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Consoantes pré-nasalizadas do guineense: segmentos fonéticos ou fonológicos?

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Academic year: 2021

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PAPIA, São Paulo, 27(2), p. 283-292, Jul/Dez 2017.

Consoantes pré-nasalizadas do guineense: segmentos

fonéticos ou fonológicos?

Pre-nasalized consonants of Guinea-Bissau Creole: phonetic or

phonological segments?

Sandra Marisa Costa Chapouto Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal

smarisacc@gmail.com

Abstract: The purpose of this work is to describe the behaviour of pre-nasalized consonants of the Guinea-Bissau creole – in the segmental and prosodic domains – and to present a proposal for the phonological interpretation of these segments. We start with a description of the segments at the phonetic level and then try to discover if these pre-nasalized realizations of the surface structure correspond to phonological units or they can be obtained through phonological processes. The description proposed in this work will be presented according to the Autossegmental Theory and the Feature Geometry model (for the description of the segments and the phonological processes), and the Onset-Rhyme model (for the description of the organization of the segments on the syllable). The data analysis has allowed us to propose that pre-nasalized phonetic consonants are a consequence of the phonological process of expansion of the [+nasal] feature that occurs when, at the phonological level, there is a heterosyllabic sequence of nasal segment and an occlusive/affricate segment.

Keywords: Pre-nasalized segments; phonological processes; Guinea-Bissau Creole.

Resumo: Com este trabalho, pretende-se descrever o comportamento dos segmentos pré-nasalizados do guineense – nos domínios segmental e prosódico – e apresentar uma proposta de interpretação fonológica destes segmentos. Partindo da descrição dos segmentos no nível fonético, tentar-se-á averiguar se estas realizações pré-nasalizadas da

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estrutura de superfície correspondem a unidades fonológicas ou se podem ser obtidas por meio de processos fonológicos. A descrição proposta neste trabalho será apresentada de acordo com o modelo da Teoria Autossegmental e da Geometria de Traços (para a descrição dos segmentos e dos processos fonológicos) e o modelo de Ataque-Rima (para a descrição da organização dos segmentos na sílaba). A análise dos dados levou-nos a interpretar as consoantes fonéticas pré-nasalizadas como o resultado do processo fonológico de expansão do traço [+nasal] que ocorre quando, no nível fonológico, se encontra uma sequência heterossilábica de segmento nasal e segmento oclusivo/africado.

Palavras-chave: Segmentos pré-nasalizados; processos fonológicos; guineense.

1 Introdução

A estrutura fonética do guineense evidencia a presença de consoantes pré-nasalizadas, porém, a interpretação fonológica destas realizações fonéticas é uma questão complexa, que tem sido bastante discutida e não há ainda consenso quanto à definição dos segmentos que estão na base destas realizações fonéticas. Com o intuito de dar um contributo para o estudo da pré-nasalidade no guineense, apresenta-se, neste estudo1

, uma descrição do comportamento das consoantes pré-nasalizadas da estrutura de superfície e uma proposta de interpretação fonológica destes segmentos, tendo por base a análise de umcorpus e os estudos já realizados sobre esta questão.

1.1 Enquadramento teórico

A descrição segmental que se apresenta é orientada pelos princípios teóricos da Fonologia Autossegmental: a descrição da estrutura interna dos segmentos é representada segundo o modelo da Geometria de Traços (de acordo com os modelos propostos por Mateus e Andrade (2000) e Clements e Keyser (1983)) e para a descrição silábica é usado o modelo de Ataque-Rima de acordo com a proposta de Selkirk (1982).

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A elaboração deste trabalho tem por base a dissertação de Mestrado em Linguística: Investigação e Ensino, intituladaContributo para a descrição de aspetos fonológicos e prosódicos do guineense.

