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Micção Inadequada: é comportamental?

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Academic year: 2021

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Micção Inadequada: é comportamental?

por Gonçalo da Graça Pereira

Professor de Comportamento, Bem-estar e Protecção Animal da FMV-ULHT

Mestre em Etologia Clínica e Bem-estar Animal pela FV - Universidade Complutense de Madrid Doutorando em Ciências Veterinárias pelo ICBAS - Universidade do Porto

(Notas da Comunicação no Encontro de Formação da OMV – 2010)

O que é um gato?

Apenas compreendendo os nossos pacientes, poderemos providenciar melhor tratamento!

Precisamos de tentar “pensar como um gato”! Voltamos então à questão:

O que é um gato? 1. Caçador

Está no topo da cadeia alimentar como predador;

Também é presa;

Está armado com unhas e dentes (que podem também ser usados para defesa em casos de ameaça).

2. Carnívoro estrito

Apresenta um tubo digestivo especializado com incapacidade para processar algumas drogas ou compostos preparados para cães

3. Autónomo

Depende de si mesmo para sobreviver;

O seu instinto primário perante perigo é normalmente a fuga e o esconderijo;

Não demonstra dor e sofrimento, preferindo ficar sossegado para evitar atrair atenção.

4. Emocional

Aprende rapidamente;

Má experiência (nomeadamente na clínica) irá moldar as respostas no futuro;

O estado emocional pode mudar muito rapidamente (como mecanismo de redução do stress e melhorar a qualidade de vida – libertação do perigo!) 5. Crepuscular

Alimenta-se originalmente de roedores, activos apenas ao entardecer;

No entanto, facilmente se adapta a outros padrões de actividade, dependendo da disponibilidade de outras fontes alimentares.

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6. Ágil

Combinação única de equilíbrio, coordenação, flexibilidade e força que lhe permite explorar o ambiente tridimensional, bem como exercer os seus comportamentos de limpeza em todo o corpo;

Pode aceder a espaços inacessíveis. 7. Adaptável

Pode sobreviver num grande leque de ambientes e de circunstâncias sociais

Não servindo este facto para ignorar o comportamento social da espécie 8. Territorial

Defende o seu espaço (incluindo os recursos)

Quando é removido do seu território para um desconhecido, há imediatamente um alerta sensorial de medo, ameaça e perigo.

O mesmo acontece quando o seu território é invadido Animais territoriais

Precisam de ter território onde comer, beber, dormir e eliminar (de modo semelhante ao que se passaria na vida selvagem)

Não sabem viver em frustração

Precisam de ter acesso constante a:

Comida/bebida

Areão

Local de descanso

Ponto de fuga 9. Extremamente atento

Sistema bastante desenvolvido:

– na na detecção e captura de presas; – na evitação de perigos;

– comunicação social.

Significa que o gato pode ficar “stressado” com sinais visuais, auditivos e odoríferos (que são totalmente inócuos para os humanos)

Feromonas faciais

F3

F4

Obviamente que com o aumento do número de gatos aumentaram também os problemas de comportamento

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Segundo a literatura:

A eliminação inadequada (urina e/ou fezes) é o problema mais frequentemente apresentado à consulta de comportamento

Estando em segundo lugar a agressividade (Heath, 2002; Palacio et al, 2007) Problemas de eliminação inadequada

Dois tipos de problemas de eliminação inapropriada poderão existir:

– Comportamentos de não-marcação (podendo ser com urina e/ou fezes – eliminação inadequada)

– Comportamentos de marcação (associados sobretudo a marcação com urina – spraying)

1. Eliminação inadequada:

A mudança do local de eliminação reflecte uma perda do controlo do local inicial de eliminação por várias razões:

Localização do tabuleiro (liteira)

Características do areão

Experiência aversiva enquanto está dentro da liteira (susto, dor)

Acesso ao tabuleiro (p.e. multi-cat households)

Os comportamentos de não-marcação poderão envolver a deposição de urina ou fezes (ou ambos) fora da bandeja de areão, geralmente em superfícies horizontais.

Os gatos poderão demonstrar tanto aversão como preferência por um local particular ou por um substrato particular para eliminar.

Como distinguir entre aversão ou preferência?

Em caso de aversão, o animal evitar usar o tabuleiro por causa do material (litter)/tipo de WC/localização, e evitará independentemente sempre. No caso de preferência às vezes usa outras não, e o mesmo acontece em

casos de marcação!

Aversão ao Areão/WC ou preferência

• Aversão ao substrato é mais comum do que a aversão ao local.

• Associação negativa com um areão particular poderá surgir se o gato relacionar o uso do areão com desconforto ou dor, se por exemplo estiver com uma colite ou uma cistite.

