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A quarta revolução industrial e as possíveis consequências no mundo do trabalho

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA LIONY SENA PEREIRA

A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E AS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS NO MUNDO DO TRABALHO

Palhoça 2019

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A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E AS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS NO MUNDO DO TRABALHO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Ciências Econômicas em graduação, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. João Antolino Monteiro

Palhoça 2019

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 3

1.1 EXPOSIÇÃODOTEMAEDOPROBLEMA ... 3

1.2 OBJETIVOS ... 5 1.2.1 Objetivo geral ... 5 1.2.2 Objetivos específicos ... 5 1.3 JUSTIFICATIVA ... 6 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS... 7 2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 9

2.1 PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ... 9

2.1.1 Histórico ... 9

2.1.2 A 1ª Revolução Industrial e as relações de trabalho ... 11

2.2 SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ... 12

2.2.1 Histórico ... 12

2.2.2 A 2ª Revolução Industrial e as relações de trabalho ... 13

2.3 TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL... 15

2.3.1 Histórico ... 15

2.3.2 A 3ª Revolução Industrial e as relações de trabalho ... 16

2.4 TRABALHO ... 18

2.4.2 Conceito ... 18

2.4.3 Trabalho ao longo da história até a atualidade ... 20

2.5 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ... 23

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ... 32

3.1 OSIMPACTOSDAQUARTAREVOLUÇÃOINDUSTRIALNOTRABALHO ... 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 39

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1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da civilização o ser humano tem criado novas formas de sobrevivência, de modo a facilitar a sua própria existência. À medida que as sociedades foram se desenvolvendo, as dinâmicas produtivas tiveram o mesmo destino, com técnicas e formatos de produção que se moldaram às novas realidades e necessidades criadas. Inicialmente essas transformações demoravam séculos ou até mesmo milênios para se concretizarem.

A partir da Primeira Revolução Industrial (1760) o acúmulo de técnicas foi se avolumando de tal forma, que acabou por desembocar na Segunda (1850) e na Terceira (1950). Com o avanço tecnológico experimentado nas últimas décadas, as mudanças em todas as áreas são cada vez mais rápidas e intensas, que podem caracterizar uma nova fase, a Quarta (SCHWAB,2016). Esse estágio exige também novas formas de se perceber e compreender o mundo, em especial no âmbito do trabalho, que tem relevância fundamental em como os seres humanos se relacionam com a natureza e entre si.

Nesse contexto, compreender a Quarta Revolução Industrial é de suma importância para haver um melhor entendimento dos possíveis impactos, positivos ou negativos, que ela pode gerar nos processos de produção e, consequentemente, no mundo do trabalho.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

A sociedade, ao longo de sua evolução, teve inúmeras formas de se relacionar com a natureza e de extrair aquilo que lhe conviesse para sua própria sobrevivência e reprodução. Existiram, no decorrer do tempo, muitos arranjos distintos entre as capacidades produtivas e as formas de trabalho.

Para compreender a Quarta Revolução Industrial é preciso entender o contexto histórico dessa evolução. Houve o período em que não havia o domínio da agricultura nem da pecuária, o que tornava a relação do homem e da natureza muito direta, em

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sociedades basicamente nômades, baseadas na caça, pesca e na coleta. (REBOLLAR, 2010)

Posteriormente, a criação da agricultura e da pecuária, cerca de 10.000 anos atrás, provocou uma sedentarização dos povos. Estes fixados e com maior disponibilidade de alimentos, resultaram em um aumento dos grupos, que anteriormente eram de centenas, para milhares. (REBOLLAR,2010).

A Primeira Revolução Industrial, ocorrida inicialmente em solo inglês, por volta de 1760, mudou drasticamente a estrutura demográfica, fazendo uma transição dos povos que viviam essencialmente nos campos, para as cidades que concentravam as indústrias. A mecanização da produção ocasionou um aumento na oferta de produtos nunca antes visto, especialmente no setor têxtil. (HOBSBAWN, 2000)

A Segunda Revolução Industrial já foi mais abrangente e ocorreu em mais países simultaneamente, como a Alemanha e Estados Unidos, tendo início em meados do século XIX, com a introdução da energia elétrica e uso do petróleo, além do fordismo e taylorismo que otimizaram os sistemas de produção, em termos quantitativos. (SAES, SAES, 2013)

A Terceira Revolução Industrial começou por volta de meados do século XX e teve destaque no aprimoramento da informática e robótica que começou a ser introduzida na produção, assim como na mudança da estrutura econômica, com o setor terciário (bens e serviços) aumentando consideravelmente. (REZENDE, 2010)

Posto isso, chega-se ao processo que alguns autores denominam como Quarta Revolução Industrial, que, assim como as outras fases na história, tem características e peculiaridades próprias. Essa nova fase é caracterizada pelo aumento tecnológico em níveis nunca antes presenciados, com o crescimento exponencial das capacidades de computação, a internet permeando todo o tecido social de maneira intensa, facilitando as comunicações e entrando na produção e circulação de mercadorias, a inteligência artificial ganhando contornos inimagináveis, assim como o aprendizado das máquinas, que pode ter consequências fantásticas. (SCHWAB,2016)

A partir daí inúmeras novas descobertas ocorreram simultaneamente nas mais variadas áreas, como o sequenciamento genético, nanotecnologia, energias renováveis e computação quântica (SCHWAB,2016). Com todos esses aspectos pode-se entender

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que, assim como as outras fases elencadas, essa também terá influências direta na forma como a sociedade evolui. A internet, por exemplo, já mudou, em grande medida, a forma como as pessoas se relacionam entre si. Independentemente dos juízos emitidos pelos analistas, se essas mudanças são boas ou ruins, elas são incontestáveis.

O trabalho, por fazer parte dessa nova realidade, também será impactado diretamente, pois tanto os tipos existentes, quanto a maneira como são estruturados, derivam das tecnologias empregadas no processo produtivo. No século XVIII, por exemplo, a indústria se tornou tão importante quanto a agricultura, assim como influiu no surgimento de novas profissões, tecnologias, e até mesmo conflitos. (REBOLLAR,2010).

Dessa forma, surge uma pertinente pergunta que não quer calar. Quais serão as possíveis consequências, oriundas da Quarta Revolução Industrial, no mundo do trabalho?

1.2 OBJETIVOS

Tomando como base o problema de pesquisa, apresentam-se, na sequência, os objetivos a serem alcançados no trabalho de conclusão de curso.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral do trabalho de conclusão de curso é verificar quais serão as possíveis consequências, oriundas da Quarta Revolução Industrial, no mundo do trabalho.

1.2.2 Objetivos específicos

De forma a atingir e complementar o objetivo geral, apresentam-se alguns objetivos específicos a serem alcançados no decorrer do trabalho:

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 Descrever as formas de trabalho até a atualidade;

 Apresentar as características da Quarta Revolução Industrial;

 Identificar as possíveis consequências da evolução da Quarta Revolução Industrial;

 Identificar as novas profissões que surgirão ou desaparecerão a partir da Quarta Revolução Industrial.

1.3 JUSTIFICATIVA

O presente trabalho se mostra relevante pela atualidade do tema, pois é algo que possui consequências incertas e algumas poucas análises, pelo menos até o presente momento. A extinção de algumas formas de trabalhos, conhecidos até então, em decorrência do aumento tecnológico, serão supridos pela criação de novos em outros ramos? Todas as possíveis consequências a essa indagação são de grande relevância e impactam diretamente na forma como as sociedades vivem.

No âmbito acadêmico, sua importância se dá em entender uma nova realidade que está em andamento, aparentemente incontestável, com vistas a relacioná-la às outras áreas do conhecimento e servir de subsídios a outros pesquisadores que queiram entender e contribuir para solucionar os impasses criados, que são de várias naturezas.

