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Capital Social das sociedades cooperativas: reclassificação contábil

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Capital Social das sociedades

cooperativas: reclassificação contábil

Massao Hashimoto

É graduado em Ciências Contábeis, pela Facul-dades Associadas do Ipiranga (FAI) – SP, e pós-graduado em “Economia do Setor Financeiro”, pela USP. Contador de Sociedades Cooperativas, desde 1972, cursou Direito Cooperativo, pela Es-cola Superior da Advocacia (ESA) OAB (SP).

E-mail: massao@aptacontabilidade.com.br

O

artigo demonstra a preocupação das Sociedades

Cooperativas ao terem que reclassificar as

cotas-partes do Capital Social para o Passivo Financeiro,

com isso, influenciando diretamente nos indicadores

econômicos, os quais são apresentados pelas cooperativas

para fins de crédito e relacionamento com fornecedores,

clientes e credores. Por outro lado, o Conselho Federal de

Contabilidade (CFC) prorrogou por mais um ano a adoção da

reclassificação das cota-partes das Sociedades Cooperativas

(até dezembro/2017), com grande possibilidade de vir a ser

exigida a partir de 2018, pela interpretação literal da IAS 32,

interpretada pela Ifric 2.

1495 - Recebido em 6/6/2017. Distribuído em 6/6/2017. Pedido de revisão em 2/8/2017. Re-submetido pelo autor em 4/8/2017. Aprovado em 17/8/2017, na quarta rodada, por três mem-bros do Conselho Editorial. Publicado na edição novembro-dezembro de 2017. Organização responsável pelo periódico: Conselho Federal de Contabilidade.

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1. Introdução

A NBC T 10.8 estabeleceu cri-térios e procedimentos específicos de avaliação, de registro das varia-ções patrimoniais e das estruturas das demonstrações contábeis, além das informações mínimas a serem incluídas nas notas explicativas para as entidades cooperativas.

Com a evolução dos procedi-mentos contábeis internacionais, por meio das normas do

Interna-tional Accountant Standars (IAS) e

do International Financial Reports (IFRS), e suas Interpretações Técni-cas exaradas pelo International

Ac-coutant Standar Board (Iasb)

–in-terpretados e traduzidos no Brasil, por meio das resoluções do Conse-lho Federal de Contabilidade, dos Pronunciamentos Técnicos do Ins-tituto Brasileiro dos Auditores In-dependentes (Ibracon) e do Comi-tê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e Normativos exarados pelos órgãos reguladores das atividades econômicas, em especial a Comis-são de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central do Brasil (Bacen) –, passou a haver controvérsias quan-to à classificação do capital social das cooperativas, mencionado nos itens 10.8.1.6 e 10.8.1.7.

Dispõem os referidos textos:

10.8.1.6 – O capital social das Enti-dades Cooperativas é formado por quotas-partes, que devem ser regis-tradas de forma individualizada por se tratar de sociedade de pessoas, se-gregando o capital subscrito e o capi-tal a integralizar, podendo, para tan-to, ser utilizados registros auxiliares. 10.8.1.7 – Nas Entidades Coopera-tivas, a conta Capital Social é mo-vimentada por:

a)livre adesão do associado, quando de sua admissão, pelo valor das quo-tas-partes fixado no estatuto social; b)pela subscrição de novas quotas -partes, pela retenção estatutária sobre a produção ou serviço, pela

capitalização de sobras e pela incor-poração de reservas, exceto as indi-visíveis previstas em lei e aquelas do item 10.8.2.12 desta norma; e c)retirada do associado, por demis-são, eliminação ou exclusão.

A controvérsia surge a partir da alínea “c” do item 10.8.1.7, pois esta representa a possibili-dade de devolução do capital so-cial ao associado que venha a se retirar da sociedade, seja por de-missão, eliminação ou exclusão, o que, na interpretação literal da IAS 32, interpretada pela Ifric 2, fica assim trasladada:

Questão

Muitos instrumentos financeiros, incluindo ações dos membros, têm características de capital próprio, incluindo direitos de voto e direi-tos de participar em distribuições de dividendos. Alguns instrumen-tos financeiros dão ao detentor o direito de pedir o resgate em di-nheiro ou por outro ativo finan-ceiro, mas podem incluir ou estar sujeitos a limites em que os instru-mentos financeiros serão remidos. Como deverão esses termos de res-gate ser avaliados ao determinar se os instrumentos financeiros devem ser classificados como passivos ou como capital próprio?

