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Aspectos Particulares do Código Ambiental de SC

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Aspectos Particulares do Código Ambiental de SC

*João de Deus Medeiros Titulo III Dos Conceitos

Art. 29

XV - campos de altitude: são constituídos por vegetação típica de ambientes montano e alto-montano, com estrutura arbustiva e/ou herbácea, que ocorre geralmente nos campos litólicos, em elevações com altitudes acima de 1.800 m (um mil e oitocentos metros), predominando em clima subtropical ou temperado, sendo caracterizado por uma ruptura na seqüência natural das espécies presentes e nas formações fisionômicas circunvizinhas, formando comunidades florísticas próprias desta vegetação, sendo estas caracterizadas por endemismos, sendo que no Estado os campos de altitude estão associados à Floresta Ombrófila Mista, bem como à Floresta Ombrófila Densa;

A vinculação do conceito de campos de altitude como vegetação típica que ocorre em altitudes acima de 1.800m, torna tal conceito tecnicamente inadequado devido ao fato de que este tipo de ecossistema é encontrado em altitudes inferiores. A Nota Explicativa que acompanha o Mapa de Aplicação da Lei nº 11.428/06 (WWW.ibge.gov.br/geociencias/recursosnaturais) esclarece que os Campos de Altitude correspondem a vegetação herbácea ou herbácea/arbustiva situadas nos ambientes montano e alto-montano. Portanto, no caso de SC, poderão ocorrer em áreas com altitudes desde 400m. Importante destacar a contradição no conceito proposto no PL, visto que o próprio também se associa aos ambientes montano e alto-montano. Além disso, a vinculação com altitudes superiores a 1800m, praticamente eliminaria essa formação no Estado de SC, visto que são pouquíssimas as áreas do Estado com altitudes superiores a esta, e nessa condição (acima de 1800 m) qualquer que seja a vegetação, a área é considerada de preservação permanente (Lei 4.771/65, art. 2º, h).

Art 24, § 2º - O Fundo deverá apoiar estudos técnicos e científicos visando ao conhecimento dos aspectos técnicos relacionados às áreas protegidas, com o objetivo de adequar a legislação ambiental à realidade social, econômica e fundiária do Estado.

O regramento referente a áreas protegidas deve obrigatoriamente seguir as disposições previstas no art. 225 da Constituição Federal, assim como aquelas da lei 9.985/00 e Decreto 4.340/02, que tratam do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, dentre outros. Não há razoabilidade na pretensão de adequar a legislação ambiental à realidade social, econômica e fundiária do Estado, visto que o mesmo é parte de uma república federativa, e as normas gerais são editadas considerando-se a realidade nacional, e são gerais exatamente para que se constituam na diretriz básica, a qual obviamente deverá ser por todos, indistintamente, observadas. Além disso, a CF ao impor ao Poder Público a obrigação de instituir espaços territoriais especialmente protegidos procura garantir a proteção da natureza resguardando-a das incertezas oriundas das voláteis tendências socioeconômicas.

Art. 26. O Fundo de Compensação Ambiental e Desenvolvimento - FCAD destina-se a:

IV - financiar e subsidiar projetos produtivos que venham mudar o uso atual do solo e regularizar ambientalmente as propriedades rurais e urbanas;

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Propriedade irregular pressupõe que, em alguma medida normas legais deixaram de ser cumpridas por seus titulares. Destinar recursos de um Fundo de Compensação Ambiental para financiar projetos produtivos em propriedades irregulares pode ser entendido como um estímulo descabido a ilegalidade. Em outras palavras, o Estado passaria a premiar o infrator, desconsiderando que, nos casos de infração ambiental, independente da medida tomada, fica o autuado obrigado a reparar integralmente o dano que tenha causado.

Art. 29. Para os fins previstos nesta Lei entende-se por:

Art 29- O caput do artigo refere-se a conceitos

§ 1º Para os efeitos deste Código e demais normas de caráter ambiental, as atividades rurais de produção de gêneros alimentícios, vegetal e animal, são consideradas atividades de interesse social.

