INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DO TRABALHO INTELECTUAL
José Carlos Bruni José Aluysio Reis de Andrade
INTRODUÇÃO
O trabalho intelectual, como todo trabalho, supõe o domínio de determinadas técnicas que são correntes, entre os que se dedicam a essa atividade. Elas devem ser usadas tanto por aqueles que já alcançaram os mais elevados graus da carreira científica, como pelos que se iniciam nos estudos universitários. Este folheto pretende ser uma introdução a tais técnicas e consta de recomendações a respeito da leitura de textos científicos, a respeito da melhor forma de se encaminhar uma redação e relaciona um certo número de convenções comu mente usadas.
Cumpre lembrar que os instrumentos aqui re sumidos não devem ser tomados como regras rígidas, a serem usadas mecanicamente. A familiarização progressiva com essas práticas acaba por propiciar a desenvoltura necessária ao seu uso equilibrado. Mas enquanto tal não ocorrer, deve ser lembrado que a honestidade, a humildade e a dedi cação são requisitos de ordem moral, igualmente indispensáveis a todo trabalho dessa natu reza. 1ª. Parte: COMO LER José Carlos Bruni COMO LER SUGESTÕES PARA UMA PRÁTICA PRODUTIVA DA LEITURA Aprendese a mecânica de ler aos sete anos de idade. No entanto, a leitura, concebida como instrumento de compreensão de uma idéia, é processo bem mais complexo. Seu aprendiza do não pode ser fixado numa idade determinada e o aprimoramento da técnica de leitura é tarefa de toda uma vida.
Vamos tratar aqui de alguns aspectos mais importantes dessa técnica e de modo extrema mente esquemático. O esquema aqui proposto aplicase, sobretudo aos textos de Ciências Humanas. A leitura é exercida sobre um texto, nome genérico para toda e qualquer porção de lingua gem escrita. As dimensões do texto são variáveis. Textos podem ser: uma obra inteira, com vários volumes; um livro inteiro; uma parte de um livro, com vários capítulos; um capítulo de um livro; um item de um capítulo; às vezes, uma página apenas, mas de conteúdo bas tante rico. O texto científico, caracterizado por um certo rigor de pensamento e expressão, uma certa ordem na concatenação das idéias e pela demonstração das afirmações, comporta uma leitu
ra interna e uma análise externa. A leitura interna atémse ao que o texto diz explicitamen te. A análise externa utiliza dados que não aparecem no texto, mas que o explicam.
1. LEITURA INTERNA 1.1 A idéia básica
Ler é, fundamentalmente, o ato de apropriação da idéia central do texto, isto é, da idéia principal, básica, que contém a essência do texto.
Este deve ser o princípio que deve nortear toda leitura. Todos os outros princípios estão subordinados a este e devem contribuir para a sua realização.
A idéia básica não está localizada em um ponto perfeitamente identificável do texto. A i déia básica anima o texto inteiro, podendo transparecer mais claramente em certas frases do que em outras. Há certos trechos mais “quentes” em que certas frases são muito importan tes. Mas a leitura desses trechos não é suficiente para produzir a idéia básica do texto. Tendo em vista essas considerações, podemos tentar fixar a primeir a regra da técnica da leitura:
LER INICIALMENTE O TEXTO INTEIRO, PARA OBTER UMA VISÃO DE CONJ UNTO DO TODO.
Nesta leitura, devese procurar prestar atenção apenas para o importante, deixandose de lado os pormenores, o que não é essencial, como exemplos, repetições, dados ilustrativos, etc. Terminada esta primeira leitura, necessariamente a mais superficial, é interessante tentar fazer, mentalmente ou por escrito, um apanhado geral das idéias que se revelaram mais salientes, que mais chamaram a atenção, das idéias que formam um conjunto global, sem consultar o texto novamente. Essa idéia geral será o guia para os passos restantes do traba lho. 1.2 As idéias secundárias Como vimos, a idéia básica percorre o texto inteiro, isto é, ela não se apresenta de chofre, mas é o desenrolar ordenado do discurso, são as partes sucessivas do discurso que formam a idéia básica. A idéia vai estruturar o texto, vai comandar a articulação das várias partes do texto. Em geral, todo texto encontrase dividido em várias partes, cada uma contendo uma idéia, não a central, mas as idéias secundárias, acessórias, que ser vem de apoio para a idéia cen tral. As partes que se sucedem no texto estão relacionadas entre si de um modo determinado e é este modo de relacionamento das diversas partes entre si que chamamos de estrutura de um texto. Com isto podemos formular a segunda regra da leitura:
NA SEGUNDA LEITURA, PROCURAR IDENTIFICAR AS PARTES DO TEXTO QUE CONTÊM AS IDÉIAS SECUNDÁRIAS, BEM COMO O MODO COMO ES TÃO RELACIO NADAS.