Segundo a Resolução n.º 1.516/2016, aprovada na reunião Plenária do dia 25 de novembro, a nova data para vigência da norma é 1º de janeiro de 2018. A resolução foi publicada no dia 5 de dezembro no Diário Oficial da União (DOU).

As normas que preveem a re-classificação das cotas-partes dos cooperados são a NBC TG 39 – Instrumentos Financeiros: Apre-sentação, especificamente quan-to aos itens 16A, 16B, 16C e 16D, e a NBC TG 1000 – Contabilidade para Pequenas e Médias Empre-sas, no item 22.6.

2. A dupla qualidade do

cooperado e vários tipos

de formação em sociedade

cooperativa

A definição de dupla qualida-de dos cooperados nas sociedaqualida-des cooperativas ocorre quando uma pessoa é, ao mesmo tempo e obri-gatoriamente, sócia e usuária des-sa cooperativa.

O Art. 3º da Lei n.° 5.764/1971, Lei das Cooperativas, afirma que: “Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que recipro-camente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercí-cio de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lu-cro”. Assim, o cooperado é o dono (sócio) da sociedade cooperativa.

Em seu Art. 4º, a Lei das Co-operativas dispõe que: “as coope-rativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica pró-prias, de natureza civil, não sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguin-do-se das demais sociedades pelas seguintes características: [...]”, ca-racterísticas essas que englobam os princípios do cooperativismo. Assim, o cooperado é considerado usuário da sociedade cooperativa.

O Art. 5º da Lei das Cooperati-vas prevê que as sociedades coope-rativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, opera-ção ou atividade.

O Art. 10 da mesma lei expõe que as cooperativas se classificam de acordo com o objeto ou pela natureza das atividades desenvol-vidas por elas ou por seus associa-dos. Assim, temos as sociedades cooperativas classificadas por suas atividades: agropecuária, consumo, habitação, trabalho, produção, in-fraestrutura, crédito, educação, etc., e até cooperativa social.

Quanto à classificação das so-ciedades cooperativas por ramos de atividade, esta serve para controle

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interno de codificação ou agrupa-mento de interesses. Dessa forma, é preciso observar, antes de tudo, que o cooperativismo se divide em dois grupos, ou um terceiro, com a união dos dois grupos.

A própria Lei n.° 5.764/1971, em seu Art. 79, sobre o ato cooperativo, afirma o seguinte: “denominam-se atos cooperativos os praticados en-tre as cooperativas e seus associa-dos, entre estes e aquelas [...]”,

O ato cooperativo pode ser de dois tipos: aqueles realizados en-tre a cooperativa e seus associa-dos, como, por exemplo, as coope-rativas de consumo, de habitação, de créditos, da educação formada pelos pais de alunos, etc.; e aque-les praticados entre cooperados e as cooperativas, como, por exem-plo, as atividades das cooperativas agropecuárias, das cooperativas de trabalho, de saúde, de produ-ção, dos professores, etc.

Isso significa, então, que a du-pla qualidade está relacionada como umas das características dos princípios do cooperativismo, ape-sar de existirem outros tipos de so-ciedades que contemplam essa du-pla qualidade, como, por exemplo, nas sociedades simples, de presta-ção de serviços, de médicos, mas não obrigatoriamente, como é o caso das cooperativas.

Logo, o médico é sócio da so-ciedade simples e, ao mesmo tem-po, participa, não obrigatoriamen-te, como o prestador dos serviços da sociedade, igualmente ao pro-dutor agropecuário em outros ti-pos de sociedades.

O sistema cooperativista possui a possibilidade de formação de qual-quer tipo de atividade em sociedade cooperativa, observando os princí-pios cooperativistas muito bem re-tratados na Lei n.° 5.764/1971.

