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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0111.12.002017-2/001

Número do Númeração

0020172-Des.(a) Corrêa Junior Relator:

Des.(a) Corrêa Junior Relator do Acordão:

12/02/2019 Data do Julgamento:

22/02/2019 Data da Publicação:

EMENTA: RECURSO DE APELAÇÃO - COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS - CEMIG - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS - MORTE DE BOVINOS EM DECORRÊNCIA DA QUEDA DE POSTES DA REDE ELÉTRICA - RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO PRESTADOR DE SERVIÇOS PÚBLICOS REQUISITOS DANO, CONDUTA OMISSIVA CULPOSA E NEXO DE CAUSALIDADE -COMPROVAÇÃO - DANOS MORAIS IMPROVADOS - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

- Em se tratando da responsabilização do Estado ou do prestador de serviços públicos por danos causados a terceiros, no âmbito extranegocial, em decorrência de conduta omissiva, aplica-se o regime jurídico da responsabilidade civil subjetiva, segundo o qual competirá ao lesado comprovar a existência do evento danoso, da omissão específica do ente público diante de um dever legal - culpa lato sensu - e do nexo de causalidade entre a conduta do lesante e o revés experimentado. - Uma vez comprovado que a morte dos animais decorreu da queda inesperada de postes da rede elétrica mantidos pela prestadora de serviços públicos, a condenação ao pagamento dos danos materiais é medida que se impõe.

- Carente o processado de qualquer prova de que as repercussões imateriais do ato extrapolaram os dissabores do cotidiano, afasta-se a indenização por danos morais.

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0111.12.002017-2/001 - COMARCA DE CAMPINA VERDE - APELANTE(S): CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A - APELADO(A)(S): HUGO OLIVEIRA ATOUI E OUTRO(A)(S), IGOR OLIVEIRA ATOUI

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. CORRÊA JUNIOR RELATOR

DES. CORRÊA JUNIOR (RELATOR)

V O T O

Cuida-se de recurso de apelação interposto pela CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A em face da sentença de fls.141/145, proferida, no âmbito do "Programa Julgar", pela MMª. Juíza de Direito Dra. Bárbara Isadora Santos Sebe Nardy, que, no bojo dos autos da ação de indenização por danos material e moral ajuizada por IGOR OLIVEIRA ATOUI e HUGO OLIVEIRA ATOUI contra a ora apelante, julgou parcialmente procedente o pleito exordial para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos materiais no importe de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), bem como compensação por danos morais na quantia de R$ 8.000,00 (oito mil reais) para cada um dos autores, haja vista o perecimento de 05 (cinco) animais em decorrência do desabamento de postes da rede de energia elétrica. O pedido de fixação de lucros cessantes foi, todavia, julgado

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improcedente.

As partes foram condenadas ao pagamento das custas processuais e de honorários de advogado, estes fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação, na proporção de 75% (setenta em cinco por cento) para a ré e 25% (vinte e cinco por cento) para os autores, ressalvada, no entanto, a gratuidade da justiça concedida aos segundos.

Em suas razões recursais de fls. 148/157, sustenta a apelante, em síntese: que os documentos juntados aos autos não comprovam que a morte dos bovinos tenha se dado em razão de descarga elétrica; que o boletim de ocorrência e o laudo apresentado pelos autores são provas unilaterais; que as redes da CEMIG são objeto de manutenção periódica; que deve ser aplicado ao caso concreto o regime da responsabilidade civil subjetiva, uma vez que indemonstrada qualquer omissão por parte da prestadora de serviço; que não há nexo de causalidade entre os danos alegados pelos autores e qualquer conduta praticada pela concessionária; que a queda dos postes de energia elétrica se deu em razão de fenômeno natural, configurando, portanto, caso fortuito; que não há prova da extensão do dano material sofrido; que, não tendo havido lesão aos direitos de personalidade dos autores, deve ser afastada qualquer responsabilidade por danos morais. Pugna, ao final, pelo provimento do recurso, com a consequente reforma da sentença hostilizada.

Em que pese tenham sido devidamente intimados, os apelados deixaram transcorrer in albis o prazo para a apresentação de contrarrazões, conforme certificado à fl. 161.