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Pre-nasalized consonants of Guinea-Bissau Creole... 285

1.2 Metodologia

Para a recolha docorpus, foi elaborado um guião com atividades diversificadas: dizer os dias da semana, os meses do ano, os números de um a vinte; ler uma fábula, doze provérbios e uma lista de palavras; descrever duas imagens - uma relativa a uma atividade quotidiana e outra relativa a um momento festivo característico da Guiné-Bissau. Foram entrevistados quatro informantes, com idades compreendidas entre os 22 e os 30 anos, que falam fluentemente guineense – dois têm o guineense como língua materna, um tem como língua materna o mancanha e outro o manjaco. Dois informantes eram provenientes de zonas rurais e os outros dois de zonas urbanas. Dada a impossibilidade de deslocação à Guiné-Bissau, as entrevistas foram feitas em Coimbra a falantes de crioulo que se encontravam nesta cidade. Os dados obtidos foram transcritos de acordo com as normas do Alfabeto Fonético Internacional.

Os exemplos apresentados neste trabalho estão sempre acompanhados pela representação gráfica da palavra que, dada a inexistência de instrumentos de normativização da língua, está de acordo com a proposta de Scantamburlo (1999).

1.3 Síntese dos estudos sobre a pré-nasalidade no guineense

A existência de segmentos fonéticos pré-nasalizados é atestada por Andrade e Kihm (2000: 101-103), Avram (2010, pp. 203-214), Couto (1994: 69-71), Kihm (1994: 16), Mane (2001: 107) e Scantamburlo (1999: 130-131). No entanto, apenas Andrade e Kihm (2000: 101-103) e Avram (2010: 203-214) consideram que as realizações fonéticas pré-nasalizadas correspondem a segmentos fonológicos. Os demais investigadores admitem a existência de segmentos consonânticos pré-nasalizados no nível fonético, mas interpretam-nos como o resultado do processo de expansão da nasalidade que ocorre sempre que, em estrutura de base, se encontra uma sequência de segmento consonântico nasal e segmento consonântico oral (Couto, 1994: 69-71; Kihm, 1994: 16; Mane, 2001; Scantamburlo, 1999: 130-131).

2 Descrição dos dados fonéticos

Os dados fonéticos permitem-nos observar a ocorrência de segmentos oclusivos e africados pré-nasalizados2em posição inicial (excetuando [ntS]) e medial de palavra

2

Couto (1994) e Avram (2010) observam a existência de segmentos fricativos pré-nasalizados na estrutura fonética; no entanto, dado que não ocorreram segmentos fricativos pré-nasalizados no corpus que serve de base a este trabalho, estes segmentos não serão alvo de análise no presente estudo.

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(neste contexto, os segmentos em estudo podem ter diferentes realizações fonéticas: como segmento pré-nasalizado ou como sequência de consoante nasal e outra consoante). Em posição de início de palavra, verifica-se também a possibilidade de ocorrência de um segmento vocálico à esquerda do segmento pré-nasalizado. Apresentam-se exemplos que ilustram: i. as realizações pré-nasalizadas em posição inicial (1a) e medial (1b) de palavra e as duas possibilidades de realização em posição inicial (com e sem vogal) (1c); ii. as oposições entre os segmentos pré-nasalizados e os segmentos orais correspondentes, em posição inicial (2a) e medial (2b) de palavra; iii. as oposições entre os segmentos pré-nasalizados e os segmentos nasais, em posição de início de sílaba interior (3).

(1) a. [mp] mpura ["mpuRa] (empurrar) [mb] mbarka ["mbaRka] (embarcar) [nt] ntera ["nteRa] (enterrar) [nd] ndirita [ndi"Rita] (endireitar) [Nk] nkanta ["Nkãnta] (encantar) [Ng] nguli ["Nguli] (engolir) [ndZ] ndjudja ["ndZudZa] (unir) [ntS] intci ["˜ıntSi](encher) b. [mp] kampu ["kãmpu] (campo)

