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CRIMINOLOGIA PROF. JOÃO PAULO BASTOS DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL NO ESTADO DO AMAPÁ 2014/2019

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CRIMINOLOGIA

PROF. JOÃO PAULO BASTOS

DELEGADO DE POLÍCIA FEDERAL NO ESTADO DO AMAPÁ – 2014/2019

Primeira Semana

Programa com base nos editais:

DELEGADO POLÍCIA FEDERAL (2018) CESPE DELEGADO POLÍCIA CIVIL/SE (2018) CESPE DELEGADO POLÍCIA CIVIL/GO (2016) CESPE

1 Criminologia. 1.1 Conceito. 1.2 Métodos: empirismo e interdisciplinaridade. 1.3 Objetos da criminologia: delito, delinquente, vítima, controle social. 2 Funções da criminologia. 2.1 Criminologia e

política criminal. 2.2 Direito penal. 3 Modelos teóricos da criminologia. 3.1 Teorias sociológicas. 3.2 Prevenção da infração penal no Estado democrático de direito. 3.3 Prevenção primária. 3.4 Prevenção secundária. 3.5 Prevenção terciária. 3.6 Modelos de reação ao crime.

Temário de Estudo Criminologia - Conceito. Métodos da

Criminologia: empirismo e interdisciplinaridade. Finalidade da Criminologia. Função da Criminologia. História da Criminologia: período pré-científico e científico. Escola Criminológicas: Escola Clássica ou Retribucionista: defensores. Escola Cartográfica. Escola Positiva: Antropológica – Lombroso (Neodeterminismo), Sociológica – Ferri, Jurídica - Garofalo. Terza Scuola Italiana ou Escola de Marburgo. Escola Correcionalista. Escola da Defesa Social. Movimento bio-psicológico. Movimento Lei e Ordem. Direito de punir na sociedade: linhas gerais de Michel Foucault.

Bibliografia utilizada:

OLIVEIRA, Natacha Alves. Criminologia. Salvador. Editora JusPodivm, 2018. VIANA, Eduardo. Criminologia. Salvador. Editora JusPodivm, 2019.

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Síntese dos Temas:

1. Criminologia

1.1. Conceito e noções introdutórias:

A palavra “criminologia” foi usada pela primeira vez em 1883 por Paul Topinard e aplicada internacionalmente por Raffaele Garófalo, em seu livro Criminologia, no ano de 1885. No Brasil, parte da doutrina atribui o surgimento da criminologia com o político pernambucano

João Vieira de Araújo, na obra “Ensaios sobre Direito Penal” – 1884.

Trata-se de uma ciência autônoma, empírica e interdisciplinar, que tem por objeto o estudo do crime, do criminoso, da vítima e do controle social da conduta criminosa, com o escopo de prevenção e controle da criminalidade.

Para o saber criminológico, delito é toda conduta com incidência massiva na

sociedade, capaz de causar dor, aflição e angústia (incidência aflitiva), com persistência espaço-temporal e que se tenha um inequívoco consenso a respeito de suas causas e suas possíveis

punições.

Por oportuno, veremos os significados das expressões citadas: por incidência massiva entende-se que a conduta criminosa não pode ser um fato isolado, ainda que socialmente reprovável. Quanto à incidência aflitiva, o crime deve ser algo ruim, capaz de causar prejuízo e dor à vítima ou à própria sociedade. No que tange à persistência espaço-temporal, temos que o fato deve ser durável no tempo e no espaço em um determinado local. Por fim, no que se entende por necessário consenso, é que não pode haver dúvidas quando determinado ato deva ser considerado um crime.

Segundo alguns estudiosos, a Criminologia está ligada à sociologia (Roberto Lyra), porém a maioria da doutrina entende como uma ciência autônoma, liberta do Direito Penal.

É ciência, pois apresenta função, método e objeto próprios.

É empírica, pois se baseia na observação da realidade dos fatos, visto que seu objeto de estudo se situa no plano da realidade e não no plano dos valores, sendo, portanto, uma

ciência do SER, e não do DEVER SER, como é o Direito Penal.

Utiliza o método experimental, naturalístico e indutivo no concernente ao estudo do delinquente, recorrendo a dados estatísticos, históricos e sociológicos para a busca de conhecimento das causas da criminalidade.

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É interdisciplinar, pois utiliza os conhecimentos de diversos ramos de conteúdo (psicologia, biologia, direito, antropologia, etc.).

Neste ponto é interessante destacar as diferenças entre Direito Penal, Criminologia e

Política Criminal:

DIREITO PENAL CRIMINOLOGIA

(CIÊNCIA PENAL)

POLÍTICA CRIMINAL (CIÊNCIA PENAL)

Analisa os fatos humanos indesejados, define quais devem ser rotulados como crime ou contravenção, anunciando as penas.

Ciência empírica que estuda o crime, o criminoso, a vítima, e o comportamento da sociedade.

Trabalha as estratégias e meios de controle social da criminalidade.

Ocupa-se do crime enquanto norma.

Ocupa-se do crime enquanto fato.

Ocupa-se do crime enquanto valor.

Exemplo: define como crime lesão ao ambiente doméstico e familiar.

Exemplo: quais fatores contribuem para a violência doméstica e familiar.

Exemplo: estuda como diminuir a violência doméstica e familiar.

Apesar das diferenças entre Direito Penal e Criminologia, é preciso destacar que nem sempre foi assim. Ferri, por exemplo, considerava que a Criminologia e o Direito Penal eram disciplinas que integravam uma “ciência geral da criminalidade”, a Sociologia Criminal, que se dividia em dois ramos: o biossociológico e jurídico, que serão tratados mais à frente.

No que tange à Política Criminal e Criminologia, infere-se que para implementação de propostas de política criminal é necessário recorrer aos conhecimentos que a Criminologia pode ministrar sobre a realidade criminal e os esclarecimentos criminológicos que daí derivam. A

Criminologia entrega as ideias e a Política Criminal as executa.

Micro Criminologia: é voltada para o autor do delito individualmente.

Macro Criminologia: trata-se de um estudo mais amplo, que se ocupa principalmente da análise estrutural da sociedade em que surge o delito.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(CESPE – PC/SE – 2018 – DELEGADO DE POLÍCIA) Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da criminologia.

Conforme o conceito de delito na criminologia, o feminicídio caracteriza-se como um crime por ser um fato típico, ilícito e culpável.

ERRADO.

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(CESPE – PC/GO – 2017 – DELEGADO DE POLÍCIA) A respeito do conceito e das funções da criminologia, assinale a opção correta.

A) A criminologia tem como objetivo estudar os deliquentes, a fim de estabelecer os melhores passos para sua ressocialização. A política criminal, ao contrário, tem funções mais relacionadas à prevenção do crime.

B) A finalidade da criminologia em face do direito penal é de promover a eliminação do crime. C) A determinação da etimologia do crime é uma das finalidades da criminologia.

D) A criminologia é a ciência que, entre outros aspectos, estuda as causas e as concausas da criminalidade e da periculosidade preparatória da criminalidade.

E) A criminologia é orientada pela política criminal na prevenção especial e direta dos crimes socialmente relevantes, mediante intervenção nas manifestações e nos efeitos graves desses crimes para determinados indivíduos e famílias.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(Instituto Acesso - PC/ES – DELEGADO DE POLÍCIA/2019) A Criminologia adquiriu autonomia e status de ciência quando o positivismo generalizou o emprego de seu método. Nesse sentido, é correto afirmar que a criminologia é uma ciência.

a) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e da opinião tradicional.

b) empírica e teorética; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado em deduções lógicas e opinativas tradicionais.

c) do “ser”; logo, serve-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da realidade.

d) do “dever ser”; logo, utiliza-se do método indutivo e empírico, baseado na análise e observação da realidade. e) do “ser”; logo, serve-se do método abstrato, formal e dedutivo, baseado em deduções lógicas e da opinião tradicional.

