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A guerra civil na Síria

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA INGRID ROSENBROCK

A GUERRA CIVIL NA SÍRIA: DESDOBRAMENTOS PARA AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Florianópolis

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INGRID ROSENBROCK

A GUERRA CIVIL NA SÍRIA: DESDOBRAMENTOS PARA AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao curso de graduação em Relações Internacionais, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Luciano Daudt da Rocha, Msc.

Florianópolis 2015

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AGRADECIMENTOS

Escolher pessoas em especial para agradecer ao apoio de uma longa jornada pode se tornar uma tarefa difícil. Pois todos aqueles que participaram por um momento que seja desse período da minha vida merecem um agradecimento, cada um interferiu a sua maneira indiretamente ou diretamente para a construção deste trabalho. Entretanto, há pessoas que realmente sempre foram ou se tornaram especiais e me marcaram com mais intensidade e é a essas pessoas que eu dedico este agradecimento.

Primeiramente à minha família que sempre se mostrou presente, principalmente aos meus pais e irmã, é impossível ignorar a importância de vocês em toda a minha vida, os agradeço por serem exatamente como são e terem me criado para ser a pessoa que sou hoje, espero que um dia possa fazer com que vocês sintam-se ainda mais orgulhosos pelas minhas escolhas e conquistas.

Aos meus professores, não apenas da universidade, mas todos aqueles que passaram pela minha vida estudantil, não esquecerei nenhum de vocês e sempre levarei comigo os seus ensinamentos. Um agradecimento em especial ao meu professor orientador Luciano Daudt, que desde a primeira aula há quatro anos deixou sua marca e se mostrou um dos melhores professores com o qual eu tive o prazer de ter aulas, obrigada pela paciência e por compartilhar seu conhecimento comigo.

Aos meus amigos e colegas de aula e de trabalho que estiveram presentes no meu dia-a-dia mais do que ninguém, sempre apoiando e servindo como inspiração para os meus dias. Porém, devo ressaltar que nenhum amigo esteve mais presente me apoiando e ajudando sempre que necessário do que meu melhor amigo e namorado, então á ele o meu agradecimento especial e o aviso de que ainda há muito pela frente.

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RESUMO

O presente trabalho consiste em uma abordagem da Guerra Civil Síria que se estende do ano de 2011 até os dias de conclusão desta pesquisa. Analisou-se as origens e motivações do conflito assim como os principais acontecimentos durante o decorrer dos anos. Abordou-se primeiramente a Primavera Árabe que com sua busca por democracia atingiu os países árabes em 2011, buscando dar uma visão geral dos acontecimentos em tais países durante este período e tratando em especial o caso da Síria. A proporção tomada pelo violento conflito no país tem preocupado e afetado grande parte do mundo. Na tentativa de proporcionar uma ampla compreensão do tema, citou-se a construção e desenvolvimento do Estado Sírio, desde a Idade Média Ocidental até chegar à situação na qual se encontra no ano de 2015. Assim como são analisados os desdobramentos da guerra, a influência de outros países e organizações no conflito, e por fim os principais impactos observados na geopolítica mundial.

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ABSTRACT

This paper consists of an approach of the Syrian Civil War that extends from 2011 until the day of this research's completion. The analysis of the genesis and motivations of this conflict as well as the main events over the years was discussed. It approached the Arab Spring with the quest for democracy reaching the Arab countries in 2011, seeking to give an overall perspective of the conflict's evolution in these countries during this period and prioritising in particular the situation of Syria. The proportion of the actions taken by this violent conflict in the state perturbed and has affected the entire world. In an attempt to provide an understanding of the subject, the construction and development of the Syrian State, from the Middle Ages until the actual situation in 2015 were cited in this research. Furthermore, the ramifications of the war, the influence of other countries and organizations in the conflict, and finally the main impacts seen in global geopolitics were analysed.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 – Império Bizantino ... 38

Mapa 2 – Império Árabe ... 41

Mapa 3 – Império Otomano ... 45

Mapa 4 – Diversidade étinica e religiosa na Síria ... 66

Mapa 5 – Posição do Regime Sírio e aliados em setembro 2015 ... 73

Gráfico 1 – Número de soldados estrangeiros no Estado Islâmico ... 83

Mapa 6 – Regiões dominadas pelo Estado Islâmico produtoras de petróleo ... 84

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LISTA DE SIGLAS ACNUR - Agencia da ONU para Refugiados

AQI - Al-Qaeda do Iraque

CONARE - Comitê Nacional para os Refugiados CIA - Central Intelligence Agency

CTN - Conselho Nacional de Transição EI – Estado Islâmico

EU - União Europeia

EUA - Estados Unidos da América GNC - General National Congress ISI - Estado Islâmico do Iraque

ISIS - Estado Islâmico do Iraque e do Levante NCTC - Centro Nacional Contraterrorismo dos EUA OETA - Administração Britânica do Território Inimigo ONU – Organização das Nações Unidas

OTAN- Organização do Tratado do Atlântico Norte RAU – Republica Árabe Unida

SCAF - Seed Capital Investment Facility

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 12

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA ... 12

1.2 OBJETIVOS ... 13 1.2.1 Objetivo geral ... 14 1.2.2 Objetivos específicos ... 14 1.3 JUSTIFICATIVA ... 14 1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 15 2 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA ... 17 2.1 O ESTADO ... 17 2.1.1 Estado Ditatorial ... 19 2.1.2 Democracia ... 20 2.2 CULTURA E MULTICULTURALISMO ... 21 2.3 GEOPOLÍTICA ... 23 2.4 CIVILIZAÇÃO ... 24 2.4.1 Civilização Ocidental ... 25 2.4.2 Civilização Islâmica ... 27 2.4.3 Choque de Civilizações ... 29 2.5 RELIGIÃO ... 30 2.5.1 Islamismo ... 31 2.6 GLOBALIZAÇÃO ... 33

2.7 AS TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ... 36

2.8 GUERRA CIVIL ... 38

3 AS RELAÇÕES ENTRE OCIDENTE E ORIENTE MÉDIO ... 40

3.1 IDADE MÉDIA OCIDENTAL ... 40

3.1.1 A Formação dos Povos Árabes e seu Império ... 41

3.1.2 Os Enfrentamentos entre Oriente e Ocidente: As Cruzadas ... 44

3.2 A FORMAÇÃO DO IMPÉRIO OTOMANO ... 45

3.3 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL ... 48

3.4 MUDANÇAS POLÍTICAS NO ORIENTE MÉDIO NA ERA DE GUERRA TOTAL E A FORMAÇÃO DO ESTADO SÍRIO ... 49

3.5 A ORDEM INTERNACIONAL DA GUERRA FRIA E O ENVOLVIMENTO DA SÍRIA NOS CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO ... 52

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4 O CONFLITO SÍRIO E OS DEMAIS LEVANTES POLÍTICOS ATUAIS NA

REGIÃO ... 56

4.1 O DESPERTAR DA PRIMAVERA ÁRABE ... 56

4.1.1 Tunísia ... 57 4.1.2 Egito ... 58 4.1.3 Líbia ... 59 4.1.4 Iêmen ... 62 4.1.5 Bahrein ... 64 4.1.6 Marrocos ... 65 4.1.7 Arábia Saudita ... 65 4.1.8 Demais conflitos ... 66

4.2 SÍRIA: DA PRIMAVERA ÁRABE À GUERRA CIVIL ... 67

4.2.1 A Primavera Árabe ... 67

4.2.2 O Estado em Guerra Civil ... 70

5 OS IMPACTOS DA GUERRA CIVIL SÍRIA NA GEOPOLÍTICA ATUAL ... 74

5.1 O CENÁRIO ATUAL DA SÍRIA ... 74

5.2 O IMPACTO DO CONFLITO SÍRIO NO MUNDO ... 78

5.2.1 Intromissão das Superpotências e das Organizações Internacionais ... 79

5.2.2 O Autoproclamado Estado Islâmico ... 83

5.2.3 Refugiados ... 87

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 93

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1. INTRODUÇÃO

Na primeira etapa deste trabalho, foram abordados os elementos iniciais do relatório de pesquisa, destacando-se a exposição do tema e do problema. A seguir, foram apresentados os objetivos gerais e específicos que essa pesquisa pretende alcançar. Em seguida tem-se a justificativa da escolha do tema e a metodologia científica utilizada para o desenvolvimento desse trabalho de conclusão de curso e por fim encontra-se a fundamentação teórica.

