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Efeitos da inserção de íons de Cr4+/2+ na matriz cristalina do Bi12GeO20 : estudo de primeiros princípios

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CENTRO DE CI ˆENCIAS EXATAS E TECNOLOGIA N ´UCLEO DE P ´OS-GRADUAC¸ ˜AO EM F´ISICA

LUCAS BARRETO SANTANA

Efeitos da inser¸c˜ao de ´ıons de Cr4+/2+ na matriz cristalina do Bi12GeO20: estudo de primeiros princ´ıpios

S˜ao Crist´ov˜ao 2018

(2)

Efeitos da inser¸c˜ao de ´ıons de Cr4+/2+ na matriz cristalina do Bi12GeO20: estudo de primeiros princ´ıpios

Vers˜ao original

Disserta¸c˜ao apresentada ao N´ucleo de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica da Universidade Federal de Sergipe, como parte dos requisitos necess´arios para obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em F´ısica.

´

Area de concentra¸c˜ao: F´ısica da Mat´eria Condensada

Orientador: Prof. Dr. Milan Lalic

S˜ao Crist´ov˜ao 2018

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(4)

Come¸co agradecendo `a minha m˜ae Maria de F´atima Barreto Santana, por todo carinho, dedica¸c˜ao, aconchego. Por seu amor incondicional desde sempre e para sempre.

Agrade¸co ao meu orientador Dr. Milan Lalic pela aten¸c˜ao, dedica¸c˜ao e paciˆencia. A Jailsson, meu parceiro de pesquisa e praticamente coorientador, obrigado pelas horas de v´ıdeos e ´audios tutorias e pela parceria. Ao doutorando Cl´edson dos Santos por toda ajuda e discuss˜oes. Ao Dr. Giordano Bispo, pelas revis˜oes e conselhos. Agrade¸co ao CNPq e CAPES pelo apoio financeiro.

Ao meu pai e irm˜aos, por me apoiarem incondicionalmente nas minhas decis˜oes profissionais. As minhas sobrinhas lindas Gabriela, Ana J´ulia e Nat´alia, por sempre me lembrarem que tem hora para estudar e hora para brincar.

Aos meus grandes amigos dessa dimens˜ao (e espero que de outras) Maria, Maikon, Paulo, Rodrigo, Larissa, Laryssa, Greice, Camila, Naelson, Harry, Maria, Felipe. Pelas conversas s´erias e aleat´orias, pelas madrugadas, pelos jogos jogados, pelas dan¸cas ensaiadas, festas improvisadas e pelos sorrisos que subitamente escapam quando lembro dos causos e momentos vividos com vocˆes.

Agrade¸co a todos os amigos que fiz nesses dois anos de mestrado, em especial D´ebora, Greycianne e Jailsson, que me ajudaram a pavimentar e ornamentar esse percursso `as vezes ´arduo. Aos amigos Ricardo, Victor, ´Ivina, D´ebora, Giordano, Ariana e Hellen por me fazerem me sentir bem normal com as minhas anormalidades.

Ao meu companheiro, confidente, player 2 e namorado Vin´ıcius, por tanta coisa . . . n˜ao d´a pra listar. Por ora agradecerei pelos cafun´es que funcionam melhor que qualquer calmante receitado. Obrigado. Agrade¸co `a parte da fam´ılia que vim adquirindo nos ´

ultimos 7 anos: Fabr´ıcia, Dona Tˆania, Seu Carlos, Felipe e Nicolle obrigado pelo apoio, confraterniza¸c˜oes e caf´es tomados.

E, por ´ultimo, mas n˜ao menos importante, agradecer `a parceria dos animais n˜ao humanos que compartilham suas vidas junto comigo: Maia, Arya, Lis e Lola. Tenho certeza que se raciocin´assemos de maneira similar vocˆes estariam contentes com essa conquista.

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SANTANA, Lucas Barreto. Efeitos da inser¸c˜ao de ´ıons de Cr na matriz cristalina do Bi12GeO20: estudo de primeiros princ´ıpios. 2018. 112 f. Disserta¸c˜ao (Mestrado em F´ısica da Mat´eria Condensada) – N´ucleo de P´os-Gradua¸c˜ao em F´ısica (NPGFI), Universidade Federal de Sergipe, S˜ao Crist´ov˜ao, 2018.

O Bi12GeO20 (BGO) pertence `a fam´ılia de cristais silenitas do tipo BMO, onde M = Ge, Si, Ti. Tais compostos apresentam um not´avel efeito fotorrefrativo e por isso s˜ao utilizados no desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de informa¸c˜oes e imagens, holografia, amplia¸c˜ao de sinais luminosos e interferometria dinˆamica. Uma das estrat´egias utilizadas para potencializar as propriedades de interesse dessas silenitas ´e a dopagem. Os defeitos podem criar centros fotorrefrativos na matriz, introduzindo n´ıveis de energias dentro do gap e influenciar nas propriedades eletrˆonicas e ´opticas das silenitas. Trabalhos experimentais relataram um comportamento curioso ao se utilizar ´ıons de metais de transi¸c˜ao (TMI) como dopantes. A maior parte dos TMIs, incluindo os ´ıons de Cr, s˜ao alocados no s´ıtio de alta simetria Ge4+, com exce¸c˜ao do Cu2+ que se insere na matriz no s´ıtio de baixa simetria do Bi3+. Esse ´e um fato surpreendente devido `a diferen¸ca entre raios iˆonicos e estados de carga dos dopantes e do ´ıon substitucional Ge4+. Neste trabalho foi utilizado o m´etodo LAPW, baseado na teoria DFT e implementado no programa WIEN2k, para estudar as propriedades eletrˆonicas, estruturais e energ´eticas do BGO puro e dopado com ´ıons de cromo. No estudo de casos dopados, os ´ıons de Cr foram inseridos nos s´ıtios substitucionais Ge4+ e Bi3+. Os c´alculos foram executados para sistemas neutros e carregados. As aproxima¸c˜oes para os efeitos de correla¸c˜ao e troca foram feitas atrav´es do funcional GGA-PBE e do potencial mBJ. Foram realizados c´alculos de otimiza¸c˜ao de parˆametro de rede, relaxa¸c˜ao de posi¸c˜oes atˆomicas, densidade de estados, carga de Bader e energias de forma¸c˜ao de defeito. Foi poss´ıvel encontrar o parˆametro de rede, a energia de gap do BGO puro, analisar a forma como a vizinhan¸ca do s´ıtio substitucional se comporta com a presen¸ca do defeito e encontrar os estados que populam as bandas de valˆencia e condu¸c˜ao dos casos estudados. Esses dados foram levados em conta para aferir a valˆencia dos ´ıons. Os resultados das modelagens mostraram que o Cr prefere se acomodar na matriz do BGO com valˆencias Cr3+/4+. O s´ıtio de acomoda¸c˜ao preferencial do Cr3+ ´e o Bi3+, o que vai de encontro ao que foi relatado experimentalmente na literatura.

Palavras-chaves: Bi12GeO20. BGO. Silenitas. Dopagem. Cromo. Cr. Propriedades eletrˆonicas. Densidades de Estado. Carga de Bader. Energia de Forma¸c˜ao. S´ıtio de Acomoda¸c˜ao. etc.

(6)

SANTANA, Lucas Barreto. Effects of the insertion of Cr ions on the crystalline matrix of Bi12GeO20: a first principles study. 2018. 112 p. Dissertation (Master in Condensed Matter Physics) – Nucleus of Post-Graduation in Physics (NPGFI), Federal University of Sergipe, S˜ao Crist´ov˜ao, 2018.

Bi12GeO20 (BGO) belongs to the family of sillenite crystals BMO, where M = Ge, Si, Ti. These compounds exhibit remarkable photorefractive effect and therefore are used in the development of information and image storage technologies, holography, amplification of luminous signals and dynamic interferometry. One of the strategies used to enhance the properties of interest of these sillenites is doping. The defects can create photorefractive centers in the matrix, introducing energy levels within the gap, influencing the electronic and optical properties of the selenites. Experimental work reported a curious behavior when using transition metal ions (TMI) as dopants. Most of the TMIs, including Cr ions, are allocated at the high symmetry site Ge4+, with the exception of Cu2+ which enters into the matrix at the low symmetry site of Bi3+. This is a surprising fact due to the difference between ionic radii and charge states of the dopants and the substitution ion Ge4+. In this work the LAPW method, based on the DFT theory and implemented in the WIEN2k program, was used to study the electronic, structural and energetic properties of pure BGO and doped BGO with chromium ions. In the study of doped cases, Cr ions were inserted at the substitutional sites of Ge4+ and Bi3+ The calculations were performed for neutral and charged systems. The approximations for correlation and exchange effects were made through GGA-PBE and mBJ potentials. Were performed calculations of lattice parameter optimization, relaxation of atomic positions, state density, Bader charge and formation energies of defects. It was possible to find the lattice parameter, and the band gap energy os the BGO pure, to analyse the way how the neighbourhood of the substitutional site behaves with the presence of the defect and find the states that populate the valence and conduction bands of the studies cases. These data were taking into account to measure the ions valence. The results of the modeling showed that Cr prefers to accommodate in the BGO matrix with Cr3+/4+ valences. The preferential accommodation site of Cr3+ is Bi3+, which didn’t meet with what has been reported experimentally in the literature. Keywords: Bi12GeO20. BGO. Sillenite. Doping. Chrome. Cr. Electronic Properties. Densities of Stae. Bader Charge. Formation Energy. Accomodation Sites. etc.

(7)

Figura 1 – Diagrama vetorial dos el´etrons num cristal.. . . 15

Figura 2 – Fun¸c˜ao de onda nuclear e fun¸c˜ao de onda eletrˆonica. . . 17

Figura 3 – Mapeamento de vext(~r ) para ρ0(~r ). . . 27

Figura 4 – Formas de tratar o sistema de referˆencia: el´etrons independentes. . . . 29

Figura 5 – O vext(~r ) ´e unicamente determinado (exceto por uma constante) por ρ0(~r ). . . 33

Figura 6 – Ciclo autoconsistente para encontrar a solu¸c˜ao das Eq. de Kohn-Sham. 40 Figura 7 – Esquema do postulado da LDA. . . 41

Figura 8 – Potencial verdadeiro de um cristal de Na. . . 46

Figura 9 – Aproxima¸c˜ao muffin-tin. . . 48

Figura 10 – C´elula dividida em esferas muffin-tin regi˜ao intersticial I. . . 48

Figura 11 – Esquema 2D da topologia da densidade eletrˆonica numa mol´ecula. . . . 55

Figura 12 – An´alise AIM mostrando os BCP (pontos azuis) e RCP (pontos laranjas). (a) gr´afico molecular mostrando os caminhos de liga¸c˜ao entre os ´atomos, (b) mapa do contorno da densidade eletrˆonica. . . 57

Figura 13 – Estrutura da c´elula c´ubica do B12GeO20 puro. Os Ge est˜ao simetrica-mente inseridos nos centros de tetraedros formados pelos O, os Bi est˜ao envolvidos por um octaedro irregular de oxigˆenios.. . . 61