Portanto, conclui-se que o sis-tema cooperativista funciona tan-to para o cooperado produtan-tor trabalhador, como também pode

constituir a sociedade cooperati-va na qual o cooperado pode ser considerado como cliente toma-dor de serviços.

3. Os princípios do

cooperativismo

Após sucessivos congressos da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), criada em 1895 – maior au-toridade e representante mundial do cooperativismo –, adapta-se ao movimento cooperativista um mundo de constantes mudanças econômicas. Os princípios básicos do cooperativismo foram discuti-dos, reformuladiscuti-dos, aperfeiçoados e divulgados em um congresso, em 23 de setembro de 1995.

Essas modificações ocorridas nos princípios cooperativistas não demonstram fraqueza dos princí-pios mas, sim, como o pensamen-to cooperativo pode ser aplicado em um mundo de constantes mu-danças. Ainda sugerem como as cooperativas podem organizar-se para enfrentar novos rumos eco-nômicos e sociais e empurram e direcionam cooperativas de todo o globo para realizar novos exa-mes dos propósitos básicos do movimento cooperativista.

Os princípios do cooperativis-mo são:

• adesão voluntária e livre; • controle democrático pelos

sócios;

• participação econômica dos sócios;

• autonomia e in-dependência;

• educação, treinamento e infor-mação; e

• cooperação entre cooperativas; e • preocupação com a

comunida-de, sendo que será visto com mais detalhe o princípio da ade-são livre e voluntária.

Dessa forma, destaca-se o princí-pio da adesão livre e voluntária – item I, do Art. 4º da Lei n.° 5764/1971, a Lei do Cooperativismo –, reflexo di-reto na movimentação do capi-tal social, que afirma a importância fundamental de que as pessoas se in-tegrem na cooperativa de forma vo-luntária, assumindo os seus compro-missos com a cooperativa, sem que haja nenhuma imposição ou obriga-ção no momento de sua aceitaobriga-ção de integração, levando em conside-ração também que não deve haver nenhum tipo de discriminação ou restrição para a associação, tanto de sexo, raça, política, religião ou condi-ção social. Qualquer pessoa que seja capaz e que esteja disposta a seguir os princípios e contribuir para o cres-cimento e desenvolvimento da coo-perativa pode se associar.

Tal princípio também garan-te a saída do sócio em qualquer momento, valorizando sua liber-dade individual de escolha no que diz respeito a sua permanência, ou não, como sócio da

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Além do princípio da adesão livre e voluntária,

temos o princípio do controle democrático

pelos sócios: as cooperativas são organizações

democráticas controladas por seus sócios, os quais

participam ativamente no estabelecimento de suas

políticas e na tomada de decisões.

Segundo a ACI (2011), as coo-perativas são organizações volun-tárias, abertas a todas as pessoas aptas a usar serviços e dispostas a aceitar as responsabilidades de só-cios, sem discriminação social, ra-cial, política ou religiosa.

É indiscutível a importância e o poder desse princípio, em razão da essência significativa que existe entre a cooperativa e as pessoas a que ser-vem, porém é considerado, normal-mente, o menos valorizado.

Ressalvadas as restrições técnicas para o ingresso em cooperativas, elas possuem um âmbito de atuação (es-paço geográfico); limitação em área de ação – por exemplo, admissão de cooperados somente em um deter-minado município –; e um objetivo (prestar determinado tipo de servi-ço para os cooperados, por exemplo, para as cooperativa de médicos). De-terminadas sociedades cooperati-vas podem ser chamadas “Abertas”, quando admitem, sem nenhuma res-trição, por exemplo, uma sociedade cooperativa de consumo. Por outro lado, também podem ser chamadas “Fechadas”, isto é, restrita a um tipo de segmento, por exemplo, uma so-ciedade cooperativa de médicos Anestesiologistas ou de funcionários de uma determinada empresa.

Essas considerações são algu-mas restrições técnicas para o

in-gresso de cooperado em uma so-ciedade cooperativa. Mesmo assim, essas restrições técnicas não podem ser consideradas como descumpri-mento do princípio da Livre Adesão.