1.1 EXPOSIÇÃO DO TEMA E DO PROBLEMA

A relação entre o Ocidente e o Oriente desde sua origem mostrou-se conturbada. A constante dominação ocidental sobre os países orientais deu-se através dos anos por meio de diversos conflitos, resultando em milhares de mortes.

Observa-se historicamente uma tentativa ocidental de intervir nos conflitos internos do oriente e de dominar seu território, tentativa esta que se mostra ineficaz e problemática, visto que em diversos aspectos estas regiões não se assemelham. Podemos constatar claramente este fato na atual Guerra Síria, onde o ocidente vem intervindo constantemente. A partir de janeiro de 2011 o povo sírio, influenciado pelos protestos da Primavera Árabe, inicia o que mais tarde foi considerado a Guerra Civil Síria. Primeiramente o objetivo dos manifestantes sírios foi a configuração de uma nova democracia no país, que seria alcançada com a remoção do atual presidente Bashar al-Assad.

A situação tornou-se complicada com o passar do tempo devido às ações do Exército Sírio Oficial que tenta abafar os manifestos de forma violenta. Por este motivo as mobilizações populares reivindicavam ainda mais transparência política e uma renovação do conjunto de leis atuantes no país. Anteriormente, em 1962, as medidas de proteção para os cidadãos foram suspensas, divergindo da constituição anterior do país. Hafez al-Assad foi considerado um ditador, mantendo-se no poder por décadas e no ano 2000 institui seu posto ao filho Bashar al-Assad, que controla o país com mãos de ferro dando continuidade ao legado de seu pai.

Diversos militares do Exército Sírio Oficial, que se negavam a se posicionar contra a população dão origem, juntamente com civis, ao Exército Livre da Síria que tem o objetivo de lutar contra as ações altamente violentas do governo

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e proteger o povo, exército este que obteve apoio de países europeus e do governo americano. Os conflitos no país pioram gradativamente e em 2012 foram caracterizados como uma Guerra Civil pela Cruz Vermelha. Iniciaram-se assim investigações referentes a crimes de guerra e aplicaram-se medidas do Direito Humanitário Internacional.

Forças militares que apoiaram Assad receberam acusações de serem responsáveis por assassinatos e ações violentas contra civis, assim como os grupos de oposição foram acusadas de infringir os direitos humanos. Durante o desenrolar da Guerra observou-se uma diversificação de grupos rebeldes, alguns com objetivos semelhantes e outros divergentes entre si, com o apoio de países ocidentais alguns destes grupos ganharam mais força. Encontra-se aqui um dos problemas encontrados até a primavera de 2015, a evolução de um grupo terrorista, autointitulado Estado Islâmico.

No segundo semestre de 2015 mais da metade do território sírio e iraquiano encontram-se sob domínio deste grupo. O Estado islâmico, através de homicídios e demais atrocidades, obriga as pessoas nas áreas que controla a se converterem ao islamismo, de acordo com a interpretação sunita da religião e sob o código de leis islâmico (Lei Charia). Estima-se que mais de cem mil mortes foram causadas até o momento pelo conflito, 130 mil através das forças armadas do governo sírio. Além das mortes, cerca de quatro milhões de cidadãos buscam refúgio em outros países, grande parte encontrando abrigo nos países que fazem fronteira com a Síria e alguns tomando um cominho mais perigoso e seguindo para a Europa, tem-se assim outra consequência do conflito que merece atenção de todos: a crise dos refugiados.

Este conflito nos leva a questão principal que se tornou base para desenvolvimento desta pesquisa: Quais são os desdobramentos da Guerra civil na Síria e quais são seus impactos na geopolítica atual?

1.2 OBJETIVOS

Tomando como base o problema de pesquisa, apresentam-se, na sequência, os objetivos a serem alcançados no trabalho de conclusão de curso.

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1.2.1 Objetivo geral

Analisar os desdobramentos da Guerra civil na Síria e seus impactos

na geopolítica atual.

1.2.2 Objetivos específicos

De forma a atingir e complementar o objetivo geral apresentam-se alguns objetivos específicos a serem alcançados no decorrer do trabalho:

-Analisar historicamente as relações entre Ocidente e a região do Oriente Médio;

-Contextualizar o conflito Sírio e os demais levantes políticos atuais na região;

-Analisar o impacto da guerra civil síria na conjuntura geopolítica atual.

1.3 JUSTIFICATIVA

O Oriente Médio é internacionalmente conhecido pelos estudiosos como uma região extremamente conflituosa. As diferenças culturais e étnicas neste território podem ser observadas desde sua formação. Além deste fato, tem-se que esta é a região de maior produção de petróleo do mundo e com isso chama a atenção das grandes potências mundiais que continuam a interferir na região.

Desde o inicio do ano de 2011, com a eclosão da Primavera Árabe, a região passa por intensos conflitos, o povo foi às ruas em busca de seus direitos e de uma melhor qualidade de vida. A guerra civil síria que atinge hoje o Oriente Médio é resultado de uma insatisfação popular com a atual conjuntura política do Estado, onde o povo afirma que vive sob um regime de ditadura e seus direitos não são respeitados. A crise interna do país ganhou amplitude e ultrapassou as fronteiras da Síria.

Observando a formação do Estado, da sua história a sua economia, há uma facilitação para a compreensão do modo em que a região chegou ao atual conflito, tornado possível também um maior entendimento dos reflexos que este momento de crise trouxe e ainda trará a sociedade. Este momento conflituoso é de grande importância para as relações internacionais de modo geral e deve manter-se

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como um dos principais assuntos a serem discutidos. A autora considera de vital importância trazer a tona este tema e debater maneiras de enfrentá-lo, sendo esta sua motivação para esta pesquisa.

Em 2015 além do território Sírio e países próximos, quase todo o mundo encontra-se afetado pela guerra. Onde mais de cem mil mortes foram causadas e mais de quatro milhões de pessoas viram a necessidade de buscar abrigo em outros países, a amplitude desde tema e a quantidade de pessoas afetadas por este conflito definem a importância e relevância de seu estudo, tornando sua compreensão fundamental para a sociedade, universidades e para o governo.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Segundo Marconi (2003), método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que permitem alcançar com maior segurança determinado objetivo, determinando um caminho a se seguir, servindo como auxiliar para aquele que pesquisa e constrói um trabalho.

A natureza deste trabalho é pura devido ao seu único propósito de reunir obras relacionadas que auxiliem atingir o objetivo proposto e a ampliar os conhecimentos nesta temática baseado em ideais anteriormente expostas à sociedade (SILVA; MENEZES, 2001).

Quanto aos seus objetivos caracteriza-se como uma pesquisa explicativa, que tem o objetivo de identificar fatores que determinam ou contribuem para o acontecimento de fenômenos. Este tipo de pesquisa tem o intuito de explicar o porquê das coisas através dos resultados disponíveis (GIL, 1996).

A abordagem desta pesquisa assume características de qualitativa. Segundo Costa (2001), a pesquisa qualitativa busca captar a situação em toda sua extensão, busca levantar todas as variáveis existentes a fim de evidenciar seu verdadeiro significado.

No que diz respeito à forma pela qual a pesquisa foi feita, constitui uma pesquisa bibliográfica, ou seja, fez-se um levantamento bibliográfico para se encontrar diferentes fontes sobre determinado tema. Tendo por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição cientifica que se realizaram sobre o tema ou assunto requerido (OLIVEIRA, 2002).

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Ainda tratando da construção da pesquisa, este trabalho científico apresentará informações baseadas em documentos e relatórios oficiais elaborados por organismos internacionais e também por governos. Abordando pesquisa documental, Gil (1996) afirma que este tipo de pesquisa constitui uma fonte rica e estável de dados, e, ao decorrer do tempo, esses documentos se tornam importantes para a construção de uma pesquisa.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA

Com a intenção de facilitar a compreensão do tema, o presente tópico abordará os conceitos básicos envolvidos. Uma tentativa de alcançar uma melhor clareza sobre o que é vivido atualmente pelos países no Oriente Médio, em específico a Síria e o impacto que estes acontecimentos causam ao mundo.

2.1 O ESTADO

O Estado pode ser considerado como uma sociedade política organizada, estabelecida em determinado território, define Fernandes (1998), tendo a sua disposição um poder institucional com o intuito de satisfazer os interesses do coletivo.

