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Repositório Institucional UFC: Uma vida dedicada ao rádio cearense, unindo jornalismo, diversão e política

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Academic year: 2018

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(1)

Uma vida dedicada ao rádio cearense,

unindo jornalismo, diversão

Narcélio faz de sua paixão pelo rádio receita para trabalhar

com prazer, de bem com a vida e em paz com a consciência,

em mais de 40 anos de profissão.

Entrevista com o radialista Narcélio Limaverde, dia 23/ 11 / 96 Text o de Abe rt ura:

Joana Dut r a

Produção, redação, e dição e t ext o final:

Ch aga s Cunha, Joana Dut r a e Adr i ano Muni z

Part icipação: Adr i ano Muniz, Al et héaM. Leit ão, Ch aga s Cunha, Fer nanda Tel es, Joana Dut ra. Juliana Sal om ão, Ki koBar r os. Paol a Fonseca, Pat r ícia Arruda, Ramir o Lout z, TarcianoRi car t o, Valdél io Muniz.

Foto: Arquivo.

o rá d io fez sua v ida. D a p o lítica traz m u i­

ta m ág o a. D a fam ília tem orgulho. E da

a n tig a F o rta le z a , u m a d o c e sau d ad e.

N arcélio S o b reira L im av erd e, 65 anos,

radialista há 4 4 , p a ra en tra r n as ondas d o rádio fez

co n cu rso , p a ra c h e g a r n a p o lític a foi pressionado.

D u ran te as d u as h o ras d e co n v ersa, o rad ialista d eu

espaço ao m arid o , q u e deu esp aço ao p ai, que ta m ­

b ém deu esp aço ao am ig o g rato aos q u e contribuíram

com a sua h istó ria. D eu esp aço a um po lítico fru s­

trado, cheio d e co n tro v érsia... m as p rincipalm ente

d eu espaço à em oção.

À m aio r d e su as reco rd açõ es b rin d o u com lá­

grim as. P ara fa la r d o m o m en to áu reo d e sua carreira,

N arcélio p reciso u d e água. “T raz um co p o d ’água

aí m u lh er!” , co m o se p ed isse socorro: o m om ento

lhe d era p restíg io ju n to à co m u n id ad e e u m a re a li­

zação p ro fissio n al in su p eráv el, o s p ro g ram as de

rád io feitos n o s bairro s d e F o rtaleza g arantiram

sucesso, g ló ria e m ilh ares d e votos. L á o radialista

se tran sfo rm av a em H o b b in H ood e ao s m ais p o b res

lev av a carteira d e id en tid ad e, aten d im en to odon-

to lógico, diversão...

Em su a casa, q u e d eix a claro n ã o estar aberta

a q u alq u er p esso a, recebe dez alu n o s e u m p ro fesso r

(n aquele m o m en to tam b ém aluno). S u a ansiedade

estav a estam p ad a n o olhar, na cam isa so ad a, na sa­

la esp ecialm en te arru m ad a co m fotos, m edalhas,

reco rtes de u m a v id a ligada ao rád io , co m tro p eço s

políticos. N o d iscu rso , as co n trad içõ es d e um hom em

q u e adm ite te r sido levado à p o lítica pela vaidade

m as não d eixa de co n sid erar v álid a su a experiência

n a A ssem b léia L egislativa.

D e N arcélio se o u v e rá d io , se resp ira rá d io .. .um

rádio da décad a de 3 0 que se tran sfo rm o u n as suas

m ais d e 4 d écad as de carreira. S u a h istó ria se con­

fu n d e co m a evolução do rádio. D o início lem bra o

am ad o rism o , a falta das e n g en h o cas da m o d ern i­

dade, d o s pro g ram as ao v ivo. D a atu alid ad e fala

co m orgu lh o de ser um sessen tão q u e ain d a tem

em prego. N arcélio L im av erd e é filho do radialista

José L im av erd e S o brinho d e q u em h erd o u o am or

p elas com unicações.

N a en trev ista-co n v ersa fala de p eito aberto.

D eix a aflo rar as co n trad içõ es e ch eg a a se p reo cu p ar

com a ló g ica do discurso, m as esco lh e o cam in h o da

sinceridade. Solta-se e se rev ela. R evela o radialista

apaixonado. D eixa claro o esp aço do rád io em sua

vida. N ão adm ite ter u tilizado tal m eio d e com u­

n icaç ão p a ra se eleger, m as ad m ite q u e dev em ter

u sad o p o r ele. A h istó ria do rád io cearen se teve

então n o alto d o pódium , em seu lu g ar d e destaque.

N o coração de um h o m em n ascid o p ara a co m u n i­

cação, n as histórias de um p erso n ag em q u e achou

q u e p o d ia do rádio se afastar... n ão pôde, não su­

p o rto u , n ão suportaram . A o rád io v o lto u integral-

m en te d e b raço s abertos d ep o is de d u a s d erro tas e

um m andato.

(2)

Narcélio Limaverde

Entrevista

A equipe d e pr odução c h e go u â ent r evi st a t od a d e sf al cad a. O Nicol au casou e da lua de mel nunca mais vol­ t ou. O Chagas quebr ou o car r o n o cam i n h o para a ent revist a. Res­ t ar am os gu e r r e i r o s Adr i ano e Joana.

Nar célio Um aver de nos recebeu em seu apar ­ t ament o, na aveni da Rui Barbosa, ás 9 hor as de um sáb ad o ensol a­ r ado para u m agr ad á­ vel bat e-papo, descon­ t raído e emocionant e.

Entrevista- Você entrou no rádio

por concurso público, incentivado por

uma amiga que disse que você tinha

uma voz bonita. Você acredita que

para trabalhar no rádio épreciso ter

alguma tendência, tipo voz, lingua­

gem? Ou o profissional pode ser mol­

dado?

N

arcélio - Q ualquer profissão

que apessoaqueira abraçar temque ter

vocação para o que vai fazeretem que

ter am or ao que faz. Porque o que se

faz com am or a gente faz bem. No

rádio do meu tem po, precisava ter

uma voz bem grossa, como o João

Ramos (radialista cearense já faleci­

do), o Almir Pedreira (locutor de rádio

e publicitário cearense já falecido),

Losan M arinho e Aderson Braz (locu­

tores de rádio), e eu não tinha essa voz

grossa. Mas eu consegui domar minha

voz. Vocês sabem alguma coisa da

minha vida, cu fui, inclusive, refugado

na Rádio Iracema, depois desse con­

curso, que eu fiquei em terceiro lugar

e com a prom essa de ser aprovei­

tado. Eu fui para Rádio Iracema,

eu comecei a pegar corda. Nessa

linguagem de rádio existe muito

“pegar corda”. Eu peguei corda

pensando que eu seria um bom

radialista. E fui para a Rádio Ira­

cema durante algum tempo, traba­

lhar de graça, porque nesse tempo

a gente com eçava trabalhando de

graça, e o Zé Parente, que era o

dono da Rádio Iracema me cha­

mou e disse: “Rapaz, desista que

você não dá para isso não!” . En­

tão, foi um choque. Eu acho que

não se deve dizer que uma pessoa

não serve para determinada coisa.

Entrevista- Você éfilho do radia­

lista José Limaverde Sobrinho. Isso

influenciou a sua infância?