[mb] pumba ["p ˜umba] (pomba) [nt] lifanti [li"f ˜5nti]3 (elefante) [nd] mundu ["m ˜undu] (mundo) [Nk] tabanka [ta"bãNka] (aldeia) [Ng] djungutu [dZ ˜uNgu"tu] (acocorar-se) [ndZ] mindjer [m˜ın"dZER] (mulher) [ntS] intci ["˜ıntSi] (encher)

c. [mp] mpura ["mpuRa] [ ˜um"puRa] (empurrar) [mb] mbarka ["mbaRka] [˜em"baRka ] (embarcar) [nt] ntera ["nteRa] [˜en"teRa] (enterrar)

[nd] ndirita [ndi"Rita] [˜ındi"Rita] (endireitar) [Nk] nkanta ["Nkãnta] [˜eN"kãnta] (encantar)

3

Na palavra «lifanti»,[ ˜5] corresponde à realização fonética de /a/ seguida de consoante nasal homossilábica. De acordo com a proposta de Chapouto (2014), o segmento /a/ quando antecede um segmento consonântico [+nasal] homossilábico, apresenta duas possibilidades de realização fonética em variação livre [ã] e [ ˜5], sendo [ã] a realização mais frequente.

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Pre-nasalized consonants of Guinea-Bissau Creole... 287 (2) a. [Nk] nkanta ["Nkãnta] (encantar)

[k] kanta ["kãnta] (cantar) [Ng] ngana ["Ngana] (enganar) [g] gana ["gana] (vontade, desejo) b. [nt] kanta ["kãnta] (cantar)

[t] kata ["kata] (procurar) [nd] mundu ["m ˜undu] (mundo) [d] mudu ["mudu] (mudo)

(3) [mb] tomba ["tõmba] (cair) [m] toma ["tOma] (agarrar) [mp] kampa ["kãmpa] (acampar) [m] kama ["kama] (cama) [nt] kanta ["kãnta] (cantar)

[n] kana ["kana] (aguardente de cana)

Observando os exemplos de (1), verificamos que os segmentos pré-nasalizados ocorrem em posição inicial (1a) e medial (1b) de palavra, excetuando o segmento [ntS] que ocorre apenas neste último contexto. Em início de palavra, estes segmentos têm geralmente realização pré-nasalizada. Em posição medial (1b), estes segmentos são sempre antecedidos de segmento vocálico e apresentam duas possibilidades de realização fonética: uma vogal nasal, um segmento nasal homorgânico e uma consoante oral ou uma vogal nasal e um segmento pré-nasalizado4.

Os exemplos de (1c) evidenciam que, em posição inicial, a par da realização de um segmento pré-nasalizado, é possível também a realização de uma sequência que inclui um segmento vocálico e, nesta possibilidade de realização fonética, à semelhança do que observámos nos exemplos de (1b), o segmento vocálico também comporta o traço [+nasal].

Os exemplos contemplados em (2) mostram a ocorrência de alguns segmentos consonânticos oclusivos pré-nasalizados e de segmentos consonânticos orais nos mesmos contextos. Não foi possível encontrar pares mínimos que atestem o contraste entre todos os segmentos pré-nasalizados e os segmentos orais correspondentes em posição inicial e em posição medial de palavra. Verificámos apenas que o segmento

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A apresentação de duas possibilidades de realização fonética resulta da observação impressionista dos dados empíricos, não tendo sido realizada uma análise acústica dos dados.

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[ntS] não ocorre em início de palavra e que o segmento [ndZ] é comutável com [dZ] neste contexto, mas a comutação destes segmentos não apresenta implicações ao nível do significado. Foram encontradas, no dicionário, as entradas <ndjudja>, <djudja> (juntar), de base lexical portuguesa, e <ndjuti>, <djuti> (subestimar), de base lexical mandinga, e, segundo Scantamburlo (2002: 426), trata-se de variantes gráficas da mesma palavra5, presumindo-se que correspondam a variantes fonéticas. Em posição de interior de palavra, não foi possível encontrar pares mínimos com os sons [ntS], [tS] e [ndZ], [dZ].