O Estado moderno surgiu na Europa com a Idade Moderna, sobre as ruínas do feudalismo. Teve por base o desenvolvimento da economia mercantil e a libertação das sociedades civis do domínio temporal da Igreja, e assentou a concentração do Poder nas mãos do Príncipe e no despertar da consciência nacional, que permitiu encontrar um fundamento e um fim despersonalizado para o Poder. O Estado moderno evoca, com efeito, a ideia de Poder eficaz, protegido, organizado; um Poder institucionalizado, que garanta a sua própria segurança contra os perigos internos e externos. O Estado moderno dispõe de "um poder que não tem igual na ordem interna nem superior na ordem externa" segundo a terminologia de Jean Bodin (1576). O Estado é soberano, porque seu poder é absoluto, supremo e independente (FERNANDES, 1998, p.35).

Tomando como base a ideia do autor citado anteriormente, tem-se o Estado como um órgão da sociedade com poderes específicos e absolutos, com a intenção de se auto proteger e fornecer aquilo que seus habitantes necessitam.

Segundo Weber (apud COHN, 1997) a partir da complexidade das atividades sociais formou-se a base das organizações sociais, dentre estas, a organização institucional. A partir desta, Weber define o Estado como uma forma moderna do agrupamento político, definido por deter o domínio da violência e do constrangimento físico legítimo sobre determinado território. Observa-se assim que o Estado possui como característica principal a dominação do homem sobre o homem, apoiando-se em leis e em forças militares legitimas que lhe permitam intervir em todos os domínios que se apresentarem relevantes. Assim, a existência do Estado é possível apenas com a possibilidade de que a ordem seja implantada ou mantida

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através do uso do poder e da força estatal, sob a condição de que os homens dominados se submetam e aceitem a dominação.

Weber trouxe, também, o conceito Estado vinculado a uma instituição econômica, que administra as finanças públicas e pode vir a intervir em demais serviços que visam à administração do território e da sociedade. Se referindo ao conceito de nação, o autor considera que este está ligado a valores culturais que precisam ser preservados e não substituídos ou alterados.

Para Azambuja (2005), nação é um conjunto de indivíduos que reconhecem uma origem em comum, por interesses em comum e por possuir valores e desejos em comuns. É uma entidade moral. A autora salienta alguns fatores como etnia, língua e religião não são essenciais para a formação de uma nação. Estes possuem grande influência e podem facilitar ou não a formação de uma nação, porém, a coexistência dentro de uma nação de pessoas falantes de diferentes línguas, crentes de diferentes religiões ou de diferentes raças é comum.

Já fatores como a identidade histórica e de tradição, o passado comum, é de fundamental importância e indispensável para a formação de uma nação. Permanecer em um mesmo local físico, com lutas, sofrimentos, vitórias e derrotas em comum é que vão constituir uma nação, um compartilhamento de sentimentos e interesses são elas: a língua comum, a religião.

Não é fácil definir o termo nação, precisar a natureza dos laços morais que dão a uma comunidade fisionomia tão peculiar; uma personalidade espiritual que a distingue de todos os outros agrupamentos humanos. Sente-se, vê-se, nas ideias, no aspecto físico, no caráter coletivo, esse ser moral a denominação de nação. Quando se quer, porém, defini-lo objetivamente, por muito que se analise e pormenorize, fica-se sempre aquém da realidade (AZAMBUJA, 2005, p.32).

Com isso tem-se que nação pode ser definida como um conjunto de cidadãos que formam um Estado e possuem interesses, preocupações e características em comum. São cidadãos que colocam a necessidade coletiva à frente da pessoal, afirma Hobsbawn (2012), dando-se assim mais importância ao coletivo do que ao pessoal, as atitudes são tomadas ou reprimidas em nome do bem comum tendo a intenção de preservar e manter o povo que constitui tal território ou região. Nesse momento surge a necessidade de analisar algumas das formas que um Estado pode se organizar, estabelecer suas regras e impor suas normas. A

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seguir foram tratados os conceitos de Estado Ditatorial e Democracia, termos necessários para a compreensão do tema central abordado neste trabalho.

2.1.1 Estado Ditatorial

O termo ditadura encontra-se generalizado, visto que muitos veem como Estado Ditatorial todos aqueles que não são classificados como Estados democráticos. Por ser vista desta forma a ditadura passou a ser sinônimo de "tirania", "despotismo" e "autocracia”. Na antiga Roma, aponta Bobbio (2001), um ditador era designado somente para o período em que o dever que lhe foi confiado durasse por um período total inferior a seis meses ou ainda inferior a permanência do cônsul que o nomeou. Sendo considerado assim, um magistrado extraordinário, legítimo, sua existência era prevista pela constituição e seu poder motivado pela necessidade do Estado.

De forma simplificada, eram considerados características da ditadura romana: a necessidade do Estado, respeitando as leis; poderes ilimitados; um único individuo possuidor de poder; e a temporaneidade da função. Diferenciando-se assim do tirano, que exerce poder ilegítimo, absoluto e raramente temporário; e do déspota, que exerce um poder legitimo e absoluto, porém nem sempre é temporário. Tendo como base a ideia romana de ditadura, tem-se que o ditador era escolhido por um tempo determinado e não infinitamente, apenas para reparar as circunstancias mediante a qual foi concebido, seus poderes eram ilimitados para que ele pudesse corrigir e punir sem precisar consultar outras pessoas, mas nunca poderia tomar uma atitude que fosse contra as necessidades do Estado.

Observa-se assim que a ditatura "moderna" distingue-se da antiga em sua permanência no poder e em seus objetivos a serem alcançados, afirma o autor, tendo como característica da ditatura moderna o descaso com os direitos e necessidades de seu povo e indo na direção de objetivos vistos como vital apenas para seu líder.

A partir da definição de ditatura, pode-se analisar a Síria como exemplo de Estado ditatorial, afirma Almeyra (2012), o país obteve sua independência em abril de 1946, constituindo uma república parlamentar. Após conquistar sua independência passou por períodos de instabilidades, com golpes militares que

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atingiram o país no período entre 1949 a 1970. Desde 1963 é governado pelo partido de Baath e seu atual presidente é chamado Bashar al-Assad. O governo de Assad vem sendo considerado uma ditadura, visto que veio em sucessão de seu pai Hafez al-Assad e conduz o país com mãos de ferro, por muitas vezes ignorando as necessidades e pedidos do povo.

Está fora de discussão que a de Assad é uma ditadura execrável que deve ser eliminada. O assunto é por quem e para substituí-la pelo o quê. A chamada oposição está fragmentada e os diversos grupos que a formam se odeiam; além disso, tende a se oferecer como agente de uma ocupação estrangeira. As forças democráticas sírias, por sua vez, se opõem a Assad, mas temem uma guerra e a queda do regime, e se orientam a negociar e impor reformas (ALMEYRA, 2012, p.1).

A caracterização do país sírio como um Estado Ditatorial e a situação vivida pelo povo neste território é umas das principais motivações para a pesquisa e construção deste trabalho. Sendo assim, precisa-se compreender também o conceito de democracia, que se tornou o desejo do povo sírio, que acredita que com a instauração de um Estado Democrático suas condições de vida melhorariam de forma significativa.

2.1.2 Democracia

A democracia pode ser vista como contraria a todas as formas de governo autocráticas, para Bobbio (1997), democracia é um conjunto de regras (que podem ser consideradas primárias ou fundamentais) que definem quem é o responsável por tomar decisões em nome de um grupo de pessoas e quais regras devem ser seguidas. Todo e qualquer grupo social está fadado a tomar decisões coletivas objetivando promover a própria sobrevivência, tanto interna quando externamente ao seu território. Sendo assim, para que uma decisão tomada por um individuo escolhido ou um grupo de indivíduos seja aceita pelos demais participantes de tal grupo, esta decisão deve ser tomada com base em normas previamente definidas e aceitas.