Figura 14 – Otimiza¸c˜ao do Parˆametro de Rede do B12GeO20 puro. O volume inicial da c´elula foi obtido a partir do resultado experimental (ponto vermelho) e foi variado de -6 a 6% em passos de 1%. . . 63

Figura 15 – TDOS do B12GeO20 puro e seus ´atomos constituintes.. . . 66

Figura 16 – Degenerescˆencia do orbital 3d diante de um campo tetraedricamente coordenado. . . 72

Figura 17 – TDOS e PDOS do BGO:Cr→Geq = 0. . . 73

Figura 18 – TDOS e PDOS do BGO:Cr→Geq = 1. . . 74

Figura 19 – TDOS e PDOS do BGO:Cr→Geq = 2. . . 75

Figura 20 – TDOS e PDOS do BGO:Cr→Geq = -1. . . 77

Figura 21 – TDOS e PDOS do BGO:Cr→Biq = 0. . . 78

(8)

Figura 24 – Energia de forma¸c˜ao do defeito com c´alculos feitos com mBJ. . . 82

Figura 25 – Espa¸camento entre os pontos das redes para o caso unidimensional. . . 100

Figura 26 – Tipos de c´elulas unit´arias 2D. . . 100

Figura 27 – C´elula convencional para a rede fcc. . . 101

(9)

Tabela 1 – Parˆametros RMT e estados de valˆencia do Bi12GeO20 estudado. . . 62

Tabela 2 – Vizinhos do Ge4+ e Bi3+ no Bi

12GeO20 e compara¸c˜ao com referˆencia. . 64

Tabela 3 – Valores de band gap calculados e de referˆencias. . . 65

Tabela 4 – Distˆancias dos primeiros vizinhos do Cr acomodado nos s´ıtios subs-titucionais Ge4+ e Bi3+ do BGO e compara¸c˜ao com as distˆancias do

BGO puro. Para os casos Cr → Ge h´a 4 primeiros vizinhos igualmente distanciados. . . 69

Tabela 5 – Momentos magn´eticos (µ) e cargas de Bader (Carga) do cromo e do seu primeiro e segundo vizinho (oxigˆenio O* e O**) dos BGOs dopados:

Cr→Ge4+ e Cr→Bi3+. . . . . 70

Tabela 6 – BGO: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas de Bader. . . 104

Tabela 7 – BGO: Cr→Geq = 0: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

de Bader. . . 105

Tabela 8 – BGO: Cr→Geq = 1: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

de Bader. . . 106

Tabela 9 – BGO: Cr→Geq = 2: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

de Bader. . . 107

Tabela 10 – BGO: Cr→Geq = -1: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

de Bader. . . 108

Tabela 11 – BGO: Cr→Biq = 0: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

de Bader. . . 109

Tabela 12 – BGO: Cr→Biq = 1: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

de Bader. . . 110

Tabela 13 – BGO: Cr→Biq = 2: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

de Bader. . . 111

Tabela 14 – BGO: Cr→Biq = -1: posi¸c˜oes atˆomicas, momentos magn´eticos e cargas

(10)

APW Augmented Plane Waves (Ondas Planas Aumentadas) BCP Bound Critical Point (Ponto Cr´ıtico de Liga¸c˜ao) BGO Oxidos de Bismuto do tipo B´ 12GeO20

BMO Oxidos de Bismuto do tipo B´ 12MO20

CCP Cage Critical Point (Ponto Cr´ıtico de Cela) CFC C´ubica de Face Centrada

DFT Density Theory Functional (Teoria do Funcional da Densidade) EMR Electron Magnetic Resonance (Resonˆancia Magn´etica Eletrˆonica) EPR Electron Magnetic Resonance (Resonˆancia Paramagn´etica Eletrˆonica) DOS Density of States (Densidade de Estados)

GGA Generalized Gradient Approximation (Aproxima¸c˜ao do Gradiente Ge-neralizado)

LAPW Linear Augmented Plane Waves (Ondas Planas Aumentadas Lineares) LDA Local Density Approximation (Aproxima¸c˜ao da Densidade Local) LSDA Local Spin-Density Approximation (Aproxima¸c˜ao da Densidade Spin

Local)

MCD Magnetic circular dichroism (Dicro´ısmo Circular Magn´etico) NC N´umero de Coordena¸c˜ao

mBJ Modified Becke-Johnson (Modificado de Becke-Johnson) NCP Nuclear Critical Point

OA Optical Absorption (Absor¸c˜ao ´Optica)

ODMR Optically Detected Magnetic Resonance (Detec¸c˜ao ´Optica da Res-sonˆancia Magn´etica)

(11)

PDOS Partial Density of States (Densidade de Estados Parcial)

QTAIM Quantum Theory of Atoms in Molecules (Teoria Quˆantica dos ´Atomos em Mol´eculas)

RCP Ring Critical Point (Ponto Cr´ıtico de Anel) TDOS Densidade de Estados Total

TMI Transition Metal Ions (´Ions de Metais de Transi¸c˜ao) RMT Muffin Tin Radius (Raio Muffin Tin)

(12)

1 Introdu¸c˜ao . . . 13

1.1 Objetivos e Organiza¸c˜ao do Trabalho . . . 14

2 Fundamenta¸c˜ao Te´orica . . . 15

2.1 O Problema Quˆantico dos El´etrons num S´olido . . . 15

2.1.1 Aproxima¸c˜ao de Born-Oppenheimer . . . 16

2.2 Teoria do Funcional da Densidade (DFT) . . . 19

2.2.1 Densidade Eletrˆonica . . . 20

2.2.2 Potencial Externo . . . 23

2.2.3 Rela¸c˜ao entre Potencial Externo e Densidade Eletrˆonica . . 25

2.2.4 Energia em Termo da Densidade . . . 27

2.2.5 Teoremas de Hohenberg-Kohn . . . 31

2.2.6 Equa¸c˜oes de Kohn-Sham . . . 35

2.2.7 Procedimento Autoconsistente para Resolver as Equa¸c˜oes de Kohn-Sham . . . 40

2.3 Aproxima¸c˜oes para o Funcional de Correla¸c˜ao e Troca . . . 41

2.3.1 Aproxima¸c˜ao da Densidade Local (LDA). . . 41

2.3.2 Aproxima¸c˜ao da Densidade Local de Spin (LSDA) . . . 42

2.3.3 Aproxima¸c˜ao da Gradiente Generalizado (GGA). . . 43

2.3.4 Potencial Modificado de Becke e Johnson (mBJ) . . . 43

2.4 Resolvendo as Equa¸c˜oes de Kohn-Sham . . . 45

2.5 Base de Ondas planas . . . 46

2.6 M´etodo LAPW (Linear Augmented Plane Waves) . . . 47

2.6.1 Base APW (Augmented Plane Waves) . . . 48

2.6.2 Base LAPW. . . 50

2.7 C´odigo WIEN2K. . . 50

2.8 Propriedades Estruturais e Eletrˆonicas . . . 52

2.8.1 C´alculos de Otimiza¸c˜ao da Estrutura . . . 52

2.8.2 Densidade de Estados Eletrˆonicos . . . 53

(13)

2.10.1 Topologia da Densidade Eletrˆonica e Pontos Cr´ıticos . . . . 55

2.10.2 Regi˜oes Atˆomicas nas Mol´eculas . . . 58

2.10.3 Popula¸c˜ao Eletrˆonica no ´Atomo e Carga de Bader . . . 58

3 Resultados dos C´alculos com B12GeO12 Puro e Dopado com Cr 59 3.1 O Problema e o Estado da Arte . . . 59

3.2 C´alculos de Primeiros Princ´ıpios sobre o BGO Puro . . . . 61

3.2.1 Otimiza¸c˜ao do Parˆametro de Rede e Relaxamento das Posi¸c˜oes Atˆomicas do BGO Puro . . . 63

3.2.2 Propriedades Eletrˆonicas do BGO Puro . . . 64

3.3 C´alculos de Primeiros Princ´ıpios sobre o Bi12GeO20 Do-pado com Cr . . . 67

3.3.1 Relaxa¸c˜ao das Posi¸c˜oes Atˆomicas dos BGOs Dopados . . . 68

3.3.2 An´alise das Cargas de Bader . . . 69

3.3.3 Densidade de Estados dos BGOs Dopados . . . 71

3.3.4 Energia de Forma¸c˜ao do Defeito . . . 81

4 Conclus˜oes e Perspectivas . . . 84

Referˆencias1 . . . 87

Apˆendice A – Densidade Eletrˆonica do ´Atomo de H´elio. . . . 93

Apˆendice B – Derivadas Funcionais . . . 94

Apˆendice C – Transformada de Fourier das Ondas Planas . . 97

Apˆendice D – Rede de Bravais, Rede Rec´ıproca e a Zona de Brillouin . . . 99

Apˆendice E – Teorema de Bloch . . . 102

Anexo A – Dados Obtidos dos C´alculos Autoconsistentes . . 104

(14)

1 Introdu¸c˜ao

O problema de v´arios el´etrons num s´olido ´e uma das quest˜oes fundamentais da F´ısica da Mat´eria Condensada. Uma teoria que descreva as intera¸c˜oes que acontecem num sistema de v´arios corpos ´e a chave para o c´alculo e previs˜ao de propriedades f´ısicas e qu´ımicas de materiais.

A busca por modelos cada vez mais precisos levou Hohenberg, Kohn [1] e Sham [2] a postularem a Teoria do Funcional da Densidade (DFT). A DFT logrou ˆexito rapidamente, trata-se de um m´etodo ab initio que utiliza a densidade eletrˆonica como ente principal para se obter informa¸c˜oes do sistema. At´e ent˜ao boa parte das teorias anteriores utilizavam a fun¸c˜ao de onda multieletrˆonica, o que resultava numa custo computacional muito grande.

Os modelos baseados na DFT s˜ao computacionalmente mais baratos, isso possibilita sua aplica¸c˜ao no estudo de superc´elulas com defeitos, como ´e o caso do objeto de estudo desse trabalho.

Os BMOs com estrutura de selenita possuem a seguinte f´ormula qu´ımica: Bi12MO20. O elemento M pode pertencer a qualquer um dos grupos 2A-8A da tabela peri´odica. Esses ´oxidos de bismuto cristalizam em estrutura c´ubica, com grupo espacial I:23 com 12 opera¸c˜oes de simetria.

Os cristais com M = Ti, Ge, Si atraem bastante interesse devido a seu significativo efeito fotorrefrativo [3–5]. S˜ao utilizados para aplica¸c˜oes na holografia [6], processamento de imagens [7] e amplia¸c˜ao de sinais luminosos [8]. Dentre outras aplica¸c˜oes como na interferometria dinˆamica, processamento ´optico e armazenamento de informa¸c˜ao, tecnologia piezo el´etrica e ´optico ac´ustica etc [9,10].

Em contra partida, esses BMOs selenitas apresentam baixo coeficiente eletro-´optico e alta atividade ´optica, essas particularidades diminuem a eficiˆencia de difra¸c˜ao, induzem a transferˆencia de energia entre os ´atomos da rede e prejudicam as aplica¸c˜oes em tecnologias de holografia [11].