N arcélio-N ão,geralm enteospais

não querem que os filhos continuem a

sua profissão. Pelo menos é isso que

eu penso. A não ser um médico de

sucesso, um advogado... Gcralm ente

eles querem, porque eles ganham muito

dinheiro. Na m inha época, o rádio no

tempo do meu pai eradiferente, era um

rádio mais amador, embora com muito

amor, e ele também nunca influiu na

minha vida. Tanto que eu meinscrevi

nesse concurso sem eie saber c cie não

teve qualquer interferência. Eu era

funcionário público, infelizmente. Eu

fui funcionário público durante algum

tem po— edigo infelizmente pelo que

está acontecendo agora (pausa). Um

dia, eu ligando para minha repartição,

atendeu dona M aria José Alcides

Campos, que c a viúva do M oreira

Campos (escritor e contista cearense,

já falecido). Elam e disse: “Narcélio, tu

tem a voz tão bonita, porque é que tu

não tenta o rádio como teu pai?” Aí foi

outra corda que eu peguei e, quando

apareceu o concurso, eu fiquei cm 3o

lugar. Oprimeiro foi Eduardo Feman-

des,q u eéo p ai do Will,(WiIl N oguei­

ra), que é o dirigente da FM V erdes

M ares, hoje em dia está afastado do

rádio, e o outro foi o Juarez Silveira

(locutor da RCN Assunção), que não

é o Juarez Silveira, um comunicador,

por sinal muito bom, que trabalha

atualmente, era um outro Juarez, que

formou-se em M edicina e era muito

melhor para ele ser médico do que ser

radialista. N isso foi que eu entrei b a ­

seado numapromessa de Paulo Cabral

de Araúj o, q ue era o diretor da época,

e, ao mesmo tem po, prefeito de For­

taleza. Ecom ele eu consegui entrar no

rádio e também por causa do doutor

M anelito Eduardo Pinheiro Campos,

Eduardo Campos, que ainda hoje em

dia dirige a PRE-9, a Ceará Rádio C u ­

be, e é um radialista membro da A ca­

demia de Letras. Eu digo muito isso...

Eu posso m e estender um pouco?

“ Eu acho que ninguém

deve recuar, quando

aparece um obstáculo

não. A gente tem é que

pular por cima do

obstáculo.”

Entrevista - Pode.

N arcélio - Eu digo muito isso,

porque na m inha geração, mesmo eu

tendo meu pai no rádio, que era um

homem que escrevia e inteligente, a

gente achava que todo radialista— e

vocês devem pensar também a mesma

coisa — não sabia escrever, era um

analfabeto de escrever, apenas lia, né?

Sc acostum ava a Icr e lia o que escre­

viam para ele. E eu tive uma agradável

surpresa. Eu era fã do João Ramos, foi

o maior nome de rádio aqui, em todos

os tempos. Eu era um grande fã dele.

Cheguei no rádio, fui trabalhar junto

com ele e descobri que ele sabia escre­

ver muito bem e tom ou-se, no fim da

vida, diretor industrial do Diário do

Nordeste. Era um homem que coloca­

va o Diário do Nordeste na rua e era,

sim plesmente, um autodidata.

Entrevista-Nessa época, você já

gostava de ler, tinha alguma vocação

para escrever quando você entrou no

rádio?

N arcélio - N ão, nào...depois do

rádio foi que eu aprendi a escrever e a

me interessar p o r escrever, por causa

de um cidadão... Eu cito muito as

pessoas porque eu acho que a pessoa

tem que ter sua gratidão: G uilherme

N eto (cantor e produtor). Quando ele

m e encontrou apenas apresentando

um noticiário— eu digo apenas embo­

ra seja muito im portante, eu digo ape­

nas porque era pouco, pouco para

m im — eledissequeeudeviaescrever

o noticiário. Eu comecei a escrever o

noticiário. Aí comecei a conversar com

uns com panheiros, isso aconteceu na

Tribuna do Ceará. Chico Alves Maia,

que é o Superintendente Administra­

tivo, e a gente conversava, eu dizia:

“Rapaz, no tempo em que as mulheres

andavam de anágua, andavam decalifon

era diferente.” Ele disse: “N arcélio,

porque tu não escreve umas coisas

sobre isso no jornal?” “Por quê?”

“N ão, porque isso é interessante,

revive costumes da cidade...” Aí co­

mecei a escrever. F o iap artird aiq u e

comecei a escrever, escrevi algum tem­

po na Tribuna, depois no Diário do

N ordeste, continuam ente no O

Povo e, agora, escrevo nesse jo r­

nal ABC Fortaleza, que é o que

chamam na linguagem Hebdoma-

dário— umjomalquesai eventual­

mente, não sai todo dia.

Entrevista - Narcélio, você

tem mais de 40 anos de rádio, viu

a evolução do rádio. Comoforam

os primeiros programas? Fazer

programa na época que o rádio

era arcaico, não tinha recursos

como você tem hoje? Como fo i a

sua entrada no rádio?

N arcélio - O rádio quando eu

comecei não tinha nem gravador, apa­

receu um gravador de fio de aço, que

era um fiozinho que passava de um

carretel para outro. Em seguida chega­

ram os gravadores de fita, até hoj e em

dia esse milagre de pequenos gravado­

res que dão a qualidade de som. Esses

gravadores de vocês aqui, eu posso

levar no rádio e colocar defronte ao

microfone e ele sai tão bom como se eu

estivesse falando. Mas, no começo do

rádio, até o prefixo da estação vinha

escrito. Q uando eu comecei era (com

a voz empostada): “ Ceará Rádio Clu­

be, da Rede N acional de Emissoras

Associadas, ZYM 6M 7, PRE-9, on­

das curtas e m édias.” Im agine escrito

no papel. N inguém dizia nada fora,

ninguém penetrava no estúdio. O lo­

cutor, vocês precisam ver como é que

funciona uma estação de rádio. O lo­

cutor— ou “speaker”, como chamava

na época, da influência do inglês, dos

americanos — ficava num canto, na

PRE-9, que hoje em dia funciona o

Tribunal de Contas, na rua Sena

Madureira, defronte à telefónica (cen­

tro da cidade), ali tinha um grande

auditório de 300 cadeiras.

(3)

g

ramas que enchiam o auditório. En­

tão o estúdio de locutor comercial, co­

mo se chamava, era de um lado. Tinha

um palco e o operador do outro. Eu

digo isso, porque se vocês não sabem

a di ferença, hoj e nós trabalhamos per­

to do operador, que facilita muito

mais. Hoje em dia, ele usa até compu­

tador, como na rádio que eu trabalho.

Então, pra gente dizer qualquer coisa

o operador tinha que... tinha uma es­

pécie desinal que ele ligava no micro­

fone sem ser no ar, para gente dizer:

“Olha, eu vou fazer. Vamos fazer

isso?” E não se podia colocar no ar o

telefone, porque falavam que conges­

tionava o sistema. Mas nós sabíamos

que era por causa da censura, porque

os governos não admitiam uma crítica,

como hoje em dia. Pra você ter uma

idéia, na rádio Cidade, em determina­

do momento, eu tomei foi um susto,

mas fiquei muito feliz com o susto.

Um cara disse: “Esse presidente Fer­

nando Collor é um veado”. Eu disse:

“Rapaz, que negócio é esse?” Porque,

na época da chamada revolução —

vocês sãojovens, não alcançaram,

foi um negócio horroroso que acon­

teceu neste país — , um cara foi

dizer que o Castelo Branco (Ge­

neral Humberto de A lencar Cas­

telo Branco, presidente do Brasil

de 1964 a 1967)parecia um maca­

co, foi preso im ediatamente, pra

vocês terem um idéia. Então, o

rádio era fechado. M as era todo

escrito, diferente de hoje que nós

conversamos... Eu faço 3 horas de

programa quase e, durante essas 3

horas, é tudo conversado, inclusi­

ve as entrevistas...

Entrevista-Narcélio, você falou

que o "speaker

tinha que ter uma

voz grossa. Você falou que sua voz

não dava pra aquilo. Você não se

sentiu tentado adesistirda carreirade

radialista?

N arcélio - Não, aí que me deu

mais vontade de continuar. Eu acho

que ningucm dcvc recuar, quando apa­

rece um obstáculo não. A gente tem é

quepularpor cima doobstáculo. Prin­

cipalmente quando você tem convic­

ção de que vai dar certo. Eu tinha con­

vicção de que tinha aptidão, tinha

vocação e tinha am or àquilo que eu

pretendia fazer.

Entrevista- Narcélio, você disse

que possui uma frustração por não ter

cursado Comunicação Social. Você

sentiu falta, ao longo de sua carreira,

da formação acadêmica ?