O tema possui certa abrangência e se relaciona a áreas como: Economia, Direito, Sociologia e Filosofia.

No âmbito governamental, podem ser criadas políticas públicas que utilizem esses conhecimentos gerados para antever os problemas e ajudar a criar soluções, com vistas a diminuir ou até mesmo eliminar seus possíveis defeitos, assim como a antecipar as consequências benéficas para potencializá-las, de forma a extrair os principais pontos.

Para o autor, a importância é aplicar os conhecimentos adquiridos em anos de estudos, com o intuito de contribuir e auxiliar a desbravar um terreno do conhecimento, que, por enquanto, é pouco povoado.

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1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A presente pesquisa tem por escopo entender a relação entre um novo formato de produção, que alguns autores caracterizam por Quarta Revolução Industrial, e seus reflexos nos domínios do trabalho. O procedimento adotado para a consecução desse objetivo se dará por meio de pesquisa bibliográfica. Para Marconi e Lakatos (1992, p.43-44) “Trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita”. Dessa forma, segundo Gil (2002), ao utilizar essas fontes secundárias, o pesquisador precisa ficar atento para não utilizar informações de dados que foram processados ou coletados de forma enviesada, e não perpetuar ou aprofundar certos erros, utilizando critérios de análise para descobrir incoerências ou contradições.

Como o intuito é descrever certos fenômenos e contextualizá-los a uma certa realidade, em relação a abordagem da pesquisa, ela é qualitativa. Nessa abordagem, o pesquisador “Explora uma metodologia predominantemente descritiva, deixando em segundo plano modelos matemáticos e estatísticos.” (CASARIN, CASARIN, 2012, p.32). Desse modo, a narração é feita de acordo com os as visões e impressões do autor, que utiliza argumentos próprios com vistas a convencer o leitor de suas convicções (CASARIN, CASARIN, 2012). A subjetividade é um fator inconteste, na pesquisa qualitativa, tanto é que pode gerar também uma multiplicidade de ideias sobre um mesmo tema entre pesquisadores distintos.

Todas as pesquisas buscam atingir certos objetivos. O que se entende por objetivo está intimamente associado aos fins a que se quer chegar. Pode ser “a busca para a solução de um problema, a explicação para um determinado fenômeno ou, simplesmente, novos conhecimentos que venham a enriquecer os já existentes sobre determinado tema.” (CASARIN, CASARIN, 2012, p. 40).

Basicamente, pela novidade do tema, o foco será em uma abordagem introdutória, sem a pretensão de exaurir o tema, com a perspectiva de iniciar e contribuir ao debate. Isso posto, a pesquisa, em relação aos objetivos é de caráter exploratória, pois, como ensina Gil (2002, p. 41) “pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.”

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No que tange a natureza da pesquisa, ou seja, sua aplicabilidade, a pesquisa é do tipo aplicada. De acordo com Prodanov e Freitas (2013, p. 51) esse tipo de pesquisa “objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.” O estudo se preocupa em explicitar pontos relevantes e prováveis aplicações, tendo por natureza aplicação prática.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

A história fornece elementos de estudo que dão coerência a muitos fatos presentes. Sem entender as Revoluções Industriais e as relações de trabalho pretéritas fica difícil compreender o que é a Quarta Revolução e como se dá sua relação com o trabalho. Não se conseguiria traçar paralelos para defini-la, nem para entender prováveis implicações dela decorrentes. Para isso, um breve histórico é feito, com vistas a uma melhor assimilação do conteúdo a ser apresentado.

2.1 PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

2.1.1 Histórico

A primeira revolução industrial tem um espaço primordial na história, em especial na história econômica, por tudo aquilo que ela representa. Ocorrida inicialmente na Grã-Bretanha por volta de 1760, foi a partir dela que se viu mudanças profundas nas estruturas sociais e econômicas, em decorrência, principalmente, do aumento quantitativo e qualitativo da capacidade de produção.

Mesmo tendo sido a primeira, isso não quer dizer que começou do zero, nem que a tecnologia só se desenvolveu nesse período e não existia nos outros. Na verdade, como ensina Hobsbawn, “a tecnologia da manufatura do algodão era pois bastante simples, e, como veremos, também era simples a maioria das restantes mudanças, que, coletivamente, constituíram a “Revolução Industrial”. (HOBSBAWN,2000, p.56).

Percebe-se então, nesta primeira fase, que não há nada de excepcional nas técnicas produtivas. Até havia tecnologias mais avançadas, mas não eram utilizadas pelo desinteresse em usá-las, pois seus resultados na produção não pareciam evidentes para a maioria das pessoas. Como perceberam que algumas ideias e dispositivos simples e acessíveis podiam gerar bons resultados, começaram a se beneficiar. Outro aspecto a ser ressaltado, era que não precisava de grandes níveis de capacitação, gerencial ou educacional para levar um negócio qualquer adiante, visto

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que, como ressaltado anteriormente, os métodos eram muito simples, por vezes primitivos. (HOBSBAWN, 2000)

Uma mudança drástica, do ponto de vista demográfico, foi sentida. Um número que impressiona é o do crescimento populacional das cidades. Manchester, por exemplo, tinha em 1760 uma população de 17.000. Em 1830 esse número passou para 180.000, ou seja, dez vezes mais. Se em 1750 haviam apenas duas cidades na Grã-Bretanha acima de 50.000 habitantes, em 1801 já eram 8, e 1851 eram 29. (HOBSBAWN,2000)

Como a produção era insuficiente para suprir as crescentes demandas externas e internas, precisava-se aumentar as quantidades produzidas. Não era mais possível manter o ritmo anterior. Para isso, não era a produção artesanal que iria suprir essas necessidades, e sim as fábricas, com suas produções em escala. Iglésias afirma,

impõe-se mostrar quais os setores que se desenvolveram e caracterizaram a Revolução Industrial. Esquematicamente, pode-se dizer que foram três: a máquina a vapor, tecidos de algodão, com novas formas de fiação e tecelagem, e, por fim, a indústria pesada, com a mineração e a metalurgia. (IGLÉSIAS, 1986, p.51)

O setor têxtil apresentou a maior relevância do período por diversos aspectos. Não que outros setores não tenham crescido e contribuído tecnologicamente para o progresso da revolução, como os da farinha de trigo e os das bebidas alcoólicas, mas pela relação que o ramo têxtil tinha com o comércio exterior e com o governo (HOBSBAWN, 2000).

O governo exercia um papel fundamental, pois produzia guerras com o intuito de expandir os mercados, e o principal produto exportado eram desse setor. O mercado interno crescia bastante em função do aumento populacional, mas o mercado externo crescia em ritmos muito maiores, justamente por causa dessa influência estatal de expansão comercial. Isso mostra-se tão evidente, que boa parte da matéria-prima necessária a indústria têxtil, que foi o algodão, era essencialmente importada, ou seja, no território britânico não havia produção de algodão (IGLÉSIAS,1986).

Além do mais, as guerras contribuíam para a inovação tecnológica e industrialização, pois o mercado de ferro, por exemplo, estava intimamente ligado aos anseios da Marinha de Guerra, para a produção de artefatos bélicos, como materiais de

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artilharia. Algumas das inovações ocorreram justamente por causa de vultosos contratos do governo que precisavam ser cumpridos em determinados prazos. (HOBSBAWN, 2000)

2.1.2 A 1ª Revolução Industrial e as relações de trabalho

Alguns fatos chamam atenção nesse período histórico. O trabalho industrial era muitas das vezes realizado por crianças, em condições insalubres e jornadas de trabalho desgastantes, de 12 a 15 horas de trabalho por dia. A alimentação oferecida era das piores possíveis, além de haverem muitos acidentes sérios de trabalhos, em que havia a perda de membros. A situação dos adultos que trabalhavam também era muito precária, em termos de jornadas, desgaste físico, mental e insalubridade, embora não passassem por algumas dificuldades que as crianças passavam. (SAES, SAES, 2013)

Algo a ser salientado são as profundas mudanças que ocorreram entre o período industrial e o pré-industrial. No pré-industrial, o que predominava eram trabalhos basicamente rurais, onde as relações com os superiores, embora complexas eram mais próximas; enquanto que, as relações de trabalho nas fábricas se fundavam basicamente na hierarquia, com grande distanciamento entre o assalariado e o seu superior, pois o salário era seu único vínculo (SAES,SAES,2013).