V´arios esfor¸cos tˆem sido feitos para contornar esses problemas com os BMOs, com o intuito de atenuar a atividade ´optica e aumentar o coeficiente eletro-´optico dos ´oxidos de bismuto [12,13]. Almeja-se tamb´em, deslocar as sensitividades fotorrefrativas para comprimentos de onda maiores (vermelho e infravermelho), para sintonizar a absor¸c˜ao de luz com a emiss˜ao de lasers semicondutores [14,15].

(15)

Uma estrat´egia para alcan¸car tais objetivos ´e utilizando t´ecnicas de dopagem na matriz do material. Os defeitos inseridos no cristal criam centros refrativos que podem acarretar o aparecimento de energia dentro do gap, o que leva `a mudan¸ca das propriedades eletrˆonicas e ´opticas dos compostos.

1.1 Objetivos e Organiza¸c˜ao do Trabalho

O objetivo inicial desse trabalho ´e realizar uma revis˜ao bibliogr´afica detalhada a respeito da teoria do funcional da densidade (DFT). Isto ser´a feito no cap´ıtulo chamado de Fundamenta¸c˜ao Te´orica. Buscar-se-´a estudar aspectos f´ısicos e matem´aticos que funda-mentam a DFT. Ao final ser˜ao revisadas as teorias que alicer¸cam os c´alculos de energia de forma¸c˜ao do defeito e de cargas de Bader.

A presente disserta¸c˜ao tamb´em tem o objetivo de encontrar as propriedades es-truturais e eletrˆonicas dos B12GeO20 puro e dopado com o cromo neutros e carregados. Isso ser´a feito atrav´es do m´etodo LAPW baseado na DFT implementado pelo programa WIEN2k 14.2. Esse estudo ser´a apresentado no cap´ıtulo Resultados dos C´alculos com B12GeO12 Puro e Dopado com Cr.

Ainda nesta segunda parte, ser´a analisada a forma como a vizinhan¸ca do s´ıtio substitucional se comporta com a presen¸ca do dopante. Al´em disso ser˜ao constru´ıdos gr´aficos de densidade de estados e ,atrav´es do programa Critic, ser˜ao mensuradas as cargas dos ´ıons presentes na rede. Pretende-se obter as energias de forma¸c˜ao de defeito.

O prop´osito ´e realizar esses c´alculos para todos os sistemas neutros e carregados estudados, e dessa forma buscar o entendimento de como o Cr ´e alocado na matriz cristalina. Por fim espera-se encontrar o s´ıtio de ocupa¸c˜ao preferencial do dopante Cr na matriz do B12GeO12.

O cap´ıtulo de Conclus˜oes e Perspectivas trar´a um resumo conciso dos resultados obtidos e propostas de trabalhos futuros fundamentados na discuss˜ao dessa disserta¸c˜ao.

Nos cap´ıtulos p´os-textuais constar˜ao os seguintes conte´udos. No cap´ıtulo Referˆencias ser´a listado as fontes estudadas para a montagem deste trabalho. O cap´ıtulo de t´ıtulo Apˆendice ser´a dividido em quatro partes que descrever˜ao teoremas e conceitos importantes para o estudo dos temas apresentados. Por fim, no cap´ıtulo Anexo, ser˜ao explicitados na ´ıntegra os n´umeros obtidos com os c´alculos autoconsistentes.

(16)

2 Fundamenta¸c˜ao Te´orica

2.1 O Problema Quˆantico dos El´etrons num S´olido

Neste trabalho, para a abordagem de problemas de natureza t˜ao complexa faz-se uso da Mecˆanica Quˆantica. Dessa forma, define-se a fun¸c˜ao de onda para uma part´ıcula como sendo

χ(~x) = χ(~r, ms) = Ψ(~r)σ(s). (2.1)

Onde ~x ´e uma vari´avel que leva em conta os graus de liberdade espaciais (~r) e de spin (s). O σ descreve o estado de spin da part´ıcula, ´e tamb´em a solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao de autovalores. Supondo    b Hχ = εχ b szχ = λχ , (2.2)

tem-se que χ ´e um estado onde o el´etron se encontra com energia ε e componente z do momento angular igual a λ.

O caso em quest˜ao, ilustrado na figura1, trata n˜ao s´o de um, mas de v´arios el´etrons num s´olido. Os vetores ~ri localizam cada el´etron de massa me, j´a os ~RI localizam os n´ucleos iˆonicos de massa MI que estruturam a rede.

(17)

A fun¸c˜ao de onda espacial ´e

Ψ(~r1, ~r2, . . . , ~ri, . . . , ~rNe, ~R1, ~R2, . . . , ~RI, . . . , ~rNn) = Ψ(r , ee R), (2.3)

ondeer e eR representam o conjunto de coordenadas eletrˆonicas e nucleares, respec-tivamente. O hamiltoniano n˜ao relativ´ıstico completo para um sistema de Nn n´ucleos e Ne el´etrons ´e dado por:

b H =

Energia cin´etica dos n´ucleos: bKN −~ 2 2 Nn X I=1 ∇2 ~ RI MI Energia cin´etica dos el´etrons: bKe −~ 2 2 Ne X i=1 ∇2 ~ ri me Intera¸c˜ao coulombiana entre el´etrons: bVee(~ri, ~rj) + 1 8πε0 Ne X j6=i Ne X i=1 e2 |~ri− ~rj| + 1 8πε0 Nn X J 6=I Nn X I=1 ZIZJe2 ~ RI− ~RJ Intera¸c˜ao coulombiana entre n´ucleos: bVnn( ~RI, ~RJ) − 1 4πε0 Nn X I=1 Ne X i=1 ZIe2 ~ri− ~RI Intera¸c˜ao coulombiana entre el´etrons e n´ucleos: bVen(~ri, ~RI)

.

(2.4)

A fim de se obter uma nota¸c˜ao mais s´obria, uma vez que o hamiltoniano da equa¸c˜ao

2.4 n˜ao depende das coordenadas de spin, optou-se por omitir os estados de spin da part´ıcula, σ. Quando necess´ario for, eles ser˜ao adicionados para que o princ´ıpio de exclus˜ao de Pauli seja atendido.

A equa¸c˜ao de Schr¨odinger independente do tempo ser´a:

b

HΨ(er , eR) = EΨ(r , ee R), (2.5)

´

e imposs´ıvel resolvˆe-la para sistemas de v´arios corpos. Na busca de solu¸c˜oes aproxi-madas, ´e necess´ario valer-se de algumas aproxima¸c˜oes importantes que ser˜ao apresentadas a seguir.

2.1.1 Aproxima¸c˜ao de Born-Oppenheimer

Em 1927, Max Born e J. Robert Oppenheimer propuseram uma aproxima¸c˜ao para desacoplar os movimentos eletrˆonicos e nucleares [16]. Os n´ucleos, por possu´ırem massas muito maiores que os el´etrons: mp ≈ 2000me [17], tˆem fun¸c˜oes de onda muito bem

(18)

localizadas, j´a os el´etrons apresentam fun¸c˜oes de onda mais difusas. Isso ´e exemplificado na figura 2:

Figura 2 – Fun¸c˜ao de onda nuclear e fun¸c˜ao de onda eletrˆonica.

Fonte: TUCKERMAN [17], 2016, p´ag. 3, editada.

Considerando que os n´ucleos iˆonicos s˜ao praticamente estacion´arios com rela¸c˜ao aos el´etrons, essa aproxima¸c˜ao prop˜oe a fixa¸c˜ao das posi¸c˜oes nucleares, transformando eR da equa¸c˜ao 2.3 num conjunto de parˆametros R.

A fun¸c˜ao de onda espacial, Ψ(er , eR), ´e aproximada ao produto da fun¸c˜ao de onda eletrˆonica, Ψe(

e

r , R), pela fun¸c˜ao de onda nuclear, ΨN( eR):

Ψ(r , ee R) ≈ Ψe(er , R)ΨN(er , R). (2.6)

A aproxima¸c˜ao de Born-Oppenheimer ´e conveniente para estudar sistemas que se encontram no estado fundamental, os resultados costumam ser pouco precisos para estados excitados. O hamiltoniano da equa¸c˜ao 2.4 pode ser reescrito inserindo a nova dependˆencia com R:

b

H = bKE + bVee(er ) + bVen(er , R) + bKN + bVnn(R), (2.7)

e separado numa parte eletrˆonica e noutra nuclear:    b He = bKE + bVee(r ) + be Ven(r , R)e b HN = bKN + bVnn(R) , (2.8)

(19)

Substituindo as express˜oes 2.7 e2.6 na equa¸c˜ao de Schr¨odinger independente do tempo 2.5, obt´em-se:

e HΨe(r , R)Ψe N(r , R) =e hKbE+ bVee( e r ) + bVen(er , R) + bKN + bVnn(R) i Ψe(r , R)Ψe N(r , R) = EΨe e(er , R)ΨN(er , R). (2.9)

Os operadores bK possuem derivadas de segunda ordem com respeito `as coordenadas espaciais. O bKE age sobre as coordenadas eletrˆonicas, o bKN, por sua vez, age sobre as coordenadas nucleares. Utilizando as equa¸c˜oes 2.7 e2.8 para desenvolver a 2.9, ´e f´acil ver que:

ΨN(R) bHeΨe(er, R) + bHN h

Ψe(er, R)ΨN(R)i = EΨe(er, R)ΨN(R), (2.10)

o termo em destaque merece uma aten¸c˜ao especial:

b HN h Ψe(er, R)ΨN(R)i=hKbN + bVnn ih Ψe(er, R)ΨN(R)i. (2.11) b

KN est´a em fun¸c˜ao do operador vetorial ∇2, que em coordenadas cartesianas ´e  ∂2 ∂x2 + ∂2 ∂y2 + ∂2 ∂z2 

. Como pode ser visto na figura 2, estima-se que ΨN(R) tenha uma curvatura muito mais alta que Ψe(r , R) nas vizinhan¸cas do n´e ucleo. Devido as derivadas de segunda ordem, a contribui¸c˜ao de bKNΨN ´e maior que as contribui¸c˜oes de bKNΨe e dos termos de derivadas mistas. Isso viabiliza a seguinte aproxima¸c˜ao:

b HN

h

Ψe(er, R)ΨN(R)i≈ Ψe(er, R) bHNΨN(R). (2.12)

Substituindo-a na equa¸c˜ao 2.10, dividindo ambos os lados por Ψe(

er, R)Ψ

N(R) e reorganizando cada termo em lados diferentes de acordo com suas dependˆencias:

b HeΨe(er, R) Ψe( er, R) ≈ E − HbNΨ N(R) ΨN(R) ε(R) , (2.13)

(20)

onde ε(R) ´e uma fun¸c˜ao apenas de R. A partir da equa¸c˜ao 2.13, obt´em-se a aproxima¸c˜ao da equa¸c˜ao eletrˆonica de Schr¨odinger:

b

HeΨeα(er, R) ≈ εα(R)Ψeα(er, R). (2.14)

O α representa o conjunto de n´umeros quˆanticos, R s˜ao parˆametros. As equa¸c˜oes

2.8 mostram que bHe carrega os termos bVee(er) e bVen.(er, R). Para cada configura¸c˜ao nuclear selecionada, obt´em-se diferentes conjuntos de Ψe

α com suas respectivas energias ε(R). ´

E como se os n´ucleos fornecessem uma energia potencial de fundo que se soma a repuls˜ao el´etron-el´etron, onde ambos os potenciais exercem influˆencia sobre o formato da fun¸c˜ao de onda eletrˆonica.