Narcélio - Sinto. De vez em quan­

do cu sinto uma falta muito grande, é

muito im portante. Eu sou uma das

pessoas que têm a m aior admiração

pela Escola de Comunicação. Eu sei

que entre radialistas e jornalistas há

críticas. Eu já vi críticas, inclusive dc

lideranças nacionais, pelas dificulda­

des m esmo, que são impostas, pela

falta de recursos que a Universidade

tem para vocês terem um laboratório

completo, terem gravadores, câmeras

de televisão, terem uma pequena esta­

ção de rádio. Eu sei dessas dificulda­

des, mas na dificuldade é que apare­

cem as pessoas. Eu vejo a maiorparte

das pessoas hoje em dia em rádio, jo r­

nal e televisão são estudantes de Co­

municação, ou formadas. Agora, m i­

nha frustração foi porque foi um erro,

um erro meu. Eu era funcionário da

Teleceará epensava que me formando

em Administração teria um maior futu­

ro na Teleceará, porque foi uma empre­

sa que garantiu a minha vida. Porque,

se você for pensar esse negócio de

INSS, isso não representa nada na vida

da pessoa. H oje eu sou aposentado,

e para viver do meu INSS eu passaria

fome e o que m e garante um pouco

melhor é eu continuar no rádio, fazen­

do os textos testemunhais. Não sei se

vocês sabem , quando eu digo alguma

coisa eu mesmo... Eu falo m uito na

Loja Alimenta, falo no xarope Capiva-

rol, aquilo ali eu recebo por fora para

dizer aquilo. Então... Eu ia perdendo

o fio da m eada, né? Como é que foi?

D iga aí que eu concluo...

Entrevista-Se o senhor se ressen­

te da formação acadêmica...

N arcélio - Há sim, minha frustra­

ção! Eu mesubmeti a um vestibularna

U nifor (Universidade de Fortaleza,

particular), passei para Administra­

ção de Empresas. Isso foi em 77, eu

comecei inclusive a deixar de dar a

m inha contribuição, m aisà televisão,

porque eu fiquei empolgado quando

eu passei no vestibular. E comecei a ir

à aula, tinha dificuldade em M atemá­

tica. Tinha uma aula dia de domingo,

eu ia aprender matemática com o pro­

fessor M endonça Júnior, que é pro­

fessor da Universidade Estadual. Fui

para o Tony (Tony Vestibulares cur­

so de preparação para vestibular e

concursos de Fortaleza) também. Por

fim eu com ecei a esquecer que eu era

um profissional que precisava traba-

lharpara ganhar dinheiro. Aí começa­

ram a acontecer outras coisas, ospro-

fessores se dirigiam amim: “ÔNarcélio

que éque você acha?” (risos) Como se

eu soubesse de tudo, pela m inha vi­

vência, pela minha idade. Acabou...

Uma vez os meninos perguntaram :

“Veio buscar sua neta?” (risos) Eu

disse: “N ão.”

Entrevista - Queria que você fa ­

lasse da emoção que sentiu a primeira

vez que você entrou em um estúdio de

rádio. O que é que você sentiu?

Narcélio - Eu estreei com Augusto

Borges (radialista e publicitário), e o

programa era Seqiiência Matinal. E

esse Seqiiência M atinal tinha um co­

mercial — naquele tempo a gente cha­

mava reclame — que era chocante.

Imagine e faça uma com paração de

hoje. Ele começava dizendo: “Ela é

boa,elaéboa! Égostosa!”(impostando

a voz) Quase que dava problem a com

o arcebispo (risos). Era a M anteiga

Noiva. Manteiga Noiva patrocinava o

programa. O Augusto sem pre foi

um cara muito inteligente e era um

texto criado por ele. Quem ouve

hoje em dia o program a do João

(João Inácio Júnior — radialista

cearense da Rádio Verdes Mares)

c outros programas, vocês sentem

como o rádio está assim , realista

demais, contando coisas que eu

confesso a vocês — eu não sou

quadrado não, eu m e gabo de me

atualizar— eu converso tudo com

os amigos, minha m ulher, m eus

filhos, minhas filhas, m as eu não

tenho coragem de dizer certas

coisas no rádio. Eu achei um desres­

peito ontem... Aquela história que o

povo diz: “Eu ia passando e ouvi!”

A lgo que o João estava falando sobre

detalhes das mulheres na índia, que

fazem uma operação no clitóris, mas

ele dizendo com detalhes e dizendo

para não fazer, numa linguagem... Eu

acho que a pessoa tem que respeitar.

Entrevista - Eu queria que você

falasse da emoção que você sentiu

quando entrou lá dentro. Você se apai­

xonou à primeira vista, ou não, fo i se

apegando com tempo?

N arcélio - Não, a princípio medo

dc errar c de não dar certo. Porque,

mesmo eu tendo tido a oportunidade,

não era definitivo. Haviaprimeiro uma

espécie de um estágio para que eu

pudesse continuar na profissão. M as

eu entrei no estúdio que meu pai tra­

balhava, que o João (João Ramos)

trabalhava, que outros homens impor­

tantes... Então, eu senti a carga da res­

ponsabilidade, fiquei nevoso, mas,

quando cheguei em casa, minha mãe -

toda mãe acha o filho espetacular, né?

“Eu era anunciado como

o m elhor locutor de

notícias do Norte e

Nordeste (...). Quando a

gente viaja e vê que tem

tanta coisa maior do que

nós temos aqui.”

Narcélio est ava de ber- m u d a azul p o r q u e achou que ficava m e­ lhor, most rando um a fe­ rida no j oel ho, result a­ d o de um a q ued a d u ­ rant e suas cam i nhadas mat inais de seis qui l ó­ met ros.

Por t oda a sala do apar ­ t ament o est avam espa­ l hados t roféus, fot os, charges. r ep or t agens e out ros sinais de sua hist ória. O que dem ons­ t rou a disposição de Nar ­ célio para a ent revist a.

(4)

Narcélio Limaverde

Entrevista

Sobr e a mesa de cen­ t ro. diversos t ipos de r ádi o ambient avam a sala para a ent revist a. Rádi os nos quais ele acom p anha os not iciá­ rios locais e nacionais. "Sou um f anát ico por rádio".

Nas est ant es, al ém de enfeit es nat alinos, uma f ot o de Narcélio, ainda j ovem , f umando. Sua esposa cont a que era a época f amosa d o rá­ dio. Mas Narcélio ga­ r ant e q u e era só para fazer charme.

(

risos) — disse: “Meu filho, eu acho

você m elhor de que todo m undo.” Eu

achei engraçado cia dizer isso e aí

fiquei pensando: “É realmente é uma

opinião de m ãe mas quem sabe se eu

não estou m e saindo bem mesm o?”

(risos) Aí m eu pai disse algo que foi

m ais importante. Meu pai era um ho­

mem muito comedido, não era mãe. Aí

ele disse para m inha mãe: “Ah, sim,

o Limaverde disse, Narcélio, que da

maneira que você trabalha você não

cansa nunca.” Porque as pessoas di­

ziam que eu iniciei um estilo de traba­

lho, um estilo que eu chamo coloquial.

Eu li muita coisa sobre califasia. Cali-

fasia na época, não sei se ainda é esse

nome, é a arte de dizer. E havia um

professor de califasia, que não era nem

um livro, era uma apostila. Aí eu co­

m ecei a ler e senti que era bom que a

pessoa acentuasse as palavras mais

im portantes do texto. E na época ha­

via um homem dc rádio, televisão e

cinema, Luiz Jatobá, quem conhe­

ceu sabe quem foi Luiz Jatobá—

ele era um locutor da M etro Gol-

dyn M ayer, que era uma com pa­

nhia de cinem a de Holywood que

fazia também umjomal: Noticias

do Dia. Q uando o Luiz Jatobá fa­

lava no rádio, a gente via, porque

não precisava ter imagem. E ele na

televisão ainda era melhor ainda.