Os exemplos de (3) mostram-nos a ocorrência de segmentos consonânticos pré-nasalizados e de segmentos consonânticos nasais em posição intervocálica. Neste contexto, observamos que a vogal que antecede o segmento pré-nasalizado é articulada com ressonância nasal (["kãnta]), mas tal não se verifica quando a vogal antecede um segmento nasal (["kana]).

2.1 Análise dos dados

Da observação dos dados apresentados, é evidente a ocorrência de segmentos pré-nasalizados no nível fonético. Para estabelecermos se estes segmentos pré-nasalizados correspondem a unidades no nível abstrato ou se derivam de processos fonológicos, tentar-se-á perceber se o segmento nasal e o oclusivo são homossilábicos ou heterossilábicos.

Considerando os exemplos de (2), que ilustram a ocorrência de segmentos oclusivos orais e segmentos oclusivos pré-nasalizados no mesmo contexto, dado que se estabelecem algumas oposições distintivas entre eles, poder-se-ia sugerir que o segmento pré-nasalizado corresponde a uma unidade fonológica. Outros argumentos podem ser aduzidos a favor desta hipótese. Um desses argumentos diz respeito à estrutura silábica; de acordo com esta análise, exemplos comonkanta apresentam um padrão silábico ótimo: CV.CV ([Nkã.nta]) (Avram, 2010: 209). Outro argumento a favor desta interpretação é a existência de segmentos pré-nasalizados em algumas das línguas de substrato e de adstrato6

, uma vez que, atendendo a que a maioria dos falantes de guineense tem como língua materna uma língua étnica, estas línguas exercem uma influência significativa no crioulo (Avram, 2010: 205).

5

Só foram encontrados exemplos de variação com «ndj» e «dj».

6

Algumas das línguas de substrato são hoje línguas de adstrato do guineense, pois, sendo línguas étnicas, continuam a ser faladas pelos membros das respetivas etnias. Os segmentos pré-nasalizados têm estatuto fonológico no mancanha, no manjaco, no pepel (cf. Mane, 2001), no balanta, no bambará – que são línguas étnicas faladas no território da Guiné-Bissau – e no wolof e no fufulde (cf. Avram, 2010) – que são faladas no Senegal. Segundo Moura (2007), no fula – que também é uma língua étnica falada na Guiné-Bissau –, não existem segmentos pré-nasalizados.

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Pre-nasalized consonants of Guinea-Bissau Creole... 289 Além destes argumentos, segundo Avram (2010) e Andrade e Kihm (2000), a existência de segmentos pré-nasalizados com estatuto fonológico permite explicar a mudança de padrão acentual em alguns verbos, quando são conjugados no tempo do passado. Segundo as propostas destes investigadores, nos verbos, o acento tónico incide geralmente sobre a última sílaba da palavra; no entanto, quando um segmento pré-nasalizado ocorre em posição de início de palavra e a ele se junta o pronome de sujeito, primeira pessoa do singular,N, esta sílaba torna-se pesada à esquerda, apresentando um Ataque ramificado – além do segmento complexo pré-nasalizado, o segmento nasal também se associa ao Ataque da sílaba –, e recebe o acento tónico. Porém, os investigadores apresentam apenas exemplos dissilábicos comontindi e não se percebe se a interpretação que propõem se cinge a formas verbais com duas sílabas ou se se aplica também a polissílabos. Na tentativa de analisar esta questão, foi pedido a dois informantes que pronunciassem formas verbais, como ntindi (entender), mbarka (embarcar), nkanta (encantar), no presente e no passado, na primeira pessoa do singular. Verificou-se que, em ambos os tempos verbais, o acento tónico incidia na penúltima sílaba da palavra, o que não coincide com as regras que determinam a incidência do acento propostas pelos investigadores7. Dada a impossibilidade de recolher dados de outros falantes a fim de prosseguir com o estudo desta questão, não nos foi possível confirmar a alteração do padrão acentual no tempo do passado. Porém, observando exemplos comombuludja (embrulhar), ndianta (viver juntos), nkomoda (incomodar), nturumpi (interromper)8

e atendendo a que não há registo de ocorrência de acento tónico na antepenúltima sílaba de uma palavra nas descrições a que tivemos acesso, não parece provável que, no tempo do passado, mesmo com a formação de uma sílaba inicial pesada à esquerda, o acento tónico incida na antepenúltima sílaba da forma verbal.