Alguns fatos chamam a atenção,

a disciplina do trabalho na fábrica é rígida, o trabalho repetitivo e monótono, o relógio dita o ritmo não permitindo ao operário qualquer autonomia; já o trabalho pré-industrial admitia variações em tarefas não tão especializadas e mesmo alguma liberdade para o empregado realizar suas tarefas escapando do rígido controle do seu patrão(SAES, SAES, 2013, p.203).

A condição de vida das cidades onde os trabalhadores viviam é um caso à parte. Tinham muitos problemas sanitários, doenças das mais variadas se espalhavam rapidamente, habitações indignas de sobrevivência e falta completa de ações de saúde públicas. (HOBSBAWN,2000)

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O padrão de vida dos trabalhadores era muito baixo, mas com o passar do tempo, as condições materiais e trabalhistas melhoraram um pouco. Como ensina Iglésias,

em meados do século XIX – na aurora do industrialismo, pois -, havia proteção e interesse por melhores condições de trabalho, em parte pela pregação liberal e sobretudo socialista e pela organização dos próprios trabalhadores em defesa de seus interesses. (IGLÉSIAS, 1986, p.108).

A organização dos trabalhadores foi fundamental para a melhoria de sua própria qualidade de vida. Foi tão importante que posteriormente, as conquistas previdenciárias, assistencialistas e a noção de Estado de bem-estar (Welfare State), são derivados justamente dessa organização. (IGLÉSIAS, 1986)

2.2 SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

2.2.1 Histórico

Historicamente, por vezes, é difícil a especificação de determinados períodos em datas rígidas e específicas. Pode-se dizer que a Segunda Revolução Industrial se situa em meados do século XIX, com o início por volta de 1850-1860, representado, da mesma forma que a primeira, por um salto qualitativo nas formas e maneiras de se produzir.

Se a Grã-Bretanha foi a precursora da primeira e esteve em evidência por cerca de um século, seu protagonismo nessa época foi sendo dividido com outros países, em especial, Alemanha e Estados Unidos.

Cabe salientar quais foram os principais destaques deste novo ciclo. Pode-se citar novos materiais e novas formas de energia que surgiram ou foram aprimoradas, além de novos produtos que apareceram no dia a dia das pessoas.

Em termos de energia, se a máquina a vapor foi útil para a primeira revolução, os combustíveis líquidos (petróleo e derivados) e a eletricidade, foram propulsoras dessa nova era. Alguns materiais como o aço, que substituiu o ferro em diversas aplicações e o alumínio, foram sendo utilizados cada vez mais. A indústria química também se desenvolveu para atender a indústria têxtil. (SAES, SAES,2013)

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Para os indivíduos deve-se levar em consideração

o impacto da Segunda Revolução Industrial sobre o quotidiano das pessoas por meio da introdução de novos bens: telefone, gramofone, lâmpada elétrica, pneus, maquinas de escrever, radiotelegrafia e já um pouco adiante o automóvel e o cinema dão uma ideia da ampla mudança que se processou no dia a dia de grande parte da população mundial. (SAES, SAES, 2013, p.225) Um processo que foi observado nessa fase, foi o de concentração do capital. O capitalismo “concorrencial”, com pequenas e médias empresas, se transformou em capitalismo “monopolista”. Isso quer dizer que houveram muitas fusões, aquisições, formações de cartéis, tudo isso para garantir o monopólio de determinados ramos econômicos e com isso manter maior margem de lucro. (REZENDE, 2010)

Algo que necessita de certa ênfase é a diferença entre as técnicas produtivas. Na primeira revolução, os métodos eram simples, por vezes até primitivos, em que não haviam grandes necessidades de inovações nem de capacidades gerenciais. Foi essencialmente desenvolvida por homens práticos, que poderiam utilizar até certo ponto seu conhecimento comum e conseguir êxito considerável.

Na segunda revolução o caráter científico já estava mais latente e isso acabava por exigir

conhecimento científico mais aprofundado, sendo muitas vezes o fruto de pesquisas em laboratório. A dimensão da empresa passou a ser importante também nesse sentido porque a realização de pesquisas demanda recursos financeiros e técnicos não acessíveis à pequena empresa. (SAES, SAES, 2013, p.225).

Como a inovação com bases técnico-científicas se torna essencial, isso explica, em partes, a mudança da estrutura do mercado, que somente grandes empresas conseguiriam fazer frente a essa crescente necessidade.

2.2.2 A 2ª Revolução Industrial e as relações de trabalho

Como citado anteriormente, o período foi de aumento do tamanho das organizações. Esse fato exigia também uma mudança nos métodos organizacionais, visto que os métodos anteriores, por serem muito mais movidos pela prática que pela técnica não comportavam essas alterações. Da mesma maneira que o período exigiu

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um conhecimento científico mais apurado para as inovações, os processos de manufatura precisavam ser otimizados e os operários mais qualificados. Com isso, a abordagem clássica da administração, representadas pela Administração Científica (Taylor) e Teoria Clássica (Fayol), surgem na esteira desses acontecimentos, justamente para tentar reparametrizar a estrutura das organizações frente aos novos problemas.

Para efeitos deste trabalho, talvez o maior expoente dessas mudanças organizacionais no campo da produção seja Henry Ford, que utilizou a Administração Científica para ressignificá-la.

Entre 1905 e 1910, Ford promoveu a grande inovação do século XX: a produção em massa. Embora não tenha inventado o automóvel nem mesmo a linha de montagem, Ford inovou na organização do trabalho: a produção de maior número de produtos acabados com a maior garantia de qualidade e pelo menor custo possível. E essa inovação teve maior impacto sobre a maneira de viver do homem do que muitas das maiores invenções do passado da humanidade. (CHIAVENATO, 2003, p.65).

Também introduziu algumas outras mudanças “estabeleceu o salário mínimo de cinco dólares ao dia e jornada diária de oito horas, quando, na época, a jornada variava entre dez e doze horas.” (CHIAVENATO, 2003, p.65).

A produção em massa, com o advento da linha de produção reduziu os custos da produção e possibilitou grande especialização do trabalho, ao mesmo tempo que, ao aumentar o salário, propiciou o consumo abrangente ao trabalhador, que antes era restrito somente a classes mais abastadas. Os trabalhadores possuíam certa estabilidade nos empregos e o futuro, tanto das empresas, quanto dos trabalhadores parecia ser muito certo e livre de incertezas.

