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O PAPEL DO YOUTUBE NA DESCONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS LGBT. Augusto Rafael Brito Gambôa

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Academic year: 2021

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O PAPEL DO YOUTUBE NA DESCONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPOS LGBT. Augusto Rafael Brito Gambôa

As conexões virtuais na cibercultura expandem o universo das representações modificando a maneira de vê-lo, permitindo que indivíduos possam ser, viver, expressar, engajar, amar, comportar, significar, de maneira que o espaço digital é visto como forma de desconstrução de estereótipos social por meio das representações sociais

O papel de sites de compartilhamento de vídeo, como o Youtube, oferecem uma maior quantidade de representações de identidades Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transgêneros, de modo que as representações que antes eram limitadas nos meios de comunicação por vieses em geral estereotipados, podem ser representados de maneira plural, desconstruindo narrativas reguladoras das identidades em seu discurso.

Como base para o texto utiliza-se os Trabalhos de Lucia Santaella e alguns de seus conceitos identitários relacionados; Foucault para a construção das noções de discurso e Goffman, para abordagem sistemática sobre as representações.

O homem, mulher, masculino, feminino, homossexual, heterossexual, indefinido, indeterminado, Queer, inteligível; existe um imenso espaço entre uma vírgula e um universo matematicamente incalculável de possibilidades sobre as formas que as identidades LGBT podem adquirir.

Se as representações forem compreendidas como um jogo de tensões que influencia e é influenciada por uma dinâmica social que implica no jogo de quem eu quero ver e quem eu quero mostrar, e as identidades do sujeito são interpretadas e reinterpretadas, inúmeras vezes, por meio de um inexorável fluxo de signos que ao encontrarem outro sujeito adquirem um significado.

De maneira que ao pautar-se em somente em uma maneira de representar não há outras percepções que um indivíduo pode ter sobre si e sobre a representação do outro, não que de alguma maneira este jogo crie um indivíduo, o desconforto com a identidade pode continuar a existir, porém o reforço de uma representação, talvez, colabore para que os mecanismos sociais de regulação destas identidades não permitam que esta seja vista para além daquilo.

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Quando aplicamos a pessoas com identidades LGBT não estamos falando somente sobre a maneira como pessoas que não possuem esta identidade a percebem, e sim como próprio individuo se enxerga em sua representação e sua convivência social.

Considerando a dinâmica social relacional que é estabelecida durante os processos inerentes a constituição da identidade, no qual “O que somos e O que não somos”, ganha significado.

Inicialmente, tomemos como base para o pensamento a categorização sistemática sobre o corpo Imaginário, simbólico e o corpo real, nesta sistemática fica clara a relação entre o individuo com sua realidade.

Se no imaginário, a constituição do Eu se dá na hesitação mortífica do eu-outro, o registro Simbólico introduz um terceiro termo, o Outro, isto é, o significante. De um lado essa mediação superpõe-se ao Imaginário e o organiza, levando o sujeito a encontrar um lugar pra si em um ponto, o ideal do Eu, que determina e sustenta a projeção imaginária sobre o Eu Ideal. (SANTAELLA, 2004, p.145)

De uma perspectiva essencialista as questões biológicas possuem alguma influencia sobre a maneira como se vivencia os gêneros expressos nos corpos. Contudo, quando se leva em consideração que as matrizes biológicas são, antes de tudo, interpretações realizadas por meio de significados, e que somos capazes de racionalizar a compreensão sobre como devemos e queremos ser percebidos, vale questionar até que ponto um indivíduo é “predestinado” biologicamente a ser como é.

Pode-se perceber que talvez exista uma complexa dinâmica não essencialista, que interage com as concepções biológicas que entre outros aspectos, incluem as interações sociais com o outro, com que está fora do nosso corpo que dá significado a maneira como o mundo é visto, fazendo com que a fixação da identidade seja, talvez, uma ideia inconcebível.

Seria difícil afirmar que em algum momento da história, as identidades que compreendem os corpos foram coerentes, lineares ou plenas, haja vista a dificuldade de mapear tais informações históricas (HALL, 2006). Quando se pensa em uma identidade subjetiva, que é constituída, entre outros, por meio de dinâmicas culturais, que adquirem um sentido quando vivenciado e racionalizado por um indivíduo, por meio de processos simbólicos que se dão por intermédio da linguagem, como veremos mais a frente.

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Em termos históricos, lembra Foucault em a história da sexualidade, muitos artifícios foram utilizados como tentativa de regular os gêneros, sexualidades e suas expressões, porém em se tratando de individuo, a plenitude do “Eu” talvez seja questionável, assim, talvez seja questionável também afirmar se as identidades múltiplas são sintoma da modernidade.

A imagem de uma identidade definida, centrada, uniforme ou até mesmo racional, está presente também nas práticas institucionais, que por sua vez tomam como base, perspectivas que defendem e reproduzem uma forma única de ser para o individuo. Possivelmente, com o intuito de estabelecer estratégias reguladoras para determinadas finalidades, como o “oriental bom em matemática”, a “mulher negra faxineira”, entre outros estereótipos sociais. Comportamento este reforçado pelas mídias que trabalham freneticamente pela preservação de uma concepção de individuo que fundamenta tais práticas (SANTAELLA. 2004.p 125)

É incerto afirmar se essa identidade possui um corpo real, pois o constante deslocamento das identidades, motivado por nossa incompletude, bem como as multiformas do ser, faz com que nunca nos sintamos satisfeitos e plenos com este indivíduo constantemente em processo de construção, sempre pensando, transgredindo e subvertendo a si próprio, assim como os símbolos, que se modificam, e que adquirem novos significados.