É o relatório, no essencial.

CONHEÇO DO RECURSO, porquanto presentes os pressupostos legais de admissibilidade.

Compulsando os autos, verifico que Igor Oliveira Atoui e Hugo Oliveira Atoui ajuizaram a presente ação de indenização por

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danos material e moral em face da CEMIG Distribuição S/A, ao argumento de que, em 22 de junho de 2012, ocorreu o desabamento de postes da rede elétrica mantidos pela ré, fato que ocasionou a morte de 05 (cinco) bovinos machos de propriedade dos autores.

Sustentaram, ainda, que os animais vitimados eram treinados para a montaria em rodeios profissionais, motivo pelo qual o sinistro impossibilitou a participação da "tropa de bois" dos autores em ao menos 05 (cinco) rodeios, em um intervalo de 10 (dez) anos, considerando-se a expectativa de vida útil dos bovinos.

Outrossim, alegaram que o revés experimentado implicou, também, em danos de ordem imaterial, não se tratando de mero dissabor, ante o "sentimento de indignação e perturbação que o assolaram no momento em que foram noticiados do evento, bem como no momento em que se viram obrigados a interromper suas atividades desenvolvidas na área de festas do peão".

Pugnaram, então, pela condenação da ré ao pagamento de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) a título de danos materiais advindos da morte dos animais, bem como de R$ 75.000,00 (setenta e cinco mil reais) em razão dos lucros cessantes. Rogaram, ainda, pelo arbitramento de compensação pelos danos morais sofridos.

O feito tramitou regularmente e, ao final, a i. magistrada de primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos iniciais, aos seguintes fundamentos:

"No caso em exame, entendo presentes os elementos caracterizadores da responsabilidade da CEMIG.

As fotografias anexadas às fls. 21/25 e o boletim de ocorrência acostado às fls. 14/15 deixam claro que no dia 22 de junho de 2012, postes de distribuição de energia elétrica que alimentava a propriedade caíram, ocasionando propagação da descarga elétrica, que veio a atingir cinco animais machos da espécie bovina de propriedade dos Autores.

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(...)

Ademais, muito embora a Requerida alegue que a queda dos postes de fiação tenha ocorrido em razão de uma tempestade, a mesma não restou demonstrada nos autos, não havendo menção da mesma no Boletim de Ocorrência, nos depoimentos das testemunhas arroladas, ou em qualquer outro documento colacionado aos autos, sendo descabida a alegação de caso fortuito a elidir o dever de reparação ora pretendido.

Assim, verifica-se que há, nos autos, demonstração inequívoca de que o acidente vitimou cinco animais de propriedade dos Autores, razão pela qual passo à análise dos danos indenizáveis pleiteados.

Do dano material

Quanto ao valor dos danos emergentes - prejuízo efetivo decorrente da falha na prestação de serviços pela ré -, os Autores requerem a indenização por danos materiais decorrentes da morte de 05 (cinco) bois, no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

Embora a Requerida se insurja contra o valor, alegando que não foi comprovado, razão não lhe assiste. O preço de mercado do gado foi estimado em laudos emitidos por médicos veterinários (Renato Araújo Macedo, CRMV MG nº 9422 e Bruno Amaral de C. de F. Queiroz, CRMV -MG nº 8.106) em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

Verifica-se o rebanho dos Autores estava em boas condições de saúde e eram treinados para atuar em rodeios da região.

Assim, em relação aos danos emergentes, condeno a ré ao pagamento de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) pela morte de 05 (cinco) animais de propriedade dos autores.

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(...)

No caso em análise, verifica-se que os animais eram utilizados para apresentação em rodeios, sendo os autores considerados como "a grande revelação de tropeiros da região", conforme acostado à fl. 24: (...).

Ademais, cumpre asseverar que, conforme os laudos emitidos pelos veterinários às fls. 19/20, tratavam-se de animais com um pouco mais de 02 (dois) anos de idade, ou seja, com perspectiva de ainda se apresentarem junto aos autos por mais alguns anos.

Tem-se, portanto, que o caso sub judice não pode ser considerado um mero aborrecimento comum ao convívio social, ensejando a reparação pelos danos morais que lhe foram causados.

