimental, que recebeu aproximadamente 70 dm3 de solo
(coletado da camada superficial: 0-30 cm), foram feitos dois furos, em extremidades opostas, que foram preenchidos com mangueiras (diâmetro = 0,5 cm) por onde foi drenado o excesso de água.
A água adicionada (água de abastecimento urbano) em cada unidade experimental foi, aproximadamente, correspondente à capacidade de campo do solo (Neossolo Regolítico). Cada unidade experimental recebeu 8 sementes e, quinze dias após a semeadura, foi feito o desbaste, deixando-se duas plantas por vaso, que foram conduzidas até o final do ciclo fenológico da cultura (135 dias).
A resistência e o comprimento da fibra do algodão foram mensurados pelo Instrumento de Alto Volume (HVI - High Volume Instruments), modelo 900, da Spinlab/Zellweger Uster), instalado no Laboratório de Fibras e Fios da EMBRAPA/CNPA.
O delineamento experimental adotado foi o de blocos ao acaso, com 6 tratamentos e 5 repetições e o programa estatístico utilizado foi o SAS.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 encontram-se os valores médios da resistência e do comprimento da fibra do algodão para os diferentes tratamentos testados e na Tabela 2 tem-se o resumo das análises de variância e de regressão dessas variáveis.
A resistência e o comprimento da fibra do algodão para a testemunha (T1) não foram avaliados
uma vez que a quantidade de pluma produzida nesse tratamento foi insuficiente para leitura no instrumento de alto volume (HVI). Quando da comparação com as características da qualidade física de fibra da cultivar CNPA 8H, verifica-se que os valores apresentados na Tabela 1 são superiores, evidenciando a boa resposta dessa cultivar à aplicação de biossólido. Observa-se, ainda na mesma Tabela, que o valor médio para a resistência foi de 28,77 gf/tex, classificando a fibra na categoria média, e o comprimento, de 29,74 mm 2,5% SL, classifica a fibra na categoria longa, de acordo com Santana e Wanderley (1995). Com o resumo das análises de variância (Tab. 2) percebe-se que houve efeito significativo dos tratamentos pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade para as variáveis avaliadas. O desdobramento da regressão permite afirmar que a resistência e o comprimento da fibra do algodão ajustaram-se aos modelos linear e quadrático pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade, não havendo, portanto, efeitos significativos dos tratamentos para os demais modelos testados. Embora ocorrendo efeitos linear e quadrático significativos dos tratamentos para essas variáveis, optou-se pela regressão quadrática para expressar os resultados em virtude dos valores mais elevados dos coeficientes de determinação (R2) observados. A resistência e o comprimento da fibra do algodão
em função das doses de biossólido estão representados na Figura 1. Analisando-se tal Figura, verifica-se que essas variáveis foram afetadas pelas doverifica-ses de biossólido, uma vez que, de uma maneira geral, aumentaram de acordo com a elevação das doses de biossólido. Todavia, saliente-se que houve um decréscimo dessas variáveis para as maiores doses empregadas, indicando que esse nutriente deve ser aplicado em doses adequadas para uma melhor resposta do algodão. Nesse sentido, estimou-se, através da derivada das equações de regressão, a dose de biossólido responsável pela obtenção do valor máximo da resistência e do comprimento de fibra (ponto de inflexão da curva), sendo de 292 e 335 kgN.ha-1, respectivamente.
Tabela 1. Valores médios da resistência.(gb.tex-1) e do comprimento (mm 2,5% S. L.) da fibra do
algodão.
Tratamento Resistência Comprimento T1 (0) T2(60) T3 (100) T4 (200) T5 (250) T6(300) - 25,35 29,30 29,26 29,96 30,04 - 28,70 29,88 29,88 29,96 30,34 Média 28,77 29,74 CNPA 8H 20,80 28,00
Tabela 2. Resumo das análises de variância e de regressão da resistência e do comprimento da fibra do algodão.(gb.tex-1) e do comprimento (mm 2,5% S. L.) de fibra do algodão.