As representações possuem um papel de extrema importância no que diz respeito às representações identitárias LGBT, haja vista, que muitos dos comportamentos reproduzidos em sociedade talvez se tornem “fato” por meio de repetições midiáticas, como em uma narrativa de telenovela na qual a mulher negra é sempre a empregada da casa. Se por um lado nunca se está pleno com a identidade. Como se pode ser o que não se pode ver?

A questão não é refletir se a mídia “manipula” as pessoas. A questão é refletir sobre a reprodução de estereótipos que talvez reforcem costumes culturais, transformando-os em “verdades” por repetição.

O ambiente virtual de compartilhamentos de vídeos como o Youtube, por permitir o acesso a um mundo de representações, talvez, venha para desestabilizar este sistema de repetições, e trazer novas reflexões para o mundo “real” por assim dizer, mas

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do que um espaço de vídeos este se torna um espaço de representações de percepções de compartilhamento de histórias, narrativas, e experiências, formas, conteúdos, etc.

Se por um lado às instituições, de maneira geral, seguem uma normatização que cultiva a noção de uma identidade fixa e regrada, seja por influências histórico-culturais, por logica do sistema capitalista ou simplesmente por deliberado interesse de um jogo de poder que busca uma hegemonia. A cibercultura vem dar visibilidade a multiplicidade de representações de gênero, mostrando a pluralidade humana, permitindo com que o processo de constituição da identidade do sujeito uno possa ser questionado, desestabilizando hegemonias e permitindo o acesso a novas linguagens. “É através da linguagem que o ser humano se constitui como sujeito e adquire significância cultural” (SANTAELLA. 2007. p.91).

A variedade de representações de um mesmo grupo permite com que estereótipos sejam desconstruídos, e com as conexões virtuais as possibilidades de representações são maiores. Talvez não ficando tão presa a um sistema de compra e venda de imagem, que acaba por reproduzir repetidamente imagens como: A mulher bonita, mas, pouco inteligente; o homossexual afeminado e engraçado; o homem heterossexual “pegador” e macho alfa. Que faz com que a repetição de tais estereótipos seja tomado como base para constituir um “fato” se convertendo, talvez, numa verdade absoluta em termos culturais.

Quando um indivíduo desempenha um papel, implicitamente solicita de seus observadores que levem a sério a impressão sustentada perante eles. Pede-lhes para acreditarem que o personagem que veem no momento possua os atributos que aparenta possuir, que o papel que representa terá consequências implicitamente pretendidas por ele e que, de um modo geral, as coisas são o que parecem ser. (GOFFMAN, 2014, P.29)

A percepção da multiplicidade de representações no Youtube vem para descentrar ou deslocar a ideia de um indivíduo uno ou único, no qual o mesmo tenha que ser o homem bruto, masculino que faz coisas de homem, e a mulher seja doce, meiga, submissa; ou mesmo que para ser uma mulher tenha que necessariamente ter nascido com órgão correspondente; ou para ser homem devem-se manter relações sexuais com mulheres, e vice-versa. De modo que estas múltiplas representações tem diferentes significados para um indivíduo, produzidos por diferentes sistemas

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simbólicos, mas esses significados são contestados e cambiantes (WOODWARD. 2014. P.19).

O ciberespaço não é visto aqui de maneira separada da constituição relativa à identidade de um indivíduo. Afinal, assim como a liberdade do pensamento advindo das páginas impressas de um livro, que permitiu que o indivíduo pudesse se libertar das normas reguladoras da igreja na era do iluminismo. O ciberespaço é um ambiente onde o “eu” busca encontrar a si, e refletir sobre ele mesmo e seu papel na sociedade.

A emergência da cultura digital e seus sistemas de comunicação mediados eletronicamente põe a nu o modo como o sujeito era pensado até então. A cibercultura promove o individuo como uma identidade instável, como um processo contínuo de múltiplas identidades, instaurando formações sociais explicáveis pelas teorias pós-estruturalistas e desconstrucionistas que enfatizam o papel da linguagem no processo de constituição do sujeito. (SANTAELLA. 2007.p.91)

O site de compartilhamento de vídeos, Youtube, neste caso é visto como uma porta a mais onde se busca o conhecimento das representações que tem como reflexo as novas verdades sobre o “eu”.

De maneira que toma forma uma “nova” verdade sobre as representações relativas às identidades LGBT, porém a mesma percepção pode ser aplicada a outras formas de representações sociais, reestabelecendo seus significados sociais.

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Referencias

BUTLER, Judith. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da Identidade. Rio de Janeiro. Ed. Civilização Brasileira. 2015.

FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade Vol I. Rio de Janeiro, Graal, 1988. HALL, Stuart, Identidade Cultural na pós-modernidade. 2006

SANTAELLA, Lucia. Corpo e Comunicação: Sintoma da Cultura. São Paulo, PAULUS, 2004.

SANTAELLA, Lucia. Linguagens Liquidas na era da mobilidade. São Paulo, PAULUS,2007.

SILVA, T.Tadeu; HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: A perspectiva dos estudos culturais. RJ Petrópolis, Vozes, 2014.

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