Reduz-se o problema ao de um sistema multieletrˆonico sob potencial externo resultante da configura¸c˜ao est´atica dos n´ucleos. ´E muito importante encontrar o conjunto de solu¸c˜oes da solu¸c˜ao da equa¸c˜ao 2.14, a partir da´ı ´e poss´ıvel resolver a equa¸c˜ao nuclear:

h b

KN + bVnn(R) + εα(R) i

ΨN(R) = EΨN(R) (2.15)

Cada n´ıvel energ´etico eletrˆonico εα(R) leva a diferentes equa¸c˜oes nucleares de Schr¨odinger. O termo bVnn(R) + εα(R) da express˜ao2.15 ´e a energia potencial de Born-Oppenheimer. Assumindo que os n´ucleos s˜ao est´aticos, bKNΨN(R) ≈ 0, obt´em-se detalhes da geometria do s´olido [17].

2.2 Teoria do Funcional da Densidade (DFT)

Com a aproxima¸c˜ao de Born-Oppenheimer, o problema quˆantico de v´arios corpos num s´olido pode ser reduzido a um problema de v´arios el´etrons que interagem uns com os outros e com os n´ucleos “fixados” sob um potencial externo. Viu-se que o hamiltoniano desse sistema ´e: b H = bKe+ bVee+ bVen = −~ 2 2 Ne X i=1 ∇2 ~ ri me + 1 8πε0 Ne X j6=i Ne X i=1 e2 |~ri− ~rj| − 1 4πε0 Nn X I=1 Ne X i=1 ZI e2 ~ri− ~RI . (2.16)

(21)

Composto pelo operador bKe, que contabiliza a energia cin´etica do Ne el´etrons localizados por ~ri, o operador da repuls˜ao coulombiana entre el´etrons, bVee, e o operador da atra¸c˜ao el´etron-n´ucleo, bVen, onde os Nn n´ucleos s˜ao localizados por ~RI.

As teorias precedentes para encontrar a solu¸c˜ao de tal problema resultam em express˜oes muito complicadas, como as teorias de Hartree e Hartree-Fock [18]. Isso se deve, em parte, `a dependˆencia das fun¸c˜oes de onda de cada el´etron com 3Ne vari´aveis espaciais e Ne vari´aveis de spin:

χ = χ( ~ x1 ~ r1, s1, ~r2, s2 ~ x2 , . . . , ~ xNe ~ rNe, sNe) (2.17)

Em 1964, Pierre C. Hohenberg e Walter Kohn propuseram uma abordagem poderosa para contornar esse problema. Seguindo o modelo de Thomas-Fermi, Hohenberg e Kohn formaram a base para a consolida¸c˜ao da Teoria do Funcional de Densidade, DFT (Density Functional Theory) [1].

A DFT prop˜oe a utiliza¸c˜ao da densidade eletrˆonica do estado fundamental, ρ0(~r), no lugar da fun¸c˜ao de onda para se obter informa¸c˜oes a respeito do estado em que se encontra um sistema. A densidade depende de trˆes coordenadas, a ideia ´e escrever a energia em termos da ρ(~r), a fim de trat´a-la como um parˆametro de minimiza¸c˜ao para se chegar a energia do estado fundamental atrav´es do princ´ıpio variacional de Rayleigh-Ritz.

Antes da discuss˜ao dos aspectos formais do trabalho de Hohenberg e Kohn, ´e importante explorar alguns conceitos.

2.2.1 Densidade Eletrˆonica

A ρ(~r) depende de trˆes vari´aveis espaciais, ´e a densidade de probabilidade de encontrar qualquer el´etron num infinitesimal de volume d~r. ´E definida como a integral sobre a vari´avel de spin s do valor esperado do operador densidade eletrˆonica num ponto ~ x. ρ(~r) = Z p(~x)ds ≡ Z hχ |p(~bx) | χi ds, (2.18)

(22)

obviamente, integrando sobre todo o espa¸co, obt´em-se o n´umero total de el´etrons: Z

ρ(~r)d~r = Ne. (2.19)

Como s˜ao Ne el´etrons tratados como part´ıculas pontuais localizadas por ~xi, o operador p(~bx) ser´a: b p(~x) = Ne X i=1 δ(~xi− ~x). (2.20)

Substituindo a equa¸c˜ao 2.20na 2.18, assumindo que a fun¸c˜ao de onda χ ´e normali-zada, tem-se que:

p(~x) = Z . . . Z χ∗ (~x1, ~x2, . . . , ~xNe) Ne X i=1 δ(~xi − ~x)χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)d~x1d~x2. . . d~xNe = Z |χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)| 2 δ(~x1− ~x)d~x1d~x2. . . d~xNe + Z |χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)| 2 δ(~x2− ~x)d~x1d~x2. . . d~xNe + . . . + Z |χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)| 2 δ(~xNe − ~x)d~x1d~x2. . . d~xNe. (2.21)

Lembrando que a delta de Dirac possui a seguinte propriedade:

Z

δ(~x1− ~x)f (~x1)d~x1 = f (~x ), (2.22)

com isso, a equa¸c˜ao2.20 ficar´a:

p(~x) = Z |χ(~x, ~x2, . . . , ~xNe)| 2 d~x2d~x3. . . d~xNe + Z |χ(~x1, ~x, . . . , ~xNe)| 2 d~x1d~x3. . . d~xNe + . . . + Z |χ(~x1, ~x2, . . . , ~x)| 2 d~x1d~x2. . . d~xNe−1. (2.23)

(23)

Devido ao princ´ıpio da indistinguibilidade quˆantica, a densidade de probabilidade | χ |2 deve ser sim´etrica em rela¸c˜ao `a troca das coordenadas das part´ıculas [19], resultando em Ne integrais idˆenticas:

p(~x) = Ne Z

|χ(~x, ~x2, . . . , ~xNe)|

2

d~x2d~x3. . . d~xNe. (2.24)

Se |χi corresponder aos estados fundamentais do sistema, a equa¸c˜ao acima resultar´a na densidade fundamental ρ0(~x).

Pondo a2.24 na equa¸c˜ao2.18, e recuperando as vari´aveis de spin da equa¸c˜ao2.1, obtemos a densidade eletrˆonica [20]:

ρ(~r) = Ne Z |χ(~x, ~x2, . . . , ~rNe)| 2 dsd~x2d~x3. . . d~xNe = Ne Z |χ(~r, s, ~r2, s2. . . , ~rNe, sNe)| 2 dsd~r2ds2d~r3ds3. . . d~rNedsNe. (2.25)

Reparando na (2.25), a densidade eletrˆonica ρ(~r) ´e a densidade de probabilidade de encontrar o el´etron ~r com spin aleat´orio no infinitesimal de volume d~r, enquanto os outros N1− 1 el´etrons est˜ao em posi¸c˜oes e spins aleat´orios.

Para el´etrons temos apenas duas fun¸c˜oes de spin σ↑ e σ↓, que mensuram spin up e spin down, respectivamente. As vari´aveis de spin s assume os valores ↑ e ↓, obedecendo `a equa¸c˜ao:    σ↑(↑) = 1 , σ↑(↓) = 0 σ↓(↑) = 0 , σ↓(↓) = 1 . (2.26)

Escrevendo explicitamente a2.25 para o caso eletrˆonico teremos:

ρ(~r) = ρ↑(~r) Ne Z |χ(~r, ↑, ~r2, s2. . . , ~rNe, sNe)| 2 d~r2ds2d~r3ds3. . . d~rNedsNe +Ne Z |χ(~r, ↓, ~r2, s2. . . , ~rNe, sNe)| 2 d~r2ds2d~r3ds3. . . d~rNedsNe ρ↓(~r) . (2.27)

(24)

Os termos ρ↑(~r) e ρ↓(~r) s˜ao as densidades de probabilidade de encontrar el´etron com spin up e down. A equa¸c˜ao 2.19pode ser utilizada para calcular o n´umero de el´etrons up e down.

A densidade de spin ´e uma observ´avel que pode ser obtida atrav´es da difratometria de raio-X, ela fornece a informa¸c˜ao do excesso de el´etrons-↑ (up) em ~r [20]:

Q(~r) = ρ↑(~r) − ρ↓(~r) (2.28)

´

E poss´ıvel repetir os passos anteriores para determinar uma densidade dual de part´ıculas ρ(2)(~r, ~r0). Esta demonstra como os movimentos de el´etrons tomados par a par est˜ao correlacionados devido as intera¸c˜oes entre si:

b p(2)(~x, ~x0) = Ne X j6=i Ne X i=1 δ(~xi− ~x)δ(~xj − ~x). (2.29)

De maneira an´aloga ao que foi feito para se chegar nas equa¸c˜oes 2.24 e 2.25, ´e poss´ıvel chegar nas formas equivalente para ρ(2)(~x, ~x0) e P(2)(~r, ~r0):

p(2)(~x, ~x0) = Ne(Ne− 1) Z χ(~x, ~x 0 , ~x3. . . , ~Ne) 2 d~x3d~x4. . . d~xNe (2.30) ρ(2)(~r, ~r0) = Z p(2)(~x, ~x0)dsds0. (2.31) 2.2.2 Potencial Externo

Em virtude da aproxima¸c˜ao de Born-Oppenheimer, foi visto que as coordenadas nucleares s˜ao tratadas como parˆametros. O c´alculo quˆantico ´e feito com foco nos el´etrons, por este motivo se habitua chamar os n´ucleos de objetos “externos” [21]. Sendo assim, o

b

Ven do hamiltoniano 2.4 pode ser reescrito em fun¸c˜ao de um potencial externo vext(~ri):

b Ven= Ne X i=1 " N n X I=1 − 1 4πε0 ZIe2 ~ri− ~RI # = Ne X i=1 vext(~ri). (2.32)

(25)

Considerando uma fun¸c˜ao de onda total eletrˆonica: χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe), j´a

normali-zada, o valor esperado do operador bVen pode ser escrito em fun¸c˜ao da densidade eletrˆonica calculada em ~r: Ven = D χ Vben χ E = − e 2 4πε0 Z χ∗ " Ne X i=1 Nn X I=1 ZI ~ri− ~RI # χd~x1d~x2. . . d~xNe. (2.33) Ven= − e2 4πε0 Nn X I=1 " Z |χ|2 ZI ~r1− ~RI d~x1d~x2. . . d~xNe + Z |χ|2 ZI ~r2− ~RI d~x1d~x2. . . d~xNe+ . . . + Z |χ|2 ZI ~rNe − ~RI d~x1d~x2. . . d~xNe # . (2.34) Ven= − e2 4πε0 Nn X I=1 ( Z ZI ~r1− ~RI " Z |χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)| 2 ds1d~x2d~x3. . . d~xNe # d~r1 Z ZI ~r2− ~RI " Z |χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)| 2 ds2d~x1d~x3. . . d~xNe # d~r2+ . . . Z Z I ~rNe − ~RI " Z |χ(~r1, ~r2, . . . , ~rNe)| 2 dsNed~r1d~r2. . .d~rNe−1 # d~rNe ) . (2.35)