Além do princípio da adesão li-vre e voluntária, temos o princípio do controle democrático pelos só-cios: as cooperativas são organiza-ções democráticas controladas por seus sócios, os quais participam ativamente no estabelecimento de suas políticas e na tomada de deci-sões. Nas cooperativas singulares, os sócios têm igualdade na vota-ção (um sócio = um voto).

O princípio da participação eco-nômica dos sócios contribuem de forma equitativa e controlam demo-craticamente o capital de suas coo-perativas; o princípio da autonomia e independência estabelece que as organizações cooperativas são autô-nomas para ajuda mútua, controla-das por seus membros; e o princípio da educação, treinamento e informa-ção proporcionam educainforma-ção e treina-mento para os sócios, dirigentes elei-tos, administradores e funcionários, de modo a contribuirem efetivamen-te para o seu desenvolvimento.

As cooperativas atendem a seus sócios mais efetivamente e fortale-cem o movimento cooperativo; preo-cupam-se também com a sua própria comunidade, visando ao

desenvolvi-mento sustentável por meio de polí-ticas aprovadas por seus membros.

4. Os reflexos da decisão do

destino das sobras ou perdas,

equivalentes à devolução do

capital social das sociedades

cooperativas

Para as Sociedades Cooperati-vas, a conta de resultado denomi-na-se “Demonstração das Sobras ou Perdas” do Exercício (31/12/2004), conforme a NBC T – 10.8 Normas Brasileiras de Contabilidade, apro-vada pelo Conselho Federal de Con-tabilidade, e sua IT – 01, Interpreta-ção Técnica da Norma NBC T – 10.8, de dezembro de 2004.

Por exemplo, após o encer-ramento do exercício do ano de 2004, a sobra ou perda do exercí-cio ficará à disposição da Assem-bleia Geral Ordinária, a ser realiza-da no início do ano de 2005, para aprovar o Balanço Patrimonial, e, consequentemente, os destinos das sobras ou perdas, e assim su-cessivamente nos anos seguintes.

A Assembleia Geral Ordinária, obrigatoriamente, conforme a Lei que rege as Sociedades Cooperati-vas, n.º 5.764/1971, no Art. 44, e a respectiva NBC T – 10.8 e a IT – 01, determina que os cooperados

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deve-rão decidir quanto à “destinação das sobras apuradas ou rateio das per-das (cobraper-das dos cooperados) na proporção dos serviços usufruídos”. Diante disso, a proposta apre-sentada pela diretoria da cooperati-va ou pelos associados presentes na Assembleia Geral Ordinária, quanto ao destino das sobras do exercício, será deliberada com as seguintes hi-póteses, entre outras, os reflexos e as observações subjetivas aplicadas em cada cooperativa, como segue: • A distribuição das sobras do

exercício – acarreta de imediato uma diminuição do fluxo de cai-xa. A ponderação da distribui-ção é atentar para compatibilizar com um fluxo financeiro corren-te para não prejudicar a continui-dade dos seus negócios, porque, na gestão financeira (a diretoria), normalmente já está embutida a sobra no seu fluxo de caixa, no decorrer do exercício, pelo fato de a sobra ter ocorrido linear-mente durante os meses do ano. • Aquisição – principalmente no

caso de imóvel, durante o cício (da sobra do próprio exer-cício – fluxo de caixa suficiente para a respectiva compra), sendo que, caso haja condições finan-ceiras, a compra de um imóvel deve ser previamente aprovada em assembleias anteriores.

Nesse caso, a cooperativa (na Assembleia Geral Ordinária) deve-rá decidir que:

a) a sobra seja destinada a uma reser-va de aquisição de imóvel, indivisível entre os cooperados, consideran-do que, se futuramente decidirem pela venda do imóvel, ou quando da saída de um cooperado, nada será repassado aos cooperados; b) a sobra seja incorporada à con-ta de Capicon-tal Social, credicon-tada para cada cooperado – na proporção da sua participação na coopera-tiva (Art. 44, Lei n.° 5.764/1971), também como reflexo se, no caso de ocorrer uma quantidade sig-nificativa de cooperados se desli-gando (saindo da cooperativa), e, por conseguinte, ter de devolver o capital social para os respectivos cooperados, acarretar uma dimi-nuição no fluxo de caixa, com con-sequência na gestão financeira dos negócios – mesmo porque, com a entrada de novos cooperados, eles integralizarão sempre valores me-nores em relação aos que estão se desligando por causa da incorpo-ração equivalente ao valor do imó-vel no capital social.