Então eu senti com aquela opinião

do meu pai que eu estava no cam i­

nho certo.

Entrevista

-

No início da sua

carreira, no seu trabalho no rádio,

você usou o nome de Limaverde Fi­

lho. né?

Narcélio - Foi. Na Rádio Iracema.

Entrevista

-

Como é que fo i esse

processo então até chegar a assumir

Narcélio Limaverde? Isso ajudou?

N arcélio - Lim averde Filho foi

por causa da Rádio Iracema. Eu che­

guei lá e botaram o nome de Limaverde

Filho. Mas eu sempre achei que o meu

nom e é um nome diferente. Porque,

vocês notem isso: eu não sou nem

Marcelo, nem Narcélo, eu souNar-cé-

li-o (enfatizando), foi um nome tirado

de Arcelino, que é o avô da Rachel de

Queiroz (escritora cearense da Acade­

m ia Brasileira de Letras - ABL) e ela

tinha um irmão chamado Narcélio. En­

tão eu achei melhor ser Narcélio Lima­

verde. Mas minha mãe às vezes recla­

mava, porque eu sou Sobreira, e a ala

da minha mãe era de intelectuais. E a

minha mãe dizia que o lado intelectual

da família era Sobreira. Porque ela

tinha um irmão que escrevia muito

bem , M ário Sobreira de Andrade (es­

critor cearense do grupo Clã). Ele era

M ario de Andrade, e chocava com

Mário de Andrade de São Paulo (escri­

tor paulista), que tinha muito maior

expressão. E ele foi um nom e im por­

tante da literatura. Era do grupo Clã,

um grupo que sc formou em Fortaleza,

só de intelectuais.

Entrevista

-

Narcélio, como fo i

que começou essa sua identificação

com as massas, com o povo?

N arcélio - Foi um desafio. Eu

sem pre fui um locutor de noticias. Eu

era anunciado como o m elhor locutor

de noticias do N orte e N ordeste. For­

taleza era o Norte eNordeste. Quando

a gente viaja e vê que tem tanta coisa

m aior do que nós tem os aqui... Mas

são os detalhes. Eu fui p ara a Verdes

M ares em 1970, levado pelo Edson

Queiroz e Astrolábio de Queiroz (res-

pectivamente, proprietário e superin­

tendente da Verdes M ares), os dois já

morreram , infelizmente. Eram exce­

lentes pessoas. E, em 79, eu recebi um

convite para ir para a im plantação da

“Eu fui o prim eiro

apresentador de notícia,

‘Repórter O C ruzeiro’,

que depois passou a ser

apresentado pelo Cândido

Colares.”

TV Uirapuru, do José Pessoa de Araújo

(empresário). Eu não agilentei nem um

ano lá porque estava havendo um

choque entre ele e o M iguel E>ias (em ­

presário), sobre a propriedade da

emissora. Então, aí lutei para voltar

pra Verdes Mares. Foi uma luta muito

grande, embora o Edson Q ueiroz te­

nha m e dito quando eu saí: “N a hora

quevocê quiser voltar, você volta.” Aí

apareceu, o Astrolábio disse para mim:

“Tem um desafio. É você fazer um

program a de 4 horas de duração.” Eu

disse: “Eu topo.” Então eu que tinha

sido diretor da empresa, tinha sido

coordenador, sido um bocado de luga­

res de burocracia, voltei como povo

cm geral. Voltei para ser apresentador.

M as aconteceu pela segunda vez co­

migo. Eu sem pre recupero as coisas.

Aí eu comecei a trabalhar. Comecei a

colocar no ar o telefone, porque come­

çava a haver também uma liberdade

para isso. Apareceram os ouvintes in­

teligentes e começaram a dialogar co­

migo, dando opiniões, aí foi crescen­

do, foi crescendo, aí um dia eu disse:

“Rapaz, nós devíamos levar esse pro­

grama para os bairros”.

Entrevista

-

Foi uma idéia sua?

N arcélio - É. E eu recebi o apoio

do A strolábio Queiroz, do M ansueto

(Barbosa, atual superintendente) edo

Edilmar (atual diretor de programação

sistem a Verdes M ares). O primeiro

programa foi na Feirados Municípios

(evento que ainda hoje é realizado, só

que com o nome de Feira da Integra­

ção). Aí, aconteceu aquilo das pessoas

quererem m e conhecer, pessoal que

vinha do interior. Ih! Eu faloem e emo­

ciono (se em ociona e chora — segue

um silêncio prolongado). O segundo

program a (silêncio prolongado)...

“Mulher, arranja um copo d ’água aí!”

O segundo program a foi no Conjunto

Ceará, aí a gente ía com um trai ler, sabe

o que é um trailer, né? Um carrinho fe­

chado, depois do trailer foi crescendo,

até que foi feito um grande palanque...

D eve ter um ter retrato por a í... (emo­

ciona-se e chora novam ente) Eu tô

fraco (pausa; risos).

Helenira

-

Se emocionou, foi?

É por isso que eu digo: alma de

artista!

Entrevista-Narcélio, na épo­

ca desses programas havia uma

preocupação com o processo

político?

N arcélio - N ão, p o r incrível

que pareça, não havia. Havia um

interesse em dar m aior populari­

dade à Rádio Verdes M ares, por­

que ela tinha uma fama de elite por

causa dos proprietários. E havia o

meu desejo de ser um radialista de

grande repercussão na cidade. De for­

m a alguma, se pensava em política. É

o típico negócio bom de se repetir, eu

repito muito isso, porque muitas ve­

zes as pessoas que não conhecem fa­

zem assim: “O radialista tá fazendo

isso porque quer ser deputado, verea­

dor para ganhar muito dinheiro.” Na

época que eu fui eleito deputado (es­

tadual), eu ganhava mais na Telcccará,

não havia necessidade de aumentar de

ordenado. E ucradaT eleceará,erado

rádio, jornal e televisão. Aí o Paes de

Andrade (atual deputado federal e

presidente nacional do PM D B)... Não

sei se vocês viram um negócio muito

interessante. Com isso aqui — isso

aqui foi um acharge feita na época—

vocês tem uma idéia o que é que eu re­

presentava na eleição (m ostrando um

charge do Paes de A ndrade sendo car­

regado por ele nas costas). Eu era o

vice... E uerao vice, vejam vocês,lem­

brem a últim a cam panha e vejam que

o vice praticam ente não se sabe. Aí

então o Paes e um dos dirigentes da

Verdes M ares, o Edilmar, que era um

colunista político, tem m uita ligação

com o Paes, eles com eçaram a me

assediar para que eu entrasse na polí­

tica, no PM DB. E eu sem pre tive uma

(5)

simpatia pelo PMDB. Eu no rádio ou

no trabalho, eu me gabo de nào ter

simpatia por ninguém. M as eu tenho,

naturalmente, as minhas preferências,

lodos nós temos, temos de ter, nin­

guém pode ficar em cima do muro. Até

que o Paes, sabendo que eu era funcio­

nário da Teleceará, conseguiu com o

governo que eu fosse nomeado diretor

da Teleceará. Quer dizer, foi im por­

tante para mim. M aseufiiidiretorpor

quatro meses, porque o que ele queria

j ustamente era me dar algum a coisa e

quatro meses depois m e tirar porque

eu tinha que me desincom patibilizar

para m e candidatar. E o que diziam era

que: “Eu era ocara que carreava votos

pro Paes de Andrade”. A téque um dia

eu disse que não ia m ais porque o

Adauto Bezerra era o vice governador

do Gonzaga Mota e lançou o Lúcio

Alcântara (senador pelo PSDB), que

na época pertencia ao PFL. Então, eu

comuniquei ao Paes que não era mais

candidato, porque não achava aquilo

correto. Se o Gonzaga M ota era

do PMDB, e o Adauto, vice, lan­

çar um candidato, não havia mais

interesse, eu não queria sercandi-

dato. Isso é um negócio muito

sério, houve até uma reunião de

cúpula do Sistema Verdes Mares,

por isso é que eu digo que eu fui

pressionadoascrcandidatoa vice-

prefeito. Reunião de cúpula m es­

mo, pense em todas as pessoas

mais importantes do grupo Ver­

des Mares. Eu fui pro gabinete pa­

ra me convencer de que eu deveria

continuar.