Mesmo reconhecendo os benefícios desse novo jeito de produzir, é preciso reconhecer outros aspectos. Também há críticas à Administração Científica. Ao colocar a maximização da produtividade como a única finalidade de uma empresa, o trabalhador se transforma em mero executor de tarefas, pois o seu único interesse, por essa concepção, seria maximizar o seu ganho material e financeiro. Essas ideias deixam de levar em consideração os inúmeros aspectos psicológicos e intangíveis do trabalho. (CHIAVENATO, 2003)

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2.3 TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

2.3.1 Histórico

A Terceira Revolução Industrial iniciou aproximadamente em meados do século XX, em 1950, sendo caracterizada pela utilização da informática e da robótica que passaram a integrar os processos produtivos, ocasionando certa automação destes. Seu início também coincidiu com a chamada Era de Ouro do capitalismo, que foi de 1945 até 1973. (SAES, SAES, 2013; REZENDE,2010)

A automação, nas palavras de Cyro Rezende seria “a utilização de máquinas ou de processos automáticos que executam tarefas com uma reduzida supervisão humana, ou que produzem habilidades específicas além da capacidade do homem” (REZENDE, 2010, p.302). Esse novo fato possibilitou um aumento produtivo substancial, em especial no período de 1945 a 1973, que foi refletido no crescimento do PIB em diversos países, assim como na diminuição da distância entre eles, como: Japão, Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e França.

O processo de expansão da produção aliado ao aumento de salários em todos esses anos, ocasionou algo denominado consumo de massas em todos os países centrais do sistema. A disponibilidade de inúmeros produtos se mostrou evidente. O automóvel, por exemplo, que surgiu na Segunda Revolução, transformou-se em um objeto relativamente trivial. Aparelhos eletrodomésticos, que antes eram restritos a uma pequena parte da população, começam a fazer parte do cotidiano de grande contingente populacional. (SAES, SAES, 2013)

O processo de concentração de capital (capital monopolista), que se iniciou na Segunda Revolução, ganhou contornos internacionais (capital monopolista internacional). A figura da empresa multinacional se dissemina com o intuito de expandir os lucros, aproveitando-se de uma série de conjuntos, como salários baixos, isenções fiscais, financiamento ao consumo e ampliação de infraestrutura de países periféricos. (REZENDE,2010)

O estado agiu de maneira ativa nessa internacionalização do capital, para continuar garantindo os lucros privados e mantendo os países periféricos dependentes.

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As pesquisas estatais, nas mais diversas áreas, acabaram por beneficiar inúmeras empresas. Empresas pequenas e familiares continuavam sem ter muito espaço, visto que as pesquisas para criação de novos produtos e tecnologias exigiam vultosas quantias que só grandes empresas e governos conseguiam dispor. As supostas “ajudas financeiras” feitas dos países centrais aos periféricos, nada mais foram que formas de benefício próprio, pois enquanto davam de um lado, tiravam pelo outro. (REZENDE, 2010)

A partir da década de 1990 um processo conhecido como Globalização dita os rumos da economia em todas as partes do mundo. O barateamento no preço dos transportes, o uso das novas tecnologias da informação e da comunicação e a desregulamentação financeira iniciada na década 1980 possibilitaram um maior fluxo de capitais e de mercadorias ao redor do globo. Esse processo acabou por intensificar a

internacionalização de capital, iniciada de maneira mais comum na década de 1950. Os estados nacionais acabaram por perder um pouco do seu poder interventor,

que foi bastante relevante na Era de Ouro, com o processo de globalização. Ao desregulamentar as finanças, o comércio e as novas tecnologias “encurtando distâncias”, cria-se um processo em que o capital das empresas não tem mais tanto vínculo com um país em específico, que são as transnacionais. Ao mesmo tempo, por ter tido uma desregulamentação, o estado acaba perdendo importante instrumento de intervenção, deixando o mercado “livre”. (REZENDE,2010)

2.3.2 A 3ª Revolução Industrial e as relações de trabalho

Um interessante movimento econômico começou a ser processado. Se antes da Primeira Revolução a economia era essencialmente agrária, com o seu surgimento passou a ser industrial. Ou seja, o setor primário continuou existindo, mas empregando um contingente de trabalhadores cada vez menor, dando um espaço cada vez maior ao setor secundário. Processo similar começou a ocorrer nessa nova fase da Revolução Industrial. A indústria produzia cada vez mais, com uma quantidade de trabalhadores cada vez menor. Dada essa conjuntura,

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a opção óbvia, tanto para drenar o excedente de mão-de-obra, como para transformar em consumo a crescente produção, foi a expansão do setor terciário, com sua enorme capacidade de induzir a novas necessidades de consumo e mesmo de incorporar e desenvolver atividades econômicas novas, como, por exemplo, o setor de telecomunicações(REZENDE, 2010, p.304)

Esse movimento do setor secundário ao terciário, foi sentido em todos os países. Até hoje em dia, os países conhecidos como mais desenvolvidos são aqueles que concentram a maior parte de seu PIB no setor terciário.

A internacionalização do capital representou investimento direto em unidades produtivas nos países periféricos, o que possibilitou, em menor grau, que trabalhadores de países periféricos também fizessem parte do tão propalado “consumo de massas”. Essa consequência não ocorreu por benevolência dos países centrais, e sim porque havia excedente de capital neles. Seu reinvestimento interno poderia ocasionar uma produção excessiva e até produzir crises profundas, o que diminuiria a capacidade de lucros futuros. Com essa exportação de capitais, eles mantinham a periferia dependente, ao mesmo tempo que os lucros se mantinham elevados. (REZENDE, 2010)

Durante a Era de Ouro havia certo pacto entre “capital e trabalho”, o que acabava por manter certo equilíbrio nessas relações. Os empregos mantinham-se estáveis, taxas de desemprego controladas e tinham ainda ganhos reais de renda aos trabalhadores. Os sindicatos possuíam maior relevância. Esse quadro mudou a partir da década de 1970, em que havia uma redução da taxa de lucros das empresas.

Alternativas a isso surgiram por parte das empresas, como inovações tecnológicas e desregulamentações.

[...] nas novas condições, a relação de trabalho típica da época fordista – trabalho especializado e emprego estável – foi, em grande medida, substituída por formas identificadas pela noção de trabalho precarizado que permitiam a redução dos custos legais: terceirização, subcontratação, trabalho em tempo parcial, trabalho temporário ou por tempo determinado, trabalho informal (SAES, SAES, 2013, p.544)

As empresas foram para regiões mais pobres, justamente para se aproveitar dos baixos salários e poucas regulamentações nessas localidades. Aos trabalhadores das regiões mais ricas, além de perda de direitos e do poder de negociação, viram seus salários ficar estagnados. O desemprego entre os jovens e idosos aumentou. No geral,

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diferente da Era de Ouro, a nova conjuntura da década de 1980 e 1990 deterioraram as condições dos trabalhadores. (SAES, SAES, 2013)

2.4 TRABALHO

2.4.2 Conceito

A palavra trabalho tem inúmeros significados existentes. Ela possui seu significado próprio em diferentes meios. Para um físico o trabalho tem conceitos específicos, que são expressos em uma fórmula. Para um estudante, os trabalhos são exercícios que demandarão certo tempo e esforço para serem feitos e servirão de requisito para obtenção de conhecimentos e notas em matérias do seu curso, seja ele de graduação, mestrado ou doutorado. Outras áreas do conhecimento possuem interpretações diversas e não serão objetos de análise no presente estudo. A definição que será abordada se restringe ao campo econômico.

Da maneira como a maioria das pessoas percebe, o trabalho é interligado ao exercício de uma atividade profissional, com o objetivo de se obter uma remuneração mensal, semanal ou diária e poder adquirir os bens necessários à sua sobrevivência. Nessa perspectiva o trabalho se torna essencial para os indivíduos, pois se é a partir dele que as suas necessidades são satisfeitas, também é sobre ele que boa parte da vida social é estruturada. Mas essa definição convencional é um tanto quanto incompleta, pois apenas analisa uma consequência para definir o objeto.

Marx, em sua grande obra, O Capital, dá uma definição acurada e digna de reflexão sobre o trabalho.