2. Métodos da Criminologia:

São os instrumentos, utilizados em estudos científicos, de que a criminologia se vale para compreender o fenômeno criminal. É, portanto, o canal para a aproximação e verificação do objeto da ciência.

2.1. Empirismo:

Com a chegada da fase científica de estudo da criminologia, passou-se a utilizar o

método empírico (experimental) e indutivo, por meio da qual, estuda o objeto da criminologia,

partindo da análise de fatos da realidade, ou seja, do mundo do ser, para a regra.

Esta é a distinção metodológica entre o Direito e a Criminologia, em que, como já dito anteriormente, o primeiro se situa no plano axiológico (normativo), enquanto a Criminologia reside no plano real, passível de verificação prática.

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Em outras palavras, os juristas partem de hipóteses que consideram corretas para delas deduzirem as consequências. Já os criminólogos partem de dados para induzirem correspondentes conclusões.

ATENÇÃO: As Escolas Clássicas e Positivista, que serão estudadas mais à frente, divergem

quanto ao método. Enquanto a primeira utiliza-se do método formal, abstrato e dedutivo, a segunda utiliza o método empírico e indutivo.

2.2. Interdisciplinaridade:

A criminologia dialoga com ciências de diversos ramos do saber para explicar a criminalidade, tais como: direito, sociologia, filosofia, etc.

No entanto, é preciso destacar que a INTERDISCIPLINARIDADE não deve ser

confundida com a MULTIDISCIPLINARIDADE, tendo em vista que essa última induz apenas

participação de diversas disciplinas, ao passo que interdisciplinaridade traduz a ideia de

coordenação e integração, em que as ciências se comunicam estreitamente, fornecendo e

recebendo resultados das demais, em retroalimentação.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(PAPILOSCOPISTA/SP – VUNESP – 2013) – Os métodos científicos utilizados pela criminologia são a) métodos experimental e dedutível, como ciência jurídica que são.

b) métodos psicológico e sociológico, como ciências empírica e exata que são. c) métodos físico e individual, como ciências social e dedutível que são. d) métodos físico e biológico, como ciência jurídica que são.

e) métodos biológico e sociológico, como ciências empírica e experimental que são.

3. Finalidade da Criminologia:

A criminologia possui como finalidade fornecer uma compreensão científica do

problema criminal à sociedade e aos poderes, estudando o crime, o criminoso, a vítima e os

mecanismos de controle social.

Portanto, a função básica da criminologia consiste em “informar à sociedade e aos poderes públicos sobre o delito, o delinquente, a vítima e o controle social, reunindo um núcleo

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de conhecimentos, que permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir com eficácia e de modo positivo no homem delinquente”1.

4. Objetos da Criminologia – Linhas gerais

Desde os primórdios até os dias de hoje, a criminologia sofreu mudanças importantes em seu objeto de estudo. Houve tempo em que ela apenas se ocupava do estudo do crime (Beccaria), passando pela verificação do delinquente (Escola Positiva).

Após a década de 1950, alcançou projeção o estudo das vítimas e também os mecanismos de controle social, havendo uma ampliação de seu objeto, que assumiu, portanto, uma feição pluridimensional e interacionista.

Atualmente o objeto da criminologia está dividido em quatro vertentes: delito,

delinquente, vítima e controle social. Com relação ao enfoque sobre o criminoso (delinquente),

ao longo do tempo, teve diversas acepções e Escolas que se dedicaram ao estudo, conforme se detalhará nos próximos tópicos.

Para a Escola Clássica, o criminoso era um ser que pecou, que optou pelo mal, embora pudesse e devesse escolher o bem.

O apogeu do valor do estudo do criminoso ocorreu durante o período da Escola

Positivista, com destaque para a antropologia criminal, a sociologia criminal, a biologia criminal

e etc. Esta corrente entendia que o criminoso era um ser atávico, preso a sua deformação patológica (às vezes nascia criminoso).

Outra dimensão do delinquente foi confeccionada pela Escola Correcionalista (de grande influência na América espanhola), para a qual o criminoso era um ser inferior e incapaz

de se governar por si próprio, merecendo do Estado uma atitude pedagógica e de piedade.

Registre-se, por oportuno, a visão da Escola Marxista, que entendia o criminoso como vítima inocente das estruturas econômicas e dominante da época.

O estudo atual da criminologia não confere mais a extrema importância dada ao delinquente pela criminologia tradicional, deixando-o em plano secundário de interesse.

Outro aspecto do objeto da criminologia se relaciona com o papel da vítima na gênese delitiva. Nos dois últimos séculos, o direito penal praticamente desprezou a vítima, relegando-a a uma insignificante participação na existência do delito.

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Verifica-se a ocorrência de três grandes instantes da vítima nos estudos penais: a “idade do ouro”; a neutralização do poder da vítima e a revalorização de sua importância, que serão abordados em tópico específico.

O controle social é também um dos caracteres do objeto criminológico, constituindo-se em um conjunto de mecanismos e sanções sociais que buscam submeter os indivíduos às normas de convivência social.

Há dois sistemas de controle que coexistem na sociedade:

a) controle social informal (família, escola, religião, profissão, clubes de serviço etc.), com nítida visão preventiva e educacional;

b) controle social formal (Polícia, Ministério Público, Forças Armadas, Justiça, Administração Penitenciária etc.), mais rigoroso que aquele e de conotação político-criminal.

5. Função da Criminologia

É função da criminologia desenhar um diagnóstico qualificado e conjuntural sobre o delito, entretanto convém esclarecer que ela não é uma ciência exata, capaz de traçar regras precisas e indiscutíveis sobre as causas e efeitos do ilícito criminal.

A doutrina dominante entende ainda que a criminologia é uma ciência aplicada que se subdivide em dois ramos: criminologia geral e criminologia clínica. A criminologia geral consiste na sistematização, comparação e classificação dos resultados obtidos no âmbito das ciências criminais acerca do crime, criminoso, vítima, controle social e criminalidade. A

criminologia clínica consiste na aplicação dos conhecimentos teóricos daquela para o

tratamento dos criminosos.

6. História da Criminologia:

É dividida em dois períodos: o período Pré-científico e o Científico. 6.1. O período Pré-Científico: linhas introdutórias

Abrange desde a antiguidade, com textos esparsos. Argumenta-se que a etapa pré-científica da criminologia ganha destaque com os postulados da Escola Clássica, muito embora antes dela já houvesse estudos acerca da criminalidade, porém não de forma sistematizada

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sobre o crime (visto como pecado), e o demonismo, que explicava o mal como sendo oriundo do demônio.

Nessa última visão, os doentes mentais foram os principais atingidos pela demonologia. Destacaram-se alguns pensadores pré-clássicos que contribuíram para os estudos criminológicos, tais como: Protágoras, Sócrates, Hipócrates e Platão.

Ressalte-se que os postulados dessa Escola Clássica somente despontaram na segunda metade do século XIX e que sofreu uma forte influência das ideias liberais e humanistas de

Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, com a edição de sua obra intitulada “Dos delitos e das penas”, em 1764.

Assim, relata-se que nesta etapa Pré-Científica havia dois enfoques muito nítidos: de um lado, os clássicos, influenciados pelo Iluminismo, com seus métodos dedutivos e

lógico-formais, e, de outro lado, os empíricos, que investigavam a gênese delitiva por meio de técnicas fracionadas, tais como as empregadas pelos fisionomistas, antropólogos, biólogos etc.,

os quais substituíram a lógica formal e a dedução pelo método indutivo experimental (empirismo).

Essa dicotomia existente entre clássicos e positivistas, quer com o caráter pré-científico, quer com o apoio da cientificidade, ensejou aquilo que se entendeu por “luta de escolas”.