Para o autor, quando se diz que em algum país ocorreu um processo de democratização quer-se dizer que em tal país o número de pessoas que possuem o direito a votar em seu representante aumentou significativamente. Em relação a tomada de decisões, tem-se a regra de que as escolhas aprovadas no mínimo pela

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maioria das pessoas que possuem o poder de voto de acordo com as normas formuladas anteriormente efetivam a escolha para o assunto tratado. Entretanto, apenas esses requisitos não configuram uma democracia, tem-se a necessidade ainda de uma terceira condição: devem-se apresentar opções reais a aqueles que tomam a decisão em nome da maioria e com isso abre-se espaço para a quarta condição: aqueles que exercem o poder de escolha devem ter, também, o direito à liberdade de expressão das próprias opiniões, de reunião, de manifestação, entre outros direitos que garantam a legitimidade de um processo decisório. Independente de qual for o fundamento filosófico destes direitos, eles são requisitos necessários para o correto funcionamento de um regime democrático.

O autor defende ainda que Estado democrático e Estado Liberal são interdependentes, quando o liberalismo vai em direção à democracia, do ponto de vista que são necessárias determinadas liberdades para o correto funcionamento do poder democrático, e na direção oposta, quando é necessário o poder democrático para garantir a existência e manutenção das liberdades consideradas fundamentais. Com isso é correto afirmar que é improvável que um estado iliberal possa garantir um bom e correto funcionamento da democracia, e também improvável que um estado não democrático tenha capacidade de garantir as liberdades fundamentais. Para o autor, a prova dessa interdependência encontra-se no fato de que quando um estado liberal e um estado democrático caem, eles caem juntos.

A partir desta abordagem, entende-se que há uma necessidade de compreender a cultura e diversidade de um território para tentar captar qual seria a melhor forma de governo e sua interpretação a ser praticada em um Estado, ainda deve-se ser considerada a grande importância que a cultura e o multiculturalismo possuem para o surgimento ou resolução de conflitos. Com isso tem-se a necessidade de conhecer e entender a definição de cultura e sua importância para a humanidade, que foram tratadas no tópico que se segue.

2.2 CULTURA E MULTICULTURALISMO

A palavra cultura, etimologicamente tratada, afirma Eagleton (2005), faz referência à ideia de trabalho e agricultura, colheita e cultivo. Inicialmente com um significado totalmente material, passou a ter uma interpretação abstrata. A evolução

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de seu significado é delimitada pela própria história do homem, da passagem da população rural para a urbana, da criação de animais para o nascimento da arte e assim até os dias atuais. Tem-se o termo definido como o conjunto de costumes apresentados por determinados grupos de pessoas em um determinado espaço geográfico. A cultura pode ser vista, conforme aponta o autor, como uma composição da vida e forma de viver que é transmitida por gerações, passível de pequenas mudanças, porém, mantendo seus princípios e essência.

Considerando a ideia de Giddens (2005), a cultura pode ser entendida como todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo. Ou seja, cultura é tudo aquilo produzido pela humanidade seja tangível ou intangível, desde objetos até ideais e crenças. Cultura é todo conhecimento e toda habilidade humana empregada socialmente, é também todo comportamento aprendido e desempenhado.

Todas as sociedades são unidas pelo fato de que seus membros são organizados em relações sociais estruturadas, de acordo com uma cultura única. Nenhuma cultura poderia existir sem sociedades. Mas, igualmente, nenhuma sociedade poderia existir sem cultura. Sem cultura, não seriamos sequer "humanos", no sentido em que comumente entendemos esse termo. Não teríamos línguas em que nos expressar, nenhuma noção de autoconsciência e nossa habilidade de pensar ou raciocinar seria severamente limitada (GIDDENS, 2005, p.38).

A partir dessa analise o autor define que a cultura é basicamente a essência da humanidade, definindo as características, semelhanças e diferenças dos povos. Considerando a população do planeta, observa-se uma grande quantidade de pessoas vivendo em um mesmo espaço geográfico, sendo assim, a coexistência de culturas sob o mesmo território torna-se inevitável. Relacionado a este fato, observa-se o surgimento do termo "Multiculturalismo". Termo este que diversos autores consideram como antigo, tendo apenas alcançado o centro das discussões de estudiosos modernos por possuir grande importância, tendo a capacidade de influenciar positiva ou negativamente os Estados e suas relações.

Segundo Torres (2001), o fato de os Estados Unidos terem passado por crescentes lutas sociais e pela experiência de um pós-guerra, desencadeou-se diversos debates sobre as relações entre diferentes grupos, diversidade e sobre como funcionaria o sistema educacional, visto que as diferenças culturais observadas dentro deste território eram imensas. A necessidade de proteger as diferentes culturas que existem deram origem a diversos movimentos sociais pelo

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mundo, movimentos estes que deram origem ao que conhecemos hoje como Multiculturalismo.

Por intermédio da criação e organização de Estados que, durante o colonialismo, reuniram diversos povos sob uma soberania e fronteiras comuns, bem como por intermédio das migrações mais contemporâneas, ela conduziu ao desenvolvimento de Estados e sociedades multiculturais (SANTOS, 2003, p.557).

O conceito de multiculturalismo é amplo e abrange toda a pluralidade dos grupos sociais, que mantêm relações conflituosas. Com base na diversidade cultural e liberdade, estes grupos buscam um reconhecimento social, respeitando suas singularidades e valores. Segundo o autor a ideia de multiculturalismo poderá adquirir diferentes significados considerando o lugar de debate. Por vezes, é abordado como uma filosofia antirracista, outras como uma renovação do sistema educacional, ou também como proteção da pluralidade cultural e ainda como outro significado para diversidade cultural. O fato de possuir diferentes significados não é de grande importância, mas sim o ato de concretizá-lo como uma atitude social em favor dos direitos dos diferentes grupos sociais existentes.

O contato, convívio e transmissão de hábitos e crenças gerados pelo multiculturalismo podem ser vistos como algo positivo, porém, é também uma das motivações para os conflitos que existem atualmente. O conflito entre as diferentes culturas encontradas no Ocidente e Oriente compõe uma das problemáticas que conduziram o atual conflito sírio e neste momento tem-se a necessidade de definir e compreender a formação das civilizações que estão presentes neste conflito.

2.3 GEOPOLÍTICA

O termo "geopolítica" foi criado pelo cientista político sueco Rudolf Kjellén, no início do século XX, tendo como base a obra Politishe Geographie de Friedrich Ratzel, de 1987. Para Ratzel o Estado agia como um organismo territorial pois impulsionava a sociedade para um propósito comum, implantando uma série de políticas destinadas a promover a harmonia entre sociedade e território. Para alcançar este objetivo, a geografia política e a geopolítica fazem uso da geografia física e humana em conjunto com a ecologia afim de conduzir as ações políticas do Estado.

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A geopolítica sempre se caracterizou pela presença de pressões de todo tipo, intervenções no cenário internacional desde as mais brandas até guerras e conquistas de territórios. Inicialmente, essas ações tinham como sujeito fundamental o Estado, pois ele era entendido como a única fonte de poder, a única representação da política, e as disputas eram analisadas apenas entre os Estados. Hoje, esta geopolítica atua, sobretudo, por meio do poder de influir na tomada de decisão dos Estados sobre o uso do território, uma vez que a conquista de territórios e as colônias tornaram-se muito caras (BECKER, 2005).

Dessa forma, geopolítica pode ser considerada um campo de estudo multidisciplinar que faz uso principalmente da teoria política, geologia, geografia, ciências humanas e ciências sociais. Levando em consideração, aponta Vesentini (2015), a relação entre os processos políticos e as características geográficas nas relações de poder internacionais entre os Estados e entre Estado e Sociedade. Em resumo, assuntos relacionados ao Estado se misturam com questões ambientais e assim podem definir o seu futuro.

Por fim, continua Vissentini, a palavra em si não é apenas uma contração de geografia política, fazendo assim referencia aos enfrentamentos observados no espaço mundial em relação ás disputas de território e poder. Observa-se que este estudo possui grande importância para o Estado e para a sociedade e com isso, criaram-se diversos institutos especializados neste tema, como por exemplo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o CONAMA (Conselho Nacional do Meio-Ambiente), o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio-Ambiente) e o INPE ( Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

2.4 CIVILIZAÇÃO

Neste tópico será suprida a necessidade de compreender o que forma uma civilização e suas características, em especial a autora tratará a civilização ocidental e islâmica que possuem fundamental importância na construção deste trabalho, visto que são estas que constituem a problemática apresentada.