Os termos entre colchetes s˜ao as densidades eletrˆonicas, ρ(~r) Ne ,definidas na equa¸c˜ao 2.25, logo: Ven= − e 2 4πε0 Nn X I=1 1 Ne ( Z Z I ~r1− ~RI ρ(~r1)d~r1+ . . . + Z Z I ~rNe − ~RI ρ(~rNe)d~rNe ) . (2.36)

Os limites de integra¸c˜ao s˜ao os mesmos, ´e poss´ıvel agrupar as integrais em um somat´orio que contabiliza os ´ındices eletrˆonicos i, consequentemente:

Ven = Z 1 Ne Ne X i=1 Nn X I=1 − 1 4πε0 ZIe2 ~ri − ~RI ! ρ(~ri)d~ri = Z 1 Ne Ne X i=1 vext(~ri)ρ(~ri)d~ri. (2.37)

(26)

O termo entre parˆenteses ´e o potencial externo definido na equa¸c˜ao 2.32. A substi-tui¸c˜ao de ~ri por um ~r, mantendo os limites de integra¸c˜ao, resulta em Ne termos iguais:

Ven= Z

vext(~r)ρ(~r)d~r. (2.38)

Sendo assim, hamiltoniano da 2.4´e um funcional de vext. Uma fun¸c˜ao de onda do estado fundamental deve estar intrinsecamente ligada ao formato do potencial externo, uma vez ambos dependem das coordenadas nucleares e eletrˆonicas. Logo, a fun¸c˜ao de onda χ tamb´em ´e um funcional de vext:

b

Hvextχvext = Evextχvext. (2.39)

2.2.3 Rela¸c˜ao entre Potencial Externo e Densidade Eletrˆonica

Suponha a existˆencia de dois potenciais externos, v1 e v2, que possuem fun¸c˜oes de ondas do estado fundamentais idˆenticas a n˜ao ser por um fator de fase ζ, tal que |ζ|2 = 1.

χ[v1] = ζχ[v2]    b H[v1]χ[v1] = E[v1]χ[v1] b H[v2]χ[v2] = E[v2]χ[v2] . (2.40)

Vamos multiplicar a segunda equa¸c˜ao do sistema por ζ e subtra´ı-la da primeira:

b

H[v1] − bH[v2]χ[v1] = E[v1] − E[v2]χ[v1]. (2.41)

Como vimos na 2.16, o hamiltoniano ´e composto pelos termos da energia cin´etica, da intera¸c˜ao el´etron-el´etron e pelo potencial Ven, este ´ultimo foi escrito em fun¸c˜ao do potencial externo na equa¸c˜ao 2.32. Ent˜ao, o lado esquerdo da equa¸c˜ao 2.41 pode ser reescrito como a diferen¸ca dos somat´orios dos potenciais externos v1 e v2. Igualando os autovalores teremos:

X i

(27)

Conclui-se que fun¸c˜oes de onda que s˜ao diferentes apenas por um fator de fase tˆem potenciais externos distintos:

χ(v1) = ζχ(v2) ⇒ v1(~r) = v2(~r) + C. (2.43)

Logicamente a contrapositiva da equa¸c˜ao (2.43) tamb´em ´e verdadeira, logo:

v1(~r) 6= v2(~r) + C ⇒ χ(v1) 6= ζχ(v2). (2.44)

ou seja, potenciais externos diferentes est˜ao relacionados a diferentes fun¸c˜oes de onda.

Buscando encontrar a rela¸c˜ao do potencial externo com a densidade, utiliza-se o princ´ıpio variacional de Rayleigh-Ritz [22]. A energia do estado fundamental de cada fun¸c˜ao de onda associada a um potencial externo ´e:

     D χ[v1] H[vb 1] χ[v1] E = E[v1] D χ[v2] H[vb 2] χ[v2] E = E[v2] . (2.45)

O valor esperado de H em qualquer estado |χi ´e sempre maior que a energia do estado fundamental:      E[v1] < D χ[v2] H[vb 1] χ[v2] E E[v2] < D χ[v1] H[vb 2] χ[v1] E. (2.46)

O formato de bH foi mostrado na equa¸c˜ao 2.16. A equa¸c˜ao 2.38 evidencia a de-pendˆencia de Ven com o potencial externo associado ao operador bH, e ao mesmo tempo com a densidade eletrˆonica ρ(~r) associada ao estado onde se calcula o valor esperado H. Com isso, as equa¸c˜oes2.46 tornam-se:

     E[v1] < D χ[v2] Kbe+ bVee+ bV1 + bV2− bV2 χ[v2] E = E[v2] + D χ[v2] Vb1− bV2 χ[v2] E E[v2] < D χ[v1] Kbe+ bVee+ bV2 + bV1− bV1 χ[v1] E = E[v1] + D χ[v1] Vb2− bV1 χ[v1] E, (2.47)

(28)

onde convencionou-se denotar os operadores da intera¸c˜ao el´etron-n´ucleo somente com bV1 e bV2. Na sequˆencia obtˆem-se:

       E[v1] < E[v2] + Z [v1(~r ) − v2(~r )]ρ2(~r )d~r E[v2] < E[v1] − Z [v1(~r ) − v2(~r )]ρ1(~r )d~r , (2.48)

somando as inequa¸c˜oes:

E[v1] + E[v2] < E[v2] + E[v1] + Z

[v1(~r ) − v2(~r )] ρ2(~r ) − ρ1(~r )d~r. (2.49)

A equa¸c˜ao 2.44mostrou que os potenciais externos devem ser diferentes, caso as duas densidades n˜ao sejam diferentes teremos uma contradi¸c˜ao, logo:

v1(~r) 6= v2(~r) + C ⇒ ρ1(~r ) 6= ρ2(~r ). (2.50)

Dois potenciais externos diferentes n˜ao podem dar origem a mesma densidade eletrˆonica. Os resultados dessa se¸c˜ao podem ser resumidos pela figura 3.

Figura 3 – Mapeamento de vext(~r ) para ρ0(~r ).

v

ext

(~

r ) ⇒ b

H ⇒ χ(~

r ) ⇒ ρ

0

(~

r )

2.2.4 Energia em Termo da Densidade

Suponha que a fun¸c˜ao de onda χ = χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe) ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de

Schr¨odinger para o sistema multieletrˆonico. A energia ´e definida como o valor esperado do hamiltoniano (2.16) E =Dχ Hb χ E = Ke+ Vee+ Ven. (2.51)

(29)

O componente Venj´a foi posto em termos da densidade na sess˜ao anterior. Busca-se fazer o mesmo primeiro para o termo relativo ao operador da repuls˜ao coulombiana entre el´etrons Vee. Vee = D χ Vbee χ E = − e 2 4πε0 * χ Ne X j6=i Ne X i=1 1 |~ri − ~rj| χ + , (2.52)

De modo an´alogo ao que foi feito para Ven, ´e poss´ıvel chegar numa forma simplificada de Vee. Por apresentar dois tipos de coordenadas eletrˆonicas, este termo dever´a ser escrito em termos da densidade dual explicitada na equa¸c˜ao2.31.

A DFT n˜ao admite a existˆencia de uma densidade dual de part´ıculas. Considerando um el´etron independente do outro, a probabilidade ´e dada pelo produto das duas densidades de cada el´etron mais uma corre¸c˜ao [23]:

ρ(2)(~r, ~r0) = ρ(~r )ρ(~r0) + ∆n(2)(~r, ~r0). (2.53)

Sendo assim, a energia da intera¸c˜ao el´etron-el´etron ´e dada por:

Vee = e2 8πε0 Z Z ρ(~r )ρ(~r0) |~r − ~r0| d~rd~r 0 TH +∆Vee, (2.54)

onde ∆Vee´e o termo proveniente da corre¸c˜ao da equa¸c˜ao2.53e a integral ´e conhecida como TH, o termo de Hartree [21,23].

Resta encontrar o valor esperado da energia cin´etica,Ke, em termos da densidade eletrˆonica, tamb´em partindo do hamiltoniano (2.16):

Ke = − ~ 2 2me * χ Ne X i=1 ∇2~ri χ + = − ~ 2 2me Ne X i=1 Z χ∗ (~x1, ~x2, . . . , ~xNe)∇ 2 ~ riχ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)d~x1~x2. . . d~xNe. (2.55)

O integrando do termo Ke da equa¸c˜ao (2.55) n˜ao pode ser reduzido para o formato onde est´a presente o quadrado da norma |χ(~x1, ~x2, . . . , ~xNe)|

2

(30)

foi visto na equa¸c˜ao (2.25), ´e a partir desta norma que se insere o termo da densidade, logo Ke n˜ao ser´a escrito em termos de ρ(~r) diretamente.

Kohn e Sham [2] propuseram utilizar um sistema de referˆencia com el´etrons n˜ao interagentes para calcular a energia cin´etica, onde a densidade eletrˆonica do sistema de referˆencia ´e igual `a densidade eletrˆonica do sistema original. Assim, o operador ∇2 pode ser aplicado e a maior parte da energia cin´etica seria contabilizada, restando apenas uma corre¸c˜ao.

Como pode ser visto na figura4, o sistema de referˆencia com el´etrons n˜ao interagente pode ser introduzindo de duas formas [20].

A primeira ´e exigindo que os orbitais espaciais estejam restritos a serem os mesmos para spins opostos, nesse caso a densidade eletrˆonica dos sistemas original e de referˆencia s˜ao idˆenticas.

A segunda forma ´e tratando os spins up e down de cada par de el´etrons n˜ao restritos a dividir o mesmo orbital espacial, agora n˜ao s´o a densidade eletrˆonica, mas tamb´em a densidade de spin dos sistemas original e de referˆencia ser˜ao idˆenticas. Essa ´ultima forma ´

e a de interesse, uma vez que o presente trabalho explora casos spin polarizados. Figura 4 – Formas de tratar o sistema de referˆencia: el´etrons independentes.

(31)

As fun¸c˜oes de onda antissim´etricas para os casos restritos e irrestritos podem ser escritas atrav´es do determinante de Slater. Por exemplo, para um caso irrestrito de dois el´etrons (singleto) com spins up e down em orbitais espaciais distintos, ter´ıamos:

|Φ0(~x1, ~x2)i = 1 √ 2! " 1 √ 2!det   ϕ↑1(~r1)σ↑(s1) ϕ ↓ 2(~r1)σ↓(s1) ϕ↑1(~r2)σ↑(s2) ϕ ↓ 2(~r2)σ↓(s2)   +√1 2!det   ϕ↓1(~r1)σ↓(s1) ϕ ↑ 2(~r1)σ↑(s1) ϕ↓1(~r2)σ↓(s2) ϕ ↑ 2(~r2)σ↑(s2)   #. (2.56)

Generalizando para os casos multieletrˆonicos, a densidade eletrˆonica, ρ(~r ), e a densidade de spin, Q(~r), s˜ao dadas por:

                   ρ(~r ) = X σ=↑,↓ Ne X i=1 |ϕσ i(~ri)|2 = ρ↑(~r ) N↑ X i ϕ ↑ i(~ri) 2 + ρ↓(~r ) N↓ X i ϕ ↓ i(~ri) 2 , Q(~r) = N↑ X i ϕ ↑ i(~ri) 2 − N↓ X i ϕ ↓ i(~ri) 2 (2.57)

esses orbitais ocupados ϕσi(~ri) s˜ao chamados de orbitais de Kohn-Sham, onde Ne = N↑+ N↓.