Talvez deva ser estudada uma alternativa do destino das sobras de como ficar creditada aos res-pectivos cooperados (na forma da Lei), ou seja, no caso de desliga-mento, a parte deste direito pos-sa ser paga em parcelas a serem aprovadas em assembleia (mes-mo para que seja para comprar, ou não, um imóvel), com a finali-dade de não prejudicar a continui-dade dos serviços da cooperativa.

5. A reclassificação contábil

das cotas-partes para o

passivo financeiro

A não reclassificação das cotas -partes das Sociedades Cooperati-vas, mas, sim, a permanência no Grupo do Patrimônio Líquido, de-corre basicamente do reflexo nega-tivo nos indicadores econômicos. Mas existem outros argumentos para minimizar esses efeitos nega-tivos e manter a transparência e a essência do cooperativismo, como segue nos próximos itens os indica-dores econômicos e financeiros; a diferença do Ativo Patrimonial me-nos o Passivo; e a penhora de cotas do capital social do associado.

Nos indicadores econômicos e financeiros, é importante que seja feito um reconhecimento no cálculo quando se tratar de Sociedades Co-operativas. Isto é, reconhecer o que significa uma Sociedade Cooperati-va, a sua identidade e suas pecu-liaridades, aceitando ajustes para a equidade e comparabilidade com o mercado onde ela está inserida. Assim, basta divulgar e estabelecer esses ajustes necessários quando se tratar de Sociedade Cooperativa.

O mercado financeiro – agen-tes econômicos e negócios em que está inserida a Sociedade Co-operativa –, ao determinar o va-lor do Capital Social, busca encon-trar o seu valor no contrato social ou estatuto social, ou ata de as-sembleia para aumento de capital, de qualquer outra empresa onde

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Também é de se reconhecer que o Capital Social

em outros tipos de empresa, como nas Sociedades

Anônimas, onde as ações são negociadas na Bolsa de

Valores, não é diretamente resgatável na

‘boca do caixa’ das Sociedades Anônimas.

consta o respectivo valor. Mas, em se tratando de Sociedade Co-operativa, o valor do Capital So-cial é encontrado no Balanço Pa-trimonial, diretamente na conta de Capital Social porque, nas So-ciedades Cooperativas, o valor do Capital Social é variável e, no Es-tatuto Social, é mencionado o va-lor mínimo do Capital Social para a sua existência legal.

O patrimônio líquido – diferença do ativo patrimonial menos passi-vo – merece uma reflexão. Há mui-to tempo, houve um histórico de inflação elevada no Brasil. Naquela oportunidade, o mercado e as em-presas aplicavam a Correção Mone-tária do Balanço, refletindo uma re-cuperação ao capital investido.

Assim, para as Sociedades Coo-perativas também foi feito um cri-tério de reconhecimento de suas peculiaridades, porque o ativo de uma Sociedade Cooperativa não pertence diretamente ao coope-rado. A correção monetária de um Ativo Imobilizado não reflete dire-tamente no valor das cotas-partes do cooperado. Na oportunidade, utilizou-se uma Conta de Equaliza-ção Patrimonial. Isto significa que o valor da cota-parte que o coo-perado detém não representa uma parte proporcional do Ativo Patri-monial da Sociedade Cooperativa.

Também é de se reconhecer que o Capital Social em outros ti-pos de empresa, como nas Socie-dades Anônimas, onde as ações são negociadas na Bolsa de Valo-res, não é diretamente resgatável na “boca do caixa” das des Anônimas. Em uma Socieda-de Comercial ou Civil, o sócio que queira receber o seu capital social e a mais valia, na proporção do Ativo Patrimonial de uma Socie-dade, terá que buscar com outros terceiros, sócios ou não, interessa-dos no negócio. Já na cooperativa, conforme o Item IV do Art. 4º da Lei n.° 5764/1971, Lei do Coope-rativismo, existe a “incessibilida-de das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade”.