Aqui se prevê uma categorização de interesse social infundada e conflitante, por exemplo, com a definição da lei federal nº 11.428/06, lembrando que o território do Estado de SC encontra-se nos limites do bioma Mata Atlântica. Adicionalmente, a Resolução CONAMA 01/86 elenca como potencialmente poluidoras e, portanto dependentes de elaboração de EIA-RIMA, os complexos agro-industriais e os projetos agropecuários em áreas acima de 1000 ha. Logo a previsão genérica, como estabelecida no PL, mostra-se inadequada e descabida.

§ 2º Nas atividades a que se refere o inciso VIII e que estiverem em desacordo com a legislação ambiental, será priorizada a adoção de medidas que permitam compatibilizar a manutenção da atividade com a proteção do meio ambiente, admitindo-se a adoção de alternativas técnicas em substituição à adoção dos critérios ou exigências que não estejam sendo atendidas.

As alternativas técnicas deverão sempre procurar auxiliar na compatibilização das atividades produtivas com as normas de proteção ambiental, contudo é inadequado supor que sua adoção, qualquer que seja ela, possa ter o condão de flexibilizar ou suprimir a exigência da observância às normas legais. O principio da legalidade, por força da determinação do artigo 37 da CF, não pode deixar de ser observado pelo Poder Público. A disposição contida no § 2º é portanto inconstitucional.

Art. 54 § 3º Qualquer requerimento de licenciamento ou autorização ambiental, desde que tenha apresentado toda a documentação necessária, terá que ser respondido no prazo de até sessenta dias após o protocolo, sendo que o não-cumprimento deste prazo implica em aprovação automática do contido no requerimento.

Essa figura do decurso de prazo é duplamente negativa: não há como admitir que qualquer licenciamento, por conta de deficiências reais ou promovidas, do próprio estado, faculte a emissão compulsória da autorização. Com isso elimina-se o princípio da precaução e abre-se flanco perigoso e de controle praticamente impossível, permitindo que servidores sejam cooptados a desrespeitar o prazo aludido, resultando disso a aprovação dos pleitos. Há que se considerar também que a lei 6.938/81 instituiu um Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e, no caso de incapacidade declarada do órgão seccional (órgão executivo estadual), as suas atribuições deverão ser (re)tomadas pelo órgão executivo (federal). Cumpre ainda destacar que a Lei nº 9.784/99 define que a Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. Com a pretendida aprovação automática ficam seriamente

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comprometidos tanto o principio da eficiência quanto o do interesse público, aqui associado ao direito constitucional de um ambiente ecologicamente equilibrado disponibilizado a todos os cidadãos.

Art 93 § 3º Cumpridas integralmente as obrigações assumidas pelo infrator, a multa será reduzida em noventa por cento do valor atualizado, monetariamente.

O Decreto Federal nº 6.514 prevê que, independente do valor da multa aplicada, fica o autuado obrigado a reparar integralmente o dano que tenha causado (art 143, § 2º); o que o Decreto Federal prevê é a conversão de multa em serviços, sem prejuízo da reparação dos danos. Contudo o valor dos custos dos serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente não poderá ser inferior ao valor da multa convertida. O art 93 do PL subverte essa regra geral, concedendo desconto superior ao previsto na legislação federal.

Art. 115. São consideradas áreas de preservação permanente para efeito da geomorfologia do Estado, além daquelas previstas por outras normas federais e municipais, pelo simples efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

I - ao longo dos rios ou de qualquer curso de água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja:

a) de cinco metros para os cursos de água inferiores a cinco metros de largura; b) de dez metros para os cursos de água que tenham de cinco até dez metros de largura;

c) de dez metros acrescidos de 50% (cinqüenta por cento) da medida excedente a dez metros, para cursos de água que tenham largura superior a dez metros.

Como o artigo menciona “além daquelas previstas por outras normas federais e municipais”, o disposto é inóquo já que as previsões da legislação federal (Lei nº 4.775/61 – Novo Código Florestal) estabelecem dimensões superiores ao fixado pelo PL, a saber, respectivamente, 30m para o previsto nas letras a e b; e pelo menos 50m para o previsto na letra c. Sua manutenção somente servirá para ampliar a insegurança jurídica e gerar conflitos desnecessários. Importante mencionar que, mesmo no caso de áreas urbanas definidas por lei municipal, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere o artigo 2º do Novo Código Florestal.