Esta leitura, já mais aprofundada do que a anterior, deve prestar mais atenção aos pormeno res, aos elementos subordinados à idéia central, como os exemplos, os dados ilustrativos, etc... Devese verificar quais são os vários temas tratados, como de um se passa ao outro. 1.3 Os conceitos As partes de um texto, por sua vez, são com postas de vários elementos, que podemos cha mar, de maneira geral, de conceitos, entendendose com isso as idéias mais elementares de um texto. São como que os tijolos de uma casa, assim como as partes corresponderiam aos vários cômodos dela. A análise do texto deve chegar aos conceitos que o constituem. Daí a terceira regra de leitura:
UMA TERCEIRA LEITURA DO TEXTO DEVE APRENDER OS VÁRIOS ELE MENTOS COMPONENTES DAS DIFERENTES PARTES, OS CONCEITOS.
Tratase, evidentemente, da leitura mais cuida dosa, mais minuciosa. Não é imprescindível terse em mente — a cada momento — a idéia básica, mas sim devese tentar compreender as minúcias das idéias, ou antes, os elementos mínimos de que estão formadas. Procurase, então, determinar o sentido de cada palavra, servindose das indicações dadas no próprio texto.
1.4 Os níveis de texto
A leitura interna de um texto deve portanto captar sua idéia básica e seus conceitos. Trata se de um movimento que parte do mais geral, do mais global, para terminar no mais parti cular, no mais elementar. Podemos chamar a idéia básica, a estrutura e os conceitos de ní veis de texto. A leitura correta é aquela que consegue apreender os vários níveis do texto sem confundir um com o outro. Há outros níveis — menos importantes — mas que convém conhecer para não se imaginar que todo texto tenha apenas aqueles mencionados. Quando num texto predomina a intenção polêmica, por exemplo, devemos tomar cuidado com os recursos de estilo, como a ironia, para não confundir o que o autor afirma com aquilo que ele próprio critica. Em suma, devese ler um texto científico três vezes. A primeira leitura deve apreender a idéia básica, a segunda deve procurar as par tes e sua concatenação, a terceira deve fixar os conceitos. Observação: A prática constante de leitura de textos científicos vai aos poucos dispensando o lei tor das leituras obrigatórias; com o treino e o tempo, já numa primeira leitura podese distinguir com bastante segurança os vários níveis do texto. Para o principiante, porém, estudar um texto significa lêlo no mínimo três vezes.
2. ANÁLISE EXTERNA
Todo o texto está inserido num contexto. Ao contrário do texto, o contexto é invisível, isto é, não está diretamente presente ao leitor. O contexto deve ser procurado, pesquisado, re construído.
Contexto é o conjunto dos elementos que cercam, de algum modo, o texto. O contexto lógi co é composto pelos elementos de ordem intelectual que envolvem o texto. Tudo aquilo que antecede logicamente o texto e de que o texto depende pode ser chamado de os pressupos
tos do texto. Todas as conseqüências que o texto acarreta, tudo aquilo a que o texto leva pode ser chamado de as implicações do texto. PRESSUPOSTOS — TEXTO — IMPLICAÇÕES CONTEXTO O contexto histórico indica o conjunto de acontecimentos fatos de ordem política, econô mica e social — que determinam o contexto do texto. Todo o texto tem uma data — a data da sua produção — que o marca como produto de uma história e de uma época. O contexto histórico ilumina esta temporalidade do texto. O trabalho do texto exaustivo ou total deve dar conta da estrutura interna do texto (= com preensão das idéias manifestadas no texto), bem como da situação histórica (=compreensão dos fatores determinantes do texto, que se situam fora dele). Só depois de compreendido, um texto pode ser discutido, criticado, aceito ou rejeitado. 2ª. Parte: COMO ESCREVER José Aluysio Reis de Andrade SUGESTOES PARA COMO ESCREVER Advertência Preliminar: A redação de textos científicos apresenta um certo número de exigências que são anteriores a qual quer tipo de estudo sério e que são aqui enumera das apenas a título de lembrete. Em primeiro lugar, supõe o pleno domínio da língua vernácula, isto é, exige conhecimentos gramaticais básicos, sobretudo de regência, de concordância, de ortografia, de pontuação e o uso adequado das orações, dos períodos e dos parágrafos. Em segundo lugar, requer um razoável domínio do vocabulário, pelo menos, daquele usado pelos meios de comunicação, o que permite às pessoas se expressarem com alguma fluência. Por fim, requer o conhecimento do assunto sobre o qual se vai discor r er. A REDAÇÃO Considerase aqui redação todo texto de sentido completo, encarado quanto à sua produção, ou seja, como trabalho a ser executado. Toda redação compõese basicamente de três par tes: de uma introdução, de um desenvolvimento e de uma conclusão. 1. A Introdução A introdução tem as seguintes funções: 1.1 A primeira é a de apresentar o tema sobre o qual se vai escrever. Uma vez proposto, ou escolhido, o tema, ou o assunto, deve ser feito um cuidadoso exame de sua formulação e dos seus ter mos, para se chegar a sua compreensão bem clara, através do levantamento de
