MORFOLOGIA E CITOLOGIA
DA CÉLULA BACTERIANA
Prof
a. Dr
a. Vânia Lúcia da Silva
MORFOLOGIA BACTERIANA
Morfologia Bacteriana:
As células bacterianas são caracterizadas morfologicamente pelo seu tamanho, forma e arranjo. Tamanho: 0,3 /0,8 µm até 10/25 µm. As espécies de interesse médico variam entre 0,5 a 1,0 µm por 2 a 5 µm.
Forma e arranjo:
- Cocos (formas esféricas): grupo homogêneo em relação a tamanho, sendo células menores (0,8 a 1,0 µm).
BACTÉRIAS -células procariontes, constituindo os menores seres vivos e os mais simples estruturalmente, embora complexos e diversificados do ponto de vista bioquímico e metabólico - ADAPTAÇÃO
Características básicas dos procariontes:
Ausência de compartimentos dentro da célula - metabólitos dispersos no citoplasma; Ausência de núcleo verdadeiro - cromossomo bacteriano disperso no citoplasma
• Diplococos: cocos agrupados aos pares. Ex.: Neisseria (meningococo)
• Tétrades: agrupamentos de quatro cocos • Sarcinas: agrupamento de oito cocos em forma cúbica. Ex.: Sarcina
• Estreptococos: cocos agrupados em cadeias.
Ex.: Streptococcus • Estafilococos: cocos em grupos irregulares, lembrando cachos de uvas. Ex.: Staphylococcus
Bacilos ou bastonetes: cilíndricos, forma de bastão, podendo ser longos ou
delgados, pequenos e grossos, extremidade reta, afilada, convexa ou arredondada.
• Diplobacilos: bastonetes agrupados aos pares. • Estreptobacilos: bastonetes agrupados em cadeias.
Formas helicoidais ou espiraladas: células de forma espiral.
• Espirilos: possuem corpo rígido e se movem às custas de flagelos externos, dando uma ou mais voltas espirais em torno do próprio eixo.
• Espiroquetas: são flexíveis e locomovem-se às custas de filamentos axiais (flagelos periplasmáticos), podendo das várias voltas completas em torno do próprio eixo. Ex.: Gênero Treponema
Formas de transição
• Bacilos muito curtos: cocobacilos. Ex.: Prevotella • Espirilos muito curtos, assumindo formas de vírgula: vibriões. Ex.: Vibrio cholerae
CITOLOGIA BACTERIANA
A observação interna das estruturas celulares dá-nos uma idéia de como a bactéria funciona no ambiente. A figura a seguir representa as diversas estruturas bacterianas:
ESTRUTURAS CELULARES EXTERNAS
Flagelos
Estruturas especiais de locomoção, constituídas pela proteína flagelina, que formam longos filamentos que partem do corpo da bactéria e se estendem externamente à parede celular.
O flagelo propulsiona a bactéria por movimento rotatório => dependente de energia fornecida pela diferença de potencial de membrana (fluxo de íons H).
Distribuição dos flagelos: atríquias (sem flagelo)
a) monotríquio b) anfitríquio
Fímbrias
Estruturas filamentosas mais curtas e delicadas que os flagelos, semelhantes a pêlos, que se originam da membrana plasmática, e são usados para fixação, e não para motilidade.
São constituídas por uma proteína denominada pilina.
Estão relacionadas com a aderência às superfícies mucosas (fímbrias comuns) => colonização.
Pili F => relacionado com a transferência de material genético durante a conjugação bacteriana (fímbrias ou pili sexual – codificadas pelo plasmídeo F).
Fímbria comum
Cápsula
Camada que circunda a célula bacteriana externamente a parede celular, de consistência viscosa e de natureza polissacarídica (polissacarídeo extracelular) ou polipeptídica. Pode ser evidenciada por métodos especiais de coloração (tinta nanquim).