6.2. O período Científico: linhas introdutórias

Já quanto ao período científico há divergência quanto ao seu marco inaugural. Existem 4 correntes:

1ª CORRENTE. Cesare Lombroso, com a obra “O homem delinquente”. (MAJORITÁRIA). 2ª CORRENTE. Paul Topinard, pois foi o primeiro a utilizar o termo “Criminologia”.

3ª CORRENTE. Rafaelle Garofalo foi responsável pela difusão em âmbito internacional, em sua obra “Criminologia”.

4ª CORRENTE. Francesco Carraca foi o pioneiro na adoção de aspectos do pensamento criminológico na obra “Programa de Direito Criminal”.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

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(A) Adolphe Quetelet e divulgada internacionalmente por Cesare Bonesana, em sua obra intitulada Dos delitos e das penas.

(B) Cesare Lombroso e divulgada internacionalmente por Raffaele Garofalo, em sua obra intitulada Criminologia. (C) Paul Topinard e divulgada internacionalmente por Cesare Bonesana, em sua obra intitulada Dos delitos e das penas.

(D) Cesare Lombroso e divulgada internacionalmente por Adolphe Quetelet, em sua obra intitulada O homem médio.

(E) Paul Topinard e divulgada internacionalmente por Raffaele Garofalo, em sua obra intitulada Criminologia.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(POLÍCIA CIVIL – VUNESP – 2014 - Delegado de Polícia): A obra o homem delinquente, publicada em 1876, foi escrita por: a) Cesare Lombroso. b) Enrico Ferri. c) Rafaelle Garofalo. d) Cesare Bonesana. e) Adolphe Quetelet. 7. Escolas Criminológicas:

7.1. Escola Clássica ou Retribucionista (século XVIII)

Não existiu uma Escola Clássica propriamente dita. Essa denominação foi dada pelos positivistas, com sentido negativo, notadamente Ferri, conforme aponta os estudiosos. Essa doutrina de conteúdo heterogêneo se caracteriza por usar linha filosófica, de cunho liberal e

humanitário.

No século XVIII as normas penais eram caóticas, contrariamente aos códigos penais contemporâneos, que propugnam a existência de um mínimo de segurança jurídica, entendida como a possibilidade de conhecer as consequências jurídicas de um determinado ato.

Naquela época predominava uma insegurança sobre as condutas que consistiam em crime e quais as penas correspondentes. Em razão disso, filósofos como Montesquieu denunciaram essas graves deficiências, quando surgiu o livro de Cesare Bonesana, o Marquês

de Beccaria, intitulado de “Dos delitos e das penas”, sendo considerado o principal nome dessa Escola.

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Além de Beccaria, despontam como grandes intelectos dessa corrente Francesco

Carrara (dogmática penal – a quem se atribui a concepção do delito como um ente jurídico) e Giovanni Carmignani.

A obra de Beccaria foi uma mola propulsora para uma nova forma de pensar o sistema punitivo. Apesar da abordagem nitidamente filosófica, o livro se volta contra excessos punitivos, marca dos regimes absolutistas, pretendendo humanizar a resposta do Estado à infração penal.

A Escola Clássica parte da concepção do homem como um ser livre e racional

(livre-arbítrio), capaz de refletir, tomar decisões e agir em consequência disso. Ou seja, na decisão do

homem, ele faz um cálculo racional, com as vantagens e desvantagens de determinado ato. Nesses termos, a pena deveria ser certa e previamente estabelecida, assumindo um caráter

retribucionista e dissuasório.

Trata-se de um pensamento derivado do utilitarismo, atualmente não mais utilizado, em que se defende a ideia de que as ações humanas devem ser julgadas conforme tragam mais ou menos prazer ao indivíduo e contribuam ou não para maior satisfação do grupo social.

Valendo-se do método lógico-abstrato ou dedutivo, centralizou os estudos na figura

do crime e fundamentou a responsabilidade penal na moral, no livre-arbítrio e na

autodeterminação do indivíduo (princípio do indeterminismo).

A Escola Clássica, na sustentação do livre-arbítrio do indivíduo em relação à prática delituosa, adota a Teoria do Delito como Eleição, no qual defende a liberdade do sujeito quanto à decisão de infringir ou não a determinação legal. Todavia, esta teoria não busca estudar as causas do comportamento criminoso, faltando-lhe uma preocupação etiológica.

É possível afirmar ainda que a Escola Clássica atribui uma finalidade preventiva à

pena, a qual deve exercer um efeito dissuasório sobre as pessoas, de modo a fazer com que as

mesmas, sob a coação psicológica de aplicação de uma sanção penal, se desestimulem a praticar o delito. Em outras palavras, a pena é uma resposta objetiva e prática do delito, revelando seu

cunho retribucionista.

Para essa Escola, as três características mais importantes que a sanção têm para a prevenção do crime são: a) certeza – nem todos os crimes são castigados. A eficácia das penas será tanto mais eficaz quanto mais segura ou provável for a sua imposição ao infrator; b)

prontidão – se os castigos forem impostos pouco tempo depois do ato criminoso, terão um

efeito preventivo maior que se forem impostos algum tempo depois; c) severidade – penas severas, devido à sua duração ou pela intensidade do sofrimento que provocam, tenderão a ser mais efetivas que as leves, uma vez que originam um prejuízo maior.

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Em suma, os princípios fundamentais da Escola Clássica são:

1. O crime é um ente jurídico (Carrara), não sendo uma ação, e sim uma infração; 2. A Punibilidade baseada no livre-arbítrio;

3. A pena deve ter caráter de retribuição, para prevenir o delito com rapidez; 4. Utiliza-se o método lógico-dedutivo.

Com a Revolução Industrial, a Escola Clássica teve um declínio, que para os Positivistas, se deve ao método dedutivo utilizado. No entanto, é necessário ressaltar que alguns ensinamentos permanecem seguidos até hoje. Para alguns, este declínio ocorreu quando se percebeu que a criminalidade apenas aumentava, apesar de posto em prática suas ideias básicas.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS (ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL – PC/SP – 2010): A Escola Clássica:

(A) Tem em Garofalo um dos seus precursores. (B) Baseia-se no método empírico-indutivo.

(C) Crê no livre-arbítrio.

(D) Surge na etapa científica da Criminologia. (E) Criou a figura do criminoso nato.

7.2. Defensores da Escola Clássica:

7.2.1. Cesare Bonesana – Marquês de Beccaria: “Dos delitos e das penas”.

Fez surgir o chamado movimento humanitário em relação ao Direito de punir estatal. Inspirado na filosofia estrangeira, sobretudo Montesquieu, Humes e Rousseau, ele baseou seu pensamento nos princípios do “Contrato Social”, do direito natural e do utilitarismo.

Foi um contratualista liberal, igualitário e individualista. Ele usava da dedução, ou seja, formulava princípios a priori, e depois deduzindo formulava teses. Isto é exatamente ao contrário do que se deseja hoje na criminologia. Dessa forma, Beccaria se afastava do contato da realidade.

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Alguns pontos principais da obra de Beccaria: • A atrocidade das penas se opõe ao bem público; • As acusações não podem ser secretas;

• As penas devem ser proporcionais aos delitos;

• O objetivo da pena não é atormentar o acusado, e sim impedir que ele reincida, e servir de exemplo para que outros não venham a delinquir;

• Mais útil que a repressão penal é a prevenção dos delitos.

Embora sua obra tenha um predicado humanista, rechaçando com veemência a pena de morte, ele a admite em duas situações (o que aparenta uma certa incoerência): quando interesse à segurança da nação e o Estado esteja em momentos de instabilidade política e turbulência social, ou mesmo em que não haja tais momentos, a pena de morte for o único meio para dissuadir os demais a cometerem delitos.