Antes de tudo, o trabalho é um processo entre o homem e a Natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes a sua corporalidade, braços e pernas, cabeças e mãos, a fim de apropriar-se da matéria natural numa forma útil para sua própria vida. Ao atuar, por meio desse movimento, sobre a Natureza externa a ele e ao modifica-la, ele modifica ao mesmo tempo sua própria natureza. (MARX, 1996, p.297)

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Essa concepção mostra-se correta com a própria análise da realidade. O ser humano utiliza seu próprio corpo para fazer utilização da matéria natural de acordo com suas necessidades, sejam elas ligadas à sua biologia (a sua própria sobrevivência), sejam elas sociais. Ao mesmo tempo que ele atua sobre a natureza, atua sobre si mesmo, pois as suas necessidades e impressões da realidade irão mudando à medida que vão sendo supridas ou superadas. Assim, cria-se um processo de acúmulo de conhecimento, que possibilita avanços a partir de bases já sedimentadas.

Como exemplo, pode-se citar o advento da agricultura. Anteriormente a ela, os grupos eram pequenos e nômades. Ela possibilitou o aumento da disponibilidade de alimentos, consequentemente houve uma aglutinação dos povos em lugares fixos, em localidades próximas à produção. Essa mudança que o ser humano exerceu sobre a natureza, graças a sua capacidade intelectiva, transformou drasticamente as relações dele mesmo, pois novas formas de organizações societárias e obtenção de novos conhecimentos, adaptados a essa nova realidade, foram possíveis, e eram distintas das necessárias aos grupos pequenos e nômades. Portanto, pensar na dimensão do trabalho somente como o alcance de necessidades imediatas, é correto, porém incompleto, pois o lado mediato precisa ser levado em consideração para análises mais profundas.

Marx prossegue e define processo de trabalho, como sendo a “a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios” (MARX, 1996,p.298). O meio de trabalho, seria o conjunto de coisas entre o trabalhador e o objeto, que o auxilia no atingimento de seu objetivo, utilizando a propriedade deles de acordo com suas intenções. No encadeamento de consequências, chega-se a um ponto de grande relevância.

A mesma importância que a estrutura de ossos fósseis tem para o conhecimento da organização de espécies de animais desaparecidas, os restos dos meios de trabalho têm para a apreciação de formações socioeconômicas desaparecidas. Não é o que se faz, mas como, com que meios de trabalho se faz, é o que se distingue as épocas econômicas. (MARX, 1996, p.298)

Se o ser humano muda a si próprio através do trabalho, que é a sua relação entre sua própria natureza e a externa a ele próprio que possui uma finalidade específica, é completamente razoável chegar na conclusão de que uma alteração dos

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meios de trabalho, que são o conjunto de coisas entre o trabalhador e o objeto que o fazem alcançar seus objetivos, implicariam também em uma mudança em si mesmo e na estrutura societária.

2.4.3 Trabalho ao longo da história até a atualidade

O trabalho, que é esse processo dinâmico entre o homem e a natureza, como explicitado anteriormente, possuiu algumas formas ao longo da história humana. Essas distintas formas contêm elementos que podem ser analisados sob diversas óticas, seja das relações de poder, da política, da cultura e do próprio grau de evolução da economia.

Talvez a forma mais básica de trabalho é o relacionado à subsistência. Nele, o objetivo central é a obtenção de recursos naturais para a própria sobrevivência. Os grupos nesse período são basicamente nômades. Pode-se dizer que “[...] a divisão do trabalho ocorria de maneira natural de acordo com sexo e a idade. Homens, mulheres e crianças assumiam naturalmente a sua função na divisão de tarefas.” (SILVA, SANTOS, DURÃES, 2017, p.743)

O desenvolvimento de algumas habilidades, possibilitou que os grupos, antes nômades, se fixassem em determinados territórios. Dessa forma foi possível melhorar as técnicas de cultivo, domesticação de animais e habilidades com metais. Essas novas habilidades acabavam exigindo uma divisão de tarefas mais especializada, mesmo que ainda houvesse divisão de tarefas por sexo e idade. (SILVA, SANTOS, DURÃES, 2017) O trabalho compulsório foi uma forma que algumas sociedades encontraram para se estruturar, com destaque para as civilizações hidráulicas. Nas civilizações hidráulicas já existia o trabalho escravo, mas seu uso não era tão abrangente. O trabalho compulsório era muito mais utilizado, em razão de necessidade coletiva, associado a construção e manutenção das mais variadas obras relacionadas a irrigação, dentre elas: diques, barragens, canais e reservatórios. Era limitado em tempo e regular, fazendo parte, de certa forma, de um rito religioso. Nesse tipo de trabalho, os homens continuavam a ser livres, independentemente se fossem camponeses ou artesãos. (REZENDE, 2010)

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Outra forma de trabalho que teve relevância, por causa de sua abrangência e seu intenso uso que perpassou séculos, foi a escravidão. Como ensina Cyro Rezende,

Foram as cidades-Estados gregas que, pela primeira vez na história, tornaram a escravidão absoluta na forma e dominante em extensão, transformando-a, de forma de trabalho auxiliar e complementar, em um sistemático modo de produção. Alguns séculos mais tarde, o Estado Romano, dominando e unindo política e economicamente o “mundo civilizado” da Antiguidade Clássica, que se estendia ao redor do mar mediterrâneo, tendo como eixo a península Itálica, desenvolveu, no limite, o modo de produção escravista, pioneiramente tornado preponderante pelas cidades gregas. (REZENDE, 2010, p. 24)

A escravidão era baseada na ideia de que o escravo era apenas uma coisa, que não era dotado de direito nenhum. O trabalho além de possuir sentido pejorativo não possuía nenhum significado de realização pessoal. O trabalho duro, que eram os serviços relacionados a força física e manuais, eram feitos pelos escravos, enquanto outras atividades consideradas mais nobres, como a política, eram realizadas pelos homens livres. (MARTINS, 2000)

Cabe ressaltar, para fins desse trabalho, que tanto na Grécia, quanto em Roma, por mais que a escravidão fosse predominante e garantisse certa “prosperidade econômica” para uma parcela da população(a simples condição de cidadão romano garantia uma vida na ociosidade), as técnicas produtivas continuavam atrasadas e rudimentares, não havendo mudanças significativas na esfera da produção. (REZENDE,2010)

Na Idade Média a servidão merece considerações. Segundo Martins,

Era a época do feudalismo, em que os senhores feudais davam proteção militar e política aos servos, que não eram livres, mas, ao contrário, tinham de prestar serviços na terra do senhor feudal. Deveriam os servos entregar parte da produção rural aos senhores feudais em troca da proteção que recebiam e do uso da terra. Evidenciava-se também a continuidade do trabalho até que o servo falecesse ou deixasse de ter essa condição. (MARTINS, 2000, p.169).