todas as idéias implicadas. Aqui deve ser aplicado o que foi recomendado no COMO LER. Tal exame leva a um certo número de interrogações, que são os problemas que devem ser respondidos pela redação e que constituem a própria razão de ser da situação criada. A se guir, e ainda antes de se dar início à redação, devese procurar reunir todos os dados e in formações de que se dispõe sobre o assunto, procurandose mobilizálos para as questões levantadas. Há casos em que essa operação é feita mentalmente (por exemplo, uma prova sem consulta). Há outros, em que se tem que recorrer a anotações e à bibliografia (por e xemplo, uma prova com consulta ou um trabalho a ser feito fora da escola). Essa primeira etapa é de muita importância pois já se chegou a dizer que a boa compreensão de um tema representa mais de cinqüenta por cento do seu desenvolvimento. Só com o auxilio dessa ope ração é que é possível enfrentarse diretamente o tema, evitandose exposições paralelas lon gas e, com ele confusamente relacionadas, mesmo quando “se sabe tudo sobre o assunto”. 1.2 A segunda função da introdução é a de indicar de forma esquemática como o assunto vai ser desenvolvido, ou seja, dar uma idéia da ordem em que a exposição foi organizada. Com efeito, toda exposição é composta de partes que, conforme a sua extensão, exigem uma indicação gráfica, com títulos ou subtítulos ou um sistema de numeração. Nas reda ções mais curtas os próprios parágrafos servem para esse fim. Esse esquema serve ao leitor e, explicito ou não, é indispensável como orientação para quem escreve.
1.3 A terceira função da introdução é a de indicar de forma sumária o método e o material que foi utilizado. Essa indicação depende muito da disciplina (ou ciência) e do tipo de tra balho. No nível em que se situam as presentes recomendações, é suficiente dizerse, por exemplo, que foi feita uma análise interna de um texto, ou o levantamento de dados foi fei to através de questionários, de entrevistas ou que, simplesmente, foram utilizadas as aulas e determinado(s) livro(s) indicado(s) pelo professor. Em trabalhos originais resultantes de uma pesquisa científica, as exigências são muito mais complexas, por exemplo, os números 2° e 3° estão intimamente relacionados. Enfim, a boa introdução questiona o tema, transformao numa interrogação e num desafio. O que vem depois é a resposta. Em resumo: a introdução deve enunciar de forma clara o tema que é proposto; deve indicar como o mesmo vai ser desenvolvido e deve mencionar de forma sucinta o método e o mate rial utilizado. 2. O Desenvolvimento O desenvolvimento é o corpo do trabalho, é a dissertação propriamente dita. É onde se pro cura responder às questões levantadas na introdução, segundo o plano aí traçado, o que de ve resultar em uma seqüência concatenada de idéias. Na primeira parte deste folheto, pro curouse indicar a melhor forma de se ler um texto. Aqui se deve pensar na melhor forma de produzir um texto. Há evidente mente um paralelismo entre as duas coisas. Em ambos os casos tratase de textos científicos. O tipo de exigência é a mesma. Quem escreve um texto tem que se preocupar com o desenvolvimento de uma idéia básica, através de idéias secun dárias e através de conceitos. Só que quem escreve, além de atender às exigências lógicas de estruturação, tem a obrigação de supor que escreve para um leitor, isto é, que o texto deve ser entendido por outras pessoas. Em qualquer caso, devese esquecer que o tema foi pro posto por um professor, por exemplo. Devese antes pensar em um texto a ser lido por
qualquer pessoa interessada. E para se fazer entender é necessário que a escrita seja sim ples, clara e direta. Outra exigência a ser atendida na redação é a linguagem científica. Cada ciência tem o seu vocabulário próprio, que vai sendo assimilado aos poucos, até se atingir o ideal de precisão e rigor De qualquer forma, a escrita científica tem as suas próprias exigências que não de vem ser confundidas nem com a obscuridade, nem com o pedantismo. Do ponto de vista prático, recomendase fazer um rascunho da redação, seguindo o esque ma traça do. Procederse a uma rigorosa revisão para se verificar se o que se pretendeu e planejou foi efetivado. A seguir procederse às correções necessárias e só então passar à forma definitiva.