Sua obra não teve o objetivo de construir uma teoria sobre o fenômeno criminal, mas sim expor com objetividade, o caótico (na sua visão) sistema jurídico penal que até então predominava, plantando a semente para o florescimento da Escola Clássica.

7.2.2. Francesco Carrara

A Carrara atribui-se a concepção de delito como ente jurídico, pela qual o crime não é considerado um simples fato, mas uma relação contraditória entre a conduta humana e a lei.

Para alguns doutrinadores, é com ele que a Escola Clássica adquire prestígio e alcance na Europa. Seu mérito foi construir um sistema clássico de delito. A pena, quando aplicada, serviria para tranquilizar e restabelecer a ordem externa na sociedade. O seu fim último era o bem social. A realização de justiça é uma consequência lógica da pena, mas não sua função essencial.

8. Teorias atuais que adotam a linha da Escola Clássica

8.1. Teoria da Escolha Racional (Rational Choice Theory) - Ronaldo V. Clark e Derek B. Cornish

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Assim como a Escola Clássica, vê a perspectiva do delito como fruto de uma escolha

racional do delinquente (sem derivar de tendências psicológicas ou sociais), em que se baseia

na maximização dos ganhos e minimização das perdas.

O delito se realiza quando se percebe que essa é a solução mais rentável para as necessidades do delinquente, no qual utiliza-se de três momentos para se fazer a escolha: o início, a persistência e a desistência.

8.2. Teoria das Atividades Rotineiras (Routine Activity Theory) – Lawrence E.

Cohen e Marcus Felson

Entende o crime como resultado de escolha racional entre custos e benefícios, porém acrescenta o fator da organização social que facilita o cometimento de determinados delitos.

Com relação aos crimes que exigem contato entre o criminoso e outro indivíduo, considera que as mudanças nas atividades cotidianas influenciam as taxas delitivas, ao produzir três elementos que convergem: infrator motivado, alvo apropriado e ausência de vigilância.

9. Escola Cartográfica (transição para o período Científico da Criminologia) Essa Escola foi de suma importância para a consolidação do método que hoje é empregado na criminologia. Teve como seu principal defensor Lambert Adolphe Quetelet. Ele estabeleceu algumas premissas básicas capazes de explicar o comportamento delitivo e predizê-los, por meio da disciplina da probabilidade.

Para essa Escola o delito é um fenômeno social, produzido por fatos sociais detectáveis e determináveis estatisticamente, e que seu cometimento ocorria ano após ano, com regularidade e constância, de forma que a investigação do crime deveria ser feita pelo método

estatístico.

Quetelet formulou as leis térmicas, que consistiam no seguinte: no inverno são

cometidos mais crimes contra a propriedade; no verão a incidência maior eram os crimes contra a pessoa; e na primavera crescia o cometimento de crimes sexuais.

Para ele, o dado climático interferia não apenas na paixão humana, mas também nos hábitos e costumes sociais, e isso por sua vez, impactava sobre as espécies e os números de delitos realizados.

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Esse enfoque estatístico do crime permite concluir que Quetelet não defendia as ideias do livre-arbítrio, senão, era um determinista social. A Escola Cartográfica teve relevância no sentido de ter rompido com o modelo explicacional voltado unicamente para o autor do delito, para considerar a criminalidade como fenômeno social. Em termos gerais, essa Escola promoveu a transição da micro para a macro criminologia, e aportou a utilização do método estatístico, sendo um dos mais utilizados na investigação criminológica.

10. Escola Positivista (Positivismo Criminológico)

A criação da Escola Positiva – considerada como a primeira escola da Criminologia - atribui-se a Cesare Lombroso, com desenvolvimentos de Rafaelle Garofalo e Enrico Ferri, como crítica e alternativa à criminologia clássica, que era predominante na época. Trata-se de uma Escola influenciada pelos avanços científicos e descobertas arqueológicas surgidas durante o século XIX – Darwin, Spencer e Lamarck e pelo “pai da sociologia”, Augusto Comte.

Houve, portanto, um crescimento do prestígio das ciências da natureza e um fortalecimento do método de exploração da natureza humana. Ao contrário dos Clássicos que

usavam o método dedutivo, de lógica abstrata, trouxeram o método empírico (experimental) indutivo e de observação dos fatos.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL – PC/SP – 2011): O Positivismo Criminológico, com a Scuola Positiva italiana, foi encabeçado por:

(A) Lombroso, Garofalo e Ferri.

(B) Luchini, Ferri e Del Vecchio. (C) Dupuy, Ferri e Vidal. (D) Lombroso, Dupuy e Garofalo. (E) Baratta, Adolphe e Vidal.

A doutrina cita alguns fatores como favoráveis para o surgimento do Positivismo, tais como:

a) Comprovação da ineficácia das concepções clássicas para a diminuição da criminalidade.

b) Aplicação do método de observação ao estudo do homem.

c) Estudos no campo das estatísticas dos fenômenos sociais, em especial as contribuições de Quetelet, estudado anteriormente.

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d) Novas ideologias políticas que constatavam que a proteção dos direitos do s indivíduos havia ultrapassado os limites necessários e sacrificado os interesses da coletividade.

Sob a crença do determinismo e a defesa do tratamento do criminoso, o positivismo

negou o livre-arbítrio e conduziu o delinquente para o centro de sua análise, na qual a pena

deixa de fato a prevenção geral, passando a ostentar a finalidade precípua de prevenção

especial, de sorte a atuar como instrumento de defesa social.

É necessário destacar que o pensamento positivista, permitiu a importação do discurso e prática punitivista europeia para o cenário do Brasil. A apropriação de alguns postulados, por parte de intelectuais brasileiros, tentou justificar, cientificamente, a ideia de inferioridade

afrodescendente, pavimentando, desta forma, o caminho para as políticas de exclusão social do

negro, facilitando a ampliação de um modelo de controle penal extremamente seletivo e arbitrário, que será abordado neste resumo em momento oportuno.

A Escola Positivista pode ser dividida em três vertentes:

10.1. Antropobiológica ou Antropológica: CESARE LOMBROSO

Procurou explicar o fenômeno criminal empiricamente a partir de fatores biológicos. Tem como seu principal expoente Cesare Lombroso. Passemos ao estudo das principais características do citado autor, com enfoque nas informações comumente cobrada nos concursos públicos.

Além do livro “L’uomo delinquente”, Lombroso escreveu vários outros, tais como: “La Donna Delinquente, la prostituta e la donna normale”, “Genio e degenerazione” e “Crime: it’s causes and remedies”.

A doutrina cita que, embora seja considerado pai da Criminologia (como ciência), seus postulados não se revestem de originalidade, pois antes dele, alguns pensadores, tais como Platão e Hipócrates, por exemplo, investigavam crânios criminais e a psicologia do delinquente habitual.

ATENÇÃO: Os psiquiatras e médicos de presídios aparecem como precursores de Lombroso,

exercendo notável influência sobre sua teoria, como por exemplo, PHILIPPE PINEL, sendo

considerado o pai da psiquiatria moderna.

O sistema lombrosiano se amparou, inicialmente, em três linhas mestras: o criminoso se diferencia dos “não criminosos” por meio de vários sinais físicos e psíquicos; o criminoso é uma variante da espécie humana (um ser atávico = degeneração) e que essa degeneração

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poderia ser transmitida hereditariamente. Diz-se que estas foram as bases iniciais – primeira fase – pois com o desenvolvimento de suas pesquisas, mitigou sua própria teoria, chegando até a conceber a influência do momento social no crime.

Em outras palavras, Lombroso selecionou certas características físicas: tamanho da mandíbula, circunferência do crânio, etc., (psicopatologia criminal), buscando, entre outras coisas, estabelecer uma divisão entre o “bom” e o “mau” cidadão, sendo esses últimos, indivíduos fadados e hereditariamente destinados ao crime.

