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Dessa decisão, Paulo Rogério José impetrou o presente habeas

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Academic year: 2021

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DESPACHO DO RELATOR

Habeas Corpus

Número do Processo :0003174-43.2014.8.22.0000 Processo de Origem : 0019823-69.2013.8.22.0501 Paciente: Raniery Araujo Coelho

Impetrante(Advogado): Paulo Rogério José(OAB/RO 383) Impetrante: Rose Mary Evangelista da Silva

Impetrante: Walyson Joselyo Alves da Conceição

Impetrado: Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Porto Velho - RO

Relator:Des. Walter Waltenberg Silva Junior Vistos.

Paulo Rogério José impetrou habeas corpus em favor do paciente Raniery Araújo Coelho, insurgindo-se contra a decisão proferida pelo juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Porto Velho que, dentre outras medidas, concedeu a cautelar de suspensão da função e proibição de adentrar no SEBRAE em relação ao paciente.

Segundo consta nos autos, o Ministério Público do Estado de Rondônia, em virtude de investigação realizada no âmbito do SEBRAE, formulou à autoridade apontada como coatora pedido de prisão temporária, além de outras cautelares diversas da prisão, em desfavor de Raniery Araújo Coelho e outros.

Narrou que o paciente, juntamente com funcionários do SEBRAE, nominados na petição inicial, estava sendo investigado por ter, supostamente, praticado crimes de falsidade ideológica, peculato, fraude contra licitações, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Em virtude disso, com a finalidade de resguardar a instrução, requereu a decretação da prisão temporária, além de várias outras medidas cautelares.

O juízo singular deferiu os pedidos formulados pelo Ministério Público do Estado de Rondônia. Em relação ao paciente Raniery Araújo Coelho, deferiu os pedidos de decretação da suspensão das funções exercidas no Sebrae e proibição de acesso às dependências daquela instituição. Fundamentou que há fortes indícios no sentido de que o paciente compunha uma quadrilha voltada para o desvio de verbas do Sebrae, razão por que seu afastamento cautelar é medida imperiosa.

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corpus, em que alegou que a medida alternativa somente pode ser utilizada

quando cabível a prisão cautelar mas, em razão da proporcionalidade, houver outra restrição menos onerosa capaz de tutelar a situação, ou seja, seria necessária a presença dos requisitos legais para a admissão da tutela cautelar: fumus commissi delicti e periculum, o que não há no caso dos autos.

Com base nestes argumentos, requereu, liminarmente, a revogação das cautelares de proibição de entrar nas dependências do Sebrae/RO e o retorno às atividades lá exercidas.

Ao receber os autos, verifiquei a ausência de juntada do ato coator, razão pela qual determinei ao impetrante que procedesse a juntada, o que foi cumprido às fls. 226 e seguintes.

É o que há de relevante. Decido.

O presente habeas corpus objetiva desconstituir a decisão proferida pelo juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Porto Velho, no que tange à suspensão do exercício da função e proibição de adentrar às dependências do Sebrae, medidas impostas ao paciente Raniery Araújo Coelho.

Da leitura da petição, nota-se que o impetrante pretende a revogação das medidas cautelares que lhe foram impostas com base no que dispõem os artigos 282 e 319, do Código de Processo Penal.

Como se sabe, para a concessão das medidas cautelares no processo penal, seja ela a prisão ou as medidas diversas desta, é necessário o preenchimento de dois requisitos: fumus comissi delicti e periculum.

O fumus consiste na existência de indícios de autoria e demonstração de materialidade, ou seja, a justa causa para a decretação da medida, ao passo que o periculum nada mais é do que o risco ao regular transcorrer da persecução penal caso não haja a concessão da medida.

Estes dois requisitos, necessários à concessão das medidas cautelares no âmbito do processo penal (fumus comissi delicti e periculum), são cumulativos e, portanto, a medida só pode ser concedida ou mantida caso ambos estejam presentes; na ausência de um deles, não há que se falar em concessão ou manutenção da cautelar.