O desafio ´e encontrar esse sistema alternativo, pois com ele o tratamento se mant´em exato. Mas no momento o objetivo ´e descobrir se, de fato, a energia ´e um funcional da densidade.

Agora ´e necess´ario reformular a energia cin´etica da equa¸c˜ao (2.55) como a soma das energias cin´eticas de cada um dos orbitais de Kohn-Sham mais uma corre¸c˜ao. O termo Ks ´e relativo ao tratamento “single particles”, part´ıculas independentes:

Ke= − ~ 2 2me X σ=↑,↓ Ne X i=1 Z ϕσi∗(~ri)∇2ϕσi(~ri)d~ri Ks +∆Ke. (2.58)

(32)

Atrav´es das equa¸c˜oes (2.38), (2.51), (2.54) e (2.58), a energia total do estado fundamental pode ser escrita em termos da densidade, como ´e mostrado abaixo:

E = Ks+ TH + Z

vext(~r )ρ(~r )d~r + ∆Ke+ ∆Vee Exc

(2.59)

O termo da energia cin´etica n˜ao possui dependˆencia expl´ıcita com a densidade, mas ele pode ser minimizado com rela¸c˜ao aos orbitais, que ´e equivalente a minimizar em rela¸c˜ao a ρ(~r ). Os termos de corre¸c˜ao desempenham um papel importante na DFT, a soma de ambos recebe o nome de energia de correla¸c˜ao e troca Exc, ela pode ser escrita tamb´em em termos da densidade.

2.2.5 Teoremas de Hohenberg-Kohn Teorema 1 de Hohenberg-Kohn

Para qualquer sistema de part´ıculas interagentes sob um potencial externo vext(~r ), este ´e unicamente determinado (exceto por uma constante) pela densidade eletrˆonica do estado fundamental n0(~r).

Prova

Suponha a existˆencia de dois potenciais externos distintos por mais de uma cons-tante:

v1(~r ) 6= v2(~r ) + C (2.60)

Utilizando o hamiltoniano 2.16 e a equa¸c˜ao2.32 tem-se:

             b H1 = bKE + bVee+ Ne X i vext1 (~ri) b H2 = bKE + bVee+ Ne X i vext2 (~ri) ⇒ Hb1− bH2 = Ne X i=1 v1 ext(~ri) − vext2 (~ri), (2.61)

(33)

a equa¸c˜ao2.44 prova que tais potenciais externos correlacionam-se com diferentes fun¸c˜oes de onda. Por isso cada um desses hamiltonianos deve gerar energias diferentes para solu¸c˜ao da equa¸c˜ao de Schr¨odinger independente do tempo.

Sup˜oe-se que χ10e χ20s˜ao as fun¸c˜oes de ondas normalizadas dos estados fundamentais de bH1 e bH2, respectivamente, logo:    b H1χ1 0 = E01χ10 b H2χ2 0 = E02χ20, (2.62)

obviamente, a energia do estado fundamental de cada hamiltoniano pode ser obtida fazendo:      E01 =Dχ1 0 Hb 1 χ 1 0 E E02 = D χ2 0 Hb 1 χ 2 0 E. (2.63)

A premissa ´e que as fun¸c˜oes de onda dos estados fundamentais s˜ao geradas pela mesma densidade eletrˆonica do estado fundamental ρ0, ou seja:

ρ0(~r ) = Ne Z χ10(~x, ~x2, . . . , ~xNe) 2 dsd~x2. . . d~xNe = Ne Z χ20(~x, ~x2, . . . , ~xNe) 2 dsd~x2. . . d~xNe (2.64)

Considere agora que χ20 seja uma fun¸c˜ao de onda aproximada de χ10. Utilizando o princ´ıpio variacional chega-se as seguintes express˜oes:

       E01 =Dχ1 0 Hb 1 χ 1 0 E <Dχ2 0 Hb 1 χ 2 0 E = Z χ2 0 ∗ b H1− bH2+ bH2χ20d~x1. . . d~xNe E02 =Dχ20 Hb 2 χ 2 0 E <Dχ10 Hb 2 χ 1 0 E = Z χ1 0 ∗ b H2− bH1+ bH1χ10d~x1. . . d~xNe , (2.65)

(34)

na sequˆencia, utilizando a identidade obtida na (2.61) e as equa¸c˜oes da (2.63), tem-se:              D χ1 0 Hb 1 χ 1 0 E < Z χ2 0 ∗XNe i=1 v1 ext(~ri) − vext2 (~ri)   χ2 0d~x1. . . d~xNe + E 2 0 D χ2 0 Hb 2 χ 2 0 E < Z χ1 0 ∗XNe i=1 v2 ext(~ri) − vext1 (~ri)   χ1 0d~x1. . . d~xNe + E 1 0 . (2.66)

Foi visto na sess˜ao 2.2.2 que ´e poss´ıvel reescrever os integrandos acima em fun¸c˜ao da densidade eletrˆonica do estado fundamental, esta por sua vez definida pela equa¸c˜ao (2.64).        E01 < E02+ Z v1 ext(~r ) − v2ext(~r )ρ0(~r )d~r E02 < E01+ Z v2 ext(~r ) − v 1 ext(~r )ρ0(~r )d~r . (2.67)

A soma dessas duas express˜oes leva `a inequa¸c˜ao:

E01+ E02 < E02+ E01, (2.68)

que ´e claramente uma contradi¸c˜ao. Por reductio ad absurdum a equa¸c˜ao (2.68) prova que a premissa descrita por (2.64) ´e falsa. Duas fun¸c˜oes de onda de estados fundamentais diferentes, com potenciais externos distintos, n˜ao podem ser obtidas da mesma densidade eletrˆonica fundamental.

A prova deste teorema faz com que a dire¸c˜ao do mapeamento da figura 3 tamb´em siga no sentido contr´ario.

Figura 5 – O vext(~r ) ´e unicamente determinado (exceto por uma constante) por ρ0(~r ).

v

ext

(~

r ) ⇔ b

H ⇔ χ(~

r ) ⇔ ρ

0

(~

r )

De fato, existe uma correspondˆencia um para um entre a densidade de um estado fundamental n˜ao degenerado de um sistema multieletrˆonico e seu potencial externo vext(~r ).

(35)

Como foi visto na sess˜ao 2.2.4, a energia pode ser determinada em termo da densidade. Portanto, qualquer observ´avel f´ısica do sistema tamb´em est´a unicamente determinada e a energia total pode ser escrita como:

E ρ  = Ke ρ  + Eee ρ  + Z vext(~r )ρ(~r )d~r = FHK ρ  + Z vext(~r )ρ(~r )d~r. (2.69)

O termo FHK ρ  recebe o nome de funcional universal de Hohenberg e Kohn. A forma exata deste funcional n˜ao ´e conhecida, mas por n˜ao depender da posi¸c˜ao fixada dos n´ucleos, ele ´e o mesmo para v´arios problemas de muito el´etrons, tendo em vista que as energias cin´eticas e potenciais internas s˜ao as mesmas para mais de um caso.

Teorema 2 de Hohenberg-Kohn

A densidade eletrˆonica que minimiza a energia do funcional da energia total E ρ  ´

e a verdadeira densidade eletrˆonica correspondente ao estado fundamental do sistema

Prova

Considere que a densidade do estado fundamental |χ0i ´e determinada unicamente por ρ0(~r ). Consequentemente, a energia do estado fundamental, que segundo a equa¸c˜ao

2.69 ´e um funcional da densidade, ser´a:

E = Eρ0(~r ) = hχ0| bH|χ0i , (2.70)

utilizando uma fun¸c˜ao de onda aproximada, eχ0, com densidade ρ(~er ), o princ´ıpio variacional dita que:

hχ|eH|b χi =e Ee 

e

ρ(~r ) ≥ Eρ0(~r ). (2.71)

Portanto, a densidade que minimiza o sistema ´e exatamente a do estado fundamental, ρ0. Quando o funcional da energia E ´e calculada para qualquer outra densidade de algum

(36)

estado excitado, o resultado n˜ao tem sentido f´ısico [25]. A DFT descreve rigorosamente somente o estado fundamental, encontrando n0 obt´em-se todas as informa¸c˜oes do sistema.

2.2.6 Equa¸c˜oes de Kohn-Sham

Em 1965, Kohn e Sham [2] providenciaram as ferramentas para aplica¸c˜ao da Teoria do Funcional da Densidade. Suas equa¸c˜oes trazem um forma pr´atica de se obter a densidade do estado fundamental.

Conhecer a forma expl´ıcita de FHK ρ  ´e crucial para encontrar a solu¸c˜ao para o problema de muitos el´etrons. Acontece que os efeitos quˆanticos de troca e correla¸c˜ao est˜ao atrelados a este funcional. Kohn e Sham perceberam que uma forma de obtˆe-los seria utilizando o problema original, trabalhado por Hohenberg e Kohn, e sistemas alternativos com a mesma densidade do estado fundamental e composto por part´ıculas n˜ao interagentes.

Os sistemas alternativos, descritos pela Teoria de Hartree e Hartree-Fock, tratam os el´etrons como part´ıculas independentes, interagindo apenas com o campo resultante das m´edias das posi¸c˜oes dos outros el´etrons [18].

O funcional FHK ρ  da equa¸c˜ao2.69 ´e considerado a energia exata respectiva ao sistema de v´arios el´etrons tratados como interagentes, sem considerar o potencial externo:

FHK = Ke+ Eee, (2.72)

onde Kee Eees˜ao a energia cin´etica dos el´etrons e a energia potencial das intera¸c˜oes entre el´etrons, respectivamente.

A energia obtida a partir do m´etodo Hartree-Fock, EHF, trata os el´etrons como n˜ao interagentes, mas leva em conta a energia de troca Ex:

EHF = Ks+ TH + Ex Eee

= Ks+ Eee, (2.73)

onde Ks ´e a energia cin´etica dos el´etrons tratados como part´ıculas independentes, TH ´e o termo de Hartree da equa¸c˜ao (2.59) e Ex ´e a energia de troca. A soma TH + Ex d´a o potencial do sistema interagente, Eee, sem o termo de correla¸c˜ao [25].

(37)

Consequentemente o termo da energia de correla¸c˜ao Ec pode ser obtido subtraindo EHF da energia exata FHK:

Ec= FHK − EHF = Ke+ Eee− Ks− Eee = Ke− Ks. (2.74)

A Ec se origina da correla¸c˜ao entre as posi¸c˜oes espaciais do el´etrons devido a repuls˜ao coulombiana. Os el´etrons se repelem de acordo com a lei de Coulomb, quando essa intera¸c˜ao ´e substitu´ıda pela repuls˜ao de cada el´etron com uma nuvem m´edia de carga dos outros el´etrons, cria-se um “erro” na fun¸c˜ao de onda e energia, esse erro ´e a energia de correla¸c˜ao. A posi¸c˜ao espacial de um el´etron n˜ao ´e aleat´oria, ela est´a correlacionada com a posi¸c˜ao dos outros el´etrons que o cercam.