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• Os gatos manifestam preferência por substratos que são moles, finos e fáceis de manipular (i.e. que lhe permitam escavar e tapar).

Opções de tratamento:

Deveremos transformar a liteira em algo mais atractivo em relação aos locais onde está a eliminar erradamente.

As áreas onde tem vindo a eliminar deverão ser cuidadosamente limpas com produtos que não contenham amónia.

Colocar um local de descanso ou comida onde o animal tem vindo a eliminar erradamente poderá actuar como repelente para o gato. Por norma jamais eliminarão em áreas onde comem e dormem.

Identificar as características do areão que o gato acha aversivas, dando-lhe escolha entre diferentes tipos de areão.

Se o gato se recusa a eliminar em qualquer tipo de areão, excepto num

substrato específico como uma carpete, poder-se-á usar um pedaço de carpete no tabuleiro com quantidades cada vez maiores de areão começando dos lados exteriores para o interior, até cobrir o pedaço usado.

A prevalência dos problemas de eliminação trazem-nos outras questões relacionadas com os factores que possam estar na sua origem

2. Marcação com urina (Spraying)

Spraying é um comportamento felino normal.

É uma forma de comunicação olfactiva: dá informação sobre a disponibilidade sexual, território protegido e os movimentos do mesmo.

É mais comum em machos inteiros, mas também pode ocorrer em machos castrados e em fêmeas.

Os comportamentos de marcação envolvem características específicas:

É comummente reportado que os gatos marcam dentro de casa como mecanismo de redução da ansiedade.

A tendência é que um ou mais locais sejam repetidamente marcados -

normalmente mobílias e paredes ou janelas perto de acesso visual ao exterior (Pryor et al, 2001).

Razões para o gato começar a marcar com urina (Pryor et al, 2001):

mudança de casa,

mudanças de rotina,

redecoração,

falha na atenção do dono

encontros agonísticos com outros gatos dentro ou fora do seu território,

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Com o aumento de gatos no mesmo território, também a tendência para marcação com urina aumenta!! (Pryor et al, 2001; Beaver, 2003)

Diagnósticos Diferenciais

Problemas orgânicos que podem ser causa de micção inadequada:

Diabetes Mellitus;

Patologia Renal;

Hipertiroidismo;

Patologia Hepática;

Neoplasia;

Patologia osteo-articular;

FLUTD  Cistite Idiopática Felina (actualmente)  Check-up que inclua:

Exame físico adequado;

Hematologia e bioquímicas sanguíneas;

Urianálise (incluir urocultura);

Imagiologia do trato urinário (radiografia, ecografia, cistografia de contraste duplo)

Cistoscopia e outras técnicas (Samii et al, 2004; Westropp, 2010)

A CIF é a causa médica mais comum de alterações no comportamento de micção (Kruger et al, 1991; Buffington et al, 1997; Gerber et al, 2005) Em alguns casos poderá ser confundida com micção inadequada

Os gatos apresentam vocalização (secundária à dor);

Alterações gerais do comportamento – sinais de distress (secundárias à dor);

Mudanças repetidas do local de micção (associação do local onde urinam com a dor);

Mudança de postura na micção (de agachado para em pé, por haver uma maior distensão da uretra – postura semelhante a spraying)

Investigações recentes demonstraram o impacto dos agentes “stressantes” ambientais como factores de risco na ocorrência da CIF

Estes factores ambientais associam-se a outros factores de risco (Jones et al, 1997; Cameron et al, 2004; Kruger et al, 2001; Seawright et al, 2009):

– machos, – obesidade,

– alimentação seca;

– lesão recente – a maioria abcessos; – mudança de casa;

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Opções de tratamento:

O sucesso do tratamento requere a identificação e remoção dos factores do ambiente que causam ansiedade ao gato.

Se o problema aparece como um resultado de ansiedade causada pelo ambiente externo, diversas abordagens deverão ser feitas:

– Impedir que o gato veja para fora da janela.

– Aumentar a sensação de segurança ao gato na zona de descanso, providenciando vários locais de descanso elevados e escondidos.

• O uso de Feliway® (CEVA Animal Health), uma versão sintética das feromonas faciais felinas ajuda significantemente na redução da incidência de spraying. • Dispôr de objectos onde o gato se possa esconder que por baixo como dentro

(tanto no interior de casa como no exterior).

• Se a fonte da ansiedade está dentro de casa, o dono deverá adoptar uma dessensibilização sistemática ou contra-condicionamento para reduzir a ansiedade do gato.

Futuros temas a desenvolver:

• Compreender e interpretar o gato;

• Como lidar com o gato no contexto clínico; • Tornar a clínica “cat-friendly”;

• Patologia Comportamental felina; • Clicker-training para gatos; • E muito mais…

Referências

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