Entrevista

-

Eu queria que você

retomasse só um pouquinho, dentro

dessa historiado contato com o públi­

co. já que o radialista fica preso ao

estúdio, né? Tem uma relação um pou­

co mecânica com o ouvinte. Como é

que foram essas experiências na rua?

N arcélio- Assim como eu, como

nós, por exemplo: eu tenho uma von-

tadem uito grande, tinha uma vontade

muito grande de cum prim entar o Cid

Moreira (locutor da Rede Globo). Com

muito medo, porque um colega meu

escreveu, Lustosa da Costa (jornalista

e escritor), um dos grandes cronistas

desta terra, “nunca chegue perto do

seu ídolo que você pode se queim ar” .

Assim, naturalmente, o povo achava

cm relação a mim, que eu era um cara

que estava no rádio AM. Em 1979, eu

já tinha quanto tempo de rádio? 54 a

69, dá mais de vinte anos, né? Vinte e

cinco anos exatamente. Quando eu

chegava nos bairros era um negócio...

apenas eu não deixava, dizia: “Rapaz,

não façammuita frescura não, negócio

de pessoas perto de mim, não precisa

não.” Só acontece essa aproximação

quando junta muita gente ao redor.

Entrevista - No sentido de segu­

rança?

N arcélio - Sim. Digo: “Isso aí

não.” Aí eu saía, ficava no bairro e

participava (emociona-se e chora). Isso

me emociona (com a voz trémula), vou

explicar a vocês por quê. Foi uma fase

muito importante da m inha vida. Foi

a fase mais importante nesses termos,

embora sempre é importante para mim

o que eu faço. Porque tudo pra mim é

importante. O que eu faço, eu faço

com muito amor.

Entrevista-Narcélio, a gente es­

tudando o material, que a gente tem

sobre você, você tem um currículo

vastíssimo, mudou de emissora... Por

que era que acontecia isso? Oqueera

que fazia com que você saísse de

emissora, depois até voltasse?

Narcélio - Uma frase aí que se

diz: “Só não muda quem não pensa.”

Eu penso. Então, há o seguinte: sem­

pre nessa profissão da gente só se

me-“A Rádio Dragão do M ar

(...) foi uma emissora de

rádio que concorreu com

a televisão. Ela inaugurou

um rádio com o

rádioteatro, com muita

notícia”

lhorava de condições, só se ganhava

um pouco mais se saísse para outra

emissora ou ficasse com a melhoria do

salário. Nào era um jo g o desonesto

não. Era umjogo de sobrevivência. Eu

sou do rádio desde 54, me casei em 58.

Então eu comecei a precisar ganhar um

pouco mais, começaram a chegar os

filhos. Eu trabalhava fazendo rádio, e

nesse tempo não tinha televisão. Eu

era um homem de publicidade, escre­

via comerciais e trabalhava em todas

campanhas eleitorais. E, quando eu

casei, estava na campanha do Parsifal

Barroso (ex-govemadordo Ceará), foi

por isso que eu pude alugar uma casa,

porque a campanha que m e pagava,

dava para pagar uma casa. E, com o

surgimento das estações, quando eu

comecei só tinha a Ceará Rádio Clube

e a Rádio Iracema, aí chegou a Dragão

do Mar, com uma proposta de rádio

muito grande na cidade. Aí me procu­

raram, eu disse: “Vou. Quanto?” Aí o

negócio era d izer “Quanto é?” A gen­

te dizia quanto e eles davam o duplo.

Entrevista - Em que ano?

N arcélio - Dragão do M ar come­

çou foi... A data está difícil para mim...

Entrevista

-

Em 1960?

N arcélio - M as nesse tem po eu

não saí. Foi logoquando elachegou. Eu

não saí nào. Eu fui sair para a Dragão

do Mar em 60, quando eu era o homem

da televisão. Era a única im agem da

televisão dc notícia. Eu fui o primeiro

apresentador de notícia, “R epórter O

Cruzeiro”, que depois passou a ser

apresentado pelo Cândido Colares

(radialista e jom alistacearense, já fa­

lecido). Quando eu saí em 1962. A

televisão foi inaugurada no dia 26 de

novembro de 60 e eu saí em 62, no

começo do ano.

Entrevista-Narcélio, é que houve

algumas críticas, você fo i criticado,

certo ? Eu queria saber o porquê das

críticas. Já que a televisão estava co­

meçando, e a Dragão do M ar vinha

com essas propostas?

N arcélio - É porque ninguém

admitia que uma pessoa trabalhando

em televisão e na única televisão, e na

emissora, na época de m aior au­

diência, que era a Ceará Rádio

Clube, saísse para trabalhar so­

mente numa em issora d e rádio.

M as a Rádio D ragão do M ar, em

termos de qualidade, foi uma emis­

sora de rádio que concorreu com a

televisão. Ela inaugurou um rádio

com o rádioteatro, com m uita no­

tícia, foi quando o M oyisés Pi-

mentel (ex-deputado federal) com­

prou e vejam que diferença: vocês

que acompanham a política eu

digo dois nomes, aí vocês vêem a

diferença. M oysés Pim entel e

Aécio de Borba (radialista, ex-deputa­

do federal). É como água e vinho.

Porque o M oisés Pimentel, em bora

um homem rico, era um hom em de

esquerda. E o Aécio, um hom em de

direita. Então, eles juntaram -se e fize­

ram um grande rádio. Foram para lá:

eu, o Geraldo Fontenele, que hoje é o

vice-presidente da Academia deLetras

(faleceu no final do ano passado), ele

era produtor de rádio da Ceará Rádio

Clube. Lá já estavam: Paulino Rocha

(radialista já falecido), Ivan Lima (ra­

dialista já falecido), foi um dos gran­

des nom es do rádio aqui, m orreu re­

centemente em Recife; e O liveira Fi­

lho (radialista e advogado), que era um

grande nome do rádioteatro, na época;

a Ivone N ey, que era uma rádioatriz,

então eram nomes im portantes do

rádio e do rádioteatro.

Entrevista - Você afirmou a nossa

produção que fo i lá que aconteceu

essa grande revolução do rádio cea­

rense pela presença dessas pessoas.

Como fo i exatamente essa revolução ?

O que é que aconteceu de novo na

Dragão do Mar?

N arcélio - O noticiário, o

rádio-Da esposa d on a Hete- nira, Nar cél io fala com o d e um por t o seguro. Nào cond en a os casais q u e se separ am mas j ust if ica os 38 anos de casado di zendo que en­ t re eles há um a uniáo perfeit a.

He l e n i r a al t e r n ou o t em po da ent revist a en­ t re a cor r eção de pro­ vas e o pr eparo de um del icioso lanche. Talvez para diminuir a ansieda­ de d os repórt eres e o ner vosi sm o d o marido.

(6)

Narcélio

Lim averde

Entrevista

O l a n c h e se r v i u p a r a

o r i e n t a r a l g u n s p e r d i ­ d o s n o e sp a ç o . U m p ã o

a m e r i c a n o c o m f i o d e

o v o s e r e f r i g e r a n t e f oi

o su f i c i e n t e p a r a u m a r á p i d a r e u n i ã o e m b u s­

c a d a l i n e a r i d a d e p e r ­

d i d a .

R e u n i d o s n a c o z i n h a e n q u a n t o c o m í a m o s o

l a n c h e , o u v i m o s a s h i s­

t ó r i a s d e N a r c é l i o e d o ­ n a H d e n i r a e m r e c é m

v i a g e m à Eu r o p a . O c a ­

sa l f a l a v a e m p o l g a d o d o s d i a s e m l u a d e m el .