A civilização não foi um acontecimento inevitável, mas sim um ato da criatividade humana. As primeiras civilizações surgiram há cerca de cinco mil anos, nos vales dos rios da Mesopotâmia e do Egito. Ali, os seres humanos estabeleceram cidades e estados, inventaram a escrita

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desenvolveram religiões organizadas e construíram grandes edifícios e monumentos - tudo o que caracteriza a vida civilizada (PERRY, 1999, p.4). Inicialmente o termo "civilizado", aponta Perry (1999), foi relacionado à ideia de uma pessoa ou grupo de pessoas serem ou não alfabetizados e fazerem ou não parte de um grupo mais intelectual e aceito pela sociedade da época, criando-se assim uma distinção entre sociedade primitiva e sociedade civilizada. Com o tempo percebeu-se uma grande variedade de civilizações, e cada uma delas era "civilizada" de sua própria maneira. Desta forma, o termo perde a definição anterior, e civilização ganha um novo significado.

Os conceitos de civilização e cultura se tornam intimamente ligados, ressalta Huntington (1997), ambos tratando dos valores, normas, instituições e maneiras de pensar sob a qual gerações de indivíduos vivem. De forma geral, desde as antigas civilizações, observa-se que estas se identificavam com as grandes religiões do mundo, ou seja, tem-se que diversas civilizações se formaram a partir de grupos de indivíduos que acreditavam em um mesmo deus, defendiam e cultivavam determinados hábitos religiosos .

Ao mesmo tempo em que as civilizações perduram, elas também evoluem. Elas são dinâmicas, ascendem e caem, se fundem e se dividem e, como todo aluno de história sabe, elas também desaparecem e são enterradas nas areias do tempo (HUNTINGTON, 1997, p. 49).

As principais civilizações contemporâneas segundo o autor são as seguintes: Sínica, Japonesa, Hindu, Islâmica, Ortodoxa, Ocidental, Latino-americana e Africana. E com isso percebe-se que a religião é uma das características fundamentais para a delimitação das civilizações, sendo que as quatro principais religiões do mundo estão intimamente ligadas à civilizações de destaque, são elas: cristianismo, islamismo, hinduísmo e confucionismo. A seguir serão tratadas com maior profundidade a civilização Ocidental e Islâmica, as quais são o foco de discussão deste trabalho.

2.4.1 Civilização Ocidental

O surgimento da Civilização Ocidental é datado por volta de 700 ou 800 d.C., segundo Huntington, seu destaque e vital importância para o ambiente internacional pode ser relacionado à rápida ascensão das cidades e do comércio; a

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dispersão de poder entre as assembleias, monarcas e autoridades religiosas; a crescente ideia de consciência nacional entre os povos e a evolução de burocracias de Estado. Porém, a característica mais importante está relacionada à tecnologia, à criação e desenvolvimento dos meios de navegação oceânica afim de alcançar diferentes povos e possivelmente dominá-los.

Para o autor a expansão do Ocidente é facilitada pela sua superioridade militar, considerada altamente organizada e armada. Sendo assim, tem-se que Ocidente não dominou o mundo por seus ideais ou religião e sim por seu conhecimento e habilidade em fazer uso da violência organizada. O Ocidente passou a se relacionar com as demais civilizações de forma com que estas se tornassem suas subordinadas, tendo sua base em uma uniformidade cultural, que abrange as leis, idiomas, religião, administração, agricultura e até mesmo a forma de vida familiar. Durante muitos anos a civilização ocidental viveu dentro de conflitos, principalmente religiosos.

Em 1990 o mapa referente às relações de poder se alterou, afirma o autor, observou-se um maior equilíbrio militar, econômico e influência política entre as civilizações. O Ocidente não deixou de ter grande importância ou de causar profundos impactos com suas atitudes nas demais civilizações. A alteração principal foi a ideia de que as demais civilizações deixaram de ser apenas objetos na construção da história do ocidente e começaram a ser os responsáveis por sua própria história. O sistema multipolar ocidental (europeu) das relações internacionais, característico até as Guerras Mundiais, foi sendo substituído por um sistema bipolar semiocidental na Guerra Fria e em seguida para um sistema multipolar e multicivilizacional. Não há apenas um desentendimento predominante, existem diversos conflitos entre o Ocidente e as demais civilizações, assim como conflitos apenas entre civilizações não ocidentais.

A expansão do Ocidente promoveu ao mesmo tempo a modernização e a ocidentalização das sociedades não ocidentais. Os líderes políticos e intelectuais dessas sociedades reagiram ao impacto ocidental de uma dessas três formas: rejeitando tanto a modernização como a ocidentalização, abraçando ambas ou abraçando a primeira e rejeitando a segunda (HUNTINGTON, 1997, p. 86).

Segundo o autor, as relações histórias entre ocidente e a sociedade islâmica foram extremamente conflituosas e essas problemáticas são geradas

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principalmente devido às diferenças entre as duas relações predominantes em cada região. Em continuidade a análise das civilizações o próximo tópico tratará da civilização islâmica.

2.4.2 Civilização Islâmica

A civilização Islâmica se originou na Península Arábica no século VII d.C., se espalhando para a África, Península Ibérica, Ásia Central e pelo sudeste Asiático. Por possuir tamanha abrangência, dentro do Islã, encontram-se diferentes culturas e costumes.

O Islão como credo e como forma de vida, tem princípios éticos que regulam o homem e a sociedade. A dimensão da prática religiosa através da profissão de fé (chahada) resultou no contato entre diferentes povos e proporcionou a troca de conhecimentos. A escolha e assimilação de padrões dos povos dominados modelaram a cultua islâmica, que permanece viva desde o século VII até os nossos dias (NABHAN,1996, p. 9).

Como tratado por Huntington, um estudioso líbio considerou o tribalismo e a religião islâmica como principais influências e um importante agente determinante para as questões sociais, econômicas, culturais e políticas. Citando como exemplo o Estado Árabe, têm-se as tribos como atores de vital importância para a política dos mesmos. E o Islamismo sendo considerada a força mais poderosa capaz de unificar diferentes pessoas, em toda a civilização Islâmica, a fé e a tribo foram os motivos centrais para a lealdade e devotamento do povo, sendo assim, a constituição de um Estado-Nação relevante. Entende-se assim, que as fronteiras estatais não são fiéis e não fazem referência à cultura e aos hábitos daqueles que habitam determinado espaço geográfico, com isso, a estrutura estatal não se limita pelas características do povo se tornando apenas um mero limite territorial.

De qualquer forma, o fundamento de Estado-nação vai contra os princípios da crença de Alá e o primado da ummah, comunidade constituída por muçulmanos. O Islã rejeita a formação de um Estado-Nação em nome da unidade da civilização islâmica. A falta de poder do Estado-nação islâmico é reflexo também dos momentos conflituosos entre grupos mulçumanos durante o pós II Guerra Mundial como a invasão feita pelo Iraque aos seus vizinhos. Segundo o autor, a unidade dos muçulmanos começou a ser encorajada pelos Estados e Organizações

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internacionais, um exemplo é a criação da Organização da Conferência Islâmica em 1972 o qual praticamente todos os Estados que possuem significativa população muçulmana passaram a fazer parte. Contudo este movimento para a união islâmica leva a dois pontos de contradição: o primeiro está no fato de que o Islã está dividido entre vários pontos centrais de poder e cada um destes pontos tenta liderar a unificação. Essa disputa segue entre os regimes instalados com organizações de um lado e regimes fundamentalistas com suas organizações do outro.

O segundo ponto de contradição apontado por Huntington pode ser observado no fato de que a ummah não admite a legitimidade de um Estado-Nação, porém, a unificação de uma sociedade muçulmana seria possível apenas através de atitudes de um ou mais Estados-nações com forte poder representativo. Devido a geração do Islã ter sido através de uma comunidade religiosa e política, a criação de um Estado-nação no passado só se concretizava quando as lideranças políticas e religiosas se encontravam em uma única entidade governante, como o califado (grupo constituído por muçulmanos e liderado por um califa que seria o sucessor de seu Deus na terra) e o sultanato (grupo formado por islâmicos e liderados pelo sultão que é considerado como um rei).