Funções: proteção da célula bacteriana contra desidratação, permitir a fixação da bactéria em várias superfícies, evitar a adsorção de bacteriófagos na célula bacteriana.
Relacionada à virulência da bactéria, pois confere resistência à fagocitose pelas células de defesa do corpo – em uma mesma espécie, amostras encapsuladas são mais virulentas que as não-encapsuladas – AUMENTA A CHANCE DE INFECÇÃO.
Parede Celular
Estrutura rígida que recobre a membrana citoplasmática e ajuda a manter a forma das células, além de proteção, mantendo a pressão osmótica intrabacteriana e prevenindo expansão e eventual rompimento da célula.
Composição: peptidioglicano (mucopeptídeo ou mureína) – estrutura rígida da parede:
N-acetilglicosamina (NAG) ácido N-acetilmurâmico (NAM) tetrapeptídeo (4 aminoácidos)
Devido as propriedades da parede celular, as bactérias podem ser divididas em dois grandes grupos: GRAM POSITIVAS e GRAM NEGATIVAS, de acordo com a sua resposta à coloração de GRAM.
Composição do tetrapeptídeo
Contém L e D aminoácidos, sempre ligado ao NAM.
Ligações cruzadas entre o COOH terminal do aminoácido de um tetrapeptídeo e o grupo NH2do aminoácido do tetrapeptídeo vizinho.
L-alanina D-ácido glutâmico L-lisina D-alanina L-alanina D-ácido glutâmico L-lisina D-alanina Ligação cruzada
PAREDE DAS GRAM POSITIVAS
Possuem maior quantidade de peptidioglicano, o que torna a parede dessas bactérias mais espessa e rígida.
Composta por peptidioglicano e ácidos teicóicos (cadeias de polifosfato com resíduos de ribitol e glicerol) ou ácidos lipoteicócicos.
Citoplasma
Peptideoglicano Ácidos teicóicos
Membrana citoplasmática
Os ácidos teicóicos/lipoteicóicos estão ligados ao peptidioglicano APENAS nas bactérias Gram positivas, nunca nas Gram negativas.
PAREDE DAS GRAM NEGATIVAS
Mais complexa - a quantidade de peptidioglicano é menor, e possui uma membrana externa envolvendo a fina camada de peptidioglicano, que se situa no espaço periplasmático.
MEMBRANA EXTERNA: Serve como barreira seletiva que controla a passagem de algumas substâncias.
Estrutura: bicamada assimétrica, contendo fosfolipídios, semelhante à MP.
• Internamente => camada de fosfolipídeos e lipoproteína, que está ancorada ao peptidioglicano.
• Externamente => camada impermeável de lipopolissacarídeo (LPS) – molécula anfipática.
A membrana externa das bactérias Gram negativas contém proteínas (OMP), que formam canais por onde penetram diversas substâncias.
Membrana citoplasmática Membrana externa Citoplasma Lipopolissacarideo Espaço periplasmático e lipoproteínas Peptideoglicano Espaço periplasmático
Essas proteínas presentes na membrana externa das Gram negativas constituem aprox. 50% da membrana, não relacionadas com as proteínas da MP, e possuem diversas funções.
3 segmentos ligados covalentemente: lipídio A, cerne do polissacarídeo e antígenos O.
A porção lipídica do LPS é também chamada de ENDOTOXINA.
O LPS pode ser tóxico, causando febre, diarréia, destruição de hemácias e um choque potencialmente fatal. Efeito protetor nas bactérias Gram negativas intestinais (resistência à solubilização pelas enzimas intestinais e bile).
LPS
Implicação da estrutura da parede celular bacteriana - COLORAÇÃO DE GRAM
Baseado nas propriedades da parede celular (substâncias lipídicas na camada externa)
• 1884 – Hans Christian Joachim Gram
Experimentos com pneumococos – corantes seletivos para bactérias
Desenvolvimento de um protocolo de coloração de esfregaços bacterianos
Permitiu a divisão destes organismos em 2 grandes grupos - visualização por microscopia óptica
Revolução no diagnóstico das doenças infecciosas.