Se, por um lado, a hipótese de os segmentos pré-nasalizados corresponderem a segmentos fonológicos nos permite obter padrões silábicos ótimos e apresentar um sistema fonológico análogo ao das línguas de substrato e de adstrato, por outro lado, implica que se aumente o número de segmentos de base. Além disso, esta hipótese de interpretação não nos permite explicar o facto de a expansão da propriedade nasal ocorrer quando um segmento vocálico precede um segmento pré-nasalizado, em posição intervocálica, e o mesmo não ocorrer quando um segmento vocálico antecede um segmento nasal no mesmo contexto, como ilustram os exemplos de (3).

7Os dois falantes entrevistados referiram que, na opinião deles, a sílaba tónica, nos verbos, é geralmente

a penúltima e apresentaram apenas <kume> como exemplo de incidência do acento tónico na última sílaba, alegando que tal fenómeno era raro e não lhes ocorriam, no momento, outros exemplos análogos.

8

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Se considerarmos que o segmento fonético pré-nasalizado corresponde, no nível fonológico, a uma sequência heterossilábica de segmento consonântico nasal e segmento consonântico oral (VN.CV), podemos explicar o processo de expansão de nasalidade, associando o segmento nasal à Coda da sílaba cujo Núcleo é preenchido pela vogal e, neste contexto, o segmento nasal partilha a propriedade [nasal] com os segmentos adjacentes à esquerda e à direita. Com esta hipótese de interpretação, não aumentamos o número de segmentos fonológicos, mas a estrutura silábica altera-se. Numa palavra como /kaN.ta/, não teremos o padrão ótimo CV.CV, mas CVC.CV. De acordo com esta perspetiva de análise, o segmento nasal preenche a Coda da sílaba inicial e partilha a especificação de nasalidade com os segmentos adjacentes, conforme ilustra o diagrama 1.

σ A | x k R Nu x a Co x N σ A | x t R Nu x a =

DIAGRAMA 1 – Representação de [kã.nta] (/kaN.ta/)

Podemos, então, obter os segmentos fonéticos pré-nasalizados através do processo fonológico de expansão da nasalidade que ocorre quando, no nível subjacente, temos uma sequência de segmento consonântico nasal e segmento consonântico oral, conforme ilustra o diagrama 29.

9

A assimilação do traço [+nasal] está ilustrada, neste diagrama, por linhas de associação: uma liga o traço [+nasal] à Raiz do segmento vocálico, atribuindo-lhe nasalidade no plano fonético, e a outra liga o traço [+nasal] à Raiz do segmento seguinte, acrescentando este traço àqueles que ele já possui; o segmento nasal perde a sua posição no esqueleto, mantendo-se na forma de superfície como nasalidade da vogal precedente e da consoante seguinte, que terá a configuração fonética de segmento pré-nasalizado.

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Pre-nasalized consonants of Guinea-Bissau Creole... 291 X Raiz-[-cons.] Altura P.A.V X Raiz-[+cons.] [+nasal] X Raiz P.A.C [+cons.] [-soante]

DIAGRAMA 2 – Representação da realização de /N/ como nasalidade dos segmentos adjacentes à esquerda e à direita e sem posição no esqueleto.