(...)

Dos lucros cessantes

Em que pese as alegações dos autores, muito embora a notícia de fl. 24 comprove que os Autores participavam de rodeios com os animais, não há nos autos qualquer prova hábil a demonstrar que os mesmos receberiam algum valor pelas apresentações realizadas, não restando comprovado o proveito econômico que deixaram de auferir com a morte dos animais. Assim, indefiro o pedido referentes aos lucros cessantes pleiteados." Irresignada, a CEMIG Distribuição S/A interpôs o presente recurso de apelação.

Pois bem.

Sabe-se que, em regra, a responsabilização do Estado pelos danos causados por seus agentes se sujeita ao regime da

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responsabilidade civil objetiva, nos termos definidos pelo §6º, do artigo 37, da Constituição Federal, que ora transcrevo:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

A análise do dispositivo mencionado revela que o constituinte estabeleceu para as entidades estatais e prestadoras de serviço público a obrigação de indenizar o dano causado a terceiros, em decorrência de conduta comissiva, independentemente do exame da culpa.

Nada obstante, o disposto no artigo acima não se aplica às hipóteses em que o dano decorre de omissão estatal, como no presente caso, considerando que o evento danoso - queda de postes de sustentação da rede - não decorreu de ato comissivo da concessionária, mas de ausência da devida manutenção da rede de transmissão de energia elétrica.

Com efeito, em se tratando de ato omissivo, a responsabilidade civil deve ser apreciada à luz da Teoria da Culpa Administrativa - "Faute Du Service" -, caracterizada pela natureza subjetiva, desaguando na necessidade de comprovação do elemento anímico do causador do suposto dano, consistente na culpa - negligência, imprudência ou imperícia.

Assim, em se tratando de responsabilização do Estado e do prestador de serviços públicos pela prática de conduta omissiva, é de

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se aplicar o regime jurídico da responsabilidade civil subjetiva.

É o que leciona o insigne Professor Celso Antônio Bandeira de Mello:

"A responsabilidade por omissão é responsabilidade por comportamento ilícito. E é responsabilidade subjetiva, porque supõe dolo ou culpa em suas modalidades de negligência, imperícia ou imprudência, embora possa tratar-se de uma culpa não individualizável na pessoa de tal ou qual funcionário, mas atribuída ao serviço estatal genericamente. É a culpa anônima ou faute de service do francês, por nós traduzida por "falta de serviço". É dispensável localizar-se, no Estado, quem especificamente descumpriu o dever de agir, omitindo-se propositadamente ou apenas por incúria, por imprudência, ao negligenciar a obrigação de atuar e atuar tempestivamente. Cumpre tão-só que o Estado estivesse obrigado a certa prestação e faltasse a ela, por descaso, por imperícia ou por desatenção no cumprir seus deveres, para que desponte a responsabilidade pública em caso de omissão"(RT 552/14).

No mesmo sentido, o posicionamento do eg. Supremo Tribunal Federal:

"Tratando-se de ato omissivo do Poder Público, a responsabilidade civil por tal ato é subjetiva, pelo que exige dolo ou culpa, esta numa de suas três vertentes, a negligência, a imperícia ou a imprudência, não sendo, entretanto, necessário individualizá-la, dado que pode ser atribuída ao serviço público, de forma genérica, a falta do serviço. A falta do serviço -faute du service dos franceses - não dispensa o requisito da causalidade, vale dizer, do nexo de causalidade entre a ação omissiva atribuída ao Poder Público e o dano causado a terceiro." (RE 369.820, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 4-11-2003, Segunda Turma, DJ de 27-2-2004.) (No mesmo sentido: RE 602.223-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 9-2-2010, Segunda Turma, DJE de 12-3-2010; RE 409.203, Rel. p/ o ac. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 7-3-2006, Segunda Turma, DJ de 20-4-2007; RE 395.942-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 16-12-2008,

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Segunda Turma, DJE de 27-2-2009).