Art. 116. Nas áreas de preservação permanente da pequena propriedade ou posse rural é admissível o plantio de espécies vegetais, incluindo frutíferas e medicinais exóticas, desde que:

a) não implique o corte de vegetação nativa, salvo manejo sustentável mediante projeto técnico autorizado pelo órgão ambiental competente;

b) não sejam cultivadas espécies vegetais exóticas incluídas na lista de espécies com controle obrigatório ou tidas como contaminantes biológicos espécies exóticas invasoras;

c) o cultivo seja orgânico agroecológico, assim considerado aquele sem a utilização de fertilizantes químicos ou pesticidas químicos; e

d) o plantio seja de forma consorciada ou intercalar com espécies nativas. e) não

O Novo Código Florestal traz previsões relativas ao plantio de espécies exóticas, porém limitando-o aos casos de manutenção ou compensação da Reserva Legal em pequena propriedade ou posse rural familiar (art.16, § 3º); e na recomposição da Reserva Legal (art. 44, § 2º), nesse último caso ainda condicionando-o a plantio temporário de espécies

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exóticas como pioneiras, visando a restauração do ecossistema original. Desse modo, fica evidenciado que a previsão do plantio de exóticas nas APP extrapola o previsto na legislação federal.

Art. 117. Cabe à FATMA coordenar estudo que visa a identificação e o mapeamento das restingas geomorfológicas de Santa Catarina, identificando as faixas de preservação permanente deste ambiente, em escala 1:2.000 (um para dois mil), o qual deve contemplar os mapeamentos já realizados pelos municípios e ser antecedido de consulta aos demais entes federados.

O mapeamento oficial dos biomas e formações vegetais é de competência do IBGE e, no âmbito da regulamentação da lei 11.428/06, o Decreto 6.660/08 remete diretamente ao mapa da área de aplicação da lei n 11.428/06, o qual foi produzido pelo IBGE. Pelo exposto, além de extrapolação de competência, o referido estudo significaria na prática em uso indevido de recurso público, visto que seu resultado não terá eficácia alguma.

Art. 137. As unidades de conservação somente poderão ser criadas por ato do poder público, conforme regulado pela lei federal nº. 9.985 de 18 de julho de 2000. intermédio de lei e sua efetiva implantação somente ocorrerá se estiverem previamente inseridos no orçamento do Estado recursos especificamente destinados às desapropriações e indenização decorrentes de sua implementação.

V - a indicação da existência dos recursos financeiros necessários às indenizações, inclusive no que concerne à zona de amortecimento.

O artigo conflita com a Constituição Federal, pois esta prevê que o poder público deverá definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei... ou seja, a CF ao exigir tacitamente que a alteração e a supressão sejam feitas somente através de lei, e remetendo a atribuição a todo o poder público torna evidente que os outros poderes deverão promover a criação com os seus instrumentos próprios. Da forma como redigido a art 137, o PL restringe a determinação constitucional remetendo a obrigação tão somente ao Poder Legislativo.

Além disso, promove grave equivoco ao exigir previsão de recursos financeiros para indenizações nas zonas de amortecimento de unidades de conservação, espaço onde não há qualquer previsão legal para justificar indenizações visto que nessa zona, qualquer que seja a categoria de unidade de conservação, a regular titularidade das terras fica resguardada.

Art. 143. Será instituído, por decreto do Chefe do Poder Executivo, Conselho Deliberativo para a Área de Proteção Ambiental - APA, a Área de Relevante Interesse Ecológico - ARIE e a Reserva de Fauna.