22

te a tro e p r in c ip a lm e n te ... N a é p o c a , to d a g T ev e c o m e ç a v a e te r m in a v a n a R á d io D ra g ã o d o M a r , p o r q u e e la e r a u m a e m is s o r a d e e s q u e r d a , n é ? T a n to q u e n a re v o lu ç ã o d e m a r ç o e la fo i f e ­ c h a d a , o E x é r c ito e n tr o u , o c u p o u e c o lo c o u to d o m u n d o p r a fo ra . N e s ta é p o c a , e u j á n ã o e s ta v a lá . P o r e x e m ­ p lo , o M ig u e l A r r a e s ( g o v e r n a d o r d e P e rn a m b u c o ), n a é p o c a e r a u m h o ­ m em a in d a jo v e m e e m g ra n d e ev id ê n ­ c ia , q u a n d o v in h a p a r a c á , e r a p a r a R ád io D ra g ã o d o M ar . N ó s n o s c o m u ­ n ic á v a m o s d ir e ta m e n te c o m o J o ã o G o u la rt (J o ã o B e lc h io r M a rq u e s G o u ­ la rt, p r e s id e n te e n tr e 1961 e 1 9 6 4 , d e ­ p o s to p e la s F o r ç a s A r m a d a s ) e c o m o p e s s o a l d e le e m B r a s ília . E n tã o e r a u m a rá d io q u e in ic io u u m a p o s iç ã o .

E ntrevista - N arcélio, com o era

fa z e r rádio na época da ditadura?

N a r c é li o - E r a d if íc il! U m a v e z c h e g o u u m a c o m u n ic a ç ã o ... E x is ­ tia u m h o m e m a q u i, q u e fo i te r r í­ v el ess e h o m em : d o u to r L au d elin o C o e lh o . A lg u m te m p o d e p o is ele m o r re u n u m d e s a s tr e te r rív e l. E le te le fo n av a p r a g en te : “ O lh a é p r o i- b id o d iz e r q u e fo i s e q u e s tr a d o um a v iã o e m B r a s ília .” E u n e m s a b ia q u e tin h a ac o n te c id o . E u es ta v a n a te le v is ã o , r e s p o n s á v e l p e l a p r o ­ g ram açã o . E u d is se : “ O lh e , e u n ão c o n h e ç o o s e n h o r , n ã o s e i q u e m é q u e e s tá fa la n d o , e n tã o e u n ã o p o s s o ...” “ O s e n h o r e s t á m e d e s ­ re s p e ita n d o ? ” “ D e fo r m a a lg u m a, es to u a p e n a s lh e d iz e n d o q u e n ã o o c o n h e ç o e n ã o p o s s o to m a r u m a d e c is ã o d e n tr o d e u m a e m p r e s a q u e n ã o é m in h a a p e n a s p o r q u e u m a p e s ­ s o a m e d iz p e lo te l e f o n e .” E le d is s e : “ L ig u e p a r a e s s e n ú m e r o .” A í m e d e u u m n ú m e ro d ele. Q u a n d o e u lig u ei fo i q u e o p a u fo i f e r o z : “ O S e n h o r m e d e s r e s p e ito u .” E u d ig o : “ E u q u e r ia d iz e r o u tr a c o is a p r o s e n h o r : e u n ã o s a b ia n e m q u e tin h a h a v id o is s o e m B ra s ília , a g o r a j á s e i q u e h o u v e u m seq u e stro n u m av iã o e m B rasília. T u d o b e m , n ã o é p r a d i z e r n ã o . T u d o b e m .” A g e n te n ã o d iz ia lá , m a s lig a v a p a r a o u tr a s p e ss o a s, c o m e ç a v a a te le fo n a r: “ Ó , h o u v e u m s e q u e s tr o e m B ra s ília .” E n tão , era u m a d ific u ld a d e m u ito g ra n ­ d e p ra s e tr a b a lh a r n a é p o c a .

E ntrevista - N arcélio, você sem ­

p re gostou d e trabalhar no noticiário,

né? Q uando em 64, você passou p ela

A ssunção e voltou à C eará Rádio

Clube, fo i proibido d efa zer o noticiá­

rio. Como você encarou isso?

N a r c é lio - E u tin h a q u e a c e ita r. E foi a lg o q u e m e c h o c o u u m b o c a d o , p o r q u e e u tin h a s a íd o d e lá , tin h a a té u m a n ú n c io p o r a í q u e d iz i a as s im : “ E s tr é ia n a D r a g ã o d o M a r o m a io r n o tic ia r is ta ...” E n tã o eu c o m e c e i a s e r

só o lo c u to rc o m e rc ia l, só le n d o c o m er­ c ia is e a n u n c ia n d o o c a ra . O c a r a era H é lio S o u z a ( e x - ra d ia lis ta , h o j e é e m ­ p r e s á r io ) . A í u m d ia , e u e s ta v a n o h o ­ rá r io , e s p e r a n d o q u e c h e g a s s e o n o ti­ cia ris ta p a r a fa z e r o n o tic iá r io , e le c h e ­ g o u , m e e n tr e g o u e d is s e : “É v o c ê q u e v ai le r .” A í e u li.

E n trevista - Narcélio, dentro do

teu currículo, tem a questão de ter

ajudado na fu n d a ç ã o da TV Verdes

Mares. TV C anal 8, participou da

Norton Publicidade, trabalhou como

Relações Públicas... Como é essa ques­

tão d e você ser um com unicador e tra­

balhar em diversos meios?

Entrevista - Complementando aqui

a pergunta: a sua paixão é o rádio,

como a gente vê. Como fo i a sua expe­

riência trabalhando em publicidade?

N a r c é li o - E u s o u e s s e n c ia lm e n te u m r a d ia lis ta . F o i m u ito b o a e d a r ia

‘Is s o q u e v o c ê s v ê e m h o je

e m d ia , C a n a l P o p u la r, eu

f a z ia is s o e m M il

N o v e c e n to s e A ra c y d e

A lm e id a (ris o s ), ju n to

c o m o P o lio n L e m o s .”

m u ito m a is d in h e iro , e u es ta ria em m e ­ lh o res co n d iç õ e s. F o ra m m e u s c o m p a - n h e ir o s d e tr a b a lh o : N a z a r e n o A lb u ­ q u e r q u e , q u e h o je e m d ia é d o n o d e u m a d a s m e lh o r e s a g ê n c ia s d a q u i, a M a r k P ro p a g a n d a ; A s s is S a n to s ( p u ­ b lic itá r io c e a r e n s e ) e r a o p e r a d o r d e a u d io d a R á d io I r a c e m a d e M a r a n g u a - p e ), e r a o p e r a d o r d e á u d io , R á d io I r a ­ c e m a d e M a r a n g u a p e , d e p o is c h e g o u a s e r lo c u to r, fo i s e tr a n s fo rm a n d o , ele é u m r a p a z in te lig e n te , e ac a b o u te n d o u m a g ra n d e a g ê n c ia d e p u b licid ad e em F o rta le z a . A s s im p o r d ia n te , B a rro s o D a m a s c e n o , q u e é d o n o ta m b é m d e u m a a g ê n c ia d e p u b lic id a d e , e r a u m h o m e m d e p is ta d e f u te b o l. P is ta é a q u e le c a r a q u e s ó f a z d iz e r e c o n f i r ­ m a r a q u ilo q u e d iz o n a r r a d o r . E n tã o , eu à s v e z e s fico p e n s a n d o se eu n ã o d e ­ v er ia te r s i d o u m p u b lic itá r io p a r a g a ­ n h a r m a is d in h e ir o e te r a te n d id o a l­ g u n s c o m p a n h e ir o s q u e q u e r ia m q u e c o rn e ie s f o r m a s s e u m a a g ê n c ia d e p u - b lic id a d e . E u n ã o s o u a u d a c io so c o m o c o m e r c ia n te , e u s ó s o u o u s a d o c o m o r a d ia lis ta . E u s e m p r e d ig o o s e g u in te : s e a lg u é m q u e r q u e e u faç a alg u m a co i- s a n o rád io , eu g rav e, eu leia u m testem u ­ n h a l n o p r o g r a m a e d iz q u e v ai m e p a ­ g ar, te m q u e p a g a r. A g o ra , s e e le p e d ir

a m im : “ R a p a z , v o c ê p o d e f a z e r is s o d e g ra ç a ? ” E u faço. A g ora, s e d is ser q u e v ai p a g a r, te m q u e p a g a r. E is s o n ã o é b o m p a r a o c o m e rc ia n te . C o m ercian te te m se m p re q u e e x ig ir p ag a m e n to .