Em resumo: o desenvolvimento é o corpo da redação. procure desenvolver uma idéia cen tral de acordo com um plano previamente traçado e de maneira direta, clara e coerente. 3. A Conclusão
A função da conclusão é relacionar, de for ma resumida e precisa, o problema colocado na 1 O problema do vocabulário técnico vai ser discutido a seguir em: A TERMINOLOGIA CIENTÍFICA E O USO DOS DICIONÁRIOS.
introdução com o que foi exposto no desenvolvimento. Devese procurar relacionar os re sultados a que se chegou na exposição, com a questão básica proposta na introdução, de forma que o leitor fique com uma idéia global do que acabou de ler.
Em resumo: a conclusão deve procurar articular a introdução e o desenvolvimento, para que o leitor guarde um esquema mais ou menos nítido do que acabou de ler.
Observação: Depois da conclusão, deve ser relacionada detalhadamente a bibliografia usa da, segundo as normas descritas logo a seguir.
A redação — Em resumo: r edigir , no sentido aqui usado, é apresentar claramente uma idéia, transfor mála em problema, desenvolvêla em seus vários aspectos e con cluir apr esentando soluções para as questões levantadas. BIBLIOGRAFIA E COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA Bibliografia, de uma maneira geral, é o conjunto de obras a respeito de um autor ou a res peito de um assunto. Uma bibliografia compreende um certo número de obras fundamentais — como é o caso dos escritos de um autor estudado e um certo número de obras ou artigos, em revistas técnicas, que procuram esclarecer aspectos dessas obras básicas ou que comple tam aspectos dos assuntos trata dos. É impossível pretenderse um conhecimento em nível científico de um determinado assunto, sem um bom domínio de bibliografia básica e um razoável domínio da bibliografia complementar. Os chama dos manuais são obras gerais com fins didáticos. Servem de introdução e são muito úteis para se alcançar uma visão geral do assunto científico em es tudo, mas em hipótese alguma podem substituir as obras bási cas. Esquematicamente, a bibliografia pode ser separada em:
q BIBLIOGRAFIA BÁSICA — incluindo textos originais ou obras fundamentais pa
q BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR estudos especiais q BIBLIOGRAFIA AUXILIAR compreende os manuais e obras equivalentes q OBRAS DE REFERÊNCIA compreende os vocabulários e os dicionários especia lizados, etc. Os livros por si só, não possuem a agilidade necessária ao acompanhamento da extensão, da rapidez e da complexidade da pesquisa, em nossos dias. Por outro lado, é impossível fazer se ciência cru completo isolamento. Por isso, são instrumentos cada vez mais importantes de comunicação científica os artigos publicados nos periódicos e revistas especializadas, o mesmo acontecendo com os congressos científicos, ou hoje mais comumente, reproduzidos ou indicados pela Internet. Finalmente, deve ser acrescentado que uma das funções dos manuais, antes mencionados, é a indicação de boa bibliografia sobre os assuntos tratados, sem falar nas publicações orientadas especialmente para a atualização bibliográfica e nos centros de documentação e informação científica, quase sempre constando da Internet. Em resumo: bibliografia é o conjunto de obras a respeito de um autor ou de um as sunto e a comunicação científica se faz por meio de revistas, de congressos e de centros de documentação e informação científica e pelos modernos recur sos da infor mática.