A energia da teoria de Hartree n˜ao traz a energia do efeito de troca Ex:

EH = Ks+ Vel, (2.75)

onde Vel ´e a energia de intera¸c˜ao entre el´etrons calculada na teoria de Hartree, utilizando a fun¸c˜ao de onda total que n˜ao obedece ao princ´ıpio da exclus˜ao de Pauli. Subtraindo EH de EHF obt´em-se Ex:

Ex = EHF − EH = Ks+ Eee− Ks− Vel= Eee− Vel, (2.76)

o efeito de troca se d´a devido a descri¸c˜ao dos el´etrons (f´ermions) por fun¸c˜oes de onda antissim´etricas.

Com as equa¸c˜oes (2.72), (2.74) e (2.76) reescreve-se explicitamente o funcional FHK ρ : FHK = Ke+ Eee = Ks+ Eee+ Ec = Ks+ TH + Ex+ Ec = Ks+ TH + Exc . (2.77)

(38)

Assumindo que o funcional da energia de correla¸c˜ao e troca Exc ´e conhecido e que tamb´em ´e um funcional da densidade ρ, ´e poss´ıvel rescrever a energia total da equa¸c˜ao (2.69) chamando-a agora de energia de Kohn e Sham:

EKS ρ  = Ks ρ  + TH ρ  + Z

vext(~r )ρ(~r )d~r + Exc ρ , (2.78)

que est´a de acordo com a dedu¸c˜ao feita anteriormente que resultou na equa¸c˜ao (2.59), quando se interessou em provar que a energia podia ser escrita em termos da

densidade.

A express˜ao detalhada para EKS ρ , equa¸c˜ao (2.79), pode ser escrita com o aux´ılio das equa¸c˜oes (2.54), (2.58) e (2.78).

EKS ρ  = Ks[ ρ ] − ~ 2 2me X σ=↑,↓ Ne X i=1 Z ϕσi∗(~ri)∇2ϕσi(~ri)d~ri+ TH[ ρ ] e2 8πε0 Z Z ρ(~r )ρ(~r0) |~r − ~r0| d~rd~r 0 + Z vext(~r )ρ(~r )d~r Eext[ ρ ] +Exc ρ  . (2.79)

Seguindo os teoremas de Hohenberg e Kohn, a minimiza¸c˜ao da equa¸c˜ao (2.79) com rela¸c˜ao `a densidade viabiliza a obten¸c˜ao da energia total do estado fundamental. Acontece que Ks depende dos orbitais de Kohn-Sham, ϕσi(~ri), da (2.58). A densidade tamb´em ´e fun¸c˜ao desses orbitais, sendo assim a minimiza¸c˜ao ocorre com rela¸c˜ao a um orbital ϕσj∗(~r ), com vari´avel espacial, ~r, e de spin, σ, fixadas.

Para manter a ortonormalidade desses orbitais, ser´a necess´ario utilizar um conjunto de multiplicadores de Lagrange i. A express˜ao a ser minimizada ser´a da seguinte forma:

ΘKS ρ  = EKS ρ  − X σ=↑,↓ Ne X i=1 i  Z ϕσi∗(~ri)ϕσi(~ri)d~ri− 1  v´ınculo , (2.80)

aplicando a regra da cadeia para derivadas funcionais e observando a dependˆencia da equa¸c˜ao (2.57), teremos: δΘKS ρ  δϕσ j ∗(~r ) = δΘKS ρ  δρ(~r ) δρ(~r ) δϕσ j ∗(~r ) = δΘKS ρ  δρ(~r ) ϕ σ j(~r ). (2.81)

(39)

O princ´ıpio variacional determina que a equa¸c˜ao (2.81) deve atender a condi¸c˜ao abaixo para haver minimiza¸c˜ao da energia:

δΘKS ρ  δϕσ j ∗(~r ) = δΘKS ρ  δρ(~r ) ϕ σ j(~r ) = 0. (2.82)

Montando a equa¸c˜ao (2.82) com os dados da (2.79) e (2.80), obt´em-se: δKs[ ρ ] δϕσ j ∗ (~r ) + δ δρ(~r )  TH[ ρ ] + Eext[ ρ ] + Exc[ ρ ]  ϕσj(~r ) − δ δϕσ j ∗(~r )  X σ=↑,↓ Ne X i=1 i Z ϕσi∗(~ri)ϕσi(~ri)d~ri− 1  = 0. (2.83)

A equa¸c˜ao (B.12), apˆendice B, mostra que a derivada funcional de 1o ordem dum funcional do tipo Fφ = R g φ(x)dx corresponde a δφ(x)δF = ∂φ∂g(x). Sendo assim, com as informa¸c˜oes da equa¸c˜ao (2.79), a derivada funcional de Ks[ ρ ] ´e:

δKs[ ρ ] δϕσ j ∗(~r ) = − ~2 2me ∂ ∂ϕσ j ∗(~r )  X σ=↑,↓ Ne X i=1 ϕσi∗(~ri)∇2ϕσi(~ri)  = − ~ 2 2me ∂ ∂ϕσ j ∗(~r )  X σ=↑,↓ ϕσj∗(~r )∇2ϕσj(~r )  = − ~ 2 2me∇ 2ϕσ j(~r ) . (2.84)

Da mesma forma, a derivada funcional do termo entre colchetes da equa¸c˜ao (2.83) resulta em: δ δϕσj∗(~r)  X σ=↑,↓ Ne X i=1 i Z ϕσi∗(~ri)ϕσi(~ri)d~ri− 1  = εjϕσj(~r ), (2.85)

assim, a equa¸c˜ao (2.83) toma a seguinte forma: ( − ~ 2 2me ∇2+δTH[ ρ ] δρ(~r ) + δEext[ ρ ] δρ(~r ) + δExc[ ρ ] δρ(~r ) Vef f ) ϕσj(~r ) = εjϕσj(~r ), (2.86) recuperando o ´ındice i:  − ~ 2 2me ∇2+ V ef f  ϕσi(~r ) = εiϕσi(~r ) → i = 1, 2, . . . , Ne ; σ =↑, ↓ . (2.87)

(40)

A equa¸c˜ao (2.87) ´e a equa¸c˜ao de Schr¨odinger para o sistema alternativo. Existir´a uma dela para cada um dos 2Ne orbitais mono eletrˆonicos ϕσi(~r ) ocupados. Dessa forma, o problema do sistema de v´arios el´etrons interagentes ´e mapeado por meio de um sistema alternativo de el´etrons independentes se movendo num potencial efeito Vef f [26]

Os orbitais ϕσ

i(~r ) s˜ao interpretados como fun¸c˜oes de onda de part´ıculas fict´ıcias independentes, n˜ao podem ser considerados como as fun¸c˜oes de onda reais dos el´etrons. Do mesmo modo, os autovalores εi tamb´em n˜ao s˜ao valores reais da energia. Somente a densidade global, calculada com a equa¸c˜ao (2.57), ´e considerada idˆentica a verdadeira densidade do sistema original.

No entanto, como veremos na se¸c˜ao 2.6, a descri¸c˜ao das bases LAPW ´e muito bem sucedida. Isso implicar´a numa concordˆancia muito boa entre os orbitais de Kohn e Sham ϕσi(~r ) e as fun¸c˜oes de ondas dos sistemas de referˆencias.

Como j´a foi demonstrado, na equa¸c˜ao (2.79), os termos TH[ ρ ] e Eext[ ρ ] s˜ao conhecidos. Com a defini¸c˜ao das derivadas funcionais (B.12), o potencial efetivo, Vef f, da equa¸c˜ao (2.87) ainda pode ser reduzido para o seguinte formato:

Vef f = δ δρ(~r )  TH[ ρ ] e2 8πε0 Z Z ρ(~r )ρ(~r0) |~r − ~r0| d~rd~r 0  + δ δρ(~r )  Eext[ ρ ] Z vext(~r )ρ(~r )d~r  +δExc[ ρ ] δρ(~r ) , (2.88) Vef f (B.12) ↓ = e 2 8πε0 Z ρ(~r0) |~r − ~r0|d~r 0 + vext+ vxc δExc[ ρ ] δρ(~r ) , (2.89) Vef f (2.32) ↓ = e 2 8πε0 Z ρ(~r0) |~r − ~r0|d~r 0 e2 4πε0 Nn X I=1 ZI ~r − ~RI + vxc. (2.90)

Finalmente, as equa¸c˜oes (2.57), (2.87) e (2.90) s˜ao chamadas de equa¸c˜oes de Kohn-Sham. Por completude elas se encontram reproduzidas abaixo:

                       ρ(~r ) = X σ=↑,↓ Ne X i=1 |ϕσi(~ri)| 2 = ρ↑(~r ) + ρ↓(~r )  − ~ 2 2me∇ 2+ V ef f  ϕσi(~r ) = εiϕσi(~r ) → i = 1, 2, . . . , Ne ; σ =↑, ↓ . Vef f = e2 8πε0 Z ρ(~r0) |~r − ~r0|d~r 0 e2 4πε0 Nn X I=1 ZI ~r − ~RI + δExc[ ρ ] δρ(~r ) . (2.91)

(41)

2.2.7 Procedimento Autoconsistente para Resolver as Equa¸c˜oes de Kohn-Sham

Tanto o Vef f quanto o vxc dependem da densidade ρ. A densidade depende dos orbitais de Kohn-Sham que, por serem autofun¸c˜oes das equa¸c˜oes de Schr¨odinger, definem o formato do potencial efetivo Vef f. Sendo assim, utiliza-se um m´etodo autoconsistente para resolu¸c˜ao desse problema.

Figura 6 – Ciclo autoconsistente para encontrar a solu¸c˜ao das Eq. de Kohn-Sham.

Inicia-se com uma densidade de entrada ρin, que ´e utilizada para calcular o potencial efetivo Vef f, que por sua vez ´e utilizado para resolver a equa¸c˜ao de Schr¨odinger para os 2N orbitais ocupados ϕσ

i(~r ). Com estes ´e poss´ıvel encontrar a densidade de sa´ıda ρout e compar´a-la com a de entrada, definindo uma tolerˆancia para o m´odulo da diferen¸ca entre as duas.

As itera¸c˜oes acontecem at´e que o padr˜ao de convergˆencia seja atendido, s´o ent˜ao se calcula a densidade do estado fundamental, ρ0 = ρout e a energia respectiva E0 = Eρout

(42)

2.3 Aproxima¸c˜oes para o Funcional de Correla¸c˜ao e Troca

Ao utilizar DFT nos c´alculos autoconsistentes, somente a energia de correla¸c˜ao e troca, Exc ρ , deve ser aproximada [27].

A verdadeira forma do funcional de correla¸c˜ao e troca Exc ρ  n˜ao ´e conhecida [28], ´

e necess´ario adotar aproxima¸c˜oes.