E ntrevista- Você estava no perío­

do de instalação TV Ceará Canal 2,

veículo novo, você j á estava lá no

início. C om ofoi essa experiência?

N a r c é l i o - E u fui e s c o lh id o . V e io p a r a c á , p r a im p la n ta r e s s a te le v is ã o , P éricle s L eal. É u m g ra n d e p r o d u to rd e te le v is ã o . E le fe z te s te c o m to d o m u n ­ d o , n ã o c o n h e c ia n in g u é m e el e ac h o u q u e eu s e ria a im a g e m e o ap re s en ta d o r d e n o tíc ia s , p o r q u e tr a n s m itia s e g u ­ r a n ç a . E le a c h a v a q u e a m in h a c a r a d a v a c re d ib ilid a d e . F oi p o r is so q u e eu c o m ec ei. E n o te m p o e m q u e n ã o h av ia

tape.

T in h a u m p r o b le m a d e u m a re ­ p o r ta g e m d e c in e m a ... O P o lio n L e ­ m o s (R a d ia lis ta , jo r n a lis ta , cin eg ra fis-

ta , a tu a lm e n te c h e f e d o D e p a r ta ­ m e n to d e C in e m a d a T V V e rd e s M a r e s )in v e n to u u m g a ra já l— u m g a r a já l é to d a c o is a q u e é a s s im m u ito g ra n d e , c o m o u m e m b ru lh o d e v e lo c íp e d e s (r is o s ), n e g ó c io q u e e le tr a z ia o film e e c o lo c a v a n u m a e s p é c ie d e u m a r o d a e s e c a ­ v a o film e e m m eia h o ra p a ra p o d e r e x ib ir. D if e r e n te d o

tape.

O

tape

(7)

e-g u ei lá , ele d is s e n u m a lin e-g u a e-g e m q u e era m u ito p r ó p r ia d e le : “ C h e f ín h o , n ão s e a f r e s c a lh e m u ito n ã o . . “ P o r q u ê? ” “ N ã o , n in g u é m d e v e s e r n atu ra l d em ais. A p e s s o a p o d e s e r n a tu r a l, re s p e ita n d o a té o s e r n a tu r a l.” F o i u m en sin o p ra m im . P o rq u e h á u m a d if e ­ re n ç a m u ito g ra n d e e n tr e fa z e r r á d io e te le v is ã o , p o d e p r e s ta r a te n ç ã o . E u era c o n s id er ad o u m b o m a p re s e n ta d o r d e te le v is ã o . M a s o q u e eu f a z ia n a telev is ão e ra c o m p le ta m e n te d if e r e n ­ te d o rá d io . A té a in fle x ã o . P o r e x e m ­ p lo : d o je i t o q u e e s to u c o n v e r s a n d o co m v o c ê s eu p o s s o c o n v e r s a r n a te ­ le v is ã o , m a s n o rá d io n ã o ! N o r á d io v o cê te m q u e d a r u m a m a io r fo r ç a às c o is a s q u e d iz e te m q u e tr a n s m itir q u e é v e rd a d e o q u e v o c ê e s tá d iz e n d o . A te le v is ã o , m u ita s v e z e s a fis io n o m ia — sem a q u e la s c a re ta s d a P a tr íc ia (P a trícia N o b re , a p re s e n ta d o ra d o J o r ­ n al d o M e io D ia , d a T V V e r d e s M a ­ re s) d o C a n a l 10 (r is o s ), e s e m a q u e le c h o q u e q u e ela to m a — v o c ê p o d e m u ito b e m tr a n s m itir q u a lq u e r c o is a co m a su a fisio n o m ia. E o rá d io é a v o z, é v o z , é v o z, é v o z, é a m an eira d e falar.

E ntrevista

-

Antes da entre­

vista, você fa lo u da em oção do

rádio, eu queria que você avalias­

se o rádio hoje.

N a r c é l i o - E u a n d o c o m m u i - to re c e io d o rá d io A M . E u te n h o um c o m p a n h e iro , a tu a lm e n te n a R ád io C id a d e . N ó s n o s e n c o n tr a ­ m o s , foi e le o r e s p o n s á v e l p e la p ro g ra m a ç ã o j u n to c o m ig o n a T V V erd es M ares: T ertu lian o S iq u eira ( s u p e rv is o r d e p r o g r a m a ç ã o d a R C N A s s u n ç ã o ) é um d o s c a r a s m ais im p o rta n te s aq u i em te r m o s d e rád io . E e le e s tá p r e o c u p a d o , n ó s , p o r q u e em te r m o s d e a u d iê n c ia n ó s e s ta m o s p e r d e n d o p a r a a s F M ’s. E é te rrív e l p a r a m im p r in c ip a lm e n te . H á p o u c o , a lg u é m d is s e q u e s ó o u v ia F M . E u te n h o aq u i u m s o m , é s ó eu te r C D , e u o u ç o a s m ú s ic a s q u e eu g o sto . A liá s , as m ú s ic a s q u e e u g o s to n e m to c a m n a rá d io o n d e eu tr a b a lh o . E , u m a o u tra c o is a , a fatia d o rá d io p e lo Ib o p e — is s o eu tô fa la n d o d e a c o r d o co m o Ib o p e , p o r q u e m u ita s p e s s o a s tê m s u a s r e s tr iç õ e s ao Ib o p e , m a s a g e n te te m q u e a c r e d ita r — p a r a a R ád io V e rd e s M a re s , p o r e x e m p lo , 5 0 0 .0 0 0 o u v in te s e m u m m ê s . P a r a a R ád io A s s u n ç ã o e a R ád io O P o v o , p a re c id a u m a c o m a o u tr a , o e m p a te téc n ico , q u e é o q u e s e c h a m a , te m 1 30 .0 0 0. V e ja a d ife re n ç a . E a s o u tr a s ficam em 5 0 .0 0 0 . E le s c r ia r a m u m a p e s q u is a q u e e le s c h a m a m d e G R P , q u e eles c a lc u la m o n ú m e ro d e o u v in ­ tes. E m c o m p e n s a ç ã o , a F M é a lg u n s m ilh ar es a m a is , e a te le v is ã o a in d a m ais . P o rq u e n e m s e m p re , n a m in h a im p r es s ão , a te le v is ã o e s tá tr a n s m i­

tin d o alg o ú til e im p o rta n te . T e m m o ­ m e n to s q u e e la é c h a ta . P o r e x e m p lo : o d o m in g o a ta r d e n a te le v is ã o é h o r ­ ro r o s o . N o q u e p e s e m a lg u m a s e n tr e ­ v is ta s in te re s s a n te s d o F a u s t â o ( F a u s ­ to S ilv a, n a T V G lo b o ). E u T e n h o aq u i e m c a s a a T V S h o w e p r o c u r o m u ito v e r a lg u m a c o is a . O s f ilm e s d o m e u te m p o e p r o c u r o ta m b é m tu d o o q u e a c o n te c e s o b r e n o tíc ia s . P o rq u e d ia d e d o m in g o a ta r d e , e u a c h o a te le v is ã o te r rív e l. A g o ra , o r á d io s e m p r e e s tá d iz e n d o a lg u m a c o is a , a n ã o s c r a á re a d o r á d io q u e e u a c h o q u e s e r e p e te m u ito , q u e é o e s p o r te . N a s r e p o r ta ­ g e n s n ão . N ó s te m o s e x c e le n te s n a n a - d o res , co m en ta rista s. M a s q u a n d o v ã o p r o e s tú d io , fic a n a m e s m ic e . T o d i- n h a s , in c lu s iv e a q u e e u tr a b a lh o .