A etiologia do crime é eminentemente individual e deve ser buscada no estudo do delinquente, ou seja, é dentro da própria natureza humana que se pode descobrir a causa dos

delitos (determinismo biológico).

Sem dúvidas a classificação de delinquente nato (utilizando-se o método experimental em todo o seu trabalho), foi o capítulo mais polêmico e citado nas obras, quando se fala de

Lombroso. Este seria uma variedade humana que reproduz as características próprias dos seus

antepassados em linha reta até os animais. Deve-se salientar, porém, que a expressão

“criminoso nato” foi criada por Enrico Ferri.

Do ponto de vista tipológico defendeu a classificação do criminoso em seis categorias: • Criminoso Nato: influência biológica, estigmas, instinto criminoso, um selvagem da sociedade, o degenerado (cabeça pequena, deformada, fronte fugidia, sobrancelhas salientes, maças afastadas, orelhas malformadas, braços cumpridos, face enorme, tatuado, impulsivo, mentiroso e falador de gírias etc.) Fatores genéticos e hereditários. Regressão atávica. (biológico);

• Criminoso Louco Moral: Inteligência intacta, mas perversos, egoístas, falta de senso moral, influências hereditárias e genéticas (biológico), mas o meio pode fazer aflorar a predisposição; • Criminoso Epilético: Epilepsia ataca os centros nervosos, lesões cerebrais, parte dos sentimentos e das emoções. Dependendo do meio, conduz à criminalidade, pois as funções cerebrais, emoções e sentimentos sucateados;

• Criminosos loucos propriamente dito: Alienados mentais que devem permanecer no hospício; • Criminoso de Ocasião: Predisposto hereditariamente, são pseudocriminosos; "a ocasião faz o ladrão"; assumem hábitos criminosos influenciados por circunstâncias;

• Criminoso por Paixão: Sanguíneos, nervosos, irrefletidos, usam da violência para solucionar questões passionais. exaltados.

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(NUCEPE – PC/PI – 2018 – DELEGADO DE POLÍCIA): Marque a alternativa CORRETA, no que diz respeito à classificação do criminoso, segundo Lombroso:

(A) Criminoso louco: é o tipo de criminoso que tem instinto para a prática de delitos, é uma espécie de selvagem para a sociedade.

(B) Criminoso nato: é aquele tipo de criminoso malvado, perverso, que deve sobreviver em manicômios.

(C) Criminoso por paixão: aquele que utiliza de violência para resolver problemas passionais, geralmente é nervoso, irritado e leviano.

(D) Criminoso por paixão: este aponta uma tendência hereditária, possui hábitos criminosos influenciados pela ocasião.

(E) Criminoso louco: é o criminoso sórdido com deficiência do senso moral e com hábitos criminosos influenciados pela situação.

Importante se registrar que a teoria lombrosiana não se deteve ao gênero masculino. Embora menos conhecida, ele escreveu a obra “La donna delinquente, la prostituta e la donna normale” (1895), escrita em coautoria com Ferrero.

Para eles, o atavismo feminino aparecia com grande frequência na prostituta, persistindo a diferença para o delinquente nato, ou seja, se o homem atávico se inclinava para o crime, a mulher atávica estava predisposta à prostituição.

As conclusões de Lombroso repercutem especialmente na política criminal, visto que, contra o criminoso nato, não caberiam sanções morais, mas sim preventivas, devendo a sociedade se proteger com a aplicação da pena de prisão perpétua ou de morte.

A grande crítica que se faz a Lombroso é ter apontado a causa biológica para o

fenômeno criminal. Por outro lado, a grande contribuição para a criminologia é o método

utilizado em suas investigações, ou seja, o método empírico-indutivo ou

indutivo-experimental.

10.1.1. Neodeterminismo (Neolombrosianos):

Apesar da teoria lombrosiana parecer completamente esquecida e relegada ao passado, é possível identificar estudos recentes que aventam a possibilidade de descobrir e identificar certos criminosos antes da prática do delito.

São investigações de crimes relacionadas à biologia criminal, com estudo de cromossomos (rastreamento de código genético) que, possivelmente, seriam típicos de pessoas criminosas. Trata-se do que se convencionou chamar de neurocriminologia, no qual acredita-se

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ser possível o mapeamento cerebral para a previsão do crime, uma espécie de predeterminismo

biológico.

Assim, nos últimos anos, têm se desenvolvido uma série de modelos teóricos integrados que seriam capazes de incluir diversas variáveis, entre elas a biologia, para a explicação da conduta criminal, chamadas de Criminologia do Desenvolvimento.

10.2. Sociológica: ENRICO FERRI

Apontava os fatores antropológicos, sociais e físicos ou telúricos (solo e natureza, como clima, temperatura, etc.) como as causas dos delitos. Nessa vertente, o homem só comete crime porque vive em sociedade, daí se fala em responsabilidade social. Foi o criador da chamada Sociologia Criminal.

Ferri negou com veemência o livre-arbítrio (mera ficção) como base da

imputabilidade; entendeu que a responsabilidade moral deveria ser substituída pela responsabilidade social e que a razão de punir é a defesa social (a prevenção geral é mais eficaz que a repressão).

Chegou à conclusão que não bastava a pessoa ser um delinquente nato, era preciso

que houvesse certas condições sociais que determinassem a potencialidade do criminoso (Lei

de Saturação Criminal).

Lei da Saturação Criminal: acerca do nível de criminalidade - da mesma forma que um

líquido em determinada temperatura diluía, assim também ocorria com o fenômeno criminal.

Em determinadas condições sociais, seriam produzidos determinados delitos.

E em circunstâncias excepcionais do meio social, poderia haver um incremento nas taxas de criminalidade, o que denominou de sobressaturação criminal.

Ferri classificou os criminosos em cinco grupos:

a) Nato: é um tipo instintivo de criminoso, degenerado. b) Louco: não só o alienado mental, como os semiloucos; c) Habitual: reincidente da ação delituosa;

d) Ocasional: aquele que eventualmente comete um delito;

e) Passional: homem normal, porém tem um ato de loucura em razão de alguma circunstância, que age pelo ímpeto.

(20)

Ainda em decorrência dos ensinamentos de Ferri, tem-se a teoria dos substitutivos

penais, pela qual há priorização dos meios preventivos no enfrentamento da criminalidade,

como adoção de medidas de ordem econômica, política, científica, religiosa, educativa, etc. Para Ferri, a pena seria, por si só, ineficaz, se não viesse precedida ou acompanhada

das oportunas reformas econômicas, sociais, etc., orientadas por uma análise científica e

etiológica (as causas) do delito.

A razão e o fundamento da reação punitiva, deixou de ser mera retribuição para fundar-se em uma exigência de defesa social, que se promove pelos meios de prevenção e ajuda o criminoso às condições de convivência.

Dessa forma, substituindo-se o conceito de culpa pelo conceito de perigo, as medidas de segurança poderiam ser aplicadas antes mesmo do cometimento do fato àqueles que, pelo estado de periculosidade, fizessem prever que, no futuro, cometeriam crimes.

Sua linha de pesquisa se diferencia de Lombroso, na medida em que focava no aspecto

social, enquanto este voltava sua atenção no aspecto individual.

10.3. Jurídica: RAFFAELE GAROFALO

Foi o primeiro autor da Escola Positiva a utilizar a denominação “Criminologia”, nome que intitula sua obra em 1885. Em suas obras, preocupava-se com definição psicológica do crime, eis que defendia a teoria do delito natural, para definir comportamentos que afrontam os sentimentos básicos e universais de piedade (violado nos crimes contra a pessoa) e probidade (violado nos crimes contra a propriedade) em uma sociedade. A partir do seu estudo, a

Criminologia ganha autonomia, com status de ciência própria.