A favor desta hipótese de interpretação podemos acrescentar o facto de não ser possível contrastar todos os segmentos oclusivos pré-nasalizados com os segmentos oclusivos orais correspondentes em contexto inicial (foram encontrados apenas os pares ["Nkãnta], ["kãnta] e ["Ngana], ["gana]) e medial (foram igualmente só encontrados ["kãnta], ["kata] e ["m ˜undu], ["mudu]) de palavra e a inexistência de oposições distintivas entre os segmentos africados pré-nasalizados e os correspon-dentes segmentos orais (<ndjudja>, <djudja>).

As considerações anteriormente expostas levam-nos a propor que as consoantes fonéticas pré-nasalizadas sejam interpretadas como o resultado do processo fonológico de expansão da nasalidade e que correspondam, no nível subjacente, a uma sequência de segmento consonântico nasal e de segmento consonântico oral.

3 Considerações finais

A observação e análise dos dados levou-nos a considerar que os segmentos fonéticos pré-nasalizados não correspondem a segmentos de base por (i) não ser possível contrastar todos os segmentos oclusivos pré-nasalizados com os segmentos oclusivos orais correspondentes e pela inexistência de oposições distintivas entre os segmentos africados pré-nasalizados e os correspondentes segmentos orais; (ii) a hipótese de se tratar de segmentos fonológicos não nos permitir explicar o facto de a vogal adjacente à esquerda do segmento pré-nasalizado em posição intervocálica ser afetada pelo processo de expansão de nasalidade e o mesmo não acontecer quando um segmento vocálico antecede um segmento nasal no mesmo contexto; e (iii) por implicar que se aumente o número de segmentos fonológicos. Tal como propõem Couto (1994), Kihm (1994) e Scantamburlo (1999), estes segmentos fonéticos podem ser derivados pelo processo de expansão do traço [+nasal] que ocorre quando, no nível fonológico, se encontra uma sequência heterossilábica de segmento nasal e segmento oclusivo/africado.

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Referências

Andrade, E., & Kihm, A. 2000. Stress in three creoles. In E. d’Andrade, M. A. Mota, & D. Pereira (Orgs.)Crioulos de base portuguesa, 97-109. Lisboa: APL.

Avram, A. A. 2010. The pre-nasalized consonants of kriyol.Bucharest Working Papers in Linguistics 1: 203-214.

Chapouto, S.M. 2014. Contributo para a descrição de aspetos fonológicos e prosódicos do guineense. Dissertação de Mestrado, Universidade de Coimbra.

Clements, G. N., & Keyser S. J. (1983). From CV Phonology: A Generative Theory of the Syllable. In J. A. Goldsmith (Ed.),Phonological Theory: the essential readings, 185-200. Massachusetts: Blackwell Publishers.

Couto, H. H. do. 1994.O Crioulo Português da Guiné-Bissau. Hamburg: Helmut Buske Verlag.

Kihm, A. 1994. Kriyol Syntax: the Portuguese-based creole language of Guinea Bissau. Amsterdam: Benjamins.

Mane, D. 2001. Estudo comparativo entre a fonologia do crioulo guineense, a do manjaco, a do mancanha e a do Pepel.Papia 11: 105-109.

Mateus, M. H. M., & Andrade, E. d’. 2000.The Phonology of Portuguese. Oxford: Oxford University Press.

Moura, Ricardo W. S. (2007). Fonologia segmental preliminar da língua Fula da Guiné-Bissau. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, Brasília.

Selkirk, E. O. 1982. The Syllable. In J. A. Goldsmith (Ed.)Phonological Theory: the essential readings, 328-350. Massachusetts: Blackwell Publishers.

Scantamburlo, L. 1999.Dicionário do Guineense: Introdução e Notas Gramaticais (vol. 1). Lisboa: Edições Colibri / FASPEBI.

Scantamburlo, L. 2002.Dicionário do Guineense: Dicionário guineense-português / Disionariu guinensi-purtuguis (vol. 2). Bissau: Edições FASPEBI.

Recebido: 22/04/2017 Aprovado: 02/08/2017

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