SUGESTOES PARA OS APONTAMENTOS
A técnica do apontamento ou da anotação ou do fichamento é um dos instrumentos auxilia res in dispensáveis ao trabalho científico. Tratase aqui principalmente do problema do a pontamento de leituras e não de aulas, embora haja muita coisa em comum entre ambos. Na verdade, ninguém pode confiar à memória todos os elementos das leituras feitas e nem mesmo é conveniente que o faça. O esforço de memorização é algo que não tem mais lugar na vida intelectual de nossos dias. O que realmente importa é disporse, a qualquer momen to, de resumos de leituras feitas, mas escritos e organizados de tal forma que não seja ne cessário refazêlos. O processo de anotação é basicamente uma técnica de reprodução, que economiza tempo e trabalho e só tem sentido se alcançar realmente tais objetivos. O bom apontamento permite, por exemplo, que feita a leitura de determinada obra no inicio do curso, não seja necessário repetila por ocasião de uma prova a ser realizada no fim do se mestre. Mas o “econômico” não é o único aspecto importante dos apontamentos ou ficha mentos. Com efeito, cada dia vaise tornando mas difícil a posse de livros técnicos e mais ainda de revistas especializadas. Por outro lado, as bibliotecas, pelo grande número de con sulentes, permitem um uso muito limitado do material bibliográfico. Por isso, o uso de ano tações é um recurso insubstituível, para o professor e para o investiga dor. Isso não quer dizer que o fichamento substitua, em todos os casos, a leitura direta dos textos. Há obras de conteúdo tão rico que a cada nova leitura têm algo de novo a oferecer. Um instrumento paralelo a ser usado, juntamente com as anotações, quando possível, é o xerox, ou o uso do computador, de alguns trechos mais significativos das obras, dos artigos ou dos textos, em bora se deva obedecer as limitações impostas pela legislação vigente. E uma combinação interessante, mais viva e de muito bons resultados. O guia para anotações é o mesmo que foi descrito na parte COMO LER deste folheto. A boa anotação ou resenha, obviamente, só é possível depois de uma boa leitura, isto é, depois de se ter conseguido uma compreensão global do texto. Uma prática muito comum, e completamente inoperante de anotação, con
siste em resumir, cada parágrafo, logo na primeira leitura, sem antes se ter uma idéia de conjunto do texto. É preciso também, que se lembre que o sistema de apontamentos acaba adquirindo, a partir de certas normas gerais, uma fisionomia pessoal. Com a prática continuada, cada um acaba descobrindo certos macetes que se tornam de grande utilidade. Por fim, nunca é demais dizer que os apontamentos não se podem constituir numa reprodu ção literal do texto original, numa simples cópia, pois, sendo muito extensos, nada mais são do que uma sobrecarga inútil. Mas, por outro lado, não podem também ser, a tal ponto re sumidos, que não oferecem mais do que uma imagem muito pálida do original. Anotar cor responde a um trabalho de reprodução que é tanto mais eficaz quanto representa realmente um esforço pessoal de síntese. Em resumo: Os apontamentos devem re produzir, de forma cômoda, as idéias centrais do texto e de molde a dispensar novas e fr eqüentes consultas. A TERMINOLOGIA CIENTÍFICA E O USO DOS DICIONÁRIOS
Vocabulário científico é o conjunto de termos usados por uma ciência, para expor o seu sistema de conhecimentos ou para comunicar as suas novas descobertas. Os termos são aquelas palavras que, com um determinado significado, se tornaram de uso corrente, em determinada especialidade científica. Daí, a designação de terminologia científica. E toda ciência tem a sua. Os termos científicos podem ser recolhidos da linguagem comum, podem ser tomados de uma ciência afim ou podem ser criados. Estes são os neologismos científi cos, que são cria dos quando não há linguagem comum ou nas ou trás ciências um termo capaz de comunicar, de for ma precisa, aquilo que se quer representar ou quando o termo eventualmente utilizável se pode prestar a interpretações ambíguas. Sociedade é um exem plo de termo da linguagem comum, usado pelos cientistas sociais. Já macroeconomia é um termo inventado pelos economistas. O que permite distinguir o uso que se está fazendo de um determinado termo é o seu significado. Assim, um mesmo termo pode comportar mais de um significado. Dentro de uma mesma ciência, pode haver usos diferentes do mesmo termo, conforme as épocas ou conforme os autores. Daí se indispensável, ao se iniciar no estudo de qualquer ciência, o uso freqüente dos vocabulários técnicos. São obras de consul ta, que constituem o repositório dos termos mais usados por uma ciência, com os respecti vos significados e suas variações. Não se podem confundir essas obras com os dicionários comuns. Estes podem dar uma noção geral de uso científico de um termo, mas para uso de leigos. Pode ocorrer que o interessado não conheça nem o uso comum de um termo, o que vem dificultar a sua compreensão do significado técnico. Nesse caso, é aconselhável que se consulte primeiro o dicionário de língua portuguesa, para depois passarse à consulta do dicionário especializado. Como os demais, os dicionários especializados compõemse de verbetes (a cada termo corresponde um verbete), em geral, organizados em ordem alfabéti ca. Além disso, o verbete apresenta mais de um significado para cada termo. Esses vários significados são dispostos, dentro do verbete, na ordem de sua generalidade. Em primeiro lugar, o significado mais geral, que aparece antecedido de um —A—. É o significado — A— para efeito de citação. Depois seguemse os significados particulares —b—, —c—, — d—, etc...