Com a ascendência do Ocidente, houve o fim do império Otomano e Mogol e com isso a ausência de um Estado-nação para o Islã. Seus estados foram divididos entre as potências ocidentais e quando estas se afastaram deixaram apenas Estados frágeis, formados pelas tradições ocidentais e sem muito conhecimento sobre os hábitos islâmicos. Como resultado, na maior parte do século XX, afirma Huntington, não houve um país muçulmano com poder suficiente, cultural e religioso, para assumir a liderança islâmica e ser aceito pelos demais. Como consequência da ausência de um Estado-núcleo tem-se a eclosão de diversos conflitos internos e externos. A conscientização sobre a existência e importância do Islã, mas sem uma unificação tornou-se a origem de fraquezas e ameaça para as outras civilizações. Para um Estado ser considerado o núcleo para o Islã ele precisa possuir recursos econômicos, poderio militar, capacidade de se organizar, identidade e compromisso com os ideais islâmicos. E atualmente, nenhum país possui estes requisitos para liderar o Islamismo.

As diferenças entre as civilizações são hoje a principal problemática dos conflitos que eclodem ao redor do mundo. O encontro entre as civilizações Ocidental e Islâmica serão tratadas com maior profundidade, pois compõe ponto central deste

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trabalho e compreender estas relações se torna fundamental para estudar o atual conflito Sírio.

2.4.3 Choque de Civilizações

A civilização ocidental foi a única que conseguiu impactar efetivamente cada uma das demais civilizações. Huntington expõe que o Ocidente está e vai continuar com o objetivo de manter sua posição vantajosa, defendendo seus direitos como se fossem os interesses da "comunidade mundial". Entretanto, como as demais civilizações conseguiram alcançar um estágio de liberdade política, estas anseiam por se liberar do que julgam ser a dominação econômica, militar e cultural ocidental. Por possuir tradições culturais bastante distintas das ocidentais, o Islã vem tentando se impor e alcançar seu lugar perante às demais civilizações. Com isso tem-se observado que os conflitos entre essas comunidades estão se tornando cada vez mais frequentes, sendo que os principais pontos de discordância entre o Ocidente e o Islã estão na difusão de armamentos, direitos humanos, terrorismo, imigrações e obtenção de petróleo.

As relações entre o islamismo e o cristianismo (religião dominante no ocidente) se mostram ao longo da história altamente conflituosa e instável, um podendo ser caracterizado como o oposto do outro. Os conflitos que eclodiram ao longo dos séculos se mostraram decorrentes da essência destas duas religiões e das civilizações em que elas se baseiam. Conforme aponta o autor, estas hostilidades se deram devido às diferenças apresentadas, principalmente, devido a concepção islâmica como uma forma de viver em que há união entre a religião e a política se mostrando exatamente o contrário da concepção cristã ocidental na qual há a separação dos reinos de Deus e de César, ou seja, a civilização ocidental possui sua religião separada de sua política. No entanto, os conflitos também poderiam ser originados em suas semelhanças. Visto que as duas apresentam-se como religiões monoteístas, universalistas, missionárias e possuem uma visão teológica da história.

O nível de conflito violento entre o Islamismo e o Cristianismo variou ao longo do tempo, influenciado por crescimento e declínio demográfico, desenvolvimento econômico, mudanças tecnológicas e intensidade de dedicação religiosa. A expansão do Islã no século XII foi acompanhada por migrações maciças de povos árabes, numa "escala e velocidade" sem

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precedentes, para as terras dos impérios bizantino e sassaniano. Alguns séculos depois, as Cruzadas foram, em grande parte fruto do crescimento econômico, expansão populacional e da "ressureição clunaica" na Europa do século XI, que possibilitou a mobilização de grandes números de cavaleiros e camponeses para a marcha sobre a Terra Santa (HUNTINGTON, 1997, p. 264).

Segundo Huntington, as motivações que levam os conflitos entre o Islã e o Ocidente estão nas questões de poder e cultura e estes continuarão a acontecer enquanto os hábitos e crenças de cada civilização se manterem vivos. Nas décadas de 80 e 90 o Islã adquiriu uma postura antiocidental forte, atitude que pode ser considerada como resultante natural do "ressurgimento muçulmano" e da tentativa de imposição de culturas por parte do Ocidente. Os muçulmanos encaram os ocidentais como uma ameaça a sua cultura, tendo suas crenças como materialistas, corruptas, decadentes e imorais. A veem também como atraente e por isso eles deveriam resistir ainda mais as suas tentações. Dessa forma cada vez mais os islâmicos atacam os ocidentais por não professarem nenhuma religião, considerando a ausência desta pior do que a presença do cristianismo.

O crescimento de ações antiocidentais cresceu juntamente com uma preocupação em relação à "ameaça islâmica" dos ocidentais, sendo representada pelos mulçumanos extremistas. A preocupação, segundo o autor, se refere ao fato de que o Islã tem sido considerado um ponto de proliferação nuclear, terrorismo e imigrações indesejadas, principalmente para a Europa. Tendo em vista as considerações que cada civilização faz da outra e o crescimento do extremismo islâmico, não é de se surpreender com a eclosão da Guerra Civil na Síria e ainda a criação do grupo terrorista intitulado Estado Islâmico.

A seguir tem-se o conceito de religião, principal fonte de conflitos nos dias de hoje. Além disso, tem-se uma descrição do islamismo para que seja possível compreender a religião e seus princípios.

2.5 RELIGIÃO

A religião ou fenômeno religioso é de vital importância para a construção deste trabalho, tendo em vista que a principal problemática da região estudada tem por base conflitos religiosos e culturais. Segundo Wilges (1995) o fenômeno religioso é ilimitado, ou seja, está presente em todos os tempos, lugares e povos e isto pode

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ser comprovado pela história das religiões. Plutarco já afirmava em que uma cidade sem construções e sem leis poderia ser facilmente encontrada, porém, um povo sem uma cultura religiosa seria impossível.

O autor afirma que não há uma concordância entre os intelectuais para definir a religião e considera que a definição mais aceita seria a ideia de que religião é um conjunto de crenças e costumes que visam um poder que o homem vê como superior do qual se encontra dependente, um ser possuidor deste poder com o qual consegue manter relações pessoais e conseguir favores. As religiões desenvolveram-se de acordo com suas culturas. Algumas religiões colocam em foco a crença e outras a prática. Determinadas religiões enfatizam as atividades subjetivas do indivíduo, enquanto outras dão mais importância as atividades religiosas em comunidade.

Existem religiões que se consideram universais, afirmando que seus ideais e hábitos devem ser obedecidos por todos, existem também religiões que se destinam a um grupo limitado de indivíduos. Como o foco deste trabalho cientifico está na civilização islâmica, há grande importância em compreender a religião Islã, desde seus ideais aos seus hábitos, para que se possa analisar futuramente a pluralidade de problemas enfrentados pela Síria. Por fim, o islamismo será conceituado com mais propriedade no tópico que segue.

2.5.1 Islamismo

Aproximadamente 90% da população do território Sírio é adepto a religião islâmica e por este motivo compreender esta cultura e ter uma noção de suas crenças e hábitos é fundamental para a elaboração do presente trabalho. O Islão possui fundamentos que regulam todos os aspectos da vida do homem e da sociedade, segundo Nabhan (1996), a importância do islamismo está relacionada ao fato de haver transmitido a maior parte da cultura da Antiguidade e sua contribuição para a evolução do pensamento e da ciência. A região da Arábia onde surge o Islão no século VII era uma terra isolada e desértica. Foi a persistência ao longo dos anos de seus habitantes que a tornaram um local participante das relações internacionais econômicas. Inicialmente composta por um povo nômade, a intensa mobilidade é visível na cultura árabe original que leva ao conceito e habito das migrações. Esse

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hábito auxiliou no processo de desenvolvimento e evolução religiosa, assim como uma maior unidade social.

O Islamismo inicia seu calendário na data da emigração do profeta Maomé e aqueles que o seguiam para a cidade de Yatrib em 16 de Julho de 622 d.C., aponta o autor, mais tarde este local ficou conhecido como Medina. Nesta cidade foi construída a primeira mesquita e é nela onde se encontra a tumba do profeta, é neste local em que os fiéis se reuniam para reflexões espirituais e discutir os problemas de seu mundo. Os principais livros desta religião são o Alcorão e a Suna. O alcorão sendo um livro composto por um discurso que interliga os planos temporais e espirituais, não havendo uma separação entre a vida religiosa e social.