No caso de uma Sociedade Coo-perativa, as cotas-partes não repre-sentam uma participação propor-cional do Ativo Patrimonial. – será sempre o valor nominal aplicado quando da admissão na Sociedade Cooperativa e será resgatada quan-do da demissão ou da sua saída, sem direito da parte proporcional que representa o Ativo Patrimonial da Sociedade Cooperativa.

A Lei n.º 5.764/1971, Lei do Co-operativismo, em seu Art. 4, elen-ca as elen-característielen-cas das Sociedades Cooperativas, e uma delas, no item IV, diz da “Incessibilidade das

quo-tas-partes do Capital a Terceiros, estranhos à Sociedade”.

A penhora de cotas-partes do Capital Social pertencentes ao as-sociado pode parecer uma questão menor, mas que requer uma aten-ção das Sociedades Cooperativas, não obstante o assunto ser jurídi-co, mas reflete na contabilidade a sua classificação e vice-versa, servin-do de base para o jurídico.

Constam em Decisões Ju-diciais, conforme processo n.º 076/1.13.0000138-1 do Poder Judici-ário do Rio Grande do Sul (RS), data-da de 3/12/2015; a tendência data-da pos-sibilidade de penhora de cotas-partes do associado passa a ser considerada.

E sendo assim, as alegações pas-sam agora a ter grande atenção, como no voto de Juízes:- “É possível a penhora de cotas pertencentes a sócio de cooperativa, por dívida par-ticular deste, pois responde o deve-dor, para o cumprimento de suas obrigações, com todos seus bens presentes e futuros” (Art. 591, CPC).

Isso respeita os princípios que re-gem a Sociedade Cooperativa, princi-palmente quando enfatiza que as co-tas-partes do cooperado independem de a Sociedade Cooperativa ter lucros (sobras) líquidos a serem apurados. Isto é, de fato, o entendimento que se trata de um Passivo Financeiro da Cooperativa para com o cooperado.

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6. Fatos que ocorrem no dia a

dia das cooperativas

A essência do capital social co-locada em uma Sociedade Coope-rativa difere totalmente de outro tipo de Sociedade. Apesar de leis divergirem contra a primazia dos fatos, a reclassificação para o gru-po do passivo reflete a peculiari-dade de uma Sociepeculiari-dade Coopera-tiva. Tais peculiaridades são: • divulgar e ser reconhecida pelo

Mercado Financeiro, na deter-minação dos cálculos dos indi-cadores econômicos e financei-ros (o ajuste do capital social). • resgatar diretamente na “boca

do caixa” da Sociedade Coope-rativa, característica que de fato o cooperado demonstra con-fiança e só encontrado no siste-ma cooperativista.

• não ter o direito da proporcio-nalidade do Ativo Patrimonial da Sociedade Cooperativa, isto é, o valor nominal que o coo-perado integralizou, receberá ele o mesmo valor nominal. O princípio cooperativista relega ao Capital Social, muitas vezes, uma questão burocrática para admis-são de cooperado – talvez ju-ros limitados, 1% ao mês ou taxa Selic, mesmo assim sob certas condições.

7. Conclusão

A classificação contábil das co-tas-partes da Sociedade Cooperati-va, na sua essência, é instrumento financeiro e sua reclassificação para o grupo do passivo. Ressalvado nos cálculos de Indicadores Econômicos e Financeiros, deve ser considerado o valor do Capital Social somado no Grupo do Patrimônio Líquido. Com esse ajuste nos indicadores em rele-vância ao reconhecimento de uma Sociedade Cooperativa, são intocá-veis os princípios do cooperativismo. A apresentação do Balanço Patrimo-nial reflete com transparência a sua representatividade, ou seja, uma So-ciedade Cooperativa de fato.

Segue abaixo a Comunicação CFC, notícias de 6 de dezembro de 2016 e resumo da reunião realiza-da na sede do CFC, no dia 19 de de-zembro, que, sensibilizado pela mo-dificação que afetará as sociedades cooperativas, houve por bem pror-rogar o prazo para a reclassificação: “CFC prorroga, por mais um ano, a reclassificação das cotas - partes das sociedades

coope-rativas”

– Por Fabrício Santos. Co-municação CFC.