Como mais uma diferença básica para Ferri, enquanto este priorizava os meios preventivos na resposta punitiva estatal, Garofalo focava na repressão, sobretudo na pena de

morte, como meio idôneo para combater o crime. Uma de suas contribuições foi normatizar as

ideias do positivismo e transformar a realidade em fórmulas jurídicas. Convém mencionar ainda a importância atribuída à indenização em relação ao prejuízo material e moral causado pela prática do crime.

Para ele, os positivistas haviam se esforçado para descrever as características do delinquente, no lugar de definir o próprio conceito de “crime” como objeto específico da nova disciplina (Criminologia). Ele acentuou a importância de fatores psicológicos, sobretudo na personalidade do autor do crime e suas anomalias psíquicas.

(21)

Enquadra os criminosos em quatro categorias:

a) Assassinos ou delinquentes típicos: egoístas, que atendiam seus desejos e apetites; b) Violentos ou enérgicos: nestes faltavam sentido de compaixão;

c) Ladrões ou neurastênicos: anomalias cranianas;

d) Cínicos: são aqueles que praticam crimes contra os costumes (sexuais).

Destaque-se ainda que Garofalo apresentou a medida de segurança como nova modalidade de intervenção penal, a justificar ante a necessidade de tratamento do criminoso, trazendo ainda, em seu pensamento, a ideia de prevenção especial como finalidade da pena.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(FCC – DPE/ES – 2016 - DEFENSOR PÚBLICO): Sobre a escola positivista da criminologia, é correto afirmar:

(A) A escola positivista ainda não chega a considerar a concepção da pena como meio de defesa social, que é própria de escolas mais modernas da criminologia.

(B) Sua recepção no Brasil recebeu contornos racistas, notadamente no trabalho antropológico de Nina Rodrigues.

(C) É uma escola criminológica ultrapassada e que já influenciou a legislação penal brasileira, mas que após a Constituição Federal de 1988 não conta mais com institutos penais influenciados por esta corrente.

(D) Por ter enveredado pela sociologia criminal, Enrico Ferri não é considerado um autor da escola positivista, que possui viés médico e antropológico.

(E) O método positivista negava a importância da pesquisa empírica, que possivelmente a levaria a resultados diversos daqueles encontrados pelos seus autores.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(UEG – PC/GO – 2018 – DELEGADO DE POLÍCIA): Para a criminologia positivista, a criminalidade é uma realidade ontológica, pré-constituída ao direito penal, ao qual cabe tão somente reconhecê-la e positivá-la. Neste sentido, tem-se o tem-seguinte:

(A) Em seus primeiros estudos, Cesare Lombroso encontrou no atavismo uma explicação para relacionar a estrutura corporal ao que chamou de criminalidade habitual.

(B) A periculosidade, ou temeritá, tal como conceituada por Enrico Ferri, foi definida como a perversidade constante e ativa a recomendar que esta, e não o dano causado, a medida de proporcionalidade de aplicação da pena.

(C) Para Raffaele Garófalo (1851-1934), a defesa social era a luta contra seus inimigos naturais carecedores dos sentimentos de piedade e probidade.

(D) Nos marcos do pensamento criminológico positivista, Enrico Ferri, embora discípulo de Lombroso, abandonou a noção de criminalidade centrada em causas de ordem biológica, passando a considerar como centrais as causas ligadas à etiologia do crime, sendo estas: as individuais, as físicas e as sociais.

(E) Enrico Ferri e Cesare Lombroso, recorrendo à metáfora da guerra contra o delito, sustentaram a possibilidade de aplicação das penas de deportação ou expulsão da comunidade para aqueles que carecessem do sentido de justiça ou o tivessem aviltado.

(22)

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(UEG – PC/GO – 2018 – DELEGADO DE POLÍCIA): Tendo a obra O Homem Deliquente, de Cesare Lombroso (1836-1909), como fundante da Criminologia surgida a partir da segunda metade do século XIX, verifica-se que, segundo a sistematização realizada por Enrico Ferri (1856-1929), o pensamento criminológico positivista assenta-se, dentre outras, na tese de que

(A) o livre arbítrio é um conceito chave para o direito penal.

(B) os chamados delinquentes poderiam ser classificados como loucos, natos, morais, passionais e de ocasião.

(C) a defesa social é tomada como o principal objetivo da justiça criminal.

(D) a responsabilidade social, tida como clássica, deveria ser substituída pela categoria da responsabilidade moral para a imputação do delito.

(E) a natureza objetiva do crime, mais do que a motivação, deve ser base para medida da pena.

11. A Terza Scuola Italiana ou Escola Eclética ou Escola Crítica ou Positivismo Crítico Considerada uma teoria eclética ou intermediária, surgida a partir da conciliação de preceitos clássicos e positivistas, reconhece o crime como um fenômeno individual e social, e fundamenta a pena com base no determinismo e na responsabilidade moral do criminoso, distinguindo os imputáveis dos inimputáveis.

Além de Bernadino Alimena e Juan B. Impallomeni, teve como seu principal defensor o italiano Emmanuele Carnevale, por meio de sua obra “Una terza Scuola di Diritto Penal in Italia” (1892) que atribuía à pena um caráter aflitivo com a finalidade de defesa social, e para o controle da criminalidade, defendia a necessidade de uma reforma social. Salienta-se que esta escola negava a absorção do Direito Penal pela Sociologia Criminal.

Apropriou-se das premissas da etiologia do crime propugnado pela Escola Positiva, conservando a importância da antropologia e da sociologia criminal; da Escola Clássica rechaçou o livre arbítrio, mas manteve a distinção entre os criminosos imputáveis e inimputáveis.

O pensamento de Alimena é visualizável no que tange à reponsabilidade penal, principalmente no que diz respeito à ideia de normalidade psíquica do indivíduo. Defendia que apenas os sujeitos “dirigíveis” seriam objeto de sanção penal.

Com relação a Impallomeni, evitou a dificuldade teórica e prática do livre-arbítrio, baseando a imputabilidade sobre o novo critério da voluntariedade.

Destaca-se que essa Escola pode ser definida como versátil, pois utilizava-se do

método realista e abstrato, por um lado, e o método empírico por outro, o que para seus

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No entanto, pode-se afirmar que sua importância se deve à dualidade as consequências jurídicas, isto é, a possibilidade de utilização das penas e medidas de segurança, superando o monismo das Escolas Clássicas e Positivista.

Em razão das lutas das Escolas, o direito positivo foi deixado de lado, no entanto, consequentemente, houve a deflagração do desenvolvimento do Direito Penal que foi elevado

à categoria de pesquisa pelo Positivismo Jurídico.

Esse movimento de “império da lei” recebeu denominações distintas. Na Itália ficou conhecido como direção técnico jurídica e na Alemanha como direção dogmática.

11.1. Direção Técnico-Jurídica – Arturo Rocco

Combatendo as concepções metafísicas e doutrinárias dos clássicos, Rocco propôs uma mudança de orientação do método da ciência penal italiana. Com o seu discurso “Il problema e il método dela scienza del diritto penale” (1910) nasce a direção técnico jurídica.

Sintetiza-se seus pensamentos no sentido de que o objeto de conhecimento da ciência

do Direito Penal é o direito positivo, bem como que os procedimentos para desenvolver a

elaboração cientifica deste direito positivo são os da dogmática jurídica e por fim, para que a dogmática jurídica se adapte à natureza do Direito Penal é forçoso que haja três etapas:

a) Interpretação: o julgador deve investigar o sentido do direito positivo, servindo-se da interpretação teleológica.

b) Sistemática: consequência da coordenação dos princípios extraídos da interpretação.

c) Crítica: permitirá o jurista determinar como o direito deve ser.

Ressalte-se ainda que a elaboração dogmática deveria ser guiada por um espírito

realista, ou seja, não convertendo o jurista em um escravo da lei. Deveria permitir uma análise

extra sistêmica, com uma investigação além do objeto de conhecimento, qualificando o direito como uma superestrutura de fenômenos humanos e sociais evitando-se assim, o tecnicismo jurídico.