O alcorão é considerado fonte das palavras de Deus que foram reveladas a Maomé, afirma o autor, e é composto por doutrinas e normas que revelam as alterações da alma e trata de temas como a criação, astronomia, reino animal e vegetal e até mesmo sobre a reprodução humana. Para os muçulmanos recitar o alcorão em suas cinco orações diárias é uma fonte de força diária, sendo que para eles o livro é a fonte de sua vida. A palavra não é apenas uma transmissão de pensamento, a alma é construída através delas e é a partir delas que se trabalha e repousa, vive e morre. E o Suna seria um relato da trajetória de Maomé, seu caminho percorrido e as formas pelas quais disseminou os ensinamentos islâmicos.

[...] Há um só Deus todo-poderoso e absoluto. Ele é tão poderoso que ordena tudo e não há mais lugar para a liberdade do homem. Daí se chega ao fatalismo. Tudo está previamente previsto e marcado. "Estava escrito" é uma expressão comum no meio maometano. Consequência disso é que não há estimulo da parte da religião para o progresso material. Se eu sou rico ou pobre é porque Deus quer (WILGES, 1995, p.61).

O Islão é baseado em duas premissas, descreve Nabhan, são elas: a fé, simbolizando a crença em um único Deus e na missão de Maomé, o profeta escolhido por este Deus. Seus pilares são: a profissão de fé (chahada), a oração (çalat), o jejum (çawam), a peregrinação (hajj) à Meca e a esmola (çadapa ou

zakah). Por fim, no Islão não existem diferenças entre lei religiosa e civil, a charia é a

única lei que define toda a vida muçulmana. Para o autor, os impactos da expansão colonial e a procura pelo progresso se tornou uma necessidade básica para os mulçumanos. Com isso, a partir dos anos 80 do século XIX, o mundo islâmico passou a ter um discurso repleto de conceitos que buscavam renovar a ideia de evolução de todos os setores da vida nacional. Desenvolveram-se, entre os anos de

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1890 á 1920, imprensas e associações islâmicas que possuem o intuito de expressar o pensamento muçulmano e despertar a necessidade de reforma, progresso e renovação moral e social do povo.

No fim da primeira Guerra Mundial acontece uma dissolução de todas essas ideias, deixando para trás uma imagem triunfante: inviolabilidade do território islâmico, supremacia de sua cultura e a união dos povos que formaram a nação muçulmana. Já no fim da Segunda Guerra Mundial tem-se a libertação dos povos muçulmanos de seus colonizadores europeus e como consequência a maioria dos países que surgiram posteriormente fizeram uso das fontes islâmicas para legitimar seu processo político, aponta o autor. Enfim, nos anos 1950, o aspecto político e cultural do Islão se modificou e diversos países árabes se basearam na ideia de liberação e adotaram regimes diferenciados, como as instituições republicanas e projetos socialistas.

As mudanças ocorridas na sociedade muçulmana - a ocidentalização e a descolonização - geraram crises na política de desenvolvimento e refletiram no comportamento do crente do Islão, que se distanciou de sua identidade cultural e religiosa (NABHAN, 1995, p. 108).

Com as alterações da sociedade muçulmana surgem, a partir de 1970, movimentos políticos e religiosos que se basearam na reislamização e foram chamados de fundamentalismo, tradicionalismo, radicalismo islâmico, entre outras denominações. Atualmente o Islamismo é predominantemente dominado pelo tradicionalismo, com uma tentativa de manter suas tradições e hábitos. Com a Globalização observa-se certa dificuldade nesta tarefa, visto que há uma maior troca de informações e contato com as diferentes religiões existentes e por isso este termo será definido no tópico a seguir.

2.6 GLOBALIZAÇÃO

Há três concepções abordadas por Albuquerque (2005) para globalização, são elas: tradicional neoliberal, crítica e a pragmática. Na concepção neoliberal a globalização apresenta sua origem na capacidade que o homem possui de aperfeiçoar-se. Isso deriva de um desenvolvimento cientifico e tecnológico, que torna possível efetuar os principais processos econômicos instantaneamente e à distância. Na medida em este processo torna-se global ele se torna cada vez mais

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transparente aos envolvidos. Sendo assim, a globalização poderia ser considerada como a perfeição para o mercado. A concepção crítica leva em consideração os resultados negativos da globalização, como a crescente necessidade de troca dos parques industriais devido a competição internacional e resultante desemprego, a rápida alteração dos fluxos de investimento e a desregulamentação do mercado internacional.

Por fim, segundo o autor, a visão pragmática ou realista, vem com a intenção de estudar e entender como se inicia a globalização, seus efeitos sobre as economias nacionais e relações internacionais, na tentativa de analisar o que há de irreversível ou o que há de passageiro na globalização, tornando possível com esta analise identificar os pontos positivos e negativos com relação aos interesses dos Estados.

A "globalização" está na ordem do dia; uma palavra da moda que se transforma rapidamente em um lema, uma encantação mágica, uma senha capaz de abrir as portas de todos os mistérios presentes e futuros. Para alguns, "globalização" é o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros é a causa da nossa infelicidade. Para todos, porém, "globalização" é o destino irremediável do mundo, um processo irreversível; é também um processo que nos afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira. Estamos todos sendo "globalizados" - e isso significa basicamente o mesmo para todos (IANNI, 2001, p.7).

O termo globalização é antigo, desde o século XIX aparece nos estudos de diferentes intelectuais. Entretanto, apenas nos anos 60 e 70 que este termo passou a ser usado com efetividade. O termo por si só, aponta Held e Mcgrew (2001), não possui uma definição exata, podendo significar diferentes coisas para diferentes pessoas. Globalização pode ser encarada como a ação à distância; como uma forma mudança na forma de comunicação que se torna instantânea; como uma interdependência acelerada; como um mundo em processo de diminuição, diminuindo a importância da distância geográfica; como integração global, entre outros conceitos. A diferença entre as definições está apenas no destaque que se dá a cada aspecto.

A expansão da interdependência política e econômica entre os países gerou uma grande repercussão, trazendo discussões que tentavam delimitar o que era verdadeiramente local ou global; interno ou externo à tona. Neste mundo mais interdependente questões que se iniciam de forma regional se tornam, em poucos momentos, global, considerando que acontecimentos internos acabam afetando de

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uma forma ou de outra todos aqueles que possuírem relações com ele. Segundo os autores, o momento em que este tema toma foco nas discussões vem a coincidir com a revolução na propagação de informações, confirmando a convicção de que o mundo está se transformando em um espaço social e econômico compartilhado, pelo menos entre aqueles cidadãos mais privilegiados. Com isso, a globalização claramente possui um vertente material, que considera o fluxo de mercadorias, capital e pessoas por todo o mundo que é facilitado por uma infraestrutura que regulariza a interligação global.

Assim como o conceito, afirmam os autores Bauman e Zymunt (1999), as consequências da globalização se diferem de pessoa para pessoa. O que para alguns parece globalização, para outros pode ser visto como localização, sinal de liberdade ou ainda um destino malquisto e doloroso. A mobilidade ganha muito mais valor e foco, o ato de poder se mover pelo globo ou de poder mover materiais e produtos. A distribuição desigual deste aspecto se torna o principal agente da separação entre a população. Considerando os efeitos desiguais da globalização, alguns se tornam efetivamente globais enquanto alguns se estabelecem em sua localidade, fato que não é agradável ou aceitável visto que os habitantes globais ditam as regras a todos.

Ser visto como um habitante local, apontam os autores, é sinal de degradação social, com os espaços públicos localizados fora do alcance da vida localizada, as localidades acabam perdendo a força para se auto gerir e acabam se tornando reféns das decisões e ações que não são tomadas por ela. A maior causa de preocupação se tornou a crescente falha na comunicação entre as elites extraterritoriais cada dia mais global e todo o resto da população que se torna cada vez mais localizada. O novo "centro" mundial da um novo significado as distinções entre ricos e pobres, nômades ou sedentários, "normais" e anormais.

Para facilitar a compreensão das relações entre diferentes regiões do mundo tornou-se necessário o estudo e apoio das teorias das relações internacionais, com isso o tópico a seguir busca conceituar as teorias mais relevantes para o tema abordado neste trabalho.

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2.7 AS TEORIAS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Desde a antiguidade, diversos estudiosos tentam entender e definir a origem das relações entre as entidades políticas de cada época. Desde Trucídides (404 a.C.), interrogando as relações entre Atenas e Esparta e propondo a relação pacífica e harmônica entre as duas Cidades-estados, as questões entre diferentes regiões do globo são analisadas. Segundo Fernandes (1998), as relações internacionais podem ser vistas como o reflexo das interações entre os Estados, organizações internacionais e as empresas multinacionais e transnacionais. Sendo assim, compreende as relações entre estes atores e o reflexo destas no mundo. As relações entre estes agentes internacionais podem adquirir duas faces, são elas: pacíficas e conflituosa. Em ambas as faces, elas podem ser públicas ou privadas, bilaterais ou multilaterais, ter caráter político, econômico ou militar.