Ainda na Idade Média, mas nas cidades, tanto o artesanato, quanto o comércio eram estruturados nas corporações de ofício. Para cada ofício havia uma corporação para definir as suas regras, sendo que a hierarquia era bem específica, com mestres, companheiros e aprendizes. Os mestres estavam autorizados a manter lojas ou oficinas na cidade e para alcançar esse nível, precisavam comprovar perante as corporações

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suas capacidades. As corporações, dependendo da situação, poderiam impor limites para o número de mestres e até mesmo ao volume da produção, estabelecendo o monopólio. Os aprendizes eram jovens que trabalhavam para o mestre com o intuito de aprender o ofício. Os companheiros já tinham concluído o período de aprendizado e sabiam exercer o ofício, mas ainda trabalhavam para o mestre. (SAES, SAES, 2013)

Por fim chega-se à forma de trabalho predominante nos dias atuais, que é o trabalho assalariado, e se consolidou desde o início da Primeira Revolução Industrial. Os antigos vínculos, como já citados no capítulo 2.1.2, deram lugar a uma nova racionalidade econômica, fruto do capitalismo industrial, que acabou por dissolver e transformar a estrutura social anterior. Essas mudanças não se restringiram somente ao campo econômico de troca de bens e serviços, pois se espalharam para as mais diferentes relações sociais. (SERRA NETO, KOURY, 2015)

O trabalhador, nessas novas relações, precisa vender a sua força de trabalho, podendo ser trocado por qualquer outro e a qualquer tempo, se assemelhando a uma mercadoria, tudo isso com base na nova racionalidade econômica que precisava saber com exatidão o custo da mão de obra e sua produtividade, dando a previsibilidade para conseguir mensurar o quanto cada um poderia render. Tudo isso não levava em consideração as motivações e os anseios do trabalhador. Além do mais, o trabalho ganhou ritmo e cadência típicos de máquina, em uma lógica de constante maximização da produção, consequentemente do lucro, o que subverteu as percepções anteriores. ( SERRA NETO, KOURY, 2015)

Essa racionalidade econômica permeando todas as esferas da vida pode ser entendida como

[...]uma revolução, uma subversão do modo de vida, dos valores, das relações sociais e das relações com a natureza, uma invenção, no sentido pleno do termo, de algo que jamais existira. A atividade produtiva desfazia-se de seu sentido original, de suas motivações e de seu objeto para tornar-se simples

meio de ganhar um salário. Deixava de fazer parte da vida para tornar-se o

meio de “ganhar a vida”. O tempo de trabalho e o tempo de viver foram desconectados um do outro; o trabalho, suas ferramentas, seus produtos, adquiriram uma realidade separada do trabalhador e diziam agora respeito a decisões estranhas a ele. A satisfação em “fazer uma obra” comum e o prazer de “fazer” foram suprimidos em nome das satisfações que só o dinheiro pode comprar. (GORZ, 2003, p.30 apud SERRA NETO; KOURY, 2015, p. 145)

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2.5 A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Quarta Revolução Industrial, assim como as Revoluções Industriais anteriores, é uma maneira de caracterizar, com o intuito de simplificar a análise de determinados períodos bastante heterogêneos. Ou seja, não quer dizer que as possíveis mudanças, algumas em curso, ocorrerão da mesma maneira em todos os lugares do mundo e com a mesma intensidade. Quer dizer que algumas alterações, pelo seu potencial intrínseco, podem se tornar irreversíveis e fazer parte da nova realidade, mesmo que demorem um pouco a ganhar abrangência.

Como já citados no capítulo 2, uma série de tecnologias e especificidades definiram as outras Revoluções Industriais. A primeira pode ser lembrada pelas invenções que foram sendo aperfeiçoados para o uso na indústria, de forma a dar maior dinamismo à produção, em especial no setor têxtil. Todo esse aumento na quantidade de produtos foi possível pelo crescimento populacional e pelo governo britânico da época, que exercia papel fundamental na expansão dos mercados consumidores.

A segunda foi marcada pela expansão de novas formas de energia, com destaque para os combustíveis líquidos e eletricidade, além do avanço da indústria química que possibilitou inúmeros novos compostos e processos. Novos bens e serviços foram introduzidos no dia a dia das pessoas, o que foi uma grande mudança.

A terceira, com a utilização da informática e da robótica nos processos produtivos, acarretou mudanças em várias indústrias e possibilitou certa automação, aumentando a produtividade industrial com cada vez menos trabalhadores nesse setor. O setor terciário ganhou força nos países centrais e um maior fluxo de mercadorias e capitais foi possível por causa das novas tecnologias da informação, barateamento no custo dos transportes e desregulamentação da década de 80.

Segundo Soares,

A Quarta Revolução Industrial já está acontecendo. O presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, no ano de 2016, foi quem apresentou pela primeira vez esse termo como uma revolução tecnológica que alterará profundamente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos, com grandeza, amplitude e multiplicidade. (SOARES, 2018, p.4)

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Mesmo alguns acadêmicos e profissionais acreditando que essas inovações tecnológicas sejam meros aspectos da Terceira Revolução Industrial, alguns fatores levam a crer que se caminha a uma nova Revolução, distinta das anteriores. Esses fatores são: velocidade; amplitude e profundidade; impacto sistêmico. A velocidade se refere às mudanças que tendem a ocorrer em níveis exponenciais e não lineares. Sua amplitude e profundidade, pois a combinação de várias tecnologias pode quebrar paradigmas na área econômica, nos negócios e na vida social. O seu impacto sistêmico, que deriva justamente da sua amplitude e profundidade, com o potencial de alterar sistemas inteiros em níveis regionais e globais. (SCHWAB, 2016)

Para Klaus Schwab,

A Quarta Revolução Industrial é uma forma de descrever um conjunto de transformações em curso e iminentes dos sistemas que nos rodeiam; sistemas que a maioria de nós aceita como algo que sempre esteve presente. Mesmo que não pareça importante para aqueles cuja vida passa diariamente por uma série de pequenos mas significativos ajustes, a Quarta Revolução Industrial não consiste em uma pequena mudança – ela é um novo capítulo do desenvolvimento humano, no mesmo nível da primeira, da segunda e da Terceira Revolução Industrial e, mais uma vez, causada pela crescente disponibilidade e interação de um conjunto de tecnologias extraordinárias. (SCHWAB, 2018, p. 35)

Ela utiliza os elementos criados pelas outras revoluções, especialmente as da terceira relacionadas aos recursos digitais e suas redes, que por sua vez só foram possíveis graças a eletricidade, fruto da segunda. “É um período caracterizado por integração de tecnologias, agregando os domínios físico, digital e biológico, com internet móvel onipresente mais em conta e disponível a todas as pessoas.” (SOARES, 2018, p. 5)

Esse é o ponto central para entender esse novo período. Em nenhuma das outras revoluções, houve a possibilidade de integração tão profunda entre as novas tecnologias e os mais diferentes domínios. Suas tecnologias serviam e eram voltadas, na maioria das vezes, para a produção de bens e/ou serviços. O objetivo se concentrava na otimização desse processo produtivo.

Diante do exposto, surge a natural pergunta, quais serão as tecnologias da quarta revolução industrial com todo esse potencial disruptivo, capazes de integrar os mais distintos domínios? Dentre elas estão: a Inteligência Artificial; a Internet das

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Coisas; Blockchain; as novas tecnologias da computação; os materiais modernos; Fabricação aditiva e Impressão multidimensional; Neurotecnologias; Biotecnologias. (SCHWAB, 2018)

É de extrema relevância ressaltar que todas essas tecnologias aqui expostas implicam em problemas éticos muito abrangentes e de difícil mensuração. Neste trabalho o objetivo é simplesmente apresentar os seus aspectos gerais, focando mais na descrição das características delas, sem fazer análises complexas das potencialidades negativas ou positivas.