2.3.1 Aproxima¸c˜ao da Densidade Local (LDA)

Kohn e Sham [2] postularam a aproxima¸c˜ao da densidade local, LDA (Local Density Approximation). Al´em de ser historicamente muito importante, esta aproxima¸c˜ao foi vastamente utilizada. Ao supor que a densidade ρ(~r ) varia lentamente com ~r, o Exc ρ  pode ser escrito como:

ExcLDA ρ(~r ) = Z

ρ(~r )εxc ρ(~r )d~r (2.92)

A aproxima¸c˜ao ExcLDA ρ(~r )  ´e encontrada dividindo o material em volumes infi-nitesimais com densidades constantes ρ(~r ). Cada um desses volumes d3r contribui para ExcLDA ρ(~r ) com uma quantidade εxc, energia de correla¸c˜ao e troca de um d3r preenchido com um g´as homogˆeneo de el´etrons, que possui a mesma densidade global que o material original tem neste volume [25]. Isso est´a demonstrado no esquema da figura7.

Figura 7 – Esquema do postulado da LDA.

(43)

Com LDA ´e poss´ıvel separar εxc na soma de dois termos distintos: o de troca εx e o de correla¸c˜ao εc, ambos tamb´em relativos ao g´as de el´etrons homogˆeneo. Desta forma, a integral da equa¸c˜ao (2.92) resulta em:

ExcLDA ρ(~r )  = Z

ρ(~r )εx ρ(~r ) + εc ρ(~r )d~r (2.93)

Foge ao escopo deste trabalho explorar os detalhes inerentes a obten¸c˜ao de εx ρ(~r )  e εc ρ(~r ). Eles est˜ao implementados na maioria dos pacotes de programas que trabalham com DFT. Vale ressaltar que a energia de troca por volume de g´as de el´etrons, εx ρ(~r ), ´e conhecida [29]: εx ρ(~r ) = − 3e2 4  3 π 13 ρ(~r )43 (2.94)

O termo de correla¸c˜ao ELDA

c  ρ  foi obtido com base no trabalho de parametriza¸c˜oes de Perdew e Zunger [30], que utilizaram os dados de Ceperley e Alder [31] adquiridos atrav´es dos c´alculos com m´etodo Monte Carlo Quˆantico.

2.3.2 Aproxima¸c˜ao da Densidade Local de Spin (LSDA)

A LSDA (Local Spin Density Approximation) ´e outra aproxima¸c˜ao derivada da LDA para c´alculos com polariza¸c˜ao de spin [32]. Consequentemente, a equa¸c˜ao (2.92) torna-se:

ExcLDA ρ↑(~r ), ρ↓(~r ) = Z

ρ↑

(~r ) + ρ↓(~r ) εxc ρ↑(~r ), ρ↓(~r )d~r (2.95)

Mesmo tendo sido constru´ıdas sobre a hip´otese de que a densidade varia lentamente, as aproxima¸c˜oes LDA e LSDA produzem ´otimos resultados para alguns sistemas n˜ao homogˆeneos, por´em, em alguns casos, preveem dados incorretos. O LDA subestima o band gap no caso de c´alculos em semicondutores e pode prever estados fundamentais incorretos para muitos ´atomos [33].

(44)

2.3.3 Aproxima¸c˜ao da Gradiente Generalizado (GGA)

A LDA e LSDA utiliza dados de uma densidade eletrˆonica calculada num infinitesi-mal de volume localizado por ~r como se fosse o resto do sistema preenchido por um g´as de el´etrons homogˆeneo com a mesma densidade. Acontece que sistemas f´ısicos reais s˜ao espacialmente inomogˆeneos por natureza, ´e preciso considerar a informa¸c˜ao do gradiente ∇ρ(~r ), que traz varia¸c˜ao da densidade nas vizinhan¸cas de ~r.

As aproxima¸c˜oes para o termo de correla¸c˜ao e troca GGA (Generalized Gradient Approximations), introduzem as corre¸c˜oes n˜ao locais na LDA [26]. Elas possuem a seguinte forma [27,33]:

ExcGGA ρ↑(~r ), ρ↓(~r ) = Z

f ρ↑(~r ), ρ↓(~r ), ∇ρ↑(~r ), ∇ρ↓(~r )d~r (2.96)

O formato da fun¸c˜ao f ρ↑(~r ), ρ↓(~r ), ∇ρ↑(~r ), ∇ρ↓(~r ) varia de acordo com o tipo de parametriza¸c˜ao de GGA que se est´a trabalhando. Atualmente o GGA PBE (Per-dew–Burke–Ernzerhof) [27] ´e amplamente utilizado.

A GGA costuma fornecer resultados melhores que a LDA para propriedades es-truturais e magn´eticas de materiais, estes resultados costumam estar mais pr´oximos dos valores experimentais. Ainda assim, tanto a GGA quanto a LDA n˜ao d˜ao bons resultados para band gap em semicondutores [33,34].

2.3.4 Potencial Modificado de Becke e Johnson (mBJ)

As aproxima¸c˜oes LDA(LSDA) e GGA levam a c´alculos computacionalmente mais baratos, obt´em-se mais rapidamente resultados que ajudam na interpreta¸c˜ao e previs˜ao de resultados experimentais. Todavia, a utiliza¸c˜ao de LDA e GGA para c´alculos em certos tipos de s´olidos pode levar a resultados que se encontram em pouca concordˆancia com os experimentais. ´E comum essas duas aproxima¸c˜oes subestimarem os band gaps de materiais isolantes e semicondutores. [35]

(45)

Em 2009, Tran e Blaha [34] apresentaram uma simples modifica¸c˜ao no potencial de troca de Becke-Johnson [36] que acarretava band gaps t˜ao precisos quanto aqueles obtidos com potenciais mais caros. A forma desse potencial modificado de Becke-Johnson (mBJ) ´e:

vx,σM BJ(~r ) = cvx,σBR(~r ) + (3c − 2)1 π r 5 12 s 2tσ(~r ) ρσ(~r ) , (2.97)

onde ρσ ´e a densidade eletrˆonica, tσ a densidade de energia cin´etica e vx,σBR(~r ) ´e o potencial de Becke-Roussel [37]. O c ´e uma fun¸c˜ao escrita como:

c = α + β  1 Vcell Z cell ∇ρ( ~r 0) ρ( ~r0) d 3 r0 12 , (2.98)

aqui α e β s˜ao parˆametros livre e Vcell ´e o volume da c´elula unit´aria. A minimiza¸c˜ao do erro m´edio absoluto relativo do band gaps de s´olidos teste [34] conduz os parˆametros para: α = −0.012 (adimensional) e β = 1, 023 bohr12.

D. Koller, F. Tran e P. Blaha observaram que o potencial mBJ possuia uma tendˆencia de subestimar band gap para alguns grupos de s´olidos. Buscando melhorar a performance dos potenciais mBJ, os parˆametros α e beta foram reotimizados [38]. Essa estrat´egia de reparametriza¸c˜ao do mBJ levou a resultados mais precisos para s´olidos tecnologicamente mais relevantes (com band gap menor que 7 eV).

O mBJ ´e um potencial artificial, ele n˜ao pode ser escrito como a derivada de um funcional Exc ρ , como foi feito equa¸c˜ao (2.86). Por isso o mBJ n˜ao pode ser utilizado para c´alculos de for¸cas que agem nos n´ucleos, ou seja, otimiza¸c˜oes de parˆametros de rede e relaxa¸c˜ao das posi¸c˜oes atˆomicas. Sendo assim, inicia-se calculando as propriedades estruturais com um potencial GGA ou LSDA, e na sequˆencia, para calcular propriedades eletrˆonicas, modifica-se para mBJ.

(46)

2.4 Resolvendo as Equa¸c˜oes de Kohn-Sham

Este ´e um problema de autovetores e autovalores. A equa¸c˜ao de Kohn-Sham a ser resolvida ´e: b HKS  − ~ 2 2me ∇2+ V ef f  ϕσi(~r ) = εiϕσi(~r ). (2.99) A autofun¸c˜ao ou autovetor ϕσ

i(~r ) pode ser escrito como uma combina¸c˜ao linear de fun¸c˜oes de bases conhecidas φd pertencentes ao espa¸co de Hilbert. Na pr´atica, essa combina¸c˜ao dever´a ser finita, com dimens˜ao D. Quanto maior a dimens˜ao, maior a precis˜ao do resultado e mais caro se torna o c´alculo.

ϕσi(~r ) = D X

d=1

cd|φdi = c1|φ1i + . . . + cD|φDi (2.100)

Ao substituir a equa¸c˜ao (2.100) na (2.99), multiplicando `a esquerda por hφ1|, hφ2|, . . ., hφD|, obt´em-se um sistema de D equa¸c˜oes, sua forma matricial ser´a:

     hφ1| bHKS|φ1i . . . hφD| bHKS|φDi .. . . .. ... hφD| bHKS|φ1i . . . hφD| bHKS|φDi           c1 .. . cD      =     

εihφ1|φ1i . . . εihφ1|φDi ..

. . .. ... εihφD|φ1i . . . εihφD|φDi

          c1 .. . cD      , (2.101)      H11− εS11 . . . H1D− εS1D .. . . .. ... HD1− εSD1 . . . HDD − εSDD           c1 .. . cD      = 0. (2.102)

Os elementos da matriz do hamiltoniano ser˜ao Hab = hφa| bHKS|φbi. A matriz de overlap ´e definida por Sab = hφa|φbi, ela ser´a uma matriz unit´aria se as φiforem ortonormais. A determinante da (2.102) levar´a `a equa¸c˜ao secular:

H11− εS11 . . . H1D− εS1D .. . . .. ... HD1− εSD1 . . . HDD− εSDD = 0. (2.103)

(47)

Achando o autovalor ε, obt´em-se as constantes c1,c2,. . .,cD com a diagonaliza¸c˜ao da matriz (2.102).

Costuma-se dizer que a escolha do conjunto de bases |φdi ´e eficiente quando elas s˜ao similares a ϕσi(~r ) da equa¸c˜ao (2.99). Isso reduz o custo computacional pois o D ser´a pequeno e, consequentemente, a matriz tamb´em [25]. Escolha de bases muito destoantes e gerais podem empurrar o resultado numa dire¸c˜ao n˜ao desejada.

2.5 Base de Ondas planas

As ondas planas constituem uma boa escolha para a representa¸c˜ao dos orbitais ϕi(~r ), principalmente se o objetivo ´e aplicar os c´alculos de DFT em arranjos cristalinos [39]. Elas podem ser representadas pela seguinte express˜ao retirada da equa¸c˜ao (D.2) do apˆendice D.

φ(~r ) = ei ~K~r, (2.104)

onde ~K ´e um vetor qualquer da rede rec´ıproca. Esta fun¸c˜ao de onda ´e peri´odica no espa¸co: φ(~r + ~R) = φ(~r), que resultar´a num

~ R = 2πm

|K~|. A φ(~r ) ter´a o mesmo valor se for transladada paralelamente a ~K por uma distˆancia m´ultipla de 2πm

|K~| [25].

Devido ao elevado grau de simetria nos cristais, o potencial gerado pela rede cristalina possui uma periodicidade, como ´e mostrado na figura abaixo:

Referências

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