Nesse contexto, a responsabilização civil do Estado e dos prestadores de serviços públicos por suas omissões depende, portanto, da comprovação de três pressupostos, quais sejam, o evento danoso, a omissão específica do ente público diante de um dever legal e o nexo de causalidade existente entre esta e os danos experimentados pela vítima, competindo ao ente público, a seu turno, demonstrar eventuais causas excludentes da responsabilidade.

Lançadas estas premissas e volvendo ao caso dos autos, verifico presentes os pressupostos para o reconhecimento da responsabilidade civil da CEMIG, na qualidade de prestadora de serviços públicos, pelos danos experimentados pelos autores, ora apelados.

Inicialmente, destaco, desde já, que a morte de cinco bois de propriedade dos autores, no dia 22 de junho de 2012, é fato incontrovertido nos autos, restringindo-se a análise do recurso voluntário à existência de nexo de causalidade entre a conduta omissiva imputada à ré e o óbito dos semoventes.

E, nesse ponto, com a respeitosa vênia aos argumentos esgrimidos, entendo que deve ser mantida a sentença, pois, ao contrário do que pretende fazer crer a apelante, os elementos de prova coligidos aos autos chancelam de forma contundente que a queda dos postes de energia elétrica ceifou a vida dos bovinos.

Verifica-se que, no dia dos fatos, os autores cuidaram de acionar a Polícia Militar, que lavrou o Boletim de Ocorrência acostado às fls. 19/20, nos seguintes termos, in verbis:

ACIONADO COMPARECI NA ESTÂNCIA PALMEIRAS, ONDE O SOLICITANTE IGOR OLIVEIRA ATOUI, RELATOU QUE POSSUI ALGUNS ANIMAIS BOVINOS QUE É USADO PARA PROVAS DE RODEIOS, E QUE NESTE DIA E HORÁRIO, ESTAVA FAZENDO SEUS AFAZERES NA

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DE CONDUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA QUE PASSA DENTRO DE SUA PROPRIEDADE RURAL, VEIO A CAIR ATINGINDO 05 (CINCO) BOIS DE MAIS OU MENOS 25 ARROBAS, QUE É USADO EM RODEIOS E QUE TAIS ANIMAIS MORRERAM NA HORA. (...).

Ademais, as declarações prestadas por médicos veterinários às f. 19/20, bem como as fotografias de fls. 21/24 comprovam que a morte dos bovinos se deu em decorrência do desabamento de postes mantidos pela prestadora de serviços públicos, ora apelante.

Ressalto, por oportuno, que o fato de o Boletim de Ocorrência e as declarações prestadas pelos veterinários Renato Araújo Macedo e Bruno Amaral Costa de Freitas Queiroz consistirem em "provas unilaterais" não mitigam, a priori, a sua força probante, que deverá ser individualmente avaliada pelo magistrado no exercício de seu livre convencimento motivado. De toda sorte, saliento que tanto o declarante de fl.19 quanto o policial responsável pela lavratura do boletim de ocorrência foram ouvidos em juízo, oportunidade em que, sob o crivo do contraditório, reiteraram os fatos, assim se manifestando, in verbis:

"(...) que o depoente esteve no local dos fatos no dia em que eles aconteceram; que o rapaz da Cemig já havia ido no local; que o gado ainda se encontrava da mesma forma como está nas imagens de fls. 21/23; que o depoente verificou que a morte dos animais foi provavelmente por eletrocussão devido ao fato da rede estar próxima aos animais e um deles estava em contato com a rede e esta havia caído (...)" - testemunha Renato Araújo Macedo, veterinário, depoimento de fl. 105.

"(...) que o depoente se recorda que quando chegou ao local já havia um funcionário da Cemig sendo que este pediu ao depoente que não se aproximado do local até que ele se procedesse deserginazação do local; que após a realizado tal trabalho o depoente pode se aproximar do local e constatar a morte das 5 reses (...)"- testemunha Luís Carlos de Oliveira Teixeira, policial militar, depoimento de fl. 106.

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Destarte, o conjunto probatório dos autos tem o condão de demonstrar que a morte dos bois sobreveio em razão do desabamento dos postes.