Em resumo: Para o estudo de qualquer ciência é necessária a familiarização com o seu vocabulário técnico, além dos textos, o r ecurso auxiliar recomendado é o uso freqüen te dos vocabulários ou dicionários especializados. CONVENÇÕES MAIS COMUNS DOS TEXTOS CIENTÍFICOS Relacionamos a seguir um certo número de práticas e de sinais convencionais, que são usa dos nos textos científicos, com o fim de facilitar os trabalhos de citação, de referência bi bliográfica e de fontes. Há citação quando se intercalam no próprio texto, trechos de obras ou de escritos de outros autores. A primeira regra da citação é o uso de aspas, quando esta citação não ultrapassa mais de três (3) linhas dentro do texto; quando isso ocorre, o trecho deve ser recuado, digi tado em corpo menor (tamanho da fonte) e excluído o uso das aspas. Já quando o trecho citado estiver em idioma diferente do usado no texto, devese destacar a citação da seguinte forma: no texto; entre aspas, em itálico; com recuo; corpo menor, em itálico. Outra regra da citação é a indicação do nome do autor da obra citada, deve figurar somente o sobrenome, o ano e a página, (MORAES, 1980, p.l5), se, no entanto, o autor vier fora do parênteses, deve constar assim Moraes, (1980, p.l.5). O nome da obra, bem como a imprensa (Local e Editora) só apare cem completos, e com des taque para o título, em negrito ou itálico, ao final do trabalho, arrolados em ordem alfabéti ca única com o título de Referências, devendo constar desta lista, somente as obras efeti vamente citadas no texto. Para as demais obras que foram lidas, porém não citadas, podem ser divulgadas, após as Referências, em uma lista, também em ordem alfabética única, com o nome de Bibliografia consultada.
As notas de Rodapé (devem ser reduzidas ao’ mínimo possível), são reservadas ao autor do trabalho para que este informe ao leitor, algo que não possa ser inserido no texto. Quando se fizer necessário o uso de Referência no Rodapé, esta deve figurar completa na lista de Referências ao final do trabalho. O sistema de chamada deve ser numérico: (1), (2), etc. Muitas vezes, não se faz uso literal do texto, mas procurase reproduzir, com as próprias pa lavras, as idéias aí contidas. Não se trata, então de uma citação, mas de uma paráfrase, que em vista disso, não exige destaque. Mas, mesmo em tais casos, é de boa norma localizarse o que foi utilizado, com o mesmo procedimento que foi adotado para a citação literal. Existem alguns termos, expressões e abreviaturas latinas, abaixo relacionadas, que, embora sejam de uso comum, devem ser evitadas, pois, quando são muito utilizadas, dificultam a leitura. Às vezes, é preferível repetir a indicação das fontes bibliográficas tantas vezes quantas forem necessárias.
Ex.: Ibidem ou Ibid = na mesma obra Idem ou Id do mesmo autor
Loc. cit.= no lugar citado
Passim = aqui e ali; em vários trechos ou passagens
Havendo intercalação de outras notas, usase a expressão op.cit. para se referir à obra citada anteriormente na mesma página. Para fazer referência a trabalhos de outros autores ou notas do mesmo trabalho, usase a abreviatura Cf. (Cf. nota 5 deste capítulo).A abreviatura da palavra página convencionouse p. (singular ou plural).
Usase a expressão sic. (do latim, assim mesmo), quando houver necessidade, depois da citação, para lembrar que não houve nenhum engano de transcrição, e que seus termos são esses mesmos.