Quadrado Médio F.V. GL Resistência Comprimento Blocos Tratamentos Linear Quadrática Polinômio 30 grau Polinômio 40 grau Polinômio 50 grau 4 5 1 1 1 1 1 22,14ns 855,28** 3.141,61** 911,40** 3,50ns 126,92ns 92,99ns 48,20ns 859,65** 3.107,54** 994,52** 10,00ns 103,71ns 82,44ns Resíduo 20 39,00 43,35 Total 29 C. V. 29,14 29,93
ns - Valores estatisticamente não significativos.
* -Valores estatisticamente significativos pelo teste F ao nível de 5% de probabilidade. ** -Valores estatisticamente significativos pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade.
A. y = 23,19 + 0,584x - 0,0001x2 R2 = 0,76** 20 25 30 60 110 160 210 260 310 360
Doses de biossolido (kgN.ha-1)
Resistencia (gb.tex
B.
Figura 1. Resistência (A) e comprimento (B) da fibra do algodão em função das doses de biossólido
CONCLUSÕES
1. O valor médio para a resistência foi de 28,77 gf/tex, classificando a fibra na categoria média, e o comprimento, de 29,74 mm 2,5% SL, classificando a fibra na categoria longa. Tais valores são superiores aos normalmente encontrados para cultivar CNPA 8H, que são, respectivamente 20,8 gf/tex e 28,0 mm 2,5% SL;
2. Houve efeito significativo dos tratamentos pelo teste F ao nível de 1% de probabilidade para as variáveis avaliadas;
3. As doses de biossólido equivalentes 292 e 335 kgN.ha-1 foram as responsáveis pela obtenção do
valor máximo da resistência e do comprimento de fibra do algodão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AWWA - AMERICAN WATER AND WASTEWATER ASSOCIATION. Standard methods for the examination of water and wastewater. 18.6h. Denver, 1992.
ANDREOLI, C. V.; SOUZA, M. L de P.; COMIM, J. J.; GIOPPO, P. J.; CASTILHO, D. S. B. Bases para uso do lodo de esgoto da ETE-Belém. In: SIMPÓSIO LUSO-BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 6, Florianópolis, 1994. Anais... Rio de Janeiro:. ABES, 1994. p. 389-419. BERTON, R. S.; CAMARGO, O. A.; VALADARES, J. M. Absorção de nutrientes pelo milho em resposta à adição de lodo de esgoto a cinco solos paulistas. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.13, n. 2, p.187-192, 1989.
DIAS, F. L. F. Efeito da aplicação de calcário, lodo de esgoto e vinhaça em solos cultivados com sorgo granífero (Sorghum bicolor L.). Jaboticabal: UNESP, 1994, 74p. Tese de Doutorado – UNESP.
y = 28,284 + 0,0134x - 0,00002x2 R2 = 0,73** 25 30 35 60 120 180 240 300 360
Doses de biossolido (kgN.ha-1)
Comprimento (mm 2,5% S. L.
NEIVA, M. R. Reciclagem agrícola de biossólidos da ETE Cetrel – uma experiência ambientalmente correta. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 20, 1999. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABES, 1999. p. 479-477.
ROS, C. O.; AITA, C.; CERETTAM, C. A.; FRIES, M. R. Lodo de esgoto: efeito imediato no milheto e residual na associação aveia-ervilhaça. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.17, p. 257-261, 1991.
SANTANA, J. C. F. de; WANDERLEY, M. J. R. Interpretação de resultados de fibra, efetuadas pelo instrumento de alto volume (HVI) e pelo finurímetro-maturímetro (FMT2).EMBRAPA/CNPA. Cominicado
Técnico, n. 41, p.1-9, 1995.
TSUTIYA, M. T. Tecnologias emergentes para a disposição final de biossólidos das estações de tratamento de esgotos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 20, 1999, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ABES, 1999. p. 762-770.
USEPA – UNITE STATE ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Control of pathogens and vector attraction in sewage sludge under 40 CFR part 503. Office of Water, Office of Science and Technology Sludge. Risk Assessment Branch. Washington, 1992. 147 p.