11.2. Direção Dogmática Alemã – Binding

Conforme citado anteriormente, por conta das Escolas Clássicas e Positiva, durante parte do século XX, a ciência penal italiana ficou à parte do Direito Positivo. No entanto, a ciência penal alemã dirigiu suas investigações à análise do Direito Positivo, em especial nos postulados de Binding.

(24)

Diferentemente de Rocco, a dogmática alemã propõe como finalidade do estudo o

direito em si, com exclusão de qualquer consideração de cunho meta jurídico ou valorativo,

buscando aprender os problemas do direito com argumentos sistemáticos-conceituais, deixando de lado as valorações filosóficas, conhecimentos psicológicos e dados sociológicos.

Assim, a ausência desses outros elementos, convertia a construção jurídico-penal em um formalismo intranormológico, isto é, o isolamento do Direito Penal em sua própria lógica interna.

As contribuições mais significativas de Binding dizem respeito à teoria das normas, na qual esta é compreendida como uma entidade puramente jurídica, bem como ao ius puniendi, que é compreendido formalisticamente, pois constitui um dos polos subjetivos da relação criada pela norma e a pena, que tem apenas finalidade retributiva, porquanto o único fim que se depreende da lei é a sua execução.

Essas características de uma ciência “sem” conteúdo material, é entendida por parte dos autores como sendo a responsável pela pavimentação do caminho irracional cometido pela Alemanha na primeira metade do século XX.

O método de Binding se enlaça com a teoria objetiva da interpretação, pois o modo de interpretação era objetivo, porque não interessava a carga de sentido (subjetiva) que o autor da lei (legislador) quis dar a ela, tendo em vista que a lei era como se fosse um organismo vivo, com sentido próprio, e não deveria se interpretá-la a partir da suposta vontade do legislador.

12. Escola Sociológica Alemã ou Escola de Marburgo ou Escola Moderna ou Escola de Política Criminal

A perspectiva Sociológica da Criminologia foi atribuída, essencialmente, a Franz Von

Liszt, em sua aula inaugural intitulada “A ideia de fim no Direito Penal” em Marburgo no ano de

1882, sendo posteriormente chamada de Programa de Marburgo.

Propôs uma ciência global do Direito Penal, que conglomeraria, para além da dogmática, a antropologia, a psicologia e a estatística criminal. A partir de seus estudos, a Alemanha despertou o interesse pela Criminologia.

Contrário ao determinismo positivista, buscava o enfrentamento da criminalidade por meio da investigação sociológica do delito, negando a existência de um tipo antropológico de criminoso, defendendo a preponderância de fatores sociais. Dessa forma, se afasta de Cesare

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Lombroso, deixando clara sua proximidade sociológica de Enrico Ferri – ao patamar de causa

determinante da criminalidade.

Para essa Escola, todo crime resulta do concurso de dois grupos de condições – de um lado a natureza individual do delinquente, e de outro, as relações exteriores sociais, e especialmente as relações econômicas que o cercam. Classificou os delitos como:

a) Delito de ocasião ou momentâneo: há prevalência do impulso exterior, no qual o criminoso arrebatado por uma excitação repentina e apaixonada ou sob a influência de uma opressiva necessidade, comete o crime alheio à sua índole, representando um momento isolado em sua vida.

b) Delito crônico ou por estado da natureza: o delito é oriundo da personalidade ou predisposição do criminoso, sendo o impulso exterior insignificante. Há uma rudeza brutal ou estúpido fanatismo que levam o agente, por numerosas fases de transição a situações de cometimento do delito.

Em suma, para essa Escola, se não há um tipo antropológico do delinquente e se há uma preponderância de fatores sociais, torna-se fácil planejar as estratégias para a intervenção e combate à criminalidade, ascendendo a política criminal como plataforma de atuação.

Substitui-se a pena retributiva da Escola Clássica, pela ideia de pena finalista, considerando-se como pena justa, aquela necessária para a manutenção da ordem jurídica e do Estado de proteção coletiva. Vale-se da prevenção especial, transformando o criminoso em membro útil à sociedade - adaptação artificial – obstando a reincidência, ou retirada do criminoso do convívio social – inocuização, onde se evidencia a intenção da proteção da sociedade frente aos criminosos incorrigíveis.

Assim, a finalidade preventiva da pena será cumprida de acordo com os três tipos de delinquentes:

a) Delinquente ocasional – a pena deve servir de recordação para que o indivíduo não pratique crimes futuros.

b) Delinquente corrigível – a pena deve buscar a ressocialização do criminoso. c) Delinquente habitual – a pena servirá para a inocuização do delinquente,

objetivando que, por meio do isolamento, deixe de cometer crimes.

Por fim, a Escola Alemã possui como objetivo conformar sistema completo e comunicante entre as causas do delito, estratégias político-criminais e as finalidades de imposição da pena. Crime, estratégias preventivas e pena necessária são ideias fundamentais e incindíveis para a correta conformação da ciência global do Direito Penal.

(26)

13. Escola Correcionalista

A gênese se deu na Alemanha, com a publicação em 1839 da obra “Comentatio na poena malum esse debeat” de Cárlos Davis Augusto Roder, influenciado por Karl Friedrich

Krause.

Essa Escola, em consonância com as teorias relativas da pena, defende a pena

correcional, dotada de caráter pedagógico, fundamentada com a finalidade de prevenção

especial, ou seja, correção/recuperação do criminoso e adaptação à sociedade, evitando a reincidência na prática de crimes.

Os três principais pensamentos aos quais a Escola Correcionalista se alicerça são: a) O delinquente como portador de patologia de desvio social: entende-se que o

delinquente é um ser débil, inferior, portador de uma patologia de desvio social. Assim, esses indivíduos necessitariam de medidas assistenciais para sanar tal debilidade.

b) A pena como remédio social: a pena é vista como um meio para sanar a patologia do desvio social, devendo ser constantemente adaptada ao estágio do indivíduo conforme a execução da medida e ter duração indeterminada.

c) O juiz como médico social: responsável pela aplicação do remédio social ao portador da patologia do desvio social. Poderia o magistrado utilizar o auxílio de profissionais de outras áreas. Trata-se de manifestação do direito penal do autor, na qual as medidas curativas deveriam recair sobre pessoas que praticassem condutas consideradas exteriorizações de patologia social, ainda que tais condutas não fossem tipificadas como crime.

Pode-se apontar como contribuições da Escola Correcionalista para o Direito Penal Brasileiro: caráter mais humanístico conferido à execução da pena; finalidade de ressocialização do preso; existência da liberdade condicional e progressão do regime; responsabilização dos adolescentes por atos infracionais.

14. Escola da (Nova) Defesa Social

A Defesa Social tem origem no positivismo criminológico italiano. Sua primeira formulação enquanto doutrina se deve ao autor Adolf Prins, em sua obra “A defesa social e as

(27)

transformações do Direito Penal”. Surgiu com a finalidade de modernização e humanização do Direito, sobretudo com relação às medidas punitivas.

Há que se falar também da “nova defesa social”, em que pode-se inferir que existiu uma orientação defensiva originária. No entanto, a “nova defesa social” foi um movimento mais moderno e estruturado. Para alguns autores, a “defesa social” era uma autêntica Escola Penal, já para outros, a consideram como um movimento de política criminal.

Em síntese, o percurso da defesa social tem fase inaugural com Adolph Pirns, que perdurou até o fim da 1ª guerra mundial. A segunda fase da defesa social ocorreu no período entre guerras, correspondendo à positivação de algumas ideias defensistas. Porém, é possível afirmar que sua consolidação, como movimento de programação científica, ocorre com o fim

do segundo conflito mundial, sem apresentar uma tendência uniforme, e sim duas: a tendência radical aspira a substituição do Direito Penal (Filippo Gramatica), e a tendência moderada

pretendeu configurá-lo como marco de uma política criminal de base humanista (Marc Ancel), que serão tratadas em linhas gerais mais à frente.