O Plenário do Conse-lho Federal de Contabi-lidade (CFC) prorrogou,

por mais um ano, o início da ado-ção obrigatória das normas que alteram a classificação contábil das cotas-partes dos associados nas sociedades cooperativas bra-sileiras. Segundo a Resolução n.º 1.516/2016, aprovada na reunião plenária do dia 25 de novembro, a nova data para vigência da nor-ma é 1º de janeiro de 2018. A Re-solução foi publicada neste dia 5 de dezembro no Diário Oficial da União (DOU).

As normas que preveem a reclas-sificação das cotas-partes dos coo-perados são a NBC TG 39 – Instru-mentos Financeiros: Apresentação, especificamente quanto aos itens 16A, 16B, 16C e 16D, e a NBC TG 1000 – Contabilidade para Pequenas e Médias Empresas, no item 22.6.

“O CFC decidiu que é necessário mais tempo para se chegar a um con-senso, por isso resolveu adiar o início da vigência das normas”, afirma o vi-ce-presidente técnico do CFC, Zulmir Breda. Ele explica que a dificuldade em se implantar as normas voltadas às sociedades cooperativas está na reclassificação das cotas-partes dos cooperados como passivo, uma vez que, atualmente, elas são contabili-zadas no patrimônio líquido.

Em reunião realizada na sede do CFC, no dia 19 de outubro, com integrantes da Câmara Técnica do CFC, representantes da Organiza-ção das Cooperativas Brasileiras (OCB) e do Conselho Regional de Contabilidade do Paraná (CRCPR), a implantação das normas que alte-ram a classificação das cotas-partes foi amplamente discutida e não hou-ve consenso. Na reunião, as minutas em discussão foram a da Interpre-tação Técnica Geral ITG 14 – Quotas de Cooperados em Entidades

Coo-perativas e Instrumentos Si-milares e a da ITG 2004 – Entidade Cooperativa, ambas sem consenso.” - Notícias, 6 de

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Resumo da Reunião Realizada na Sede do CFC, no dia 19 de dezembro/2016.

– Por Maristela Girotto – Comu-nicação CFC

A classificação contábil das cotas -partes nas sociedades cooperati-vas foi tema de discussão da Câma-ra Técnica do Conselho FedeCâma-ral de Contabilidade (CFC), realizada na tarde deste dia 19. Além dos con-selheiros do CFC que compõem a Câmara, participaram da reunião, como convidados, representantes da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o presidente do Conselho Regional de Contabili-dade do Paraná (CRCPR), Marcos Sebastião Rigoni de Mello, e o vi-ce-presidente de Administração e Finanças do CRCPR, Laudelino Jo-chem, que é também coordenador da comissão do Regional constituí-da para estuconstituí-dar assuntos contábeis da área cooperativista.

O coordenador da Câmara e vi-ce-presidente Técnico do CFC, Zul-mir Ivânio Breda, abriu a reunião fazendo um retrospecto das cir-cunstâncias e discussões que en-volvem o tema desde 2010, quan-do o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiu a ICPC 14. Elaborada a partir do IFRIC 2 – Members’ Shares in

Co-ope-rative Entities and Similar

Instru-ments, a ICPC 14 ainda não se

tor-nou norma vigente do Conselho Federal de Contabilidade.

Com base na ICPC 14, o CFC elaborou as minutas da Interpretação Técni-ca Geral ITG 14 – Quo-tas de Cooperados em Entidades Coo-perativas e Instru-mentos Similares e da ITG 2004 – Enti-dade Cooperativa, que passaram por audiên-cia pública entre os dias 26 de outubro e 26 de novembro de 2015. Porém, as minutas não fo-ram aprovadas ainda em razão de divergência sobre o tema, questão abordada na reunião da Câmara.

A dificuldade em implantar as normas voltadas às sociedades co-operativas está na classificação das cotas-partes dos cooperados como passivo. Atualmente, as cotas são contabilizadas no patrimônio líquido.