PAREDE CELULAR DAS MICOBACTÉRIAS
Bacilos aeróbios, imóveis, não-formadores de esporos, de parede celular complexa rica em lipídios e ceras, especialmente ácidos micólicos que são ligados covalentemente a lipidios acil (ácidos arabnogalactamicos). Causadores da tuberculose e da lepra.
Estrutura da parece celular:
A parede celular das micobactérias é responsável por muitas características das bactérias (por exemplo, ácido resistência, crescimento lento, resistência aos detergentes, resistência aos antibióticos comuns).
Nutrientes solúveis em água entram nas células através de porinas.
Os diferentes lipídios da parede celular das micobactérias formam uma bicamada assimétrica com cadeias curtas de glicerol-fosfolipídios que atuam como barreira a substâncias aquosas tornando a superfície celular hidrofóbica e resistente a numerosos desinfetantes, álcoois e ácidos.
Membrana Citoplasmática
Aproximadamente 10 nm e separa a parede celular do citoplasma. É constituída de fosfolipídeos e proteínas.
Desempenha importante papel na permeabilidade seletiva da célula – funciona como barreira osmótica.
Difere da membrana citoplasmática dos eucariotos por: - não apresentar esteróis (colesterol) em sua composição;
- ser sede de numerosas enzimas do metabolismo respiratório => (MESOSSOMO); - controlar a divisão bacteriana através do mesossomo.
ESTRUTURAS CELULARES INTERNAS
Área citoplasmática
Citoplasma: 80 % de água, ácidos nucléicos, proteínas, carboidratos, compostos de baixo peso molecular, lipídios, íons inorgânicos. Sítio de reações químicas.
Ribossomos: ligados a uma molécula de mRNA, são chamados de poliribossomos. Presentes em grande número nas células bacterianas. São menores – ribossomos 70S Grânulos de reserva (inclusões): os procariotos podem acumular no citoplasma substâncias sob a forma de grânulos, constituídos de polímeros insolúveis (ex.: grânulos de glicogênio, amido, lipídios, polifosfato, enxofre e óxido de ferro) .
Área citoplasmática
Ribossomos: ligados a uma molécula de mRNA, são chamados de poliribossomos. Presentes em grande número nas células bacterianas. São menores – ribossomos 70S
Tipo de rRNA em procariotos Número aproximado de
nucleotídeos Localização da subunidade 16s 1542 30s 5s 120 50s 23s 2904 50s Área nuclear
Nucleóide: cromossomo bacteriano, constituído por uma única molécula dupla fita circular de DNA não delimitado por membrana nuclear e sem a presença de histonas. Contém as informações necessárias à sobrevivência da célula e é capaz de replicação.
Elementos extracromossomais
Plasmídeos:, moléculas menores de DNA, dupla fita, circulares, cujos genes não codificam características essenciais, mas podem conferir vantagens seletivas para as bactérias que os possuem (ex.: genes de resistência a antibióticos, metais tóxicos, produção de toxinas, etc). Auto-duplicação independente do cromossomo bacteriano, e podem existir várias cópias dentro da célula.
Função: proteção da célula vegetativa das adversidades do meio ambiente (limitação de nutrientes, temperatura, e dessecação). Sua formação leva em torno de 6 horas.
Têm pouca atividade metabólica, pode permanecer latente por longos períodos
-forma de sobrevivência, e não de reprodução. Ex. Bacillus e Clostridium. Esporos
Também chamados de endósporos (porque se formam dentro da célula).
Esporos contém pouca água no citoplasma, possuem parede celular muito espessa, são altamente resistentes a agentes físicos e químicos, devido a sua capa impermeável de proteína tipo queratina (associado ao cálcio) e presença de ácido dipicolínico.