Elas serão brevemente explanadas a seguir

Internet das Coisas

A Internet das Coisas, conhecida pela sua sigla em inglês IoT (Internet of Things), seria a interconexão entre vários tipos de objetos à internet. Basicamente sensores acoplados a quaisquer tipos de aparelhos, que teriam a capacidade de captar informações acerca do mundo real, como temperatura, umidade, horário, ou outras informações de interesse, podendo se conectar e enviar essas informações coletadas a outros objetos e dispositivos, tudo isso com vistas a utilizá-los com algum propósito. (MAGRANI, 2018)

Obviamente esses novos dispositivos e as coletas de informações abrangentes geram inúmeras controvérsias. Para citar apenas duas, o lixo que pode ser gerado por alguns objetos inúteis com capacidade de se conectar à Internet das Coisas, aumentando a quantidade de resíduos e as informações abundantes que podem estar sujeitas a hackers, tendo o potencial de deixar as pessoas sob constante vigilância dos seus hábitos e gostos. Ao mesmo tempo que é importante saber os seus malefícios e riscos, cabe destacar os aspectos positivos. A quantidade de dados existentes sobre o mundo ao nosso redor e sua correta análise, que é tão ou mais importante que a simples coleta de dados, possibilita a obtenção de informações importantes para aplicação. Como exemplo, pode-se citar o uso e emissão de energia em determinada localidade, que pode ser otimizado por meio de incentivos em tempo real aos cidadãos para que alterem seus hábitos, de modo a alcançar um consumo ideal. Inúmeros outros

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propósitos conseguem ser adaptados para otimização de processos em diferentes níveis, seja individual, empresarial ou governamental. (MAGRANI, 2018; SCHWAB, 2018)

Inteligência Artificial

Inteligência Artificial, em inglês AI (Artificial Intelligence), é uma forma de inteligência que guarda certa similaridade a humana, mas que é reproduzida por máquinas. Tarefas que normalmente exigiriam capacidade humana para serem solucionadas, são realizadas por máquinas previamente programadas. Como ensina Soares,

Da mesma maneira que o cérebro humano, a máquina também precisa ser instruída, classificar e qualificar coisas, fazer relacionamentos, aprender com tentativa e erro, praticar para aprender. Esse aprendizado é alcançado com a sinergia das informações dos computadores em rede e sua comunicação. Softwares inteligentes analisam e tratam os dados, buscando solução para as necessidades humanas. (SOARES, 2018, p.8)

Cenários utópicos e distópicos pairam sob a imaginação das pessoas, materializado em filmes, séries e livros de ficção científica quando o assunto é Inteligência artificial. Em um cenário distópico, as máquinas se tornariam mais evoluídas e assim teriam o controle dos humanos, podendo escravizá-los ou serviriam de meios para governos autoritários controlarem a sociedade. Em um cenário utópico as máquinas serviriam plenamente aos anseios humanos e proporcionariam resultados fantásticos, com viagens interplanetárias e tudo mais.

Sem entrar no mérito de qual prevalecerá, se é a utopia, a distopia ou ainda uma mescla dos dois, o que é interessante de se notar na Inteligência Artificial é a capacidade de armazenamento, processamento e análise de dados da máquina, capaz de replicar a inteligência humana em escala muito superior à que um humano conseguiria fazer. Isso pode fazer com que muitas áreas substituam humanos por robôs, para fazer um trabalho que tem finalidades humanas. Veículos autônomos já são realidade, assim como robôs industriais e humanoides com aplicações específicas. (SCHWAB,2018)

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Blockchain

De acordo com Soares,

Protocolo de confiança, como é denominado, Blockchain são arquivos de registros e informações descentralizados e partilhados que objetiva gerar um índex universal para as movimentações que acontecem num negócio específico. Essa tecnologia, baseada em nuvem, pretende buscar segurança lógica por meio de desconcentração das ações de seus clientes. (SOARES,2018, p.10)

O Blockchain seria uma maneira digitalizada de se criar registros e contratos, de forma descentralizada, sem a intermediação de um órgão único, ao mesmo tempo em que é confiável e válido para as partes envolvidas. A própria forma da tecnologia Blockchain garante que não existam várias cópias desses registros que precisam ser exclusivos por sua natureza, sendo de fácil verificação a sua autenticidade e fazendo com que o valor do objeto digital ou das informações sejam preservados. Um contrato inteligente feito sob essa tecnologia, modelado para determinada situação, poderia ser cumprido ou descumprido automaticamente se um conjunto de circunstâncias especificadas fossem identificados e satisfeitos. As áreas e setores de possível uso dessa tecnologia seriam: registros de saúde; votação; registros imobiliários; combate à falsificação; moedas digitais; bancos; bolsa de valores; seguradoras; dentre outras. (SOARES, 2018; SCHWAB,2018)

Novas tecnologias da computação

As tecnologias computacionais vieram em um desenvolvimento exponencial significativo durante algumas décadas. Os computadores ficaram menores e mais baratos, ao mesmo tempo em que melhoraram sua capacidade de armazenamento e processamento. Acabou chegando-se em um ponto em que os limites físicos podem impedir avanços substanciais, como no caso dos tamanhos dos transistores. (SCHWAB, 2018)

Progressos na física e na engenharia de materiais podem alterar esses supostos limites conhecidos atualmente. Uma nova forma de computação altamente promissora

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seria a computação quântica. Como o nome já faz referência, esse tipo de computação utiliza as leis da mecânica quântica. Como explica Schwab,

Em vez de usarem transistores projetados em torno das unidades binárias que representam 1 ou 0 (bit), que os computadores clássicos usam para armazenar e executar operações, os computadores quânticos empregam bits quânticos, os qubits. Ao contrário dos bits, que somente podem ter os valores 1 ou 0, os qubits existem em sobreposição e têm a probabilidade de estar em qualquer um dos estados até ser mensurados; isso lhes permite simular vários estados simultaneamente. (SCHWAB, p.124).

Alguns problemas que demorariam muito tempo ou seriam impossíveis de serem solucionados por computadores clássicos, poderiam ser solucionados em menos tempo por computadores quânticos. Problemas matemáticos com números grandes e que envolvem inúmeras variáveis, como conseguir melhorar a eficiência logística e operacional de um sistema seriam um exemplo. Embora os computadores quânticos ainda precisem ser melhorados, já que os existentes ainda estão com capacidade limitada de poucos qubits, a evolução deles está em ritmo considerável. (SCWHAB, 2018)

Computadores e sensores cada vez menores farão parte da vida cotidiana das pessoas. Microchips poderão ser implantados no corpo para descobrir doenças e até mesmo melhorar tratamentos ao propor soluções individualizadas de acordo com cada organismo. (SCHWAB, 2018)

Materiais modernos

Os novos materiais ou compostos que forem sendo descobertos ou aprimorados, tendem a ter um enorme impacto em todos os outros setores da Quarta Revolução Industrial. Como mostrado no tópico sobre as novas tecnologias da computação, muitos problemas estão alcançando o seu limite físico conhecido. Esses limites podem ter mudanças se novos materiais forem introduzidos para solucionar essas questões.

Como explicado no início do capítulo 3.2, o que distingue essa revolução das outras é a interconexão entre os mais distintos domínios. Isso pode ser entendido claramente no progresso dos materiais modernos. “As plataformas que usam a IA e os

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grandes bancos de dados materiais unidos à robótica prometem um processo globalizante e acelerado para a descoberta de materiais.” (SCHWAB, 2018, p. 198). Isso mostra o domínio digital, da IA, se unindo ao domínio físico, dos materiais e compostos químicos, de modo a poder produzir resultados incríveis.

Como exemplo, pode-se citar que melhorias nos materiais poderiam aumentar ainda mais a produção de energia a partir de fontes renováveis. Também poderia facilitar o armazenamento massivo das baterias, mitigando o problema da produção de energia por meios renováveis, que tem uma intermitência característica e precisariam de um grande armazenamento em determinados períodos. (SCHWAB, 2018)

Cabe ressaltar que esse processo de evolução dos materiais e das tecnologias existentes, no âmbito das energias renováveis, não é abstrato e ocorreu nas últimas décadas em níveis exponenciais. De acordo com Jeremy Rifkin, “Nos últimos 25 anos, a produtividade das turbinas eólicas aumentou em 100 vezes, e a capacidade média por turbina em mais de 1000%.” (RIFKIN, 2016, p.105). Os preços das células fotovoltaicas despencaram nas últimas décadas, ao mesmo tempo em que a eficiência delas disparou. Se as tendências atuais de redução dos custos e melhoria da produtividade se mantiverem, em pouco tempo há a possibilidade de alteração da matriz energética baseada em combustíveis fósseis para as energias renováveis. (RIFKIN, 2016)

Energia barata e abundante retroalimentaria todo o sistema que engloba as tecnologias da Quarta Revolução Industrial. Percebe-se um ciclo virtuoso gerado pelo progresso dos materiais modernos.