A principal oposição quan-to à mudança na classificação, conforme previsto nas minutas das normas, vem sendo mantida pela Organização das Cooperati-vas Brasileiras. A OCB argumenta que, ao reclassificar as cotas dos associados para o passivo, muitas cooperativas apresentarão seus balanços com passivo a

descober-to, o que seria irreal, pois, no en-tendimento da OCB, as cotas dos cooperados são instrumentos

pa-trimoniais. No Brasil, se-gundo a OCB, há 6.600 cooperativas em 13 ramos de atividades econômicas, geran-do 377 mil empre-gos diretos. Na reunião da Câmara Técnica des-te dia 19, além da apresentação do posi-cionamento da Organiza-ção das Cooperativas Brasileiras e da exposição do parecer da co-missão do CRCPR, cuja defesa do conteúdo foi feita por Laudelino Jochem, houve ainda a manifes-tação da professora Paola Richter Londero. Doutoranda em Contro-ladoria e Contabilidade na Univer-sidade de São Paulo (USP), ela in-tegrou o grupo de representantes da OCB para apresentar, aos mem-bros da Câmara Técnica do CFC, “a posição da academia”.

A professora disse que está realizando uma pesquisa em um grupo das maiores cooperativas brasileiras para avaliar o impac-to da reclassificação contábil das cotas-partes. “Entendemos que a academia também precisa se posi-cionar sobre essa falta de

consen-“

A principal oposição quanto à mudança na

classificação, conforme previsto nas minutas das

normas, vem sendo mantida pela Organização das

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8. Referências

- Lei do Cooperativismo – Lei n.º 5.764/1971, de 16.12.1971

- Normas Contábil – Conselho Federal de Contabilidade – NBC T 10.8 – das Entidades Cooperativas e sua IT – Interpretação Tecnica 01

- IAS 32 – International Cunoctanta Standars e IFRS 2 – Internacional Financial Reports, e suas Interpretações Técnicas, exaradas pelo IASB-International Accountant Standar Board.

- Princípios do Cooperativismo, aprovados pela ACI-Aliança Cooperativa Internacional – divulgados em 23/09/1995

- Resolução CNC Conselho Nacional do Cooperativismo nº 18 – de 13 de dezembro de 1978, dos juros sobre o valor das quotas-partes

- Resolução CNC nº 27 – de 22 de agosto de 1984, da correção monetária do balanço das cooperativas.

- Processo Judicial – RS – nº 076/1.13.0000138-1, de 03/12/2015 – decisão de Penhora de cotas do Capital Social do Associado - Comunicado do CFC, Resolução nº 1.516/2016, prorroga por mais um ano, a Reclassificação das cotas-partes das sociedades cooperativas.

so entre o ICPC 14 e as coopera-tivas”, afirmou Paola, para quem, “aceitar a norma, da forma como está, é pressupor a descontinuida-de da sociedadescontinuida-de cooperativa”.

Após as exposições, os mem-bros da Câmara Técnica João Al-fredo de Souza Ramos, Paulo Walter Schnorr, Regina Célia Nas-cimento Vilanova, Marcelo Almei-da Cavalcanti e Osvaldo Rodrigues da Cruz fizeram colocações. O co-ordenador Zulmir Breda ponderou sobre as posições e afirmou que deverá haver novas discussões

so-bre o assunto antes da entrada em vigência da ITG 14 e da ITG 2004.

“O CFC vai decidir em breve a respeito, mas se entendermos que será necessário mais tempo para se chegar a um consenso, poderemos adiar o início da vigência das nor-mas”, frisou Breda.

A reunião da Câmara contou também com a presença do vice -presidente de Desenvolvimento Profissional do CFC, Nelson Zafra, e do presidente do CRC do Espírito

Santo, Haroldo Santos Filho. – Notí-cias, 21 de outubro de 2016.

Obs.: A minuta da norma ITG 2004, do CFC, que foi colocada em Audiência Publica, no mês de setem-bro/2017 foi aprovada pela Plená-ria do CFC, em 24 de novembro de 2017, dando continuidade à classifica-ção contábil do Capital Social no gru-po do Patrimônio Líquido. Além disso, a nova norma contábil reformula as atuais regras representadas pela NBC T 10.8 (Cooperativas em geral) e 10.21 (Cooperativas operadoras de planos de assistência à saúde).

Referências

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