As relações internacionais pacíficas são aquelas que envolvem a mútua cooperação e integração entre os envolvidos, já as conflituosas são caracterizadas pela tentativa da imposição de vontades aos demais ou pela violação de algum direito previamente estabelecido. Existem diversas teorias que foram construídas com o passar do tempo na tentativa de analisar e definir as relações internacionais e neste tópico serão abordadas as teorias clássicas, realista e liberal, consideradas pela autora de crucial importância para a composição e entendimento deste trabalho. As teorias clássicas, aponta Fernandes, colocam o Estado, interesses nacionais, poder, conflitos e equilíbrio de forças em foco para explicar as relações internacionais. Enquanto alguns teóricos da escola clássica têm o poder como fator central e único de relativa importância para as relações internacionais, outros indicam que a conduta diplomático-estratégia dos Estados quem determina estas relações; por fim outros acreditam que as relações entre os Estados são condicionadas e determinadas pelo poder político.

De acordo com Albuquerque (2005), os realistas consideram o fato de que cada Estado possui poder absoluto sobre seu território e seus habitantes, e assim qualquer forma de poder acaba quando se encontra o território e os habitantes de outro Estado. Com isso nenhuma autoridade pode tentar exigir submissão de um terceiro Estado, apenas com o uso da força. As teorias construídas por estes têm como base o princípio do uso da força, consequentemente o surgimento de guerras, como uma tentativa de um Estado de

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sobreviver à prosperidade dos demais e não pela busca por justiça sobre determinado fato.

A teoria realista das relações internacionais desenvolveu-se no mundo anglo-saxônico, particularmente nos EUA, por oposição aos idealistas (utopistas) que acreditavam nas virtudes da Sociedade das Nações Unidas (SDN), nos mecanismos da arbitragem e no sistema de segurança coletiva como instrumentos capazes de garantir a paz e a segurança internacional. Para os realistas, como ficou demonstrada pela fraqueza da SDN, pela agressividade hitleriana e japonesa e pela efervescência da guerra fria, a paz mundial não pode ser assegurada pelas organizações internacionais com base no direito internacional, mas sim pelo estabelecimento de um equilíbrio de forças, de uma balança de poderes que evite a hegemonia e os apetites expansionistas de qualquer potência, porque, numa comunidade interestatal, cada um dos seus membros procura satisfazer os seus interesses nacionais através da afirmação do poder (FERNANDES, 1998, p.124).

Quando se trata dos pensadores liberais, aponta o autor, encontra-se com eles uma maior preocupação com as relações entre indivíduo, sociedade e governo. Poucos pensadores colocaram como foco de seus estudos as adversidades internacionais. O tema principal destes pensadores é a liberdade do indivíduo, preocupação herdada do iluminismo, defendendo que os seres humanos possuem a capacidade de usar a razão para determinar seu futuro de forma autônoma. Deixando em evidencia que os indivíduos não precisam de forças divinas ou de representantes para definir como cada um deve viver sua vida.

Essa ideia de que todos os seres humanos são livres, iguais e possuem os mesmos direitos se tornaram os princípios filosóficos mais importantes para as teorias liberais modernas afirmam Nogueira e Messari (2005). Neste momento temos o pensamento de Adam Smith sobre à auto regulação do mercado, acreditando que o mercado se autorregularia através da competição entre os que dele participavam o que deu origem a "mão invisível", acreditando os preços de cada mercadoria se equilibrariam de forma "natural”.

[...] the appropriate way to begin this discussion is with a four-dimensional definition (Doyle 1997:207). First, all citizens are juridically equal and possess certain basic rights to education, access to free press, and religious toleration. Second, the legislative assembly of the state possesses only the authority invested in it by the people, whose basic rights it is not permitted to abuse. Third, a key dimension of the liberty of the individual is the right to own property, including productive forces. Fourth, liberalism contends that the most effective system of economic exchange is one that is largely market driven and not one that is subordinate to bureaucratic regulation and

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control, either domestically or internationally1 (BAULIS; SMITH; OWENS, 2011, p. 1).

Ao analisar as ideias apresentadas pelas duas correntes, tem-se que o realismo tenta explicar as tentativas de afirmação do poder que a civilização islâmica possui. Já com o liberalismo observa-se o esforço para explicar as facetas da globalização e das organizações internacionais. Sendo as duas teorias possuidoras de importância para a análise e compreensão do conflito sírio. Como país sírio atingiu o estado de guerra civil, apresentou-se a necessidade de compreender melhor este conceito e por este motivo este será abortado a seguir.

2.8 GUERRA CIVIL

A ideia de "guerra" é inevitavelmente um conceito que pertence à política, para Mir (2004), um mundo sem a possibilidade de uma guerra seria um mundo sem política. As diferenças observadas entre religiões, etnias, economias têm a capacidade de unir aqueles que possuem uma mesma crença sobre estes assuntos e ao mesmo tempo consegue criar seus inimigos. O Estado teria o domínio sobre compor e definir um estado de guerra o de paz, se tornando o principal responsável pelo caminho seguido pela população e suas futuras consequências. Os problemas políticos se tornam verdadeiros impasses entre diferentes Estados e assim podem levar a um conflito, assim como a união de diferentes povos pode promover a cooperação e desenvolvimento.

A adesão de um Estado à guerra pode ser considerada um profundo retrocesso, visto que na maior parte das ocasiões há uma forma de evitar tamanho conflito e resolver possíveis desavenças de forma civilizada e harmônica. Os Estados precisariam apenas saber medir as consequências de cada uma de suas atitudes e chegar a uma conclusão sobre os seus reais objetivos.

1[...] a forma adequada para começar essa discussão é com uma definição de quatro dimensões

(Doyle, 1997: 207). Em primeiro lugar, todos os cidadãos são juridicamente iguais e possuem certos direitos básicos à educação, o acesso à imprensa livre, e tolerância religiosa. Em segundo lugar, a Assembléia Legislativa do Estado possui apenas a autoridade de que é investido pelo povo, cujos direitos básicos, não são permitidos abusos. Em terceiro lugar, uma dimensão fundamental da liberdade do indivíduo é o direito à propriedade, incluindo forças produtivas. Em quarto lugar, o liberalismo sustenta que o sistema mais eficaz de intercâmbio econômico é aquele que é em grande parte impulsionada pelo mercado e não um que é subordinado à regulamentação e controle burocrático quer a nível nacional quer a nível internacional (BAULIS; SMITH; OWENS, 2011, tradução nossa).

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O que é importante a ser considerado, por ora, é que o estado de guerra tem um caráter tanto homicida quanto suicida, à medida que desafia o medo da morte e atenta contra a motivação da autopreservação - principal fundamento da teoria hobbesiana. Pois o medo da morte em si já é autopreservação, visto que, no momento em que deixa de ser a motivação mais importante da vida do homem, a torna mais vulnerável (SOUKI, 2008, p.43).

Para Souki, um dos principais motivos incentivadores de uma guerra é a competitividade, que também pode ser chamada de rivalidade. Esse motivo sendo considerada uma motivação econômica, por pressupor escassez. Esse estado de natureza de escassez condenaria o homem a fazer uso da guerra como forma de adquirir aquilo que se fez necessário e satisfazer suas necessidades. Portanto, quando um bem ou recurso se faz insuficiente e gera desequilíbrio, se torna inevitável que daí decorra violência e conflito. Quando o conflito é travado em um Estado entre pessoas que habitam a mesma região, não caracterizando um conflito internacional, e este atinge proporções que caracterizam uma guerra, esta é chamada de Guerra civil.

Inicialmente quando o movimento popular da Primavera Árabe chegou a Síria alguns manifestos puderam ser observados, porém, ao longo do tempo o país passou a ser cenário de violentos conflitos entre as forças do governo ditatorial de Bashar al-Assad, seus cidadãos e diferentes grupos rebeldes. O conflito tomou uma dimensão tão ampla e hostil que passou a ser considerado uma Guerra Civil.

Referências

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