Essa Escola defendeu a adoção de um sistema preventivo de intervenções

(re)educativas, de forma individualizada e humanitária, com o objetivo do delinquente assumir

sua responsabilidade na sociedade, viabilizando seu convívio social. A segurança coletiva deveria ser alcançada com o mínimo de sacrifícios individuais.

Esse movimento pautou-se na ideia de prevenção do delito, na ressocialização do

delinquente e na garantia dos direitos individuais do criminoso. Os principais defensores dessa

Escola foram:

a) Adolf Pirns: teve como objetivo a proteção do corpo social, combatendo as penas reduzidas, sob o argumento de que além de estigmatizantes, seriam desnecessárias.

b) Filippo Gramatica: desenvolveu a Defesa Social Radical, como sendo uma doutrina da Nova Defesa Social, sustentando a abolição do direito penal e sua substituição por um direito de defesa da sociedade. Causou uma profunda revolução nos tradicionais conceitos de responsabilidade, pena e delito. Em substituição às penas e medidas de segurança, propôs a denominadas medidas de

defesa social, que poderiam ser aplicadas antes ou após a prática do delito, com a

finalidade de adaptação do indivíduo às normas sociais. O seu Sistema de Defesa Social estaria amparado apenas na personalidade antissocial do indivíduo, o que exigiria do Estado uma intervenção de natureza preventiva, terapêutica e

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pedagógica. “Não mais uma pena para cada delito, mas uma medida para cada pessoa”. Por esse pensamento, não sobraria qualquer espaço para eventual responsabilidade penal da pessoa jurídica. Assim, a pena, antes fundamentada no delito, agora estaria ancorada no indivíduo e tinha uma notável finalidade de socialização.

c) Marc Ancel: sustentou que a defesa da sociedade deveria ser promovida a partir da coordenação do Direito Penal, da Criminologia e da Ciência Penitenciária, sobre bases científicas e humanitárias. Tal como defendido pela escola clássica,

reconheceu o livre-arbítrio como base da responsabilidade social. Suas ideias

tentaram pavimentar um Direito Penal objetivado à ideia de máxima individualização da resposta punitiva com vistas a potencializar a ressocialização do indivíduo, rechaçando um Direito Penal meramente retributivo.

A crítica feita a essa Escola da Nova Defesa Social, é que esta fica reduzida a uma teoria da prevenção especial, característica que a torna impotente para impor limites ao Estado. Nesse sentido que o tratamento ressocializador proposto pelo movimento abre as portas para que o Estado leve a efeito todas as medidas possíveis para alcançar seu fim justificador, a ressocialização, contrastando com o princípio da autonomia humana e da liberdade individual, apregoado pela própria Defesa Social.

15. Movimento Psicossociológico

Teve como expoente o francês Gabriel Tarde, e sustentava a preponderância dos

fatores sociais sobre os fatores físicos e biológicos da criminalidade. A principal obra foi “As leis

da imitação”, na qual formulou a lei da imitação ou integração social, pela qual, o crime, como todo comportamento social, seria inventado, repetido, conflitado e adaptado.

Assim, o delinquente, a partir de um processo de aprendizagem, imitaria, de forma consciente ou inconsciente, o comportamento criminoso. Esse movimento influenciou a teoria

da associação diferencial, do sociólogo americano Edwin Sutherland, que será estudada com

detalhes nas próximas semanas.

(29)

Foi liderado cientificamente pelo alemão Ralf Dahrendorf, baseando-se na ideia de um

Direito Penal Máximo, segundo a qual deve haver a expansão das normas incriminadoras e

exasperação do rigor das sanções penais, como forma de combate eficaz ao fenômeno criminal. A pena deveria ser vista como um castigo e os crimes graves mereciam penas severas. Defendia ainda que os pequenos delitos, quando tolerados, poderiam ensejar a prática de

delitos mais graves. Promoveu a retificação do criminoso ao trata-lo como inimigo do Estado,

representando uma manifestação do Direito Penal do Inimigo.

No direito brasileiro, temos como expressão desse movimento de lei e ordem, a edição da Lei de Crimes Hediondos, que recrudesceu o regime de cumprimento de pena para os crimes etiquetados como hediondos.

17. Desenvolvimento do “Direito de Punir” na Sociedade

Os estudiosos apontam três marcos diferenciais para o processo de evolução da pena: período da vingança, o período humanista e o período científico.

• Período da vingança: compreende o absolutismo europeu, nos séculos XV e XVI, manifestando-se:

a) Vingança Privada: regida pela lei do Talião, onde a vítima era a detentora do poder punitivo;

b) Vingança Divina: o exercício do poder punitivo era atribuído à igreja, conhecida como fase mitológica da criminologia.

c) Vingança Pública: o rei assume o poder punitivo como representante do Estado. Ficou conhecida como a fase do ciclo do terror.

• Período humanista: inicia-se com o advento do Estado Liberal e o movimento iluminista de John Locke, onde a pena ostentava caráter retribucionista.

• Período científico: inaugura com o naturalismo, com o surgimento do positivismo criminológico, atribuindo à pena a finalidade de defesa social.

Na passagem do século XVIII para o XIX, com a Revolução Industrial, a pena deixou de

ter caráter de sofrimento físico sobre os corpos dos delinquentes, e passou a recair sobre a liberdade do indivíduo, ou seja, houve o advento de novos paradigmas criminológicos,

ensejando um discurso mais jurídico dos princípios e a imposição da humanização da pena,

(30)

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

(DEFENSOR PÚBLICO – FCC – 2013) – Para Michel Foucault, em Vigiar e punir, as razões de ser essenciais da reforma penal no século XVIII, também denominada Reforma Humanista do Direito penal, são constituir uma nova economia e uma nova tecnologia do poder de

a) recuperar. b) socializar. c) humanizar.

d) punir.

e) descriminalizar.

A partir desse momento, visou-se conferir à pena um caráter não apenas

retribucionista, mas também de controle do comportamento desviante. Passou-se a estudar o

delito e suas causas, além da pessoa do delinquente, o meio em que vive, motivos do crime, etc. Iniciou-se uma fase caracterizada por um quadro jurídico explícito, codificado e formalmente igualitário, com generalização de dispositivos disciplinares. Deu-se a formação de uma sociedade disciplinar, ou também chamada por Michel Foucault de “modalidade panóptica de poder”.

Embora a teoria panóptica tenha se tornado popular graças a Michel Foucault, o conceito panóptico foi concebido por Jeremy Bentham2 como um mecanismo aplicável ao

controle do comportamento dos prisioneiros nas prisões.

O panoptismo de Michel Foucault baseia-se em poder impor comportamentos em toda a população com base na ideia de que estamos sendo observados. Esse modelo faz o indivíduo auto gerenciar seu comportamento.

De acordo com Foucault, todas as instituições atuais têm esse tipo de organização de uma forma ou de outra. Embora não seja necessário realizar-se fisicamente, e mesmo sem monitoramento real a qualquer momento, o fato de conhecer ou acreditar em nós, monitorado e avaliado, irá modificar nosso comportamento em diferentes ambientes.

COMO JÁ FOI COBRADO EM CONCURSOS

2 O panóptico de Bentham consiste na organização das unidades prisionais que propiciam um sistema de

vigilância de efeitos permanentes, mesmo que descontínua sua ação, induzindo o detento a um estado consciente de visibilidade, com o fim de assegurar o funcionamento do poder que é sempre visível (no caso, a observação constante pelo detento da torre onde é vigiado, onde frise-se que, o detento não deve ter a certeza que está sendo vigiado, mas a possibilidade de ser já o intimida).

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