A queda dos postes, a seu turno, há de ser imputada à omissão culposa da CEMIG, pois, ante a ausência de qualquer comprovação pela concessionária de interferência de algum fator externo (tempestade de grande magnitude, incêndio, choque com veículos etc), é lícito presumir que o desabamento ocorreu em razão da ausência de escorreita manutenção dos postes.

Ademais, a ré quedou-se inerte quanto intimada para comprovar as suas alegações (fl. 90).

Ora, é certo que a concessionária tem o dever de fiscalizar toda a sua rede, mantendo hígidos e incólumes os equipamentos e postes por meios do quais o serviço é prestado.

Com efeito, vislumbro caracterizado, data venia, o nexo de causalidade entre a omissão negligente da concessionária apelante e a morte dos cinco animais de propriedade dos autores.

A propósito, nesse sentido já se manifestou o colendo Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. QUEDA DE POSTE. MORTE DE ANIMAL. DANO MATERIAL. C O N F I G U R A Ç Ã O . P R O V A D O A T O I L Í C I T O E D O N E X O D E CAUSALIDADE. SÚMULA N. 7/STJ. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. AUSÊNCIA DE OMISSÃO.

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2. No caso dos autos, o Tribunal de origem concluiu pela comprovação do nexo de causalidade entre a falha na prestação de serviços de fornecimento de energia elétrica e a morte da vaca leiteira de propriedade do autor, decorrente da queda de poste de iluminação da empresa concessionária. Destacou, ainda, que a recorrente não demonstrou nenhuma causa excludente de sua responsabilidade.

3. Nesse contexto, concluir em sentido diverso implicaria revolvimento do conteúdo fático dos autos, vedado em recurso especial.

4. A violação do art. 535 do CPC não se configura na hipótese em que a Corte de origem, ainda que sucintamente, pronuncia-se sobre a questão controvertida nos autos, não incorrendo em omissão, contradição ou obscuridade. 5. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 195.727/RS, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 20/11/2012, DJe 27/11/2012) Em resumo, inexistindo qualquer prova de que a queda dos equipamentos da rede elétrica tenha sido ocasionada por fato não imputável à CEMIG - hipótese em que seria de se cogitar sobre a exclusão da responsabilidade -, deve ser mantida a responsabilidade civil da concessionária pelo evento danoso.

Consectário lógico do reconhecimento da responsabilidade civil é a reparação dos danos efetivamente causados às vítimas.

No que tange aos danos materiais, apresenta-se correta a condenação ao pagamento de indenização fixada em sentença, notadamente no que diz respeito ao quantum indenizatório, eis que não desconstituído pela requerida o relatório de f. 19, acostados pelos autores à inicial, que atesta de forma pormenorizada tanto a raça dos semoventes, quanto o fato de que eram bem treinados para atuar em rodeio da região, característicos que lhes outorgava o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

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Já no que diz respeito aos danos morais, melhor sorte socorre à apelante.

Isso porque, embora reprovável a conduta omissiva da concessionária ré, o revés comprovado nos autos não se afigura suficiente para a caracterização de abalo psíquico justificador da reparação por dano moral.

O falecimento dos bois em decorrência do desabamento dos postes, malgrado enseje a reparação do dano material suportado, não tem o condão de gerar abalo psíquico contundente o suficiente para a reparação moral pretendida, máxime no caso corrente, em que carente o processado de qualquer prova de que as repercussões imateriais do ato extrapolaram os dissabores normalmente toleráveis em fatos de equivalente natureza. Não desnatura a conclusão alcançada, com a renovada vênia, a alegação de dano decorrente da dita inviabilização da atividade desenvolvida na área de "festa do peão", pois a natureza comercial do serviço relega a frustração experimentada à esfera material.

CONCLUSÃO

Ante o exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, P A R A R E F O M A R E M P A R T E A S E N T E N Ç A E D E C O T A R D A CONDENAÇÃO O PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Custas recursais à razão de vinte e cinco por cento pelos recorridos, com a suspensão da exigibilidade, e o restante pela recorrente. Mantenho os ônus sucumbenciais arbitrados na origem, que já observam o sucumbimento recíproco.

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É como voto.

DESA. YEDA ATHIAS - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. AUDEBERT DELAGE - De acordo com o(a) Relator(a).

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