Inclusive, neste exato sentido é a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

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PROCESSUAL PENAL. MEDIDA CAUTELAR. AGREGAR EFEITO SUSPENSIVO AO RECURSO ESPECIAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO JÁ ADMITIDO NO TRIBUNAL A QUO. RESTABELECIMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE. LIBERDADE PROVISÓRIA CONCEDIDA PARA CRIMES HEDIONDOS OU EQUIPARADOS. ENTENDIMENTO DA 3ª SEÇÃO DO STJ PELA VEDAÇÃO CONSTITUCIONAL DO BENEFÍCIO. INOCORRÊNCIA DE NOVO ESTADO DE FLAGRÂNCIA. NECESSIDADE DE DECRETAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA NOS TERMOS DO ART. 312 DO CPP. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA.

1. A liberdade provisória para os crimes hediondos ou equiparados ainda reclama consolidação em seu entendimento, tanto neste Superior Tribunal de Justiça quanto no Supremo Tribunal Federal. Prevalece, nesta Turma, o posicionamento definido pela 3ª Seção do STJ que reconhece a vedação do benefício ao fundamento, em última análise, da inafiançabilidade prevista na Constituição Federal.

2. Difícil, no entanto, aceitar o mero restabelecimento da prisão em flagrante para aquele que, posto em liberdade, não mais se encontra em estado de flagrância (art. 302 do CPP). O retorno à prisão somente se justificaria nos termos do art. 312 do CPP (prisão preventiva).

3. De outra banda, a constante divergência entre julgados ocorrida tanto no âmbito desta Corte quanto no Supremo Tribunal Federal exige certa prudência no trato da matéria, sobretudo em situação como a presente, quando já ocorreu a desconstituição da prisão.

4. Ausentes, no caso, os pressupostos da cautelar que são

cumulativos, em especial, o perigo na demora, a mesma não deve prosperar.

5. Medida cautelar indeferida. Sem prejuízo de novo exame do tema quando do julgamento do recurso especial.

(MC 16.439/RS, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 02/08/2010).

Essas medidas diversas da prisão são aquelas previstas no art. 319, do CPP, a seguir transcrito, com a recente redação dada pela Lei n. 12.403/2011:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades;

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;

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seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;

IX - monitoração eletrônica.

No caso dos autos, foram concedidas em desfavor do paciente as medidas previstas nos incisos II e VI, do dispositivo supra citado, ambas com a finalidade de evitar prejuízos à instrução, uma vez que o cargo ocupado pelo paciente poderia facilitar a destruição de provas.

Pois bem. Feitas essas primeiras considerações, passa-se à análise dos requisitos necessários à concessão das medidas cautelares, para o fim de verificar se houve ilegalidade ou excesso no ato praticado pela autoridade apontada como coatora, bem como se ainda persistem os fundamentos para a manutenção das medidas impugnadas.

No caso dos autos, sem pretender adentrar na questão do fumus

comissi delicti, de plano, verifico não estar mais presente o periculum.

Deve-se ressaltar que, ainda que, no momento da decretação das medidas, estivesse presente o risco à instrução penal, hoje não há mais razões para a manutenção das medidas, uma vez que já houve a busca e apreensão dos elementos probatórios existentes nas dependências do Sebrae. Assim, não há mais motivos para que se impeça o paciente de adentrar naquele local, tampouco de retornar à sua função.

É relevante registrar que as medidas em questão foram concedidas em 10/12/2013, ou seja, há quase quatro meses atrás, período mais do que suficiente para que o autor da possível ação penal a ser proposta em face do paciente pudesse colher todas as provas que se fizessem necessárias nesta fase pré-processual.

Assim, não vejo ser possível admitir a manutenção destas medidas ad eternum, pois elas violam direitos fundamentais e, ainda que a legislação processual penal não tenha previsto um prazo máximo para a manutenção dessas medidas cautelares diversas da prisão, é inegável que sua duração deve ter um prazo razoável.

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Registre-se que o Tribunal de Justiça do Piauí já decidiu caso semelhante, em que reconheceu que a manutenção das cautelares por tempo indeterminado configura constrangimento ilegal, já que, ainda que em grau menor do que a prisão preventiva, essas medidas configuram sacrifício à liberdade de locomoção.

Vejamos:

HABEAS CORPUS. VIOLAÇAO DO SIGILO FUNCIONAL.

MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO. CABIMENTO DO

WRIT. EXCESSO DE PRAZO NA MANUTENÇAO. INEXISTÊNCIA DE INQUÉRITO POLICIAL DISTRIBUÍDO EM JUÍZO. DENÚNCIA OFERECIDA POR CRIMES CONEXOS (TRÁFICO E ASSOCIAÇAO PARA O TRÁFICO) SEM CONSTAR O NOME DA PACIENTE. ORDEM CONCEDIDA.

1. Vislumbro a viabilidade do manejo do presente remédio constitucional, notadamente pela possibilidade de decretação da prisão preventiva em caso de descumprimento das medidas cautelares impostas, consoante prevê o art. 282, § 4º, do CPP, alterado pela Lei 12.403/11.

2. Certidão de fls. 58, datada de 13/02/12, dando conta de que não foi distribuído nenhum Inquérito Policial contra a paciente e, ainda, cópia da denúncia contra as 36 pessoas envolvidas no crime de tráfico e associação para o tráfico, não constando o nome da acusada, nem mesmo pelo crime de violação do sigilo profissional, conexo àqueles.

3. Não há como manter as medidas cautelares (afastamento da servidora do cargo de analista judiciário e proibição de acesso às dependências do fórum), estabelecidas há mais de sessenta dias (16/12/11), sem que haja ao menos inquérito policial distribuído para apurar suposta prática delitiva.

4. Apesar da Lei 12.403/11 nada ter dito sobre a duração das

medidas cautelares diversas da prisão, o certo é que a manutenção destas medidas por prazo indeterminado caracteriza constrangimento ilegal sanável através de habeas corpus.

5. Dessa forma, ultrapassados mais de sessenta dias sem notícia de deflagração da persecução penal, a manutenção das medidas cautelares decretadas afigura-se nítido constrangimento ilegal à paciente. Isso porque as medidas cautelares de natureza pessoal

possuem a finalidade de assegurar a eficácia do processo importando, em maior ou menor grau, sacrifício à liberdade de locomoção.

6. Ordem Concedida, com fundamento nos arts. 647 e 648, II, ambos do CPP, cassando a decisão que estabeleceu as medidas cautelares diversas da prisão (fls. 22/24), determinando o retorno da servidora ao cargo de analista judiciário, em desconformidade com o parecer ministerial.

(TJ-PI - HC: 201100010073438 PI , Relator: Des. Erivan José da Silva Lopes, Data de Julgamento: 06/03/2012, 2a. Câmara

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Especializada Criminal).

Ademais, o Ministério Público não trouxe qualquer prova efetiva, ou ao menos indícios, de que o paciente pudesse realmente prejudicar a instrução com sua presença nas dependências do Sebrae; trata-se de mero temor hipotético, que não pode ser suficiente para a manutenção uma medida cautelar que, sem dúvida, traz sérias consequências aos direitos do paciente, uma vez que está privado de seu trabalho, bem como do acesso a local público, o que, como já dito, configura, em última análise, violação a seu direito de ir e vir.

Dessarte, por não mais estarem presentes os requisitos necessários à manutenção das cautelares diversas da prisão, entendo que as mesmas devam ser revogadas.

Contudo, importa registrar que, no que tange ao retorno das funções exercidas no Sebrae, ainda que a medida cautelar imposta seja revogada, tal fato não importará na reassunção do cargo caso o paciente tenha sido, de forma administrativa, retirado do cargo ou demitido, uma vez que os funcionários do Sebrae são regidos pela CLT.

Diante do exposto, DEFIRO a liminar pleiteada por Paulo Rogério José, em face do paciente Raniery Araújo Coelho, para o fim de revogar as cautelares de proibição de adentrar nas dependências do Sebrae e suspensão das funções lá exercidas, reiterando, contudo, que quanto a esta última, o retorno somente se dará caso o paciente não tenha sido retirado do cargo ou demitido no âmbito administrativo.

Oficie-se à apontada autoridade coatora, nos termos do art. 662 do Código de Processo Penal e art. 437 do RITJ/RO, para o fim de prestar informações quanto aos fatos atinentes ao presente habeas corpus no prazo de 48 horas.

Em seguida, dê-se vista à Procuradoria de Justiça e, após, voltem-me conclusos para análise do mérito.

Intime-se.

Porto Velho, 4 de abril de 2014.

Desembargador Walter Waltenberg Silva Junior Relator

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