E ntrevista - Narcélio, todo meio

de com unicação tem suas conveniên­

cias, eu queria que você fa la sse como

ê que você conseguiu lidar com isso ?

Q ual é sua postura diante disso?

N a r c é lio - P r im e ir a m e n te d e n tr o d a q u ilo q u e e u c ite i a q u i, q u e o rá d io é d if íc il d e c e n s u r a r. Q u a n d o c h e g a a c e n s u r a o rá d io j á d is s e c in c o v e z e s .

“ (...) O rá d io é d ifíc il d e

c e n s u ra r. Q u a n d o c h e g a a

c e n s u ra o rá d io j á d is s e

c in c o v e z e s . Q u e r d iz e r o

rá d io é d ifíc il d a p e s s o a

c o m a n d a r ( ...) .”

Q u e r d iz e r o r á d io é d if íc il d a p e s s o a co m a n d a r, a n ã o s e r q u e fiq u e se g u ra n ­ d o a b o c a d o a p r e s e n ta d o r . A o u tr a , a s e g u in te : eu s e m p r e tiv e u m a v i d a d e m u ito b o m s e n s o , e u s e m p re c ritiq u e i, m a s d a n d o o d ir e ito d e r e s p o s ta . P o r e x e m p lo , é n o tó r io q u e e u q u a n d o fu i d e p u ta d o , fiz u m a o p o s iç ã o m u ito e le g a n te ao T a s s o J e r e is s a ti (a tu a l g o - v e m a d o r e q u e g o v e rn o u a C e a rá en tre 1 9 8 7 e 1 9 91 ). J á d is s e a q u i q u e e u te ­ n h o u m a g ra n d e a d m ir a ç ã o p o r ele , m a s n o rá d io a q u i eu d ig o : d ig o q u e o T as so é u m g ra n d e ad m i n is tra d o r, m as e le é c ru e l c o m o s f u n c io n á r io s . E le n u n c a s e o fe n d e u em e u d iz e r is s o . E u s e m p r e c ritiq u e i a c id a d e , eu s e m p r e d is s e q u e a c id ad e te m p r o b le m a s . U m e x e m p lo : e u a c h o q u e a p o n te d o R io C ea rá ( n a B a rra d o C e a rá , z o n a lito r â ­ n e a d e F o rta le z a ) é n e c e s s á r ia , a c h o n e c e s s á ria . C o m o a c h o q u e o a la r g a ­ m e n to d a B R -2 2 2 ta m b é m . U m a o b r a d a p re fe itu ra , o u tr a d o g o v e rn o . E n tã o as p e s s o a s q u e s ã o d o la d o d o p re f e ito fa la m m a l d o a la r g a m e n to , a s p e s s o a s

d o la d o d o g o v e r n a d o r fa la m m a l d a p o n te s o b r e o r io C e a rá . E u n u n c a v o u c h e g a r n o rá d io e d iz e r: fu la n o d e ta l é u m la d r ã o !, s e e u n ã o tiv e r u m a d o c u ­ m e n ta ç ã o . P o rq u e g e r a lm e n te o s la ­ d rõ es , s ã o d if íc e is d a g e n te e n c o n tr a r, p r in c ip a lm e n te n o n o s s o p a ís . E n tã o é m e lh o r v o c ê fa z e r u m a c r ític a e e s ­ p e r a r a re s p o s ta e d e ix a r as p e s s o a s to ­ m a n d o c o n h e c im e n to e p a rtic ip a n d o .

E ntrevista - Narcélio, você afir­

m ou em entrevista à Tribuna do Cea­

rá em julho de 85, que uma das piores

fa s e s d a sua vida profissional fo i um

program a de auditório. P o r que esse

program a... D ivertim ento e Sequên­

cia (programa d e auditório da década

de 50)?

N a r c é li o - A h ! É o s e g u in te : eu fu i c o lo c a d o n e s s e p r o g r a m a p o r q u e — v o c ê s v ir a m u m r e tr a to q u e eu te n h o u m a cab e le ira b e m g ra n d e e era o L o cu ­ to r d o s B ro tin h o s ? ( r is o s ) — eu a tr a ía o p e s s o a l p a r a o a u d itó r io , s e g u n d o e le s d iz ia m lá. E eu c o m e c e i a fa z e r es s e p ro g r a m a d e a u d itó rio q u e e u n ão m e en c o n tr a v a , e u n ã o e ra u m c ar a q u e fa z ia a q u ilo c o m o eu h o je e m d ia fa ço o m e u rá d io . E n tã o é p o r is s o q u e eu c o n s id e ro u m a d a s f a s e s p io r e s d a m in h a v id a , p a r tic u la r m e n te . T a lv e z a té a s p e s s o a s g o s ta s s e m m u ito . M a s e u n ã o g o s ta v a n ão . M a s e u a in d a e r a s o lte ir o e a o n d e a rr a n je i m u ita s n a m o r a d a s ...

A esposa de N arcélio pede

um a pausa p a ra o lanche.

Entrevista

-

Você afirmou que

João Ram os era um dos m aiores

profissionais de rádio. Então, qual

èo p erfildeum excelente radialis­

ta ? O que ele deve ter?

N a r c é lio - C o m p e te n te c o m o p ro ­ fis s io n a l, b o m c a rá te r, q u e n ã o faç a m al a o s o u tr o s c o m p a n h e ir o s e a c im a d e tu d o a m ig o d e to d o s . E o R a m o s r e u n ia e s s a s q u a lid a d e s . P o r q u e d e n - tr o d a c la s s e , c o m o d e v e e x is ti r e m to d a s a s c la s s e s ...U m d ia e u e n c o n ­ tr a n d o co m o p a d r e A ld o (A ld o P ag o t- to , q u e foi tr a n s f e r id o p a r a R e c if e - P E ): “ P a d re A ld o d e n tr o d a ig re ja tem fo f o c a ? ” E e le d is s e : “C o m o te m N a r ­ célio ! !! ” E u p e n s e i q u e fo f o c a era p r i­ v a tiv a d o r a d ia lis ta , d o h o m e m d e te ­ le v is ã o , d e jo r n a l. E te m u n s q u e fa ­ ze m ... T ev e u m a í q u e p re ju d ic o u m u i­ ta s p e s s o a s , q u e e u n ã o d ig o o n o m e d e le n ão , v o c ê s d e v e m c o n h e c e r p e lo m e n o s d e m e m ó ria . E e le p r e ju d ic a v a as p e s s o a s , f a z ia u m m a l d a n a d o a t o ­ d o m u n d o , e r a u m h o m e m m u ito c o m ­ p e te n te , m a s f a z ia m u ito m a l às p e s ­ so as . E e x is te m m u ita s p e s s o a s a s ­ s im . E re s p e ito , f o i u m a p e s s o a q u e j á m o rre u , p o r is s o q u e e u n ã o d ig o o n o ­ m e d e le , q u e el e n ã o p o d e s e d e fe n d e r ,

A p a r a d a f o i t ã o sa b o r o ­ sa q u e a l g u n s a l u n o s

q u e r i a m e st e n d e r a e n ­

t r e v i st a p a r a r e p e t i r a d o se . O q u e m e r e c e u

u m c o m e n t á r i o d e N a r ­

c é l i o n o f i nal d a m a n h ã “Se d e m o r a r m a i s u m

p o u c o sa i o a l m o ç o ".

A o s 6 5 a n o s. N a r c é l i o n ã o c o n t e v e a s l á g r i ­

m a s d u r a n t e a e n t r e v i s­

t a. A o f a l ar d o s p r o g r a ­

m a s r e a l i z a d o s a o v i v o

n o s b a i r r o s, d e i x o u o p r a n t o r o l a r e l o g o p e ­

d i u u m c o p o d 'á g u a á e sp o sa .

Referências

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