Fabricação aditiva e multidimensional

A fabricação aditiva ou impressão 3D, descreve a criação de objetos por meio da adição constante, camada a camada, de determinado material. Difere da produção tradicional, que geralmente remove e desperdiça uma grande quantidade de materiais ou recursos para a criação de objetos. Ao desperdiçar e utilizar menos material, se torna muito mais eficiente e produtiva. Embora exista há mais de 25 anos, cada vez mais essas tecnologias se tornam mais baratas, práticas e úteis podendo imprimir os

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mais diversos materiais, dos metais a materiais biológicos. (SCHWAB, 2018; RIFKIN, 2016)

O detalhe desse tipo de fabricação que merece destaque é o seu caráter de descentralização da produção, o que alteraria sobremodo as cadeias convencionais de logística e a centralização da produção atual em determinadas localidades. Não haveria necessidade de imensos centros urbanos com indústrias produzindo objetos em larga escala, uma vez que cada residência, bairro ou cidade, teria a capacidade de produzir um ou vários produtos, de acordo com a necessidade de cada grupo ou pessoa, além de poderem ser totalmente personalizados sem aumentar o custo por isso, justamente por causa da capacidade da fabricação aditiva. (SCHWAB, 2018; RIFKIN, 2016)

Neurotecnologias

De acordo com Schwab,

A categoria “neurotecnologias” descreve um amplo conjunto de abordagens que oferecem poderosos insights sobre o funcionamento do cérebro humano, que nos permitem extrair informações, expandir nossos sentidos, alterar comportamentos e interagir com o mundo. Isso pode parecer ficção científica, mas não é. (SCHWAB, 2018, p.237)

As novas tecnologias, que são os sensores pequenos, aprimorados e baratos, juntamente com o progresso da aprendizagem automática, que é capaz de analisar e identificar padrões de uma grande quantidade de dados, facilitarão a compreensão do cérebro, ajudando na captação, mensuração e na análise dos sinais químicos e elétricos existentes. Esse entendimento possibilita a criação de mecanismos efetivos para curar ou evitar doenças, ao mesmo tempo que pode ajudar a melhorar as capacidades cerebrais de acordo com determinados interesses. (SCHWAB,2018)

Biotecnologias

A biotecnologia seriam as tecnologias relativas à biologia. Como explica Schwab “[...] os avanços das tecnologias digitais e os novos materiais permitiram grandes saltos

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em áreas como a compreensão de genomas, engenharia genética, diagnóstico e desenvolvimento farmacêutico.” (SCHWAB, 2018, p.226)

As aplicações desse ramo são muito diversas e intrigantes. No âmbito da saúde, a Medicina de Precisão, poderia estipular tratamentos exatos para uma pessoa, pois os seus dados e suas características biológicas intrínsecas seriam levadas em consideração. No âmbito da agricultura, ajudaria a aumentar a produtividade alimentar e estimá-la com maior exatidão, integrando informações do solo e do clima em determinada localidade. No âmbito ecológico, fábricas celulares inteligentes poderiam ser programadas para inúmeras tarefas, transformando algo completamente danoso ao meio ambiente em algo inofensivo. Todas essas áreas tendem a evoluir em função da capacidade de análise de dados. (SCHWAB, 2018)

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3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

3.1 OS IMPACTOS DA QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO TRABALHO

Como já demonstrado neste estudo, cada período histórico possuiu particularidades que influenciaram diretamente na maneira como o trabalho era executado e estruturado. Uma alteração nos meios de trabalho, aliado a uma conjuntura específica da Primeira Revolução Industrial propiciou que uma sociedade essencialmente agrária do período feudal se aglomerasse nos centros urbanos para trabalhar na indústria nascente. O aumento no tamanho das empresas na Segunda Revolução Industrial, possibilitou novas formas de estrutura organizacional, materializados nos conceitos de Administração Científica. O início da automação na produção da Terceira Revolução Industrial transferiu os trabalhadores da indústria (setor secundário) para o setor de bens e serviços (setor terciário).

Com todos esses exemplos expostos, fica mais simples perceber que as mudanças potenciais da Quarta Revolução Industrial também reordenarão toda a esfera produtiva, seja em uma mudança na estrutura do trabalho, os tipos e as formas das empresas exigidas para o novo período serão distintos, assim como os trabalhos necessários serão diferentes.

A Inteligência Artificial pode replicar o processo de aprendizagem humana em níveis muito superiores ao que um humano conseguiria fazer. Isso significa que atividades que possuem finalidades humanas tem a possibilidade de serem feitas por máquinas programadas, pois o mesmo processo que seria feito por várias pessoas, pode ser realizado por apenas uma máquina.

De acordo com Rifkin

Automação, robótica e inteligência artificial estão eliminando o trabalho rapidamente tanto no setor de serviços quanto no de manufatura e logística. Secretárias, arquivistas, telefonistas, agentes de viagens, caixas de banco e de lojas e inúmeras outras atividades tendem a desaparecer à medida que a automação leva o custo marginal de mão de obra para próximo de zero. (RIFKIN, 2016, p. 153)

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Um detalhe importantíssimo a ser considerado, é que essa substituição do trabalho não está ocorrendo ao mesmo tempo em que a produtividade dos setores diminui. Pelo contrário, a produtividade está aumentando bastante, mesmo com uma redução drástica dos trabalhos. “Entre 1997 e 2005, a produção industrial aumentou 60% nos Estados Unidos enquanto 3,9 milhões de postos de trabalho eram eliminados aproximadamente no mesmo período, entre 2000 e 2008.” (RIFKIN,2016, p 148)

Este fato só foi possível por causa das novas tecnologias, como a robótica e computadores, que foram implementadas no chão de fábrica, gerando aumento da produtividade e redução dos postos de trabalho. Inicialmente os custos fixos iniciais para se implementar esses processos de automação eram muito elevados, ficando restritos a grandes indústrias, mas com o passar do tempo, cada vez mais há a redução desses custos, se tornando acessíveis a pequenas e médias empresas. (RIFKIN, 2016)

A fabricação multidimensional, como já apresentado neste estudo, está se tornando acessível e conseguindo produzir uma vasta gama de objetos e produtos dos mais diferentes materiais e personalizados. Embora os efeitos dessa tecnologia possam ficar somente como auxiliares nos mais diferentes estágios de produção, podem também suprimir a necessidade de indústrias gigantescas produzindo um único tipo de produto, sendo que a produção poderia ser descentralizada (intra e interpaíses) e de pequena escala, além de ser personalizável, podendo enfraquecer algumas cadeias de valor existentes atualmente. Dessa forma, toda a cadeia de logística atual poderia ser amplamente afetada, assim como países que tem por método de industrialização se beneficiar de uma manufatura de baixo custo. Isso implicaria em milhões de trabalhadores desempregados em inúmeras áreas. (SCHWAB, 2018)

Veículos autônomos estão sendo aperfeiçoados e podem retirar o trabalho de milhões de motoristas pelo mundo. Ademais, importante perceber que a própria produção dos veículos pode gerar desemprego, pois a indústria automotiva é uma das maiores compradoras de robôs automatizados. Drones podem ser usados com os mais distintos propósitos, um deles é o de entrega de mercadorias, retirando a função dos atuais entregadores. Robôs de conversação (chatbots) eliminariam postos no ramo do telemarketing e do atendimento ao público. Atividades repetitivas de variadas espécies

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