Apesar de a lei 9.985/00 não prevê Conselho Deliberativo para APA, ARIE e RF, sua indicação na lei estadual não configura conflito, no entanto a lei 9.985 já determina o caráter deliberativo para RDS e RESEX, de tal forma que, como redigido o art 143, o PL estaria criando uma situação de imprecisão, ou pelo menos de indefinição. Ou seja, no caso de Conselhos Deliberativos de RDS e RESEX não haveria necessidade de instituição do conselho através de decreto do Chefe do Poder Executivo? Não obstante, a previsão nos parece desmedida e inadequada. A indicação dos Chefes e instituição dos conselhos é uma prerrogativa do Chefe do Executivo, ou das autoridades por ele designadas, contudo a boa prática administrativa tem mostrado que estas nomeações são feitas por outros instrumentos, normalmente portarias.

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Art. 249. Considera-se vegetação primária as florestas de terras baixas e a matinha nebular, mesmo tendo sofrido corte seletivo.

O artigo 249 é triplamente equivocado: primeiro por conta de termos, no âmbito da Mata Atlântica, a definição de vegetação primária e nos demais estágios sucessionais secundários remetidos ao CONAMA (lei 11.428/06, art. 4º), e convem lembrar que o CONAMA já fez essa definição para as formações florestais do estado de SC (Resolução 04/1994, de 4 de maio de 1994); segundo porque vegetação primária não pode se restringir a formações florestais, por exemplo as associações de restinga herbácea e arbustiva, por exemplo, podem igualmente se constituir em formações primárias, e isso também já se encontra regulamentado pelo CONAMA (Resolução 261/99, que trata da vegetação de restinga em Santa Catarina); e terceiro a artificialização criada com a previsão do corte seletivo não afetar a condição de vegetação primária, visto que, tecnicamente, um corte seletivo representa supressão de indivíduos da formação, e dependendo da sua intensidade o impacto decorrente pode comprometer essa caracterização.

Art. 256. A FATMA, em consonância com o IBAMA, pode permitir a coleta ou captura de exemplares de espécies da flora e fauna ameaçadas de extinção, dentro ou fora de unidade de conservação estadual.

Existem vários dispositivos na legislação federal pertinente visando garantir proteção diferenciada a espécies ameaçadas de extinção. O disposto no artigo 256 nada acrescenta nesse sentido, mas faz o inverso, destaca a possibilidade de coleta ou captura destas espécies. Ora, sabe-se que essa prerrogativa dos órgãos executivos do SISNAMA não será restrita ou ampliada com o dispositivo apresentado, contudo a referida autorização sempre será feita em caráter excepcional, e o teor do artigo 256 dá a falsa impressão que esse seria um processo rotineiro, invertendo a lógica da política de proteção destas espécies ameaçadas. Como o artigo proposto nada acrescenta, e sua manutenção cria imprecisão e indesejável insegurança jurídica, o mesmo deveria ser suprimido.

Art. 279. Os condomínios rurais, para efeitos de incidência da legislação ambiental, são considerados como urbanos, exceto no que concerne à exigência de área verde, que fica substituída pela necessidade de averbação da reserva legal, competindo ao município determinar eventual exigência a título de área institucional.

Inicialmente destaca-se que, como determina a lei 10.257/01 (Estatuto das Cidades), compete a União legislar sobre normas gerais de direito urbanístico e, adicionalmente, a previsão do art. 279 não resguarda consonância com as determinações do capitulo VI da lei 11.428/06, que trata especificamente da proteção do bioma Mata Atlântica nas áreas urbanas e regiões metropolitanas. Pela legislação federal somente poderão ser considerados como urbanos espaços assim definidos em lei específica, e mesmo assim com tratamento distinto nos casos de aprovação anterior ou posterior ao inicio de vigência da lei da Mata Atlântica.

Art. 298. Compete ao CONSEMA:

IV - no prazo de 2 (dois) quatro anos, a contar da publicação a) identificar e mapear as restingas geomorfológicas do Estado;

Conforme já mencionado, o mapeamento oficial dos biomas e formações vegetais é de competência do IBGE e, no âmbito da regulamentação da lei 11.428/06, o Decreto

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6.660/08 remete diretamente ao mapa da área de aplicação da lei n 11.428/06, o qual foi produzido pelo IBGE. Além disso, a previsão carece de maior fundamentação, pois se o objetivo é identificar as distintas formações para a correta operação das normas ambientais, as demais formações e ecossistemas associados igualmente deveriam figurar no mapeamento previsto.

Referências

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